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(Apresentação da disciplina)
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Nesta disciplina, partindo do eixo norteador e dialogal: O que é ética?, serão
expostos elementos constitutivos de uma aproximação introdutória ao conceito de
ética com o intuito de oferecer ao discente um cabedal teórico e conceitual importante
e necessário para uma compreensão acerca do pensamento ético e seus
desdobramentos e diferenciações.
1 HEGEL, 1979.
Na unidade 1, a partir do texto do professor Henrique Cláudio de Lima Vaz
intitulado Fenomenologia do Ethos2, colheremos os primeiros rudimentos conceituais
e semânticos para uma aproximação ao conceito de ética. Percorreremos um itinerário
que parte de um imbricamento fenomenológico entre ethos e physis no qual podemos
compreender a importância da cultura (tradição, educação) no processo de cultivo do
espírito ético. Aqui podemos compreender a ética como um refinamento do espírito,
que consegue recusar e domesticar seu instinto inserindo-se em um contexto evolutivo
marcado pela intersubjetividade e guiado por regras, normas e valores: eis a gênese do
processo de hominização!
No texto Ética e razão, o professor Lima Vaz nos remete a um problema
fundamental já esboçado por Aristóteles e que ganha contornos expressivos em nossa
contemporaneidade: a ciência do ethos – uma eticologia (ethikè logos), encontrando-
se entre duas estruturas constitutivas da dimensão humana, de um lado a teoria
(theoria) e de outro a técnica (práxis), deve constituir-se a partir de um movimento de
busca de um lugar epistemológico que assegure a si um desvelar-se no campo da
própria práxis humana, fugindo da mera contemplação teórica. A ciência do ethos se
desdobrará sobre a própria condição humana, em resumo, a vida humana; somente no
horizonte da vida pode existir ação e decisão. A pergunta colocada por Lima Vaz se
traduz da seguinte forma: “pode o homem viver de forma autêntica nesse horizonte
determinado unilateralmente pelos critérios da técnica, da utilidade e da
produtividade3?” E precisamente uma fenomenologia do ethos procura, assim como o
próprio conceito de fenomenologia, erguer-se como uma possível resposta diante de
um avanço significativo e massivo do campo abstracional tecnocientífico, que ameaça
tragar a própria existência humana transcrevendo-a como mera imagem4. A ciência da
ética ao fundo procura evidenciar a ação humana, e como eixo nodal deste agir no
mundo, encontra-se a Vida. A ciência da ética pode ser compreendida como uma
tentativa de recuperação de uma subjetividade como estofo primário do agir humano.
A partir do exposto anteriormente, na unidade 2 discorreremos acerca da
diferenciação etimológico-conceitual entre ética e moral, procurando evidenciar
conceitos fundamentais acerca destas duas esferas. Seriam ética e moral conceitos
equivalentes e complementares? O que podemos compreender como moral? A partir
da leitura dos textos de William Frankena Moralidade e Filosofia Moral5, de Adolfo
Sánchez Vásquez La esencia de la Ética6 e de Zildo Gallo Ética e Moral: uma rápida
fundamentação7, procuraremos situar o conceito de moral num horizonte de
complementariedade ao conceito de ética, atado ao campo do agir humano e, por
conseguinte, à Vida8. A moralidade como uma auto-entrega do sujeito à exterioridade
do mundo e com isso aberto às consequências oriundas de seu agir.
Na unidade 3, trabalharemos as relações no campo do agir ético/moral no
sistema da ética filosófica vaziana, procurando apontar para o movimento dialético
expresso em tal, que se estende desde o agir ético à vida ética, bem como suas
estruturas subjetiva, objetiva e intersubjetiva. Aqui procuraremos expor a transposição
Maurício Fernandes
Teresina, fevereiro de 2018
Referências:
VAZ, H.C.L. Escritos de Filosofia II: Ética e Cultura. São Paulo: Loyola, 1988.