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Noções Preliminares
1. INTRODUÇÃO
Toda vez que ouvimos falar em Poder Público, Estado, Administração
Pública, e outros termos usualmente utilizados no campo jurídico, não
nos referimos a coisas reais, palpáveis, mas a conceitos abstratos que
expressam a ideia de alguma atividade realizada por pessoas físicas.
Por exemplo, quando falamos que o Poder Público interditou um
estabelecimento comercial por descumprimento de normas de vigilância
sanitária, entendemos que, nesse caso, algum ser humano atuou em nome
do Estado, ao fiscalizar o cumprimento de atos normativos e ao aplicar
sanção ao eventual infrator dessas normas.
Assim, podemos concluir que, toda vez que nos referimos à atuação
do Poder Público estamos, em verdade, falando sobre comportamentos
humanos, que podem ser considerados como a vontade do Estado, naquele
momento específico. Nesse contexto, surge a figura do agente público, que
é o sujeito que detém e exerce poderes de manifestar a vontade do Estado.
Não há como imaginar que o Estado faça algo que não seja por meio de
seus agentes públicos.
Se é verdade que o Estado não atua senão por meios de seus agentes,
também é verdadeiro que a relação desses agentes com o Estado não pode
se dar de maneira casual, aleatória, desregrada. É necessário que sejam
estabelecidas normas que incidam sobre a relação jurídica existente entre
o Estado e o agente público. A esse conjunto de regras e princípios, que
incidem sobre a relação jurídica entre o Estado e os seus agentes, damos o
nome de Regime Jurídico.
Em nosso sistema jurídico, temos basicamente três regimes jurídicos
de pessoal: estatutário, celetista e especial. Nesta obra, faremos breves
comentários acerca de cada um desses regimes, sem com isso perdermos
1 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 20a ed. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, p. 555.
2 Direito Administrativo Brasileiro. 34a ed. São Paulo: Malheiros, 2007, p. 76.
3 Curso de Direito Administrativo. 25a ed. São Paulo: Malheiros, 2007, p. 246.
3.1. Estatutário
O regime estatutário é o conjunto de regras e princípios que incidem
sobre a relação jurídica que os servidores públicos mantêm com o Estado,
e têm como características principais:
a) alcançam os servidores públicos da Administração Direta (conjunto de
órgãos dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário), autárquica e
fundacional (entidades administrativas da Administração Indireta);
b) objeto: cargos públicos;
c) pluralidade normativa: cada ente da Federação no exercício de sua
competência legislativa tem autonomia para elaborar o Estatuto
dos seus respectivos servidores públicos. Na União, temos a Lei
no 8.112/90, cujo projeto é de iniciativa privativa do Presidente da
República, nos termos do art. 61, § 1o, II, “c” da Constituição;4, 5, 6
d) natureza legal (estatutária) e unilateral do regime jurídico: o
servidor público tem a sua relação com o Estado regulada por lei, na
esfera federal, a Lei no 8.112/90. A materialização do vínculo com o
Estado se dá por meio da assinatura do Termo de Posse, e não por
contrato de trabalho. A consequência disso é que o servidor público
não tem direito adquirido à manutenção dos direitos e vantagens
previstas no Estatuto. A qualquer momento, tais benefícios podem
ser extintos. Isso porque todos os aspectos jurídicos atinentes
ao vínculo estatutário decorrem diretamente da lei e, se esta for
alterada, os servidores públicos serão imediatamente atingidos por
essas alterações, ressalvadas as situações jurídicas já consolidadas.
Se, ao contrário, o vínculo do servidor público se desse por meio de
contrato de trabalho (ajuste bilateral de vontades), o Estado não
4 Os militares das Forças Armadas têm Estatuto próprio (Lei no 6.880/80). Não se submetem à Lei
no 8.112/90 e nem à CLT.
5 O servidor público brasileiro que presta serviço no exterior é regido, não pela Lei no 8.112/90, mas, pelo
Regime Jurídico do Serviço Exterior Brasileiro – Lei no 11.440, de 29 de dezembro de 2006.
6 Dessa forma, é inconstitucional o projeto de lei de iniciativa do Poder Legislativo que disponha sobre
regime jurídico de servidores públicos (STF, ADI no 341/PR, Rel. Min. EROS GRAU, DJe 10.06.2010).
3.2. Celetista
Regime Celetista é o conjunto de regras que regulam a relação jurídica
entre o Estado e seus empregados públicos, e tem como principais
características:
a) alcança os empregados públicos das fundações públicas de direito
privado, empresas públicas e sociedades de economia mista (entidade
administrativas de direito privado da Administração Indireta);
b) objeto: empregos públicos;
c) unicidade normativa: são regidos pela Consolidação das Leis do
Trabalho (Decreto-Lei no 5.452/43), diploma legal único para todos
os entes da Federação (União, Estados, Distrito Federal e Municípios);
7 Mais detalhes sobre assunto, consulte o tópico 4 (Regime jurídico e direito adquirido).
8 Não obstante o art. 114 da CF estabeleça que as ações oriundas da relação de trabalho, envolvendo
entes políticos da Administração Direta e entidades da Administração Indireta, serão processadas e
julgadas na Justiça do Trabalho, o STF, liminarmente, concedeu interpretação conforme à Constituição ao
citado dispositivo para excluir as relações de ordem estatutária entre os servidores públicos e as pessoas
de direito público da Administração. Vale dizer, litígios entre Poder Público e servidores estatutários são de
competência da Justiça Federal (ADI 3.395 MC/DF, Rel. Min. CEZAR PELUSO, DJ 05.04.2006).
3.3. Especial
O regime especial é aquele que incide sobre os servidores contratados
temporariamente para atender necessidade temporária de excepcional
interesse público. O art. 37, IX, da Constituição dispõe que “a lei
estabelecerá os casos de contratação por tempo determinado para atender
a necessidade temporária de excepcional interesse público”.
Em cumprimento ao comando constitucional, na esfera federal,
foi editada a Lei no 8.745, de 9 de dezembro de 1993, alterada pela Lei
no 12.314, de 19 de agosto de 2010, que estabelece normas de contratação
por tempo determinado de servidores temporários.10
Da leitura do dispositivo supramencionado e da disciplina doutrinária
sobre a matéria sobressaem algumas características importantes:
a) alcança os servidores temporários de quaisquer órgãos ou
entidades da Administração Direta e Indireta;
b) pluralidade normativa: cada ente da Federação no exercício de
sua competência legislativa tem autonomia para elaborar a lei dos
seus respectivos servidores temporários (na União, temos a Lei
no 8.745/93);
12 STF, RE 600.837 AgR / DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO, DJe 04.12.2009.
13 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 20a ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2008, p. 585.
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