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PRÓREITORIA DE PÓSGRADUAÇÃO E PESQUISA
ESCOLA DE FORMAÇÃO EM SAÚDE DA FAMÍLIA
VISCONDE DE SABÓIA
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL
GRUPO COMO DISPOSITIVO NA VIDA: ARTE E EXPRESSÃO
DE MULHERES COM TRANSTORNO DE ANSIEDADE
PERLA MADALENA SOARES BESERRA
SOBRAL CEARÁ
2006
1
PERLA MADALENA SOARES BESERRA
GRUPO COMO DISPOSITIVO NA VIDA: ARTE E EXPRESSÃO
DE MULHERES COM TRANSTORNO DE ANSIEDADE
SOBRAL CEARÁ
2006
2
Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Saúde Mental da Universidade
Estadual Vale do Acaraú – UVA/Escola de Formação em Saúde da Família Visconde de
Sabóia, como requisito necessário para a obtenção do título de Especialista em Saúde Mental.
______________________________________________
Perla Madalena Soares Beserra
Monografia aprovada em ______/_____/_____
_________________________________________________
Prof a : Dra. Eliany Nazaré Oliveira
Orientador
_________________________________________________
1º Examinador
_________________________________________________
2º Examinador
___________________________________________
Prof(a)
Coordenador(a) do Curso
3
AGRADECIMENTOS
[...]
É preciso amor pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir
Almir Sater
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RESUMO
No cotidiano intenso e atribulado em que se vive, tensão e estresse são
companheiros inseparáveis dos indivíduos na modernidade. Esse estilo de vida, que implica
privação do lazer, excesso de responsabilidade, fadiga crônica e sentimento de impotência,
além de todo um conteúdo de preconceito histórico cultural, favorece o desenvolvimento da
ansiedade, em especial na população feminina, mais suscetível a esse quadro. Este estudo teve
como objetivo analisar as contribuições do grupo como dispositivo de intervenção terapêutica
na vida, arte e expressão de mulheres com transtorno de ansiedade, atendidas no CAPS de
MaracanaúCE. Ao mesmo tempo, procurou traçar um perfil dessas pacientes, averiguar a
validade da metodologia vivenciada no grupo, observar a evolução dos mecanismos
terapêuticos e identificar o papel do grupo na vida dessas mulheres, sob a sua ótica. Optouse
pela realização de uma pesquisa de caráter exploratóriodescritivo do tipo pesquisa ação,
aplicada com 15 mulheres acometidas do transtorno de ansiedade, com idade entre 35 e 63
anos, no período de abril a junho de 2006 na sala de grupo terapêutico do CAPS de
MaracanaúCE. A coleta dos dados se verificou por meio de consulta regular aos prontuários
e registros (áudio, fotográfico e gráfico) sistemáticos sobre o funcionamento da dinâmica
grupal e síntese descritiva das sessões. Os aspectos éticos foram norteados pela resolução
196/96, com ênfase nos princípios de beneficência, não maleficência, autonomia e justiça. As
informações foram organizadas e apresentadas através de temáticas e categorias. A discussão
dos resultados foi pautada em literatura pertinente. Identificamos, durante o estudo, a tomada
de consciência do processo de adoecimento, a autopercepção no processo grupal, favorecendo
a emergência de sentimentos positivos em relação a si e ao outro, o despertar de
potencialidades, à medida que evoluía o processo terapêutico, e a construção de vínculos por
meio da realização das atividades e da arte. Ao final da pesquisa, foram evidenciados os
benefícios obtidos no processo grupal, revelando a sua eficácia no tratamento da ansiedade,
pois possibilita que o sujeito tornese ativo no tratamento e reformule novas perspectivas de
vida, sendo a afetividade, a formação de vínculos e a expressão dispositivos potentes nesse
tipo de abordagem.
Palavraschave: mulheres; ansiedade; grupo terapêutico; expressão; arte.
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................... 08
2 OBJETIVOS........................................................................................................... 14
2.1 Objetivo geral................................................................................................... 14
2.2 Objetivos específicos........................................................................................ 14
3 REVISÃO DE LITERATURA.............................................................................. 15
3.1 Saúde mental em mulheres............................................................................... 15
3.1.1 Aspectos sociais da história da mulher ao longo dos tempos................. 17
3.1.2 Trajetória das mulheres no Brasil........................................................... 21
3.1.3 Saúde mental feminina e a permeabilidade cultural............................... 23
3.1.4 Considerações em relação a grupos terapêuticos................................... 28
3.1.5 Contribuições da Terapia Ocupacional através da Atividade 35
Expressiva..............................................................................................
4 METODOLOGIA DA PESQUISA........................................................................ 43
4.1. Tipo de pesquisa.............................................................................................. 43
4.2. Cenário da investigação................................................................................... 43
4.3. Sujeitos da pesquisa......................................................................................... 46
4.4. Período de estudo............................................................................................. 47
4.5. Métodos e procedimentos................................................................................ 47
4.6. Princípios éticos do estudo.............................................................................. 50
4.7. Organização da análise e discussão das informações...................................... 51
5 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS.................................. 52
5.1. Conhecendo as mulheres do estudo................................................................. 52
5.2. Processo terapêutico........................................................................................ 57
5.2.1 Processo de adoecimento........................................................................ 57
5.2.2 Autopercepção no processo grupal......................................................... 65
5.2.3 Contribuição da atividade no processo terapêutico................................ 70
5.2.4 Evolução terapêutica............................................................................... 74
5.2.5 Construindo vínculo e fazendo arte........................................................ 78
5.2.6 Arte e sentimentos.................................................................................. 83
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................. 89
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................... 92
ANEXOS................................................................................................................ 95
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1 INTRODUÇÃO
A ansiedade, na visão de Sonenreich, KerrCorrêa e Estevão (1991), apresentase
como uma resposta emocional determinada pela expectativa de um acontecimento (que pode
ser agradável, desagradável, frustrante, gratificante, entristecedor). A angústia corresponderia
à expressão somatizada de um desejo ou de um impulso.
Um fator preocupante é a procura por cuidados de saúde somente quando os
sintomas da ansiedade já estão instalados. Sem a prática da prevenção ou o cultivo de hábitos
saudáveis, tornase difícil, diante do caos psicosocial, associar os fenômenos sintomáticos ao
estilo de vida precária, resultando, muitas vezes, mesmo sem perceber, na intensificação
desses malefícios. Nessa conjuntura, um aspecto requer atenção: o uso reiterado e
indiscriminado de benzodiazepinicos. Formase, assim, uma tríade muitas vezes repetida,
copiada e causadora de dependência, sendo este último elemento – o benzodiazepinico –
somente um suposto alívio da problemática da ansiedade.
As mulheres apresentam uma suscetibilidade progressiva aos fatores estressantes,
sendo esses condizentes à estrutura descrita anteriormente, onde o excesso de atribuições
dificulta a canalização das tensões e, por fim, ocorre a sublimação das emoções reprimidas
através do uso dos Benzodiazepinicos.
Uma justificativa para o aumento da exposição feminina a esses fatores reside,
como bem observa Oliveira (2000), na responsabilidade que passou a sobrecarregar os seus
ombros, primeiro quando, transcendendo os limites domésticos, a mulher foi liberada para o
convívio social e para o trabalho e, em seguida, quando, sem se desobrigar dos compromissos
já assumidos, foi reintroduzida no lar para que assumisse a educação dos filhos.
Percebemos que os papéis sociais assumidos pelas mulheres, por si são geradores
de tensão, podendo esta ainda agravarse diante das possibilidades ambientais e afetivas,
quando oprimem sua individualidade. Outro aspecto fomentador da ansiedade são os conflitos
psicoemocionais relacionados quando há privação de desejos, em especial nos casos em que
vem associada à privação de comportamentos e valores.
O estudo realizado nessa pesquisa buscou relacionar os fatores estressantes e
desencadeantes da ansiedade, bem como apresentar uma abordagem diferenciada na
intervenção terapêutica desta, para o que utilizou o trabalho de grupo como dispositivo e a
arteexpressão como recurso.
O despertar para esse tema surgiu ao assumir a função de terapeuta ocupacional
no Centro de Atenção Psicossocial – CAPS, de Maracanaú, em maio de 2005. No início de
minha prática neste serviço deparei com uma situação que me causou uma certa inquietação.
10
Havia uma demanda crescente de mulheres usuárias de Diazepan apresentando em seus
prontuários o diagnóstico de transtorno de ansiedade.
Sempre tive o desejo de desenvolver um trabalho no âmbito social, pois acredito
que a prática de saúde mental não seja autosolucionável por si própria, ou seja, sintoma
diagnóstico – cura ou seqüelas. No âmbito de saúde/doença mental, o que constatamos é que a
origem da doença está, muitas vezes, arraigada a questões mais profundas relacionadas ao
ambiente social, cultural, econômico e familiar.
À proporção que ia me relacionando com os pacientes e tomava conhecimento das
causas e do início de suas crises, tornavase evidente, para mim, a necessidade de um estudo
que contribuísse para o alívio dos diversificados sofrimentos. Tratavase de mulheres que
tinham em sua história de vida retalhos de sentimentos e emoções, unidos pela auto
compadecência e sintomatologia, em cujos fragmentos encontrávamos baixa autoestima,
impotência, violência e agressões físicas e morais, perda do referencial de vida, entre outros.
Durante a escuta terapêutica percebi que, habitualmente, ela vem de um lar
desestruturado, repetindo no seu papel de esposa e mãe duas funções de gênero que lhe foram
atribuídas, incluindose aí a submissão e a sujeição, copiando modelos e repassando esse
perfil na cultura e sociedade. É comum, nos diálogos, a referência da mãe também como
vítima de seu pai, assim como elas são de seus esposos e, em alguns casos, como as suas
filhas já o são de seus genros.
Merecem destaque as colocações de Silveira (1996) sobre o inconsciente coletivo,
que, em sua visão, corresponde a uma herança comum que transcende todas as diferenças de
culturas e de atitudes conscientes, não se revestindo tãosomente de conteúdos capazes de se
tornarem conscientes, mas em disposições latentes para reações idênticas. Em Maracanaú, as
representações da submissão, do machismo e do poder transcendem a forma de como a
sociedade e família se relacionam.
As mulheres que buscam o serviço são usuárias de Diazepam há pelo menos cinco
anos, possuem idades que variam entre 35 a 63 anos, grau de escolaridade baixo, muitas não
trabalham fora de casa ou têm um salário baixo e referem suas crises e sintomalogia
associadas ao ambiente social e familiar, outras têm conflitos com o companheiro, com os
filhos; estando o álcool, a droga e a violência intensificando esses conflitos, tendo por
conseqüência o aumento da sintomatologia.
Ao dar início à organização dos grupos terapêuticos, ficou claro que o sofrimento
mental dessas pacientes não era solucionado com a farmacologia, sendo necessário um
complemento e, em muitos casos, uma substituição dos mecanismos tradicionais de
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tratamento. Sob esse aspecto, a abordagem grupal se encaixaria perfeitamente, pois
subsidiaria a necessidade humana não suprida pelo medicamento. O trabalho de grupo
possibilita a reconstrução da identidade, sendo processo facilitador se forem utilizadas
técnicas de arteexpressão, onde a capacidade de transformar objetos subjetiva a
transformação humana.
Tornouse gratificante observar, no grupo, algumas evoluções e tomadas de
consciência das ações empreendidas, por meio das quais buscaram resgatar, no ambiente
interno do grupo externo do seu meio, a autoestima, o equilíbrio emocional. Contudo,
continuava em mim a necessidade de aprofundar conhecimentos nas relações sociais e
familiares deste município.
No exercício de minha profissão, intensificouse em mim a necessidade de ir além
do meu papel de terapeuta, posto que a contribuição para o alívio do sofrimento decorrente
desse mister não se fazia suficiente em virtude de essa ser apenas uma faceta superficial do
problema, sendo necessário investigar e conhecer as relações que vão além das queixas
citadas no serviço. O conhecimento poderia proporcionar o desenvolvimento de abordagens
de intervenção adequadas às necessidades locais, seguindo a cultura e a dinâmica de
relacionamentos e quebra de paradigmas.
Rogers (1977) classifica os clientes em dois grupos: os que precisam de ajuda para
superar dificuldades ou coerências que os tolhem em seu ajustamento e os que não se dão
conta desse processo. Refere ainda que a situação da mulher tornase absurda nas
contingências modernas.
A classificação do autor encontra um respaldo ainda mais expressivo na
contemporaneidade, haja vista que o nível de exigências da vida moderna aumentou
consideravelmente desde que ele proferiu essas palavras e a velocidade das transformações
com as quais as pessoas têm que lidar favorecem o desajustamento e a incapacidade de se
adaptar ao novo cenário social.
Maracanaú, o palco de nosso estudo, é sem dúvida um espaço carente que
necessita da qualificação na saúde mental de seus habitantes. Localizado aproximadamente a
30 km de Fortaleza, tratase de um município com peculiaridades marcantes e decisivas para
seus moradores. É uma cidade que não tem perfil de interior, tampouco de capital, mais se
assemelha a um grande bairro de Fortaleza, fazendo parte da região metropolitana. Por se
tratar de um distrito industrial há um grande fluxo de pessoas que trabalha nas fábricas, porém
o nível de desemprego dos moradores é alto, justificado pela pouca qualificação e baixa
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escolaridade. É o 2º maior PIB (Produto Interno Bruto) do Estado, no entanto, sua população
é muito carente.
O mais preocupante no município é o nível de desestruturação familiar e o alto
índice de violência, marcado por drogas, estupros, ameaças de gangues, assaltos, tentativas de
suicídio e homicídio. O município enfrenta os problemas de subúrbio das grandes metrópoles
do país, sendo as características citadas as que mais estimulam a procura e o ingresso no
CAPS. O sujeito que procura o Centro tanto pode ser vítima como sofrer por ter um caso no
meio familiar. Seja qual for o fator desencadeante, a triagem recebe, em especial, pacientes
com queixas e sintomas de transtorno de ansiedade, sendo geralmente mulheres que sofrem
devido a sua suscetibilidade emocional e aos vínculos afetivos.
Assolados pelas tribulações sociais, muitos dos pacientes que chegam ao CAPS
perderam a motivação e o sentido de suas relações interpessoais, sendo tomados física e
psiquicamente por sintomas de ansiedade e depressão e encaminhados ao setor de terapia
ocupacional para, através das atividades, desenvolverem os potenciais supostamente perdidos.
É importante ressaltar que o CAPS é o único serviço que atende à demanda de
saúde mental. Apesar de ser um serviço especializado, é comum a sua procura nos casos de
ansiedade leve à moderada, em geral associadas às condições de vida estressante do cotidiano.
Diante da superlotação enfrentada, a equipe adotou uma abordagem de atendimento centrada
nos grupos, com o intuito de solucionar não somente o problema do acúmulo de
atendimentos, mas também de criar um espaço diferenciado, com qualidade no serviço, e
possibilitar de acordo com o ambiente “caótico” social e o sofrimento da história de vida dos
pacientes um mecanismo para reverter o quadro sintomático, além de criar uma resposta em
que o suporte, a afetividade e a capacidade de reações sejam impulsionados para uma
evolução.
Os grupos ocorrem semanalmente e são indicados, durante a triagem, para cada
queixa, faixa etária ou afinidade dos pacientes com determinadas atividades. O grupo
feminino, objeto de estudo deste trabalho, mantém seus encontros às terçasfeiras pela manhã,
sendo destinado como cenário para a pesquisa a sala de grupo da Terapia Ocupacional. Trata
se de um grupo homogêneo, composto de 15 mulheres que já iniciaram o processo terapêutico
há um ano.
Para a materialização da pesquisa, foram utilizados os registros de áudio e
fotográficos, os relatórios, além de pesquisa nos prontuários, metodologia que possibilitou a
estruturação de um trabalho conciso e coerente, unificando a teoria à prática. Vale ressaltar
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que prevalece o uso de atividades práxicas e expressivas em todo o trajeto grupal, com
enfoque humanista e comportamental.
As atividades, na opinião de Benetton (1987), têm o poder de ampliar o campo da
consciência e possibilitam o autoconhecimento, bem como o fazerse conhecer. Durante a
atividade, ferramenta de trabalho da Terapia Ocupacional, o sujeito tem possibilidade (no
decorrer de sua execução e finalização) de ter contato e extrair conflitos psíquicos, posicionar
se e elaborarse enquanto sujeito diante da situação.
A Terapia Ocupacional desenvolve e interrelaciona o indivíduo biopsicosocial,
tornandoo ativo no próprio processo de recuperação. Quando a intervenção, através da
atividade, é feita dentro do espaço em grupo, associamos não só os benefícios da atividade,
mas também todo um suporte dinâmico, onde o coletivo desenvolve capacidades
dialeticamente às situações conflitivas; no processo de autoconhecimento mútuo do grupo se
fortalece e amadurece nos aspectos emocionais e sociais.
A atividade possibilita a expressão do ser humano e quando essa é fomentada de
instrumentos propícios para a arte, emerge a essência da criação, que no grupo passa a não
mais ser só do sujeito, mas sim uma elaboração conjunta das imagens, vivências, expressões e
angústias criando espaços para firmarse em sua identidade pessoal e coletiva.
Foi acreditando no potencial do trabalho de grupo e em todos os benefícios que o
mesmo traz para o fortalecimento e recuperação nos casos de transtorno de ansiedade,
reforçados pela atuação da terapia ocupacional e sua abordagem autoexpressiva que realizei
um trabalho de pesquisa no CAPS de Maracanaú, associando a teoria e prática à realidade do
município.
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2 OBJ ETIVOS
2.1 Objetivo geral
Analisar as contribuições do grupo como dispositivo na vida, arte e expressão em
mulheres com transtorno de ansiedade atendidas no CAPS de MaracanaúCE.
2.2 Objetivos específicos:
§ Averiguar a validade e eficácia da metodologia vivenciada e adotada no grupo;
§ Examinar, na perspectiva das mulheres, o papel do grupo em suas vidas.
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3 REVISÃO DE LITERATURA
3.1 Saúde mental em mulheres
Os fatores estressantes aos quais as mulheres se submetiam permanecem mesmo
que essas tenham acompanhado a evolução dos tempos. Se, no passado, a mulher sofria toda
uma sobrecarga emocional devido à discriminação e à anulação de seus desejos e diretos, hoje
a figura feminina sofre pelo acúmulo de papéis que é obrigada a desempenhar: social,
familiar, conjugal e profissional.
Nesse contexto, De Oliveira (2004) observa que por mais que a lei pretenda
excluir qualquer tipo de diferença ou discriminação, ainda não foi – e não está sendo –
possível abstrairse que a mulher possui características peculiares a seu sexo, como a
maternidade, que exige um tempo determinado de sua vida.
As diversas cobranças em relação às posturas, atitudes e atribuições de suas
funções agravamse quando as mulheres entram em conflitos pessoais e se abstêm de sua
essência real, acarretando, conseqüentemente, um sofrimento diante da anulação de sua
identidade, que passa a ser invadida pelo préconceito, por rotulações e obrigações. O
resultado das tensões, conflitos de história de vida e choque cultural provocam a condensação
dessas emoções e a transferência das mesmas, a fim de se instalarem através de sintomas,
sendo comum o desenvolvimento da ansiedade. De acordo com a CID 10 1 , o transtorno da
ansiedade generalizada é freqüentemente relacionado a estresse ambiental crônico.
Uma definição de estresse proposta por McLellan, Bragg e Cacciola (1988)
apresentao como uma ocorrência fisiológica e normal, que surge quando o organismo se
encontra diante de uma situação nova a que precisa se adaptar ou superar. Em suas palavras,
ele seria nada mais do que uma mera resposta do corpo, não específica, a uma solicitação, e
que acompanha todas as atividades humanas, sejam elas físicas, emocionais, intelectuais ou
sociais. Dessa forma, uma situação pode desencadear uma gama de respostas que podem
variar de acordo com a adaptação do sujeito ou desencadear respostas de vivências similares
gerando tensões ou sintomas orgânicos.
1
A Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde, em seu volume I, que
está, atualmente, na décima revisão, traz um capítulo inteiramente dedicado às patologias mentais. Lá, no
capítulo V, pode ser encontrada uma lista completa de todos os Transtornos Mentais e Comportamentais,
contendo as suas descrições clínicas e as normas de estabelecimento de diagnóstico (Fonte: DATASUS, 2004).
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Sem dúvida, em um nível mais profundo, o sofrimento causado pelos sintomas da
ansiedade interfere diretamente no autoconceito, na integridade emocional, ocupacional e
psicossocial, havendo um aumento na autodesvalorização, na medida em que os sintomas se
agravam.
Na concepção de Mari (2002), a ansiedade é vista como um estado de humor
desconfortável, uma apreensão negativa em relação ao futuro ou uma inquietação interna
desagradável.
Fontana (2005), por sua vez, a concebe como uma emoção universal do ser
humano, que surge ante uma situação de perigo. Pode ser normal, anormal ou mórbida. Na
ansiedade patológica, a emoção mostrase muito intensa, desproporcional ao estímulo que lhe
deu origem.
Percebemos que, numa intensidade moderada, a ansiedade é benéfica ou até vital,
pois impulsionanos a respostas, defesas e à autopreservação. Contudo, caso seja acionada
num contexto inadequado, persistente ou desproporcional (com aumento de resposta) ao que a
estimulou, tornase danosa, prejudicial e patológica.
3.1.1 Aspectos sociais da história da mulher ao longo dos tempos
Falar de saúde mental em mulheres nos remete a encontros e desencontros,
avanços e recuos, onde o passado e a atualidade condensamse para registrar o fenômeno de
ser mulher. Para que possamos alcançar uma percepção apurada da essência feminina, sua
história de vida, saúde física e mental ou ausência das mesmas, precisamos ampliar o ângulo
focado e nos arraigarmos nos aspectos cultural, social e político.
Na concepção de De Paula (1994), qualquer interpretação dos papéis do homem e
da mulher na sociedade moderna terá que, necessariamente, se reportar às próprias origens da
humanidade e à forma pelas quais homens e mulheres têm colaborado e competido entre si ao
longo dos séculos.
Observamos que a forma figurativa da imagem feminina no sentido de igualdade
ou inferioridade perante a figura masculina é diretamente flexível ao contexto temporal e
cultural, alterandose de acordo com esses mecanismos históricos.
Durant (1963 apud DE PAULA, 1994, p. 20) relata que “[...] a mulher, nas
comunidades primitivas [...] igualava o homem na estatura, na resistência, na habilidade e na
coragem, não era um ornamento social, um objeto de beleza ou um brinquedo sexual”.
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De Paula (1994) dá notícia de um grupo de mulheres que estudaram medicina em
Frankfurt, mesmo enfrentando conjuntos de regras impostas, conseguindo alcançar destaque.
A situação de subordinação feminina permeia em vários contextos e sua
participação, apesar de valiosa e, em algumas situações, até imprescindível, continua sendo
vetada e controlada pela figura masculina.
O período renascentista mostra um retrocesso na posição da mulher devido à re
introdução da legislação romana, implicando uma redução dos seus direitos civis, bem como o
grandioso domínio masculino em determinadas atividades. As mulheres, contudo,
continuaram trabalhando devido à necessidade de mãodeobra, porém a desvalorização era
nítida em relação à remuneração. (ALVES, 1985).
A Revolução Francesa é um bom exemplo do descaso que atingia a mulher e as
suas atividades ao longo da história. A sua preparação contou com a participação efetiva de
mulheres (pequenas comerciantes, operárias e da classe média), no entanto, o ideário se
restringiu aos homens e inibiu a luta das mulheres ao invés de abrir espaço para a conquista da
cidadania feminina. (MONTEIRO, 1998).
Também a desintegração do feudalismo, pela abertura de novos mercados, o
aumento da produção, a surgimento da classe burguesa, a valorização do trabalho e o
surgimento do capitalismo, abre novos caminhos para a humanidade sem que, no entanto,
tudo isso não conseguiu elevar a mulher conseguisse uma elevação em seu status; ao
contrário, como esclarece De Paula (1994), ela passou a ser ainda mais excluída do mercado
de trabalho.
Soares (1978) associa a decomposição do sistema patriarcal às diferentes etapas
históricas, em especial ao surgimento do capitalismo iniciando os movimentos de
emancipação social. Essa observação nos retrata questionamentos profundos de um paradigma
sóciocultural ainda vigente nos dias atuais.
Merece destaque o entendimento de Goodrich (1990) que destaca a Revolução
Industrial como um evento que está diretamente relacionado com as mudanças na estrutura
familiar. A industrialização, com sua economia capitalista, dividiu a sociedade ocidental em
duas esferas distintas: o lar atribuído à mulher e o trabalho atribuído ao homem. Atribuise a
esse momento histórico e a sua conformação o nascimento do termo que perdura até a
contemporaneidade: “donadecasa”.
A história vai, aos poucos, se moldando à conjuntura de acontecimentos e
transições culturais, cabendo às mulheres um espaço ainda restrito e abafado pelo preconceito,
mas marcado pelas reivindicações que tomam forma de luta. Nesse momento, como ressalta
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Goodrich (1990), a divisão favorece a indagação não só acerca dos papéis sociais, mas
também sobre o gênero e suas atribuições, algo bem mais profundo porque envolve a
subjetividade e o psiquismo.
Nesse cenário de mudanças que se descortina diante dos olhares surpresos da
sociedade mundial, as mulheres, inspiradas pelo lançamento do Manifesto Comunista de
Marx, em Nova York, no ano de 1848, se reuniram e denunciaram a opressão, reivindicando o
direito ao voto, à educação, ao emprego e à cidadania. (DE PAULA, 1994).
Lamentavelmente o trajeto de luta das mulheres transcorre na história com marcos
de sofrimento, fato que se repete no período moderno. A tortura, a desigualdade de forças e
poder registram o seu lado tenebroso, marcado pela castração de sonhos, por violências
psíquicas e físicas, além de homicídios criminosos.
No entanto, elas seguem em frente, a despeito de todo o contexto que envolve a
sua luta. Em 1857, combalidas e oprimidas devido às péssimas condições de trabalho a que se
viam expostas, 129 mulheres tecelãs em Nova York decidiram eleger como bandeira de luta o
aumento de salário e a redução de jornada de trabalho. Esse movimento resultou na primeira
greve conduzida por mulheres e em uma verdadeira chacina às reivindicações. (DE PAULA,
1994).
A atrocidade a qual essas mulheres foram sujeitas tornouse um marco até os dias
atuais, sendo lembrado como um Dia Internacional da Mulher. A partir daí ocorreram vários
avanços no que diz respeito aos direitos legais, trabalhistas e sociais, apesar de ainda existir
um clima de preconceitos em alguns aspectos.
Monteiro (1998) relaciona o século XX como um grande impulso na vida política
das mulheres, onde nos anos de 1893 a 1945, milhares de mulheres adquiriram essa conquista
em vários países.
Assim, a história da mulher vai, aos poucos, tomando uma nova direção, apesar de
o preconceito acompanhar, implicitamente, todo o trajeto desbravador das conquistas. Na luta
por seus direitos e por uma vida mais digna, elas conquistaram a emancipação no século XX,
quando se aboliu a adjetivação limitante do substantivo “poder” (pátrio) e pelo retorno ao
mercado de trabalho, no qual, durante as duas grandes guerras, as mulheres voltaram a
assumir em presença maciça o papel profissional. Vale ressaltar que foi somente após a 2ª
Guerra Mundial que ela se firmou ainda mais em todos os setores da atividade humana
(GOODRICH, 1990).
O movimento feminista dos anos 60 incorpora outras frentes de luta, nas quais,
além de reivindicar a desigualdade no exercício de direitos, questiona também as raízes
21
3.1.2 Trajetória das mulheres no Brasil
No Brasil, as mulheres seguem o modelo de submissão transferido com a
colonização Européia; apesar de muitas terem sido persistentes nos impasses históricos
brasileiros, se mantiveram apenas como coadjuvantes.
Apesar da invisibilidade feminina nos registros históricos oficiais, Monteiro
(1994) dá conta de que há registros de participação de mulheres negras e brancas em rebeliões
e lutas políticas. Nos séculos XVIII e XIX, na luta contra a escravidão e pela liberdade,
registrouse a liderança feminina. Uma outra forma de resistência das mulheres negras foi a
utilização do aborto quando engravidadas pelos senhores de escravos. Mulheres com muita
coragem, paciência e determinação, se engajaram na luta pela independência e liberdade.
A posição de submissão feminina no Brasil modelouse, também, em vários
episódios que acompanharam a evolução dos tempos e a transição de valores, tradições e
cultura. Mesmo aqui, no entanto, é marcante a relação de poder imposta através do
preconceito masculino. Nem bem o país saía do domínio da escravidão, a industrialização
22
chegou ao Brasil, em 1888, fazendo com que mulheres e crianças passassem a integrar o
contingente do operariado brasileiro. A mulher, além de mãe e doméstica, passou a colaborar
com a manutenção da família, não escapando das explorações. (MONTEIRO, 1994).
O início concreto da luta pela igualdade através de manifestações explícitas deuse
a partir de 1907, quando se iniciaram os movimentos de reivindicação dos direitos trabalhistas
e as mulheres engrossaram as fileiras dos reivindicantes. Nesse ano, a partir da greve das
costureiras, generalizouse o movimento pela jornada de oito horas de trabalho.
(MONTEIRO, 1994).
A emancipação política da mulher brasileira teve início na década de 20. Em
1922, foi fundada a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, onde uma das propostas
era a aquisição dos direitos políticos através do voto. Em 1934, por sua vez, na Assembléia
Constituinte, foram assegurados os princípios de igualdade entre sexos, o direito ao voto, a
regulação do trabalho feminino e a equiparação salarial. (ALVES, 1985).
Observase que outro período representativo da história da mulher no Brasil na
visão de Alves (1985), teve início a partir da década de 40, estendendose pelas próximas
décadas, incluindo o período do golpe militar. Ainda que de forma reprimida, as mulheres
representaramse de modo significativo em campanhas nacionais, tais como a da anistia e pela
paz mundial.
Posterior a esse período de repressão militar, as mulheres conseguiram
impulsionarse e se organizaram na retomada política e social, onde vêm progredindo até os
dias atuais. Para Monteiro (1998), duas décadas foram cruciais para essa retomada: a década
de 70, quando houve um novo impulso nos movimentos femininos, reformandose o processo
de reorganização do movimento feminista no Brasil, sendo fundado em 1975 o Movimento
Feminino pela Anistia e, ainda em 1977, aprovada a lei do divórcio; e a década de 80, quando
o tema “violência contra a mulher” foi tratado como questão central do feminismo e surgiram
vários grupos de amparo às vítimas, o movimento pelos direitos constituintes, a reformulação
código civil.
Marques (1990, p. 34) observa que a Constituição brasileira de 1988, no seu Art.
5º inciso I, assegura que “homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos
desta Constituição”. A partir dessa conquista legal a mulher conseguiu embasarse no seu
direito de luta. Em resposta a esse estímulo de extrema importância, nos últimos anos vários
casos de preconceitos foram punidos, conforme a lei 8.081 de 21/09/1990.
Apesar de muitas conquistas, é evidente a exclusão e desvalorização da mulher,
bastante acentuada no cenário ao qual este projeto se destina, indo ao encontro da afirmação
23
de Alves (1985) de que a luta do feminismo no Brasil tem sido também a denúncia da
violência física e da desvalorização manifesta nas mais variadas expressões da nossa cultura.
3.1.3 Saúde mental feminina e a permeabilidade cultural
Silveira (1996 p.74) define como “[...] as possibilidades herdadas para representar imagens
similares. São formas instintivas de imaginar".
O patriarquismo, “[...] uma estrutura sobre as quais se assentam todas as
sociedades contemporâneas. Caracterizase pela autoridade, imposta institucionalmente do
homem sobre mulher e filhos no ambiente familiar" (CASTELLS, 1999, p.), caracterizase
como uma das imagens simbólicas presentes e fortes, sendo, neste ambiente, ainda repetidas
práticas de desrespeito, violência psicológica e social, forçando a mulher a assumir um papel
de vítima, submissa, frágil e psiquicamente sofrida.
Apesar de a instituição família apresentar indícios de crise, vista na dissolução de
lares através do divórcio, do enfraquecimento da dominação e da formação de lares solteiros,
essa estrutura é estereotipada do modelo social em que nos organizamos, principalmente nos
países em desenvolvimento.
Dessa forma, conforme ensina Goodrich (1990), a família não está à parte da
história uma vez que as definições de seus membros e a modificação familiar acontecem a
cada época, conforme as necessidades políticas, econômicas e sociais.
Assim é que o sistema capitalista, durante o século XX, vai ao encontro do
pensamento do autor, abrindose lentamente à presença feminina e, por outro lado, reforçando
classificações de gênero e função social.
Na divisão do trabalho que ocorreu na sociedade ocidental por força da
industrialização e do capitalismo, a mulher foi preparada para suas atribuições domésticas.
Por outro lado, com a evolução da industrialização, começou a acontecer uma carência de
mãodeobra, que favoreceu o seu ingresso no mercado de trabalho, sendo a mesma
prejudicada na remuneração e nos seus direitos.
Observase, de forma implícita, o preconceito arraigado no que diz respeito à
constituição da imagem feminina em desvantagem à força e ao poder masculino, trazendo à
tona a diferença entre os sexos diante da subjetividade do gênero, existindo nesse aspecto todo
um acúmulo herdado ao longo dos tempos.
A divisão e classificação de gênero bastante acentuada nos papéis sociais exigidos
das mulheres tornamse bastante conflitantes frente às oportunidades que emergem no campo
de trabalho, onde as mulheres vêemse divididas nos dois níveis, sendo esse impasse o grande
vilão do estresse.
Bleichmar (1988) define gênero como um conjunto de prescrições e proscrições
para uma determinada conduta, as expectativas acerca de quais os comportamentos
apropriados para uma pessoa que defende uma posição particular de um contexto dado.
25
Consideramos, em relação à pressão que surge diante do impasse do gênero que a
mulher, ao mesmo tempo em que se defronta com o impasse de suas atribuições, confronta o
gênero, criando uma dualidade (dupla identidade). Por um lado, ela ocupa seu espaço com
competência no trabalho. Por outro lado, apresentase em seus deveres domésticos. Esse perfil
é comumente encontrado nos dias atuais, e de acordo com Marques (2000), gera um quadro
de tensão emocional e muitas vezes sintomas físicos e orgânicos, onde cada um de nós, com
base em nossa história de vida, desenvolve um padrão de respostas às tensões, quando a
descarga emocional tornase repetitiva: o estresse.
Diante das situações que agravam o estresse e ansiedade, reforçase a concepção
dos fatores ambientais interferindo nos sintomas.
Segundo relatório da OMS de 2001, as mulheres são mais suscetíveis à ansiedade
do que os homens. Acreditase que esse fato se deve muito ao nível diário de estímulos a que
elas são expostas no cotidiano, o que é corroborado por Oliveira (2000), que afirma que a
inclusão de novos papéis no cotidiano das mulheres implica outras possibilidades de doença e
morte.
Quando a afirmação acima é direcionada à saúde mental, percebemos que o
acúmulo dos estímulos estressantes, como preocupação, nervosismos e irritação, são sinais
freqüentemente encontrados em várias mulheres, não identificando o sinal de alerta em
relação a sua qualidade de vida e à instalação de sintomas negativos.
Notamos que um fator alarmante e proporcional aos episódios de ansiedade é o
uso indevido, bem como a dependência dos benzodiazepínicos, principalmente pela facilidade
com que as pessoas se dispõem a ingerir medicamentos que lhes trarão efeito de tranqüilizante
e bemestar.
Oliveira (2000) observa que as mulheres são convencidas da necessidade de
medicamentos para melhorar sua vida, tornandose alvo do complexo médicohospitalar e de
seus medicamentos, sendo esse um grande desvio para os que trabalham com saúde mental e
buscam formas alternativas de tratamento.
Na concepção de Saraceno (2001) a ansiedade e a insônia são manifestações
sintomáticas de estados gerais de “malestar”, com ou sem problemas psicológicos e
psiquiátricos, que devem ser tratadas segundo uma estratégia terapêutica na qual os
medicamentos têm, às vezes, um papel importante, mas sempre parcial e normalmente
limitado no tempo.
Assim, o medicamento deve ser percebido como meio de intervenção, contudo, na
maioria das vezes ele é enfatizado pelos consumidores como resultado final e único para o
26
tratamento de ansiedade. Muito dessa crença se deve à necessidade de suprir a dor emocional
de forma concreta, encontrando um paliativo para a angústia. Contudo, a inquietação
existencial e comportamental, bem como as frustrações, só serão resolvidas através de uma
atuação do sujeito sobre seus conflitos.
Diante desse cenário, em que ocorrem conflitos existenciais agravados pelo
contexto social e pelas pressões ambientais, que se transferem nos sintomas da ansiedade,
percebemos a interferência do meio em relação à concepção que temos a respeito de nós
mesmos e de nosso papel no mundo, repercutindo no comportamento e na relação que se
estabelece com a família e a sociedade.
Segundo Winnicott (1997), o modo pelo qual organizamos nossas famílias
demonstra na prática o que é a nossa cultura, assim como uma imagem do rosto é suficiente
para retratar o indivíduo.
Nessa perspectiva, observamos que a imagem preconceituosa da mulher segue o
padrão estigmatizado e repetitivo na família e que repercute na sociedade. Desde cedo, a
menina tem um perfil de educação e o menino outro, ambos são preparados para futuramente
representarem papéis sociais.
A identidade, para Castells (1999), é vista como um processo de construção de
significado com base em um atributo cultural, ou ainda como um conjunto de atributos
culturais interrelacionados, que prevalecem sobre outras fontes de significado. Em um
ambiente de pressão e preconceito, para a mulher, a autodefinição está implicitamente
arraigada de significados, subjetivados ainda na infância, quando esta recebe a herança
cultural, desempenhando futuramente seu papel social definido por normas estruturadas
pelas instituições e organizações da sociedade e firmando sua identidade no seu meio. Vale
ressaltar a estereotipia feminina diante dos papéis e funções da mulher, que sofre muito a
influência do poder e da dominação, sendo apresentada desde o início através do papel da
família que segue, em muitos casos, o modelo patriarcal, estrutura sobre a qual se assentam
todas as sociedades contemporâneas e que se caracteriza pela autoridade imposta
institucionalmente, do homem sobre a mulher e filhos. (CASTELLS, 1999).
Esse processo constitui fonte de significado para os próprios atores, por eles
originada, e constituída por meio de um processo de individualidade, contudo sofrendo
influências de instituições dominantes.
Goodrich (1990) compreende a família como uma unidade social que representa os
valores, expectativas, papéis e estereótipos da sociedade. Ela ensina que os papéis genéricos
27
Nesse sentido, Castells (1999) aponta mudanças na estruturação familiar, onde a
dissolução dos lares, o divórcio e o reagrupamento de famílias promove uma crise da família
patriarcal. Contudo, o comportamento e a estrutura de uma população costumam evoluir em
ritmo muito lento, havendo ainda influência do poder e da dominação.
O período de transição na atualidade é repleto de tensões e estresses, pois
emergem dele conceitos arcaicos da cultura, confrontandose com novas formas de pensar e
de se organizar, havendo para a mulher um contentamento por suas conquistas, ao mesmo
tempo em que se descortina a necessidade de se ajustar às mudanças, num ambiente em que
ainda proliferam os preconceitos e a rotulação. Diante desses fatos, é justificável o nível de
ansiedade sob o qual as mulheres vivem, intensificado em alguns casos com a relação de
abuso e violência dos parceiros.
Consoante essa concepção, Castells (1999) declara que os relacionamentos
interpessoais e, conseqüentemente, a personalidade, também são marcados pela dominação e
violência que têm sua origem na cultura e instituições do patriarcalismo.
A Organização Mundial de Saúde (BRASIL, 2002), no relatório mundial sobre
violência e saúde, identifica que os índices de abuso são muito altos entre mulheres cujos
maridos ou apanharam quando crianças ou viram suas mães apanhar. O espancamento da
esposa ocorre com maior freqüência em sociedades onde os homens têm poder econômico e
de decisão no lar e onde os adultos normalmente recorrem à violência para resolver seus
conflitos. Viver em um relacionamento violento afeta o senso de autoestima de uma mulher e
sua capacidade de participar no mundo. Reforçase aqui a subjetividade na construção do
papel social, bem como a influência cultural e preconceituosa da relação de poder e força
versus submissão.
3.1.4 Considerações em relação a grupos terapêuticos
O processo grupal, para Ribeiro (1994), é a vida íntima e inteira de um grupo, algo
que se forma lentamente e se inicia tão logo pessoas se encontrem e se proponham a realizar
algo em comum.
Diante da proposta em comum a que se destina um grupo, o indivíduo se apropria
de sua real identidade, permitindose conhecerse, desvendarse, transformarse.
Para Fernandes (2003), agrupar pessoas é possibilitar o surgimento de forças
transformadoras, já que a existência humana é uma experiência ininterrupta de
29
transformações, ou seja, o sujeito transforma permanentemente o meio que o transforma.
Desde o início de nossa existência, pertencemos a um grupo específico,
representado pela família, e continuamos, durante todo o decorrer da vida, nos organizando ao
redor de grupos, representados pela sociedade.
O modo pelo qual o indivíduo se organiza no seu meio, bem como a maneira como
se percebe na relação com os outros se revela, essencialmente, nas concepções iniciais de
grupo. E Ferrari (1990) acrescenta que todo indivíduo, num grupo, possui a representação de
seus grupos internos familiares e sociais e se relaciona com esse novo grupo a partir das
vivências que já teve. Vale ressaltar que as relações afetivas iniciais, desenvolvidas no
convívio familiar e por meio das quais se absorvem as primeiras concepções de grupo, são
imprescindíveis para as futuras relações vinculares.
O autor (1990) define como grupo interno o conjunto de fatos, imagens, cenas em
interação contínua que nos habitam. São habitantes intrapsíquicos sempre em ação, a novela
familiar com suas tramas centrais e laterais.
PichonRiviére (1988), por sua vez, interpreta vínculo como uma relação particular
estabelecida com o objeto, em que se tem como conseqüência uma conduta que tende a se
repetir automaticamente com o objeto. Através dessa relação vincular as repetições e
representações poderão ser positivas ou negativas, dependendo da maneira pela qual se
instalem inicialmente.
O autor (1988) considera possível estabelecer um vínculo, uma relação de objeto
com um objeto interno e, também, com um externo. Do ponto de vista psicossocial, o que
mais interessa é o vínculo externo enquanto que, do ponto de vista psíquico, o que mais
interessa é o vínculo interno.
A estruturação do vínculo interfere diretamente no comportamento individual e
grupal; esta relação vínculo/comportamento está diretamente relacionada ao modo como nos
percebemos enquanto sujeitos e como nos doamos ou recebemos do outro a afetividade.
Na visão de PichonRiviére (1988), podemos definir o caráter de um sujeito em
termos de vínculo dizendo que seu caráter, ou seja, sua maneira habitual de se comportar,
pode ser compreendido por uma relação de objeto interno, isto é, por um vínculo mais ou
menos estável e permanente que dita as características do modo de ser do sujeito visto de fora,
condicionado por um vínculo interno.
Participar de um grupo terapêutico permite a potencialização de mecanismos
relacionais e objetais que condicionam os comportamentos e permanecem, muitas vezes,
latentes em nível psíquicoemocional.
30
O grupo, na visão de Ribeiro (1994), oferece uma reação de espelho múltipla, onde
cada um pode verse espelhado no outro de uma maneira ora sistemática, ora caótica, mas
sempre persistente.
É nessa troca de olhares, encontros e desencontros, afinidades e transferências, que
o sujeito pode verse de forma real, perceberse na estruturação afetiva e transformarse,
diante de experiências frustradas dentro de seu meio.
O grupo aciona sua função de acolhimento quando percebe que alguém, à busca de
sua luz última, vai mostrando corajosamente seu lado escuro (RIBEIRO, 1994).
Fernandes (2003), por sua vez, identifica o campo grupal como uma “galeria de
espelhos”, resultante de um intenso e recíproco jogo de identificações projetivas e introjetivas.
Para o autor, essa função de reconhecimento através do jogo de espelhamento permite que
cada um reconheça aquilo que está esquecido ou oculto em si, reconheça o outro como uma
pessoa separada dele e seja reconhecido pelo outro.
O processo grupal permite essa flexibilidade nas relações, possibilitando, sob as
mais diferentes formas, uma necessidade de ir reconhecendo os outros e vir a se reconhecer.
Osório (1986), baseado nos trabalhos de Lacan e Winnicott, “O estágio do
espelho”, e segundo a teoria de Foulkes, relaciona o grupo a uma sala de espelhos, onde o
indivíduo entra em confronto com sua imagem social, psicológica e corporal, obtendo uma
imagem pessoal de si próprio, tornando possível descobrir sua identidade real e ligála às
identidades passadas.
No encontro com a essência real da personalidade, o indivíduo confronta ainda
sentimentos distorcidos, estremecidos e adoecidos, que contribuíram, por fim, no que ele
acredita ser parte de sua personalidade e no que ele realmente se tornou no decorrer de sua
existência. Entra nessa questão a própria concepção de certo e errado, de feio e bonito, do são
e do doente e de como isso se retrata no meio.
Os vínculos e redes de comunicação perturbados pela doença, para PichonRiviére
(1988), estão relacionados mais com os objetos internos do que com os externos e permitem
visualizar que a imagem interna que o paciente tem de seu grupo familiar está distorcida,
provocando ainda desajuste entre as outras imagens.
Percebese, no processo de adoecimento psíquico, relações intrínsecas com as
concepções vinculares e afetivas desde o primeiro grupo até a extensão dos demais grupos
sociais, sendo o trabalho em grupo uma eficaz ferramenta no processo de autotransformação.
A doença, tal como se manifesta fenomenologicamente, é uma tentativa de
elaboração do sofrimento provocado pela intensidade dos medos básicos. Como tentativa,
31
estabelecerem um vínculo. Ao mesmo tempo, comunicarse, para o autor, não é simplesmente
algo que se faz a alguém, mas um processo que está continuamente em andamento, dentro de
cada um de nós. Se, no conceito de vínculo, obrigatoriamente ocorre experiência emocional,
podemos dizer que, no vínculo, as partes envolvidas estão sempre em comunicação.
No grupo, os vínculos, as afinidades, as comunicações e a interação conjunta
favorecem, de forma terapêutica, a reformulação de novas perspectivas e atitudes diante do
ambiente grupal, estendendose além deste à medida que o processo terapêutico evolui.
Um grupo terapêutico, na visão de Ferrari (1990), é todo aquele que se oferece
como depositário daquilo que o inconsciente puxa para transferir. A transferência aqui
referenciada, para Fernandes (2003), consiste no processo por meio do qual os conteúdos
inconscientes são atualizados sobre objetos da realidade presente. Merece destaque o fato de
que esse conceito de transferência é utilizado tecnicamente para se compreender os distintos
vínculos que se geram num grupo terapêutico (FERRARI, 1990).
Na transferência, durante o processo grupal, um afeto é deslocado de uma
representação para outra. Esse deslocamento permite que os sentimentos, os desejos e as
fantasias reprimidas ou recalcadas venham à tona. (FERNANDES, 2003).
A projeção que ocorre na transferência, para Ribeiro (1994) exerce um papel
fundamental no processo, na medida em que é mais fácil ver nos outros algo que em nós é
proibitivo, tornandose, também, mais fácil, detectar os verdadeiros conflitos.
Rogers (1977) defende que tomar consciência ou reconhecer outros modos
possíveis de consciência são eventos muito relacionados com uma maior amplitude de
autopercepção. Assim, identificamos, no processo de assimilação, identificação e
transparência ocorridos no grupo uma maneira potencial de percebernos enquanto pessoa,
utilizandonos de outros modos.
O campo grupal, para Fernandes (2003), propicia uma série de fenômenos de
funcionamento que são úteis no trabalho terapêutico. A utilização desses aspectos no
tratamento é o que caracteriza as diferenças entre o atendimento individual e grupal.
O esquema referencial, desenvolvido a partir do processo grupal, é o conjunto de
conhecimentos, de atitudes que cada um de nós tem em sua mente e com o qual trabalha na
relação com o mundo e consigo mesmo. (PICHONRIVIÉRE, 1988). O conhecimento e
aprendizado de um grupo transcendem a idéia individual e expandemse ao conjunto,
possibilitando múltiplas versões diante de uma situação ou realidade. Diante dessa
perspectiva, o indivíduo não toma para si sua verdade e cresce diante da apropriação de outras
possibilidades.
34
Dessa forma, o grupo, para Ribeiro (1994), é um dado, uma realidade em si. Todo
acontecimento pode ser visto como algo individual, ou como um produto da realidade maior.
As conexões entre o que é do indivíduo e o que é do grupo são simbólicas e complexas.
O autor (1994) ensina, ainda, que no processo do grupo a coisa, enquanto
percebida por mim, será analisada a partir de uma dada experiência e a coisa em si, quando
vista pelo grupo como unidade, terá mais chance de ter suas probabilidades compreendidas
num desvendarse da realidade.
De acordo com Rogers (1977), se adotarmos a perspectiva de que o ser humano
tende ao seu crescimento pleno e o busca, a matéria básica da terapia deixa de ser identificada
aos recursos do terapeuta e passa a constituir–se na tendência e na potencialidade humana.
Por ser o grupo um dado, um fenômeno, a sua leitura exige um tipo de
aproximação que lhe permita ser e fluir em um constante processo de conscientização. E o
entrar conscientemente nas possibilidades da própria fraqueza conduz o indivíduo e o grupo a
repensar continuamente o seu próprio caminho de dor, de abandono, e a procurar soluções
mais aceitáveis. (RIBEIRO, 1994).
No contexto terapêutico, Rogers (1977) observa que o processo de mudanças na
percepção é contínuo no desenvolvimento humano, mas referese com freqüência a idéias ou
sentimentos que o indivíduo reluta em admitir.
Dessa forma, enquanto corpo único, o grupo mergulha terapeuticamente na dor do
outro, na procura do outro, sem defesa. Não precisando defenderse, o grupo se torna mais
livre para se ver, para mudar. Quando se percebe, como expectador, o caminho do outro, é
mais fácil, também, descobrir o próprio. (RIBEIRO, 1994).
Assim é que Rogers (1977) interpreta a abordagem através de grupos como não
somente um caminho mais acessível a um maior número de pessoas, como também um campo
para novas possibilidades terapêuticas. Essa abordagem oferece uma oportunidade sem par
para que o indivíduo se perceba como essencial, como único e, nessa dupla percepção,
encontre seu verdadeiro significado. (RIBEIRO, 1994).
Um grupo, para PichonRiviére (1988), obtém uma adaptação ativa à realidade
quando adquire insight, quando se torna consciente de certos aspectos de sua estrutura e
dinâmica, quando torna adequado seu nível de aspiração e seu status real, determinante de
suas possibilidades.
Ribeiro (1994), por sua vez, observa que o processo de cura não é necessariamente
um processo consciente; o darse conta de que se está curado, às vezes, só ocorre após a
terapia e depende das resistências humanas.
35
3.1.5 Contribuições da Terapia Ocupacional através da Atividade Expressiva
De Pádua (2003) esclarece que para a constituição do sujeito de direitos e sujeito
coletivo, tornase necessária, primeiro, a constituição do sujeito, isto é, daquele que deseja e
sonha, pensa e faz, se expressa e cria, confia e tem prazer na sua capacidade de criação,
expressão e produção. E à Terapia Ocupacional compete intermediar o processo de criação do
indivíduo enquanto sujeito, a partir do momento em que esse, através da ação e atividade,
projetase a nível simbólico e subjetivo e reconstróise, descobrese e modificase.
Essa perspectiva de Carvalho (2003) preconiza que o atendimento terapêutico
ocupacional permite a construção de um novo cotidiano, superando limites através das
oportunidades que lhe são oferecidas e clarifica a real importância da pessoa enquanto sujeito
na sua complexidade. O profissional de Terapia Ocupacional é responsável pela promoção da
saúde, facilitador do desenvolvimento funcional e ocupacional e responsável pelo incentivo à
melhoria na qualidade de vida das pessoas que estão sob os seus cuidados, através das
atividades de vida diária, prática, de lazer e de trabalho.
Araújo (1995) interpreta que a atividade através do fazer livre e criativo propicia
ao homem reencontrar e exercer sua capacidade de reflexão e crítica, buscando mudanças em
seu posicionamento diante da vida, e, conseqüentemente, desenvolve a saúde ao homem.
Na opinião de Brito (2003), a Terapia Ocupacional, nesse paradigma, trabalha com
o interesse do indivíduo e não como o encaminhamento do médico; o tratamento é centrado
no sujeito.A atividade não é o único recurso, mas, quanto utilizada, privilegia a construção de
um objeto pelo sujeito, valorizando o processo vivido.A atividade na Terapia Ocupacional
pode ser indicada para uma necessidades coletivas em um grupo terapêutico, encaixandose
de acordo com a indicação do uso aos objetivos terapêuticos que lhe são conferidos.
De Pádua (2003) esclarece que desde seu nascimento o homem participa de
diferentes grupos. Os homens nascem, crescem, desenvolvemse e morrem, inserindose em
diferentes grupos sociais. Buscam dialeticamente estabelecer uma identidade individual, mas
também uma identidade grupal.
Ainda para o mesmo autor, a Terapia Ocupacional é um grupo de atividade que
pode ser definido como aquele em que os participantes se reúnem na presença do Terapeuta
Ocupacional, para vivenciar experiências relacionadas ao fazer. Também podemos considerar
que o objetivo de um grupo de atividades em Terapia Ocupacional é o tratamento e tudo o que
ele implica.
Devido à intenção do indivíduo no grupo e de esse ter uma conotação ampla do
ambiente interferindo de maneira macro no comportamento individual, cabe ao Terapeuta
Ocupacional aproveitar esse ambiente e intervir terapeuticamente.
38
particularmente os padrões da ansiedade e os pensamentos depressivos ou obsessivos, para
melhorar a afetividade e o comportamento.
Segundo Briggs (1987), a teoria da aprendizagem repousa sobre a suposição de
que a principal referência para o estudo do homem é o comportamento. Neste aspecto, o
teórico comportamental se assemelha ao Terapeuta Ocupacional quando advoga que embora
possam ocorrer mudanças no interior de seu cliente, o melhor ponto de referência ou
indicador de tais mudanças é o próprio comportamento.
É ainda Hagedorn (1999) que expressa que a perspectiva psicodinâmica é única
em lidar com as motivações inconscientes para as ações, interações e crenças, e/ou com o
conteúdo simbólico de imagens e percepções.
Através da visão psicodinâmica, o terapeuta ocupacional utilizase dos recursos
materiais oferecidos ao paciente no desenvolver de uma atividade para aflorar e intervir nos
conteúdos internos apresentados.
Para Fernandes (2003) a expressão é inicialmente vista como a ação de exprimir,
ou seja, de compor um dado autal que corresponda analogamente a um dado ausente ou
escondido. Vale ressaltar a posição de Oliveira (1995) que afirma que as atividades auto
expressivas permitem ao paciente viver um processo que possibilitará dar forma às desordens
internas vividas, pois na medida em que as “imagens do inconsciente” vão sendo projetadas
nos desenhos e nas pinturas, tornamse possíveis de serem compreendidas e elaboradas.
Vaz (1993) observa que a expressão visual não constitui, portanto, senão um
acesso muito imperfeito à consciência, encontrase mais próxima dos processos inconscientes
que o pensamento verbal e é dúvida, mais antiga do que este, tanto ontogenética quanto
filogeneticamente.
Por outro lado, a ação tornase mais reveladora do inconsciente do que a palavra,
ganhando a atividade toda uma dimensão de expressividade e simbolismo. Expressarse
plasticamente, dar forma ou criar são a essência da Terapia Ocupacional, não um meio, mas o
próprio tratamento.
Oliveira (1995) menciona que se ocupando com atividades, o indivíduo explora a
natureza de seus interesses, necessidades, capacidades e limitações; desenvolve funções
perceptivas, motoras e cognitivas; desenvolve ou recupera uma série de atitudes sociais e
interpessoais.
A expressão, para Fernandes (2003), é preciso ser utilizada, visto que é entendida
como a manifestação exterior do pensamento e dos estados psíquicos; ela é, assim, uma
conduta de comunicação nascida das necessidades da vida social.
40
Oliveira (1995) reforça a diferenciação da atividade livre não coordenada para a
atividade ou trabalho em Terapia Ocupacional. Segundo a autora, para que esses possam ser
conceituados como terapia ocupacional é necessário que a atividade humana seja entendida
enquanto espaço para criar e que seja repleto de simbolismo.
Dessa forma, o produto final da ação tem importância secundária e o objetivo
primordial está na psicodinâmica da ação e do sujeito que a realiza. O que se torna
significante é a interrelação que o indivíduo estabelece através da atividade com o meio e o
terapeuta.
Fernandes (2003) refere que arte terapia utilizase do profissional e da arte para
criar um processo artístico, e o paciente responde criando produções de arte, como reflexo do
desenvolvimento de suas habilidades, de sua personalidade, de seus interesses, de suas
preocupações e de seus conflitos individuais.
Vaz (1993) associa a expressão espontânea com o núcleo da Terapia Ocupacional
e, através dela, a Terapia ocupacional se distingue das demais áreas de tratamento e
abordagem do ser humano. Considerando o processo criador, revelado sob esse prisma como
a expressão livre e espontânea.
Sendo o processo criativo permitido ao sujeito durante o atendimento terapêutico
ocupacional, a ação de resposta está repleta de simbolismo e autoafirmação.
Segundo Lowen (1984) a autoexpressão, a criatividade e o prazer encontramse
intimamente relacionados. Toda forma de autoexpressão possui elementos criativos,
acarretando prazer e satisfação.
De acordo com Kneller (1997) a criatividade é um meio de reduzir tensão. Apesar
de, em parte, ser uma possível redutora de impulsos, é também procurada como um fim em si
mesmo.
Para o autor (1997), a pessoa busca não apenas o repouso, mas também a
atividade, não só evita a tensão, mas também a corteja. Admitese que o novo e o estranho
podem ameaçar a pessoa, é preciso admitir também que possam integrála.
Lowen (1984) observa que ao expressar sua individualidade no ato criativo, sente
se prazer pela atividade e uma sensação de satisfação em sua respectiva realização. Há uma
satisfação especial durante a realização, além de que a arteterapia, na visão de Fernandes
(2003), também pode propiciar insights e resolução dos conflitos, assim com a terapia verbal.
De acordo com Oliveira (1995), todo indivíduo tem uma capacidade latente de
projetar seus conflitos internos sob a forma visual. Isto ocorre mesmo em doentes que têm
bloqueadas outras formas de expressão.
41
Fernandes (2003) ressalta que a arte tem uma função simbólica. Ela permite ao
homem expressar e, ao mesmo tempo, perceber os significados atribuídos à sua vida, em sua
eterna busca de um tênue equilíbrio com o meio circundante.
Para Vaz (1993), o conceito de criação é crucial para o terapeuta ocupacional e
revela com exatidão a sua maneira de pensar a Terapia Ocupacional. O profissional mergulha
juntamente com o paciente na descoberta do potencial criativo encontrando, juntos, uma área
nova e desconhecida; estando diante do novo paciente, é encorajado a enfrentar o
desconhecido, a ansiedade e o medo.
Lowen (1984) refere a autoexpressão como a manifestação explicita da
individualidade: corresponde à autoconsciência e à autopercepção, que representam os mais
íntimos aspectos psíquicos da existência individual. A autoexpressão em nível consciente é a
função do ego e do corpo. Diferente, portanto, das formas inconscientes de autoexpressão,
que são manifestações do seu corporal.
Oliveira (1995) complementa a visão de catarse interna representada pelos
aspectos psíquicos quando menciona que na atividade plástica não é fundamental a questão da
beleza no processo de produção, mas sim a ordenação do caos interior que a execução da
atividade favorece. Acolher a autoexpressão do paciente significa, pois, acolher seu próprio
ego.
A criatividade, portanto, é autorealização, movida pela premência do indivíduo
em realizarse. Criatividade é a tendência para exprimir e ativar todas as capacidades do
organismo, reforçando o eu. (ROGERS apud KNELLER, 1997).
Kneller (1997) explica que para realizarse como pessoa criadora, o indivíduo deve
abrirse ao mundo. Deve defrontar com as coisas na plenitude de seu ser. Deve permitir que a
vida lhe fale diretamente.
Existe uma dualidade no prazer interno do eu e na valorização expressiva
demonstrada pela livre atuação de ação artística e corporal onde eu sou percebido pelo outro e
me percebo enquanto sujeito; sendo essa conexão um potente meio de intervenção da Terapia
Ocupacional.
Lowen (1984) enfatiza que a aquisição de conhecimento e habilidades é uma
importante função do ego, além de relevante fonte de satisfação egótica. O “eu” quer saber e
ser capaz de fazer. Todo projeto que empreendemos e cumprimos preenche essas duas
satisfações: uma no âmbito físico, através do prazer das atividades; outra, a nível do ego,
através da consciência da realização.
42
De acordo com Oliveira (op.cit), a Terapia Ocupacional tem na atividade
expressiva a função terapêutica de possibilitar a exploração, a gratificação e a integração das
necessidades emocionais básicas.
A ocorrência de vivenciar novas chances de gratificação relativas a fases de
desenvolvimento expressivo e emocional favorece a integração das diferentes funções
psíquicas.
Vaz (1993) ensina que o processo de criação na Terapia Ocupacional não
difere do processo de criação em qualquer outra das múltiplas atividades humanas, o que se
distingue é a conotação terapêutica e a busca na compreensão da história intrapsíquica que é
destinada.
43
4 METODOLOGIA DA PESQUISA
4.1 Tipo de pesquisa
A escolha da pesquisa que melhor se adequasse ao desenvolvimento dos objetivos
propostos recaiu em um estudo exploratório descritivo, do tipo pesquisa ação, com uma
abordagem selecionada de natureza qualitativa, em harmonia com a proposta do desenho da
pesquisa. Vale ressaltar que, para Gil (2002), a pesquisa ação deve ocorrer no mesmo espaço
terapêutico onde existe o envolvimento ativo do pesquisador e a ação por parte das pessoas
envolvidas ou grupo envolvido no problema. A pesquisa ação pode ser definida como:
Um tipo de pesquisa com base empírica que é concebida e realizada em
estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema
coletivo e na qual os pesquisadores e participantes representativos da
situação ou problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo
(THIOLLENT,1985 apud GIL, p. 55, 2002).
Nossa pesquisa foi desenvolvida e balizada pela intervenção de um grupo
terapêutico, que vem sendo desenvolvido pela pesquisadora desde jun./2005, utilizando o
modelo comportamental e humanista centrado no sujeito.
A opção pela pesquisa ação mostrouse adequada, pois a pesquisadora intenta
ajudar suas clientes na solução de seus conflitos. Estes são expressos no grupo coordenado
por ela, cujo título é Grupo Despertar, sendo identificado no serviço como grupo de produção
expressiva.
4.2 Cenário da investigação
O município de Maracanaú tem uma população em torno de 179.732 habitantes
(dados do Censo 2000 IBGE), existindo apenas um CAPS para atender a toda a demanda,
sendo este também a única via de acesso á atenção em saúde mental. Lamentavelmente ainda
não existem programas na comunidade e atenção primária que englobem e se envolvam com
esse problema.
De acordo com o relatório da ONU e OPAS de 2001 o modelo de atenção em
saúde mental mudou da institucionalização para um enfoque baseado na atenção na
comunidade, utilizando técnicas de tratamento eficientes. No entanto o cenário da saúde
mental é bem diferente, o CAPS abrange toda a demanda para seu perfil além de cobrir a
44
clientela reprimida pelo programa de saúde da família, destacandose neste grupo um grande
número de mulheres com transtorno de ansiedade de leve a moderado, sendo estas as
principais atrizes sociais da pesquisa.
Vale ressaltar que ainda há constantes equívocos na compreensão de transtornos
mentais e comportamentais de sofrimento psíquico, o que se deve, em grande parte, ao clima
de tensão de que essas mulheres são vítimas, à falta de respeito com que são tratadas em seu
próprio ambiente familiar e às preocupações sociais e econômicas cotidianas. Não recebendo
suporte adequado nas angústias primárias, estas evoluem para sintomas clínicos. Nesse nível,
geralmente, essas pacientes são apenas rotuladas com o indicativo F. 40 (CID 10) e
medicadas: o enfoque é dado ao lado clinico sendo as questões afetivas apenas relegadas a
segundo plano.
A prática farmacológica regressa retro citada levou ao hábito repetitivo no uso de
ansiolíticos, estando aí implícita uma dependência farmacológica; criandose um ciclo
circunstancial onde os conflitos psíquicos eram associados ao medicamento e este, por sua
vez, sugestionado ao autocontrole. Após a estruturação do CAPS em maio de 2005 passouse
a cogitar outras formas de intervenção, até então não aplicadas, em busca de oferecer
terapeuticamente alternativas de atendimento e abolir gradativamente os benzodiazepínicos,
visto que, em muitos casos, estes eram irrelevantes para as necessidades reais dos usuários,
pois freqüentemente o foco do problema está no comportamento gerado pelo ambiente a que
estes se encontram expostos. Passouse então a dar preferência ao atendimento nos transtornos
de ansiedade em grupos terapêutico e, paralelamente, a monitorar a medicação, objetivando a
alta farmacológica.
Existem grupos de acordo com o nível de comprometimento e o grau do estado
emocional e psíquico, sendo demonstrado pela equipe uma preocupação que ultrapassa o foco
do paciente, existindo grupos que buscam o atendimento e a orientação familiar, diminuindo o
peso da culpa demonstrado por alguns pacientes em relação à família.
Alguns grupos são fixos, outros são constituídos com alguma finalidade, a
seqüência não é necessariamente composta pelos mesmos pacientes, mesmo havendo uma
periodicidade destes, e encontramos ai o grupo de acolhimento e retorno médico. Em relação
aos grupos fixos, totalizam 13 e são divididos da seguinte forma:
Grupo Horta: realizado pela Terapeuta Ocupacional. Grupo homogêneo,
masculino, com transtornos mistos Trabalhase de modo terapêutico os elementos da natureza.
45
exceção das urgências, orienta e organiza os usuários para o atendimento (triagem, grupo de
retorno médico, consultas, atendimento individual, psicoterapia e atendimento grupal); num
segundo momento é feito o grupo de acolhimento (alongamento, reflexões e temas abertos
associados ao serviço ou às questões das queixas ou necessidades psicossociais);
posteriormente, os clientes são encaminhados aos atendimentos individual ou grupal a que se
destinam.
É importante destacar o entendimento de Ferrari (1990), de que um grupo
terapêutico tem o objetivo de descobrir e transformar condutas inadequadas psicóticas e ou
neuróticas de seus integrantespacientes, posto que, nos atendimentos diários deste serviço, se
percebe claramente a tendência da equipe ao atendimento grupal, acreditando ser este uma
ferramenta essencial para a evolução terapêutica, existindo cerca de trinta grupos distribuídos
de formas variadas e distintas (homogêneos e heterogêneos, abertos, fechados, educativos, de
apoio, terapêuticos, operativos, expressivos, produtivos, entre outros).
4.3 Sujeitos da pesquisa
O objeto de estudo escolhido para este projeto foi um grupo terapêutico cujo local
de encontro é a sala de terapia ocupacional. Sendo este grupo caracterizado como de longa
duração (cerca de 10 meses), fechado e constituído por um número fixo de pacientes, quinze
mulheres, ao longo do processo não foi permitida a admissão de novos pacientes. Neste
grupo temos o objetivo de resgatar a autoestima bem como a autonomia afetiva e pessoal;
diminuir e superar progressivamente a necessidade do ansiolítico; detectar o conflito e ter a
capacidade de confrontálo, além de transformar o foco principal e causador da ansiedade.
Participaram da pesquisa quinze pacientes do sexo feminino com idades entre
trinta e cinco a sessenta e três anos, sendo a maioria casada e com baixo grau de instrução (1º
grau incompleto), apresentando histórias de tratamentos ambulatoriais anteriores e uso de
medicação ansiolítica ou antidepressiva. O grupo é predominantemente homogêneo, com
queixas freqüentes envolvendo ansiedade, depressão, dificuldades de relacionamento e/ou de
produção, prevalecendo transtornos de ansiedade típicos como nervosismo, agitação, fobias,
desinteresse e apatias.
Foi utilizado o critério de inclusão e exclusão a partir do desejo das integrantes de
participar ou não da pesquisa, respeitando sua decisão, uma vez que as queixas são
relativamente similares e condizentes com o objeto de estudo (o grupo como dispositivo no
47
transtorno de ansiedade feminino). Um critério de exclusão poderia ser a não aceitação,
dificuldade na compreensão, fala e expressão dos questionamentos do projeto.
Os encontros ocorrem semanalmente (às terçasfeiras), sendo realizados por duas
horas. O grupo foi constituído e é coordenado pela psicóloga e terapeuta ocupacional, ou seja,
a pesquisadora é a terapeuta ocupacional. O setting terapêutico é composto por um espaço
arejado e iluminado, havendo nele mesa, cadeiras, armários, material de ateliê e atividade
expressiva e som, favorecendo a práxis da atividade a ser proposta além de um espaço
reservado para as vivências corporais.
4.4 Período do estudo
O despertar para a pesquisa surgiu em jan./2006, seis meses após o início da
terapia grupal, quando foi cogitada para o grupo a possibilidade de iniciar um estudo para a
melhor compreensão do processo grupal, bem como as evoluções obtidas no decorrer deste.
Até abril houve um período de amadurecimento da idéia e coleta de material teórico. A coleta
de dados deuse em maio e jun./2006, havendo, nos meses de julho e agosto, a conclusão do
estudo.
4.5 Métodos e procedimentos
relatos.
Tevese como objetivo, na execução dessa pesquisa, contribuir com a qualidade
de vida dos pacientes bem com mudar o foco saúde/doença, visto que na concepção anterior e
ainda presente há uma relação da doença apenas associada à ausência da saúde, ou seja, muito
centrada nos medicamentos. Com essa pesquisa pretendeuse desenvolver meios consolidados
no serviço, através de intervenções alternativas ao tratamento farmacológico e validar a
eficiência dessa abordagem realizada através da dinâmica grupal desses pacientes.
Mostrouse necessário elaborar procedimentos e estratégias norteadoras à
pesquisa, sendo importante e fundamental, para seu início e desenvolvimento, uma discussão
coletiva, onde se pretendeu investigar o senso crítico das pacientes em relação ao processo
evolutivo do grupo a fim de aguçar o interesse na compreensão do que realmente acontece no
grupo e o que possibilita seu progresso; associando a isso o desejo da pesquisadora de estudar
o assunto questionado no grupo. Para isso, foi necessária uma consulta às integrantes do
grupo em relação à viabilidade do estudo.
O próximo passo foi o planejamento das sessões, tendo em vista a coleta de dados.
Esse momento mostrouse adequado para a orientação das pacientes em relação ao sigilo, com
a liberdade de escolha na decisão de participar da pesquisa e a assinatura do termo de
consentimento (em anexo). Sendo assim, para efetivar o processo de coleta e a dinâmica
grupal, foi sugerido um cronograma de sessões, totalizando em 6, tendo início no dia 11/04 e
fim no dia 30/05, sendo organizado da seguinte forma:
SESSÃO UM:
Data:11/04/06
Objetivo: Avaliação do grupo em relação a sua vida, o processo sintomático e
fatores desencadeantes que levaram ao ingresso no CAPS e grupo terapêutico.
Técnica utilizada: Avaliação de grupo focal, sendo registrada em áudio.
Forma de avaliação da sessão: Feita pelo grupo durante o discurso.
SESSÃO DOIS:
Data:18/04/06
Objetivo: Avaliação do grupo através das atividades e vivências, como se dá o
49
processo grupal, como é definido o papel de seus componentes, através de sua percepção em
si e seu reflexo no outro e como eles se organizam na dinâmica.
Técnica utilizada: conforme sessão um.
Forma de avaliação da sessão: Conforme item sessão um.
SESSÃO TRÊS:
Data: 25/04/06.
Objetivo: Avaliação do grupo em relação às suas contribuições terapêuticas e que
influências exerce no seu cotidiano.
Técnica utilizada: conforme sessão um
Forma de avaliação da sessão: Conforme item um.
SESSÃO QUATRO:
Data: 02/05/06
Objetivo: Estimular o potencial criativo e a tomada de consciência do mesmo.
Técnica utilizada: Atividade de relaxamento seguida de arte terapia.
Forma de avaliação da sessão: Feita pelo grupo no final da sessão, notas de diário
de campo.
SESSÃO CINCO:
Data: 16/05/06
Objetivo: Favorecer catarse emocional e identificar os sentimentos presentes,
como esses contribuem e dificultam sua vida e como reagir
Técnica utilizada: conforme sessão quatro.
Forma de avaliação da sessão: conforme sessão quatro.
SESSÃO SEIS:
Data: 30/05/06
Objetivo: Formar consciência e percepção do outro no contato grupal.
Técnica utilizada: relaxamento seguido de trabalho de consciência corporal,
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pintura coletiva do grupo, seguida de discussão.
Forma de avaliação da sessão: conforme sessão quatro.
4.6 Princípios éticos do estudo
A pesquisa foi desenvolvida tendo como pilares a resolução de nº 196/96, do
Conselho Nacional de Saúde. Embora não tenha sido apreciada por um comitê de ética,
seguimos as recomendações prescritas na resolução.
Delineouse como uma pesquisaação que, segundo Gil (2002), ocorre no mesmo
espaço terapêutico onde existe o envolvimento ativo do pesquisador e a ação por parte das
pessoas envolvidas ou grupo envolvido no problema.
Nesse contexto, a pesquisadora já mantinha relação estreita com os sujeitos do
estudo. A coordenação, por mais de dois anos, do grupo terapêutico, propiciou essa relação
entre mulheres/pesquisadora.
A intenção do estudo descarta a possibilidade de riscos ou danos para o grupo em
questão, com o seguinte objetivo geral: analisar as contribuições do grupo como dispositivo
na vida, arte e expressão em mulheres com transtorno de ansiedade atendidas no CAPS de
Maracanaú, A intenção foi tãosomente compreender como o grupo, enquanto dispositivo
terapêutico, vem contribuindo na vida das mulheres.
Podemos destacar alguns benefícios: otimização do grupo como um dispositivo
terapêutico, reorganização e estruturação de elementos operativos no grupo, melhor
entendimento por parte dos profissionais dos processos de adoecimento inerente a mulheres
com aquelas características e como conseqüência, aprimoramento do processo terapêutico
desenvolvido no grupo.
Vale ressaltar que conduzimos a pesquisa garantindo a autonomia dos
envolvidos. Não descartamos a possibilidade de rejeição, de alguém não aceitar participar do
estudo. Mesmo estas sendo parte integrante do grupo terapêutico, foram informadas e
esclarecidas sobre a inclusão do estudo naquele grupo, podendo assim optar pot participar ou
não das sessões que integrariam a pesquisaação. O termo de consentimento livre esclarecido
foi aplicado, e interpretado como um documento desnecessário. Todas aceitaram contribuir
com o estudo, alegando terem adquirido vários benéficos com a criação e desenvolvimento do
grupo. Ao aceitarem participar, também justificaram ser importante sua manutenção e
aprimoramento, pois seus benefícios são visíveis em suas vidas.
51
Quanto ao anonimato, o grupo foi unânime em desconsiderar esta situação, todas
queriam mostrar seus rostos, desejavam demonstrar sua participação no grupo. As fotos
apresentadas no estudo tiveram a permissão das integrantes do grupo.
4.7 Organização da análise e discussão das informações
O registro do grupo foi realizado através da gravação em áudio nas sessões
consideradas importantes para a coleta (avaliação do processo grupal, contribuições
individuais, coletivas e para sua vida diária), bem como através dos registros de observação,
realizados pela pesquisadora durante os encontros. As fitas serão transcritas na íntegra,
acrescidas de informações sobre comportamentos e estados afetivos percebidos durante a
observação do grupo. Considerandose o objetivo de analisar o manejo terapêutico do grupo,
realizouse com base em procedimentos de análise categorial. Essa análise permitiu uma
descrição do grupo no processo terapêutico, seus elementos comuns e um entendimento sobre
a natureza do grupo bem como a forma na qual foi conduzido em seu processo. Em síntese,
foram utilizadas a codificação e a categorização dos dados, seguidas de sua interpretação e
análise.
52
5 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
5.1 Conhecendo as mulheres do estudo
As mulheres que colaboraram com esse trabalho merecem todo o respeito pela
luta diária em busca da melhoria na sua saúde psíquica, emocional e social. Estas mulheres
passaram a aceitar o seu potencial de transformação, transcorrido nesses 10 meses de trabalho
grupal, e fizeram de suas conquistas uma meta de vida, confrontando em suas atitudes a
passividade anterior na qual solucionavam seus problemas com medicamentos. Hoje são
conscientes de que a principal responsável por sua melhora no tratamento são elas mesmas.
Essas mulheres, em sua essência, contribuem em muito com a vida das outras;
umas são mais expansivas, outras mais introspectivas, contudo todas foram e são
fundamentais para a evolução e o amadurecimento terapêutico do grupo. Por serem tão
especiais e delicadas no seu universo simbólico, utilizaremos codinomes de flores para
identificálas: Margarida, Jasmim, Camélia, Orquídea, Tulipa, AmorPerfeito, Gardênia,
Rosa, Flor do Campo, Prímula, Hortência, Dália, Lírio, Vanília, Girassol.
Margarida,
55 anos, solteira, 3 filhos, dona de casa, ensino médio completo. Tem estatura
mediana, pele morena, cabelos crespos pretos sempre amarrados, peso acima do padrão.
Apresenta um semblante de tristeza, mesmo nos momentos de interação com outras amigas;
sua voz, a forma de se expressar demonstra, às vezes, revolta e carência. Dotada de uma
grande sensibilidade, é comum chorar nos discursos e vivências do grupo. Apesar de
demonstrar olhar distante e suposta indiferença, sempre procura manter contato com o outro,
manifestando opiniões. Em relação ao grupo, é assídua e gosta de compartilhar suas queixas e
história de vida, buscando afetividade do grupo nos momentos mais difíceis.
Jasmim,
46 anos, solteira, não tem filhos, mora com a mãe e um irmão, ensino fundamental
incompleto. Tem no seu biotipo uma estrutura mediana, corpo esguio, pele branca, cabelos
compridos e castanhos. Demonstra geralmente descuido com sua aparência (às vezes os
53
cabelos ficam assanhados e as vestimentas, desalinhadas). É muito cinestésica na forma de se
relacionar e de se comportar no meio, intensificandose nos quadros de ansiedade. Nesses
momentos apresenta, além de agitação, fala solilóquia e logorréica. Freqüentemente chora.
Devido a seu humor instável, refere que se sente bem no grupo, pois é compreendida. Tem
dificuldade de seguir normas e esperar, seja qual for o motivo. É bastante religiosa, gosta de
interagir com as pessoas, demonstrando afetividade. Contudo, tem limiar de tolerância
pequena em relação a críticas e limites.
Camélia,
54 anos, casada, 3 filhos, dona de casa, analfabeta. Biotipo formado por pele
morena, cabelos pretos curtos, estatura e peso proporcionais. É muito reservada e
introspectiva, contudo não desperta antipatia. É sucinta na sua forma de se relacionar com os
outros, mas afetiva o suficiente quando necessita ser. Demonstra gostar de estar próximo das
pessoas do seu grupo, é bastante atenta na escuta dos relatos dos outros componentes e se
manifesta quando necessário. É assídua, participativa e bastante empenhada nas atividades
propostas.
Orquídea,
37 anos, casada, 2 filhos, dona de casa, ensino fundamental incompleto. Estatura
baixa, peso acima do padrão, cabelos curtos cacheados, de cor castanha, pele branca.
Demonstra em seu semblante aflição e cansaço, às vezes consegue sorrir, apresentando brilho
no olhar. Seu humor varia de acordo com o relacionamento familiar, foco principal de suas
queixas. É bastante aplicada e dedicada às atividades grupais, bastante afetiva e dócil no
relacionamento com o outro. É bastante sensível e tem uma ótima percepção e senso crítico, o
que vem facilitando seu processo terapêutico.
Tulipa,
51 anos, casada, 3 filhos, costureira, ensino fundamental incompleto. Biotipo
retilíneo, com peso e altura equiparáveis, pele branca, cabelos longos castanhoclaros. Tem
um olhar firme, transmitindo segurança; semblante tranqüilo e sereno. É acolhedora na forma
que se expressar com os demais à sua volta, porém não hesita em pontuar através de críticas
54
construtivas para o crescimento do outro. Uma característica forte em sua personalidade é sua
capacidade de procurar ver sempre o lado positivo e não ter medo de enfrentar as
dificuldades, mesmo já tendo passado por fatos marcantes e traumatizantes em sua vida.
AmorPerfeito,
33 anos, solteira, 3 filhos, vendedora e estudante, ensino fundamental incompleto.
Estatura mediana, peso acima do perfil, cabelos curtos castanhos, olhos verdes, traços do rosto
harmoniosos fazendo de AmorPerfeito uma pessoa de aparência carismática. É bastante
vaidosa e preocupada com sua imagem, contudo transparece timidez, olhar desconfiado, às
vezes tem dificuldade de fixar olhos. Inicialmente, ao relacionarse com outras pessoas,
demonstra dificuldade em falar, preferindo observar e escutar; no decorrer da convivência, ao
sentirse à vontade, tornase mais expansiva. Gosta de sorrir e procura contato com pessoas
que estão próximas. Demonstra, ao se expressar afetivamente, carência e tristeza devido a sua
história de vida. É assídua nos encontros do grupo, apesar de sentir dificuldade às vezes de
entrar na vivência e tomar consciência de seus conflitos, devido aos mecanismos de defesa em
relação à sua dor emocional.
Gardênia,
65 anos, viúva, 8 filhos, dona de casa, analfabeta. Estatura mediana, peso
adequado ao perfil, cabelos lisos grisalhos (gosta de usálos presos), pele morena. Mobilidade
lenta, saúde fragilizada, contudo é muito positiva na forma de interagir, transmitindo simpatia.
Demonstra na forma de se expressar uma certa passividade e conformidade. Observandose
sua parcial tranqüilidade e sua história de vida traumatizada, chegase ao foco principal de sua
sintomatologia, pois sua sensibilidade é aflorada ao retratar seus conflitos. Nas suas relações é
acolhedora e gosta de sentirse acolhida. É assídua no grupo e bastante participativa nas
atividades propostas.
Rosa,
46 anos, casada, 3 filhos, ensino fundamental incompleto, dona de casa. Estatura
mediana, peso acima do perfil, pele morena, cabelos compridos lisos e pretos, costuma usálos
55
presos. É bastante comunicativa, demonstra alegria e procura sempre transmitir para os outros
energias positivas. Nas suas relações percebese, em alguns momentos, manipulação,
chantagem e uma certa infantilidade, variando de acordo com as circunstâncias. No primeiro
contato, às vezes desenvolve resistência, contudo, à medida que mantém o relacionamento
modifica essa postura, tornandose acolhedora, gentil. Esse comportamento está associado às
perdas e decepções de sua história de vida. É assídua no grupo, gosta de comunicarse, sendo
uma das mais participativas.
Flor do Campo,
64 anos, casada, 6 filhos, dona de casa, ensino fundamental incompleto. Biotipo
equiparável na estatura e peso, traços fisionomicamente compatíveis com sua idade,
motricidade e coordenação diminuída, pele clara, cabelos loiros lisos, tamanho médio. Seu
comportamento, associado a sua expressão física, transmite fragilidade e sensibilidade. Seu
semblante, às vezes triste, outras vezes tenso, reflete sua dificuldade de relaxar e desvincular
seus pensamentos e preocupação, geralmente com seus familiares, sendo o motivo maior de
suas queixas da sintomatologia. Nas suas relações é tolerante e passiva, gosta de manter
contato e interagir, sendo este um dos momentos em que demonstra prazer e alegria.
Prímula,
54 anos, casada, 8 filhos, dona de casa, analfabeta. Corpo esguio, estatura baixa,
pele branca, cabelos compridos castanhos. Tem um olhar e sorriso acolhedor, contudo sua
timidez lhe limita no contato com o outro, necessitando sentirse segura para demonstrar sua
real empatia pelo outro. Comportase de forma discreta nas relações pessoais e quando está no
grupo prefere ouvir e estar atenta ao discurso dos outros componentes, manifestando sua
opinião somente quando lhe é solicitada. Contudo, não demonstra frieza ou imparcialidade,
apenas uma certa rigidez devido ao autocontrole de seus sentimentos. É assídua e demonstra
satisfação em realizar atividades.
Hortência,
44 anos, casada, 2 filhos, dona de casa, ensino fundamental incompleto. Tem
estatura baixa, peso dentro do perfil, cabelos castanhos longos e cacheados, usados sempre
56
presos. Apresenta no seu semblante uma certa inexpressividade, sendo difícil às vezes
perceber sentimentos como raiva, alegria, tristeza, devido reprimilos. No geral, ao se
expressar verbalmente, eleva as sobrancelhas, causando uma aparência de cansaço. É bastante
introspectiva, necessitando de estímulo para manifestarse. Prefere permanecer em silêncio,
realizando atividades, contudo demonstra prazer na realização das mesmas. Sua timidez
dificulta a interação com o grupo, geralmente fala baixo, com dificuldade de fixar o olhar.
Apesar disso, é assídua e aceita a proximidade do outro.
Dália,
57 anos, solteira, 1 filho, dona de casa, analfabeta. Estatura mediana, peso acima
do perfil, pele branca, cabelos curtos grisalhos. Demonstra simpatia, gosta sempre de estar
sorrindo, tem um olhar às vezes disperso, compatível com sua distração. É meiga e gentil no
contato com o outro, apesar de demonstrar inicialmente timidez. Tem bastante dificuldade de
verbalizar, geralmente chora. Dotada de uma sensibilidade bastante aflorada, gosta de
compartilhar com as outras companheiras trocas de abraços, demonstrando a necessidade de
ser acolhida. É assídua e bastante cooperativa nas atividades, encontrando limitações apenas
na verbalização.
Lírio,
53 anos, solteira, 1 filho, mora com parentes, analfabeta. Apresenta estatura
mediana, obesidade leve, cabelos médios grisalhos, e aparenta certo desleixo com sua
aparência. Demonstra passividade no olhar, apresentandose sempre com semblante sério,
dificilmente sorri. Tem limitações na relação com o outro, prefere manterse em silêncio e
geralmente se expressa por frases curtas, porém faz isso sem causar antipatia. Sua
introspecção, associada a ausências no grupo, dificultam sua evolução.
Vanília,
66 anos, separada, 3 filhos, aposentada, ensino fundamental completo. Estatura
baixa, obesidade moderada, pele morena, cabelos compridos, sempre usados em coque.
Motricidade lenta, discreta dificuldade de deambular, contudo tem um comportamento em
relação ao outro admirável. Sua firmeza no olhar e na fala demonstra uma pessoa de fibra e
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Girassol,
48 anos, solteira, não tem filhos, mora com a irmã, analfabeta. Estatura mediana e
peso proporcional. Transmite em seu olhar uma certa dispersão em relação ao ambiente,
demonstrando dificuldade nos momentos de discussões, preferindo isolarse nessas ocasiões.
Sua fala é sucinta e às vezes apresenta de forma figurada, nem sempre sendo fácil a
compreensão. No momento de interação é receptiva e simpática, demonstrando afetividade. É
bastante religiosa e gosta de orar nesses momentos. Sua ausência e dificuldade de participação
oral dificultam a evolução terapêutica.
5.2 Processo terapêutico
As descrições das sessões na seqüência possibilitaram uma concretização do
processo terapêutico, sendo utilizadas para a construção científica deste trabalho a
organização por temáticas, uma para cada sessão, categorias de falas e avaliação das mesmas.
5.2.1 Processo de adoecimento
A) Características:
Grupo composto por 10 pacientes com a proposta de reflexão e verbalização cujo
tema foi: “Fatores desencadeantes dos sintomas e início do tratamento no CAPS”. O encontro
iniciouse às 09:00h e finalizouse às 11:15h.
B) Impressões iniciais:
As pacientes demonstraram boa receptividade e facilidade de interação mútua. A
paciente Jasmim mostrouse ansiosa, com leve agitação motora, recebendo suporte de suas
companheiras. O grupo tem um bom nível de afetividade, tornandose acolhedor.
58
C) Sessão propriamente dita:
O grupo foi disposto em círculo sendo iniciado o processo ao som de uma música
suave, dando continuidade com movimentos lentos e harmoniosos, onde foi sugerido que os
componentes buscassem equilibrar o meio externo com o interno, ou seja, harmonizar
respiração, músculos e batimentos ao meio externo (um ambiente tranqüilo, com iluminação
diminuída). A terapeuta solicitou uma reflexão ao passado de suas vidas, por onde se iniciou o
processo adoecedor psíquicoemocional. Posteriormente, foi realizada a verbalização da
vivência, possibilitando uma comparação evolutiva e a troca de experiências.
A paciente Dália não conseguiu verbalizar. Ao iniciar o discurso chorou, referindo
dificuldade em relatar. A paciente AmorPerfeito também relatou sentirse incomodada, pois
acha sua história muito triste e feia e sente vergonha de falar. As demais pacientes foram
bastante solícitas e construíram um bom conteúdo terapêutico.
Figura 1. O processo de adoecimento
Dificuldade de relacionamento conjugal e familiar
tinham na família e a estrutura que esta família mantinha e adoecia mutuamente a
somatização dos seus sentimentos.
[... ] Faz muitos anos que eu tive problemas, problemas com marido, com
bebida...o tempo passou minha filha de 14 anos fugiu com um rapaz de
gangue...a barra era toda minha que eu era o pai e a mãe...quando foi por
último ela teve um filho dele e ele chutou ela pra minha casa...um abalo mais
profundo foi minha mãe com câncer... (Margarida).
O meu problema é a família do meu marido, eu faço tudo por eles, não sei
dizer não, mesmo que eu não goste aí fui pegando essa depressão... minha
história é um pouco triste, perdi minha mãe muito nova... casei cedo, sempre
fui muito fechada... (Hortência).
A forma como nos relacionamos com os outros e nos comportamos em nosso
meio, remetenos em muito às primeiras relações vinculares. Nessas estão incluídas a maneira
como o sujeito se percebe e como são suas experiências baseadas no afeto entre outras
pessoas. (WINNICOTT, 1990).
É através da relação vincular com a família que o sujeito inicia em sua
subjetividade como será seu papel social, internalizando e externalizando seu modo de agir.
Contudo, se as primeiras relações estão estremecidas por diversas razões (social, econômica,
cultural, entre outras), serão estas as primeiras impressões de relacionamento, repercutindo,
ainda que de forma inconsciente, nas relações atuais.
Segundo Winnicott (1990), nas neuroses, as dificuldades começam a surgir no
interior das relações interpessoais características da vida familiar, estando a criança entre 2 e 5
anos.
Mesmo que pertençamos a vários grupos sociais no decorrer de nossa vida, a
família é sem dúvida o mais significativo, sendo esse o primeiro núcleo a que pertencemos.
Posteriormente, quando nos reprojetamos em papéis vinculares, desse meio emergem o
comportamento e as atitudes regressas que recebemos e nos influenciaram em nossa formação
social.
Silveira (1996) aponta para o inconsciente pessoal sendo constituído por traços de
acontecimentos ocorridos durante o curso da vida e perdidos pela memória consciente,
carregados de forte potencial afetivo.
Ao nos retratarmos ao pensamento de Winnicott, no qual as relações familiares
60
influenciam as relações interpessoais, percebese que muitas dessas experiências instintivas
permanecem em um nível inconsciente, uma vez que nem sempre são lembradas, mas são
significativas o suficiente, indo ao encontro do pensamento de Silveira sobre a influência do
inconsciente no consciente.
História de vida com conteúdo de violência familiar e social
Os relatos mencionados retratam novamente o início da concepção da imagem
individual e social, reforçando a categoria anterior, na qual a história de vida dessas mulheres
e o acúmulo de fatores traumatizantes desenvolveram um mecanismo de defesa representado
por comportamentos descritos especificamente pela somatização corporal e ansiedade
emocional.
[...] meu marido bebia, quebrava as coisas aí eu fiquei assim... eu queria
matar, eu peguei faca para matar meu marido...o marido da minha filha não
prestava, ele batia nela...aí eu disse que matava ele e matava mesmo[...]
(Margarida).
[...] comecei a primeira crise de depressão aos 21 anos quando levei uma
pisa... o pai da minha filha levou ela pra passear...ele roubou ela...meu irmão
começou a beber...ele tentou me matar [...] (AmorPerfeito).
[...] antes eu tinha assim uma violência, antes eu respondia uma pessoa era
assim com uma raiva, uma revolta...meu marido me batia, eu via meus
filhinhos passar fome, aí fui embora no pingo do sol com meus filhinhos só
com a roupa no couro [...] (Tulipa).
Segundo Castells (1999), o patriarcalismo é uma das estruturas na qual se
assentam todas as sociedades contemporâneas, caracterizada pela autoridade imposta do
homem sobre mulher e filhos. Percebese que neste modelo, os relacionamentos interpessoais
sofrem influência direta pela forma de dominação, violência e poder, arraigandose na cultura
e sociedade.
Apesar da família atualmente se organizar e algumas vezes se reformular,
modificando a ordem de seus integrantes, notase ainda um comportamento condizente a
alguns aspectos patriarcais, estando este latente na postura de submissão, preconceitos e
passividade na mulher e machismo, força e poder no homem.
Em Maracanaú, é habitual traços de violência e repressão no ambiente familiar,
resultando no processo de adoecimento psíquico e emocional, havendo aí traços do
comportamento herdado do patriarcalismo, apesar de algumas famílias nem sempre se
61
organizarem de forma convencional. Essas relações representam crenças da sociedade quanto
ao significado desse conceito em períodos de tempo determinados, criando estereótipos
quanto ao gênero, sendo esses conseqüências do julgamento e comportamento (CASTELLS,
1999).
A OMS (2002) considera que a violência de gênero referese a qualquer
comportamento que cause danos físicos, psicológicos ou sociais àqueles que fazem parte da
relação.
Retomando a relação de domínio e estereótipos, as mulheres, principais vítimas,
sofrem não só abuso físico e sexual, pois em proporções compatíveis às ameaças verbais, a
possessividade, as humilhações e o terror psicológico deixam marcas na sintomatologia
psíquica, assim como as agressões físicas deixam cicatrizes.
Perda de referencial e valor de suas próprias vidas
[...] minha vida eu só esperava morrer [...] (Margarida).
[...] eu cheguei realmente a achar que viver não tinha mais sentido e achar
que eu não agüentava mais, agüentar tanto problema né e achava que viver
não tinha mais sentido e aí a solução era me isolar das pessoas, chorar.[...]
(Orquídea).
[...] crise de choro, de passar a semana desesperada, de achar que não tinha
mais motivo pra viver [...] (Tulipa).
[...] eu achava que o meu pai não gostava de mim, que as pessoas não me
queriam bem, que eu era desprezada, aí eu fui tentar o suicídio. (Rosa).
Castells (1999) define identidade como o processo de construção de significado
com base em um atributo cultural, ou ainda um conjunto de atributos interrelacionados, o(s)
qual(ais) prevalece(m) sobre outras fontes de significado.
É através da relação com o outro que construímos os papéis sociais e nele o nosso
desempenho nesse entremeio, sendo assim a maneira como nos percebemos e nos sentimos
62
mediante o grau de rejeição e aceitação em relação ao nosso meio. Isso nos possibilita a
internalização subjetiva, a criação de significados nas relações e a construção de nossa
identidade.
Para Rogers (1977), na busca de chegar mais próximo de ser ele mesmo, o
indivíduo enfrenta hoje uma estrutura social cujas coordenadas são confusas e instáveis. E
embora os padrões tradicionais de conduta continuem a ser reforçados e transmitidos pelas
instituições socializadoras – a família, a escola, os órgãos oficiais –, movimentos atuais
apontam fatos perturbadores e despertam questionamentos profundos.
Ao direcionarmos a mulher nos dias atuais e posicionarmos sua identidade pessoal
aos papéis que a mesma desempenha, tornase claro um estado conflitante. Por um lado, há
toda uma carga de expressão sóciocultural expressa pelos papéis herdados e impostos na
imagem da mãe, esposa, confidente e renunciante e, por outro lado, encontrase a busca,
muitas vezes intrínseca, de seus desejos e necessidades como pessoa.
O conflito pessoal tornase mais intenso se a mulher é submetida a situações
estressantes, principalmente quando esta se encontra vitimizada por agressões físicas e
emocionais. Para a OMS, viver um relacionamento violento afeta o senso de autoestima de
uma mulher e sua capacidade de participar do mundo, interferindo na capacidade de cuidar de
si mesma e de seus filhos.
Manejo de medicamento inadequado
Notamos, nos discursos, uma associação do processo de adoecimento ao uso
indiscriminado de medicamentos. Existe, nesses relatos, a subjetividade do “remédio para
aliviar a dor”, havendo um comparativo da intensidade do sofrimento à quantidade dos
medicamentos, ou seja, o período de maior conflito psíquico era aquele em que se verificavam
os momentos de maior consumo, estando aí implícita a “anestesia” dos sentimentos.
[...] eu tomava remédio controlado, mas nunca chegava a ter assim a melhora
que tenho agora, por que mesmo eu achava que eu tava boa mas sempre eu
entrava em crise de choro [...] (Tulipa).
[...] comecei a tomar medicamento, era pra derrubar mesmo... aí ele disse
que era muito forte a dose, porque o meu caso não era aquele, que eu não era
louca...cheguei a tomar 4 comprimidos de diazepam 10 mg. (Rosa).
[... o médico eu só ia no dia de receber remédio...faz muito tempo que eu
tomo diazepam... continuava do mesmo jeitinho...eu dizia: “tô cada vez
63
pior”[...] (Flor do Campo).
[...] faz muito tempo atrás que eu tomo remédio controlado, diazepam, já há
muitos anos, mas o médico dizia que o meu problema era só nervoso.
(Prímula).
Segundo relatório da OMS, as mulheres são mais suscetíveis à ansiedade do que
os homens. Acreditase que esse fato se deve muito ao nível diário de estresse a que elas são
expostas no cotidiano. (BRASIL, 2001).
Existe, por parte da paciente que procura o serviço de saúde, uma necessidade
imediata de alívio do sofrimento psíquico e das sensações orgânicas desencadeadas por esse.
Associado a esse fato encontramos geralmente um serviço estrangulado pela demanda de
cuidados à saúde, havendo nessa combinação uma delicada vinculação onde ocorre
geralmente a prescrição de ansiolíticos em resposta direta às queixas recebidas. Se por um
lado existem angústia e aflição, devido aos conflitos, por outro lado encontrase uma certa
facilidade no alívio dessa dor, resolvendo paliativamente os problemas; formandose,
contudo, um terceiro componente nesse processo: a dependência.
De acordo com Saraceno (2001), ansiedade e insônia são manifestações
sintomáticas de estados gerais de "malestar" com ou sem problemas psicológicos e
psiquiátricos, que devem ser tratadas segundo uma estratégia terapêutica na qual os
ansiolíticos têm, às vezes, um papel importante, mas sempre parcial e normalmente limitado
no tempo.
Apesar de o ansiolítico ter sua importância em determinado momento, existe,
implícita em toda a sintomatologia da ansiedade, uma história de vida com sofrimento, sendo
necessário enfatizar terapeuticamente esse aspecto no intuito de estimular o enfrentamento e o
questionamento, por parte do paciente, e em contrapartida a escuta e o suporte do profissional,
resultando na diminuição do uso do medicamento e na descoberta de outros meios de suporte.
Percepção do processo sintomático
[...] .toda me tremendo...aí comecei a desmaiar, eu ia parar no hospital...um
abalo muito profundo...aí tomou conta do meu corpo...eu tive uma
paralização...minha língua enrolou, fui pro hospital[...] (Margarida).
[...] eu era muito nervosa, tudo que eu ia falar era me tremendo, a minha voz
era tremula [...] (Camélia).
[...] passei por várias fases; ficava deitada sem querer fazer nada... era
nervosa...as vezes falava pelo cotovelo...as vezes só chorava. (Jasmim).
[...] eu não tinha animo, era um nervoso...ficava a noite todinha acordada,
tinha medo de sair...chorava...impaciente. (Prímula).
PROCESSO DE ADOECIMENTO
HISTÓRIA DE VIDA COM
CONTEÚDO DE VIOLÊNCIA
FAMILIAR E SOCIAL
PERCEPÇÃO DO PROCESSO
SINTOMÁTICO
65
5.2.2 Autopercepção no processo grupal
A) Características:
Grupo composto por oito pacientes com proposta de realizar atividade produtiva e
verbalização direcionada pela terapeuta. O grupo demonstrouse bastante receptivo, a sessão
teve duas horas e meia de duração e as pacientes não demonstraram fadigabilidade, com
evolução satisfatória.
B) Impressões iniciais:
As pacientes demonstraram alegria por estar reunidas, não havendo ocorrências ou
complicações. Percebeuse bastante entusiasmo onde algumas pacientes estavam bem
extrovertidas com sorriso fácil.
C) Sessão propriamente dita:
Inicialmente o grupo foi direcionado à mesa de atividades, onde permaneceram
sentadas ao seu redor, foram distribuídos palitos de picolé e sugerida a construção de
fruteiras. Durante a atividade, foi lançado o questionamento de como elas se percebiam no
grupo. As componentes foram bastante participativas nos relatos.
Figura 2. Autopercepção no processo grupal
66
Fortalecimento da identidade
Me vejo muito desinibida, quando estou aqui não tenho vergonha de nada....
(Jasmim).
[...] e aqui sei que sou inteligente [...] (Orquídea).
[...] deixei de ser uma pessoa possessiva... agora sei esperar, me
comportar....sou mais feliz[...] (Rosa).
O comportamento que apresentamos frente às diversas situações do cotidiano gera
graus variáveis de tensão e estresse com intensidade relativa a cada sujeito, havendo ainda a
influência das próprias características pessoais, história de vida e nível de amadurecimento.
Sendo assim, uma situação de tensão e estresse pode ser negativa para alguns e positiva para
outros, contudo, existe nessas duas circunstâncias o meio interferindo diretamente na
autopercepção e no modo de reação.
Briggs (1987) ensina que durante a terapia comportamental ocorrem modificações
da interação entre a pessoa e o ambiente onde se manifestam aplicações sistemáticas de
princípios experimentais derivados de análise do comportamento, levando a mudanças
mensuráveis nesse processo de interação.
Para ocorrer modificações no comportamento é necessário que exista a percepção
dos prejuízos, caracterização específica e observável no cotidiano presente. Deste modo,
iniciase pela tomada de consciência, compreensão e desejo de transformação, havendo assim
o fortalecimento da identidade e autoestima.
McLellan, Bragg e Cacciola (1988) mencionam que a mudança e o
amadurecimento são processos que duram a vida inteira. Quando alguém amadurece
suficientemente, tornase capaz de controlar o desenvolvimento e as mudanças. Esse
desenvolvimento ocorre nos planos físico, emocional, intelectual e social.
67
Percepção de potencialidades e autoestima
[...] faz ser uma pessoa útil, eu tinha um trauma assim que eu me sentia
inútil, e aqui sei que sou capaz de alguma coisa [...] (Orquídea).
[...] me sinto produtiva... e só com as amigas a gente se sente muito bem.
(Tulipa).
[...] eu me sinto incluída.... estou participando, não sou de falar muito mas o
que eu falo eu sinto que serve pra alguma coisa [...] (Camélia).
[...] quando eu me sinto ferida eu falo, não fico mais calada, aí eu falo e
pronto. Aí eu to feliz de novo e a vida continua [...] (Jasmim).
estima.
Construção simbólica de um espaço seguro
[...] aqui eu me sinto no meu espaço, porque quando eu to lá em casa não me
entendem....aqui entendem meu jeito de ser [...] (Jasmim).
[...] eu me sinto bem, me sinto acolhida, e sinto que eu estou fazendo alguma
coisa produtiva. (Tulipa).
[...] aqui no grupo eu me acho como se estivesse na minha casa....aqui me
sinto satisfeita [...] (Gardênia).
Segundo PichonRiviére (1988), um vínculo é, então, um tipo particular de
relação de objeto. Essa relação particular tem como conseqüência uma conduta que tende a se
repetir automaticamente, tanto na relação interna, quanto na relação externa com o objeto.
Observamos nos relatos a importância do vínculo para a confiança mútua e a
autopercepção positiva dessas mulheres no grupo. O vínculo é essencial para que se forme um
ambiente seguro, estabelecendose primordialmente nas relações dos componentes durante o
processo grupal, criando um ambiente adequado para formação de elementos terapêuticos.
Maximino (2001), seguindo a teoria de Winnicott, revela a necessidade de um
ambiente facilitador, onde possa ocorrer o desenvolvimento emocional denominado por
holding, interligando as necessidades básicas da criança ao senso de proteção materna.
Mello, apud Maximino (2001), afirma que o grupo, no início, apresentase não
integrado, sendo a soma de partes diferentes não diretamente relacionadas umas com as
outras. Depois, contido pelo holding do terapeuta, evolui para um estágio de integração.
Reformulação de vínculos afetivos e positivos
[...] aqui a gente aprende com as experiências das amigas, as amigas
aprendem com a experiência de vida da gente [...] (Orquídea).
[...] quando eu saio daqui vou todo tempo me lembrando, to lá em casa
fazendo minhas coisas me lembrando do grupo, quando chega o dia meu
destino é vim. (Gardênia).
Me sinto muito feliz no grupo terapêutico dia de terçafeira com as minhas
colegas, eu to aliviando muita a minha ansiedade [...] (Camélia).
De acordo com Winnicott (1990), a parte psíquica da pessoa ocupase com os
relacionamentos mantidos com o mundo externo, havendo uma elaboração imaginativa das
relações do passado, presente e expectativas futuras uns dos outros, dando sentido ao
sentimento do eu.
PichonRiviére (1988) caracteriza no vínculo uma relação do objeto,
estabelecendo nessa relação dois parâmetros, sendo esses o vínculo com o objeto interno e o
objeto externo, contudo, internalizados. Do ponto de vista social é a nossa relação com o meio
que vincula o exterior. Do outro ponto de vista, o psíquico, está a subjetividade, ou seja, a
simbologia de imagens que o "eu" cria para se relacionar.
Auto percepção
no processo
grupal
Percepção de Construção
potencialidade Fortalecimento da simbólica de um
s e autoestima identidade espaço seguro
Reformulação de
vínculos afetivos
e positivos
70
5.2.3 Contribuição da atividade no processo terapêutico
A) Características:
Pacientes têm apresentado boa integração, geralmente se reúnem antes da sessão
onde têm oportunidade de dialogar, e quando chega o horário da sessão, já estão bem
entrosadas. O grupo iniciou às nove horas da manhã e finalizou às onze horas e vinte minutos.
Participaram da sessão oito pacientes. Temse percebido a ausência consecutiva de algumas
pacientes, contudo não diminuiu o ritmo devido o grau de envolvimento das demais.
B) Impressões Iniciais:
A paciente demonstrou bastante ansiedade e agitação dificultando o início do
andamento do grupo, devido falar muito, e necessitou de intervenção, o próprio grupo impôs
limite. O restante do grupo demonstrou tranqüilidade.
C) Sessão propriamente dita:
As pacientes realizaram atividade produtiva, sendo feito ainda, paralelamente, um
momento de verbalização, onde foram questionadas as contribuições das atividades
terapêuticas. Durante a atividade foi realizado o processo de finalização e pintura das
fruteiras.
Notamos, consoante aos discursos, que a atividade terapêutica possibilita para
essas mulheres a canalização da tensão, bem como a liberação somatizada de seus
sentimentos, demonstrando ser um eficaz mecanismo terapêutico, permitindo que, livre das
tensões, possam emergir conteúdos internos a serem trabalhados no grupo.
71
Figura 3. Contribuição da atividade no processo terapêutico
Alívio dos sintomas negativos
[...] às vezes a gente fica...com problemas... aí eu chego e desabafo e quando
eu pego qualquer atividade pra eu fazer eu fico aérea [...] (Margarida).
[...] eu tenho ansiedade, uns problemas muito sério na mente, quando eu
estou fazendo a atividade esqueço completamente, quando chego em casa, to
mais calma. (Camélia).
[...] quando eu chego aqui e faço os trabalhos me esqueço de todos os
problemas, me esqueço de tudo [...] (Gardênia).
O processo de adoecer psíquico, representado através da ansiedade por toda a
sintomatologia orgânica e emocional, repercute, em sua grande parte, devido à distorção na
relação do sujeito com o meio, sendo recaptadas sensações e percepções negativas deste. Há,
por parte do sujeito, um desgaste em centralizarse na sintomatologia, perdendo o foco para
sua autopercepção real, sendo ainda cometido a autoestima.
Rogers (1977) acredita que uma pessoa pode ser considerada em disfunção se ela
72
experimenta ansiedade e tem percepção de que são inconscientes com seu autoconceito e
incongruentes com suas experiências.
Brito (2001), seguindo o modelo marxista, acredita que o adoecer está na luta pela
transformação social de uma realidade diferenciada. Nessa perspectiva, o indivíduo tornase
alheio a uma instituição ou uma sociedade.A atividade é a base real do tratamento e o
processo terapêutico é democrático, sendo o indivíduo responsável por ele, pelo seu fazer.
A terapia ocupacional busca resgatar o interesse e o desejo do indivíduo e se
concretiza através da atividade, utilizando recursos e materiais, estimulando a autopercepção e
o prazer do ato, possibilitando um alívio nos conflitos internos e melhora na relação com o
meio.
Devemos considerar que os discursos evidenciam um dos momentos mais ricos e
produtivos no processo terapêutico, pois se referem a circunstâncias que excedem o setting
terapêutico e transferemse ao cotidiano dos integrantes do grupo; as mesmas já trazem
consigo e comportamse de acordo com as experiências acumuladas no grupo, utilizandose
dos elementos adquiridos no qual contribuem as atitudes e decisões diante de um conflito,
concretizando desse modo, a validade e a eficácia terapêuticas.
Descoberta simbólica do potencial transformador
[...] aí antes eu não ligava pra nada e agora já faço atividade, antes eu não
gostava né, aí agora me sinto bem fazendo, faço e gosto muito. (Amor
Perfeito).
[...] quando eu vou entrar numa crise, aí eu lembro do que eu fiz na terça... aí
eu respiro, respiro que é pra eu poder voltar e não ter o sistema nervoso, a
crise. (Rosa).
Segundo Lowen (1984), a função do ego na autoexpressão é a necessidade de
reconhecimento. Cada ato consciente de autoexpressão sentese incompleto até provocar
reação dos outros membros.
Durante a atividade o sujeito desperta para sua capacidade criativa, recebendo do
grupo o suporte necessário para a valorização de seu potencial.
Brito (2001) refere que a terapia ocupacional trabalha com o fazer humano. Busca
conhecer esse fazer e, através dele, criar possibilidades terapêuticas. Tenta desvelar a “cura”
já existente nesse fazer humano, ou melhor, tenta ativála.
73
A atividade terapêutica, por ser transformadora e prazerosa, nessa relação sujeito e
objeto ocorre a concretização prática e, em nível subjetivo, ativa a capacidade de ser
responsável é ativo em sua própria vida e sentimentos.
Notamos, nesses relatos, a continuidade positiva da atividade na qual as
possibilidades ultrapassam os objetivos iniciais de relaxamento/liberação e fixamse em
aspectos em níveis individuais e subjetivos, onde as participantes do grupo experimentaram e
vivenciaram novas possibilidades de perceberemse livres das amarras preconceituosas e
limitações do estresse diário e descobriramse como pessoas capazes e criativas.
Percepção da criatividade
[...] eu gosto muito de pintar aqui, com aqueles trabalhos eu descobri que
gosto de pintar [...] (orquídea).
[...] até as coisas que pensei que eu que não entrava na atividade eu to
conseguindo...me sinto bem [...] (Tulipa).
[...] porque quando eu to pintando eu me acho mesmo feliz na minha pintura,
mesmo que eu não pinte bem, mas eu me acho feliz. (Gardênia).
Lowen (1984) observa que a autoexpressão, a criatividade e o prazer encontram
se intimamente relacionados. Toda forma de autoexpressão possui elementos criativos,
acarretando prazer e satisfação.
Segundo Kneller (1997), a criatividade é a descoberta e a expressão de algo que é
tanto uma novidade para o criador quanto uma realização por si mesma. É na relação com o
objeto e no desenvolvimento da práxis que o sujeito internaliza o significado do fazer, criando
uma simbologia nessa relação, identificandose, transformandose e descobrindo novas forma
de construir prazerosa. Nessa relação sujeito e objeto ocorre a concretização prática e, em
nível subjetivo, ativa a capacidade de ser responsável é ativo em sua própria vida e
sentimentos.
As referências positivas demonstradas nos relatos sugerem uma retomada na ação
e pensamentos dessas mulheres em relação ao tratamento e uma perspectiva delas mesmas
diante dos planos futuros e retomadas dos projetos de vida. Essa fase, no processo terapêutico,
é muito importante, pois, as integrantes já tem uma percepção da força do grupo, conquistas e
avanços em relação à abordagem terapêutica, havendo ainda a concepção de que cada um é
74
agente transformadora, principalmente de sua própria vida.
Contribuição para reformulação do projeto de vida
[...] estou me recuperando, pretendo continuar [...] (Camélia).
[...] nós temos problemas e vejo que tem saída, que tudo tem fim basta a
gente querer, ter vontade que gente consegue. (Orquídea).
[...] naquele futuro de vida, deu ta aqui atrás da minha saúde, de melhoria
[...] Gardênia).
[...] tem muitas coisas na vida que a gente tem que saber suportar sem querer
dar fim na vida...que eu dar meu grito de independência e dizer eu to curada.
(Rosa).
Segundo Rogers (1977) tomar consciência ou reconhecer outros modos possíveis
de consciência são eventos muito relacionados com uma maior amplitude de autopercepção.
Dessa forma, o contato com o outro no processo grupal permite uma visão ampliada da
realidade e sofrimento, a partir do momento em que o indivíduo permeia no espaço interno e
externo, trazendo conteúdos internos ao ambiente do grupo e identificandose ou
internalizando características do outro, podendo reformular idéias e objetivos de vida.
De acordo com PichonRivière (1988), no grupo operativo, o esclarecimento, a
comunicação, a aprendizagem e a resolução de tarefas coincidem com a cura, criandose,
assim, um novo esquema referencial.
5.2.4 Evolução terapêutica
A) Características:
Grupo com boa integração, participando desse encontro sete pacientes, sendo
realizada uma atividade corporal e produtiva associada à verbalização, conduzida por uma
temática: evolução terapêutica. A sessão iniciou às 9:00 h e finalizou às 11:20h.
B) Impressões Iniciais:
O grupo, apesar de estar com evasão de seus componentes, algumas tiveram
retorno médico, estava com boa sintonia, demonstrando prazer em estar reunido. A paciente
MESS apresentou ansiedade e agitação, porém, conseguiu controlarse.
75
C) Sessão Propriamente dita:
Começamos a sessão com a mobilização corporal ao som de música suave
buscando relaxamento global e dinâmico. Iniciamos pintura de frutas artificiais para compor
um arranjo (fruteira), momento em que foram questionadas as contribuições do grupo e a
evolução terapêutica gerando verbalização.
Figura 4. Evolução terapêutica
Melhoria na qualidade de vida
[...] Agora já vou pra missa, saio na rua, já me sinto a vontade, já consigo
conversar com as pessoas olhando, que antes eu não olhava... eu tinha
vergonha, agora não; eu me sinto super bem, depois que eu entrei aqui eu to
me sentindo ótima, consigo falar, olhar nos olhos das pessoas, mas antes era
tímida [...] (Amor Perfeito).
[...] Quando eu cheguei... não tinha condições nem de cozinhar: eu já
consigo ir pra cozinha, já lavo roupa gosto de lavar roupa...gosto do meu
canto...eu sinto que melhorei, gosto de ouvir música, gosto do meu mundo e
gosto das minhas colegas [...] (Rosa).
[...] Hoje eu me sinto feliz, eu sei que todo mundo tem problema e aqui a
gente encontra soluções né para os problemas de cada uma e aí hoje me sinto
bem, to bem. Tenho problemas, mas tenho força de superar. (Orquídea).
76
Mudanças de atitude
[...] eu nunca fui em frente com tratamento nenhum, e aqui eu to indo, eu
parava...e aqui não, eu tenho esforço, muita força de vontade, por mais que
eu tenha o que fazer, quando chega a hora eu venho.(Tulipa).
[...] Muitas vezes eu vou entrar numa crise, um pânico vem doido, aí eu digo
não é assim, é assim que a Perla explicou, é assim e assim que eu faço com
as colegas do grupo,... aí eu respiro, suspiro e vou aliviando.(Rosa).
[...] eu falava demais... meus familiares não me ouviam, eu já tava me
aborrecendo...não queriam mais me ouvir, e hoje quando eu me sinto
magoada eu digo uma só vez e pronto né?Já falei, eles sabem o que to
sentindo e pronto, me sinto fortalecida, né? (Orquídea)
e consigo mesmo.
Diminuição dos sintomas do uso de medicamentos
[...] eu era muito nervosa, tudo que eu ia falar era me tremendo, a minha voz
era trêmula, então eu consegui superar... já to conseguindo falar sem chorar,
sem tremer, e as atividades me ajudam muito [...] (Margarida).
[...] não tinha capacidade de contar minha história que chorava... hoje sou
capaz de contar a minha história sem chorar, tinha trauma de incapacidade,
que é o que eu ouvia do meu esposo, hoje sei que posso aprender...encontrar
força, né? (Orquídea).
[...] hoje eu me sinto bem melhor. Não tô tomando mais remédio, o grupo
me ajudou muito... a gente pode expressar o que ta sentindo [...] (Tulipa).
[...] eu cheguei a tomar quatro diazepan por dia e não dava jeito... hoje já
baixou só tomo às vezes, é um remédio que aos poucos a gente saí dele.
(Rosa).
Os relatos destacam a força adquirida, por essas mulheres durante o processo
grupal, e revela através da expressão verbal a capacidade que estas têm de serem ativas no
processo de cura, tirandoas da passividade da melhora farmacológica, apenas paliativa.
Segundo Carvalho (2003), a ausência de atividades leva ao ócio onde o sujeito
gradativamente irá adquirir hábitos patológicos, se assim o ambiente favorecer.
De acordo com Brito (2201), o terapeuta ocupacional utilizase da atividade como
meio de intervenção terapêutica e tem como objeto de atenção o ato humano específico onde a
atividade é como um remédio a ser prescrito pelo profissional.
Ribeiro (1994) refere que o grupo se transforma num processo contínuo de cura,
descobrindo, a cada momento, sua capacidade autoreguladora e equilibradora, em que cada
um de seus membros colhem na atmosfera grupal, força para a solução de seus conflitos e
compreensão do mistério do outro.
Fortalecimento pessoal e grupal
[...] Aqui todas entende, cada uma tem o seu problema, desabafa, chora, mas
uma consola a outra, só quem sabe mesmo como é o problema, é quem já
passou [...] (Jasmim).
[...] As minhas colegas de grupo também a gente conversa... assim alivia as
vezes o que a gente ta sentindo, dá um conselho, orienta, então quando eu
vou pra cá eu fico me sinto melhor [...] (Camélia).
78
[...] Aqui a gente tem as nossas amiguinhas, a gente olha pra cada uma, a
gente chega aqui com um problema, aí já vai ouvindo cada uma e vai
melhorando... encontro aconchego e compreensão [...] (Rosa).
[...] O grupo me ajuda porque tenho muitas colegas, gente que não conhecia,
e agora eu gosto de todas como se fosse minha família, estou muito bem [...]
(Flor do Campo).
Evolução
Terapêutica
Diminuição
dos sintomas e
uso de Melhoria na
medicamentos qualidade de vida Mudanças de
atitude
Fortalecimento
pessoal e grupal
5.2.5 Construindo vínculo e fazendo arte
A) Características:
Grupo composto por 13 integrantes onde foi trabalhado o sentido de colaboração,
integração e expressão. Todos os integrantes foram participativos, demonstrando habilidades
na prática. A sessão iniciou às 9:00h e finalizou às 11:30h.
79
B) Impressões Iniciais:
Grupo receptivo, onde as pacientes demonstraram boa sintonia de sentimentos
mesmo antes de entrar na sala de grupo. Demonstraram entusiasmo ao ser sugerida a atividade
da sessão. A paciente MESS necessitou sair devido a sua ansiedade e agitação estar
prejudicando o andamento do grupo, sendo encaminhada ao médico.
C) Sessão propriamente dita:
Inicialmente, foi colocado pela terapeuta a importância do vínculo e como a forma
de relacionarse no grupo impulsiona os integrantes na sua vida prática, a fim de por em
prática a necessidade de vínculos positivos. É feito um círculo e proposto o contato das mãos,
formando duplas, onde uma possa sentir a energia da outra. Depois foi sugerida a confecção
de um quadro em dupla, onde as pacientes puderam expor os sentimentos que emergiram.
Figura 5. Construindo vínculo e fazendo arte
Autoafirmação expressiva no grupo
[...] Eu me senti como se fosse uma artista, de tão concentrada que eu tava...
me senti ótima. (Amor Perfeito).
80
[...] Foi uma terapia maravilhosa. E a tela então, eu estou aqui deslumbrada,
olhando aqui para nosso trabalho e eu estou me sentindo muito bem [...]
(Tulipa).
[...] Eu estou aqui olhando para o trabalho, né, e estou assim uma verdadeira
artista. É uma cura para o meu trauma, né, de incapacidade e mostra que eu
sou capaz de fazer uma tela tão bela dessas e eu estou feliz. É um dos
trabalhos mais lindos que eu fiz aqui (Orquídea).
Os relatos demonstram a capacidade que estas mulheres têm de expandir seu
potencial, sendo este o resultado da execução de seu trabalho, no qual o produto causoulhes
uma surpresa, pois nem elas mesmas percebiamse como agentes transformadoras de sua vida
e de seu ambiente, descobrindo na arte esta mediação.
A tomada de consciência de seu poder artístico e criativo possibilitou a construção
do vínculo, uma vez perdida pela baixa autoestima e senso de incapacidade e restituído pela
capacidade criativa e relação com o objeto.
PichonRivière (1988) define vínculo como uma relação particular com o objeto.
Essa relação particular tem como conseqüência uma conduta com esse objeto, formando uma
relação que tende a se repetir tanto na relação interna quanto na relação externa com o objeto.
Segundo Kneller (1997), a inspiração é a condição necessária à criação e
proporciona a matériaprima à realização criadora. A autorealização implica
autoconhecimento e autoconfiança.
De acordo com Rogers (1977), se adotarmos a perspectiva de que o ser humano
tende ao seu crescimento pleno e o busca, a matéria básica da terapia deixa de ser identificada
pelos recursos do terapeuta e passa a consistir na tendência e na potencialidade, que existem
no ser humano, para autorealização.
O terapeuta ocupacional utiliza recursos terapêuticos, intercalando e direcionando
o processo terapêutico em si, onde o foco principal é o indivíduo e suas relações intra e extra
pessoal. Este, por sua vez, servese dos materiais terapêuticos e desencadeia, em si,
descobertas, capacidades, potencialidades, levandoo a autorealização individual e grupal.
Expressão artística dos conteúdos internos
[...] a paz, eu me senti com tranqüilidade, leve como no jardim [...] (Amor
Perfeito).
[...] Eu me senti na paz, uma tranqüilidade, me deu até sono [...]
(Margarida).
81
[...] Passamos energia uma pra outra [...] (Hortência).
[...] Me senti muito serena, assim quase adormecida, muito feliz, parecia que
tava voando [...] (Flor do Campo).
Os discursos revelaram a relação de prazer desencadeada através do contato com
os sentimentos positivos que emergiram da arte e vínculo grupal. Essa relação possibilitou
que as componentes se entregassem à vivência, desprovidas de resistências e mecanismos de
fuga. As sensações mobilizaram uma experiência de autopercepção e contato interno com
sentimentos, geralmente pouco experimentados devido estarem bloqueados por fatores
negativos e estressantes.
Segundo Oliveira (1995), as atividades autoexpressivas permitem ao paciente
viver um processo que possibilitará dar forma às desordens internas vividas, pois na medida
em que "imagens do inconsciente" vão sendo projetadas tornamse possíveis de ser
compreendidas e elaboradas.
Kneller (1997) refere que ser criativo é realizarse como pessoa. Cada um de nós
constitui um padrão singular de potencialidades; cada um de nós dá à vida e dela recebe;
ainda mais, cada um de nós tem de moldarse a si mesmo ou deixar que o moldem as
circunstâncias externas.
Como podemos observar, a arte possibilita a compreensão das imagens internas e
a elaboração dos sentimentos; estes, por sua vez, delimitam as relações internas, como nos
percebemos, e externas, ou seja, nossa interação com o meio. É na relação com o outro e com
o ambiente que nos identificamos e buscamos autorealização e desabrochamos as
potencialidades.
Segundo PichonRivière (1988), temos dois campos psicológicos no vínculo: um
interno e outro externo. Aquilo que mais nos interessa do ponto de vista psicossocial é o
vínculo externo, enquanto que, do ponto de vista psicanalítico, aquilo que nos interessa no
vínculo interno é a forma que o eu tem de relacionarse com a imagem de um objeto colocado
dentro do sujeito.
Transferência expressiva dos sentimentos
[...] Eu senti como se estivesse num jardim, cheio de flores, só paz...
justamente quando eu estava botando estas florzinhas, eu me senti como se
eu estivesse ali... só na paz [...] (Amor Perfeito).
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[...] Eu me senti muito bem, me senti como... no momento que eu tava ali,
me senti como se estivesse num lugar bem calmo, bem silencioso, como se
aqui (pintura) fosse um pedaço do céu [...] (Camélia).
[...] Pra mim foi quase como se estivesse voando para o céu... não me canso
de olhar, tô me achando muito feliz (Gardênia).
Podemos perceber que os relatos descrevem as possibilidades que as componentes
encontraram de analisar as angústias e tensões. O processo artístico possibilitou o alívio dos
sintomas negativos, direcionando estas mulheres a uma simbologia imaginária e criativa, onde
possibilidades de sentimentos diversos emergiram.
Kneller (1997) refere que o momento da iluminação leva o processo de criação a
um clímax. De repente o criador percebe a solução de seu problema, o conceito que enfoca
todos os fatos, o pensamento que completa a cadeia de idéias em que ele trabalha. No
momento da inspiração tudo entra em seus lugares.
De acordo com Coutinho (1995), através de uma pintura livre, é possível conhecer
e demarcar "as relações objetais fantasiosas", permitindo em seguida que o paciente manipule
e construa representações simbólicas, para que assim obtenha gratificações das necessidades
emocionais básicas.
Fernandes (2003) refere que a arte permite ao homem expressar e, ao mesmo
tempo, perceber os significados atribuídos a sua vida, em busca de um tênue equilíbrio com o
meio circundante.
Fortalecimento de vínculos
[...] eu senti que estava muito feliz, arrodiada de amigas, eu não sabia qual
escolher para fazer o trabalho... eu queria que fossem todas... mas só podia
ser uma... Amo todas (Flor do Campo).
[...] na construção da tela teve também a participação dela, tem aqui o
jeitinho dela [...] (Rosa).
[...] Eu gostei muito porque a gente sozinha não constrói, tem que ter uma
colega pra ajudar... Eu gostei muito (Prímula).
[...] Pra mim foi ótimo, foi um dos melhores dias de todos os momentos
maravilhosos que eu passo aqui, hoje foi um dos melhores dias, que essa
convivência assim com amigas... Foi uma terapia maravilhosa [...] (Tulipa).
Os relatos reforçam a temática inicial da vivência e tornase evidente nos
discursos a importância do vínculo positivo e sua influência direta na autoconcepção enquanto
83
sujeito e sua percepção na importância para com o outro, bem como no processo de interação
com o meio.
A atividade expressiva contemplou e concretizou a afetividade e possibilitou o
grupo, através do seting terapêutico, tornála presente por meio da arte.
De Pádua (2003) descreve que o fazer em grupo pode facilitar e até mesmo
transformar o fazer, podendo ter características terapêuticas. Dessa maneira, todos os
elementos relacionados com o fazer, bem como a relação que se estabelece ao longo do
processo terapêutico ocupacional são de fundamental importância.
Fernandes (2003) refere que o dispositivo grupo é privilegiado para observar a
comunicação, pois é por meio do "olho no olho" que se pode captar os gestos, os olhares, a
voz e os contatos ou as distâncias especiais, que indicam a experiência emocional do
momento.
Segundo Ribeiro (1994), o grupo oferece uma reação de espelho múltipla, onde
cada um pode verse espelhado no outro de uma maneira sistemática e sempre persiste.
Construindo vínculos
e fazendo arte
Fortalecimento de
vínculos
5.2.6 Arte e sentimentos
A) Características:
Grupo composto por 13 componentes onde foi trabalhado a expressão corporal,
verbal e artística dos sentimentos adoecidos, levando a uma reflexão e à busca da
transformação dos mesmos. A vivência foi significativa e o grupo teve um bom
aproveitamento terapêutico. Iniciando às 9:00h e finalizando às 11:40 h.
84
B) Impressões iniciais:
A paciente JCS estava bastante ansiosa e chorosa devida a uma discussão com seu
genro, necessitando de atenção inicial; além dela, a paciente Margarida também demonstrou
aflição devido à preocupação com o filho, por este estar bebendo muito, merecendo também
atenção inicial do grupo.
C) Sessão propriamente dita:
Esta sessão foi extensa e dividida em quatro etapas:
1ª etapa: Atividade corporal onde foi utilizada a contração e o relaxamento global
estimulando a percepção de sentimentos negativos.
2ª etapa: Descarga de energia e sentimentos através de movimentos corporais e
papéis (onde as pacientes puderam rasgar, amassar, jogar etc.). As pacientes empenharamse
bastante neste momento, algumas cansaram devido à intensidade dos movimentos. Margarida,
Lírio e Camélia choraram.
3ª etapa: Expressão através de pintura em tela utilizando as mãos, procurando
transmitir esses sentimentos. Momento muito prazeroso para o grupo.
4ª etapa: Verbalização da vivência. Percebeuse que até as pacientes mais caladas,
verbalizaram com mais facilidade.
As participantes foram bastante receptivas à atividade proposta, demonstrando
prazer ao realizála.
Figura 6. Arte e sentimentos
85
Tomada de consciência dos sentimentos
[...] Eu tive muita raiva durante os trinta e seis anos de casada que eu tenho
eu já passei muita raiva, muita raiva mesmo... eu sinto muita agitação no
meu organismo, isso me prejudica muito... choro, choro muito [...]
(Prímula).
[...] Eu tento aceitar tudo e ser perfeita, e é isso que vem me adoecendo... eu
choro, dói o corpo, cabeça , estômago [...] (Orquídea).
[...] Meu sentimento não é de ter raiva... ele é mais calmo, só que o modo
deu agir eu só faço é chorar. Eu guardo tudo pra mim e isso me prejudica
[...] (Dália).
Através dos discursos podemos associar a interferência direta do modelo de
concepção de vida e valores que estas mulheres sofreram ao longo do processo de
internalização e suas respostas através de atuação como atrizes sociais e familiares. De certa
forma, suas posturas de passividade já estavam tão arraigadas que elas não se deram conta de
que era este comportamento que fomentava o processo de adoecimento.
A tomada de consciência de seus sentimentos possibilitará a retomada do real e de
seus desejos, pensamentos e atuação do mesmo. Desenvolvidas através do autoconhecimento,
autonomia e autoestima, favorecerão, finalmente, mudanças de atitudes e melhoras em seus
quadros clínicos.
Segundo Kneller (1997), para que se realize como pessoa criadora, devese abrir
se ao mundo. Devese confrontar com as coisas na plenitude de seu ser.
Rogers (1977) afirma que qualquer forma de terapia pode ser vista como um
processo que interfere na percepção da realidade. Todo indivíduo, em cada momento, constrói
a sua imagem do real para si mesmo e para as situações que vive. O processo terapêutico deve
leválo a conceituar o mundo e /ou ele mesmo de um modo que lhe satisfaça.
De acordo com Ponciano (1994), no processo grupal, a cura ocorre ou pode
ocorrer à razão em que, vendo a dor, o conflito do outro, abro silenciosamente o meu ser para
acolher minha angústia, meus medos, e, sem que ninguém saiba, sem julgamento, no meu
ritmo, posso operar minhas mudanças.
86
Catarse emocional
[...] Na terapia eu botei meus estresses para fora, eu tava estressada com o
meu marido... Joguei meu estresse naqueles papeizinhos, eu fiz de conta que
tava tomando banho..eu to leve. (Amor Perfeito).
[...] Hoje aqui foi bem, que eu consegui tirar o que tava dentro de mim,
agora to bem aliviada, passei tudinho quando eu tava ali no jornal e no
quadro me aliviou, eu tava muito pesada, aí eu coloquei o sentimento de
raiva, muita raiva, eu tava me sentindo muito presa. (Margarida).
[...] Eu tive a oportunidade de tirar um pouco dos meus sentimentos
negativos... quando eu tava pintando eu botei na tela a tinta com as mãos e
pensei que tava tirando os sentimentos negativos.(Prímula).
O comentário a respeito da vivência mostranos as possibilidades encontradas por
essas mulheres de liberar o estresse e, acima de tudo, aliviar a angústia e sentimentos
negativos já impregnados. A atividade corporal e pintura livre serviram como agentes
desencadeantes e abriram a conexão permitindo que os sentimentos internos de leveza,
limpeza, alívio, entre outros.
Segundo Lowen (1984) a autoexpressão, como a manifestação explícita da
individualidade, corresponde à autoconsciência e a autopercepção, que representam os mais
íntimos aspectos psíquicos da existência individual.
Fernandes (2003) define como expressão de exprimir, ou seja, de compor um
dado atual que corresponda analogamente a um dado ausente ou escondido. Reforça ainda que
é preciso usar a expressão. Ela é vista como a manifestação exterior do pensamento e dos
estados psíquicos.
Coutinho (1995) parte de pressuposto de que na atividade expressiva os
pensamentos e sentimentos do homem exprimemse mais facilmente em imagens do que em
palavras e de que o inconsciente é revelado por meio de projeção das imagens espontâneas em
expressão gráfica e plástica.
Reformulação de sentimentos
[...] a gente por muito tempo tem raiva e chora, porque eu passei muitos anos
da minha vida, raiva que eu sentia e meu sentimento era só choro, depois
que eu to aqui eu não expresso mais desse modo de chorar, quando eu fico
estressada eu falo logo... é a minha maneira de desabafar e não choro.
(Tulipa)
gente expressou raiva e transformou numa arte tão bela, assim pode passar
para minha vida também. (Orquídea).
[...] Pra mim essa arte, essa tela parece um caminho, um labirinto, aí foi
colocado vários sentimentos de paixões, sonhos de depressão ou de
saudade... Ta lindo, lindo... e na vida a gente pode fazer assim , deixar tudo
bonito também. (Vanília).
Os discursos demonstram a satisfação dos componentes em conseguir concretizar
seus sentimentos. A atividade expressiva possibilita esse processo, onde se busca ativar os
sentimentos e estes se materializam. A conscientização do que se observa no produto final,
também é reinteriorizada, contudo o mecanismo ocorre de forma diferenciada, sendo mais
positivo, pois é resultado da função inicial do que eu sinto e apresento ao meio, esse material
possibilita que se observem os sentimentos, reformulando e transformandose nas relações de
cotidiano.
Segundo Ponciano (1994), o entrar conscientemente nas possibilidades da própria
fraqueza conduz o indivíduo e o grupo a repensar continuamente o seu próprio caminho de
dor, de abandono, e a procurar soluções aceitáveis.
Coutinho (1995) refere que as atividades possibilitam ao indivíduo explorar a
natureza de seus interesses, necessidades, capacidades e limitações; desenvolver ou recuperar
uma série de atitudes sociais e interpessoais, componentes esses necessários para o manejo
dos elementos de seu meio ambiente.
Rogers (1977) afirma que o processo de mudanças na percepção é contínuo no
desenvolvimento humano, mas referese com freqüência a idéias ou sentimentos que o
indivíduo reluta em admitir.
Alívio dos sintomas
[...] Assim meu estresse que eu sou assim um pouco angustiada, tipo
estressada, ai eu expressei na pintura com as mãos aliviei mais. (Tulipa).
[...] Nessa arte tentei passar esse momento de alegria, que eu esqueci raiva,
esqueci angústia, só fiquei sorrindo, e aliviou muito que até uma dor no
pescoço foi embora. (Camélia).
[...] Eu fazendo a pintura eu senti um alívio na minha cabeça, pensei que
tava pintando um quadro, pensei na minha vida. (Dália).
[...] Me deu vontade de só pintar, pintar, pintar, aí eu fui relaxando.
(Jasmim).
88
Os registros mostraram um dos momentos mais terapêuticos do grupo onde é
comprovada a eficácia do processo grupal. A arte canalizou o estresse, a tensão e os
sentimentos negativos, que por sua vez estavam representados na sintomatologia corporal,
emocional e psíquica. Desse modo, a catarse proporcionou o alívio dos sintomas.
Este momento foi de suma importância, pois o grupo experimentou a diminuição
dos sintomas, através da sua ação própria, acontecendo contrariamente ao habitual, ou seja, a
forma passiva de aliviar os sintomas em conseqüência do paliativo farmacológico. A primeira
experiência é, sem dúvida, a mais significativa, e faz com que essas mulheres tomem
consciência do seu poder de transformação.
De Pádua (2003) refere que em Terapia Ocupacional um grupo de atividade pode
ser definido como aquele em que os participantes se reúnem na presença do terapeuta
ocupacional, para vivenciar experiências relacionadas ao fazer, onde o objetivo é o tratamento
e tudo que ele implica.
Fernandes (2003) enfatiza a necessidade de usar técnicas em que o ser humano
possa expressar a angústia, sem mesmo perceber o que vem fazendo. Trazer seus aspectos
inconscientes à flor da pele para que possam ser interpretados e melhor compreendidos.
Segundo Brito (2001) a terapia ocupacional, tem como objetivo de atenção o ato
humano específico. Sua preocupação é tirar a doença ou aproximar o indivíduo do padrão
normal. A atividade é como um remédio a ser prescrito pelo profissional.
89
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
positiva do processo terapêutico no seu cotidiano, bem como as recordações das vivências que
transcendiam o setting terapêutico e estendiamse até suas rotinas diárias, possibilitou a
observação do real benefício, na qual as pacientes passaram a utilizarse do espaço terapêutico
para encontrarem mecanismos de ações próprias para solucionar os conflitos, substituindo,
por meio dessas mudanças, o uso de Diazepan. Dessa forma, haveria, nessa interação
terapeuta/grupo/pacientes, a construção do papel do grupo em suas vidas, associando as
melhorias significativas dos sintomas após ingresso no grupo.
Podemos pontuar entre os benefícios detectados no grupo, a percepção de
potencialidades e autoestima, a reformulação de vínculos afetivos, o alívio dos sintomas, a
descoberta simbólica do potencial transformador, a reformulação de projeto de vida, o
fortalecimento pessoal e grupal, a melhoria na qualidade de vida, dentre outros.
Cabe aqui ressaltar a importância da afetividade para a evolução grupal, sendo esse
um potente dispositivo terapêutico, estando presente em praticamente todos os momentos das
vivências, tais como catarse emocional, construção de vínculos através da escuta e da fala,
tomada de consciência dos sentimentos e busca da transformação dos mesmos, acolhimento e
suporte afetivo mútuo, possibilitando a capacidade de doar e receber apoio.
Evidenciouse uma sensação de prazer e contentamento a cada evolução, tornando
o grupo bastante afetivo e acolhedor, permitindo uma troca de conhecimentos de vida,
experiência e amadurecimento mútuo, de grande valia, não só pelo conhecimento científico da
pesquisadora, mais do que isso, foi uma experiência de vida que possibilitou uma nova
perspectiva como pessoa e cidadã.
É necessária uma sensibilização em relação aos órgãos públicos no intuito de
direcionar o atendimento no nível de prevenção, uma vez que a ansiedade pode ser
inicialmente considerada um transtorno leve, fazendo parte da atenção primária, sendo
inadiável também a coresponsabilidade do Programa de Saúde da Família no que diz respeito
à saúde mental.
Existe ainda, em Maracanaú, uma necessidade urgente de se criar um programa de
saúde mental que busque ampliar a rede que se volta a esse tipo de atenção, abrindo um
espaço para que possamos destacar a importância do atendimento grupal, principalmente nos
casos leves de ansiedade que abrangem um grande público feminino. O atendimento de saúde
mental para mulheres, quando realizado em grupo, viabiliza as possibilidades de evolução,
evita o agravamento dos sintomas, potencializa a ação do sujeito de autoajuda e colaboração
mútua, além de funcionar como uma alternativa que previne o uso dos benzodiazepínicos.
91
Observamos, nos relatos das pacientes ao ingressarem no CAPS, que muito
poderia ser feito para evitar o agravamento dos sintomas ou ainda o desenvolvimento destes.
Uma alternativa seria a simples escuta dos conflitos: muitas se queixam de que não há
envolvimento da própria equipe do PSF, outra abordagem séria, formação de grupos de
aconselhamento e orientação como alternativa diferenciada que evitasse o uso dos
benzodiazepinicos. Ela comportaria, ainda, num aspecto mais amplo, ações comunitárias,
identificando os problemas locais e criando articulações que mobilizassem a modificação
destes, vislumbrando a saúde, não só pelo funcionamento orgânico adequado e sim pelo
conjunto biopsicosocial.
Acreditase, com o término dessa pesquisa, que existe a possibilidade de acelerar o
processo de mudança na concepção da imagem feminina, essa já existe, mas ainda em passos
lentos, mesmo assim é inconcebível que a mulher menos favorecida seja desprovida de
condições mínimas de vida, ou subsista em circunstâncias de humilhação, sendo
progressivamente castrada na sua existência humana, afetiva e psíquica. Apesar de existirem
circunstâncias sociais e econômicas precárias em grande parte do nosso país, há ainda, de
gravidade equivalente, uma estigmatização da mulher, agredindoa, vitimandoa, adoecendo
a. Diante dessa realidade, nós como profissionais de saúde temos a responsabilidade de
intervir, pois a saúde não se faz á parte do social e cultural. No abraço da jornada contra o
preconceito e a discriminação, fazse necessário a criação de novas pesquisas que subsidiem o
conhecimento e as ações em busca de um novo fazer cultural.
92
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95
ANEXOS
96
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – TCLE
Prezada Senhora:
Sou Terapeuta Ocupacional e aluna do curso de especialização em saúde mental da
Escola de Saúde da Família Visconde de Sabóia, na cidade de Sobral, estado do Ceará.
Pretendo, aqui no CAPS de Maracanaú, desenvolver um estudo para avaliar os atendimentos
nos grupos terapêuticos em relação a sua eficiência e validade, cujo título é: “Grupo como
dispositivo na vida, arte e expressão de mulheres com transtorno de ansiedade”.
Neste sentido, estou solicitando a sua colaboração na participação da pesquisa
respondendo a uma entrevista que será utilizada através de técnicas em grupo focal. Esclareço
que a abordagem através do grupo focal tratase de um processo de entrevista feito a partir de
questionamentos correspondentes ao assunto da pesquisa que são aplicados e respondidos
durante as sessões do processo grupal, contendo questões de avaliação da situação pessoal
anterior ao ingresso no grupo, o processo grupal e terapêutico em si e as repercussões do
mesmo na sua qualidade de vida e cotidiano.
Nesta entrevista conversaremos sobre vários assuntos, como por exemplo,
a cidade na qual a senhora mora; se é casada; se estudou; se tem filhos; com quem mora;
motivos que causaram o transtorno de ansiedade; história de vida passada e atual; seus
relacionamentos na vida familiar, social e profissional; comprometimento pessoal em relação
ao transtorno; fatores persistentes no transtorno; medicamentos utilizados; seu ingresso neste
grupo e participação no mesmo; efeitos e contribuições do grupo em sua vida. Assim, esta
entrevista pode durar até uma hora e, para que não seja perdido nenhum dado que a senhora
falar, também peço sua autorização para gravála. Também peço permissão para registrar
dados de seu prontuário do CAPS.
Gostaria de deixar claro à senhora que essas informações são sigilosas, não as repassarei
para ninguém e, principalmente, o seu nome não será em nenhum momento divulgado. Caso
se sinta constrangida e envergonhada durante esta nossa entrevista, a senhora tem o direito de
pedir para interrompêla sem causar qualquer mudança em seu atendimento. Mesmo se não
aceitar participar do estudo, a senhora será atendida normalmente aqui no CAPS de
Maracanaú.
Os dados obtidos nesta entrevista serão de grande importância e farão parte do meu
trabalho de conclusão da especialização em saúde mental, sempre respeitando o caráter
confidencial do seu nome. Pretendo com esta pesquisa obter informações mais apuradas a
respeito dos aspectos sociais, sua correlação com o transtorno de ansiedade e a contribuição
do grupo aos mesmos.
Informo ainda que:
· Mesmo tendo aceitado participar, se por qualquer motivo, durante o andamento da
pesquisa, resolver desistir, tem toda a liberdade para retirar o seu consentimento.
· Sua colaboração e participação poderão trazer benefícios para o desenvolvimento da
ciência e para a melhoria da assistência nos atendimentos e abordagens grupais a
mulheres com transtorno de ansiedade.
· Responder a esta entrevista não trará nenhum risco para você, entretanto caso se
sinta constrangida em responder alguma pergunta, interromperemos a mesma.
· Estarei disponível diariamente para qualquer outro esclarecimento no CAPS de
Maracanaú.
97
Caso queira reclamar sobre este trabalho, poderá dirigirse pessoalmente à coordenação
do CAPS, ou fazêlo por escrito e entregar na sala da coordenação. Em face a estes motivos,
gostaria muito de contar com a sua colaboração.
Atenciosamente,
Perla Madalena Soares Beserra
Terapeuta Ocupacional
CREFITO 6246 TO
Consentimento pósinformado
Declaro que tomei consentimento do estudo que pretende avaliar os efeitos e
contribuição do grupo nas mulheres com transtorno de ansiedade no município de Maracanaú,
cujo título é: “Grupo como dispositivo na vida, arte e expressão de mulheres com transtorno
de ansiedade” realizado pela pesquisadora Perla Madalena Soares Beserra, compreendi seus
propósitos, concordo em participar da pesquisa, não me oponho à gravação da entrevista e à
pesquisa em meu prontuário e também que, em qualquer momento, posso retirar o meu
consentimento em participar da referida pesquisa.
Maracanaú, _____ de _________________ de 2006.
____________________________________________
Assinatura do paciente
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ROTEIRO DE PESQUISA DO PRONTUÁRIO
1. Assiduidade na consulta.
2. Tempo de interconsultas.
3. Relatos sobre efeitos da medicação, posologia, crises de ansiedade, capacidade de
contornar situações ou necessidade de aumento de doses.
4. Queixas diversas.
5. Relato de evoluções e referências ao grupo.
6. Monitorização de doses.