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DEDALUS - Acervo - FFLCH-LE AVVRTERUELY 21300129693 E. P. Thompson Os Romanticos A Inglaterra na era revolucionaria Tradugio do SERGIO MORAES REGO REIS Preficio de DOROTHY THOMPSON SBD-FFLCH-USP oS |AGAO BRASHLEIRA Rio de Janeiro 2002 Educagiio e experiéncia* Alega-se comumente — talvez mais ha alguns anos do que atualmente — que a educacao liberal de adultos permite uma relagio entre o professor e os estudantes que, sob certos as- pectos, € tinica sob o ponto de vista educacional. Toda educagdo que faz jus a esse nome envolve a relagio de mutualidade, uma dialética, e nenhum educador que se preze pensa no material a seu dispor como uma turma de pas- sivos recipientes de educagio. Mas, na educagio liberal de adul- tos, nenhum mestre provavelmente sobreviverd a uma aula— enenhuma turma provavelmente continuara no curso com ele —se ele pensar, erradamente, que a turma desempenha um papel passivo. O que é diferente acerca do estudante adulto é aexperiéncia que ele traz para a relagao. A experiéncia modi- fica, as vezes de maneira sutil e as vezes mais radicalmente, todo o processo educacional; influencia os métodos de ensi- no, a selegio e o aperfeigoamento dos mestres ¢ 0 curriculo, podendo até mesmo revelar pontos fracos ou omissdes nas disciplinas académicas tradicionais ¢ levar a claboragio de novas areas de estudo. Minha prépria disciplina, hist6ria social, fornece abund: tes exemplos disso. Muitos historiadores sociais importantes do século XX — R. H. Tawney, G. D. H. Cole, H. L, Beales, © professor Asa Briggs — se destacaram por seus estreitos la- 13 {cos com 0s movimentos educacionais de adultos. Nas facul- dades de histétia, areas de estudo ha muito negligenciadas — ¢, em alguns lugares, ainda nessa situagio —, foram explora- das por muitas décadas nas aulas de nivel ndo-académico. Hoje em dia podem-se ver novos ramos de Listéria social — em historia local, arqueologia industrial, histéria das relagdes in- duustriais e nessa area de estudo cultural contemporaneo cujo pioneiro neste pafs foi Richard Hoggart — cujas iniciativas freqiientemente vieram “de baixo”, das classes de adultos € do professor de adultos, e ndo dos cursos académicos. Voltarei a esses pontos, de modo breve, no fim desta pa- lestra. Meu objetivo agora é investigar 0 contexto histérico ¢ cultural mais amplo no qual essa idéia de “experiéncia” possa ser inserida, Raymond Williams escreveu recentemente sobre uma cri- se fundamental na mudanga da cultura inglesa no século XU surgindo, de um modo, como o problema da relagio entre experiéncia e linguagem populares”, ¢, de ou- to, como uma relagio dificil entre sentimento intenso e cons- Giéncia intelect Seu comentirio surge a partir de uma discusséo de Hardy € naturalmente, Jude the Obscure (Judas, 0 obscuro) & um estu- do classico exatamente dessa crise. Contudo, parece-me que actise nao pode ser compreendida na sua totalidade a menos que recuemos muito mais do que isso e pelo menos até a pri- meira eclosio dessa crise no romantismo dos fins do século XVI. Se nos colocarmos em qualquer ponto da Europa em meados do século XVIII, poderemos observar uma cultura 14 letrada ou refinada praticamente distanciada em relacio a cultura da gente do povo. “Pessoas de posigao tendem aman- ter-se a uma distincia fria do homem do povo, como se te- messem perder algo com essa intimidade.” Essas palavras sio colocadas por Goethe na boca do aflito jovem Werther em 1774, e elas nos fazem lembrar no apenas o grande espaco social entre a aristocracia ¢ 0 povo, mas também a fervilhante auroconsciéncia desse espago na Europa de Rousseau. “As pessoas simples daqui ja me conhecem,” escreve Werther de novo, “ parece que gostam de mim, especialmente as crian- «as. A principio, quando fiz esforcos para me juntar a eles € fazer-lhes perguntas sobre isso ou aquilo, alguns pensaram que euestava cagoando deles ¢ foram muito grosseiros.” “Eu si”, continua cle, “que nés, seres humanos, no fomos criados iguais € nao podemos ser iguais”; mas a prépria insisténcia trai uma diivida — uma diivida que deveria ser reforcada dois, anos mais tarde pela Declaragio de Independéncia Norte- Americana, e que nos quinze anos seguintes iria despedacar a cultura da Europa no em duas mas em diversas partes, Devemos, portanto, chamar a atengao para uma ironia— € que é a seguinte: quanto maior era 0 espago social, mais espaco havia nele para o florescimento de ilusdes. Nas enor- mes distancias sociais da Ruissia do século XIX, 0 homem benevoiente convocava os camponeses, que The retribu‘am essa benevoléncia. L4, a imagem ficticia de um Campesinato Vir- tuoso obcecava os escritores populistas — foi testada por Tolstsi — e continuava acesa ainda em 1917. Ela ainda pode ser encontrada nos escritores populistas ¢ nacionalistas da Europa Ocidental até em épocas recentes e parece vicejar ainda na celebragio da négritude na Africa. Devemos lembrar que uma afronta & pureza de Kathleen Na Houlihan conseguiu, 1s £8 THOMPSON hd menos de cingiienta anos, provocar um tumulto num tea- tro de Dublin. Os exemplos servem para acentuar 0 contraste. Nenhum mito dessa intensidade pode ser encontrado na cultura le- trada da Inglaterra do século XVIIL Quanto teremos que recuar no tempo para encontrar um camponés virtuoso na literatura inglesa? Ele certamente esta l4, em Langland e no Lavrador de Chaucer. Ainda paira em Shakespeare, menos como um agente de valor efetivo do que como uma reminis- céncia vinda de uma era passada para sustentar criticas a0 presente, como o “bom velhinho” de Adam. J4 no século XVII ele € efetivamente relegado a uma figura decorativa na écloga pastoral e ali ficou, com tenacidade enfadonha, du- rante a maior parte do século XVII. Mas 0 camponés vir- tuoso nunca foi um dos mitos fertilizadores da cultura inglesa daquele século. Podemos chegar ao motivo disso partindo de diversas di- regoes. Embora fosse grande o espago social entre as classes educadas ¢ os trabalhadores pobres, ele nao era tao grande quanto na Franca do século XVIII — certamente menor do que na Riissia do século XIX — € talvez nao fosse tao gran- de quanto a distancia entre as tabernas literarias de Dublin e © campesinato de Connemara, que falava gaélico. Daf, tam- bém, haver menos espaco para o cultivo de ilusdes. A classe alta vivia, pelo menos parte do ano, em suas propriedades do interior, € nem todo o seu relacionamento com 0 povo era mediado por capatazes ou criados. Seria tao dificil para Henry Fielding encontrar um camponés virtuoso quanto seu meio-irmao, que vivia em Londres a custa de mesada, en- contrar um salteador de estradas virtuoso. E, se isso € atri- bufdo apenas a uma questao de circunstancias, entéo a 16 0s ROMANTICOS profunda reavaliacao das atitudes sociais vinculadas ao pu- ritanismo nos da uma prova interna. Camponeses virtuosos sao geralmente encontrados em pafses com a Santa Igreja. A Inglaterra protestante exigia, nao filhos obedientes, mas pobres ajuizados ¢ trabalnadores, imbuidos de uma discipli- na interior. Qarcabouco cultural inglés do século XVIII alicergava-se no paternalismo realista, Em termos individuais, 2 expresso deste podia ser repressiva, indiferente ou calorosamente hu- manitéria: num momento, Squire Western podia mostrar sua cara e, em outro, era a vez de Squire Allworthy. Mas, em ter- mos gerais, o paternalismo presumia uma diferenga qualitati- vaessencial entre avalidade da experigncia educada— cultura refinada — e a cultura dos pobres. A cultura de um homem, exatamente como seu prestigio social, era calculada de acor- do com a hierarquia de sua classe. Isto nao significa que a aristocracia ignorasse ou des- prezasse a cultura do povo. Felo contrario, muitos de seus representantes eram tolerantes e curiosos. Alguns ajudavam ativamente os divertimentos populares: levantavam os fun- dos para as lutas com prémios em dinheiro, arranjavam uma briga de galos com os fazendeiros vi thos ou até mesmo presidiam as disputas esportivas no gramado da a! Outros (como muitos colaboradores do Gentleman’s Ma- gazine) dedicavam tempo & observagio de costumes locais, a0 registro de cangdes e baladas, e exploravam os dialetos do lugar. Os altimos anos do século XVIII foram a época em que surgiu esse alicerce do estudo do folclore inglés, Observations on Popular Antiquities, de John Brand, ele proprio baseado no trabalho de dezenas de observadores a? anteriores. Mas a nota de desculpas no prefacio de Brand € caracteristica do tom paternalista: (..) nada pode ficar de fora da nossa pesquisa, muito menos passar despercebido A nossa observasiio, que diga respeito & menor coisa do Vulgo; daqueles Pequeninos que ocupari lugar mais baixo, embora nfo em absoluto de menor impor- tancia, na ordenagio politica dos Seres humanos. Pois (como também observa Brand) 0 orgulho e as necessida- des do Estado civil “separaram 0 Género humano em... uma variedade de Ragas diferentes ¢ subordinadas”. A palavra crucial é “subordinadas”? Uma confirmagao da forca dessa estrutura paternalista pode ser observada na maneira pela qual um nimero infimo de homens pobres de talento foram assimilados por ela. Nao me refiro as tradigées auténticas de cangdes populares, ver- sos em dialetos etc., mas aos poetas “camponeses” que foram descobertos ¢ tratados de forma condescendente, intoleravel, por seus protetores aristocratas do século XVIIL. Ja em 1730, o infeliz Stephen Duck, o “Pocta Debulhador”, foi aclamado e convocaco a presenga da rainha Caroline. Seu protetor teve ainsensibilidade de esconder-the durante alguns dias que sua esposa havia morrido em casa enquanto ele viajavaa pé para Londres, com medo de que a noticia pudesse perturbar 0 es- petaculo real. Duck terminou recebendo um cargo honorifico da Igreja, deixando seu tinico bom poema no patio de debu- Thagdo atrés dele. Foi o primeiro de varios. Até mesmo a in- trometida Hannah More teve sua protegida, Ann Yearsley, a leiteira de Bristol, com quem entrou em desacordo assim que ‘Ann deu um passo na diregio da independéncia. Extremamen- 18 te talentoso era Robert Bloomfield, mais conhecido como 0 “tapaz da fazenda” — embora seu pocma pulse com a nostal- gia de um aptendiz de sapateiro confinado a uma oficina de uma égua-furtada de Londres. Bloomfield, naturalmente, tem muitas passagens que defendem a causa dos pobres: ha, por exemplo, as reflexdes que se seguem a sua descrigéo de um tradicional festival da colheita: Assim eram 0s dias... os dias hi muito passados que eu canto, Quando 0 Orgulho deu lugar & alegria, sem nenhuma mégoa; Antes que a forga da servidio ao tirano fosse bastante grande Para violar os sentimentos dos pobres; Para deixé-los distanciados na corrida enlouquecedora, Onde quer que o refit amento mostrasse sua face hedionda; Nem o édio sem caus: € a desgraca do camponés, Que a cada hora tora pior sua situagio miseravel; Destréi as relagSes da vida; o plano social Que cimenta classe a classe como homem a homer; Artiqueza , a seu redor, altaneira reina a Moda; Contudo dele é a pobreza, e as dores da mente.? ‘Mas o paternalismo poderia aparecer até mesmo em trechos. como este. Era admiss génio “natural el — e mesmo apropriado em um que trabalhara como ajudante numa fazenda —lembrar aos ricos os seus deveres. Nesse apelo nao ha nada que questione a subordinagio, dentro do “plano social”. Ena década de 1790, sob 0 impacto da Revolugio Fran- cesa, dos Rights of Man e das reivindicagées politicas por éalité, que aidéia completa de subordinacio cultural é posta sob um exame radical. £ interessante observar que os refor- madores avancados da época achavam mais facil advogar 0 £. p. THOMPSON programa politico de igualdade — o sufragio' da populagao masculina — do que descartar as atitudes culturais de su- perioridade. John Thelwall —considerado pelos ortodoxos como um dos mais destacados jacobinos da Inglaterra— tem passagern caracteristica no seu Tribune: “Tenho pe- rambulado, de acordo com minha pratica habit ira verdadeiramente democratica, a pé, de No decurso dessas perambulagées, ocasionalmente entro nas pequenas cervejarias de beira de estrada para me retemperar. Sento entre camponeses rudes, de roupas andrajosas, sujas devido a seu trabalho bruto; pois nao esqueci que todos os seres humanos sio igualmente meus irmios; e adoro vet 0 trabalhador com o seu casaco rasgado — isto é eu amo o trabalhador: tenho pena que casaco dele deva estar tio rasgado. Entdo, eu amo o trabalhador, no seu casaco rasga- do, assim como amo o Lorde no seu arm mais (...)* talvez mesmo E assim por diante. A dis no ser mais tao fria, mas praticamente comegou a ser trans- posta, ‘Mas no amigo e contemporaneo de dsworth, encontramo-nos, de repente, em uma nova simacio. E dlaro que nao ha nada novo (se pensamos em Lyrical Ballads) em expressar compaixao pelos pobres— ou em usar a vida hu- milde como tema de contos. Nem mesmo ha — embora aqui realmente nos equilibremos na borda de uma mudanga real — nada inteiramente novo na sugestao de que os pobres tém uma vida interior vigorosa e auténtica. “Amor, lealdade e paixo como incia entre homem e homem pode 20 05 aoMANTicos essas” — exclamava o joven Werther, depois de descrever o fi- nal infeliz do amor de um camponés por sua Senhora — “vivern € podem ser encontradas com toda sta pureza entre uma classe de gente que gostamos de chamar de inculta e grosseira. Nés, vs educados — educados ao ponto de nada sobrar!” Esse tipo de sentimento certamente nos ieva, em linha direta, ao Livro XII do Prelude: Quando comecei a in Aobservar os q Conversas fami encontrava e a lhes fazer perguntas, e manter res com eles, as estradas sol ‘Tornaram-se escolas para mim, nas quais eu ia diariamente ‘Com o maior prazer as paixdes da humanidade, Ali eu via nas profundezas das almas humanas, Almas que parecem nio ter nenhuma profundidade Aoolhos comuns. E agora, convencido de todo 0 eoragao ‘De que aquilo a que nés sozinhos damos O nome de educacio tao pouco tem a ver Com o sentimento real ea consciéncia justa..$ ‘Mas, mesmo se 0 caminho € direto, jé ha uma certa mudanga: tum divisor de aguas foi cruzado, Nao tanto pelo que é dito, mas aintensidade com que ¢ sentido. Suspeita-se que Werther é um voyeur das vidas dos pobres, que usa para se excitar, mas nao Podemos duvidar que, com Wordsworth, a experiéneia seja real € fundamental. O trecho funciona precisamente pela reversio dos pressupostos costumeiros da cultura refinada. Na realidade, a palavra “vulgo” é usada de modo a dar uma virada na mesa cultural: de modo que o leitor seja colocado embaixo, com Wordsworth, 20 falar com ov sao encontrados “o sentimento real e a consciéncia justa”, con- denando a frivolidade e a vulgaridade dos educados, 24 Esse no 6 um ponto de vista ocasional de Wordsworth: € um dos temas maiores apresentados em Prelude, embora nao sseja o mais bem compreendido. Nos iltimos anos, a critica se tem preocupado com tantos outros assuntos que é possivel que 0s leitores abordem esse grande poema sem perceber 0 que ele realmente é: uma afirmagao do valor do komem co- mum, uma declaracio de f6, insistindo, através da perplexi- dade e do choque, na fraternidade universal. “Meu Tema atual... E retragar o caminho que me levou Através da Natureza ao amor da espécie Humana. Inexoravelmente, o tema é trabalhado, a partir do ponto de vista duplo inusitado de Wordsworth; inexoravelmente, a fria distancia é transposta. Sob certo aspecto ele aproveita suas ex- periéncias— incomuns para sua classe —com homens no con- texto de suas atividades naturais — seus colegas de escola, os pastores, a comunidade de Cumberland. Rejeita explicitamen- tea tentagao de recair em idealizagdes pastorais gastas ou em alguma variante do camponés virtuoso de Lakeland, “Essa Criatura— Nio era um Corin dos bosques, que vive Para suas préprias fantasias, ou para dancar hora ap6s hora Em cirandas, com Phillis no meio, ‘Mas, voltado para os seus, um homem Com o mais comum; Marido, Pai; educado, Poderia ensinar, exortar, experimentado com os outros No vicio e loucura, infelicidade e medo... 22 Os RomANTiCos De seu outro ponto de vista, ele desenvolve sua consciéncia de homem revolucionério — o potencial na natureza huma- na que ele tinha vislumbrado na Franca... O solo da vida comum estava naquela época Quente demais para ser pisado E, de novo, © auto-sactificio mais firme, amor generoso E moderagio da mente, e con Supremos no meio da luta ma ia do certo encarnigada Afastando-se dos excessos revol iondrios e de sua propria e nao obstante, avanga na diregio da unio de duas correntes de experiéncia, quando descreve, no Livro XII de Prelude, sua solucao para a socie- dade dos homens comuns em seu proprio pai anga, ¢ para minha paz prazer E firmeza; ¢ cura e trangiilidade . _— Para toda paixio furiosa. Ali ouvi Da boca de homens humildes ¢ obscuros Uma histéria de honra. De novo a palavra “honra” aparece fora de suas costumei- tas associagées com a cultura refinada e € a contexto pouco familiar. Fi da num nessa companhia que Words- worth pode ver através de todos os sinais exteriores pe- los quai A sociedade afastou um homem do outro Indiferente ao sentimento universal, Essa visdo para dentro do sentimento universal — essa trans- mutagio das reivindicacées politicas de égalité em vida interior — nos leva inteiramente para fora da estrutura pa- ternalista. Nao é um ponto de vista momenténeo, mas uma visio deliberada e permanente, expressa com uma maturida- de filoséfica que desafiava a cultura tradicional. Wordsworth mudou nao apenas seu préprio ponto de vista, mas também © daqueles que vieram a seguir. Fechando a distancia entre ele proprio ¢ © homem comum, alinhou-se com © homem comum em sensibilidade e abriu uma distancia entre eles dois ea cultura refinada. A propria palavra “comum” — “um. Homem com 0 mais comun” — adquire, de modo signifi- cativo, novas conotagées: colocamo-nos com o comum e contra a cultura... As Cortes reais, e Aquela vida voluptuosa Indiferente, onde o Homem que tem a alma Mais despreasvel prospera ao maximo, onde nao mora a dignidade, a verdadeica dignidade pessoal. ‘Um mundo frivolo ¢ cruel, afastado de todos Os veios naturais de seritimentos justos, Da compaixdo humilde, e da verdade purificadora... E esta nao é apenas a remiincia convencional ao poder e A riqueza, embora se valha dessa tradigio. Os valores aos 24 0s RomANTicos quais somos conduzidos sao aqueles que pertencem — com dignidade e solidariedade despretensiosa — mais a0 homem superiores. Wordsworth transpée uma barreira que havie tanto tempo cercara o sistema de valo- res paternalista: a da enunciagao clara, Em trecho apés tre- cho ele mostra — vem-nos a lembranca a descricao que faz comum que a seu de sua caminhada noturna pelas montanhas em companhia de um soldado taciturno — um sentimento de solidarieda- de Aqueles para quem “as pelavras nao sao mais que subins- trumentos de suas almas”. O impulso wordsworthiano se estende pelo século XIX € chega ao século XX. Retornarei brevemente a esse ponto, Mas, primeiro, € preciso observar uma das caracteristicas desse movimento. A igualdade do valor do homem comum, que Wordsworth afirma, repousa em atributos morais ¢ espirituais, desenvolvidos através de experiéncias no traba- Iho, no softimento e de relagées humanas basicas. Baseia-se muito menos em atributos racionais e ele confia muito pou- co na educagio formal que poderia inibir ou desviar 0 cres- Cimento calcado na experigncia. Wordsworth teria optado sem hesitacéo por este tiltimo, e, na realidade, ha passagens has quais ele parece decidido exatamente a impor essa op- 640 a0 leitor. Quanto a esse ponto, é l6gico que ele nao era represen- tativo das classes altas de seu tempo, pois 0 outro grande impulso que se origina nessa época e que se prolonga até o século XX vai ser encontrado naquele conjunto de reagées Provocadas pelo medo do potencial revolucionario da gente comum. Na onda contra-revolucionéria engendrada pela Revolugao Francesa — e pelos movimentos reformistas na Inglaterra —, o paternalismo mudou sua natureza e emer- 25 giv de uma forma mais malévola, mais obstrutiva e mais, autoritéria. Sob alguns aspectos, houve um aumento da preocupagio por parte da aristocracia em relago aos po- bres: as escolas dominicais e sociedades que lutam pela melhoria das condig6es de vida e pela supressio dos vicios dos pobres recebem alguma atencio. Mas a énfase mudou. O paternalismo antiquado queria — dentro dos limites de- finidos da ordem social — que os pobres continuassem vi- vendo, trabalhando e se divertindo dos modos que eles hessem. O seguidor evangélico de Wilberforce ou de Hannah More estava mais do que nunca ocupado com a disciplina social e a recuperagao moral: classificando os diversos graus dos pobres merecedores; justificando os gas- tos de capital com a caridade em termos de sua taxa de juros, evidenciados por maior empenho, sobriedade, fru- galidade e obediéncia. Até mesmo os reformadores mais bem-intencionados viam seus empreendimentos como uma forma de seguro social contra os distirbios populares. Es- sas reacées ficaram to entranhadas na cultura das classes, superiores que podemos vé-las revividas incessantemente em cada periodo de agitacao popular no século XIX — du- rante os movimentos reformistas de 1819 ¢ 1832, 0 car- tismo ¢ a década de 1880. Podem ainda ser detectadas na resposta angustiada que é dada ao “problema” do lazer da classe trabalhadora hoje em dia. E desalentador descobrir que uma expresso representa- tiva dessas atitudes possa ser encontrada nos primeiros traba- Ihos do amigo e colaborador de Wordsworth, 5. T. Coleridge. A labuta didria do trabalhador pobre, escreveu ele, transfor- ma “o ser racional em um mero animal”: 26 0s RoMANTICos E um atremedo dos erros de nossos semelhantes consideté« los iguais nos diceitos, quando, pela dura negagao de suas necessidades, nés os fazemos inferiores a nés em tudo que Pode suavizar o coragio ou dignificar o entendimento, Esta é a velha perspectiva de uma cultura “subordinada”; ¢ esta em contradico com a avaliagao de Wordsworth do “sentimen- to real e consciéncia justa” de seus companheiros de caminhada, " Que tristeza!”, continua Coleridge, “entre a Sala de Visitas ea Cozinha, a Torneira e Sala do Café — ha um abismo que nao deve ser ultrapassado”, Devemos pelo menos dar-lhe crédito pelo fato de nao acreditar, como acontecia com John Thelwall, que essa brecha devia ser fechada apenas com o uso dos instrummen- tos politicos. Os reformistas (argumentava ele) “devem procu tar difundir entre nossos criados aqueles confortos e cultura que, muito mais do que todos as posturas politicas, sio os verdadei. ros agentes de igualdade entre os homens” Isso foi escrito em 1795, numa época em que Coleridge ainda lutava para conciliar sua simpatia pelo jacobinismo com sua alienagio intelectual em relagdo 8 gente do povo, Menos de dez anos depois, ele escreven ‘uma carta muito mais lamentavel, cujos sentimentos dificilmen- te podem ser diferenciados dos sentimentos de paternalistas como Hannah More. A ocasio foi uma resposta a seu amigo Thomas Poole, dle Stowey, que enviara a Coleridge um relato de “proble- ‘mas com a criadagem” em sua casa Quanto a seus criados e a povo de Stowey em geral (repli« cou Coleridge), vocé tem sido muitas vezes impaciente co- ‘migo, de modo insensato, quando eu o preveni acerca de suas depravacées. Sem alegrias religiosase terrores religiosos, no se pode esperar nada das classes inferiores da sociedade...?” a7 £. p THOMPSON Era uma época em que até mesmo bibliotecas itinerantes eram encaradas pelos bons defensores da Church and King como “entre os principais agentes do jacobinismo”. Essa histeria cedeu conforme morria a ameaga da invasio fran- esa, mas as reagSes mais gerais permaneceram. Além disso, algumas conseqiiéncias da postura educacional manipulativa empobrecida, malévola e angustiada dai resultante foram habilmente discutidas por Harold Silver, David Owen, Brian Simon e outros, e, naturalmente, no campo da educagao de adultos no século XIX, por John Harrison. Nao é minha intengio repetir 0 arrazoado feito por eles, mas chamar a atengao para uma conseqiléncia posterior — as cerceadoras limitagGes de atitude que surgiram entre os homens de edu- cacao em relagao & cultura e — pois as duas coisas sio inti- mamente relacionadas — a experiéncia daqueles que se encontram fora da cultura letrada, Podemos perceber isso claramente se observarmos as rea- (ges das pessoas instrufdas em relagao aos divertimentos trax Gicionais do povo. Estas reagdes esto conservadas numa carta publicada no Monthly Magazine de 1798 de (o nom de plume 6, por si 86, significativo) “Um amigo dos inocentes diverti- mentos dos pobres esforgado: Estando atualmente em visita 8 casa de um amigo muito respeitavel, que possui diversas minas de carvéo grandes, juntamente com muitos outros extensos empreendimen- tos, e cuja benevoléncia faz par com sua competéncia, contourme ele que um grupo de mineiros, arrendatérios, operitios e outros tinham acabado de the pedir permissio para encenar uma pega no seu festival anual no préximo més de agosto; mas, tendo expressado tao veementemen- 28 0s RomANTiCos, te sua desaprovagio, ele achava que cles desistiriamy acres: Centou, entretanto, que, depois de refletic mais, ele esta. va.em divida, pois eles devem ter algum dive wento, Por acaso nao seria melhor dar seu consentimento para a diversdo, sendo ela, pesadas todas as circunstancias, nos prejudicial do que outras As quais tumados. Aconteceu ontem que um mineiro de grande talento co- mico, que se achava & frente da comissio, e que no Natal sempre desempenha o importante papel de bufao para os dan- Sarinos folelsticos, me fer a solicitagiow que me refer, q do entio teve lugar a seguinte conversagio: — Por favor, madame, a senhora ouviu o nosso senhor dizer alguma coisa sobre a gente representar uma pega no festival? Ele ficou muito abocrecido comigo por eu ter pedi- do licenga para e = Evoou 's estavam acos- mencionar isso, James. — Ea senhora acha que ele vai nos deixar repre: oe a ‘ai nos deixar represen- — Realmente nao sei dizer. Qual é a pega que voots gostariam de representar? — Na verdads, eu nio sei o nome di homem que fala se chama Joh jos nela, mas ,, mas 0 primeiro maldade, nem um pouco. — James, como é que vocé quer represer , 4 Quer representar numa pega gue voeé nunca leu? . — Bem, madame, olhe sé, eles a Tepresentaram em F-n, ‘a umas quatro milhas dagui, faz trés anos; eles conseguiram @ pega em Londres, ¢ a gente podia arranjat o livro, — Mas eu tenho re 0, James, que, seo st. M. vier a Consentir, vocés todos irdo & cervejaria logo que a pega aca- bar. Voc sabe como ele é seu amigo e que ele nio negaria a vYocé qualquer divertimento que nao Ihe faga mal. 29 £. & THOMPSON — Evverdade, madame, é isso mesmo: a senhora pode pensar que a gente costumava fazer brigas de galo, e eu mes- mo fiz algumas. Agora, pensei eu, se nosso senhor nos dei- xar encenar uma pega, af entdo, olhe s6, a gente nfo gastava hheiro apostando um contra o outta, e ican todo 0 nosso: do bébado. — Onde vocés encenariam a sua pega... no celeiro? — Nao, nao, no gramado, com toda cetteza: a gente comegava cerca de cinco horas da tarde e isso nos mantinhia ‘ocupados até perto das oito; pois, embora cles digam que a pega é meio curta, apesar disso, a senhora sabe, temos de trocar as roupas, e também devemos ter violinistas, ¢ tudo isso toma tempo. — Bem, mas o st. M, receia que a pega propriamente dita — se, como voct diz, tem gracejos — possa ter uma tendéncia para hes causar mal e preparar vocés para as posteriores cenas de agitacao e desordem na cervejaria, para onde, depois que tudo terminas, et ainda receio, vocés iriam. Na verdade, James, vocés, todos voces, desejariar que suas esposas e fihas, pelo menos, fossem modestas, castas € sdbrias; €, quanto a vocés mesmos, quando pen- sam na quantidade de dinheiro que gastaram, ¢ em quanto Prejudicaram suas familias, vocés teriam muito de que se arrepender. Bem, 0 st. M. deseja livrar vocés de tudo isso. Vocé sabe, James, faz. apenas quatro dias que seu vizinho, 0 honesto Joseph Braithwait, morreu de uma doenga em pou- cas horas, de uma enfermidade nos intestinos: ele estava bem na noite de sibado, ¢, a0 que tudo indicava, era robusto e sadio como qualquer um de nés; contudo, na noite de do- rmingo, ele jé era um cadaver. Agora, James, pense, se ele estivesse representando numa peca, cuja tendéncia seria depravar tanto a mente dele quanto a dos outros, e ele ti- vesse se embebedado depois do espetaculo, gastando o di- 30 © RoMANTICos nheiro que deveria ter sustentado sua familia nas semanas ‘Seguintes; se nessas circunstancias ele tivesse sido chamado 8 prestar contas ao Criador, pense qual seria sua condigio agoral (...) “Come seria imensamente desejavel”, conclui 0 correspon- dente, gue as diversées dos pobres “pudessem ser planejadas de maneira que fossem, ao mesmo tempo, inocentes!” O que ¢ frustrante acerca dessa passagem é 0 medo das espontaneidades populares — “a pega (...) possa ter uma ten- déncia para lhes causar mal e preparar vocés para as posterio- res cenas de agitacio e desordem na cervejaria” —, 0 medo da cultura popular auténtica além da manipulacao e controle dos scus superiores. Educagio e cultura, ndo menos que os impostos locais para os pobres, eram encaradas como esmo- las que deveriam ser administradas ao povo ou dele subtraf- das de acordo com seus méritos. © desejo de dominar e de moldar 0 desenvolvimento intelectual e cultural do povo na diregio de objetivos predeterminados e seguros permanece extremamente forte durante a época vitoriana: e continua vivo ainda hoj A partir da década de 1790, portanto, pode-se ver a “mar- cha do intelecto”, com suas sociedades de desenvolvimento miituo, seus institutos de mecanica suas palestras domini- cais, comegando a se movimentar, Mas, ao mesmo tempo, cla vai deixando para trés a cultura comum, do povo, baseada na experiéncia. Nao quero sugerir que toda essa cultura era in- tegrada, espontinea e admirdvel. Nao era absolutamente as- sim. Hoje em dia, as melhores cangées folcléricas foram revividas, mas um néimero muitissimo maior das piores — as extremamente grossciras ou simplesmente tediosas — ficaram at £. #. THOMPSON esquecidas. Ou, dito de outra maneira, os historiadores que estudaram a cultura popular do século XVIII pelos olhos de John Wesley trouxeram a luz as lutas de cies contra touros, 0 pugilismo criminoso com punhos nus, os espancamentos de esposas, os impostos sobre a bastardia, mas esqueceram a azd- fama da colheita, o humor expressivo dos dialetos e os festi- vais que celebravam o fim da colheita. Mas n6s nao precisamos tomar partido nessa dificil ques- (Go de avaliagao para defender nossa tese: a de que a educa- G40 se apresentava nao apenas uma baliza na diregio de um universo mental novo e mais amplo, mas também como uma baliza para longe, para fora, do universo da experiéncia no qual se funda a sensibilidade, Além do mais, na maior parte das reas durante 0 século XIX, o universo instrufdo estava tao saturado de reages de classe que exigia uma rejeigao um desprezo vigorosos da linguagem, costumes tradigdes da cultura popular tradicional. O homem trabalhador autodida- ta, que dedicava suas noites e seus domingos a busca do co- nhecimento, era também solicitado, a toda hora, a rejeitar todo © cabedal humano de sua infancia e de seus companheiros trabalhadores como grosseiro, imoral e ignorante. Nio € dificil compreender e aceitar as pressdes dos ho- ‘mens nessa situagdo. A realizagio dos objetivos do movimen- to da classe trab dora exigia— nao apenas de seus lideres, mas também de milhares de seus membros comuns — novos atributos de autodisciplina, auto-respeito e treinamento edu- cacional, A luta da minoria foi tio prolongada e tio dura, eram tio freqiientes os periodos em que parecia que eram abando- nados por sua propria classe, que até mesmo os mais dedica- dos tendiam ocasionalmente a olhar para seus companheiros trabalhadores com aversio e desespero. Depois de mais de quarenta anos de destacado servigo, esse excepcional lider dos sindicalistas londrinos, John Gast, explodiu de repente para Francis Place, em 1834: “O tinico caminho para o Cérebro de um inglés é através de sua barriga.” “Eu proprio”, conti- puava ele, “pertenco a uma instituico da cidade que da pa- lestras todas as noites de domingo, e algumas vezes durante a semana, ¢ temos tido uma boa freqiiéncia, todos nés somos trabalhadores na palestra.” Mas, ao mesmo tempo, lamentaa ignorancia e 0 alcoolismo da “parte vulgar e ignorante do ovo”: Burk nao estava muito errado quando os chamou de Multi- dao Suina; pois alimente bem um Porco e vocé podera fazer © que quiser com ele.? O proprio Francis Place era muito mais presungoso: sua maior esperanga em relagéo aos trabalhadores era que eles deveriam, através dos ensinamentos da Sociedade da Forga do Intelec- to, adotar o estilo de vida e os habitos mentais da classe mé- dia, E uma sombra empobrecida disso, exatamente, era 0 que a educacao formal escolar de fato oferecia aos filhos da classe trabalhadora até tempos bem recentes. A tensio se expressa no proprio meio de instrucao, a linguagem, Hardy foi um dos primeiros a explorar o significado disso: A sra. Durbeyfield usualmente falava em dialetos sua filha (Tess), que tinha sido aprovada no Nivel 6 da Escola Nacio- nal, sob a orientagao de uma professora treinada em Lon- dees, falava duas nguas: 0 dialeto em casa, mais ou menos; © inglés comum fora de casa e para pessoas refinadas. Hi varios anos, antes de eu deixar Halifax, um respeitavel membro do movimento trabalhista local, 0 falecido st. Hanson Halstead — um homem com formagio de engen! iro que ti- nha preferido tornar-se um pequeno proprietério—, um ho- mem que —a despeito de sua longa associago com o NCLC (National Council of Labour Colleges) e WEA (Workers? Educational Association) e sua extensa sabedoria politica — tinha a aparéncia de um camponés rstico, e que sempre que seu intelecto se mostrava mais alerta e suas opiniées mais r4- vidas cafa no rico linguajar de West Riding — um homem, de fato, que parecia viver sempre naquele Border Country culta- ral sobre o qual escreveu Raymond Williams —, me conce- deu a honra de me oferecer um diario Boots comum, onde ele havia escrito, no seu préprio estilo, alguns capitulos de sua autobiografia: Nao estava conseguindo comegar 0 trabalho, mas havia tra- bathado desde que eu tinha nove anos vendendo pio e nfio sei mais 0 qué de porta em porta, tinha de ser aprovado no Nivel 2 naqueles dias em meio expediente, trabalhan- do das 6 da manha até as 12 (...) quando ia para a escola 8s 2 horas costumdvamos cair dormindo sobre a carteira, € se a gente tivesse um professor bondoso ele deixava a gente em paz, mas se a gente tivesse um safado, como 0 gue tivemos numa ocasiao, era o diabo. Eu levava uma surra todo dia, devo ter sido sempre rebelde, mas nao dava muita atengio a isso (...) Depois de algumas descrigées melancélicas de seus professo- res, 0 st. Halstead continua: aa | | | Tinhamos um outro Siddaler, Henry Thomas, que costu= ava esquecer-se e disparava a falar nossa giria muitas ve~ zes durante o dia, se a gente estava fora da sala (...) As vezes quando ele estava li ele dizia: “garotas e garotos narthen, vocés vio fazer sua composi¢io muito bem-feita (...)” Eu vou ler John Hartleys ¢ sendo urs Siddaler ele podia por- que era escrito na nossa lingua (...) Os professores que vi- nham de fora sempre torciam 0 nariz, se voce desse uma escorregadela, mas como a gente podia evitar, se a gente falava duas linguas? Freqilentemente nao apenas os professores mas toda uma cultura letrada, “que vinha de fora”, parecia “torcer o nariz”, Em 1911, um ex-inspetor-chefe das escolas, Edmond Holmes, Tangou (em What is and What Hight Be) um ataque devasta. dor contra todo © proceso educacional. As atitudes de- terminadas pelo Cédigo Revisto (pagamento por resultados) funcionou até 1897 (e perpetuou-se em muitas escolas por muito tempo depois) e visava a dominar a crianca: O objetivo do professor é nao deixar nada por conta da na- tureza da erianga, por conta de sua vida espontanea, por conta de sua atividade livre; reprimir todas os seus impulsos natu- ais; domar suas energias até uma completa imo! 5 manter todo o seu ser num estado de tensfo constante e do~ lorosa (p. 48). No momento em que a vontade da crianga estivesse anulada € “ela tivesse sido reduzida a um estado de servidao mental ¢ moral, chegava a hora de o sistema de educacao, através da obediencia mecanica, ser-Ihe aplicado com todo o rigor”. O sistema era visto por ele como “um engenhoso instrumento para frear o desenvolvimento mental da criancae sufocar suas mais altas faculdades”. E uma critica que nos leva diretamen- te aquela outra devastadora apreciagéo da formagao minis- trada pela Escola Pablica, 0 capitulo intitulado “O mundo do homem”, em The Rainbow. Nesse ponto devo retornar @ minha tese. As atitudes em relagio & classe social, A cultura popular e & educaco torna- ram-se “estabelecidas” no periodo que se seguin a Revolu- ao Francesa. Durante um século ou mais, a maior parte dos educadores da classe média nao conseguia distinguiz 0 tra- balho educacional do controle social, ¢ isso impunha com demasiada freqiiéncia uma repressio a validade da experién- cia da vida dos alunos ou sua prépria negacio, tal como a que se expressava em dialetos incultos ou nas formas cultu- rais tradicionais. © resultado foi que a educagio e a expe- rigncia herdadas se opunham uma outra. E os trabalhadores que, por seus préprios esforcos, conseguiam penetrar na cultura letrada viam-se imediatamente no mesmo lugar de tensio, onde a educagio trazia consigo o perigo da rejei¢ao por parte de seus camaradas ¢ a autodesconfianga. Essa ten- sio ainda permanece. Mas 0 que aconteceu, nesse interim, ao impulso, mais antigo, da égalité, oriundo da mesma década, e com 0 qual Wordsworth paiticularmente se identificava? O impulso permanece, é claros pode-se vé-lo em uma centena de lu- gares no século XIX. Talvez sua fraqueza resida na tendén- cia a considerar 0 conflito entre educacio e experiéncia como sendo entre o intelecto (ou mero intelecto mecani- co) € 0 sentimento; e, em desespero, superestimar este Gl- timo em relagao ao primeiro. Observa-se isso em Borrows ou na defesa que Dickens faz do bem-humorado pessoal 36 0s RoMANTicos circense do st. Sleary contra a rigorosa repressao da sensi- bilidade por parte de Gradgrind e M’Choakumchild; ow até mesmo na celebracao de Edward Carpenter, em seu Towards Democracy, de uma égalité sexual mais fundamental do que 0s atributos educacionais. A oposigio entre a cultura letra da, intelectual, ¢ a cultura provinda da experiéncia e de sensibilidade esta sempre presente em Lawrence e as vezes fica fora de controle ¢ leva na diregao de uma feia celebra- so de irracionalismo. Ha um momento, entretanto, em Sons and Lovers, em que problema consegue um belo equi- librio: — Vocé sabe — diz (Paul) para sua mie —, nao quero per- tencer & classe média abastada. Gosto mais da minha gente. Pertengo a gente do povo, — Mas se todo mundo dissesse isso, meu filho, nfo se- ria uma loucura? Voce sabe que voce se considera igual a qual- quer cavalheiro, — Quanto a mim mesmo— respondeu ele, no quan- to & minha classe, minha educaséo ou meus modos. Mas quanto a mim mesmo eu sou, ~ Entéo, muito bem. Por que entio falar sobre a gente do povo? — Porque a diferenga entre as pessoas ndo esté na sta classe, mas em si mesmas. Da classe média s6 vém idéias, € da gente do povo, a prépria vide, calor. Sentem-se seus ddios € amores. E dessa forma que Lawrence expde a questao: educagio = idéias = classe média; experiéncia (a prépria vida) = senti- mento = gente do povo. Como um protesto contra a fami- gerada sineta da Escola Publica, como uma afirmagdo em face a7 £. p. THOMPSON da fraca cultura literdria de Londres, o esquema€é satisfatorio, mas dificilmente pode ser considerado uma resolugio filo- séfica valida. Além do mais, esse tipo de atiude pod ficar, com facilidade, a outro conjunto de atitudes, fortemente presente no movimento da classe trabalhadora, ¢ acerca do qual eu taivez tenha dito muito pouca coisa. A reagao cultu- ral ébvia @ uma cultura letrada manipulativa, de dominasao de classe, £a do antiintelectualismo: seja ela militante (como surge ocasionalmente na tradigao politica marxista), ou ran- corosamente intolerante (como no extremismo do movimen- to Know-Nothing do populismo americano) ou ainda ingénua, presungosa ¢ sentimental (como aparece, com demasiada fre~ qiiéncia, na tradigéo nao-conformista inglesa). Na realida- de, isso deve ser encarado como um vicio peculiarmente inglés ¢ em outro trabalho sugeri que uma parte da respon- sabilidade pode estar na tradig4o metodista, a qual — ao ‘mesmo tempo que dava novo impulso ao igualitarismo espi- ritual — se afastava, nao obstante, das tradig6es intelectuais mais rigorosas das primeiras igrejas dissidentes. Na verda- de, os puros de coracao podem ser abencoados, mas tam- bém devem se oferecer como uma pastagem na qual os demagogos e os carreiristas possam se apascentar com segu- ranga. Pode ser verdadeiro ¢ importante insistir que avalia- ‘mos os homens nao por sua classe on qualidades educacionais, ‘mas sim pelo seu valor moral, mas se os homens — e espe- cialmente se os homens em desvantagem educacional — co- mecam a se avaliar com muita presungao, isso pode servir como desculpa para que abandonem todo o esforgo intelec- tual. Meus colegas professores aqui presentes, acredito, sa- berao a que me refiro; eles conhecem muitissimo bem o tipo de aluno a que me refiro, Eles talvez também conhegam 0 38 05 RomAnTicos professor que se tornou ciimplice da desisténcia e que fica contente em aceitar o valor moral de seus alunos no lugar de seus ensaios. Talvez.jé 0 tenham até visto, como eu jé vi, tarde da noite, no espelho. Assim, o problema € dificil. Se adotéssemos, sem maio- res esclarecimentos, o “sentimento real a razio justa” de Wordsworth, estariamos abandonando o problema da edu- cago: poderiamos deixd-la a cargo da escola da vida. Tal- vez haja apenas um trabalho no século XIX que revele inteiramente a complexidade e esse trabalho € Judas, o obs- curo. O impulso wordsworthiano esta ali, naturalmente, como estd por inteiro em Hardy, no seu senso do valor da vida comum. Mas seria ridiculo acusar Hardy de vender barato os valores intelectuais. O convincente no romance é a manntengao do equilibrio de valores, a inter-relacao dia lética entre as disciplinas intelectuais ¢ a “vida em si mes- ma”. Pois a historia nao é simplesmente algo que nos vem & lembranga com extrema facilidade quando se trata do mo- vimento de educagio de adultos: a histéria do jovem com sua visio utépica de Christminster como centro de aprendi- zagem desinteressada, de alto nivel: dos seus esforgos para se auto-educar; do seu trabalho como jovem trabalhador em uma pedreira em Christminster, ombro a ombro com os universitérios, esquecidos de suas aspiragbes: Ele era um jovem operstio de blusa branca e pé de pedra nas dobras das roupas; ¢, ao passar por ele, eles nem mesmo 0 Viam, ou ouviam, mas, ao contrario, viam através dele, como se ele fosse uma vidraga, quando olhavam para seus fami res mais adiante. 39 €. p THOMPSON Endo é apenas a historia do fechamento dos portées do Biblioll College contra suas aspiragdes € a ironia final da sua morte em moradias baratas na cidade de sua visio desencantada. Pois Hardy insiste a todo momento que nao foi apenas Judas, mas a propria Christminster, que ficou empobrecida com a sta rejeigao. E na pedreira que “por um momento desceu sobre Judas averdadeira iluminagao; que ali (...) estava um centro de es- forgo de tanto valor quanto aquele dignificado pelo nome de estudo académico na mais nobre das faculdades”, Nao se tra- ta apenas do fato de que trabalhadores e intelectuais estejam integralmente relacionados por lagos econdmicos e sociais; que sem “os trabalhadores manuais nos miserveis bairros pobres” de Christminster “os leitores diligentes nao poderiam ler nem os grandes pensadores, viver”. Trata-se também de que s6 aqui, no contexto real da experiéncia viva, poderiam as idéias dos pensadores tomar corpo e ser testadas, Judas “comegou a ver que avida da cidade era um livro de humanidade infinitamente mais palpitante, variado e sucinto do que a vida académica”. Ao dar & aspiragio de Judas uma “negativa gélida’, a univer- sidade apenas revelou seu proprio empobrecimento, “Ele ain- da pensa”, disse Sue para Arabella, “que la é um grande centro de pensamento elevado e corajoso, diferentemente do que um ninho de mestres-escolas ordinarios cuja caracteristica é a timida subserviéncia a tradigao.” A certa distancia, do lado oposto, as paredes externas do Sarcophagus College — silenciosus, escuras e sem janelas — langavam seus quatro séeulos de tristeza, intolerancia e de- cadéncia no pequeno aposento que ela ocupava, bloquean- do o luar & noite e o sol de dia. 40 0s ROMANTICOS E ai surge Judas, nao apenas como a vitima de um sistema mesquinho, mas como o verdadeiro protagonista de valores intelectuais e culturais. Judas e Sue, em sua procura por no- vos tipos de liberdade, companheirismo e ignaldade no ca- samento, esto envolvidos numa busca mais séria do que qualquer exercicio de pensamento abstrato. Scus sucessos le- vam ao fortalecimento da vida; seus fracassos sao irre- paraveis. Isso nao é uma rejei¢io da cultura letrada em favor da experiéncia. A visio de Christminster permanece com Judas até o fim. “Talvez, ela logo va despertar e tornar-se generosa. Rezo para que isso aconteca!” E uma rejei¢o da abstracio dos valores intelectuais do contexto no qual eles devem ser vividos e uma afirmagio de que aqueles que realmente os vi- vem devem se ater aos valores intelectuais se nao quiserem ser acachapados pela “desonestidade, costume e medo”. Vol- tamos ao ponto onde comegamos; com a dialética necesséria entre a educagio ea experiéncia, Até que ponto tudo isso é agora “velha histéria"? Até que ponto as oportunidades educacionais mais amplas di- minufram a “distancia fria"? Até que ponto as mudancas Politicas e sociais das trés iltimas décadas nos trouxeram para mais perto de uma cultura comum? Os temas desta palestra ainda permanecem relevantes para a educacao dos adultos? Nesse ponto, como professor experimentado, eu deveria deixar de lado as questées e anunciar o comego da discussio, mas como as formalidades da ocasiao desautorizam essa sai- da familiar, devo oferecer algumas sugestées ligeiras. E evidente que a alienagio das culturas nao é hoje em dia da mesma ordem que h4 cem anos. A antiga cultura popu- ay €. &. THOMPSON lar paroquial ha muito desapareceu e a cultura do trabalhor, mais articulada politicamente, que a sucedeu nos centros in- dustriais, vem também perdendo vitalidade nessas duas ilti- mas décadas. Os educadores tém com sucesso resistido € repelido — especialmente na educagao elementar —.°s manifestagdes de pior qualidade para a dominagao cultural € 0 controle social. Mas 0 impulso na direg4o da igualitarismo cultural, que associei a Wordsworth, vem sendo ameacado ha algum tem- po —e, acredito, ameacado com grande intensidade — a partir de uma diregao inesperada. As necessidades de uma sociedade industrial adiantada, juntamente com as pressoes pertinazes do movimento politico trabalhista, tem amplia- do muito as oportunidades educacionais do povo. Entre- tanto, a visdo de Judas em relacdo a Christminster tém perdido intensidade a cada avanco das medidas educacio- nais, pois a educagio passou a ser vista, em grande escala, € por muita gente da propria classe trabalhadora, simples- mente como um instrumento de mobilidade social seleti- va. Além do mais, seja qual for o método de selegao, todo © sistema trabalha de modo a confundir certos tipos de capacidade (ou facilidade) intelectual com realizagao hu- mana. A aprovacio social do sucesso educacional é assinalada de uma centena de modos: o sucesso traz recompensa finance ra, um estilo de vida profissional, prestigio social. Ela se apéia numa apologia completa da modernizacio, necessidade tecno- logica, igualdade de oportunidades. Nao é preciso trabalhar muito tempo dentro de uma universidade para se descobrir que até mesmo os membros mais humainos dos corpos docente ¢ discente acham dificil nao equiparar o progresso educacio- 42 nal auma avaliacéo do mérito humano. E muitos dos que esto fora das universidades, dos que nao conseguem provar a si ‘mesmos serem suficientemente iguais para galgar os degraus da oportunidade, tém gravada sobre si mesmos, de maneiras opostas, uma sensagio nao de diferenca, mas de fravasso hu- mano. Esses avangos acarretam uma traigio fundamental ao tipo de igualdade de mérito que Wordsworth imaginava e que Mansbridge e Tawney batalharam para pér em execucao. A cultura letrada nao esta isolada em relagio a cultura do povo a maneira antiga de diferenga de classes, mas, nao obstante, esta isolada dentro de suas préprias paredes de auto-estima intelectual e de orgulho espiritual. E légico que ha mais pessoas entrando nessa bolha do que jamais aconteceu antes, mas é um erro grave — que sé pode ser aceito por aqueles que, de fora, apreciam as uni- versidades — supor que todos dentro da bolha sao os arden- tes protagonistas, no sentido de Hardy, do mérito intelectual ¢ cultural. Na boa aula de adultos, a critica da vida € aplica- da sobre o trabalho ou assunto que est sendo estudado. Do mesmo modo, isso € menos comum quando se trata de estu- dantes; e grande parte do trabalho de um professor univer- sitério é do tipo de um avaliando curriculos de curs ceeiro intelectual, pesando ¢ 3s, listas de livros para leitura, temas para ensaios, de acordo com determinado treinamen- to profissional. O perigo € que esse tipo de tecnologia profissional neces- siria seja confundida com autoridade intelectual e que as universidades — apresentando-se como um sindicato de to- dos os “peritos” em cada ramo do conhecimento — expro- priem as pessoas de sua identidade intelectual. Nisso elas si0 a3 €. p. THOMPSON ajudadas pela mfdia de comunicagéo muito centralizada—e especialmente pela televisio —, que de fato muitas vezes apre- sentam o académico — ou sera que deveria dizer certos aca- démicos fotogénicos? — néo como um homem profissional especializado, mas como um “perito” na propria vida, exata- mente nesses ternios. As conquistas das dltimas décadas (pois nao duvidamos de que foram conquistas) tenderao apenas a ir em diregio auma cultura igualitéria comum se o intercambio dialético entre a educagao e a experiéncia for mantido ¢ ampliado. Discuto isso agora, menos do ponto de vista daqueles, fora das universidades, que defendem a necessidade de quais- quer competéncias que essas instituigdes possam Ihes tra- zer, do que daqueles, dentro das universidades, que defendem a necessidade — para sua prépria satide intelectual — do exame minucioso e da critica dos que esto de fora. ‘Na Conferéncia em Oxford de 1907, J. M. Mactavish, dos trabalhadores de indiistria naval, fez esse notavel discurso, que expe, nao as necessidades, mas os direitos dos que esto de fora: para minha chisse tudo de melhor que Oxford tem para dar. Exijo isso como um diteito, erradamente negado— er- -ado no apenas para nés, mas para Oxford (...) Os traba- adores no apenas sio usurpados do direito de acesso a0 ‘que no pertence a nenhuma classe ou casta, o conhecimen= toea experiéncia acumulados de uma raga, mas a raga per- de os servigos de seus melhores homens. Enfatizo esse ponto porque desejo que seja lembrado que os trabalhadores po- deriam fazer mais por Oxford do que Oxford pode fazer para os trabalhadores. Pois, lembrem-se, a democracia acontece- 4a r4 por si mesma, com ou sem a ajuda de Oxford; mas, se Oxford continuar afastada dos trabalhadores, entdo, no nal das contas, ela sera lembrada nao pelo que é mas pel que tem sido. Hoje em dia, 0 assunto nao pode mais ser colocado, com al- guma conviceao, dessa mancira, de sepatacao de classes € desafio politico, mas muito do que Mactavish dizia permane- ce valido. A democracia acontecera por si mesma — se acon- tecer — em toda a nossa sociedade ¢ em toda a nossa cultura ©, para que isso aconteca, as universidades precisam do con- tato de diferentes mundos de experiéncia, no qual idéi trazidas para prova da vida. O departamento extramuros da universidade deveria, de fato, ser um lugar importante exatamente para essa dialética — como tem sido ha tanto tempo ao longo da historia dessa universidade: uma porta de saida para 0 conhecimento ¢ as sao competéncias, uma porta de entrada para a experiéncia ¢ a critica, Pode haver grandes mudangas nos tipos de piblico com © qual o departamento se relaciona, mas nao deveria haver mudangas na mutualidade desse relacionamento. Ele néo po- dera desempenhar sua fungao de maneira apropriada (acr. dito eu)'caso se torne extremamente profissionalizado, um verdadeiro anexo de uma universidade. De forma semelhante, esse departamento nao deve ceder facilmente ante a tentagao de alcangar grandes massas que os novos meios de comu- nicagao —a estagao de radio local ou a “Universidade do Ar” — podem fornecer. Por mais importantes que sejam esses meios na suplementagao do ensino tradicional, seu carater de uma sé via pode colidir com a reciprocidade essencial da aula de adultos. as Para encerrar, retorno a uma sintese simples, sobre a qual (1360), Lawrence and Wishart; Brian Simon, Education and the verho discutindo sempre, talvez de maneira cbsessiva. E uma Labour Movement, 1870-1920 (1965), Lawrence and Wishart; sintese em que eu me respaldel com firmeza no prof. Raybould Tivesiy feat Aitie toee aa ae pny quando vim trabalhar aqui com ele, ha cerca de vinte anos. (1964), Routledge and Kegan Pe * Nao ha correlago autométics entre o “sentimeniv real ea 9. Joli Gast a Frances Place, Br is, Add. MSS., 7,829, versity Tutorial Classes, p. 194, Tw230 justa” e as conquistas educacionais, mas as presses de 10. Citado por Albert Mansbricg nossa época estao nos levando a confundir as duas coisas —e os professores universitérios, que nem: sempre se destacam por sua humildade, esto freqiientemente prontos a concordar com essa confusio. & sempre dificil conseguir 0 equilibrio entre o rigor intefectual e o respeito pela experiéncia, mas hoje em dia este equilibrio esta seriamente prejudicado. Se eu ti- ver cortigido esse desequilibsio um pouco, fazendo-nos lem- brar que as universidades se engajam na educacio de adultos ‘po apenas para ensinar mas também para aprender, terei en- to conseguido meu objetivo. NoTAS 1. Guardian, 19 de maio de 1967. Ver também Raymond “Thomas Hardy”, Critical Quarterly, inverno, 1984. 2. John Brand, Observations on Popular Antiquities (1823), 1, xxivexi Robert Bloomfield, The Farmer's Boy (ed, de 1806 ), p. 44. 3. Tribune (1796), I,m. xvi, pp. 16-17. 4.5. Todas as citagdes sio da versio de 1805 de The Prelude, org, E- de Selincout, Oxford University Press. 6. Samuel Taylor Coleridge, Conciones ad Fopulum (1795), p. 25. 7. Sra. Hency Sandford, Thomas Poole and his Friends (1888), Il, pp. 294-6, 8. Harold Silver, The Concept of Popular Education (1965), MacGibbon {8 Kee; Brian Simon, Studies in the History of Education, 1780-1870 a6 a7

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