MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista.
São Paulo, SP:
Martin Claret, 2012, 152p.
Em oposição a estrutura social de seu tempo, o Manifesto do Partido
Comunista é editado no ano de 1848, com a proposta de lançar as bases deste recém fundado partido revolucionário, outrora conhecido como Liga dos Justos, que orientem tanto seus poucos membros iniciais, como também, devido ao seu caráter internacionalista, todos aqueles que anseiam uma conscientização das estruturas vigentes, e as diretrizes para a transformação das mesmas. Karl Marx (1818-1883) - filósofo alemão que direciona seus estudos a economia - e Friedrich Engels (1820-1895) – cientista social e também filósofo alemão e co-fundador da teoria marxista – buscam no estudo das ciências sociais e na economia, compreender o processo histórico de formação da sociedade burguesa, baseando-se na premissa de que a luta entre classes sociais, é o grande motor da história, e que através desses antagonismos, estabelece-se e desenvolvem-se as condições da consciência humana, sendo esta, fruto das condições materiais. Seu caráter universalista, a ser desenvolvida não só nesta, como em obras anteriores e posteriores dos autores, pode ser encontrado na própria condição social dos mesmos, sendo Marx de classe média, passou ao longo da vida muitas dificuldades de subsistência, e Engels, filho de um rico industrial, auxiliando também na questão material de seu parceiro, dando-lhe condições para que desenvolvessem suas obras. A edição utilizada nesta resenha traz antes do texto principal, uma série de introduções, sendo as primeiras de esclarecimento do contexto histórico em que a obra foi escrita, e as diversas interpretações, pois devido ao seu alcance mundial através dos anos, e sua proposta, foi adotado por diversas vezes como base de movimentos revolucionários, distinguindo-se entre si, devido ao conteúdo prático e interpretação dos escritos marxianos e marxistas. Em seguida, apresentam-se sete prefácios, escritos pelos próprios autores ao longo das reedições feitas enquanto vivos. Interessante notar o caráter revisionista presente nesses prefácios, em que analisadas a conjuntura histórica de cada uma, os autores fazem desde adendos e notas de rodapé ao próprio texto, como por vezes a desconsideração de determinadas trechos, visto a mudança e a diferença das condições sociais de cada tempo e local onde isso acontece, ou seja, o local onde a obra é editada. Após um preâmbulo, o texto inicia-se com uma descrição do antagonismo social já mencionado, e uma breve analise histórica que levou a atual condição social. Propõe-se uma espécie de movimento dialético dessas classes, em que uma classe social que ascende ao poder, gera em si o germe para sua queda. Estas classes e esse confronto foram simplificados na era burguesa por terem trado todo e qualquer véu que envolvia a fixação e a justificação destes padrões, como religião e relações patriarcais, resumindo-as ao “interesse nu e cru, o insensível pagamento em dinheiro” (p. 48). Os autores entendem a história como umas séries de processos em constante mutação, e longe de uma postura alienada, reconhecem positivamente esse desvelar da era burguesa e o desenvolvimento dos meios de produção por ela proporcionados, dirigindo sua crítica para a forma como estes meios são articulados e explorados. Estes processos históricos, movidos pelas lutas entre classes, têm como objetivo, a supressão das mesmas, onde se superam estes antagonismos, as classes sociais, ou seja, a sociedade comunista. Ao final do capítulo, há uma menção importante, a ser considerada ainda hoje nos movimentos sociais contemporâneos, onde os autores fazem um apelo a união da classe oprimida, e que sua fraqueza vem justamente de sua fragmentação, sendo esta, uma das ferramentas utilizadas pela classe dominante para desarticular qualquer processo revolucionário. O segundo capítulo de nome “Proletários e comunistas”,lança as sementes da ideologia proposta, seu caráter internacionalista, a extinção da propriedade privada, onde o trabalhador é obrigado a subjugar seu trabalho e até questões morais, como a abolição da prostituição e a opressão sofrida pelas mulheres. A idéia de que a classe dominante não possui apenas a matéria, mas também a idéia, influenciando assim todo o sistema educacional com uma função de naturalizar as relações e as classes, e dissemina toda a cultura proposta por esta, dizendo que ela é “apenas um adestramento para agir como a máquina” (p. 62). Ao final do capítulo os autores propõem uma série de medidas para a ascensão da classe proletária; estas medidas, já no prefácio a edição alemã de 1872, deveria ser reescrito, pois as condições em que foram escritas já não são mais as mesmas para serem aplicadas. A ideologia socialista, da qual o comunismo é fruto, tem uma série de ramificações, e diferentes concepções. Os autores no terceiro capítulo concentram-se em fazer um breve histórico da literatura socialista, apontando assim seus fundamentos, suas contribuições para o desenvolvimento do comunismo, e suas falhas. Esta parte de maior caráter pedagógico e informativo para o proletariado, para que o mesmo saiba se defender de acusações generalistas, e é claro, conscientizá-lo de sua história para que não cometa os mesmos erros práticos e ideológicos do passado, e mais ainda, não cair na falácia de pretensos reformistas em que visam o defender os interesses de um pequeno grupo, e que para alcançá-lo, utilizam-se da força da massa proletária. Seu ultimo capítulo, complementa o anterior no sentido de distinção do novo partido comunista dos outros socialistas, e seu posicionamento prático na luta pelos interesses em comum, sugere pequenas alianças até onde não seja contrária a causa proletária, do todo, e que nunca percam de vista seu objetivo, a abolição da sociedade de classes, sendo para alcançá-la, imprescindível a conscientização do proletariado e sua união. O texto do manifesto teve impacto mundial ao longo dos séculos, e até hoje é estudado, revisado por seus adeptos que acreditam de fato, que para uma melhoria das condições de vida, tirar a mascara de naturalidade presente na sociedade capitalista, em que legitima a opressão, a exploração, e a segregação. O manifesto é um texto essencial para o entendimento desta sociedade e a construção de uma nova, e é claro, sem tomá-lo como texto canônico, e sempre assumir a postura já adotada por seus próprios autores, de se estudar cada condição social onde a mudança precisa ser aplicada, para tomar medidas diferentes, a idéia é tomá-lo como um ponto de partida, e jamais como um guia cego.