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o SISTEMA SO 14000
-
E A CERTIFICAÇAO
AMBIENTAL

* Mareio Augusto Rabelo Nahuz


mnahuz@dce03.ipt.br

PALAVRAS-CHAVE:
normatização ambiental, certificação ambiental, ISO 14000, meio ambiente.

KEYWORDS:
envíronmental standards, environmental certifícatíon, ISO 14000, environment.

* Diretor de Divisão de Produtqs Florestois do Instituto de Pesquisas Tecno)ógicas do Estado de São Raulo.

(rae@eaesp.fgvsp.br) Assinatura E-mail

RAE - Revista de Administração de Empresas São Paulo, v. 35; n. 6, p. 55-66 Nov./Dez. 1995 55
11~C;cAmbiental
Conceitos e exemplos de programas de
certificação ambiental e de selos de apro-
vação no Brasil e no exterior, além da
descrição de normas BS 7750 e ISO
14000 e dos recentes desenvolvimentos
após a plenária de Oslo (1995).

Concepts and examples of environmental


certification programmes and seals of
approval in Brazil and abroad, as well as
the description of BS 7750 and ISO 14000
series, and of recent developments after
Oslo plenary assemb/y (1995).

A
partir da última década, tem cres- TC-147 - Qualidade da Água, e o TC-190 -
cido a importância das questões Qualidade do Solo. A partir dai, a impor-
relacionadas com o meio ambien- tância dada à normatização ligada aos as-
te, especialmente nas atividades ligadas à pectos ambientais tem aumentado constan-
indústria e ao comércio, o que vemafetan- temente.
do significativamente a vida das empresas. A necessidade de se identificarem pro-
Isto tem se dado com ênfase nos países dutos e, mais tarde, processos que apresen-
mais industrializados, especialmente da tassem pouco ou nenhum impacto negati-
América do Norte e da Europa Ocidental. vo ao meio ambiente fez com que apare-
A partir destes países, as preocupações de cessem, desde 1978, rótulos ecológicos ou
caráter ambiental com os processos indus- "selos verdes" dos mais variados tipos e
triais de produção e seus produtos, uso e níveis de abrangência.
posterior descarte, tem se refletido nas re- Ao mesmo tempo, a indústria sentiu a
lações comerciais entre países, produtores necessidade de dispor de normas para os
e importadores. Sistemas de Gestão Ambiental. Isso resul-
Até há bem pouco tempo, os aspectos tou na elaboração e lançamento da BS 7750
normativos relacionados a tais questões pela British Standards Institution, da Grã-
ambientais eram contemplados nas nor- Bretanha, em 1992. A partir de 1993, vários
mas técnicas estabelecidas para produtos, outros países europeus publicaram suas
e dimensionados por valores limites, que próprias nOl1J.1aSpara Sistemas de Gestão
deveriam ser respeitados. O atendimento Ambiental: na França, a AFNOR; na Ho-
aos padrões referidos eram comprovados landa, a NNI e na Espanha, a AENOR.
através de ensaios normatizados. Sensibilizada com essa série de ações ao
A ISO (International Standardization Or- nível internacional, a ISO criou o SAGE
ganization) é uma organização não-gover- (Strategic Advisory Group on Environ-
namental fundada em 1947, com sede em ment), com o objetivo de propor as ações
Genebra, na Suíça, que atua como uma fe- necessárias para um enfoque sistêmico de
deração mundial de organismos nacionais normatização ambiental e certificação.
de normatização. A ISO conta atualmente Os trabalhos do SAGE resultaram na
com mais de 100 membros, sendo um úni- criação do Comitê Técnico 207 - Gestão
co membro de cada país, entre eles aABNT Ambiental, cujos esforços se refletem na
(Associação Brasileira de Normas Técni- elaboração do Sistema ISO 14000.
cas).
A partir de 1971, a ISO constituiu três CONCEITUAÇÃO
comitês técnicos, para tratar exclusivamen-
te da normatização de métodos e análises O conceito de certificação ambiental de
ambientais: o TC-146 - Qualidade do Ar, o produtos ultrapassa a definição de "mar-

56 © 1995, RAE - Revista de Administração de Empresas / EAESP / FGV, São Paulo, Brasil.
o SISTEMA ISO 14000 E A CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL

ca de conformidade", concedida ao produ- • difere da certificação convencional, que


to que, após testes em laboratório creden- é baseada em normas (qualidade míni-
ciado, atinge um nível mínimo de quali- ma) ou critérios (excelência);
dade exigido por alguma norma vigente, •. difere dos rótulos informativos de pro-
em questões relativas ao seu uso. dutos, que apresentam dados técnicos,
Assim, o "selo verde" é o grau mais alto como composição, reddabilidade etc.;
de conformidade. Além de atestar a con- • difere das etiquetas de advertência ou
formidade, atesta também que o produto alerta, normalmente obrigatórias, quan-
não impacta ou impacta minimamente o to à periculosidade de venenos, cigarros
ambiente. etc.
Inicialmente, o selo verde era atribuído
somente a produtos; posteriormente, PROGRAMAS DE CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL
incluíram-se também os processos, em vá-
rios níveis de adequação ambiental. Como Existem vários tipos de programas de
exemplo, podem ser citados': certificação ambiental. Os mais conhecidos
são listados a seguir, com alguns exemplos
• nível I: produtos biodegradáveis; de programas operacionais. Nesses exem-
• nível 2: produtos biodegradáveis e reei- plos, são citados os países de origem, o ano
cláveis; de implantação e o número de produtos já
• nível 3: produtos e embalagens biodegra- abrangidos pelo sistema", Os selos de apro-
dáveis e recicláveis; vação, típicos "selos verdes", serão discu-
• nível 4: idem, elaborados por processos tidos em maiores detalhes mais adiante:
com pouco ou nenhum impacto ambien-
tal; • selos de aprovação: identificam produ-
~ nível 5: idem, com transformação de tec- tos ou serviços menos prejudiciais ao am-
nologia hard em 80ft, com menor impac- biente que seus similares com a mesma
to, menor custo, menos matéria-prima, função. Estes selos apresentam exclusi-
maior produtividade, menos resíduos e vamente características positivas. Exem-
rejeites. plos: Blau Engel/BlueAngel (Alemanha,
1978), 3600 produtos; Environmental
A numeração crescente dos níveis deno- Choice (Canadá, 1988), 700 produtos;
ta maior exigênciaem termos de qualida- Ecomark (Tapão, 1989), 2.300 produtos;
de ambiental. White Swan (Conselho Nórdico, 1989),
Levando-se em conta essa maior abran- 200 produtos; Green Seal (EUA, 1990);
gência, o conceito de" certificação ambien- EEC Ecolabel (Comunidade Européia,
tal" passa a ser o de rotulagem ou etique- 1992),em discussão; SCS Forest Conser-
tagem baseada em considerações ambien- vation Program (EUA, 1993), produtos
tais, destinada ao público, certificando que de base florestal provenientes de áreas
o produto originado de determinado pro- sob manejo sustentável;
cesso apresenta menor impacto no ambien- • certificados de atributo único: atestam
1. NAHUZ, M. A. R. Certificação
te em relação a outros produtos compará- a validade de uma reivindicação am- Ambiental de Produtos. O Pa-
veis, disponíveis no mercado. biental feita pelo fabricante do produto. pei, São Paulo, v. 56, n. 4, p.
É um programa monocriterioso, positi- 15-22, abro1995; __ O Selo
A certificação ambiental apresenta al- o

Verde e a Modernização da Pro-


guns pontos básicos que a caracterizam+ vo e voluntário, no qual o certificador dução/Certificação Ambiental
deve ser independente. Exemplos: Envi- de Produtos. São Paulo, 1994.
(Palestra proferida no Curso
• é voluntária e independente, pois é apli- ronmental Choice Australia (1991) testa e Gestão Ambiental nas Empresas
cada por terceiros a quem se disponha a certif.ica reivindicações de fabricantes. Mooernas como parte do Pro-
Aplica multa por uso inapropriado da grama GV - PEC/Módulo IV -
integrar o sistema, Meio Ambiente, Qualidade e
• é aplicada, conforme critérios bem defi- marca; SCS Envíronmental Claims Certifi- Prod utividade).
nidos, a produtos, famílias de produtos cation (EUA, 1989)testa e certifica o teor
2. Idem, ibidem.
e processos; dos recidados, a biodegradabilidade, o
• é positiva, ou seja, representa premiação, teor dos voláteis etc.; 3. UNITED STATES ENVIRON-
• cartões informativos: oferecem informa- MENT PROTECTIONAGENCY -
e, como tal, torna-se um instrumento de EPA. Status repor: on tne use
marketíng das empresas; ções sobre o produto ou o desempenho of environmental labels
• é um mecanismo de informação ao con- ambiental de processos ou indústrias, worldwide. Washington, 1993.
215 p. (EPA 742-R-9-93-001).
sumidor; Informam sobre vários tipos de impacto

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ambiental: consumo de energia, poluição do a matéria-prima, o processo e o produ-
do ar, da água etc. É um sistema positivo to. Os programas de selo de aprovação
ou neutro, voluntário e pluricriterioso. outorgam o uso de um selo ou rótulo aos
Exemplos: SCS EnvironmentalReport Card produtos ou serviços julgados menos pre-
(EUA, 1991) testa e informa o consumo judiciais ao meio ambiente do que produ-
de matéria-prima, o uso de energia, os tos ou serviços comparáveis, com base em
efluentes gasosos e líquidos, a geração critérios previamente definidos.
de resíduos sólidos etc.; Shopping for a Um esquema típico de implantação ini-
Better World (EUA, 1988)avalia os fabri- cia-se pela definição de uma categoria ou
cantes segundo os impactos ambientais "família" de produtos - a base dessa se-
causados. leção é o uso similar, ou outras caracterís-
• informações técnicas publicadas: refe- ticas relevantes. A seguir, os critérios de
rem-se normalmente a produtos, e apre- análise são definidos ou desenvolvidos
sentam informações técnicas, neutras e para a categoria de produtos selecionada.
relativamente completas. Exemplos: Esses critérios são então aplicados a todos
Energy Cuide Program (EUA, 1976) infor- os produtos de mesma categoria. O selo de
ma o consumo de energia em eletrodo- aprovação é outorgado por um período
mésticos; Food and Drug Administration definido, sujeito a auditorias periódicas,
(FDA) e Nuirition Label (EUA, 1992) in- programadas ou não.
formam dados nutricionais de alimentos Os critérios de outorga do selo de apro-
processados; Fuel Economy Information vação podem ser periodicamente revistos
Program - FEIP/EPA (EUA, 1976) informa e modi.ficados, tornando o sistema mais
o consumo de combustível em veículos severo e restritivo.
automotores. Alguns dos sistemas mencionados an-
• alertas: referem-se às informações nega- teriormente (Blue Angel, Enuironmental.
tivas, geralmente de publicação obriga- Choice, Ecomark, White Sumn, Green SeaI etc.)
tória, por poderem afetar a saúde do con- já foram implantados e operam segundo
sumidor. Exemplos: Propcsition 65, Cali- os princípios gerais dos selos de aprova-
fórnia (EPA/EUA, 1986)indica produtos ção. Esses sistemas "tradicionais" tem al-
contendo compostos carcinogênicos; Pes- gumas características em comum: uma
ticide Labelling (ToxicSubstances Control abordagem inicial simples, abrangência
Act/EPA - EUA, 1975) indica a presença ampla - grande número de famílias de
de inseticidas, fungicidas, rodenticidas produtos, direcionamento ao mercado in-
etc.; Ozone Depleting Substances (EPA/ terno, e freqüentemente a produtos de con-
EUA, 1993)indica produtos que contêm sumo". Outros esquemas estão sendo pla-
substâncias nocivas à camada de ozônio nejados, com algumas modificações: o EEC
(CFe, por exemplo). EcolabeI (União Européia), o ABNT Quali-
• manuais: consistem em um conjunto dade Ambiental e o Cerjlor (Brasil).
completo de informações positivas, neu- . O Blue Angel é um selo governamental
tras ou negativas. Trata-se de um progra- alemão, implantado em 1978 e já consoli-
ma independente, geralmente por serem dado, que abrange aproximadamente 3.600
elaborados por terceiros. Fornecem ins- produtos, cujas pricipais categorias são:tin-
truções e avaliações sobre o impacto am- tas de baixa toxicidade, produtos feitos
biental de diferentes produtos, com in- com materiais reciclados, pilhas e baterias,
formações sobre os processos de produ- produtos que não contém clorofluorcarbo-
ção. Exemplos: Green Supermarkei Consu- no (CFC),e produtos químicos de limpeza
mer Guide (EUA, 1991); Non-ioxic, Natu- doméstica. Os custos de uso do Blue Angel
ral and Earihunse (EUA, 1990); Shopping variam entre US$200 e US$ 2.500 por ano,
4. JH~ ~. VOSSENAAR, R.,
ZARRILlI, S. EI ecoetiquetado for a Better World (EUA, 1988). além de outras taxas cobradas em função
y el comercio internacional: das vendas do produto. O sistema é mo-
informacion preliminar sobre 7 SELOS DE APROVAÇÃO nocriterioso, de primeira geração, não le-
sistemas. In: SEMINARIO RE-
GIONAL SOBRE POLíTICAS vando em conta o ciclo de vida do produ-
AMBIENTALES Y ACCESO AL Os selos de aprovação são os programas to. Dessa maneira, não foi considerado na
MERCADO 1993, Santafé de
Bogotá. Proceedings. S.L., de certificação ambiental mais requeridos rotulagem ambiental elaborada pela União
SELAfUNCTAD/CEPAL- ECLAC, ultimamente, cuja abrangência pode ser Européia, mas é o sistema de maior credi-
1993.45 p. restrita a um produto, ou ampla, engloban- bilidade da Europa.

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o SISTEMA ISO 14000 E A CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL

o EEC Ecolabe1 é produto de um sistema cerca de 0,15% do volume anual de ven-


comunitário europeu de certificação am- das do produto.
biental, estabelecido pela Resolução CEE Eis algumas categorias de produtos
nº 880/92, de 23-03-1992,que pretende pro- abrangidas pelo EEC Ecolabel: papéis, em-
mover a concepção, produção, comerciali- balagens, têxteis, materiais isolantes, má-
zação e uso de produtos com um impacto
ambiental reduzido durante o seu ciclo de
vida completo, até o seu descarte final
como resíduo. O sistema prevê também a o conceito de Ilcertificaçãoambientai"
melhor informação dos consumidores passa à ser o de rotulagem ou
quanto ao impacto dos produtos sobre o
ambiente. O sistema é voluntário, mas os etiquetagem baseada em
produtos manufaturados ou semimanufa- considera~ões ambientais, destinada
turados importados pela União Européia, ao público, certificando que o produto
passíveis do uso do Ecolabel, deverão pre-
encher os mesmos requisitos que os pro- originado de determinado processo
dutos locais. apresenta menor impacto no ambiente
O EEC Ecolabelleva em consideração a
em relaçáo a outros produfos
avaliação do ciclo de vida do produto (life
cycle assessment), desde a extração ou pro- compar6vels, disponíveis no mercado.
dução da matéria-prima, processamento,
embalagem e comercialização do produto,
até o seu descarte final, constituindo o en- quinas de lavar, tintas e vernizes, pilhas e
foque conhecido como" do berço ao túmu- baterias, detergentes etc."
lo". Tal avaliação fica sujeita à auditoria Na categoria dos papéis, estão incluídos
externa para confirmação das informações os papéis sanitários, de cozinha, de escre-
prestadas pelo fabricante ou exportador do ver e de fotocopiadoras. Nesta categoria,
produto. os critérios preliminares, desenvolvidos
De acordo com a Resolução nº 880! 92, a sob a coordenação da Dinamarca, envol-
avaliação do ciclo de vida é feita para cada vem o conceito de ciclo de vida do produ-
fase da vida do produto, considerando-se to e analisam sete parâmetros, avaliando-
as seguintes: pré-produção, produção, dis- os através de pontuação:
tribuição (inclusive embalagem), utilização
e descarte. • recursos renováveis - t madeira / t papel;
Em cada fase, são avaliados os seguin- • recursos não-renováveis (t equiv. petró-
tes aspectos ambientais: importância dos leo/ t papel);
resíduos, poluição e degradação do solo, • dióxido de carbono (t CO/ t papel);
contaminação da água, contaminação do • dióxido de enxofre (kg S!t papel);
ar,ruído, consumo de energia, consumo de • emissão de produtos orgânicos na água
recursos naturais e efeitos nos ecossiste- (demanda química de oxigênio - kg
mas. DQO!t papel);
O julgamento é feito pelo organismo • emissão de organoclorados (k.g AOX/t
competente de cada país da União Euro- papel);
péia em que o produto seja fabricado ou • resíduos (t resíduos! t papel).
através do qual seja importado. Os crité-
rios de atribuição do selo são definidos por Os critérios embutem nítidas vantagens
categorias de produtos, mas o selo é atri- para os papéis reciclados, e as interpreta-
buído a produtos individuais e não a gru- ções preliminares avaliam que nenhum 5. Idem, ibidem.
pos de produtos, companhias ou organi- papel com 100%de fibras virgens obterá o 6. CLAUDIO, J. R., EPELBAUM,
zações. A certificação tem validade por EEC Ecolabel6• M., KNAPP, C. L. Gerencia-
penado não superior a três anos, sendo rea- mento ambiental como instru-
mento para a certificação am-
valiada em caso de prorrogação. No pro- A CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL NO BRASil bientai de papéis e produtos de
cesso de avaliação do produto, é cobrada celulose. In: CONGRESSO
ANUAL DECELULOSEE PAPEL,
uma taxa de administração de ECU 500,e, As vantagens extremamente competiti- 26,1994, São Paulo. Anais. São
no caso de o produto receber o selo, há uma vas de alguns produtos brasileiros no mer- Paulo: ABTCP, 1994. 889 p., p.
463·77.
taxa de licenciamento anual equivalente a cado exterior fizeram com que o Brasil los-

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se um dos primeiros países a sentir, e mes- • utilização metodológica de modelos acei-
mo antecipar, os efeitos de medidas de ca- tos, e busca do reconhecimento interna-
ráter ambientalista no comércio internacio- cional.
nal. A exigência de certificação ambiental
de produtos mediante critérios arbitrários O programa ABNT Qualidade Ambien-
e a potencial cobrança de "impostos ecoló- tal será gerenciado por uma Comissão de
gicos" atuam como barreiras comerciais às Certificação Ambiental (CCA), formada
exportações brasileiras. por 15 a 20 participantes, entre governo,
Houve pressões de várias formas - na produtores, ONGs, instituições de pesqui-
Inglaterra, a pressão das organizações am- sas, órgãos de fomento etc., que proporá
bientais ativistas pela não-utilização do as políticas e diretrizes de certificação.
mogno brasileiro fez-se sentir muito forte- Essa comissão será apoiada por Comi-
mente. A alegação principal era a possibi- tês Técnicos de Certificação Ambiental (CT-
lidade de aquela madeira ser originária de CAs), que definirão os critérios e procedi-
terras indígenas. A pressão se caracterizou mentos técnicos para a certificação e que
por demonstrações populares junto a es- terão composição semelhante à da CCA,
critórios importadores, lojas e depósitos, além do Departamento de Certificação.
além de cartas à família real inglesa e noti- O Departamento de Certificação (DC) é
ciário alarmista na mídia inglesa e inter- o órgão da ABNT que operacionalizará a
nacional. Certificação Ambiental através da trami-
Na Europa, vários países levantaram a tação e análise de processos, da realização
hipótese de cobrar uma sobretaxa sobre de auditorias e ensaios de produtos, com
papéis exclusivamente manufaturados base nos critérios definidos pelos CTCAs.
com fibras virgens - US$ 296/ t - isen- O programa ABNT Qualidade Ambien-
tando-se apenas os papéis que contivessem tal já tem dez familias ou categorias de pro-
entre 15% e 80% de fibras recicladas (ITC- dutos selecionadas para certificação am-
UNCTAD/GATTY. Caso fosse posta em biental: celulose e papel, calçados e couro,
prática, tal medida resultaria em um au- eletrodomésticos, aerossóis sem CF C, ba-
mento de 50% a 80% no preço do papel terias automotivas, detergentes biodegra-
brasileiro, com resultados preocupantes. dáveis, lâmpadas, móveis de madeira,
Em vários países da Europa e nos EUA, embalagens, e cosméticos e produtos de
os importadores de produtos florestais higiene pessoal.
passaram a exigir, para comprar a madei- No momento, a ABNT está mantendo
ra brasileira e os seus derivados, certifica- contatos com os setores interessados, fo-
dos de origem da matéria-prima, emitidos mentando a criação de Comitês Técnicos,
por entidades internacionalmente reconhe- que estarão desenvolvendo conjuntos de
cidas, atestando sua origem - se de plan- critérios aplicáveis às diferentes categorias
tações ou áreas florestais nativas maneja- de produtos.
das. O Cerflor (Certificação de Origem de
Com uma abrangência bem ampla, está Matéria-Prima Florestal) é um programa
7. INTERNATIONAL TRADE sendo implantado no Brasil o programa de certificação ambiental coordenado pela
CENTRE UNCTAD/GATI. EEC
Ecolabelling proposals and their ABNT Qualidade Ambiental", destinado a SBS (SOCiedade Brasileira de Silvicultura),
implications for developing suprir as necessidades brasileiras na área destinado aos produtos de base florestal, e
countries. Pack data Fact- da certificação ambiental. tem como objetivo garantir, em uma pri-
sheet, Geneva, n. 3, 6 p., May
1992. Esse programa tem algumas diretrizes meira etapa, que a matéria-prima usada se
já estabelecidas: origine de plantações manejadas em regi-
S. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA
DE NORMAS TECNICAS. Pro-
me sustentável".
grama ABNT Meio Ambiente. • transparência e gestão participativa; O Cerflor aplica-se à madeira em toras,
Rio de Janeiro, 1994.6 p; __ serrada ou processada mecanicamente, aos
• inserção no sistema ISO;
o

Certificação Ambiental de Pro-


dutos. Rótulo Ecológico ABNT • abrangência de produtos comparáveis; diversos painéis à base de madeira, como
Qualidade Ambiental. Departa- • critérios de abrangência ampla (avalia- as chapas de fibras, compensados} aglome-
mento de Certificação. Rio de
Janeiro, 1994. 20 p. ção dos ciclos de vida), refletindo a rea- rados, lâminas, e à celulose.
lidade tecnológica e ambiental do país; O programa, embora aplicável a todo o
9. CERROR garante procedên- território nacional, leva em consideração
cia de madeira nacional. Silvi- • busca, sempre que possível e adequado,
cultura, São Paulo, v. 9, n. 42, de uma maior convergência com crité- as características e realidades regionais,
p.14-15, mar./abr. 1992. rios já aceitos no exterior; apresenta transparência e auditabilidade a

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o SISTEMA ISO 14000 E A CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL

qualquer tempo, e sua implantação deve- base do sistema pode ser resumida nos se-
rá ser feita de forma gradativa. guintes pontos, requisitos para a imple-
Os princípios e critérios do programa mentação do sistema (B51, 1994)10:
relacionam-se com o zelo pela biodiversi-
dade, a busca da sustentabilidade dos re- • política ambiental: a organização deve
cursos naturais, o respeito pela água, solo definir e documentar sua política am-
e ar, a promoção do desenvolvimento eco- biental de maneira relevante às suas ati-
nômico e social das regiões onde a ativida- vidades; deve divulgá-la interna e exter-
de se insere, o cumprimento da lei quanto namente; e buscar sua melhoria contínua;
ao uso da terra, o uso múltiplo das flores- • organização e pessoal: serão definidas
tas, e a otimização do uso de produtos e e documentadas as responsabilidades e
subprodutos florestais. autoridades de todo o pessoal envolvi-
do em atividades que possam causar
SISTEMAS DE GESTÃO AMBIENTAL impactos ambientais;
E A 8S-7750 • normas ambientais e registro de efei-
tos: serão definidos e mantidos os pro-
Os SGA (Sistemas de Gestão Ambien- cedimentos adequados para conhecer
tal), de âmbito mais abrangente que os "se- toda a legislação ambiental aplicável à
los verdes", estão sendo desenvolvidos e área de atuação da organização. Além
implementados no mundo todo muito ra- disso, serão estabelecidas e mantidas
pidamente. Isso ocorre em função dos cres- formas de identificar, avaliar e registrar
centes impactos ambientais, da necessida- os diversos tipos de impacto ambiental
de de as organizações conhecerem - e a possíveis em sua área de atuação;
ela s.e adequarem - uma legislação
ambiental complexa e constantemente em
mudança, em função dos crescentes riscos
e responsabilidades, do controle dos cus-
tos ambientais, da necessidade de melho-
ria contínua, e dos cuidados com a ima-
gem corporativa e a opinião pública.
Gestão ambiental é o conjunto dos as-
pectos da função geral de gerenciamento
de uma organização (inclusive o planeja-
mento), necessário para desenvolver, alcan-
çar, implementar e manter a política e os
objetivos ambientais da organização.
O 5GA, segundo a definição ISO, é o
conjunto formado pela estrutura organiza-
cional, responsabilidades, práticas, proce-
dimentos, processos e recursos necessários
para implementar e manter o gerenciamen-
to ambiental.
O SGA mais conhecido e aceito interna-
cionalmente é aquele elaborado pela BSI -
British Standard Institution, e definido pela
135 7750 - Specification for Emnronmenial • objetivos e metas: serão estabelecidos e
Management Systems, publicada em março quantificados os objetivos e metas am-
de 1992 e atualizada em janeiro de 1994. bientais compatíveis com as atividades
Essa especificação é compatível com a BS da organização;
5750, a EN 29000 e a ISO 9000, respectiva- • programa de gestão ambiental: um pro-
mente, especificações dos sistemas de qua- grama para atingir os objetivos e metas
lidade da Grã-Bretanha, da União Européia propostas será estabelecido e mantido,
e de uma organização internacional, com todos os meios necessários: pessoal, 10. BRITISH STANDARD
INSTITUTlON - BSI. soeci-
A B$ 7750 especifica os elementos de um recursos, tempo, organização etc; fication for environmenlaJ
Sistema de Gestão Ambiental aplicável a • manuais: serão elaborados e atualiza- management systems: BS
todos os tipos e portes de organização. A dos os manuais e a documentação neces- 7750.london, 1994.

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l1~lEcAmbientul
sários para implementar o programa es- rarnentas" e sistemas de gestão ambiental,
tabelecido; excetuando os aspectos e métodos de en-
• controle operacional: serão definidas as saios referentes à Qualidade do Ar, da
funções, atividades e os processos que Água e do Solo, além de Acústica, já con-
possam afetar significativamente o am- templados por Comitês Técnicos específi-
biente, e sobre eles incidirão cuidado- cos. Os trabalhos do TC-207 excluem tam-
sos controles; bém o estabelecimento de limites para po-
• registros: a organização estabelecerá e luentes ou efluentes, níveis de desempe-
manterá registros para demonstrar o nho e a normatização de produtos",
preenchimento dos requisitos ambien- Essas normas - a Série ISO 14000 -
tais legais, além dos objetivos e metas deverão harmonizar as normas nacionais
alcançados; e as regionais atualmente existentes, em
• auditorias: serão definidos critérios e uma linguagem internacionalmente aceita.
procedimentos para a aplicação de au- A série ISO 14000 cobre seis áreas, cada
ditorias ambientais periódicas; qual detalhada em subcomitês específicos
• revisões: o SGA deverá sofrer revisões do TC-207, coordenado cada um por um
periódicas para avaliar a sua eficácia, e país, que são:
buscar seu contínuo aperfeiçoamento.
• SC 1 - Sistemas de Gestão Ambiental,
Nos últimos anos, muitas empresas e Grã-Bretanha (BSI);
organizações desenvolveram diferentes • SC 2 - Auditoria Ambiental, Holanda
(NNI);
· se 3 - Rotulagem Ambiental, Austrália
(SAA);
• SC 4 - Avaliação de Desempenho Am-
Gestão ambientai é o coniunto dos
biental, - USA (ANSI);
aspedos da função geral de • SC 5 - Avaliação de Ciclo de Vida, França
gerenciamento de uma organização (AFNOR);
(inclusive o planeiamento), necess6r1o · se 6 - Termos e Definições, Noruega
(NSF).
para desenvolver, alcançar,
implementar e manter a política e os Além de um Grupo Especial de Traba-
lho, coordenado pela DIN, Alemanha, que
obietlvos ambientais da organização. tem como objetivo a análise e a normatiza-
ção dos Aspectos Ambientais nas Normas
de Produtos. .
sistemas de gestão ambiental, inclusive sis- Os Subcomitês 1, 2 e 4 tratam de aspec-
temas próprios de auditoria ambiental. tos referentes à avaliação da organização,
Entretanto, inicialmente no âmbito da isto é, do sistema de gestão ambiental pro-
União Européia, mas já com tendência à priamente dito, das auditorias ambientais
internacionalização, está sendo elaborado e da avaliação do desempenho ambiental
e discutido um SGA baseado na norma BS da organização. Os Subcomitês 3 e 5 tra-
7750, que constituirá a série ISO 14000. tam da avaliação dos produtos ou proces-
sos, levando em consideração os impactos
A SÉRIE ISO 14000 causados no ambiente, desde a extração da
matéria-prima usada na geração do pro-
Em 1991, a ISO formou o SAGE para duto, ou o início do processo, até o seu fi-
estudar a necessidade de uma abordagem nal, com a emissão de efluentes do proces-
comum à questão da gestão ambiental. Sob so, com o descarte do produto ou a sua rein-
a orientação do SAGE, a ISO organizou em tegração ao meic'".
1993 o Comitê Técnico TC-207 - GesLão
11. GRUPO DE APOIO À GESTÃO, AUDITORIA E DESEMPENHO
NORMATIZAÇÃOAMBIENTAL- Ambiental, encarregado de elaborar nor-
o
GANA. Brasil_e a futura sé- mas e guias internacionais de sistemas de AMBIENTAIS
rie ISO 14000. Rio de Janeiro,
1994. 18 p. (ISO. TC-207)
gestão ambiental.
Os objetivos aprovados para o TC-207 O trabalho dos Sub comitês 1 e 2 está
12. Idem, ibidem. foram a normatização no campo das fer- /I bastante adiantado. Em setembro de 1994,

62 RAE • v. 35 • n. 6 • Nov./Dez. 1995


o SISTEMA ISO 14000 E A CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL

circularam para análise e sugestões de seus Em junho de 1995, estas normas foram
membros, as versões CO (Committee Draft) votadas e elevadas à categoria OIS, com
das normas referentes ao SC 1 - Sistema de as seguintes denominações:
Gestão Ambiental:
• ISO/OIS 14,010 - Guia para Auditoria
• ISO / CO 14000 - Guia para os Princípios, Ambiental, Princípios Gerais20;
Sistemas e Técnicas de Gestão Am- • ISO/OIS 14011 - Procedimentos para
biental'ê; A uditoria de Sistemas de Cestãoámbíental'',
• ISO/CO 14001- Especificação com Oi- • ISO jDIS 14012 - Critérios de Qualifica-
retrizes para USOl4. ção para Auditores Ambientais", 13. __ Guide to enviro-
o

nmental management prin-


cipies, systems and suppot-
Estas duas normas, que são em essência Outras normas complementares, tam- ting tecbniques: Isorrc 207/
bastante semelhantes à BS 7750, foram vo- bém de responsabilidade do SC 2 - Audi- SC 1 CO 14000. Geneva, 1995.
(ISO/OIS 14004).
tadas na Reunião Plenária da ISO, em Oslo, toria Ambiental, são:
em junho de 1995, e elevadas à categoria 14. __ o Environmental ma-
nagement systems: specitica-
OIS (Draft International Standard), para na • ISO 14011-2 - Diretrizes para Audito- tion with guidance for use: ISO/
próxima votação serem aprovadas como ria Ambiental - Procedimentos de Audi- TC 207/SC 1 CO 14001.Geneva,
toria - Parte 2: Cumprimento de Normas; 1995.(ISO/0IS 14001).
normas internacionais.
A denominação Draft International Stan- • ISO 14014 - Diretrizes para Auditoria 15. Idem, ibidem.
dard (OIS) indica que a versão da norma da Avaliação Ambiental Inicial;
16. __ Guide to environ-
• ISO 14015 - Diretrizes para Auditoria-
o

está no terceiro nível de análise, tendo pas- mental management prin-


sado por aprovações ao IÚVel de Working Ambiental- Diretrizes para Avaliação de cipies, systems and suopot-
ting techniques: Isorrc 207/
Group Draft, e de Committee Draft; o próxi- Unidades de Produção. SC 1 CO 14000. Geneva, 1995.
mo passo poderá ser a sua aprovação como (ISO/OIS 14004).
Norma ISO. Elas tiveram sua elaboração postergada,
17. Guidelines for envi-
Estas normas, elevadas à versão OIS, são: por decisão da própria ISO, por estarem ronmental auditing: general
condicionadas à aprovação das normas que principies of environmental
auditing: iso/rc 207/SC 2.
:; ISO/OIS 14001- Sistemas de GestãoAm- estavam em estágio mais adiantado. Geneva, 1995. (ISO/OIS 14010)
biental, Especificações com Guia para O se 4 - Avaliação de Desempenho
18. Guidelines for envi-
UOO15; Ambiental trata dos aspectos de medição, ronmental auditing: audit
• ISO / OIS 14004 - Guia para Princípios, análise, avaliação e descrição do desempe- procedures - Part 1: auditing of
nho ambiental da organização, em função environmental management
Sistemas e Técnicas de Suporte". systems: ISOITC 207/SC 2.
de critérios preestabelecidos, relevantes à Geneva,1995. (ISO/OIS 14011).
Elas complementam a norma anterior. gestão ambiental.
19. __ Guidelines tor envi-
Esta norma era anteriormente denomina- A principal norma em elaboração por
o

ronmental auditing: qualifi-


da ISO 14000. No entanto, na busca de este subcomitê circulou na forma de pri- cation criteria for environmental
auditors: ISO/TC 207/SC 2.
maior identidade de estrutura entre a sé- meira versão da Working Group Draft, em Geneva, 1995. ISO/OIS 14012).
rie ISO 14000 e a ISO 9000, a denominação fevereiro de 1995:
desta norma foi alterada para ISO jDIS 14004. 20. __ oGuidelines tor envi-
ronmental auditing: general
Em fevereiro de 1995, circularam tam- • ISO/WD 14031.1 - Diretrizes para a principies ot environmental
bém as segundas versões CO das normas Avaliação de Desempenho Ambiental-'. auditing: ISO/TC 207/SC 2.
Geneva, 1995. (ISO/OIS 14010)
relativas ao SC 2 - Auditoria Ambiental,
para votação em maio e aprovação em ju- Esse documento, ainda muito prelimi- 21.__ . Guidelines for envi-
nar, passou por várias rodadas de discus- ronmental auditing: audit
nho de 1995: procedures - Part 1: auditing of
são, em virtude de sua importância na ges- environmental management
• ISO/CO 14010/2 - Diretrizes para Au- tão ambiental. O texto atual apresenta uma systems: ISOITC 207/SC 2.
Geneva,1995. (ISO/OIS 14011).
ditoria Ambiental, Princípios Gerais de estrutura mais adequada e ordenada, mas
Auditoria Ambiental": deverá sofrer substanciais mudanças nas 22.__ . Guidelines for envi-
ronmental auditing. quali-
• ISO/CO 14011/1-2 - Diretrizes para próximas reuniões, ainda em 1995. fication criteria for envíron-
Auditoria Ambiental, Procedimentos de A outra norma cuja elaboração também mental auditors: Isorre 207/Se
Auditoria - Parte 1: Auditoria de Siste- está a cargo do SC 4 é: 2. Geneva, 1995. ISO/OIS
14012).
ma de Gestão Ambiental-f
• ISO j CO 14012/2 - Diretrizes para Au- • ISO 14032 - Metodologia para Avaliação 23.__ . Environmental mana-
gement: environmental perfor-
ditoria Ambiental, Critérios de Quali- de Desempenho Ambiental do Sistema mance evaluation: Isorrc 207/
ficação para Auditores Ambientais". Operacional. SC 4. Geneva, 1994.

RAE • v. 35 • n. 6 • Nov.lDez. 1995 63


11~lE~mhiental
A programação dessa norma ainda não tais como a extração de recursos ou insu-
está definida. mos, a distribuição de produtos, o uso e o
descarte do produto.
ROTULAGEM AMBIENTAl. E AVALIAÇÃO DE Na implementação dos rótulos do tipo
CICLOS DE VIDA I, o enfoque adotado até o momento evi-
dencia a estreita ligação da Rotulagem
o Subcomitê 3, responsável pelos rótu- Ambiental com a Avaliação de Ciclo de
los ambientais, fez circular em novembro Vida, as duas ferramentas adotadas pelo
de 1994, entre os seus participantes, a ver- Sistema ISO 14000 para a avaliação de pro-
são mais adiantada da norma principal dutos e processos.
sobre Rotulagem Ambiental: Essa ligação entre a rotulagem ambien-
tal e a avaliação de ciclo de vida dos pro-
• ISO/ CO 14020 - Princípios Básicos para dutos é um tópico polêmico, que continua
Rotulagem Ambiental-': em discussão, dado que existem divergên-
• ISO/CO 14020 define três tipos de rótu- cias sobre o conceito e a definição exata de
los ambientais: avaliação de ciclo de vida, sua aplicabili-
• tipo 1: programa de certificaçãoambien- dade, a qualidade da informação requeri-
tal multicriterioso, certificado por or- da e os limites da avaliação, dentro da pró-
ganismo independente; pria ISO. O vínculo pretendido entre essas
• tipo TI:reivindicação ambiental infor- duas ferramentas deverá ser a flexibiliza-
mativa auto declarada; do para absorver também as autodeclara-
• tipo 1lI: rótulo de informação quantifi- ções ambientais.
cada de produto, baseada em verifica- As modificações pretendidas fizeram
ção independente, utilizando índices com que o cronograma do desenvolvimen-
prefixados. to desta norma fosse afetado; mesmo após
prolongadas discussões, o texto ainda é
polêmico, não tendo sido elevado à cate-
goria OISna reunião plenária de junho de
Essasnormas - a Série 150 14000- 1995.
A ISO/ CO 1402025 reconhece que os ró-
deverão harmonizar as normas
tulos ambientais poderão representar, no
nacionais e as regionais atualmente futuro, barreiras e restrições ao comércio
existentes, em uma linguagem internacional, através da proliferação de
programas, metodologias e critérios não-
intemaclonalmente aceita.
razoáveis de certificação.Isso poderá acon-
tecer especialmente porque os países pro-
dutores não-europeus ou, genericamente,
todos os países em desenvolvimento exce-
Esses tipos de rótulos correspondem to o Brasil, não estão sendo chamados ou
aproximadamente aos selos de aprovação, não demonstram a iniciativa de contribuir
já caracterizados anteriormente, além dos na elaboração das normas e no estabeleci-
certificados de atributo único e cartões in- mento de critérios de certificaçãoe das con-
formativos. dições de sua verificação.
Os rótulos aplicam-se a produtos de con- As restrições ao comércio poderão ser
sumo, comerciais, e industriais, além de evitadas mediante a adoção de medidas
serviços. Abrangem grupos ou famílias de como:
produtos de uso similar ou equivalente; e
devem ter processos de aplicação e imple- • definição de grupos de produtos, inclu-
24. INTERNATIONAL STAN- mentação totalmente transparentes. sive produtos e processos aceitos em ou-
DAROIZATION ORGANIZATION Os rótulos do tipo I devem ser baseados tros países;
- ISO. Environmental label- em critérios estabelecidos com base no en- • contribuição dos países produtores no
fing: general principies. Guide
for certification procedures: foque do berço ao túmulo", ou seja, ado-
1/ estabelecimento de critérios para pro-
ISO/TC-207/SC 3. Geneva, tando elementos da avaliação de ciclo de dutos de interesse comercial;
1995. (ISO/CO 14020).
vida. No estabelecimento dos referidos cri- • adoção de enfoques flexíveis o suficien-
25. Idem, ibidem. térios devem ser considerados elementos te para absorverem as características es-

64 RAE • v.35 • n.6 • Nov./Dez. 1995


o SISTEMA [50 14000 E A CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL

pecífícas e as regionalidades dos países mas mais controversas em termos de con-


produtores. ceitos e definições. Em fevereiro de 1995, o
se 5 fazia circular entre seus membros a
Também ao final de 1994, circulou a ver- segunda versão CD da norma:
são Committee Draft da norma ISO / CD
1402I26 -AutodeclaraçõesAmbientais - Ter- • ISO/CO 14040.2 - Gestão Ambiental -
mos e Definições, para sugestões dos par- Avaliação de Ciclo de Vida - Princípios e
ticipantes do Subcomitê 3 e, posteriormen- Diretrizes".
te, votação em junho de 1995, em Oslo,
Noruega. O cronograma inicial previa a votação
A norma trata, define e qualifica as De- dessa norma e a sua elevação à categoria
clarações Ambientais, ou Reivindicações OIS em junho de 1995, e sua publicação
Ambientais Autodeclaradas, ou Autode- como norma internacional no primeiro tri-
clarações de Conformidade, enquadrando-
se como rótulos do tipo Il. Este tipo de ró-
tulo consiste em uma declaração feita pelo É consenso geral que os sistemas de
próprio produtor, importador, distribuidor,
varejista ou qualquer pessoa sobre qual- gestão ambiental serão
quer atributo ambiental ou melhoria de implementados de maneira
qualquer produto ou serviço. Tais reivin-
razoavelmente uniforme e o mais
dicações podem ser feitas sob a forma de
declaração, afirmação, símbolos ou gráfi- provável é que isso aconteça através
cos apostos ao produto ou seu rótulo, em cio 51stéma ISO 14000.
literatura, boletins técnicos, propaganda,
publicidade, telemarketing etc.
Em função desse tipo de rótulo, ou de- mestre de 1996. Isso provavelmente não
claração, está sendo proposto que a desig- ocorrerá, pois, embora o texto tenha sido
nação do capítulo seja modificada de Ro- elaborado, discutido e modificado ao lon-
tulagem Ambiental (Environmental Labell- go de dois anos, persistem ainda divergên-
ing) para Rotulagem e Declarações Ambi- cias sobre aspectos importantes da norma,
entais (Enuironmental Labels and Declara- ligados ao componente energia, sua ori-
tions). gem, natureza e, ainda, sobre a aplicabili-
Essa norma trata de termos e definições; dade da norma, seu detalhamento, limites
outras três normas tratarão do uso de sím- e limitações.
bolos de rótulos ambientais (ISO 14022), AISO;CD 14040.2 apresenta apenas os
das metodologias de testes e verificação princípios gerais e as diretrizes da avalia-
das reivindicações ambientais (ISO 14023), ção de ciclo de vida (ACV), no que diz res-
e princípios e práticas para programas de peito ao início, à condução e ao registro de
rotulagem ambiental (ISO 14024). estudos de avaliação de ciclo de vida de
Os termos e definições tratados referem- uma maneira responsável e consistente.
se às qualidades e atributos ambientais que Outras normas complementares tratarão
um produto ou serviço possa ter. São defi- futuramente das várias fases da A CV:
nidos termos tais corno: "reciclabilidade",
"reciclável" e "material reciclado": "recu- • ISO 14041 - Gestão Ambiental - Avalia-
peração de energia"; "reutilizável" e "com- ção de Ciclo de Vida - Análise do Inven-
postável"; n eficiente consumo de energia, tário do Ciclo de Vida;
de água e de recursos"; " degradável", "bi- • ISO 14042 - Gestão Ambiental - Avalia-
odegradável" e "fotodegradável" etc. ção de Ciclo de Vida - Avaliação do Im- 26. . Environmental la-
belling: selt declarationl envi-
As reivindicações ambientais devem ser pacto do Ciclo de Vida; ronmental claims - terms and
verdadeiras, diretas, objetivas, precisas e, • ISO 14043 - Gestão Ambiental - Avalia- detinitions: ISOfTC·207/SC 3.
sobretudo, verificáveis. As comparações ção de Ciclo de Vida - Avaliação da Geneva, 1995. (ISO/CD
14021.2)
poderão ser feitas apenas com produtos ou Melhoria do Ciclo de Vida.
serviços similares, e as normas emprega- 27.__ . Environmental mana-
gement: Life Cycle Assessment
das devem ser citadas. A versão da norma em discussão apre- - principies and guidelines: ISOI
O Subcomitê 5, responsável pela área de senta o escopo e as definições de termos TC-207/SC 5. Geneva, 1995.
Avaliação de Ciclo de Vida, elabora as nor- ligados à ACV, tais como: qualidade dos (ISO/CD 14040).

RAE • v.35 • n.6 • Nov./Dez.1995 65


11~1Eu4mbiental
dados, fluxos elementares, impacto am- generalizar a exigência de padrões am-
biental, unidade funcional, análise de in- bientais severos, o que poderá representar
ventário, ciclo de vida, limites do sistema restrições ao livre acesso dos produtos e
e outros. A norma trata ainda das princi- serviços do Brasil aos mercados interna-
pais características da Acv, das fases, das cionais.
aplicações, limitações e interpretação dos Assim, o Brasil deve e está influindo no
resultados da ACV,da metodologia a ser processo de elaboração das normas do Sis-
aplicada, do registro dos resultados e da tema ISO 14000, nos conceitos e critérios
revisão crítica do processo como um todo. adotados, e isso está sendo feito diretamen-
Essa é uma norma extremamente impor- te, através daABNT, membro votante fun-
tante para o Sistema ISO 14000 e poderá, dador da ISO. Para tal, aABNT tem conta-
em conjunto com a rotulagem ambiental, do com o reforço e suporte técnico forneci-
vir a representar potenciais barreiras co- do pelo GANA (Grupo de Apoio à Nor-
merciais às exportações de produtos bra- matização Ambiental).
sileiros, em quaisquer mercados que se O GANA é formado por empresas bra-
queiram proteger ou isolar. sileiras, principalmente dos setores de mi-
O Subcomitê 6 - Termos e Definições é neração, químico, eletroeletrônico, siderúr-
responsável pela padronização e consoli- gico, de papel e celulose, e por entidades
dação da terminologia e dos conceitos que como aABECEL(AssociaçãoBrasileira dos
permeiam as normas do SistemaISO 14000. Exportadores de Celulose), o BNDES (Ban-
A norma em elaboração no SC 6 é a co Nacional de Desenvolvimento Econô-
ISO/WD 14050- Termos e Definições", que mico e Social),a CNI (Confederação Nacio-
ainda está na versão WD, e só será finali- nal da Indústria) e a FIESP (Federação das
zada depois que forem definidos todos os Indústrias do Estado de São Paulo).
termos considerados essenciais para todos Mais recentemente, o GANA tem bus-
os outros subcomitês. Essa norma prova- cado e obtido apoio e embasamento técni-
velmente não será emitida antes do primei- co-científico de instituições de pesquisas,
ro trimestre de 1996. universidades, centros de estudos, como o
O Grupo de Trabalho WG 1 - Aspectos IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicasdo
Ambientais em Normas de Produtos ela- Estado de São Paulo), CETESB (Compa-
borou a norma ISO/DIS 14060- Guia para nhia Estadual de Tecnologia de Saneamen-
a Inclusão de Aspectos Ambientais em to Básico e Defesa do Meio Ambiente),
Normas de Produtos-", elevada à catego- UNICAMP (Universidade de Campinas),
ria DIS em junho de 1995, que representa USP (Universidade de São Paulo), Coppe
um guia orientador para quem elabora (Coordenação dos Programas de Pós-Gra-
normas para a fabricação de produtos, e, duação em Engenharia), PUC (Pontifícia
como tal, não tem caráter manda tório ou Universidade Católica), UFRJ(Universida-
certificável. de Federal do Rio de Janeiro) e outras enti-
A ISO/DIS 14060 visa a alertar para o dades, governamentais e não-governa-
fato de que os requisitos de normas de pro- mentais, ligadas direta ou indiretamente
dutos podem afetar de forma positiva ou aos diferentes aspectos contemplados nos
negativa o ambiente, enfatiza a complexi- vários subcornitês do ISO/TC-207.
dade do processo de avaliação dos aspec- O GANA está estruturado de forma aná-
tos ambientais e recomenda o uso do con- loga ao ISO/TC-207 e seus representantes
ceito de ciclo de vida como ferramenta de têm participado ativamente dos trabalhos
apoio. em todos os subcomitês e nas reuniões dos
subcornitês do ISO/TC-207.

28. . Environmental mana-


o BRASIL E A ISO 14000 Os esforços e pressões têm surtido efei-
to, e importantes modificações têm sido
gement: lerms and definilions:
ISO/TC-207/SC 6. Geneva. É consenso geral que os sistemas de ges- conseguidas, nos níveis de princípios, cri-
1995. (ISO/WO 14050). tão ambiental serão implementados de térios e até mesmo enfoques, como no caso
29. __ o EnvironmentaJ ma- maneira razoalvelmente uniforme e o mais da rotulagem ambiental e da avaliação de
nagement: guide for lhe inclu- provável é que isso aconteça através do ciclo de vida de produtos. O
sion 01 environmental aspects in
products standards: ISOITe
Sistema ISO 14000.
207/WG 1. Geneva, 1995. (ISOl Alguns critérios de avaliação adotados ~ 0950606
OIS 14060). nas diversas normas do sistema deverão

66 Artigo recebido pela Redação da RAEem maio/1995, avaliado em junho, agosto e novembro/1995 e aprovado para publicação em novembro/1995.

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