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ª edição
2008
ISBN: 978-85-387-0124-8
CDD 371.207
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A obra, em seu conjunto, procurou garantir o respeito aos educadores e às educadoras, bem como aos educandos e às educandas,
considerando a questão de gênero, no uso também da linguagem. Durante a revisão, percebemos que, em alguns períodos, ficava
redundante ou repetitivo ao se usar as palavras no masculino e no feminino e, especialmente, no uso do plural. Concordamos em usar,
por exemplo: professores e alunos, para indicar os professores e as professoras e os alunos e as alunas. Isto, não significa privilegiar o
gênero masculino.
O conjunto da obra reúne doze capítulos e doze aulas produzidas em vídeo, que
se intercomplementam, articulando fundamentos e práticas, dispostos a seguir.
Michael Patton
P. Gentili e T. T. Silva
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A avaliação como estratégia de gestão educacional: da regulação à emancipação
Compromisso da avaliação
com a qualidade educacional
Num sentido amplo, pode-se afirmar que o compromisso da avaliação é com
a qualidade. Não com qualquer qualidade, mas, do ponto de vista ético, com
a qualidade social que a instituição decidiu investir. A qualidade não se refere
apenas aos produtos e serviços mais aparentes, e nisso reside a grande comple-
xidade da avaliação.
Uma vez que a qualidade educativa é sempre concernida pela qualidade social, vale dizer,
é relativa à qualidade da sociedade que queremos para hoje e projetamos para as próximas
gerações, seu conceito não é unívoco nem fixo, e só pode ser construído por consensos, como
resultado das relações de força. (DIAS SOBRINHO, 1995 p. 60).
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Avaliação da Educação e da Aprendizagem
Esta nova visão passa a ser fundamental na (re)criação da escola para a qua-
lidade social. Como explica Campos (2000, p. 31) “[...] no caso do Brasil, os indi-
cadores de qualidade utilizados pelos levantamentos realizados revelam que a
escola frequentada pela maioria da população ainda não apresenta condições
mínimas para a aprendizagem de conhecimentos básicos”. Esta discussão preci-
sa estar na escola, mas envolvendo toda a sociedade brasileira.
Seria muito importante que setores mais amplos e representativos da sociedade tomassem
o conhecimento e avaliassem criticamente esses resultados, para que pudessem exigir e
encaminhar decisões de política educacional que enfrentassem esses problemas com urgência
e a prioridade necessária[...] .(CAMPOS, 2000, p. 32)
Para melhor esclarecer o tema central das nossas discussões, nos apoiaremos
em conceitos de estratégia, propostos por Souza (1991) e no de gestão, anuncia-
dos por Libâneo (2001).
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A avaliação como estratégia de gestão educacional: da regulação à emancipação
As transformações sociais,
o caráter estratégico da educação
e a questão da avaliação educacional
A velocidade e intensidade das mudanças nacionais e internacionais não estão
circunscritas a um determinado tempo ou espaço localizado, elas se inscrevem
e num panorama globalizado de transformações que são de natureza econômi-
ca nas suas origens, mas ultrapassam essa esfera e atingem outras dimensões:
culturais, políticas, educacionais, religiosas, interpessoais etc. O impacto deste
cenário é tão forte no dia-a-dia social que chega a atingir a construção da subje-
tividade, desafiando a afirmação da identidade individual do ser humano ou da
identidade social dos povos e das nações.
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Avaliação da Educação e da Aprendizagem
Vamos problematizar
Acentuaram-se os níveis de desemprego, agravaram-se as condições de
vida do trabalhador, aumentaram-se as exigências de qualificação para o
trabalho.
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A avaliação como estratégia de gestão educacional: da regulação à emancipação
Nesse cenário, todas as instituições sociais são chamadas a rever seus pa-
péis e finalidades. As instituições educacionais exercem uma forte influên-
cia na economia, direta ou indiretamente.
Diante dos novos contextos nos quais a educação está sendo imbricada, des-
tacam-se dois aspectos de grande relevância: são os processos de integração e
globalização dentro dos quais o conhecimento adquire um “novo valor”, princi-
palmente pelos sistemas de comunicação que interligam o mundo da produção
(KUENZER, 1998, p. 39).
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Avaliação da Educação e da Aprendizagem
As estratégias do mercado são muito fortes. Cada vez mais, as forças produtivas
pressionam para que as instituições educacionais estabeleçam relações mais estrei-
tas com a produção, ao mesmo tempo em que o Estado pressiona por um maior ren-
dimento das instituições de ensino, através das novas formas de avaliação “acredita-
ción e contribuição financeira ligada à qualidade dos resultados” (GUADILLA, 1995).
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A avaliação como estratégia de gestão educacional: da regulação à emancipação
O Estado avaliador
como articulador do sistema capitalista
Freitas (1994) afirma que subjacente a uma concepção de política pública,
encontra-se uma concepção de Estado. Torna-se indispensável compreender
esta concepção, para interpretar as políticas sociais e, particularmente, as po-
líticas de educação como sistema político de mediações das relações sociais e
econômicas no modo de produção capitalista. A visão aqui utilizada é do Estado
como grande articulador do sistema capitalista, em especial, quando
[...] assegura o fluxo e o refluxo da força de trabalho absorvível pelo sistema produtivo, tor-
nando-se não somente o mecanismo regulador por excelência do mercado de trabalho, mas o
grande estrategista do próprio sistema em favor do capital. Esta formulação não implica uma
concepção derrotista ou linear-mecanicista das transformações sociais, como se nada pudesse
ser feito em vista desta função atribuída ao Estado. Fosse esta uma postura mecanicista, não
haveria razão de se lutar no plano político. Dentro dessa compreensão é fundamental consi-
derar as transformações pelas quais o Estado e a própria sociedade brasileira estão passando,
para compreender as pressões que estão sendo feitas sobre o ensino[...] (FREITAS, 1994, p. 62)
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Avaliação da Educação e da Aprendizagem
Não há dúvida de que os governos estão sendo cada vez mais pressiona-
dos pelas agências financiadoras da educação, pela globalização de mercado,
da qual fazem parte, e por diferentes fóruns sociais a dimensionarem explicita-
mente a efetividade dos gastos públicos e eficácia dos serviços prestados. Este
novo papel que o Estado tem assumido nas sociedades contemporâneas de
Estado-avaliador, tem colocado em xeque o próprio significado da avaliação nos
processos de democratização da sociedade.
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Depoimento à Folha de São Paulo, no dia 21 de maio de 1994 (apud FREITAS, 1994, p. 65).
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A avaliação como estratégia de gestão educacional: da regulação à emancipação
Uma análise crítica deste documento aponta para o grande interesse dos em-
presários na educação.
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AFONSO, Almerindo Janela. Avaliação Educacional: regulação e emancipação. São Paulo: Cortez, 2000. Este autor, ao fazer
uma análise do Boletim n. 59 da Nouvelles de L’OCDE, (1991), assinala que “pode-se ler que em diferentes países ocorre no
período actual (embora de maneira diferenciada) uma ‘renovação’ do interesse pela avaliação...”(p. 64-65). Para encontrar mais
informações sobre a OCDE - Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (ou OECD – Organization for Eco-
nomic Cooperation and Development), formada por 26 países desenvolvidos mais a Coreia e o México, vide os sites: <www.
forum cidadania.org/politica/org-internacionais-files/ocde.htm> ou OCDE: reformas no Brasil são lentas, <www.11agestado.
com.br/redacao/int...7/jun/12/10.htm>.
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Avaliação da Educação e da Aprendizagem
Ideologia do consumismo.
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A avaliação como estratégia de gestão educacional: da regulação à emancipação
É imperativo ético criticarmos esta ênfase nos resultados dada pelo Estado-
-avaliador, para compreendermos as funções latentes e manifestas dos processos
de gestão da educação, através da avaliação educacional, como aponta Afonso
(2000), entre outros autores e autoras. Torna-se necessário, portanto, intensificar
a problematização sobre os seguintes pontos:
É, portanto, necessária uma indagação crítica sobre esta ênfase nos resul-
tados dada pelo Estado-avaliador, como aponta Afonso (2000), entre outros
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Avaliação da Educação e da Aprendizagem
autores e outras autoras. Ele propõe uma discussão sobre qual a lógica que deve
reger os pilares do “ novo projeto social para a educação”.
Concordamos com Filp et al. (1991) que, através da avaliação, a escola se verá
desafiada a abrir suas portas e tornar transparente seu fazer educativo. Isto é
muito importante, pois poderemos conhecer o tipo de projeto político-social
a que a escola está a serviço. Não existe avaliação da escola que não seja para
implementar um dado modelo de escola ou de política educacional.
Ferrer (1995)3, depois de fazer uma análise das políticas nacionais de avalia
ção em países como a França, Suécia Noruega, Espanha, Argentina, Chile, Ho-
landa, Reino Unido, Dinamarca e Suíça, chega à conclusão de que os sistemas de
avaliação de base quantitativa já não estão dando conta da diversidade e com-
plexidade dos fenômenos educacionais, e insiste no caráter político/qualitativo
da avaliação muito mais do que na sua dimensão técnica. Explica que há um con-
senso, nesses países, da necessidade da avaliação educacional, mas que haver
significativas mudanças metodológicas, sob pena de haver falsas interpretações
e muito desperdício de tempo, dinheiro e esforço. Apoiando-se em House (1993)
ressalta a necessidade de inclusão da avaliação entre os mecanismos de gestão
dos sistemas educativos, uma ampliação de seus âmbitos de cobertura, uma
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O estudo sobre as políticas públicas de avaliação (SAEB, ENEM e SINAES), com um olhar crítico sobre o SAEB será objeto do texto “As Políticas
Públicas de Avaliação: uma reflexão crítica sobre o SAEB - Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica”.
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A avaliação como estratégia de gestão educacional: da regulação à emancipação
Uma visão crítica dessas políticas vem apontando para a urgência de os edu-
cadores e educadoras posicionarem-se como sujeitos críticos, construtores do
projeto político-pedagógico da escola, para criarem uma nova cultura da ava-
liação que inclua ao invés de excluir; emancipe, exercendo a autonomia para
não domesticar e escravizar; organize, estimulando a participação e o diálogo
franco, aberto e crítico para não fragmentar e isolar; qualifique a aprendizagem
e a própria avaliação de alegria, curiosidade, ciência, investindo na unidade do
pensar, do sentir, do fazer e do conviver na justiça, na dignidade e na solidarieda-
de, para romper com a regulação e se recriar como emancipação, para não destruir
o sonho, a esperança e o direito de cada ser humano de ser feliz e de exercer a
liberdade.
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A avaliação como estratégia de gestão educacional: da regulação à emancipação
Texto complementar
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Avaliação da Educação e da Aprendizagem
(“Concorrentes do Brasil investem mais em educação.” Estadão, São Paulo, 10 out. 2003
Disponível em: <www.elearningbrasil.com.br/clipping/clipping.asp?id=697>.)
Dicas de estudo
COLOMBO, S. S. Escolas de Sucesso: gestão estratégica para instituições de
ensino. Porto Alegre: Artmed, 2004.
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A avaliação como estratégia de gestão educacional: da regulação à emancipação
Atividades
1. Como você explica a relação entre avaliação e qualidade da educação/da
escola?
2. O que Arroyo (2000) quer dizer com a expressão: “pensar a escola para além
do fracasso e do sucesso escolar”?
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Gabarito
ser democrática;
ser inclusiva;