EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA ___ VARA
CÍVEL DA COMARCA DE XXXXXX – XXXXXXX
(QUALIFICAÇÃO), por seus advogados ao
final assinado, consoante ao instrumento de mandato incluso, vem respeitosamente perante Vossa Excelência, com fundamento nos art. 186, art. 927 do Código Civil e art. 4º, I do Código de Processo Civil, interpor
AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE C/C
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS em desfavor de (QUALIFICAÇÃO DO RÉU), pelos fatos e fundamentos jurídicos que passa a expor: I.-) DOS FATOS:- Em data de 19/09/2014 o REQUERENTE foi contatado por representantes da REQUERIDA, em sua residência, oferecendo a ele empréstimo na forma consignada, valendo-se de sua condição de aposentado.
Porém, nesse caso – e assim como todas as
outras situações em que os representantes da REQUERIDA o procuraram - o autor não demonstrou interesse em contrair qualquer empréstimo.
Ocorre que, valendo-se da já debilitada
saúde do REQUERENTE, os representantes da REQUERIDA solicitaram que o autor assinasse alguns documentos, sob a justificativa de se tratar apenas de um procedimento de consulta de margem consignável, junto ao INSS.
Entretanto, após alguns dias o REQUERENTE
descobriu, ao movimentar sua conta bancária, que os documentos que foram por ele assinados; foram destinados a um empréstimo consignado, no valor de R$ 9.145,93 (nove mil cento e quarenta e cinco reais e noventa e três centavos).
Ao procurar o INSS, o REQUERENTE descobriu
que o valor foi financiado em 60 parcelas iguais de R$ 280,78 (duzentos e oitenta reais e setenta e oito centavos), perfazendo um total de R$ 16.846,80 (dezesseis mil oitocentos e quarenta e seis reais e oitenta centavos).
Registre-se que o REQUERENTE não
necessitava de qualquer empréstimo, já que é uma pessoa de hábitos simples e bastante organizada em suas contas pessoais, em que pese não ser pessoa rica.
Em ato contínuo, o REQUERENTE entrou em
contato com a REQUERIDA buscando promover a devolução do valor emprestado e suspender os descontos em seu benefício, já havia a informação de que o primeiro desconto seria feito em 07/11/2014 e sucessivamente.
A REQUERIDA se comprometeu a enviar o
boleto bancário de quitação, para o endereço do autor; fato este que não ocorreu. Ainda tentando resolver o problema, o REQUERENTE solicitou a intervenção do PROCON/PR em data de 29/10/2014, que lhe concedeu um prazo de até 20 (vinte) dias para envio do referido boleto. Ocorre que a determinação do PROCON/PR também não foi atendida.
Assim, não restou ao autor outra
alternativa senão a de buscar no Judiciário uma solução definitiva para o problema; qual seja a de declarar a nulidade do contrato e autorizar a devolução de valores da qual não solicitou.
II.-) DO DIREITO:-
II.a.-) DO CABIMENTO DA AÇÃO
DECLARATÓRIA:-
A presente ação tem natureza declaratória
de inexistência de relação jurídica contratual, pois objetiva o beneplácito judicial que declare a nulidade do negócio jurídico avençado, em razão de vício do consentimento.
Tal pedido tem amparo no art. 4º, inc. I e
parágrafo único do Código de Processo Civil.
II.b.-) DA NULIDADE DO NEGÓCIO
JURÍDICO:-
No caso em tela, o negócio jurídico
celebrado entre as partes é nulo, pois é decorrente de simulação. A Requerida simulou a contratação de serviços de concretagem cuja comprovação fática é inexistente.
O art. 167 do Código Civil dispões sobre
os casos de nulidade do negócio jurídico simulado, a saber:
“Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas
subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma. § 1o Haverá simulação nos negócios jurídicos quando: I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem;”
No caso em tela, a emissão de notas
fiscais faz concluir que o Requerente contratou os serviços prestados pela Requerida. Ainda mais, faz concluir que o Requerente pagou pelos serviços, juntamente com os impostos dele decorrentes. O que é uma inverdade, já que o Requerente nunca firmou qualquer tipo de contrato com a ré.
Segundo a doutrina de Clóvis Beviláqua,
ocorre simulação
“[...] quando o ato existe apenas aparentemente, sob
a forma, em que o agente faz entrar nas relações da vida. É um ato fictício, que encobre e disfarça uma declaração real da vontade, ou que simula a existência de uma declaração que se não fez. É uma declaração enganosa da vontade, visando a produzir efeito diverso do ostensivamente indicado.” (BEVILÁQUA, Clóvis, Teoria Geral do Direito Civil, 2a ed., Rio de Janeiro, Editora Rio, 1980, p. 225). (grifou-se)
Através de simulação, lembram PABLO STOLZE
GAGLIANO e RODOLFO PAMPLONA FILHO “celebra-se um negócio jurídico que tem aparência normal, mas que, na verdade, não pretende atingir o efeito que juridicamente devia produzir” (Novo Curso de Direito Civil, parte geral, volume I, Editora Saraiva, 5ª edição, p. 381), ou seja, “aparenta-se um negócio jurídico que, na realidade, não existe ou oculta-se, sob uma determinada aparência, o negócio verdadeiramente desejado” (CRISTIANO CHAVES DE FARIAS e NELSON ROSENVALD, in Direito Civil, Teoria Geral, 8ª edição, 2ª tiragem, 2010, Editora Lumen Júris, Rio de Janeiro, p. 545). (grifou-se)
No mesmo sentido, os art. 168 e art. 169
do Código Civil assim dispõe:
“Art. 168. As nulidades dos artigos antecedentes
podem ser alegadas por qualquer interessado, ou pelo Ministério Público, quando lhe couber intervir. Parágrafo único. As nulidades devem ser pronunciadas pelo juiz, quando conhecer do negócio jurídico ou dos seus efeitos e as encontrar provadas, não lhe sendo permitido supri-las, ainda que a requerimento das partes”.
“Art. 169. O negócio jurídico nulo não é suscetível
de confirmação, nem convalesce pelo decurso do tempo.”
A nulidade se justifica, segundo CRISTIANO
CHAVES DE FARIAS e NELSON ROSENVALD, porque
“[...] a simulação ofende o interesse público de
correição e de veracidade das relações negociais e não meramente os interesses particulares dos declarantes. (...) Em virtude da gravidade do vício infringido, violado, considera o ordenamento jurídico que o ato ou negócio nulo não produza qualquer efeito jurídico, podendo, inclusive, ser reconhecido como tal ex officio, pelo próprio juiz, ou a requerimento do interessado ou do Ministério Público, quando tenha de intervir (CC, art. 168).” (in Direito Civil, Teoria Geral, 8ª edição, 2ª tiragem, 2010, Editora Lumen Júris, Rio de Janeiro, p. 536 e 545).
Trilha o mesmo caminho o juiz de direito
PABLO STOLZE GAGLIANO (Novo Curso de Direito Civil, parte geral, volume I, 5ª edição, 2004, Editora Saraiva, São Paulo) como se vê nas lições abaixo transcritas: “Impende notar ainda que o negócio nulo não admite confirmação, razão por que, constatando-se o vício, o ato há que ser repetido, afastando-se o seu defeito” (pág. 401 – grifou-se).
Por isso, esclarece adiante que “declarado
nulo o ato, as partes restituir-se-ão ao estado em que antes dele se achavam, e, não sendo possível restituí-las, serão indenizadas com o equivalente” (p. 404).
Nesse sentido, já decidiu o TJPR:
“AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE ATO
JURÍDICO CUMULADA COM INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS NEGÓCIO JURÍDICO CONFESSADAMENTE SIMULADO NULIDADE DECLARADA DE OFÍCIO - SENTENÇA CASSADA RECURSO PREJUDICADO.” (TJPR. Apelação Cível nº 0666575-6, 7ª Câmara Cível. Rel. Des. Luiz Sergio Neiva de Lima Vieira. Julgado em 28.09.2010, DJ 489).
É exatamente o que também rege o art. 182
do Código Civil, a saber:
“Art. 182. Anulado o negócio jurídico, restituir-se-
ão as partes ao estado em que antes dele se achavam, e, não sendo possível restituí-las, serão indenizadas com o equivalente” (destaquei).
Assim, necessário se faz o retorno das
partes à situação em que antes se encontravam, ou seja, a inexistência de relação jurídica contratual entre as partes.
II.c.-) DO DANO MORAL:-
O ato ilícito praticado pela REQUERIDA
produziu inegavelmente dano moral. Tal matéria é regulada pelos arts. 5º, X da Constituição Federal e arts. 186 e 927 do Código Civil: Logo, a ilicitude cometida pela REQUERIDA gera ao REQUERENTE direito à reparação, cuja matéria legal encontra amplo amparo. Além disso, encontram-se também presentes todos os elementos que ensejam a responsabilidade civil do agente.
Nesse sentido, a prova do fato está
consubstanciada na formalização simulada de um contrato de empréstimo consignado, cujo consentimento revestiu-se de vício. Assim, resta evidente o dever de indenizar os danos morais suportados pelo REQUERENTE, eis que a REQUERIDA lhe causou consideráveis danos morais.
Do ponto de vista da fixação do quantum
indenizatório, é certo que não há parâmetros legais para a fixação do valor da indenização dos danos morais. O art. 944, do Código Civil, no entanto, diz que “a indenização mede-se pela extensão do dano”. Mas como não tem base financeira ou econômica própria e objetiva, o quantum da reparação dos danos morais é aleatório. Cabe ao Magistrado arbitrar o valor que entender justo, adequado, razoável e proporcional.
E esses critérios, examinados e sopesados,
servem como base para orientar o valor adequado para o arbitramento da indenização por dano moral.
Assim é que, de acordo com as
circunstâncias do caso em apreço, tem-se como adequado, razoável (provido de cautela, prudência, moderação e bom senso) e proporcional (meio termo entre os vícios de excesso e de falta) o valor arbitrado pelo Juízo – a título de danos morais – para reparar o constrangimento causado ao REQUERENTE em decorrência de ato da REQUERIDA, seja no importe de R$ 10.000,00 (dez mil reais).
III.-) DA ANTECIPAÇÃO DE TUTELA:-
Finalmente, necessita o REQUERENTE de uma medida de urgência, em sede de ANTECIPAÇÃO DE TUTELA, com fundamento no art. 273 e art. 461, §3º, ambos do CPC, que estabelece que “sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou mediante justificação prévia, citado o réu”.
No caso em tela, resta induvidoso o dever
da instituição bancária REQUERIDA de imediatamente cessar os descontos de parcelas mensais de R$ 280,78, junto ao benefício do REQUERENTE, já quais descontos representam uma significativa diminuição patrimonial. Até o presente momento, já foram descontas 02 (duas) parcelas, num total de 60 (sessenta).
A verossimilhança das alegações, reside na
demonstração de que o REQUERENTE já demonstrou por diversas vezes o interesse e devolver os valores eis que nunca teve o interesse em requerer e tão pouco dele fez uso.
Por tais razões, espera o REQUERENTE que
Vossa Excelência liminarmente determine que a REQUERIDA imediatamente cesse os descontos de parcelas mensais de R$ 280,78, junto ao benefício do REQUERENTE, em prazo a ser estabelecido por este r. Juízo, sob pena de multa, também a ser fixada por este r. Juízo.
IV.-) DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA
GRATUITA:- O REQUERENTE é pessoa pobre/necessitada, não têm condições de demandar em Juízo sem prejuízo de seu sustento próprio e de sua família. Assim, nos termos da lei 7.115/86 e Lei 1.060/50, faz jus à assistência judiciária gratuita para todos os fins, além das já consagrada no princípio do acesso à justiça, faz jus também, dado ao seu estado à gratuidade nos valores das perícias, isenção de custas, caso sucumbente, enfim, tudo que desde já expressamente requer a Vossa Excelência, em preliminar, o benefício da ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA.
III.-) DO PEDIDO:-
Pelo exposto REQUER de Vossa Excelência,
se digne em:
A.-) CONCEDER ao requerente os benefícios
da Assistência Judiciária Gratuita, na forma do art. 4º, da Lei nº 1.060/50.
B.-) CONCEDER liminarmente, inaudita
altera parte, a antecipação dos efeitos da tutela requerida, para o fim de:
b.1) DETERMINAR que a REQUERIDA suspenda
os descontos de parcelas mensais de R$280,78 (duzentos e oitenta reais e setenta e oito centavos) do benefício do REQUERENTE, no prazo fixado por este r. Juízo, sob pena de multa, também a ser fixada por este r. Juízo, na forma na forma do art. 273, do CPC;
C.-) DETERMINAR a citação da REQUERIDA
para que compareça a audiência designada por Vossa Excelência para o fim de conciliar ou apresentar contestação, sob as penas da lei.
D.-) JULGAR procedentes os pedidos
declinados pelo REQUERENTE na inicial, na forma do art. 269, I, do CPC, para o fim de: d.1) DECLARAR a nulidade do contrato de empréstimo consignado (Contrato nº 549941234) celebrado entre as partes, motivado pela simulação;
d.2) CONFIRMAR a antecipação de tutela,
tornando definitiva a decisão que determinou a suspensão dos descontos de parcelas mensais de R$280,78 (duzentos e oitenta reais e setenta e oito centavos) do benefício do REQUERENTE;
d.3) AUTORIZAR que o requerente promova a
devolução da quantia de R$ 9.145,93 (nove mil cento e quarenta e cinco reais e noventa e três centavos), com o abatimento das parcelas que vierem a ser descontadas do benefício do REQUERENTE.
d.4) CONDENAR a parte REQUERIDA ao
pagamento de indenização à título de danos morais, no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), como medida de inteira justiça.
E.-) AUTORIZAR a produção de todas as
provas em direito permitidas, na forma do art. 332 do CPC e em especial a: documental, o documento pessoal das partes e a inversão do ônus da prova, na forma do art. 276, do CPC.
F.-) CONDENAR a REQUERIDA ao pagamento de
custas processuais e honorários advocatícios, em observância ao princípio da causalidade.
Dá-se à causa o valor de R$ 9.145,93 (nove
mil cento e quarenta e cinco reais e noventa e três centavos), na forma do art. 259, inc. V, do Código de Processo Civil.