Professional Documents
Culture Documents
REVISTA DIALÉTICA
DE DIREITO TRIBUTÁRIO
(RDDT)
- do Tribunal Regional Federal da 5ª Região (sob nº 7 - Despacho do Exmo. Sr. Juiz Diretor
da Revista do TRF da 5ª Região, publicado no DJU II de 9 de setembro de 1997, página 72372).
187
ABRIL - 2011
REVISTA DIALÉTICA
DE DIREITO TRIBUTÁRIO
(RDDT)
ISSN 1413-7097
187
(ABRIL - 2011) Yutaka Toyota
é o autor da obra reproduzida em
destaque na capa desta edição.
Diretor da Revista
Valdir de Oliveira Rocha
DOUTRINA
ISS e PIS-Cofins-Importação - Critérios
Espacial e Pessoal na Prestação
Internacional de Serviços
Alberto Macedo
1. Introdução
O presente trabalho pretende tratar dos aspectos atinen-
tes aos conceitos de “serviço” e de “resultado do serviço” no
âmbito da prestação internacional de serviços, no que se
apresentar relevante para o Imposto sobre Serviços de Qual-
quer Natureza (ISS), a Contribuição para os Programas de
Integração Social e de Formação do Patrimônio do Servidor
Público incidente na Importação de Produtos Estrangeiros ou
Serviços (PIS/Pasep-Importação), e a Contribuição Social
para o Financiamento da Seguridade Social devida pelo Im-
portador de Bens Estrangeiros ou Serviços do Exterior (Co-
fins-Importação), estas duas últimas doravante denominadas,
neste trabalho, de forma una, de PIS-Cofins-Importação.
O fato de esses tributos comportarem materialidades
semelhantes, na importação de serviços, nos leva a questio-
narmos se há distinção entre o conceito de serviço para fins
de PIS-Cofins-Importação e o conceito de serviço para fins
de ISS. O que enseja essa discussão é a recente publicação
dos Recursos Extraordinários (RE) n os 547.245-SC e
592.205-SC1, em que decidiu a Suprema Corte pela incidên-
cia do ISS nas operações de leasing financeiro e leaseback.
Nesses acórdãos, não só o voto condutor do Relator, mas
também os votos acompanhantes deram a entender pela ado-
Alberto Macedo
ção, pelo constituinte, de um conceito de serviço muito mais
é Mestre e Doutorando
amplo (de qualquer natureza) que o até então adotado pela em Direito Tributário
jurisprudência da Corte Máxima a partir do advento do RE pela Faculdade de
nº 116.121-SP2, em que se decidira, na ocasião, pela adoção Direito da USP,
do conceito de serviço como sendo, em síntese, uma obriga- Professor de
ção de fazer. Especialização em
Neste mister, analisaremos como tem sido entendida Direito Tributário na
pela Administração Federal a remessa de valores relativos ao USP, na PUC-SP, na
FGV e no IBET,
Auditor-fiscal e
Presidente da 3ª
1
Tribunal Pleno, Relator Ministro Eros Grau, julgados em 2.12.2009, publicados no
Câmara Julgadora do
DJe em 5.3.2010.
2
Tribunal Pleno, Relator Ministro Octavio Gallotti, Redator para o Acórdão Minis- Conselho Municipal de
tro Marco Aurélio, julgado em 11.10.2000, publicado no DJ em 25.5.2001. Tributos de São Paulo.
10 Revista Dialética de Direito Tributário nº 187
3
Originada da conversão em lei da Medida Provisória nº 164, de 29 de janeiro de 2004.
4
Não há como negar que a aplicação dessa neutralidade internacional é mais difícil na prestação de serviços, por não
poderem eles ser facilmente vistos como exportados ou importados, já que a falta de tangibilidade significa ausência
de controles eficientes de aduana que possam confirmar sua exportação, bem como que possibilitem sua tributação
na importação. Cf.: “Working Party nº 9 on Consumption Taxes. Center for Tax Policy and Administration,
Organization for Economic Co-operation and Development - OECD”, disponível em http://www.oecd.org/
dataoecd/19/63/44559751.pdf. Acesso em 29 dezembro de 2010.
5
Art. 156: “§ 3º Em relação ao imposto previsto no inciso III [ISS] do caput deste artigo, cabe à lei complementar:
(...) II - excluir da sua incidência exportações de serviços para o exterior.”
Revista Dialética de Direito Tributário nº 187 11
6
Art. 149: “§ 2º As contribuições sociais e de intervenção no domínio econômico de que trata o caput deste artigo: I -
não incidirão sobre as receitas decorrentes de exportação.”
7
Art. 195: “(...) e das seguintes contribuições sociais (...) do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a
lei a ele equiparar.”
8
Art. 149: “§ 2º As contribuições sociais e de intervenção no domínio econômico de que trata o caput deste artigo:
(...) II - incidirão também sobre a importação de produtos estrangeiros ou serviços.”
9
DERZI, Misabel Abreu Machado. “Não-cumulatividade, Neutralidade, PIS e Cofins e a Emenda Constitucional nº
42/03”. In: ROCHA, Valdir de Oliveira (coord.). Grandes Questões Atuais do Direito Tributário. V. 8. São Paulo,
Dialética, 2004, pp. 339-355.
10
Não ignoramos, no entanto, a imperfeição presente no fato de que as referidas contribuições não são siamesas, apre-
sentando diferentes formas de apuração, comparando-se com as nacionais. A esse respeito: OLIVEIRA, Ricardo Mariz.
“Cofins-Importação e PIS-Importação”. In: ROCHA, Valdir de Oliveira (coord.). Grandes Questões Atuais do Di-
reito Tributário. V.8. São Paulo, Dialética, 2004, pp. 391-431; TÔRRES, Heleno Taveira. “Regime Constitucional
das Contribuições sobre Faturamento e o Princípio da Segurança Jurídica”. In: FERRAZ, Roberto. Princípios e Li-
mites da Tributação. São Paulo, Quartier Latin, 2005, pp. 587-665.
12 Revista Dialética de Direito Tributário nº 187
11
Divisão de Tributação.
Revista Dialética de Direito Tributário nº 187 13
12
Cf. “Receita deve definir Tributação de Royalties”. Jornal Valor Econômico, 21.1.2010.
13
“Imposto sobre Serviços - Contrato de Locação. A terminologia constitucional do Imposto sobre Serviços revela o
objeto da tributação. Conflita com a Lei Maior dispositivo que imponha o tributo considerado contrato de locação
de bem móvel. Em Direito, os institutos, as expressões e os vocábulos têm sentido próprio, descabendo confundir a
locação de serviços com a de móveis, práticas diversas regidas pelo Código Civil, cujas definições são de observân-
cia inafastável - artigo 110 do Código Tributário Nacional.”
14 Revista Dialética de Direito Tributário nº 187
14
Cf. LEMKE, Gisele. Imposto de Renda - os Conceitos de Renda e de Disponibilidade Econômica e Jurídica. São
Paulo, Dialética, 1998, p. 60.
15
Ricardo A. Guibourg, Alejandro M. Ghigliani e Ricardo V. Guarinoni classificam as definições em denotativas ou
designativas. As definições denotativas enumeram objetos que pertencem à classe que a palavra ou expressão quer
rotular. As definições designativas, por sua vez, designam as características necessárias de uma classe que os obje-
tos têm de ter para poderem se inserir nessa classe. Cf. Introducción al Conocimiento Científico. Buenos Aires, Eu-
deba, 2004, p. 58.
Revista Dialética de Direito Tributário nº 187 15
16
Nesse sentido, Cf. BARREIRINHAS, Robinson Sakiyama. “Definição de Serviços para Fins de Tributação pelo ISS”.
Revista Dialética de Direito Tributário nº 104. São Paulo, Dialética, maio de 2004, pp. 74-87.
17
Cf. VELLOSO, Andrei Pitten. Conceitos e Competências Tributárias. São Paulo, Dialética, 2005, p. 101.
18
Art. 1º, parágrafo 1º: “Para efeito do disposto neste artigo, o total das receitas compreende a receita bruta da venda de
bens e serviços nas operações em conta própria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa jurídica.”
16 Revista Dialética de Direito Tributário nº 187
19
XAVIER, Alberto. Direito Tributário Internacional do Brasil. 6ª ed. Rio de Janeiro, Forense, 2005, p. 252.
20
BASTOS, Celso Ribeiro. Lei Complementar: Teoria e Comentários. 2ª ed. São Paulo, Celso Bastos - Instituto Brasi-
leiro de Direito Constitucional, 1999, p. 24.
Revista Dialética de Direito Tributário nº 187 17
21
Nesse sentido, SANTI, Eurico Marcos Diniz de. Decadência e Prescrição no Direito Tributário. São Paulo, Max
Limonad, 2000, p. 86.
22
Nesse sentido, Cf. SCHOUERI, Luís Eduardo. “ISS sobre a Importação de Serviços do Exterior”. Revista Dialética
de Direito Tributário nº 100. São Paulo, Dialética, janeiro de 2004, pp. 39-51.
18 Revista Dialética de Direito Tributário nº 187
23
TÔRRES, Heleno Taveira. “Prestações de Serviços Provenientes do Exterior ou cuja Prestação se tenha Iniciado no
Exterior”. In: TÔRRES, Heleno Taveira (org.). Imposto sobre Serviços - ISS na Lei Complementar n.116/03 e na
Constituição. Barueri, Manole, 2004, p. 281.
Revista Dialética de Direito Tributário nº 187 19
Na Lei nº 10.833/2003:
“Art. 6º A Cofins não incidirá sobre as receitas decorrentes das operações de:
(..)
II - prestação de serviços para pessoa física ou jurídica residente ou domiciliada no
exterior, cujo pagamento represente ingresso de divisas. (Redação dada pela Lei nº
10.865, de 2004)”
Na Lei nº 10.865/2004:
Art.1º, parágrafo 1º: “Os serviços a que se refere o caput deste artigo são os prove-
nientes do exterior prestados por pessoa física ou pessoa jurídica residente ou domici-
liada no exterior, nas seguintes hipóteses:
I - executados no País; ou
II - executados no exterior, cujo resultado se verifique no País.”
Primeiramente, destaque-se que não há qualquer espécie de superioridade hie-
rárquica da Lei Complementar nº 116/2003 por sobre as demais leis ordinárias su-
pracitadas no processo interpretativo que almeja conclusões sobre os conceitos de
importação e exportação de serviços, em que pese às funções normalmente distin-
tas cumpridas pelas duas espécies de veículos normativos.
Posto isso, questão de grande indagação tem sido a de definição do conteúdo
semântico da expressão “resultado do serviço”, particularmente do local de sua ocor-
rência, para fins de determinação de existência ou não de exportação e de importa-
ção de serviços. Seria o local em que se dá o resultado do serviço aquele em que se
finda fisicamente a ação em si do prestador? Ou seria o local onde se encontra aquele
que usufrui do serviço24?
Embora não possamos nos valer automaticamente dos critérios que caracterizam
uma prestação internacional de serviços no caso da PIS-Cofins-Importação, utili-
zados na Lei nº 10.865/2004, para caracterizar também uma prestação internacio-
nal de serviços para fins de ISS - assim como também não possamos fazer o mes-
mo com relação aos critérios da Lei Complementar nº 116/2003 para a PIS-Cofins-
Importação - percebe-se verdadeira consonância entre os critérios para determina-
ção do resultado do serviço tanto na legislação do ISS quanto na da PIS-Cofins.
Senão vejamos.
No conceito de importação de serviço trazido pela Lei nº 10.865/2004, nota-se
claramente uma distinção entre o local em que o serviço é executado (“executados
no exterior”) e o local em que se dá o resultado do serviço (“cujo resultado se veri-
fique no país”).
Na Lei Complementar nº 116/2003, apesar de ela não ser tão expressa quando
trata de definir o conceito de importação de serviço, o é quando define a negativa
de exportação de serviço, deixando clara a distinção entre o local do desenvolvimen-
to do serviço (“serviços desenvolvidos no Brasil”) e aquele onde o resultado se ve-
rifica (“cujo resultado aqui se verifique”).
24
Um exemplo seria o serviço de reparo de determinado equipamento, pertencente a empresa estabelecida no exterior,
efetuado por prestadora de serviço estabelecida no Brasil. Aqui a ação em si da prestação se consuma no Brasil, em
que pese à necessidade de se enviar o equipamento reparado para o tomador para que este usufrua do serviço, utili-
zando o equipamento reparado.
20 Revista Dialética de Direito Tributário nº 187
25
Data do julgamento: 23.5.2007.
Revista Dialética de Direito Tributário nº 187 21
ria econômico-financeira feita por empresa estabelecida na Europa para cliente do-
miciliado no Brasil que pretende investir no mercado europeu. Apenas a informa-
ção fornecida com essa consultoria vem para o Brasil, e não raro por documento
virtual, via internet.
Confrontando os conceitos, para importação de serviços, temos as seguintes
identidades:
ISS PIS-Cofins-Importação
Serviço proveniente do exterior. Serviço proveniente do exterior executado no
exterior, cujo resultado se verifique no País.
Serviço cuja prestação se tenha Serviço proveniente do exterior executado
iniciado no exterior do País. no País.
26
Guardada a distinção exposta em tópico anterior entre “serviços de qualquer natureza” para ISS e “serviços” para
PIS-Cofins.
27
Classificação esta utilizada por Sergio André Rocha: Resultado-consumação quando o local do resultado é aquele
em que se consuma o ato da prestação do serviço em si; resultado-utilidade quando o local do resultado é aquele onde
ocorre a fruição do serviço. Cf. “O Resultado do Serviço como Elemento da Regra de Incidência do PIS/Cofins-Im-
portação e da Regra Exonerativa do ISS sobre Exportações”. Revista Dialética de Direito Tributário nº 155. São Paulo,
Dialética, agosto de 2008, pp. 110-116.
22 Revista Dialética de Direito Tributário nº 187
28
Corolário desse entendimento é que o contratante a que se refere o inciso II do art. 5º da Lei nº 10.865/2004 deve ser
também beneficiário do serviço.
Revista Dialética de Direito Tributário nº 187 23
29
CORDEIRO, Leonardo Lima. “Contribuintes”. PEIXOTO, Marcelo Magalhães; BERGAMINI, Adolpho. PIS e Co-
fins na Teoria e na Prática - uma Abordagem Completa dos Regimes Cumulativo e Não-cumulativo. 2ª ed. São Pau-
lo, MP, 2010, p. 724.
24 Revista Dialética de Direito Tributário nº 187
30
Relator Ministro José Delgado. Data do julgamento: 15.8.2006. DJ 25.9.2006.
Revista Dialética de Direito Tributário nº 187 25
31
AMARAL, Antônio Carlos Rodrigues do. “A Organização Mundial do Comércio - OMC e o Acordo Geral sobre o
Comércio de Serviços”. In: TÔRRES, Heleno Taveira (org.). Comércio Internacional e Tributação. São Paulo, Quar-
tier Latin, 2005, p. 130.
26 Revista Dialética de Direito Tributário nº 187
mento das regulamentações sobre serviços dos diversos países, regulamentação esta
que atua como barreira não tarifária, mas cujo direito de modificar cabe aos países,
a fim de alcançarem seus objetivos nacionais.
Portanto, diferentemente do que ocorre no âmbito do GATT (General Agreement
on Tariffs and Trade), em que as regras sobre o comércio de bens são aplicadas a
todos os segmentos, no comércio de serviços a negociação se desenvolve de uma
maneira progressiva, consolidando-se a abertura de cada setor de serviços em listas
positivas de compromissos (Lista de Compromissos Específicos), numa negociação
bottom-up, isto é, de baixo para cima32. E por isso é que se torna possível haver uma
série de exceções aos princípios da Nação Mais Favorecida33, do Acesso a Merca-
dos34 e do Tratamento Nacional35.
Dispõe o GATS, no seu artigo I:2, da definição de comércio internacional de
serviços, trazendo ele quatro modalidades de serviços, quais sejam:
i) Prestação de um serviço do território de um Membro ao território de outro
Membro. É a modalidade 1, comércio transfronteiriço ou cross-border supply.
Neste caso, apenas o serviço atravessa as fronteiras. Fornecedor e consumidor
do serviço não deixam seus respectivos territórios por ocasião da prestação do
serviço. Como exemplo, podemos citar os serviços prestados por intermédio
de telecomunicações, consultorias em geral, internet etc.
ii) Prestação de um serviço no território de um Membro aos consumidores de
serviços de qualquer outro Membro. Esta é a modalidade 2 de prestação de ser-
viço, consumo no exterior ou consumption abroad. Aqui, é o consumidor do
serviço que atravessa a fronteira, consumindo o serviço no território do pres-
tador, sendo um não residente neste território. Típicos, nesta modalidade, são
os casos de serviços prestados a turistas, que consomem serviços de hotelaria,
por exemplo, e de serviços prestados a estudantes, que vão ao país do presta-
dor apenas para consumir o serviço educacional.
iii) Prestação de serviços de um Membro, por intermédio da presença comer-
cial no território de qualquer outro Membro. Modalidade 3, presença comer-
cial ou commercial presence. Nesta modalidade, a prestação do serviço se dá
por meio de um estabelecimento permanente, seja ele lotado por estrangeiros
ou não. Esses estabelecimentos permanentes consubstanciam-se como filiais,
subsidiárias, sucursais ou mesmo um representante de um investidor estrangei-
ro estabelecido. Como exemplos, temos agências ou filiais de bancos, escritó-
32
PUPO, Rodrigo Luís. “Acordo Geral sobre o Comércio de Serviços - GATS”. In: CELLI JUNIOR, Humberto. Co-
mércio de Serviços na OMC. Curitiba, Juruá, 2005, p. 27.
33
Cada país membro deve conceder imediatamente e incondicionalmente aos serviços e prestadores de serviços de qual-
quer outro país membro, tratamento não menos favorável do que aquele concedido a serviços e prestadores de servi-
ços similares de qualquer outro país.
34
Cada país membro outorgará aos prestadores de serviços e aos serviços dos demais países membros um tratamento
não menos favorável que o previsto sob os termos, limitações e condições acordadas e especificadas em sua lista.
35
Cada membro outorgará aos serviços e prestadores de serviços de qualquer outro membro, com respeito a todas as
medidas que afetem a prestação de serviços, um tratamento não menos favorável do que aquele que dispensa a seus
próprios serviços similares e prestadores de serviços similares.
Revista Dialética de Direito Tributário nº 187 27
rios de multinacionais etc. O artigo XXVIII: “d” “i” e “ii” traz a definição de
presença comercial para fins do Acordo36.
iv) Prestação de serviço de um Membro, por intermédio da presença de pes-
soas naturais deste Membro no território de qualquer outro Membro. É tam-
bém conhecida como modalidade 4 ou movimento de pessoas físicas ou ainda
presence of natural persons. Refere-se a estrangeiros pessoas físicas que vão
ao território de outro Membro para prestarem seus serviços temporariamente
(não residentes).
Interessante notar que as modalidades 2 (consumption abroad) e 3 (commercial
presence), em que pese serem consideradas pelo GATS como comércio internacio-
nal de serviços, não o são, regra geral, pela Lei Complementar nº 116/2003 e pela
Lei nº 10.865/2004.
Isto porque no caso de o consumidor estrangeiro (não residente) de um serviço
(um turista, por exemplo) vir ao Brasil passar as suas férias, o resultado dos servi-
ços que lhe forem prestados dar-se-á aqui, em território nacional, mesmo que a fonte
pagadora esteja localizada no exterior, não se caracterizando tal como uma expor-
tação de serviço. Da mesma forma, se um turista brasileiro for passar férias na Eu-
ropa, nossa legislação, tanto para fins de ISS quanto de PIS-Cofins-Importação, não
considera o fato dos serviços prestados a ele lá fora como uma importação de ser-
viço, já que a fruição pelo tomador se deu lá, ainda que ali ele seja não residente. É
a situação em que o beneficiário é pessoa física, caracterizando-se o resultado dos
serviços que ele tomar no próprio local onde se encontre, in casu, no exterior, onde
o prestador do serviço se encontra (modalidade 2).
Assim também, se um escritório de serviços de engenharia de empresa estran-
geira está estabelecido no território brasileiro e prestando serviços aqui no Brasil
para beneficiários aqui localizados, não há importação de serviços. Para efeitos de
verificação do local do resultado dos serviços na tributação do ISS, tal serviço não
será tido como importado, já que se desenvolveu e se concluiu aqui no Brasil, na
medida em que o escritório é aqui estabelecido e aqui presta o serviço (modalida-
de 3). Nesse caso, então, o contribuinte será o prestador e não o tomador do servi-
ço.
9. Conclusões
A busca da tributação no destino, a fim de se desonerar as exportações de servi-
ços, bem como de se tributar as importações de serviços, ensejou uma série de alte-
rações por parte do constituinte derivado, a fim de conferir fundamento constitucio-
nal a posteriores inovações legais, advindas com a Lei Complementar nº 116/2003
(ISS) e com a Lei nº 10.865/2004 (PIS-Cofins-Importação).
Nota-se claramente o privilégio, conferido pelo legislador, ao conceito de resul-
tado-utilidade, no tocante à definição do local do resultado dos serviços, o que apre-
36
“Art. 28 - Para fins do presente Acordo: (...) d) ‘presença comercial’ significa qualquer tipo de estabelecimento co-
mercial ou profissional, inclusive sob a forma: i) da constituição, aquisição ou manutenção de uma pessoa jurídica;
ou ii) da criação ou manutenção de uma sucursal ou escritório de representações, no território de um Membro para o
propósito da prestação de um serviço.”
28 Revista Dialética de Direito Tributário nº 187