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MESTRADO EM BIOQUÍMICA
ANDREIA CORREIA
ANDREIA GOMES
JESSICA EIRA
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Índice
Introdução ........................................................................................................................4
Malária ...........................................................................................................................4
Sintomas .........................................................................................................................6
Plasmodium falciparum .................................................................................................6
Plasmodium vivax .........................................................................................................7
Plasmodium ovale .........................................................................................................8
Plasmodium malariae ...................................................................................................8
Antimaláricos ...................................................................................................................8
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Mecanismos de acção dos antimaláricos e emergência de resistências
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Mecanismos de acção dos antimaláricos e emergência de resistências
Introdução
MALÁRIA
A malária é classificada como a infecção parasítica mais importante a nível
mundial, pela sua elevada morbilidade e mortalidade (1 a 3 milhões de pessoas por ano),
sendo causa de graves problemas socioeconómicos que contribuem para o baixo
desenvolvimento dos países afectados, que estão entre os mais pobres do Mundo [1],
[2]. Cerca de 40% da população mundial vive em países endémicos da malária,
distribuídos entre regiões tropicais e subtropicais (Figura 1) [3]. Esta doença é
particularmente grave em alguns países da África (região tropical hiper-endémica), onde
constitui 20% das causas de morte na infância (crianças até aos cinco anos). Além das
crianças, também os portadores do vírus HIV e mulheres grávidas são grupos com
elevado risco de contrair a malária (OMS), sendo que morrem cerca de 10.000 mulheres
grávidas por ano, devido a anemias relacionadas com a malária [4].
Figura 1- Número total de mortes causadas por malária, a nível mundial, entre 2003 e 2008 (OMS)
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Mecanismos de acção dos antimaláricos e emergência de resistências
abrange um ciclo sexuado (na fêmea do mosquito) e um ciclo assexuado (no Homem)
(Figura 2).
O ciclo inicia-se com a picada do mosquito infectado, que lança esporozoítos
para a corrente sanguínea, na qual permanecem até atingir o fígado (30 minutos a 1
hora), onde é iniciada a fase pré-eritrocitária, ou exoeritrocitária, de desenvolvimento e
multiplicação. Nesta fase os parasitas dividem-se nas células do parênquima hepático
por esquizogonia, formando esquizontes que se segmentam em merozoítos. Estes por
sua vez rompem as células hepáticas, sendo libertados novamente para a circulação.
Numa segunda fase do ciclo assexuado, denominada fase eritrocitária, os
merozoítos fixam-se e penetram nos eritrócitos, reproduzindo-se e alimentando-se no
seu interior (trofozoítos). Durante esta transformação o parasita remodela a célula
hospedeira, introduzindo no eritrócito variados compostos e digerindo a hemoglobina,
até ao rebentamento da célula, libertando mais merozoítos que vão infectar outras
hemácias, iniciando-se um novo ciclo eritrocitário [7]. No caso de P. falciparum todos
os esquizontes dão origem a um elevado número de merozoítos, mas noutras espécies
alguns esquizontes permanecem em estado de dormência no fígado (hipnozoíta),
podendo ser reactivados passados meses ou mesmo anos (ciclo exoeritrocitário). Os
trofozoítas, após alguns ciclos de divisão, principalmente quando não encontram
condições favoráveis para nova reprodução, diferenciam-se nos gametócitos feminino
(macrogametócito) e masculino (microgametócito). O ciclo só se completa quando os
gametócitos voltam para o mosquito, ao serem sugados por este por uma nova picada.
No estômago do insecto inicia-se o ciclo sexuado do parasita, que envolve a fertilização
e a formação do zigoto. Este desenvolve-se num oocineto, que atravessa o estômago e
dá origem ao oocisto, que por sua vez se divide por esporogonia no tubo digestivo do
insecto, originando os esporozoítos por ruptura do esporocisto maduro. Os esporozoítos
migram então para as glândulas salivares do mosquito, onde permanecem até serem
libertados numa picada [7], [8].
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SINTOMAS
A fase eritrocitária é aquela que causa a doença, sendo que a fase exo-
eritrocitária é assintomática. Os sintomas clínicos da doença são primeiramente devido à
ruptura e destruição dos eritrócitos. A malária pode ter um decurso gradual ou
fulminante, apresentando sintomas não específicos, o que torna por vezes difícil o
diagnóstico. Assim, a maioria dos pacientes apresenta ataques agudos febres altas,
calafrios, dores de cabeça e diaforese, pelo que a doença poderá ser confundida com
uma infecção viral comum. Outros sintomas comuns são tonturas, indisposição, mialgia,
taquicardia, palidez, icterícia, hepatomegalia e esplenomegalia [8]. Os episódios
periódicos de febre que caracterizam a malária são decorrentes da ruptura sincronizada
dos eritrócitos, com libertação dos merozoítas e de restos celulares, com aumento dos
níveis plasmáticos do factor de necrose tumoral α (TNF-α) [7].
Plasmodium falciparum
Apresenta um ciclo eritrocitário de 48 horas no Homem e é a espécie que causa a
forma da doença malárica com maior morbilidade e mortalidade, a malária maligna ou
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severa. No entanto, este parasita não apresenta ciclo exoeritrocitário, pelo que se a fase
eritrocitária for erradicada não existe risco de ocorrer recidivas [7].
Os eritrócitos infectados por P. falciparum sofrem modificação das suas
propriedades celulares, especialmente na sua superfície, tornando-se capazes de se
agregarem entre si e de se aderirem aos vasos na micro circulação de tecidos
específicos, como o cérebro ou a placenta. Como resultado, pode ocorrer obstrução do
fluxo sanguíneo, causando hipoxia e consequente disfunção orgânica, como por
exemplo insuficiência renal ou encefalopatia (malária cerebral) [7], [3]. Nas mulheres
grávidas estes agregados na placenta são prejudiciais para o desenvolvimento fetal [3].
As maiores complicações da malária maligna incluem a malária cerebral, edema
pulmonar, falha renal, anemia severa e hemorragias. Por outro lado, a acidose e a
hipoglicemia constituem as complicações metabólicas mais comuns. Frequentemente,
muitos destes problemas estão presentes em simultâneo no paciente ou desenvolvem-se
sucessivamente num curto espaço de tempo, progredindo para a morte em poucos dias
ou mesmo horas [8].
A anemia severa que se verifica nos pacientes com a doença deve-se à destruição
dos eritrócitos e à reduzida taxa de eritropoiese, associada com níveis aumentados de
TNF-α e com os níveis reduzidos de Interleucina-10 (IL-10) [3].
A malária cerebral é a forma mais comum causa de morte nos pacientes com
malária maligna, caracterizando-se inicialmente por sonolência e confusão ou com
convulsões generalizadas, com progressão para o coma [8].
Plasmodium vivax
Causador de malária benigna, com sintomas mais leves do que na malária
severa, raramente fatal (ruptura do baço). O seu ciclo eritrocitário é também de 48 horas
mas, como apresenta ciclo exoeritrocitário, pode ficar em estado dormente nos
hepatócitos (hipnozoítas) e manifestar-se de forma recorrente durante anos (recidivas).
Pensa-se que a progressão menos agressiva de P. vivax se deva à sua incapacidade de
adesão ao endotélio vascular, mostrando uma preferência restrita à invasão de
reticulócitos (eritrócitos imaturos) [9].
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Plasmodium ovale
O ciclo eritrocitário é de 48 horas e apresenta ciclo exoeritrocitário. Semelhante
a P. vivax [10].
Plasmodium malariae
Não existe evidência da existência de formas quiescentes no fígado
(hipnozoítas), como as encontradas em P. vivax e P. ovale. No entanto, as formas na
fase pré-eritrocitária não maturam todas no mesmo dia, libertando-se parasitas durante
alguns dias. Estes vão invadir eritrócitos envelhecidos em ciclos eritrocitários de 72
horas. Causa malária benigna, associada a lesões nefróticas renais [11].
Antimaláricos
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do fígado como dos eritrócitos que podem coexistir num paciente. Sendo assim, a cura
completa requer a combinação de mais do que um fármaco [7].
Figura 3 – O ciclo de vida do parasita da malária e o local de acção dos agentes antimaláricos. A figura mostra
o ciclo pré ou exoeritrocitário no fígado e o ciclo eritrocitário no sangue. Locais de acção dos fármacos: A –
Fármacos utilizados no tratamento do ataque agudo (agentes esquizonticidas sanguíneos). B – Fármacos que afectam
os hipnozoítas exoeritrocitário e resultam em cura radical de P. vivax e P. ovale. C – Fármacos que bloqueiam a
ligação entre o estado exoeritrocitário e o estado eritrocitário (usados para quimioprofilaxia). D – Fármacos que
impedem a transmissão e, portanto, o aumento do reservatório humano da doença [13].
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4-AMINOQUINOLINAS
CLOROQUINA
A Cloroquina tem sido o fármaco de eleição
tanto para tratamento como para quimioprofilaxia da
malária desde os anos 40 mas a sua eficácia contra P.
falciparum tem vindo a ficar seriamente comprometida
devido à resistência ao fármaco. Contudo, permanece Figura 4 – Estrutura da Cloroquina.
AMODIAQUINA
A Amodiaquina é estreitamente relacionada
com a cloroquina, e provavelmente partilha o
mesmo mecanismo de acção e resistência com esse
fármaco. É amplamente utilizado para tratamento da
malária devido ao seu baixo custo, toxicidade
Figura 5 – Estrutura da Amodiaquina.
limitada e, em algumas áreas, devido à sua eficácia
contra estirpes de P. falciparum resistentes à cloroquina.
Toxicidades importantes da amodiaqina, incluindo agranulocitose, anemia
aplástica, e hepatotoxicidade têm limitado o uso do fármaco nos últimos anos. Contudo,
uma reavaliação recente mostrou que a toxicidade séria proveniente da amodiaquina é
rara e já é defendida a sua utilização como substituição para a cloroquina em áreas com
grandes taxas de resistência e com recursos limitados [14].
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QUINOLINA-METANÓIS
QUININA E QUINIDINA
A Quinina e a Quinidina prevalecem como
sendo as terapias de primeira linha para a malária por
P. falciparum – especialmente para as formas severas
da doença – apesar da toxicidade poder complicar a
terapia. A resistência à quinina é incomum mas cada Figura 6 – Estrutura da Quinina.
MEFLOQUINA
A Mefloquina é uma terapia eficaz contra muitas
estirpes de P. falciparum resistentes à cloroquina e contra
outras espécies. Apesar da toxicidade ser uma preocupação,
a mefloquina, este é um dos fármacos quimioprofiláticos
recomendado para utilização na maioria das regiões onde a
malária é endémica e onde existem as estirpes resistentes Figura 7 – Estrutura da Mefloquina.
à cloroquina.
A sua acção antimalárica deve-se à sua forte actividade esquizonticida sanguínea
contra P. falciparum e P.vivax, contudo não é eficaz contra estados hepáticos ou
gametócitos. O mecanismo de acção da mefloquina ainda é desconhecido [14].
8-AMINOQUINOLINAS
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PRIMAQUINA
A Primaquina é o fármaco de eleição para a
irradicação das formas hepáticas dormentes de P. vivax e
P. ovale, uma vez que é o único agente activo contra estes
dois estados hipnozoítas dormentes. É activo contra os
estados hepáticos de todos os parasitas e para além disso, Figura 8 – Estrutura da Primaquina.
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ATOVAQUONA
A Atovaquona é uma hidroxinaftoquinona que
foi inicialmente desenvolvida como um antimalárico
para efeitos de profilaxia. O seu mecanismo de acção é
ainda incerto, contudo, parece estar envolvida na
interferência da cadeia transportadora de electrões na
Figura 11 – Estrutura da Atovaquona.
mitocôndria anulando o potencial de membrana na
mitocôndria. É administrado como multifármaco juntamente com o proguanilo
(Malarona) [14].
A Atovaquona tem uma potente acção contra espécies de P. falciparum quando
combinada com proguanilo apresentando simultaneamente uma baixa toxicidade. É um
fármaco lipofílico e apresenta uma actividade mais demarcada contra os estados
eritrocíticos do parasita. É também activo contra os estados hepáticos de P. falciparum
mas não contra os hipnozoítos de P. vivax [7].
TETRACICLINAS (ANTIBIÓTICOS)
DOXICICLINA
A Tetraciclina e a Doxiciclina são activas
contra os esquizontes eritrocíticos de todos os
parasitas da malária humana e não são activas nos
estados hepáticos. A doxiciclina é normalmente
utilizada no tratamento da malária por P. falciparum Figura 12 – Estrutura da Doxiciclina.
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DERIVADOS DO FENANTRENO-METANOL
HALOFANTRINA
A halofantrina é um fármaco eficaz apenas
contra os estados eritrocíticos das quatro espécies
da malária humana. Apresenta alguma toxicidade e
devido a este motivo não é utilizado para
quimioprofilaxia. O seu mecanismo de acção ainda
é desconhecido.
É rapidamente eficiente contra a maioria Figura 13 – Estrutura da Halofantrina.
DERIVADOS DO AMIL-ÁLCOOL
LUMEFANTRINA
A Lumefantrina é um amil-álcool relacionado com
a halofantrina e é altamente eficaz no tratamento da
malária por P. falciparum. Actualmente tem sido
seleccionada como fármaco para terapia de primeira linha
para a malária em muitos países Africanos devido à sua
grande eficácia contra P. falciparum e por não apresentar a
Figura 14 – Estrutura da Lumefantrina.
toxicidade que a halofantrina apresenta [14].
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ARTEMISININA
A artemisinina é o princípio activo de uma planta
medicinal que é utilizada como antipirético na China há
2000 anos.
Devido ao facto de ser insolúvel, foram
sintetizados análogos da artemisinina para melhorar as
solubilidades e as acções antimaláricas. Os análogos Figura 15 – Estrutura da Artemisinina.
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Resistência a fármacos
Três das espécies de plasmódio que infectam humanos com malária podem
conferir resistência a fármacos antimaláricos, sendo estas Plasmodium falciparum,
Plasmodium vivax e Plasmodium malariae.
Resistência é definida como a habilidade da estirpe parasitária sobreviver e
multiplicar-se, apesar da administração e absorção da medicação dada em doses iguais
ou superiores àquelas usualmente recomendadas, mas dentro da tolerância do sujeito
(OMS 1967), sendo, posteriormente, modificada de modo a incluir a frase “A forma da
droga activa contra o parasita deve ser capaz de obter acesso ao parasita ou ao eritrócito
infectado para a duração do tempo necessário para sua acção normal.” Esta modificação
na definição de resistência teve como base um novo desenvolvimento na compreensão
do metabolismo humano da sulfonamida. Uma vez que a farmacocinética dos
medicamentos antimaláricos varia bastante entre indivíduos, a definição de resistência
também inclui o perfil da concentração da substância activa em causa. Isto pode ser
ilustrado num caso de um pró-fármaco que não está activo sob a forma ingerida e requer
a conversão química por processos metabólicos, tornando-se então activo. Neste caso, a
definição de resistência deve incluir uma exigência de um perfil padrão do metabolito
biologicamente activo.
A resistência aos fármacos antimaláricos é conferida por eventos genéticos
espontâneos, raros, e pensa-se que estes são independentes do fármaco utilizado. Estes
acontecimentos são mutações ou alterações no número de cópias de genes que estão
relacionados com a metabolização do fármaco, ou então relacionam-se com o efluxo de
bombas que afectam as concentrações do fármaco intraparisitário. Tanto múltiplos
acontecimentos génicos ligados (epistasia) como um único evento podem ser o
suficiente para o desenvolvimento de resistência.
Ainda se pode ter resistência a multifármacos. Esta ocorre quando há alguns
fármacos que pertencem à mesma família química ou que têm modos de acção
semelhantes. A resistência a multifármacos de P. falciparum é visto quando o parasita é
resistente a mais de dois compostos antimaláricos operacionais de classes químicas
diferentes e modos de acção diferentes. Geralmente, as duas primeiras classes afectadas
são as 4-aminoquinolinas e os antifolatos (diaminopirimidina, sulfonamidas).
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Mecanismos de acção dos antimaláricos e emergência de resistências
Carga da doença
o O aparecimento de resistência à cloroquina em África conduziu a um
aumento de internações no hospital;
o Aumentar as tendências da mortalidade foram encontradas ao nível da
comunidade;
o O tratamento ineficaz provoca anemia e baixo peso ao nascer e torna a
saúde das crianças e adultos infectados com o P. falciparum e P. vivax
mais frágeis;
o Resistência a antimaláricos estiveram, pelo menos parcialmente, nos
casos de malária epidemias;
o A resistência a antimaláricos está associado a uma transmissão
aumentada.
Custo económico
o A resistência a antimaláricos tem aumentado o custo global do controlo
da doença, incluindo o custo de desenvolvimento de novos
medicamentos;
o Falha terapêutica exige a consulta numa unidade de saúde para
diagnóstico e tratamento, resultando na perda de dias de trabalho para os
adultos, a ausência de escola para crianças e aumento do custo para o
sistema de saúde.
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PIRIMETAMINA E CICLOGUANIL
Estudos com o gene Pfdhfr têm mostrado consistentemente a importância para
uma mutação pontual no codão Ser108Asn levando a um fenótipo resistente de P.
falciparum. Mutações pontuais adicionais nas posições Asn51Ile, Cys59Arg e
Ile164Leu reforçam a resistência de P. falciparum.
A resistência aumenta com o número de mutações. A resistência de cicloguanil parece
estar associada com o dobro das mutações Ser108Thr e Ala16Val [22].
Na América do Sul, a mutação no codão 59 é menos comum e é substituída pela
mutação Cys50Arg e pela inserção repetitiva de cinco aminoácidos entre os codões 30 e
31. Esta inserção repetitiva é encontrada associada com mutação Ile164Leu e levando
ao fracasso do tratamento [23].
Outra mutação associada com a mutação encontrada em Ile164Leu foi encontrada na
Tailândia.
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SULFADOXINA
O mecanismo de resistência à sulfadoxina tem sido associado com cinco
mutações pontuais, no codons Ser436Ala/Phe, Ala437Gly, Lys540Glu, Ala581Gly e
Ala613Thr/Ser do gene Pfdhps. As mutações em 437 e 540 conferem algum grau de
resistência, as mutações 436, 581 e 613 contribuem para um maior grau de resistência
[22].
SULFADOXINA-PIRIMETAMINA
Na quimioterapia antimalárica, sulfadoxina é sempre combinada com a
pirimetamina. A actividade antimalárica desta associação baseia-se na inibição
específica de duas enzimas sucessivas na biossíntese de ácido fólico, com acção
sinérgica subsequentes. Diversas mutações em ambos os genes, Pfdhfr e Pfdhps, são
necessárias para induzir a falha do tratamento com a combinação sulfadoxina-
pirimetamina, tais como mutações triplas nos codões 108, 51 e 59 do gene Pfdhfr e
mutações duplas nos codões 437 e 540 do gene Pfdhps [24]. Em estudos populacionais,
as mutações no codão 59 do gene Pfdhfr e codão 540 do gene Pfdhps são fortemente
sujeitas a insucesso do tratamento. Uma quíntupla mutação genética pode criar as
condições necessárias para o surgimento da mutação Ile164Leu no gene Pfdhfr e da
mutação Ala581Gly no gene Pfdhps [25].
A relação entre o genótipo do parasita e da resposta terapêutica à sulfadoxina-
pirimetamina é influenciada pelo parasita, farmacocinética e factores humanos.
Quando um parasita tem o gene Pfdhfr selvagem (sem mutação), o risco de fracasso é
comum, independentemente dos alelos Pfdhps. Em contraste, o risco aumenta com o
número de mutações no gene Pfdhfr, particularmente quando há uma mutação adicional
no gene Pfdhps ou quando a imunidade está a falhar [23].
Como resultado, apesar de sulfadoxina-pirimetamina permanecer em vigor, a
emergência de uma ou duas mutações podem aumentar a transmissão da malária e a
disseminação da resistência [26].
4-AMINOQUINOLINAS
O gene pfcrt está situado no cromossoma 7 e codifica uma proteína de transporte
na membrana vacuolar. Este gene desempenha um papel importante na determinação do
fenótipo de resistência à cloroquina, quando a lisina é substituída no codão 76 de
treonina. Esta mutação está associada a diferentes conjuntos de mutações noutros
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AMINO-ÁLCOOIS
O gene Pfmdr1 também tem sido implicado na resistência a amino-álcoois e na
resistência à artemisinina. Estudos realizados mostraram que os aumentos em número
de cópias desse gene são responsáveis pela resistência à mefloquina e um aumento do
risco de falha do tratamento com artesunato-mefloquina e arteméter-lumefantrina
(quatro doses de regime somente) [27]. A susceptibilidade in vitro à mefloquina,
halofantrina, quinina e artemisinina aumenta quando o número de cópias do gene
Pfmdr1 são reduzidos ou quando os parasitas realizado acarretam mutações no gene
Pfmdr1 [28]. A amplificação e desamplificação do gene Pfmdr1 são relativamente,
acontecimentos frequentes que estão relacionados com a rápida evolução da resistência
à mefloquina, isto, quando o fármaco é usado como monoterapia.
Em vários estudos, arteméter-lumefantrina apareceram para seleccionar o tipo selvagem
do aleno Asn86 do gene Pfmdr1 em infecções de repetição, uma vez que, poderia ser
um marcador de susceptibilidade reduzida à lumefantrina [29].
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QUININA
É difícil demonstrar resistência à quinina. No cromossoma 13 de P. falciparum
existe um gene candidato (Pfnhe-1) [30]. Estudos com clones isolados de campo
indicam que Asn86Tyr, Ser1034Cys, Asn1042Asp e mutações Asp1246Tyr podem
estar associados à susceptibilidade diminuída da quinina. Tal como a resposta à
cloroquina, a quinina é influenciada por mutações nos genes transportador diversas
(pfcrt, Pfmdr1 e Pfnhe-1) [16, 31].
ARTIMISININA
Na malária por P. falciparum, pensa-se que a artemisinina inibe a bomba Ca2+-
ATPase (SERCA) do retículo endoplasmático do parasita, isto porque se observou que o
polimorfismo no seu gene, PfATP6, está relacionado com a resistência, in vitro, à
arteméter em espécies isoladas P. falciparum [32], no entanto, é pouco provável de ser o
único alvo [33]. Um marcador molecular para resistência à arteméter foi proposto,
PfATPase6 Ser769Asn, mas esta sugestão baseia-se, exclusivamente, em resultados de
testes in vitro, o que não confirma esta hipótese [34]. A amplificação do gene Pfmdr1
está associada a reduções relativamente pequenas, mas significativas na suscetibilidade
à artemisinina, o que poderia explicar a resistência cruzada observada entre os amino-
álcoois e artemisininas, isto in vitro [35].
ATOVAQUONA
Análise molecular de isolados demonstrou que a resistência atovaquona está
ligada a uma única mutação no gene do citocromo b (Tyr268Asn, Tyr268Ser ou
Tyr268Cys), induzindo um aumento de cerca de 1000 vezes no IC50 para atovaquona.
Em estudos anteriores, uma única mutação no citocromo b foi observada a comprometer
a eficácia deste medicamento [36].
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Conclusão
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