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HOMICÍDIOS BRASIL: COMPARATIVO DE FONTES DE DADOS

Robson Sávio Reis Souza – Filósofo. Especialista em Estudos de Criminalidade e Segurança Pública
(UFMG). Especialista em Teoria e Prática da Comunicação Social (USF-SP). Mestre em Administração
Pública (EG/FJP). Coordenador de Comunicação e Informação do Centro de Estudos de Criminalidade e
Segurança Pública da UFMG (CRISP). Professor de Políticas Públicas da Educação no Brasil e de
Estágio Supervisionado em Serviço Social (PUC Minas). Membro do Instituto da Criança e do
Adolescente da PUC Minas.

Abstract: analisaremos neste artigo os dados de duas pesquisas sobre os homicídios no Brasil.
O primeiro estudo é da Secretaria Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça
(Senasp), intitulado “Mapa dos Homicídios: Regiões Metropolitanas no Brasil – análise do
número de homicídios registrados pelo Ministério da Saúde (1980 – 2002)” e o segundo estudo
que está sendo elaborado pelo Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública da
UFMG (CRISP) intitulado “Projeto Homicídios Brasil”. O objetivo do texto é discutir a
situação dos homicídios nas últimas décadas, assim como apresentar possíveis caminhos para o
enfrentamento da questão.

A Secretaria Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça (Senasp) divulgou,


no final de 2004, um estudo sobre a ocorrência dos homicídios entre 1998 e 2002, com dados do
sistema Datasus/Ministério da Saúde1. O relatório parte do princípio de que a “dinâmica
itinerante da criminalidade impõe o desafio de que os governos devem desenvolver políticas de
segurança pública que não selecionem o seu público alvo em função dos limites geográficos
impostos pelas áreas de municípios ou estados, dado que diversos fatores determinantes dos
eventos criminais são dispersos e itinerantes, ultrapassando as fronteiras estabelecidas pelos
limites legais entre as unidades geográficas”. Deste modo, os técnicos da Senasp optaram de ter
como público alvo das políticas de segurança pública as regiões metropolitanas, para a
confecção do trabalho.
O relatório procura, também, investigar e estabelecer as relações existentes nas regiões
metropolitanas entre o perfil dos eventos criminais e suas características urbanas e
populacionais. Afinal a segurança pública é um fenômeno social e, portanto, possui relação com
outros fenômenos sociais como a saúde, a infra-estrutura urbana etc.
Os pesquisadores da Senasp perceberam, na elaboração do trabalho, que é fundamental
para o planejamento de uma política de segurança pública, no Brasil, “a elaboração de um
diagnóstico que busque analisar os padrões da incidência dos homicídios entre as regiões
metropolitanas brasileiras, enfatizando a relação entre estes padrões e as características
populacionais e urbanas destas regiões”. Devemos aplaudir tal determinação política, pois cada
vez mais é preciso investir em estudos, tecnologia e desenvolvimento de estratégias eficazes e
modernas para se fazer frente ao recrudescimento da criminalidade violenta no Brasil.
O estudo analisou as 26 regiões metropolitanas brasileiras, especificando a análise para
11 dessas regiões, a saber: Recife, Maceió, Salvador, Belo Horizonte, Vitória, Rio de Janeiro,
Baixada Santista, Campinas, São Paulo, Porto Alegre e Região Integrada de Desenvolvimento
do Entorno do Distrito Federal (RIDE-DF). Tal seleção, segundo nos informa a Senasp, baseou-
se em três critérios: (a) maior participação percentual no total do número de vítimas de
homicídios registradas pelo Ministério da Saúde, entre 1998 e 2002; (b) taxas de vítimas de
homicídios registradas por 100 mil habitantes com valores mais significativos, em 2002; e (c)
crescimentos percentuais das taxas de vítimas de homicídios registrados por 100 mil habitantes
cujos valores mostraram-se significativos, entre 1998 e 2002.
Nas Regiões Metropolitanas analisadas, observou-se um número aproximado de 30.000
vítimas anuais de homicídio entre 1998 e 2002. No período analisado de cinco anos, o aumento
do número de vítimas de homicídio foi da ordem de 9,4%. Apenas duas destas regiões
concentraram cerca de 60% das vítimas (São Paulo e Rio de Janeiro) no período analisado. A
média da taxa de vítimas de homicídio por 100 mil habitantes entre as regiões metropolitanas,
entre 1998 e 2002, foi de 46,7 vítimas por 100mil habitantes. Este valor está bem acima da

1
O estudo completo pode ser solicitado à Secretaria Nacional de Segurança Pública do Ministério da
Justiça, pelo e-mail: senasp@mj.gov.br .
2
média da taxa nacional de vítimas de homicídio neste mesmo período, que foi de 28,6 vítimas
por 100 mil habitantes. Ou seja, a incidência de homicídios nas regiões metropolitanas é quase
duas vezes maior que a incidência nacional.
Nas Regiões Metropolitanas analisadas, um número aproximado de 21 mil vítimas
anuais de homicídios foram causadas por armas de fogo entre 1998 e 2002. Um aumento, no
período, da ordem de 28,4%.
A média das taxas anuais de vítimas de homicídios causados por armas de fogo por 100
mil habitantes entre as regiões metropolitanas, entre 1998 e 2002, foi de 31,4 vítimas por 100mil
habitantes. Este valor está acima da média das taxas anuais nacionais de vítimas de homicídio
causados por armas de fogo, neste mesmo período, que foi de 19,2 vítimas por 100 mil
habitantes.

Visualizando a situação dos homicídios no Brasil

Outro estudo2, que está sendo elaborado pelo Centro de Estudos de Criminalidade e
Segurança Pública da UFMG (CRISP), com a mesma base de dados do relatório da Senasp, ou
seja, o Datasus, focaliza o crescimento das taxas de homicídios em todo o Brasil, entre 1993 e
2002.3

Figura I – Taxa de homicídios por 100 mil/hab entre 1993 e 2002

Dos 5.505 municípios brasileiros pesquisados, a figura I mostra que em 294 municípios,
no período entre 1993 e 2002, a taxa de homicídios é muito alta, variando entre 32,42 a 107,48
homicídios para cada grupo de 100 mil habitantes. Em 918 municípios, a referida taxa é
considerada médio-alta, variando entre 15,94 a 32,42 homicídios por 100 mil habitantes. Em
1910 municípios a variação da taxa situa-se entre 8,02 e 15,95 homicídios para 100 mil
habitantes, podendo ser considerada médio-baixa. E em 2.383 municípios a taxa é baixa,
situando-se na faixa entre 0,42 a 8,02 homicídios por 100 mil habitantes. Portanto, numa
primeira análise é óbvia a constatação de que as grandes taxas de homicídios concentram-se em
somente 5,3% dos municípios brasileiros. São justamente esses locais que demandam uma
atenção prioritária dos governos, nos três níveis, que devem desenvolver políticas públicas
eficazes e duradouras de enfrentamento do problema.

2
Trata-se do “Projeto Homicídios Brasil” que deverá ser lançado pelo CRISP no segundo semestre de
2005. Outras informações podem ser obtidas no site: http://www.crisp.ufmg.br .
3
O programa utilizado para os cálculos foi o MapInfo, através do algoritmo de Quebra Natural, descrito
por Jenks e Caspall, em seu artigo “Erros em Mapas Coropléticos: Definição, Medida, Redução”, dos
Anais dos Geógrafos Americanos, Junho, 1971.
3
No mapa acima, uma questão que nos surpreende: a alta incidência da taxa de
homicídios em vários municípios da região centro-oeste brasileira, que se situam entre as
regiões sudeste e norte, recortados na figura acima por uma linha imaginária. A priori, não
temos evidências explicativas para o fenômeno. Mas observamos que: (a) são estados que se
situam em regiões de fronteira; (b) poderiam se constituir em algum tipo de rota de tráfico de
drogas (além das já identificadas para a passagem da droga à Europa e EUA); (c) estão
estrategicamente localizados numa região central, não só do Brasil como da América do Sul.
É verdade que a idéia de que os homicídios estão ligados exclusivamente ao tráfico de
drogas é bastante controversa. Temos que ponderar, portanto, que a região centro-oeste tem
grandes taxas de homicídios desde o início do período, nos anos 80. Trata-se de região de
fronteira agrícola, em que sempre ocorreram conflitos por terra e onde a presença da Justiça é
rarefeita. Ademais, o uso de armas de fogo tradicionalmente faz parte do dia-a-dia das pessoas.
Outro dado importante que o mapa mostra é que está ocorrendo uma difusão dos
homicídios por outras regiões, além do Rio e São Paulo, como por exemplo, no interior de São
Paulo, Belo Horizonte e outras capitais. Ou seja, o que ocorreu no Rio e São Paulo a partir de
meados dos anos de 1980, agora está se repetindo em outras regiões do Brasil.
E o que estaria ocorrendo para essa disseminação dos homicídios pelo Brasil? Uma das
hipóteses tem a ver com a concentração de uma série de fatores de desvantagem (miséria,
exclusão social, dificuldade de acesso à Justiça e polícia), especialmente no interior das grandes
cidades, levando a que os homicídios ocorram nas regiões miseráveis.

Tabela I: Ranking dos Municípios Brasileiros (acima de 100 mil hab.) com maiores Taxas
de Homicídio por 100 mil hab., 1998 a 2002.
Ranking Municípios População Residente Taxa de Homicídio
(2002) (1998 a 2002)
1º Diadema - SP 367.959 122,2
2º Serra - ES 342.015 110,5
3º Recife - PE 1.449.136 104,3
4º Itapecerica da Serra - SP 138.952 100,5
5º Vitória - ES 299.358 91,4
6º Praia Grande - SP 208.332 86,7
7º Nova Iguaçu - RJ 780.344 80,8
8º Cabo de Santo Agostinho - PE 158.438 80,3
9º Embu - SP 218.535 80,2
10º Guarujá - SP 276.300 80,2
11º Jaboatão dos Guararapes - PE 601.425 79,9
12º Duque de Caxias - RJ 798.102 79,6
13º Foz do Iguaçu - PR 272.941 78,8
14º Itapevi - SP 173.889 78,4
15º Itaboraí - RJ 197.017 78,0
16º Osasco - SP 670.345 77,6
17º Itaquaquecetuba - SP 295.660 77,2
18º Niterói - RJ 464.354 77,2
19º Cabo Frio - RJ 137.864 76,7
20º Guarulhos - SP 1.132.649 74,9
21º Cariacica - ES 334.751 73,3
22º Olinda - PE 373.478 71,9
23º Cuiabá - MT 500.290 69,4
24º Taboão da Serra - SP 205.547 68,4
25º Rio de Janeiro - RJ 5.937.251 68,2
26º Petrolina - PE 230.342 68,1
27º São Paulo - SP 10.600.059 66,7
28º Campinas - SP 995.024 66,3
29º Macaé - RJ 140.530 66,2
4
30º Cubatão - SP 111.923 65,9
31º Belford Roxo - RJ 449.995 65,8
32º Nilópolis - RJ 152.788 65,7
33º Porto Velho - RO 347.843 65,6
34º Vila Velha - ES 362.878 65,6
35º Queimados - RJ 126.868 65,5
36º Cotia - SP 157.725 63,9
37º São Vicente - SP 310.900 63,2
38º Mauá - SP 377.780 62,4
39º Francisco Morato - SP 144.227 61,4
40º São Gonçalo - RJ 914.536 60,5
41º Caruaru - PE 262.036 59,7
42º São Bernardo do Campo - SP 731.854 58,1
43º Vitória de Santo Antão - PE 119.873 57,3
44º São José dos Campos - SP 559.713 56,4
45º Franco da Rocha - SP 112.870 56,4
46º Barueri - SP 224.583 55,5
47º Angra dos Reis - RJ 126.334 55,4
48º Santo André - SP 656.136 55,4
49º Jacareí - SP 197.060 55,2
50º Sumaré - SP 208.446 55,1
59º Macapá - AP 306.580 49,6
61º Aracaju - SE 473.990 48,5
65º Maceió - AL 833.260 46,1
70º Boa Vista - RR 214.541 42,7
72º Rio Branco - AC 267.741 40,8
75º João Pessoa - PB 619.051 39,1
78º Porto Alegre - RS 1.383.454 37,5
79º Brasília - DF 2.145.838 37,1
83º Campo Grande - MS 692.546 36,4
86º Salvador - BA 2.520.505 35,7
90º Belo Horizonte - MG 2.284.469 34,2
94º Goiânia - GO 1.129.274 32,8
95º Manaus - AM 1.488.805 32,2
99º Curitiba - PR 1.644.599 30,2
105º Belém - PA 1.322.682 28,9
109º Natal - RN 734.503 28,0
112º Fortaleza - CE 2.219.836 26,9
140º São Luís - MA 906.567 22,9
148º Teresina - PI 740.016 21,5
151º Palmas - TO 161.138 21,2
184º Florianópolis - SC 360.603 15,3
Fonte: SIM/DATASUS, CRISP/UFMG.

A Tabela I mostra um ranking de municípios brasileiros, com população acima de 100


mil habitantes, incluindo todas as capitais, com as maiores taxas de homicídio por 100 mil hab.,
no período entre 1998 a 2002. Há que se destacar, entre as capitais, que somente nove cidades
têm taxas de homicídios por 100 mil habitantes inferiores a 32,42. São elas: Manaus, Curitiba,
Belém, Natal, Fortaleza, São Luís, Teresina, Palmas e Florianópolis. Todas as outras capitais,
incluindo o Distrito Federal, ostentam taxas elevadas de homicídio. Portanto, pensar em
estratégias específicas para enfrentar o aumento dos homicídios nas capitais e suas regiões
metropolitanas constitui-se em medida profilática no sentido de impedir o crescimento dessas
“bolha de crimes” para as regiões circunvizinhas às das capitais brasileiras.
5

Os grupos mais vulneráveis

Vários estudos feitos no Brasil têm demonstrado uma elevada concentração das taxas de
homicídios na faixa etária entre 15 a 24 anos4. Justamente os jovens, do sexo masculino, que
teriam um grande potencial – inclusive econômico – são os mais vitimados pelas mortes no
Brasil, conforme podemos observar na figura abaixo:

Figura II – Taxa de Homicídios por 100 mil/hab por faixas etárias (1980 – 2002)
Taxa de homicídio (por 100 mil hab.)
por Faixa Etária, 1980 a 2002.

60

50

40
TAXA

30

20

10

0
80 a 89 90 a 99 00 a 02

Até 14 anos De 15 a 24 De 25 a 34 De 35 a 44 De 45 a 64 65 ou mais

Fonte: SIM/DATASUS, CRISP/UFMG.

A figura II mostra gráficos que sintetizam um estudo comparativo da taxa de


homicídios por 100 mil habitantes em três períodos: entre 1980 e 1989; entre 1990 e 1999 e,
finalmente, entre 2000 e 2002.
No último período analisado, entre 2000 e 2002, observamos que além da concentração
de homicídios na faixa etária entre 15 e 24 anos, também observamos um crescimento
significativo na faixa etária entre 25 a 34 anos. Portanto, podemos afirmar que, no Brasil, a
grande maioria dos homicídios concentra-se na faixa etária entre 15 a 34 anos de idade.
Para visualizarmos melhor o crescimento das taxas de homicídios por 100 mil
habitantes por faixa etária em três períodos analisados, apresentamos a Tabela II, abaixo:

4
Estudos do IBGE (“Síntese dos Indicadores Sociais 2003”), do Núcleo de Estudos da Violência da USP
(“Relatório Violência por armas de fogo no Brasil”) e do CRISP/UFMG (“Programa de Controle de
Homicídios – a experiência de Belo Horizonte”), dentre outros, têm demonstrado que os jovens entre 14 e
24 anos são a maioria das vítimas dos homicídios, principalmente em função do seu envolvimento com o
tráfico de drogas. Outro estudo intitulado “A cor da morte”, publicado na Revista Ciência Hoje, volume
35, nº. 209, páginas 26 a 31, de Gláucio Ary Dillon Soares e Doriam Borges, do CESEC/UCAM,
comprovam que a grande maioria dos indivíduos que têm sua vida interrompida por assassinatos são
homens, adolescentes e jovens adultos (em especial entre os 14 e os 30 anos) e, entre eles, principalmente
os negros – grupo que, segundo critérios censitários, inclui ‘pardos’ e ‘pretos’.
6
Tabela II – Crescimento das taxas de homicídios por 100 mil/hab –
Brasil (1980 – 2002), por faixa etária

Período Até 14 anos De 15 a 24 De 25 a 34 De 35 a 44 De 45 a 65 ou mais


64
80 a 89 1,1 48,0 32,1 24,2 15,8 8,1
90 a 99 1,8 57,4 45,8 32,9 19,8 10,5
00 a 02 2,0 56,4 54,6 35,2 21,1 10,8
Fonte: SIM/DATASUS, CRISP/UFMG.

O crescimento dos homicídios nas capitais

A tabela abaixo, produzida pelo CRISP com dados do Ministério da Saúde, mostra
dados comparativos entre a taxa de homicídios por 100 mil/hab no período entre 1993 a 2002 e
o crescimento das taxas de homicídios por 100 mil habitantes, nas capitais brasileiras, no
período entre 1993 e 2002.

Tabela III – Comparativo entre as taxas de homicídio e o crescimento das taxas de


homicídios, por 100 mil habitantes, no Brasil, por capitais

Ranking Capitais Brasileiras Taxa de homicídio (por 100 mil Crescimento (%) da Taxa
habitantes), 1993a2002. de 1998a2002 em relação a
de 1993a1997.

1 Belo Horizonte - MG 26,2 91,5


2 Cuiabá - MT 53,5 91,4
3 Florianópolis - SC 12,6 67,5
4 Teresina - PI 17,6 61,4
5 Porto Velho - RO 53,8 61,2
6 Belém - PA 25,5 30,8
7 Porto Alegre - RS 33,2 30,6
8 Curitiba - PR 27,0 28,6
9 João Pessoa - PB 35,0 28,2
10 Recife - PE 93,4 27,6
11 Goiânia - GO 30,2 20,6
12 BRASIL 27,3 19,7
13 Rio de Janeiro - RJ 64,8 11,1
14 Natal - RN 27,2 7,0
15 Fortaleza - CE 26,1 6,8
16 Boa Vista - RR 41,6 5,8
17 Aracaju - SE 47,4 5,7
18 Palmas - TO 20,9 5,1
19 Campo Grande - MS 35,6 5,0
20 Maceió - AL 45,3 3,9
21 Macapá - AP 49,4 1,5
22 Vitória - ES 91,0 1,1
23 Brasília - DF 37,1 0,0
24 São Paulo - SP 68,0 -3,9
25 Manaus - AM 33,1 -5,3
26 Salvador - BA 36,8 -5,7
27 São Luís - MA 23,9 -7,8
28 Rio Branco - AC 43,1 -10,5
Fonte: SIM/DATASUS, CRISP/UFMG.
7

Conforme podemos observar, o maior crescimento das taxas se deu em Belo Horizonte.
E se levarmos em conta o estudo feito pela Senasp para as regiões metropolitanas brasileiras,
com a análise dos dados de vítimas de homicídios registrados pelo Ministério da Saúde por
municípios de residência das vítimas, entre 1998 e 2002, observamos que na Região
Metropolitana de Belo Horizonte apenas dois municípios concentraram cerca de 65% do total de
homicídios registrados: Belo Horizonte (49,7% do total) e Contagem (15,7% do total). Em
2000, cerca de 63% da população da Região Metropolitana de Belo Horizonte concentravam-se
nesses municípios.
Entre 1998 e 2002, o crescimento percentual das taxas de vítimas de homicídios
registrados por 100 mil habitantes para o Brasil foi de 5,6%, sendo que Minas Gerais cresceu
39,4% e a Região Metropolitana de Belo Horizonte, 61,5%. No mesmo período, Mateus Leme
foi o município que apresentou maior crescimento percentual da taxa de vítimas de homicídios
registrados por 100 mil habitantes (835,7%), sendo que Caeté foi o que apresentou maior queda
ao longo desse período (-80,7%).
A imensa maioria das vítimas de homicídios, na Região Metropolitana de Belo
Horizonte, em 2002, era do sexo masculino (93%), sendo que a maior parte das vítimas possuía
entre 15 e 24 anos de idade (44%).
Como nas outras regiões analisadas, o estudo aponta uma maior participação do uso da
arma de fogo nos crimes de homicídio, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, já que em
1980, cerca de 60% dos homicídios registrados pelo Ministério da Saúde eram causados por
armas de fogo e, em 2002, esse percentual foi da ordem de 80%.
Crescimento da taxa de homicídio, 1998a2002 em relação a 1993a1997.
DAS CAPITAIS BRASILEIRAS

100

80

60
Crescimento (%)

40

20

0
Belo Horizonte - MG

Florianópolis - SC

Campo Grande - MS
Rio de Janeiro - RJ
João Pessoa - PB
Porto Alegre - RS

Fortaleza - CE

São Paulo - SP

Salvador - BA
Porto Velho - RO

Maceió - AL

Macapá - AP
Goiânia - GO

Boa Vista - RR

Rio Branco - AC
Manaus - AM
Cuiabá - MT

Teresina - PI

Belém - PA

Vitória - ES

São Luís - MA
Brasília - DF
Curitiba - PR

Natal - RN

Aracaju - SE

Palmas - TO
Recife - PE

BRASIL

-20

Fonte: SIM/DATASUS, CRISP/UFMG.

Conclusões e sugestões:

O crescimento dos homicídios no Brasil constitui-se num problema crucial para a


democracia. Não é possível convivermos com o extermínio de milhares de cidadãos,
anualmente, sem que políticas públicas de segurança e de incremento do sistema de justiça
criminal sejam desenvolvidas e praticadas para, no mínimo, estabilizar os índices, na maioria
das vezes, ascendentes.
É preciso articular estratégias que levem em conta5:

5
Essas estratégias foram apontadas por BEATO, Cláudio, IN: Programa de Controle de Homicídios,
CRISP – 2002, como possibilidades de políticas públicas para a prevenção e combate aos homicídios nas
grandes cidades brasileiras. Esse e outros estudos sobre essa temática podem ser acessados no website do
CRISP (www.crisp.ufmg.br).
8
(1) No nível institucional: políticas de longo prazo efetivadas pelos diversos órgãos e agências
encarregados de desenvolver projetos e programas de natureza preventiva voltados,
principalmente, para jovens e adolescentes – grupos que concentram a maior parte das vítimas
dos homicídios. Do ponto de vista das medidas repressivas de prazo mais curto, algumas
modificações no desenho organizacional das agências envolvidas com a segurança pública
podem surtir efeitos imediatos no controle dos homicídios. Transparência, controle externo das
agências policiais e uso de tecnologias avançadas na prevenção e combate ao crime são
ferramentas indispensáveis para o aprimoramento dessas agências.
(2) No nível comunitário de intervenção, medidas de mobilização dos grupos e associações
existentes, principalmente nos locais de maior vulnerabilidade social e que concentram as
maiores taxas de homicídios (trata-se dos aglomerados urbanos das grandes cidades) podem
ensejar resultados de médio e longo prazo.
(3) Finalmente, no nível individual é preciso desenvolver estratégias de sensibilização entre
jovens através de campanhas na mídia, nas escolas e em outras instituições das comunidades
afetadas pelos homicídios. Afinal, algumas pesquisas6 têm demonstrado que muitos jovens
parecem não se dar conta da situação em que estão envolvidos nas gangues de tráfico de drogas,
responsáveis por grande parte dos homicídios nas cidades médias e grandes. Segundo
depoimentos dos grupos que lidam com jovens cumprindo medidas educativas, em Belo
Horizonte, por exemplo, embora haja certo fatalismo em relação ao próprio destino, existe
alguma chance de recuperação dos jovens se lhes forem oferecidas opções para sair do círculo
vicioso das gangues. Este dado é corroborado pela literatura especializada em homicídios.
No sentido de organizar essas estratégias, podemos recorrer à tipologia de estratégias de
intervenção proposta por Spergel e Curry, 19937. Tais estratégias podem orientar-se para a:
(1) Supressão, composta pela utilização de medidas típicas de polícia e justiça criminal tais
como prisões e vigilância. Esta é a estratégia de intervenção primária adotada em programas de
segurança pública.
(2) Intervenção social, embora seja bastante comum nos EUA, é novidade entre nós, e consiste
em intervenção em crises tais como guerras e conflitos entre gangues, tratamento das famílias e
jovens e emprego de serviços sociais junto às comunidades vitimadas. Uma das formas
utilizadas é a organização de câmaras de gerenciamento de crises.
(3) produção de oportunidades sociais, especialmente educação e emprego. Para isto deve-se
buscar uma articulação com empresas do setor privado para a oferta de ocupações,
principalmente para os jovens.
(4) cooperação interagencial, ou seja, a articulação, num primeiro momento, entre as diversas
agências do sistema de justiça criminal (que geralmente são desarticuladas e agem
competitivamente), procurando ampliar, num segundo momento, visando a participação das
comunidades, organizações não-governamentais, setores empresariais e outros grupos sociais
que se disponham a discutir e trabalhar com estratégias para a prevenção dos homicídios.
E, finalmente, (5) mudanças organizacionais nas agências encarregadas de lidar com o
problema dos homicídios. Isto significa que essas agências devem adotar novas metodologias de
planejamento e operação visando se adequar a um novo contexto de cooperação interagencial,
uso de novas tecnologias e ferramentas e participação social.
Alguns conceitos e idéias são centrais para projetos de controle dos homicídios.O
primeiro deles diz respeito a um cosmopolitismo contextualizado e adaptado às mazelas
brasileiras, que deve levar em conta as mais diversas experiências e estudos internacionais que

6
Uma pesquisa feita pelo CRISP, em 2002, e que motivou a elaboração do Programa de Controle de
Homicídios – Fica Vivo, na cidade de Belo Horizonte, ouviu depoimentos de jovens envolvidos com o
tráfico de drogas, responsável pela maioria dos homicídios na Capital mineira. O mesmo padrão de
correlação do tráfico de drogas com a ocorrência de homicídios tem sido verificado Outras informações
no endereço eletrônico: http://www.crisp.ufmg.br/ProgramaFicaVivo.pdf.
7
Spergel, Irving e David Curry, 1993. “ The National Youth Gang Survey: A Research and Development
Process”. In Arnold P. Goldstein and Ronald Huff. Gangs Intervention Handbook”, 359-400. Champaign,
IL.: Research Press.
9
podem apresentar algumas respostas adaptadas para um contexto local. É referência imediata
pela similaridade dos problemas enfrentados, o projeto “cessar fogo” de Boston8, que pode ser
adaptado às vicissitudes de nosso sistema de justiça. Outro aspecto que pode ser incorporado é a
utilização da metodologia de solução de problemas, oriunda inicialmente de sistemas de
administração e gerenciamento adaptados à gestão de organizações policiais e do sistema de
justiça 9. Trata-se de estratégia desenvolvida a partir do reconhecimento que muitos dos
problemas de criminalidade brasileiros estão muito além do alcance das polícias e da justiça,
pois se referem a problemas sociais mais ou menos amplos. Este reconhecimento não deixa de
constituir-se em uma inovação no contexto brasileiro, em que muitas das nossas polícias e
organizações de justiça ainda arvoram-se na qualidade de detentores do monopólio de
“combate” e controle do crime (FILHO; SOUZA, 2003, p. 72).

Bibliografia e referências:

DECKER, Scott H., VAN WINKLE, Barrik. Life in the Gang. Cambridge University Press,
1996.

FILHO, Cláudio Chaves Beato; SOUZA, Robson Sávio Reis. Controle de Homicídios: a
experiência de Belo Horizonte. Cadernos Adenauer, Série “Segurança Cidadã e Polícia
na Democracia”, Ano IV, nº. 03, 2003, pp. 51-74.

GOLDSTEIN, P.J. The Drugs, violence nexus. Journal Of Drugs Issues, 15 (4), 1985.

INTERNET: Site da Secretaria Nacional de Segurança Pública, do Ministério da Justiça, no


endereço: http://www.mj.gov.br/senasp/saude/index.htm, consulta realizada em
04/01/05 e do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública da UFMG, no
endereço: http://www.crisp.ufmg.br, acessado em 04/01/05.

JOHNSON. B. D., WILLIANS, T., DEI, Kojo H., SANABRIA, H. Drugs and Predatory
Crime, In: WILSON, J. Q. and TONRY, M. Drugs and Crime.Crime and Justice, v.
13. The University of Chicago Press, Chicago and London, 1990.

KENNEDY, David M. Juvenile gun violence and gun markets in Boston: a summary of a
research presentation, U.S. Dept. Of Justice - Office of Justice Programs, National
Institute of Justice, 1997.

SPERGEL, Irving; CURRY, David, 1993. “ The National Youth Gang Survey: A Research and
Development Process”. In Arnold P. Goldstein and Ronald Huff. Gangs Intervention
Handbook”, 359-400. Champaign, IL: Research Press.

8
Kennedy, 1997.
9
Goldstein, 1985.

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