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INFORMAÇÃO, COMUNICAÇÃO E TECNOLOGIA:

MEMÓRIAS E PRÁTICAS COM USO DAS TIC NO COLÉGIO WALTER FRANCO

Adriana Alves Novais Souza1


Arnon Sillas Novais Souza2

GT5 - Educação, Comunicação e Tecnologias.

RESUMO
O trabalho trata das histórias e memórias do Colégio Estadual Senador Walter Franco relacionadas ao
uso das Tecnologias de Informação e Comunicação inseridas a partir de políticas públicas financiadas
pelo Ministério da Educação, com o intuito de registrar seu perfil protagonista nesse âmbito, como
também preservar a cultura material escolar através do resgate às memórias das práticas e saberes
docentes que dela emergiram. Utilizou-se como metodologia a pesquisa bibliográfica e documental,
tendo como fontes o testemunho oral, a iconografia preservada nos arquivos escolares, as revistas,
jornais escolares e da região, entrevistas e documentos escritos produzidos pela escola: os projetos de
utilização do laboratório de informática, da rádio e da videoteca. Ao retratar as práticas realizadas
pela escola nesse âmbito, o trabalho evidencia importância da motivação dos profissionais da
educação na promoção de experiências com uso das tecnologias.

Palavras-chave: Educação, Políticas Públicas, Mídias, Tecnologias de Informação e Comunicação,


Colégio Walter Franco.

RESUMEN
El artículo trata historias y recuerdos del Colegio senador estatal Walter Franco relacionados con el
uso de los insertados Información y la Comunicación de las políticas públicas financiadas por el
Ministerio de Educación, a fin de registrar su perfil de protagonista en este contexto, así como
preservar la escuela la cultura material a través del rescate de los recuerdos de las prácticas y los
maestros los conocimientos que surgieron de ella. Se utilizó como metodología para la investigación
bibliográfica y documental, con las fuentes de testimonio oral, la iconografía conservada en los
archivos escolares, revistas, revistas especializadas y en la región, entrevistas y documentos escritos
producidos por la escuela: los proyectos de uso de laboratorio de computación , la radio y la videoteca.
Al presentar las prácticas llevadas a cabo por la escuela en ese contexto, el trabajo muestra la
importancia de la motivación de la educación profesional en la promoción de experiencias con el uso
de la tecnología.

Palabras clave: Educación, Política Pública, Medios, Tecnología de Información y Comunicación,


Universidad Walter Franco.

1
Mestra em Educação pela UFS; Especialista em Linguística e ensino de Línguas pelo Centro Universitário
SEB e em Mídias na Educação pela UFS. Professora da rede estadual de Sergipe. E-mail:
dria.novais.souza@gmail.com
2
Graduando em Engenharia Agronômica na Universidade Federal de Sergipe. Estagiário no Conselho Regional
de Agronomia de Sergipe. E-mail: sougan123@gmail.com
INTRODUÇÃO

Este trabalho trata das práticas educacionais do Colégio Estadual Senador Walter
Franco, uma escola pública sergipana que sempre por seu protagonismo pedagógico. Dentre
as tantas realizações da escola, enfatiza-se o uso dado às Tecnologias de Informação e
Comunicação (TIC), linha de pesquisa adotada pela autora
Assim, destaca-se como fator motivador para o trabalho o interesse em
compreender como a escola se apropriou das políticas públicas nela inseridas voltadas para o
uso das TIC e quais as experiências e saberes que emergiram dessa prática.
Para atingir tais objetivos, utilizou-se como metodologia a pesquisa bibliográfica
e documental e como fontes o testemunho oral, a iconografia preservada, bem como revistas,
jornais escolares e da região, entrevistas produzidas no período relacionadas às práticas
desenvolvidas pela escola e documentos escritos produzidos pela escola: os projetos de
utilização do laboratório de informática, da rádio e da videoteca. Procurou-se examinar toda a
documentação existente na escola que tratasse da temática, a qual foi disponibilizada pela
direção da escola, para então levantar as dúvidas e questionamentos que norteariam as
entrevistas aos docentes.
Buscou-se formular questões de maneira a permitir que o professor discorresse
sobre elas da forma que melhor lhe conviesse. Considera-se então o depoimento como
expressão daquilo que poderia ter sido, para não incorrer no risco citado por Taborda de
Oliveira de congelar o passado e naturalizar ou distorcer a sua compreensão, negando-o como
processo e construção humana. Os relatos provenientes dos testemunhos orais se configuram,
doravante, memória da trajetória do Colégio Walter Franco com o uso das TIC.
Nesse trabalho, é feito um recorte temporal que se inicia na década de 1980,
quando do surgimento das primeiras políticas públicas voltadas para a formação docente com
o uso das TIC inseridas na escola até os dias atuais. Embora consciente de cometer o risco
que Bontempi (1995) julga comum em algumas práticas historiográficas ao trazer o recorte
da pesquisa até os dias atuais, justifica-se o recorte pela contemporaneidade da pesquisa e
pelo fato de que as atualizações tecnológicas ocorrem num processo constante e, no caso da
escola em questão, interessa saber se e como ela tem acompanhado tais mudanças.
Assim, tratar das políticas educacionais, da formação docente e do pensamento
educacional em relação ao uso das TIC nas práticas escolares, especificamente apontando a
relevância das experiências realizadas em uma escola da rede pública, conhecidas por suas
limitações e deficiências estruturais e financeiras, mas que se destaca no cenário educacional
por seu protagonismo em aliar os recursos disponíveis à capacidade criadora de seus docentes,
torna-se de grande relevância para a memória cultural dessa comunidade escolar e de seu
município.

INFORMATIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO E POLÍTICAS PÚBLICAS

Vivemos em uma sociedade em constante movimento, caracterizada pelas


transformações que o homem promove com o objetivo de responder a seus questionamentos
e suprir suas necessidades. Modifica-se o ambiente a seu redor e, simultaneamente, vão sendo
modificados seu comportamento, sua linguagem, seus valores e costumes. Para Thompson
(1981), porém, tais modificações não devem ser aleatórias, mas possuir uma razão de ser,
uma vez que dizem respeito às experiências profundas de uma determinada sociedade e,
dessa forma, caracterizam sua cultura:

E verificamos que, com “experiência” e “cultura”, estamos num ponto de


junção de outro tipo. Elas (as pessoas) também experimentam sua própria
experiência como sentimento e lidam com esses sentimentos na cultura,
como normas, obrigações familiares e de parentesco, e reciprocidades, como
valores ou na arte ou nas convicções religiosas (THOMPSON, 1981, p. 189).

As tecnologias sempre estiveram presentes nos saberes e fazeres da humanidade;


na criação de utensílios, na descoberta do fogo, na confecção de proteção para o corpo, na
manipulação de metais... São inúmeras as ferramentas criadas pelo homem a fim de facilitar a
realização de suas tarefas cotidianas. À medida em que as tecnologias vão surgindo e se
incorporando ao universo da humanidade, de alguma forma, estas têm seu uso aplicado à
educação (SEABRA, 2010).
Analisando a história das tecnologias no processo educativo, é possível perceber
a mudança no foco de sua utilização, a exemplo do quadro, do giz, dos sólidos geométricos,
dos mapas, os quais surgiram da necessidade direta do professor, com finalidades específicas
e relevantes, ou seja, seu está diretamente relacionado ao desenvolvimento da prática
pedagógica, considerados como suporte de apoio. No caso das mídias, como rádio, televisão,
transparência, projetor multimídia ou computador, embora os objetivos que permeiam sua
inserção nos espaços pedagógicos tenham como premissa a inovação e principalmente o
suporte ao trabalho do professor, tais recursos são vistos com reserva e, quando utilizados,
seu uso, na maioria das vezes, tem servido a fins conservadores, enfatizando o meio e não a
prática, alerta Cysneiros (1999).
Isso se dá porque, segundo Adams (1964) apud Oliveira (2003), são necessários
dois fatores para a criação de um sistema educacional adequado: a quantidade e a qualidade.
Para o autor, há duas demandas: a de construir escolas e treinar professores, a fim de atender
às necessidades educacionais da sociedade, porém esta última necessidade deve ser vista com
maior significado, uma vez que o foco na formação de professores tem se constituído
condição sine qua non para o sucesso educacional, considerando que para o aluno: “com
poucas exceções, não é preciso estimular o desejo público de facilidades educacionais, visto
que este desejo já existe” (idem, p. 108). Dessa maneira, políticas públicas têm sido pensadas
com o intuito de oferecer ao professor a qualificação necessária, continuada ou em serviço,
principalmente voltadas, nas últimas décadas, para o uso das mídias nas práticas docentes, a
exemplo de programas como EDUCOM, TV Escola, EDUCOM.Rádio, ProInfo, ProUCA,
dentre outros, acerca dos quais apresenta-se um breve relato.

AS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO CHEGAM À


ESCOLA: AS MÍDIAS DE ÁUDIO E VÍDEO

A utilização das mídias como facilitadoras da comunicação em larga escala vem


permeando o universo educacional brasileiro desde sua chegada, na década de 1920. Destaca-
se a atuação de Getúlio Vargas ao utilizar-se do cinema e do rádio a fim de desenvolver o
sentimento patriótico da população em sua política higienista. Conforme Baía Horta declara:

O cinema será [...] o livro de imagens luminosas, no qual as nossas


populações praieiras e rurais aprenderão a amar o Brasil, acrescendo a
confiança nos destinos da Pátria. Para a massa dos analfabetos, será essa a
disciplina pedagógica mais perfeita, mais fácil e impressiva. Para os letrados,
para os responsáveis pelo êxito da nossa administração, será uma admirável
escola. (BAÍA HORTA, 1994, p. 146-147).

Para Azevedo apud Toledo (1995, p. 126), porém, as novas ideias no campo
educacional geralmente surgem sob pressão, de fora para dentro, a partir de fatores
econômicos, políticos, culturais e, às vezes, “por movimentos no interior do próprio grupo,
determinado pela ação criadora de individualidades”. Tais movimentos renovadores, afirma o
autor, não surgem do acaso, mas são fruto das transformações que estão se operando no
sistema social geral e que vão sendo espelhados nos diversos setores da sociedade.
Para Toledo (1995), “as inovações, por outro lado, são necessárias para a
evolução das sociedades, porque sem ela não há o desenvolvimento da civilização, ficando a
sociedade estagnada” (TOLEDO, 1995, p. 126). Assim, a sociedade deve aproveitar os
momentos de crise para incentivar seus intelectuais a estudarem os problemas e descobrirem
suas causas, encontrando, através da ciência, soluções que garantam a sua (re)funcionalização,
perpetuando o próprio organismo social e evitando assim o seu desaparecimento (idem, p.
128).
Os primeiros sinais de informatização da educação surgem na década de 80, mais
especificamente em 1984, com o Projeto Educom, uma iniciativa que visava criar projetos-
piloto de informática educacional nas universidades, o qual, segundo relembra Cysneiros
(1999), foi pouco difundido nas escolas, mas foi responsável pela formação científica de
muitos pesquisadores na área, graças à experiência com os trabalhos voltados à Informática
na Educação.
Confere-se ao Projeto Educom a criação, em 2001, do Projeto Educom.rádio,
uma iniciativa da Faculdade de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo com o
intuito de inserir um programa de rádio nas escolas. O Projeto, em parceria com a Prefeitura
de São Paulo e o já referido Projeto Educom, tinha como objetivo promover diferentes
formas de comunicação nas atividades educativas3. A proposta de construir em cada escola
um ambiente aberto e solidário de relações recebeu atenção do MEC e foi levado a outros
estados, capacitando professores e alunos e oferecendo subsídios às escolas para a instalação
técnica da aparelhagem radiofônica.
A experiência reporta à atuação de Edgard Roquete Pinto, o qual percebera a
predominância da uma cultura oral, principalmente no âmbito da comunicação do mundo
rural e elaborara, em 1926, um plano de educação popular com a ajuda o rádio, a Rádio
Municipal PRD-5, indicando as condições essenciais do planejamento da radiodifusão
educativa: coordenação nacional, particularmente no tocante aos recursos humanos das
comunidades e redução máxima dos custos (NUNES, 2000, p. 364).
Ao estabelecer como meta “alargar o horizonte intelectual e moral de professores
e alunos” (NUNES, 2000, p. 367), Roquete Pinto criou um programa de ação complementar
que, oito anos depois, já havia irradiado 309 conferências e palestras aos professores sobre
ciências, arte e literatura, transpondo distâncias, atravessaram fronteiras e lares cariocas,
explicando aos pais como e por que se educavam as crianças em novos caminhos.

3
Disponível em: http://webeduc.mec.gov.br/midiaseducacao/material/radio/radio_basico/pdfs/projetos.pdf.
Acesso em 03 ago. 2013.
Em meio à implementação das propostas de uso da rádio nas escolas e levando-se
em consideração o poder da mídia televisiva e as facilidades promovidas pelo vídeo, foi
criado, em 1995, o Projeto TV Escola, com a intenção de disseminar conteúdos e
procedimentos capazes de proporcionar fundamentação teórica ao trabalho do professor, bem
como melhoria na prática pedagógica, através de novos olhares sobre o papel da escola e da
educação. O projeto foi implantado em integração ao então existente Projeto Vídeo Escola,
contemplando o uso da televisão como recurso para a atualização dos professores e apoio à
sua prática pedagógica. Dessa forma, as tecnologias são compreendidas como suporte, como
instrumento e material de apoio (BERGER; NUNES, 2007).
Cada escola recebeu um kit composto por televisor, videocassete, antena
parabólica com receptor e dez fitas para gravação dos programas, que seriam
disponibilizados em um canal destinado à educação, via satélite, por quatro horas seguidas. O
projeto foi destinado aos professores em exercício das escolas públicas no Ensino
Fundamental, a fim de contribuir com sua formação e para a melhoria do ensino.
A implementação do projeto passou por alguns entraves, tais como: a montagem
do kit da TV Escola não conseguiu atingir todas as unidades escolares, os programas exibidos
eram repetitivos, necessitavam que o professor os assistisse e gravasse para montar as
videotecas, exigindo tempo disponível, dentre outros. Conforme Berger e Nunes (2007),
pesquisas do MEC acusaram vários problemas relacionados à ausência de pessoal técnico
para operar os equipamentos, além dos aqui já citados, tendo o mais agravante a falta de
horário e tempo dos professores para gravarem e assistirem os programas no contexto escolar.
Partindo dessas dificuldades, foi oportunizada uma capacitação para os profissionais do
ensino, a fim de lhes preparar para as demandas da tecnologia, criando-se o Curso TV Escola
e os Desafios de Hoje, pela extinta SEED, numa tentativa de salvar o programa, mas este já
estava perdendo espaço devido à emergência das mídias interativas.

“NOVÍSSIMAS” TECNOLOGIAS EM MÃOS AINDA SUJAS DE GIZ

A inserção tecnologia midiática no ambiente escolar destaca-se pelas mudanças e


avanços ocorridos em um espaço muito curto de tempo: da década de 80, quando o uso da
televisão e do rádio estava no auge, para o surgimento das primeiras experiências com o uso
do computador conectado à internet e desta para a conexão sem fios ou wireless, que
promoveram a emergência das tecnologias móveis, passaram-se pouco mais que 20 anos.
Ao tratar da primeira fase de inserção da tecnologia conectada à internet ao
processo de ensino e aprendizagem, destaca-se a criação do Programa de Informatização na
Educação Básica, o ProInfo, criado em 9 de abril de 1997 pelo Ministério da Educação, com
o objetivo de promover o uso pedagógico da informática na rede pública de educação básica.
O programa leva às escolas computadores, recursos digitais e conteúdos educacionais,
através da implementação dos Núcleos de Tecnologia Educacional nas Secretarias de
Educação, a fim darem suporte aos laboratórios de informática nas escolas. Para isso, foram
oferecidos cursos de especialização e de extensão para técnicos, professores articuladores e
multiplicadores para atuarem nos laboratórios das escolas e nos Núcleos de Tecnologia dos
Departamentos e Secretarias de Educação. Em sua fase inicial, o ProInfo visava beneficiar
7,5 milhões de alunos, capacitar 25000 professores de escolas públicas e 1000
multiplicadores (MEC/SEED, 1997).
A proposta tem apresentado diversas dificuldades desde sua implementação: nem
todas as escolas receberam os kits tecnológicos: computadores, impressora, mobiliário e
recurso financeiro para a montagem da sala; outras receberam os kits, mas não possuíam uma
estrutura mínima que oportunizasse sua instalação; escolas possuem o laboratório montado
mas com uso restrito pelo diretor, por receio de roubos e/ou danos por parte da comunidade
escolar; resistência dos professores em utilizar o laboratório, por medo e desconhecimento do
uso e de técnicas de uso pedagógico (MARCELINO, 2003). A introdução do novo produz
barreiras em qualquer tempo e espaço social, o que requer uma compreensão acerca da
problemática envolvida nos processos. Por esse fator, a preparação desse profissional precisa
ser levada em consideração, antes mesmo da chegada dos equipamentos à escola, oferecendo-
lhe apoio e informação.
Com o intuito de inserir o computador nas mãos do aluno ao invés de desloca-lo
para os laboratórios de informática, o MEC aposta, em 2005, na criação do Projeto Um
Computador por Aluno (ProUCA), com o intuito de promover a inclusão digital nas escolas
das redes públicas ou nas escolas sem fins lucrativos de atendimento a pessoas com
deficiência. O programa investiu na capacitação inicial e continuada dos professores, além de
apoio técnico e pedagógico através de tutoria e coordenação regional, a fim de atender às
necessidades dos profissionais, auxiliá-los na metodologia, oferecendo oportunidades de
compartilhar experiências, estudos e novas propostas de ensino, utilizando-se da ferramenta
digital em sala de aula4, a fim de evitar os mesmos percalços ocorridos com o ProInfo. Os

4
Fonte: MEC. Disponível em http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id
=15704. Acesso em: 15 maio 2012.
problemas do projeto dizem respeito ao tipo de aparelho adquirido pelo governo, aos
softwares utilizados, ao suporte técnico e à conectividade: alunos e professores reclamam da
dificuldade de carregar páginas e programas, o que provoca desprezo pelo aparelho
(ALMEIDA et al, 2010).
Além dos laboratórios de informática, dos laptops em mãos de alunos e
professores, surge em 2011 uma nova proposta tecnológica para a educação, através de um
projeto que prevê a distribuição de tablets para os professores e lousas interativas digitais
para as escolas públicas. No ensino público, seu uso está destinado inicialmente aos
professores do Ensino Médio e, em 2012, o Ministério da Educação (MEC) iniciou a
distribuição dos equipamentos para 598.402 docentes. O critério de prioridade na distribuição
diz respeito às escolas que já têm Internet em alta velocidade (banda larga), perfazendo cerca
de 58.000 unidades.
Os objetivos do governo continuam os mesmos para justificar a nova demanda:
fornecer ferramentas de auxílio ao trabalho docente, essencial no desenvolvimento de suas
aulas, dinamizando-as e facilitando a compreensão dos conteúdos, como também preparar os
alunos para a inserção na sociedade informatizada5. Enquanto a escola pública ainda tenta
otimizar os laboratórios de informática, novíssimas mídias vão se infiltrando em seus
ambientes, numa velocidade tal que exige da civilização atualização constante para
acompanhar, efetivamente, essa evolução, sob pena de ficar para trás na sociedade do
conhecimento.

HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO COLÉGIO SENADOR WALTER FRANCO E USO


DAS TIC

O trabalho de compilar e relatar as produções e suportes escolares em uma


determinada época ou sob um determinado foco, como aqui tratado acerca do uso das TIC no
universo do Colégio Walter Franco, está diretamente relacionado ao processo de resgatar a
cultura escolar, ao reconhecer os materiais escolares como “suportes materiais de discursos
múltiplos que, neles, se configuram como dispositivos de constituição das práticas escolares”
(CAMARGO, 2000, p. 21).
O Colégio Walter Franco, lócus da pesquisa, em 2013, contou com 724 alunos,
36 professores em regência de classe e possui biblioteca, laboratórios de química, de
informática, sala de recursos multifuncionais, duas salas de vídeo, auditório, estúdio para
5
Disponível em http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=17479. Acesso em
15/04/2012.
rádio, sala de geografia, quadra coberta. Uma escola ampla que oportuniza a utilização de
diferentes espaços para a prática pedagógica.
A escola tem desenvolvido diversos projetos de visibilidade em nível nacional, a
exemplo do Projeto “A magia do barco de fogo” e das “Lavadeiras do Piauitinga”, inseridos
no livro Tesouros do Brasil6, projeto destinado ao incentivo da preservação patrimonial nas
escolas, iniciando-se pelos bens culturais dos municípios nas quais estão inseridas.
O projeto Rádio WF “Uma comunidade em sintonia” foi criado em 2001 pela
professora de Arte, Andrea Cardoso Santos, e posto em funcionamento de maneira precária,
com equipamentos emprestados por professores e alunos e serviços voluntários, recebendo
posteriormente uma ajuda Secretaria de Educação. A Rádio ganhou visibilidade e recursos
para a aquisição de estrutura condizente ao concorrer, em 2002, ao Prêmio “Escola para
Escola”, realizado pelo MEC, obtendo um prêmio no valor de R$ 5.000,00 à época.
A Rádio passou então a integrar as atividades da escola, dando suporte técnico na
produção e comunicação de outros projetos desenvolvidos pela escola, além de incentivar a
participação dos estudantes no processo, ação determinante para alguns estudantes na escolha
de futuras profissões:

Foi lá que tive o primeiro contato com a comunicação (como profissão),


através da formação Rádio WF, uma emissora interna, onde os alunos
produziam os programas para os intervalos, com entrevistas, músicas,
reportagens; emissora essa que foi destaque na mídia local, estadual e
nacional, motivo de matéria de capa da revista TV Escola e que me lançou
no mercado de trabalho aos 14 anos7.

Nas eleições de 2002, a Rádio funcionou como veículo de informação e


esclarecimentos aos eleitores e em 2003 seu estúdio foi levado à Praça Barão de Rio Branco,
em Estância, fazendo parte da programação da Feira de Cultura promovida pela Secretaria
Municipal de Educação. Em 2009, a rádio deixou de funcionar em virtude da necessidade de
uma reforma geral.

6
Versão digital disponível em: http://www.tesourosdobrasil.com.br/defaultFlash.aspx.
7
Depoimento da ex-aluna Michele Costa ao Jornal Folha da Região. Ano XII, nº 242, fl.02, set. 2011.
Figura 1: Rádio WF em Ação

Fonte: Arquivo da escola

Outro recurso muito utilizado e apreciado pelos docentes da escola é o vídeo, cuja
facilidade de adesão Vidal (2001, p. 47) atribui ao “fascínio da arte cinematográfica para
colorir o conteúdo da aula”. Embora alvo de críticas desde seu surgimento, a TV Escola
ganhou a popularidade dos docentes no Walter Franco, a partir de uma proposta organizada
pela professora responsável pela sala de vídeo, Letícia, como pode ser observado pelo
depoimento da direção:

Os professores utilizavam muito a sala de vídeo, como até hoje utilizam e


tudo era muito organizado. Os professores agendavam e utilizavam os
vídeos da TV Escola, que a escola recebia, organizavam suas aulas através
desse vídeos e colocavam objetivos. Havia uma professora responsável pela
sala de vídeo, Letícia, que enviava mensalmente relatórios para a
coordenação do programa. Então a TV Escola achou muito interessante o
trabalho do colégio, vieram nos visitar e foi aí que fizeram a matéria da
revista8.

Em 2003, a Revista TV Escola destaca a atuação da escola, em matéria intitulada


“Uma escola de bem com a vida”, retratando os projetos desenvolvidos pela escola, bem
como o desempenho da equipe escolar para desenvolver o projeto da Rádio WF:

Além das músicas preferidas pelos jovens, a programação inclui


comentários sobre vídeos da TV Escola (especialmente aqueles sobre Ética),
divulgação de projetos pedagógicos e reportagens. Para as últimas eleições
presidenciais foi feita uma programação especial. Os eleitores que foram à
escola para votar ouviram um programa sobre a história das eleições no
Brasil, com vinhetas sobre a importância do voto (REVISTA TV ESCOLA9,
p.32 e 33).

8
Depoimento de Maria Angélica Santos Costa, diretora do Colégio Walter Franco, em exercício no cargo há 12
anos.
9
Disponível em http://tvescola.mec.gov.br/images/stories/revista/pdf/revista31completa.pdf. Acessado em 02
ago. 2013.
Em 2004, o Colégio Walter Franco apresenta um novo recurso de informação e
comunicação, o WF Informe, um informativo impresso, organizado pelos professores Acácia
Vilar Lessa e Zilmar Santana, os oficiais administrativos Jane Edna e João Batista, com a
editoração de um ex-aluno e também voluntário na rádio escolar, Edvaldo Santos. A criação
do jornal adquire relevância no contexto educacional por refletir as especificidades da
comunidade e conferir identidade, conforme salienta Nóvoa (1997) apud Oliveira (2003, p.
94): “A imprensa educacional é, provavelmente, o local que facilita um melhor conhecimento
das realidades educativas, uma vez que aqui se manifestam, de um ou de outro modo, o
conjunto dos problemas desta área”. A iniciativa da escola reporta ao marco do aparecimento
da imprensa na história sergipana, em setembro de 1832, com a circulação do jornal o
Recopilador Sergipano na então Vila de Estância (NUNES, 1984, p. 51). Embora o Informe
WF na versão impressa tenha tido curta existência, pelas dificuldades financeiras para
organização e impressão, sob a organização da professora Edileuza Gomes ele é resgatado,
ganhando uma nova versão em mural. A iniciativa constou de um projeto que inicia com a
visita dos estudantes a um jornal sergipano de grande circulação, para que conhecessem o
processo de editoração e impressão do jornal, além do desenvolvimento de atividades que
envolvessem toda a comunidade escolar.

Figura 2: Montagem do Jornal Interativo WF em Versão Mural

Fonte: Arquivo da escola

A proposta do Programa Nacional de Informática na Educação - ProInfo - chegou


ao Colégio Walter Franco em meados de 2006. Foram selecionados três professores que
atuarem como articuladores, que receberam capacitação para a nova função. Os
computadores chegaram à escola e foram instalados no laboratório, mas problemas na parte
elétrica da escola impediram a autorização de funcionamento pela equipe do MEC, ficando
embargado até meados de 2009, quando os problemas foram resolvidos.
Uma das primeiras realizações dos professores articuladores em parceria com
alunos foi a criação de um blog da escola, amplamente divulgado entre a comunidade escolar
e utilizado para socialização de eventos, projetos, atividades e enquetes:

Figura 3: Página do blog do Colégio10

Fonte: Captura de tela feita pela pesquisadora a partir da página do blog da escola

O Colégio tem alcançado os melhores índices no IDEB desde a primeira edição,


principalmente nas séries iniciais do Ensino Fundamental. Destaca-se também no índice de
aprovação em vestibulares e, há dois anos, foi a única escola da rede pública na região
centro-sul a figurar entre as escolas que obtiveram a média do Exame Nacional do Ensino
Médio. Por este motivo, em maio de 2013, a escola recebeu uma lousa interativa e seus
professores do Ensino Médio receberam tablets, enviados pelo MEC, conforme depoimento a
seguir:

O Walter Franco, pelo que sabemos, foi escolhido porque entrou, como
disse anteriormente houveram algumas regras para que as escolas fossem
selecionadas, então foram selecionadas 25 escolas, dentre essas, a regra foi
o resultado do Enem de 2012, em que o Walter Franco ficou em 4º lugar, a
melhor escola pública no desempenho do Enem. Dentro das 25 escolas,
temos ainda 3 escolas aqui da região da DRE 01, que também vão ser
contempladas11.

Os recursos ainda estão em fase de apropriação pelos docentes, porém os


depoimentos abaixo refletem a situação atual: “Eu achei interessante, agora eu sinto que falta

10
Disponível em: http://wfnoticias.blogspot.com.br/
11
Depoimento de Sidlene da Conceição Ferreira, coordenadora do Colégio e ex-técnica do Núcleo de
Tecnologia da Diretoria Regional de Educação- DRE01.
é que os professores para trabalhar com os alunos, que eles tenham uma formação nesse
sentido. Essa questão ficou muito deficiente”12.

A iniciativa dos tablets é louvável, mas sem treinamento para o uso deles
pelos professores, fica difícil de se concretizar a utilização. Ele (o tablet)
está em casa, sem uso, o que eu acho um desperdício, de tecnologia e de
recursos, porque para se obter um tablet desse, houve uma disponibilidade
de recurso, o que é um desperdício13.

Agora, que é uma ferramenta ótima, isso é, se realmente o professor for


capacitado, for treinado para que essa utilização seja a contento, vai ser de
grande valia para a aprendizagem dos alunos. Cai na questão da formação
do professor, muitos têm medo, tem professor que nem ligou, recebeu e
deixou lá, porque não sabe mexer e também porque estão aguardando uma
oficina que está prevista para acontecer na escola. Provavelmente, essa
oficina acontecerá quando os alunos receberem também os seus tablets14.

Para Oliveira, não se pode considerar os professores como sujeitos capazes de,
por si só, transformar a realidade mediante sua prática pedagógica, mas como “sujeitos que
agiram e reagiram dentro de condições históricas concretas, bastante objetivas” (OLIVEIRA,
2003, p. 67). No caso dos docentes do Colégio Walter Franco, o material coletado fala por si,
refletindo o protagonismo diante de situações que poderiam ser, de outra forma, dolorosas,
conflitantes, mas que se transformaram em experiências positivas dos saberes e fazeres
dentro do espaço escolar. Segundo Nóvoa (1997, p.27):

As situações conflitantes que os professores são obrigados a enfrentar (e


resolver) apresentam características únicas, exigindo portanto características
únicas: o profissional competente possui capacidades de auto
desenvolvimento reflexivo [...] A lógica da racionalidade técnica opõe-se
sempre ao desenvolvimento de uma práxis reflexiva.

Nóvoa não propõe utopias, uma vez que a formação do professor e as condições
de aprendizagem oferecidas pelas redes de ensino são fundamentais para que seu trabalho
seja executado com competência. É preciso maior organização das escolas e uma parceria
sólida entre estas e as Instituições de Ensino Superior, a fim de garantir uma formação inicial
baseada na investigação, na pesquisa e na reflexão sobre a ação.
A formação docente para uso das TIC é o primeiro passo para que se obtenha um
uso efetivo destas no ambiente escolar. Porém, é preciso que ela ocorra, preferencialmente,
em serviço, quando então os professores terão oportunidade de desenvolver ações com seus

12
Depoimento da professora de Língua Portuguesa Elaine Leone dos Santos.
13
Depoimento do professor de Matemática Luiz Gastão de Oliveira.
14
Idem à nota 6.
alunos ao tempo em que percebe as dificuldades e busca soluções em conjunto para resolvê-
las, pois é no processo de reflexão-ação-reflexão que se faz a práxis.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A tecnologia deve ser inserida nos espaços escolares como ferramenta eficaz no
processo cognitivo de um ambiente ergonômico, não como um fim em si mesma, mas como
como suporte, como facilitador na construção do conhecimento do aluno. Não bastam, porém,
que tecnologias sejam inseridas, é preciso haver um ambiente facilitador, a tecnologia certa, o
computador online e profissionais motivados, capazes de substituir o modelo tradicional de
ensino, onde um professor fala a muitos, por um modelo em que muitos se relacionam com
muitos, num processo interativo que favorece a cooperação e a autonomia.
O trabalho evidenciou a necessidade de que os recursos tecnológicos sejam
inseridos dentro de uma proposta que contemple a formação do professor, compreendidos
como facilitadores da interação todos-todos, pois permite, em maior escala, que as práticas
sejam desenvolvidas a contento, embora, como aqui ficou evidente, uma boa equipe escolar
consegue motivar a participação efetiva de seus alunos assim, baseando-se na tríade
construtivismo - organizações de aprendizagem - informática, é possível promover ações
positivas e de relevância para a história da educação.
Ressalta-se, contudo, que não é a presença da tecnologia na escola que vai
modificar a metodologia de ensino ou promover novos modos de aprender. Quaisquer
recursos utilizados, na educação ou não, só terão um bom desempenho se houver
planejamento, objetividade e compromisso com a qualidade da aprendizagem.

REFERÊNCIAS

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