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Culture Documents
Ativismo
do
design
ou
design
do
ativismo?
Leonardo
Dias
de
Souza
Design
Ativismo
Culture
Jamming
Manifestos
Não‐conformismo
First
Things
First
Pós‐modernidade
Sociedade
Espetáculo
Universidade Federal do Rio de Janeiro
1
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
ESCOLA DE BELAS ARTES
CURSO DE DESENHO INDUSTRIAL
ATIVISMO DO DESIGN OU DESIGN DO ATIVISMO?
RIO DE JANEIRO
2010
2
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
ESCOLA DE BELAS ARTES
CURSO DE DESENHO INDUSTRIAL
ATIVISMO DO DESIGN OU DESIGN DO ATIVISMO?
como exigência parcial para obtenção do grau de Bacharel em Desenho
Industrial, sob orientação do professor Celso Guimarães.
RIO DE JANEIRO
2010
3
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
ESCOLA DE BELAS ARTES
CURSO DE DESENHO INDUSTRIAL
A monografia Design do ativismo ou ativismo do design?
e aprovado por todos os membros da Banca Examinadora foi aceita pela
Escola de Belas Artes/ Curso de Desenho Industrial/ habilitação em
programação visual, como requisito parcial para à obtenção do titulo de
BACHAREL EM COMUNICAÇÃO VISUAL.
Data:
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
4
Resumo
Essa monografia explora o percurso para a manifestação de um design de
caráter mais social e politicamente engajado assim como analisa como toda uma
cultura nesse sentido foi se desenvolvendo ao longo da história do design, do
surgimento de manifestos contra sua predileção pelo marketing aos movimentos
visuais de ataque a cultura do consumo. Seu objetivo é então compreender as
dificuldades e os limites, bem como entender as contribuições de formas
alternativas de comunicação visual.
Consumo; Mídia, Pro Bono.
5
Sumário
Introdução
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6
I)
O
que
significa
ser
designer
na
cultura
global
de
consumo.
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9
II)
Idealismo
e
Ativismo
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16
III)
New
Wave
e
Pós
modernidade
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19
Conclusão
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.31
Anexos:
Manifesto
First
Things
First
1964
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.36
Cartazes
Good
50x70
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.38
Manifesto
First
Things
First
2000.
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44
Bibliografia.
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.46
Trabalho
Prático.
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.48
6
Introdução
Esse trabalho pretende analisar as diferentes formas de comunicação gráfica
não orientadas ao mercado. Vertentes essas que, dessa forma, se manifestam de
diferentes maneiras: da preocupação social ao ativismo político. Para isso o método
de trabalho foi a análise da prática do design entre a modernidade e a pós
modernidade em seus momentos mais significativos e, partindo da relação entre a
dessa forma de design devotado ao apoio de causas.
Sendo assim, a ênfase dessa pesquisa é colocada sobre a reflexão acerca da
responsabilidade social no design, de como essa foi por muito tempo uma questão
secundária, tanto que apenas no século XXI começa a ser tratada mais seriamente.
Dessa maneira no primeiro capítulo apresenta‐se o manifesto First Things First de
mil novecentos e sessenta e quatro, porque representa uma primeira busca por uma
auto‐reflexão mais crítica. Esses profissionais ao avaliarem que o grosso do
investimento de seu potencial criativo estava indo para a publicidade então se
questionavam: “Será essa a única finalidade imaginável para o uso do meu talento?”
É claro que isso evoca um conteúdo de ética pessoal mas, ao mesmo tempo, não
deixa de transparecer uma clara crítica ao viés mercadológico profissional. Também
no primeiro capítulo observamos que essa proposta pode ser analisada como algo
típico da modernidade: a não acomodação do espírito, o se indagar sobre um dilema
para o qual a solução não se apresenta de forma tão imediata. Motivo pelo qual
buscou‐se essa noção de modernidade desenvolvida nas reflexões do pensador
Marshall Berman e nos apontamentos do teórico da comunicação de massa Marshall
McLuhan,
através
de
suas
noções
de
aldeia
global,
ou
seja,
do
acontecimento
vivido
7
como uma experiência coletiva com a revolução dos meios de comunicação. E é
importante ressaltar que essa teoria ganhou ainda mais força com a realização da
Internet e sua importância atual enquanto canal de mídia. Uma idéia dessa
necessidade de ativismo globalizado é o projeto sem fins lucrativos Good 50x70.
Enfim, nessa primeira unidade também discute‐se a pouca abertura nos canais
independentes, muitas desenvolvidas por meio de auto‐encargo.
procurar um sentido diferenciado e humanista para a sua prática. Para tentar
entender essa questão foi realizada uma investigação nas bases desse pensamento
seguindo a metodologia de Marshall Berman, a partir da interpretação de autores
sustentavam visões abertas e não polarizadas em relação aos tempos modernos.
Isso se fez necessário para que não se caísse no lugar comum do idealismo, ou seja,
responsabilidade social em termos meramente ideológicos.
largamente difundido nos últimos anos a partir da estética pós moderna, pode estar
influenciando o interesse que vêm ganhando o design social. O que significa que a
experimentalismo, válida por representar um design mais autoral converteu‐se em
uma tendência. Enquanto isso outras formas de trabalhar conceitos e expressão
caso do culture jamming. Ele ascendeu em um período de desencanto do público em
relação
a
expansão
de
um
mercado
de
marcas
para
a
qual
não
haviam
freios
éticos,
8
no que talvez pode ter sido mais um passo no sentido do desgaste do atual modelo
econômico. Para um melhor entendimento dessas mudanças, foi importante ter
contato com as idéias críticas encontradas no texto de Naomi Klein, Baudrillard e
Guy Debord. A retomada de um espírito crítico também ressoou no design através
da idéia de revisão de prioridades presente na reedição do manifesto First Things
First em uma versão adaptada ao século XXI. Esse debate resultou em polêmica que,
como veremos ao longo do trabalho, pôde ser observada por diferentes pontos de
vista: uns afirmam ser essencial uma reorientação de esforços para o social em
trabalhos como sinalização pública, ou em outros no qual prevaleça o bem comum,
outros defendem uma comunicação de cunho mais ferrenhamente crítico, para com
isso levar as pessoas uma idéia nova, outros ainda insistem em afirmar que não há
necessidade do designer se associar a questões políticas justamente por política não
ser um problema de design.
Enfim para melhor ilustrar a questão, alguns exemplos concretos do design
político e socialmente engajado são encontrados em casos como o do já mencionado
manifesto First Things First e em iniciativas pioneiras como parece ser o caso o
escritório Inkahoots assim como na conseqüente reorientação de direção que tal
fenômeno pressupõe, um papel mais autoral no design. Designers nesse caso
desenvolvem suas atividades mais como coordenadores do trabalho do que como
desenvolvimento do conceito desde a base. Para estudar a questão e em uma
elaborados cartazes que expressam o conteúdo do trabalho, trazendo uma visão
particular sobre a questão da violência policial no Brasil.
9
I O que significa ser designer na cultura global de consumo?
O design começa a enfrentar questões pertinentes a sua área de atuação que
são constantemente colocadas pelo ritmo de transformação da dimensão social na
qual atua. É o que o filósofo Marshall Berman chama de experiência da
modernidade: se ver em meio a um incessante caos, transformador de idéias, de
ambientes, de estruturas sociais, que convidam o cidadão a continuamente repensar
sua realidade objetiva:
continuamente tem se permitido o seguinte questionamento: como conciliar prática
interesse público? Veremos que diante dela modernos designers tem desenvolvido
diferentes tipos de opiniões e abordagens e, o que não deixa de ser intrigante,
verificar que essa é uma preocupação que desde algum tempo passa pelo
pensamento de alguns profissionais. Assim podemos constatar que desde os anos
sessenta, designers demonstram o ímpeto de assumir um posicionamento ativo no
cerne das contradições de sua época, ainda que isso signifique se posicionar contra
First1 . De autoria do designer Ken Garland e publicado em Londres no ano de mil
1
anexo
I
10
novecentos e sessenta e quatro pelo jornal The Guardian2, sua idéia principal é
explicitada através de seu título. Contando com o apoio de um significativo grupo de
designers gráficos e artistas da época, propunha uma reflexão crítica aos valores
que designers vinham edificando com suas práticas, questionando o grau de
comprometimento com a cultura do marketing e em contrapartida defendiam uma
prática que contribuísse com trabalhos mais releveantes para a sociedade, em áreas
diversas como cultura, educação e sinalização pública. Como Raquel Pelta observa:
“O
manifesto
estabelecia
uma
linha
de
separação
entre
o
design
enquanto
comunicação
e
design
enquanto
persuasão
(PELTA,
2004,
p.
71):
como
assinalou
o
designer
britânico
Jock
Kinneir:
Os
designers
orientados
nesta
direção
estão
menos
preocupados
com
a
persuasão
e
mais
com
a
informação,
menos
com
a
categoria
econômica
e
mais
com
a
fisiologia,
menos
com
o
gosto
e
mais
com
a
eficiência,
menos
com
a
moda
e
mais
com
a
comodidade.
Estão
interessados
em
ajudar
as
pessoas
a
encontrar
seu
caminho,
em
compreender
o
que
necessitam,
em
entender
novos
processos
e
em
usar
os
instrumentos
e
máquinas
mais
facilmente.”
(KINNEIR
apud
PELTA,
2004,
p.
71)
Como veremos mais adiante as idéias desse manifesto foram resgatadas para a
atualidade do século XXI, e em um ensaio para a versão online da revista eye, o
designer Andrew Howard acrescenta:
“O
que
torna
o
manifesto
interessante
atualmente
é
a
percepção
de
que
suas
premissas
parecem
tão
radicais
hoje
quanto
foram
há
trinta
anos
atrás.”3
Podemos ainda deduzir do texto daquele manifesto a dualidade característica dos
político/ideológicos por um lado e por outro a intensa euforia econômico/industrial
alimentadas pela promessa de uma nova era de revoluções tecno‐científicas, do
desenvolvimento da indústria química, farmacêutica ou mesmo do desenvolvimento
de
uma
mídia
de
massa
nascente.
Assim
se
percebe
pois
o
manifesto
assume
de
2
GARLAND,
Ken.
KG
published
writing:
first
things
first,
site
visitado
em
16/10/09,
<www.kengarland.co.uk>.
3
HOWARD,
Andrew.
Eye/
feature:
there
is
such
thing
as
society,
site
visitado
em
20/10/09,
<www.eyemagazine.com/feature.php?id=42&fid=53>.
11
início um tom severamente crítico ao apontar o quanto o design se encontra
norteado por uma diretriz considerada superficial, no entanto, encerra a discussão
em um tom sensivelmente mais brando. O fato dessas idéias terem sido editadas
por um jornal voltado a determinada faixa de público pode ser uma possível razão
para isso (parece prudente se reconhecermos seu teor anti‐mercado). Em casos
como esse, podemos constatar que atualmente a Internet tem se revelado uma
alternativa mais propícia, pois oferece a possibilidade de se produzir mídia de
forma autônoma. Como disse Jello Biafra, ativista político e ex músico da cena punk:
“Não odeie a mídia, torne‐se a mídia.” (BIAFRA J., 2000)
É significativo nesse sentido que o cyber‐espaço se mostre também uma via
dinâmica para o acesso a essas idéias, pois muitas vezes o visitante de uma página
na rede é convidado a interação, o que gera uma mentalidade pró‐ativa e uma gama
ampla de diferentes opiniões. É por meio da Internet também que desde então
tivemos nossa consciência em constante estado de aguçamento, através de seu
problemas que, tanto direto quanto indiretamente, envolvem nossa vida cotidiana.
Dentro desse fluxo, o design de mensagens não comerciais pode encontrar uma
passagem para atingir seu público. Segundo assinala Raquel Pelta:
“
...
designers
recorrem
ao
auto
encargo
para
expressar
o
que
pensam
e
sentem
sobre
determinadas
situações
e,
portanto,
para
oferecer
uma
via
alternativa
aos
meios
de
comunicação
os
quais,
dado
o
conteúdo
inconformista
de
suas
mensagens,
teriam
difícil
acesso.
E
assim
protestam,
denunciam
e/ou
chamam
a
ação,
porque
entendem
que
o
design
é
uma
ferramenta
poderosa
que,
ao
mesmo
tempo
que
pode
persuadir
as
pessoas
a
comprar
tal
ou
qual
produto,
pode
mobilizar
sua
consciência.”
(PELTA,
2004,
p.
60)
Podemos oferecer como exemplo de tais tipos de proposta o projeto Good 50x704,
4
VOLPE,
Pasqualle
&
MINNETTI,
Tommaso.
Good
60x70
another
year
older
a
little
bit
wiser,
site
visitado
em
08/09/09,
<www.socialdesignblog.org/2009/03/good‐50x70/>
12
um coletivo de designers supranacional, organizado de forma independente, para o
desenvolvimento de mensagens que buscam a conscientização pública para grandes
global, o trabalho infantil, a tortura de presos políticos. Seus realizadores almejam
com esse tipo de empreitada incentivar artistas e designers a reorientar seu talento
criativo para um tipo de comunicação mais humanista. O desafio para essas
organizações pro bono se inicia pela dificuldade para o seu financiamento
exatamente por não ser um tipo de atividade destinada a um fim lucrativo.
criatividade de seus entusiastas possibilitam a superação. O projeto em questão se
realiza na forma de um concurso de cartazes via internet, onde procura‐se
governamentais como o Greenpeace, a Anistia Internacional e a WWF, organizações
que endossam o projeto. Essa forma de experiência contribui para mobilização e
questão a partir de diferentes pontos de vista culturais5.
Segundo a concepção do teórico da mídia de massa Marshall McLuhan para
primordial presente em estruturas tribais que com a integração do mundo da era da
informação parecia estar retornando:
“Esse
sentimento
é
um
aspecto
da
nova
cultura
de
massa
em
que
começamos
a
entrar
–
um
mundo
de
comprometimento
total
no
qual
todos
estão
tão
profundamente
integrados
com
todos
os
outros
e
no
qual
ninguém
pode
imaginar
o
que
possa
ser
culpa
individual...”
(MCLUHAN,
1982,p.
89)
5
Para
exemplos
de
cartazes
ver
anexo
II
13
Baseando‐se nesse pensamento e refletindo que se os meios de comunicação
de massa criaram um público expectador, por sua vez a idéia de uma rede mundial
integrando idéias e pessoas de diversas partes do planeta talvez possa ter
contribuído para um novo tipo de consciência crítica. Por outro lado outros
pensadores sustentam uma postura crítica ao que chamam de fluxo desordenado e
excessivo de informação, como é o exemplo da agressiva citação ao próprio
McLuhan na seguinte passagem de “a sociedade do espetáculo” do ensaísta francês
Guy Debord:
Em todo caso esse aguçamento constante tem o mérito de nos revelar um
moderno e caloroso embate ideológico que em nada corrobora com a idéia de
equilíbrio consolidado pelo triunfo do capitalismo, de hegemonia das instituições
ocidentais em um mundo pós guerra fria. Segundo conclui Jair Ferreira dos Santos
baseando‐se no pensamento de Deleuze e Guattari:
“...
a
contestação
ao
sistema
no
mundo
pós‐moderno
já
não
parte
de
uma
forma
tradicional
se
articulando
em
torno
de
um
eixo
formal,
como
a
massa
organizada
em
Partido
ou
Sindicato,
mas
se
apresenta
na
forma
de
um
Anti‐
Édipo:
o
sujeito
que
desprendido
do
constrangimento
do
racionalismo
capitalista
libera
livremente
suas
pulsações.
Como
países,
burocracias,
Estados,
empresas,
Sindicatos
e
Partido
se
apresentam
enquanto
formas
de
atuação
desse
constrangimento
a
única
forma
de
se
libertar
é
a
Revolução
Molecular:
onde
se
desmantela
o
Sistema
fazendo‐o
sucumbir
no
banco,
na
aula,
na
empresa,
no
trânsito,
através
da
anarquia,
evitando‐se
unidades
maiores,
normas
e
lideranças.”
(SANTOS,
J.
F.
,
pp.
81‐83)
establishment: de hackers aos insatisfeitos com os rumos da sociedade global, das
minorias que lutam por maior representatividade, a organizações específicas como
o
EZLN
(Exército
Zapatista
de
Libertação
Nacional),
passando
pelas
manifestações
14
nações como o fórum econômico mundial, fórum comercial mundial e o G8.
Outro aspecto da era da informação previsto por McLuhan era de que para que
se perceba melhor o novo ambiente é menos interessante já se encontrar
condicionado pelos velhos meios do que ser um anti‐social como o detetive, o
artista ou o poeta, devido a sua percepção mais aguçada e por sua capacidade de
ver os meios ambientes como eles realmente são. Parece ser o caso de se incluir
nessa lista também o designer, por sua disciplina atuar diretamente na interface
entre comunicação e arte. Nesse sentido foi essencial o processo que vem ocorrendo
a cerca de pelo menos vinte cinco anos, no qual o designer se afirma mais como
autor que como um técnico, pra o qual um importante passo foi a entrada da
computação na profissão. Essa questão será desenvolvida mais adiante, por hora é
importante ressaltar que o designer autônomo pode investir em trabalhos mais
multidisciplinares, sem que as fronteiras entre as disciplinas estejam tão
delimitadas e isso talvez lhe proporcione um posicionamento destacado, um salvo‐
conduto para transitar entre os veículos de massa e os movimentos alternativos
relacionados acima que, quando não omitidos, são estereotipados pela mídia
então possam ter um canal de expressão para partilhar idéias, experiências e
organizar práticas conjuntas a Internet tem se revelado o meio ideal:
“Embora
muitos
tenham
observado
que
os
recentes
protestos
de
massa
teriam
sido
impossíveis
sem
a
internet,
o
que
foi
esquecido
é
como
a
tecnologia
da
comunicação
que
facilita
essas
campanhas
está
moldando
o
movimento
á
sua
própria
imagem.
Graças
à
net,
as
mobilizações
são
capazes
de
se
desdobrar
com
pouca
burocracia
e
hierarquia
mínima;
o
consenso
forçado
e
manifestos
elaborados
desaparecem
ao
fundo,
substituídos
por
uma
cultura
de
troca
de
informação
constante,
frouxamente
estruturada
e
às
vezes
compulsiva.”
(KLEIN,
2000,
p.
479)
15
O que ocorre é que desse ponto privilegiado se têm uma visão panorâmica,
possibilitando o distanciamento crítico, algo fundamental se o que se objetiva de
fato é uma perspectiva ética no lugar de reduzir a responsabilidade social em atos
de salvação pessoal. Através então dessa dualidade de sua prática, o designer dessa
forma tem um oportunidade efetiva de exercitar uma atividade mais politicamente
crítica da mensagem, e adotando papéis que antes haviam sido associados a arte e a
literatura.
16
II Idealismo e ativismo
A
prática
do
ativismo
contemporâneo
herdeiro
da
tendência
mais
radical
ainda traz a marca de um ideário de esquerda: alguns intelectuais trazendo a idéia
da revolução social à revelia da maioria, a massa que alienada não tem capacidade
por si mesma de transformar sua realidade. A filósofa Viviane Mosé expondo sobre
o pensamento de Nietzsche6 reflete sua crítica a esse tipo de postura polarizante:
“o
idealismo
representa
uma
espécie
de
niilismo
na
medida
em
que
o
idealista
quando
adota
valores
tão
elevados
refugia‐se
num
mundo
que
nega
a
realidade
que
o
cerca”.
(MOSÉ,
Viviane,
2009)
A análise da modernidade empreendida por Berman também aponta que esse
aspecto unidimensional é um reflexo das polarizações estanques do século XX pois,
se antes os modernos poetas, escritores, pensadores do séc. XIX traziam dentro de si
o caos, os antagonismos da vida cotidiana, se apresentando ao mesmo tempo como
entusiastas e inimigos da modernidade, a partir do século XX
A crença na santidade da arte já era observada com irônica desconfiança no
poema modernista “O Lodaçal de Macadame” de Baudelaire do ano de mil
oitocentos e sessenta e cinco (BERMAN, 1982, pp. 150‐155) no qual um homem
comum se surpreende ao encontrar um poeta em um bordel, e ao ser questionado
sobre o que um homem nobre como ele estava fazendo ali, o poeta então se explica
dizendo que vinha caminhando ao longo de um turbulento bulevar se esquivando
do
tráfego
quando
um
movimento
mais
brusco
o
fez
derrubar
no
lodaçal
da
rua
o
6
programa
café
filosófico:
Nietzsche
transmitido
em
29/03/2009.
17
halo que trazia sobre sua cabeça. Sendo indagado sobre o que faria a respeito, se
procuraria recuperar o halo, o artista se redescobre aliviado por não ter mais de
portar uma aura mítica e assim poder desfrutar os prazeres da vida como um
homem comum. Assim, se somos desafiados a navegar no caos, em suas incessantes
contradições, isso nos impele a estarmos em sintonia com sua dinâmica, adaptar‐
nos a suas ondulações não apenas para driblar seus perigos mas também para a eles
nos anteciparmos. Esse esforço treina a habilidade para estarmos atento às
mudanças abruptas. A perda do halo na verdade constitui uma declaração de ganho
para o intelectual, uma redestinação dos poderes para uma nova espécie de arte
independente, sem que precise trajar um venerável manto de santidade. Pela
sacralização da visão do intelectual/ artista na vida social é algo que traz
inquietação para os homens desde que se começou a formação da sociedade
moderna. Sob esse ponto de vista é interessante comparar essa leitura de “O
Lodaçal de Macadame” com uma outra leitura da perda do halo analisada por
Berman (BERMAN, 1982, pp. 112‐114) no manifesto do partido comunista, pois se a
primeira mostra uma perspectiva independente da atividade intelectual a partir de
sua dessacralização, a segunda parte do que os intelectuais consideram sagrado em
sua atividade e como isso os destaca dentro da sociedade. Essa interpretação do
manifesto do partido comunista revela por sua vez que o anseio do desejo
intelectual por uma sociedade ideal partilhada com seus semelhantes na realidade
reflete uma necessidade de autonomia, de uma aura emancipada do seu trabalho
que o distinga do proletariado comum. A chave para se ler essa passagem é a
ambigüidade que encerra o fato de que os modernos profissionais de arte, ciências
físicas
e
sociais
ainda
pretendam
preservar
uma
aura
imaculada
das
suas
18
atividades, embora sejam de fato assalariados do sistema capitalista como o
proletariado comum, lançados a classe trabalhadora pelas condições históricas que
os impelem ao trabalho. Os intelectuais então, se encontrando sob as mesmas
condições do proletariado, se vêem restritos a uma situação concreta: só realizam
suas atividades se encontram alguém munido de capital interessado em investir
nelas e, para que isso ocorra, devem necessariamente proporcionar uma
rentabilidade adicional, ou seja, seu trabalho de alguma forma deve colaborar para
o incremento do capital. Precisam vender suas idéias na arena do mercado de
forma que proporcione lucro ao capitalista e portanto devem apresentá‐las sob uma
ótica lucrativa. Competindo com outras mercadorias, o que decidirá o seu destino
mais do que qualquer valor, verdade ou beleza que suas idéias venham a conter
será as flutuações e vicissitudes do mercado. O designer tem o reconhecimento do
seu êxito associado a criação de imagens e o estímulo visual nos meios que são
essenciais para vender produtos, informação e entretenimento; por isso, através de
seu papel no mundo do consumo, cria e mantém a conexão simbólica entre as
estruturas de poder e nossa experiência da realidade. Na visão do designer
holandês Jan Van Toorn citado por Raquel Pelta não questionar esse papel implica...
“...
se
render
a
esse
setor
da
sociedade,
a
esse
que
porque
possui
todos
os
meios
de
sobrevivência,
manipula
o
design
em
seu
papel
de
estética
empresarial,
questioná‐lo
significa
criar
outras
narrativas
que
expressem
novos
valores
sociais.”
(TOORN
J.V.
apud
PELTA,
2004,
pp.
74‐75)
19
III New Wave Pós modernidade
Baseado nessa reivindicação de autonomia profissional, podemos enquadrar a
discussão sobre o propósito social no design como uma desejável nova pauta de
reflexões que se distanciasse dos corriqueiros temas da feiúra cool da estética pós
importante em todo caso reconhecer que as questões sobre estética e metodologia
que dominam a pauta dessas discussões contribuíram para construir a visão do
profissional autônomo, que projeta mas também é um teórico que pesquisa, publica
e empreende, para além do seu tradicional papel de técnico. Para sua consolidação
foi essencial ao trabalho do comunicador visual a incorporação de novos processos
autonomia, ou seja, mais liberdade para realizar alterações no curso do trabalho e
estabelecimento de novas abordagens profissionais.
Nesse sentido, o esforço ético pode ser conseqüente do desgaste da estética
visual devido ao seu massificado uso pelo marketing corporativo. Como a estética
apresentava apelo para o marketing. A saturação aconteceu na medida em que a
impulsionou a marca a um novo status que transcendia as preferências nacionais e
passava a ser significado de qualidade globalmente compartilhado (FIELL & FIELL,
2005, p. 30). É possível estabelecer o início desse processo nos anos oitenta, no
período
pós‐moderno.
Segundo
Jair
dos
Santos,
esse
período
representou
um
novo
20
tipo de comportamento, sua base foi um individualismo moldado ao consumo,
identificado com o hedonismo, a satisfação do prazer imediato e com o narcisismo e
o culto a glamorização da própria imagem. Diante disso o comportamento pessoal
passa ser regido por signos, ou seja, o padrão de consumo tornou‐se um meio para
se transmitir determinada informação. Podemos relacionar essa conduta por sua
vez a uma estratégia que começava a se firmar no marketing corporativo de busca
de intenso laço de envolvimento emocional com o consumidor. A pós‐modernidade
destaca‐se também por ser um período em que a tecnociência passa
tecnológicos para consumo de massa, produtos esses que não raro, apresentam
conseqüentemente um meio de estar “por dentro” do que realmente uma qualidade
de útil. Segundo Baudrillard (BAUDRILLARD, 1991, pp. 118‐119) o “gadget” que
pode ser traduzido como engenhoca, pode ser definido como o objeto que se devota
mais a uma função secundária, ao signo, a maneira de adquirir um estatuto
diferencial na sociedade de consumo, do que ao útil. Designers signatários do
manifesto de 1964 e também de sua nova versão alcançam essa questão ao afirmar
que o profissional de design consome sua capacidade criativa a elaborar mensagens
que ajudem a promover objetos que são essencialmente inúteis. É o objeto que
incorpora a técnica para criar novas funções. “A sujeição da técnica à arte de viver”
significa que a lógica sistemática dessa técnica tomou para si a totalidade cotidiana
radicalização dos efeitos dessa nova ordem do capitalismo global segundo a visão
de
filósofos
da
sociedade
de
consumo
como
Jean
Baudrillard
e
Guy
Debord
é
o
21
vislumbre sensível de uma sociedade na qual vemos elevada ao ápice essa inversão
espetacular da coisificação do social e da reificação da mercadoria, no qual os
social e a ascensão da indiferença. Para esses autores os produtos que concentram o
apelo de mercado na tecnologia desempenham o papel da mercadoria típica da
atual etapa de consolidação da sociedade pós industrial, onde se observa uma nova
espécie de individualismo da classe média. E nesse sentido, a idéia do pluralismo do
design pós moderno é valorizada pelo mercado como forma eficaz de atender a esse
individualismo.
No início dos anos noventa, através de elaborados leiautes de página de
anúncio ou na sua própria reinvenção enquanto conceito, segundo Naomi Klein
(KLEIN, 2000, p. 179), a marca alcança uma nova etapa: ela transcende a idéia de
marketing de bens específicos como roupas, calçados e se eleva ao status de
branding total. Sob essa nova orientação podem ser incluídas desde a nova relação
entre publicidade em eventos, onde a marca assumiu o papel principal ao caso mais
extremo em que a marca se converte em espaço privatizado no qual as pessoas
podem efetivamente morar, essa vem a ser a mais nova concepção em termos de
branding inaugurada pela Disney com a cidade celebration. Por outro lado como as
concentrar exclusivamente em marketing, ou seja, em conceitos e estratégias para
prestar uma dimensão emocional e sinestésica a uma abstração o que, afinal, é o que
uma marca é, o processo produtivo precisou ser “externalizado”: a linha de
produção nos países de origem é desativada e transferida para os países em
barata.
O
termo
sweatshop/compra
de
suor
foi
concebido
para
descrever
essa
22
modalidade de trabalho: em maior parte mão‐de‐obra composta por mulheres
jovens que precisam se submeter a trabalho extenuante. Qualquer forma de
sindicalização é severamente proibida e punida pelos empregadores, que para isso
valorizadas na peculiar linguagem do consumo quando se encontram associadas
através da marca à símbolos de poder, conquista, satisfação pessoal em um jogo de
projeção e reflexo de imagens, quando então recebem seu elevado preço. Segundo o
argumento defendido por Klein a exploração da imagem obedece a retórica da
cooptação através de um jogo de reflexos de identidades: profissionais de
marketing atentos à novidade são especialmente designados a buscar as tendências,
procurando se misturar a esse público consumidor jovem urbano para captar a
dinâmica da sua moda, da sua linguagem. Um caso típico dessa espécie de
apropriação de identidade eram as campanhas da Nike em relação a cultura dos
guetos norte‐americanos nos anos 90 que ao se valer do significado de desejo que
sua marca representa para eles, se apropriou do espírito de suas manifestações
originais como o basquete de rua, o estilo de suas roupas, e os converteu em
mercadoria do cool. Para garotos negros desses bairros o tênis Nike era então um
fator de diferenciação social dentro de um código internamente instituído, como nas
favelas do Rio de Janeiro ou outra periferia global a qual o poder público serve com
negligência e coerção. Aqui arriscando‐se por um método de ler o signo
representado pelo tênis/roupa de marca, a partir da intuição desse código de
significado alto preço das roupas e o código é estabelecido pela liderança local.
“O
consumo
revela‐se
aqui
como
sistema
de
permuta
e
equivalente
de
uma
linguagem...
nunca
se
consome
o
objeto
em
si
(no
seu
valor
de
uso)
–
os
23
objetos
(no
sentido
lato)
manipulam‐se
sempre
como
signos
que
distinguem
o
indivíduo...”
(BAUDRILLARD,
1991,
pp.
59‐60)
Não por acaso um movimento de contestação ao consumo emergiu por essa
época e que entre seus precursores se encontrem profissionais de publicidade e
pensadores visuais. Essa forma de protesto passou a ser reconhecida como culture
jamming (KLEIN, 2000, pp. 308‐309), tática de interferência nos canais de
publicidade a fim de subverter seu conteúdo na forma de uma misto de arte
Uma de suas intervenções, os caçadores de anúncio ou “adbusters” tem como
objetivo trazer a tona o debate sobre o uso do espaço público enquanto área de
interesse da comunidade e sua progressiva privatização. Nesse sentido uma de suas
táticas consiste em subverter a mensagem publicitária dos outdoors que se
espalham pelos centros urbanos quer em áreas pobres das cidades vendendo signos
de uma sociedade próspera, quer vendendo o ideal de beleza feminina enquanto
obsessão da magreza. O discurso é o do direito a opinião pois já que as empresas
“compram” o espaço público da rua para empurrar sua publicidade aos moradores é
justo que eles, sem ter como enfrentar as corporações bancando sua própria
redirecionar, através de tinta spray e/ou colagem, a comunicação ao seu imediato
jitsu de voltar ao oponente a força de seu ataque. A provocação dessa subversão é
revelar de uma forma não muito sutil o que há de sujo por trás do discurso da
marca. As mais recentes manifestações do culture jamming tem aproveitado a maior
difusão
dos
recursos
de
edição
de
imagem,
o
que
facilita
a
reprodução
precisa
das
24
publicidades e da maior facilidade de acesso às inovações tecnológicas, onde os
blogs ajudam a divulgar esse tipo de comunicação em suas páginas.
sedutor de suas mensagens pode ser revertida em uma ferramenta poderosa para
alavancar vendas. A estética pós‐moderna é derivada de movimentos que surgiram
contestando o movimento moderno a partir dos anos sessenta, ao que atribuíam um
funcionais e eficientes em uma sociedade industrial, eles se mostraram anacrônicos
na sociedade mais plural do mundo pós industrial e em razão disso possibilidades
mais criativas e intuitivas precisavam ser resgatadas. Quando se faz menção ao
movimento moderno no design busca‐se assinalar o conjunto de práticas adotadas
segundo os princípios funcionalistas, cujo pioneirismo cabe ao Estilo Gráfico
Internacional da Bauhaus. O fim da segunda guerra marca a mudança de cenário e,
onde a arte moderna cavava um fosso entre arte e sociedade, o pós moderno fez
construir uma ponte quando trouxe a arte para a cotidianidade através da arte pop
e de sua estética mais descontraída. No campo do design, enquanto a linguagem do
corporativa, as vanguardas radicais dos países mais avançados da Europa, entre
1965 e 1975, haviam tomado uma postura anti‐racionalista. Se, por um lado havia
designers influenciados pela pop arte, pela ornamentação Art Noveau, que
preconizavam um retorno a expressão artística mais simbólica e à ilustração, como
estruturalista de que a escrita é apenas uma má transcrição da palavra falada, para
tradicionais do que se considerava bom design. Assim o punk se manifesta
fervorosamente enquanto uma estética do urgente, do feio, do cru, contra o que
julgava pretensamente refinado, limitação estilística que servia mais para ocultar a
mediocridade dos que a praticavam por rotina. O pós‐moderno surge então nos
anos 80 com o New Wave influenciado por esses movimentos, caracterizado por
estreitar a utilização do software na indústria gráfica, o que de fato ampliou as
muitas vezes caótico, provoca uma reação que implica a necessidade de um
aguçamento perceptivo para se desvendar a mensagem que jazia entre camadas de
imagens em profundidade e caracteres que exploravam a desconstrução tipográfica.
Essa estética não linear veio a calhar num momento em que o mundo da marca se
via regido pela redefinição de sua identidade junto a de seu público que podia ser
retrô, trash, intelectual, grunge, cluber ou em outras dezenas de tipificações não
necessariamente excludentes. Em razão disso a tática era agregar a versatilidade do
pós‐moderno, que desde seu surgimento traz um pluralismo, a serviço da exaltação
de suas mercadorias.
O século XXI já se inicia colocando em destaque no cenário do design uma
influência mais crítica, o que veio a se fortalecer mais pelo 11 de setembro e suas
conseqüências, quando um novo impulso foi proporcionado para formas de
manifestações
mais
políticas.
Esse
ambiente
pode
ser
compreendido
aqui
como
o
26
espaço onde o designer tem de assumir uma responsabilidade sobre a construção
de discursos, a imparcialidade não é desejosa. Segundo expõe Raquel Pelta :
“[...]
hoje
mais
do
que
nunca
é
preciso
que
os
designers
compreendam
que
têm
uma
responsabilidade
como
autores
e
tradutores
da
linguagem
simbólica
do
mundo:
“Fazer
imagens
não
é
um
território
eticamente
neutro
[...]
De
fato,
a
história
tem
sido
testemunha
das
numerosas
ocasiões
em
que
os
designers,
fotógrafos
e
ilustradores
tem
ajudado
e
sido
cúmplices
da
tirania.
Em
um
nível
estritamente
estético,
a
máquina
de
propaganda
nazista
de
Goebbels
produziu
um
“bom”
design:
limpo,
de
tipografia
bem
colocada,
com
um
uso
inovador
da
imagem
e
composições
bem
equilibradas.
Mas
talvez
“bom”
não
seja
o
suficientemente
bom.
O
relativismo
cultural
da
sociedade
contemporânea
na
qual
as
imagens
estão
divorciadas
de
seu
significado
final
está
chegando
a
seu
fim.
(PELTA,
2004,
PP.
82‐83)
Com isso observa‐se que é essencial que o designer que pretende atuar nessa
área, devido ao grau de responsabilidade mencionado acima, precisa ter um
conhecimento e discernimento profundos sobre o que quer expressar.
Em vista disso, alguns designers contestam esse conceito de design pois vêem
nele uma grande falha de estrutura. Assim defende o coletivo holandês
Experimental Jetset que publicou para defesa de suas idéias o manifesto intitulado
“Disrepresentationism” (PELTA, 2004). Partiam de um texto de Theo Van Doesburg
de 1923 chamado “AntiTendenzkunst” no qual defendia não haver diferença política
entre um retrato de Napoleão na batalha e um de Trotsky na mesma situação, pois
vista “consideravam não existir diferença estrutural entre o design gráfico social,
cultural ou comercial e viam como problemática toda causa que se formulasse fora
do contexto do design e se impusesse superficialmente a uma peça de design.”
Nesse sentido o conteúdo de uma imagem nunca é neutro, parcial, seu uso sempre
outras palavras, a imagem vende uma determinada visão de mundo. Da forma pela
qual o panorama mundial é exibido pelos meios de comunicação atualmente há uma
certa
propensão
a
respostas
precipitadas
assim
como
uma
crescente
tendência
ao
27
reducionismo. Da perspectiva crítica de autores como Guy Debord e Jean
Baudrillard, os mass media cumprem um papel nunca imparcial, pois divulgam uma
visão oportuna a manutenção do status quo uma vez que são empresas privadas ou
tanto dispõe do maquinário essencial, os meios técnicos operatórios para
transformar a realidade bruta filtrada, fatiada e remodelada no produto informação
matéria ao atuar sobre o código, gerando um modelo de simulação, produzido
recombinando‐se as instâncias da realidade para em seguida colocá‐lo como causa
do ocorrido e então dos resultados colhidos atua‐se sobre a realidade. A notícia
assim ganha seu equivalente na publicidade, decalca o objeto de seu essencial e o
edifica em mito, pois ambos atuam sobre o código, desreferencializando‐o, em
detrimento do modelo.
“O
espetáculo
se
apresenta
como
uma
enorme
positividade
indiscutível
e
inacessível.
Não
se
diz
nada
além
de
“o
que
aparece
é
bom,
o
que
é
bom
aparece”.
A
atitude
que
por
princípio
ele
exige
é
a
da
aceitação
passiva
que,
de
fato,
ele
já
obteve
por
seu
modo
de
aparecer
sem
réplica,
por
seu
monopólio
da
aparência.
(DEBORD,
1992,p.
26)
Em
sua
obra
a
sociedade
do
espetáculo,
Guy
Debord
faz
diversas
vezes
menção ao termo imagem e em como ela se converteu em um forma de mediação da
relação entre as pessoas, e com isso a questão começa a se revelar: na verdade não
nos damos conta do poder das imagens pois nos habituamos a estarmos rodeados
por elas o tempo inteiro, no entanto a imagem efetivamente é uma potência
argumenta Raquel Pelta:
cuja proposta tem certa influência dos escritos de Debord, pensa sobre os papéis do
design e da publicidade no mundo atual:
“Hoje
em
dia,
estas
são
as
disciplinas
mais
comprometidas.
Estes
são
os
campos
que
mais
que
nenhum
outro
comunicam
certas
mensagens
precedentes
da
ditadura
do
mercado”.
(GILARDINO
apud
PELTA,
2004,
pp.
77‐
78)
Embora seja cedo para se considerar os primeiros anos do século XXI um
marco de renovação no cenário no design, já é possível ver que a questão sobre o
compromisso social passa cada vez mais a constar na pauta de reflexões.
Possivelmente refletindo um sentimento de desgaste em relação a todo debate
entre design moderno e pós‐moderno, um novo tipo de discussão passou então a
permear o pensamento do design como demonstra a realização de uma versão para
os dias atuais do manifesto First Things First. O First Things First 2000 além de
fomentadores de uma cultura do consumo, tratando dessa vez de situá‐la no
contexto global, propõe traçar novas diretrizes tendo em vista os novos problemas e
politização em relação ao discurso da imagem, reafirmando o compromisso de
responsabilidade que o designer tem sobre a produção de valores na sociedade.
Como aponta Raquel Pelta (PELTA, 2004, p. 79) é significativo que uma nova
orientação no sentido de um retorno a simplicidade venha sendo estimulada se
olharmos o atendimento cada vez maior a projetos de sinalização, em que pouco
conta a expressão individual. Nesse tipo de trabalho conta mais a habilidade do
profissional de saber dispor a informação de forma simples e direta para evitar
equívocos
e
acidentes.
Desse
modo,
parece
que
em
parte
a
reivindicação
de
novas
29
embora, em um primeiro momento, nem todos apoiassem tais idéias. As reações
que se seguiram a publicação do manifesto foram variadas: houve quem aprovasse
a iniciativa por percebê‐la como uma saudável tentativa de escapar da mesmice das
discussões recorrentes, houve também quem o criticasse por achar que o manifesto
não esclarece se seu objetivo é despertar a consciência dos designers ou recusar o
trabalho comercial. Com isso observamos não obstante a complexidade do tema,
uma relutância em considerar pontos de vista que questionem o trabalho
massivamente comercial, o que enfim só contribui para restringir o design as já
citadas discussões acerca de estética, estilo e bom gosto ou falta dele. Segundo a
crítica desenvolvida pelo designer Jonathan Barnbrook na coletânea “Pensamentos
e trabalhos do design para o século XXI graphic design now”:
“Havia
uma
época
em
que
se
pensava
que
o
design
desempenhava
um
papel
importante
na
sociedade.
Tinha
a
capacidade
de
fornecer
às
pessoas
informações
com
significado
ou
tentar
melhorar
nossas
formas
de
vida.
Hoje,
parece
que
nos
esquecemos
que
o
design
tem
essa
possibilidade.
O
tipo
de
trabalho
que
os
designers
procuram
é
o
utilizado
pelas
empresas
de
desporto
mais
modernas,
não
o
que
terá
maior
efeito
na
sociedade
ou
contribuirá
para
a
cultura.
Chegou
a
altura
de
os
designers
compreenderem
que
o
design
não
é
apenas
algo
“moderno”
e
que
também
não
significa
apenas
dinheiro.
Temos
de
levar
nossa
profissão
a
sério
e
envolvermo‐nos
em
debates
culturais
e
críticos
sobre
o
que
estamos
a
fazer
e
sobre
quais
são
os
nossos
objetivos.
A
idéia
modernista
de
que
os
designers
são
mensageiros
sem
opiniões
próprias
já
não
é
válida.
Não
podemos
nos
limitar
a
fazer
o
nosso
design
e
a
dizer
que
questões
como
as
práticas
de
trabalho
sem
ética
ou
uma
falta
de
conteúdo
com
significado
não
são
problema
nosso.
Se
queremos
o
respeito
e
a
atenção
que,
na
nossa
opinião,
merecemos,
temos
de
pensar
sobre
o
que
acontece
ao
nosso
trabalho
quando
é
visto
pela
sociedade
e
sobre
o
tipo
de
trabalho
no
qual
pretendemos
participar.
O
design
AINDA
tem
potencial
para
alterar
a
sociedade
e
devemos
lembrarmos
disso
uma
vez
mais.”
(BARNBOOK
apud
FIELL
&
FIELL,
2005,
p.
70)
Seu discurso tal qual o First Things First traz idéias, que para os mais
conservadores representa uma discussão pretensa e sem nexo pois coloca em xeque
uma postura profissional, no que consideram em todo caso, uma questão de ética
pessoal
e
assim
avaliam
que
cabe
a
cada
profissional
julgar
a
sua
conduta
baseada
30
em critérios particulares. Esse ponto de vista é compreensível pois a questão é
base para a mudança da prática profissional: “uma reversão de prioridades a favor
de formas de comunicação mais úteis, duradouras e democráticas – uma mudança
de mentalidade do marketing de produto para uma exploração e produção de um
novo tipo de significado.” Ainda de sua visão crítica , desde que se passou a
majoritariamente premiar um design relacionado ao mundo da propaganda, as
habilidades dos profissionais de comunicação visual então tem sido usadas de
forma a incentivar o consumo de bens e serviços que segundo seus argumentos são
em essência inúteis a sociedade;
“[...]Designers
que
devotam
seus
esforços
primariamente
a
publicidade,
ao
marketing
e
ao
desenvolvimento
da
marca
estão
contribuindo,
e
implicitamente
endossando,
um
ambiente
mental
tão
saturado
de
mensagens
comerciais
que
isso
está
mudando
as
diferentes
maneiras
que
os
cidadãos
falam,
pensam,
sentem
e
interagem.
Em
certo
nível
todos
nós
estamos
ajudando
a
elaborar
um
reduzido
e
imensuravelmente
nocivo
código
de
discurso
público.[...]"
(PELTA,
2004,
p.
67)
Tais
mensagens
cumprem
para
saturar
ainda
mais
um
mundo
já
bastante
inundado de informação para incentivo ao consumo. Para o filósofo Jean
Baudrillard, o problema é que dentro dessa sociedade não há a opção de não
consumir e assim argumenta que isso se manifesta no desenvolvimento de
neuroses, pulsão de morte (atualmente acompanha‐se pela mídia crescentes casos
de massacres que ocorrem sem motivação, principalmente nas economias ditas
centrais, onde por isso mesmo esse tipo de pressão é maior) que se cumprem
enquanto forma de libertação desse constrangimento. Por isso a crítica ao design do
manifesto é para alguns tão cara, ela propõe através da auto análise, a reflexão
acerca
de
temas
que
necessitam
um
olhar
para
dimensões
mais
profundas
31
imbricadas filosoficamente e para os aspectos éticos de uma prática que em muito
influencia as decisões das pessoas.
De toda forma, um caso específico nos revela a questão entre o design e a
cultura no capitalismo de uma ângulo não usual: o escritório australiano Inkahoots7,
de proposta não‐comercial, desenvolve trabalhos em maior parte associados a área
cultural e tendo em consideração as necessidades da comunidade.
...e
não
somente
porque
é
onde
estão
os
melhores
trabalhos
mas
também
nosso
ambiente
já
se
encontra
demasiadamente
desordenado
por
intrincada
aparência
corporativa
que
na
maioria
das
vezes
não
corresponde
aos
anseios
da
comunidade.
Mensagens
visuais
alternativas
se
esforçam
para
serem
assimiladas
em
meio
ao
turbulento
ruído
da
mídia
dominante”.
(Robyn
McDonald
and
Jason
Grant
apud
POYNOR)
De
todo
modo
é
importante
avaliar
que
sua
experiência
em
termos
de
organização escapa aos modelos típicos do que se considera um escritório de
design, pois estão menos associados a produção de logotipos e soluções gráficas
para grandes empresas que a trabalhos que contribuam com órgãos públicos ou que
divulguem mensagens políticas que sustentem o ponto de vista e atendam os
anseios de representatividade social de grupos minoritários da sociedade, como o
povo aborígene ou instituições como partido trabalhistas e sindicatos. A base dessa
clientela foi fundamentada tendo em vista seu objetivo original: ser uma
isso posteriormente trouxe restrições ao pleno exercício de expressão pretendido e
buscar
meios
próprios
de
manutenção.
A
superação
dessa
dificuldade
foi
alcançada
7
POYNOR,
Rick.
Eye/
feature:
Form
follows
purpose:
Inkahoots
(extract),
site
visitado
em
05/10/09,
<http://www.eyemagazine.com/feature.php?id=77&fid=437>.
32
mesmo sem colocar em risco a idéia inicial do projeto e o escritório assim pode se
manter efetivamente entendendo e comunicando idéias, estimulando mudanças de
sociedade
pluralista.
33
Conclusão
Atualmente todos possuímos a consciência em profundo estado de alerta ao
industrial, suas conseqüências e impactos como o consumo de recursos naturais e
foi por muito tempo um meio de instigar mais consumo através da criação da
mudança de paradigma. Ainda assim, pelo que foi apresentado, podemos constatar
de que a busca por uma prática política e socialmente mais engajada dentro do
design, embora tenha crescido em interesse nos últimos anos é uma trilha bem
pouco explorada. Dessa maneira prevalece e se amplia uma cultura do design de
busca do elemento hype associado ao estilo, em trabalhos onde o conceito parece
reconhecer que na atualidade essa relação é um pouco mais complexa já que com o
fluxo acelerado de troca de informações o design converteu‐se em um ambiente
profundamente interpolinizador. E se por um lado isso acelere a atividade projetual,
por outro proporcionoa uma grande redução de possibilidades expressivas, o preço
última novidade em curto prazo tornar‐se‐a vulgar e banal.
os exemplos dos manifestos First Things First deduz‐se que o design ao menos se vê
com a possibilidade de enveredar por novas narrativas, uma nova direção para a
profissão
que
pode
acrescentar
bem
mais
ao
nosso
desenvolvimento
enquanto
34
sociedade. Uma questão em particular de grande relevância que no entanto parece
passar despercebida é a do poder do discurso da imagem. A forma como o trabalho
do design através da imagem influencia no código da cultura, edifica padrões,
constrói significados. O profissional que lida com imagens precisa perceber que tem
em mãos uma ferramenta bastante poderosa pra fazer a informação chegar as
pessoas.
desenvolver um trabalho que levasse informações ao público expressando um teor
mais crítico. Então para esse fim elaborei uma série de cartazes sobre a violência
mostrando um ponto de vista diferente do abordado tradicionalmente pela mídia.
Esses cartazes visam prioritariamente revelar o uso da força por parte do poder
público. Esclareço desde já que o que pretendo questionar são os métodos
excessivamente brutais de atuação da força policial e não o trabalho de
enfrentamento ao crime organizado pela polícia. Em virtude disso procurei me
basear em dados e estudos, como o relatório da organização internacional dos
direitos humanos Human Rights Watch. Segundo esse relatório lançado no fim de
2009, intitulado Lethal Force, as polícias do Rio de Janeiro e de São Paulo combatem
a criminalidade no Brasil corriqueiramente recorrendo a força letal e que segundo
estatísticas estão entre as forças de combate ao crime que mais matam no mundo. O
resultado disso é uma política de segurança pública enfraquecida naquilo que se
propõe pois a maioria dos crimes não são esclarecidos, não diminui a criminalidade,
eleva as estatísticas de morte violenta nas comunidades pobres, e contribui para o
clima de guerra civil no qual se vive atualmente em uma cidade como o Rio de
Janeiro. Os cartazes então, propõe a reflexão de que grande parte das mortes em
confrontos
com
a
polícia,
que
supostamente
seriam
casos
de
“autos
de
resistência”,
35
segundo evidências apontadas pelo estudo na verdade são execuções extrajudiciais.
Pela natureza densa do tema, a informação nos cartazes ganhou um sóbrio destaque
, o aspecto da violência procurou ser transmitido de maneira direta através da
ênfase a partes do relatório que sintetizam os números alarmantes de vítimas da
força policial.
Esse trabalho se desenvolveu como um tatear no escuro de uma questão que
do meu ponto de vista parece passar ao largo das preocupações dos companheiros
designers e colegas estudantes por aqui e os motivos para tanto não cabe aqui
especular, apenas pude notar esse fato em razão da dificuldade em encontrar
bibliografia ou menção que fosse mesmo na internet ao realizar uma busca em
português aos termos design + social. Em vista disso é relevante refletir um pouco
sobre uma declaração de Stefan Seigmeister a respeito da qualidade atualmente de
grande parte dos projetos: “Há tanta coisa sem valor: coisas bem produzidas, sem
seriedade e sem valor. Penso que a causa principal de todas essas coisas sem valor é
o fato de a maior parte dos designers não acreditar em nada. Não nos interessamos
pela política ou pela religião, não temos opinião sobre qualquer questão importante.
Quando a consciência é tão flexível como se pode ser forte no design?” De todo
modo me arrisquei dentro desse tema mesmo sabendo das dificuldades que
encontraria e foi desafiante chegar ao final e descobrir uma nova dimensão da
prática
do
design.
36
Anexos
I – Manifesto First Things First 1964
“Nós, os do abaixo assinado, somos designers gráficos, fotógrafos e estudantes
que tem sido atraídos para um mundo no qual as técnicas e instrumentos da
publicidade tem persistentemente sido apresentados como o mais lucrativo, efetivo
e desejável meio de aplicação dos nossos talentos. Fomos bombardeados por
publicações devotadas a essa crença, aplaudindo o trabalho daqueles que fustigam
sua habilidade e imaginação a vender coisas como: comida de gato, detergente,
restaurador de cabelo, creme dental listrado, loção pós‐barba, loção pré‐barba,
produtos pra emagrecimento, produtos para engordar, desodorantes, água com gás,
cigarros, roll‐ons, pull‐ons e slip‐ons. Até agora o melhor tempo e esforço daqueles
que trabalham na indústria da publicidade são desperdiçados nesses propósitos
triviais, que contribuíram pouco ou nada com nossa prosperidade nacional. Em
comum com um crescente número do público geral, nós atingimos um ponto de
saturação no qual o alto grito de alcance de venda ao consumo não é mais que
completo barulho. Nós achamos que há outras coisas mais dignas do uso de nossa
todas as outras mídias através das quais nós promovemos nosso ramo, nossa
educação, nossa cultura e nossa maior consciência de mundo. Nós não advogamos a
abolição da publicidade de alta sedução: Isso não é viável, Nem queremos tirar da
vida algo de divertido. Mas nós estamos propondo uma reversão de prioridades em
favor
de
formas
de
comunicação
mais
úteis
e
duradouras.
Nós
temos
a
esperança
de
37
que nossa civilização vai se cansar de comerciantes da novidade, vendedores do
habilidades será pra propósitos mais importantes. Com isso em mente nós
colegas,
estudantes
e
outros
que
possam
se
interessar.
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II – Cartazes projeto Good 50x70:
Let
them
grow
–
Carlie
Julien/
França
39
Growing
labour
–
Sameera
Kapila/
Antilhas
Holandesas.
40
Child
labour
Carolina
Ribeiro/
Brasil
41
corporate
warfare
Hoyrt
Haffelder/
Estados
Unidos
42
The
state
of
torture
–
Baran
Gunduzalp
Sarkan
Istanbullu/
Turkey
43
How much noise can your silence? Close guantanamo – Simonluca Definis/Italy
44
III – Manifesto First Things First 2000
visuais que fomos criados em um mundo e seus meios nos foram apresentados de
maneira insistentemente como o lugar mais lucrativo, mais eficiente e desejável de
usar nossos talentos. Muitos professores de design e mentores promovem essa
crença; o mercado a premia, uma maré de livros e publicações a reforça. Animados
nesta direção, os designers então aplicam sua destreza e imaginação a vender
biscoitos para cachorros, café de designer, diamantes, detergentes, gel para o
cabelo, cigarros, cartões de crédito, tênis, tônicos, cervejas sem álcool e veículos de
passeio. O trabalho comercial sempre pagou as contas, mas muitos designers
gráficos não permitiram que se convertesse em grande parte do que fazem. Esta é,
em contrapartida, a maneira a qual o mundo percebe o design. Usam‐se o tempo e a
energia profissionais para atender a demanda de coisas que, no melhor, não são
essenciais.
Muitos de nós nos sentimos cada vez mais incômodos com esta visão do
design. Os designers que dedicam seus esforços acima de tudo a publicidade, ao
respaldando, a um ambiente mental tão saturado com mensagens comerciais que
estão mudando por completo o modo como os cidadãos consumidores falam,
atividades mais valiosas para nossas habilidades de resolução de problemas. Uma
crise ambiental, social e cultural sem precedentes demandam nossa atenção. Muitas
intervenções
culturais,
campanhas
de
marketing
social,
livros,
revistas,
exposições,
45
ajuda.
Propomos uma mudança de prioridades a favor de formas de comunicação
mais úteis, perduráveis e democráticas, uma mudança de mentalidade que se afaste
do marketing de produto e se dirija para a exploração e produção de um novo tipo
de significado. O alcance do debate está se reduzindo; deve se expandir. O
perspectivas expressadas, em parte, através das linguagens visuais e dos recursos
do design. Em 1964, vinte e dois comunicadores visuais firmaram a chamada
original pra que nossas capacidades se dedicassem a um uso mais valioso. Com o
crescimento explosivo de nossa cultura comercial global, sua mensagem passa a ser
ainda mais urgente. Hoje, renovamos seu manifesto a espera de que não passarão
mais
décadas
sem
que
o
levem
a
sério.
46
Bibliografia
BERMAN, Marshall. Tudo o que é sólido desmancha no ar: a aventura da
modernidade. São Paulo: Companhia das Letras, 1986.
KLEIN, Naomi. Sem Logo: A tirania das marcas em um planeta vendido. Rio de
Janeiro: Record, 2008.
MCLUHAN, Marshall. O meio são as massa‐gens. Rio de Janeiro: Record, 1982.
espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997.
1986.
BAUDRILLARD, Jean. A Sociedade de Consumo. Lisboa: edições 70, 1991.
FIELL, Charlotte & Peter. Graphic Design Now. Barcelona: TASCHEN, 2005.
PELTA, Raquel. Deseñar hoy, temas contemporáneos de diseño gráfico. Barcelona:
Ediciones Paidós Ibérica S.A., 2004.
MOSÉ, Viviane. Café Filosófico: Nietzsche, Tevê Cultura, programa exibido em
29/03/2009.
Sites:
<www.kengarland.co.uk>
BIAFRA, Jello, Jello Quotes, 26/09/09,
<www.jellobiafra.org/index.php?option=com_content&view=article&id=27&Item
id=43>
47
HOWARD, Andrew. Eye/ feature, 15/09/09,
<www.eyemagazine.com/feature.php?id=42&fid=53>
Good 50x70 2009, <good50x70.org/2009>
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Trabalho Prático
Para o trabalho prático foi elaborado uma série de cartazes de expressão
política que trouxessem uma perspectiva não conformista sobre um determinado
tema, desse modo se relacionando com o conteúdo da teoria desenvolvida. O tema
escolhido aborda a questão da violência na cidade do Rio de Janeiro, tão repercutida
nos meios de comunicação de massa a partir de uma visão imediatista, de apoio
velado a política governamental de combate violento nas favelas. Em contrapartida
a isso, o trabalho proposto procura se afastar desse tipo de lugar comum no qual a
forma única e eficaz de combate a questão do tráfico de drogas e pretende contestar
a eficácia e o sentido do método de coerção violenta da polícia praticado como
medida de segurança pública. Para melhor situar essa discussão adotou‐se um
texto da organização Human Rights Watch abordando a questão de uma ótica não
tão imediatista.
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