Professional Documents
Culture Documents
Para que a consciência sinta a beleza é necessário que seja tocada pelo
“aparecer” de um dado objeto.
p.48 O artista nunca quer dizer nada, se ele quisesse empregaria a linguagem.
Ele está justamente nos mostrando aquilo que não pode ser dito, que é
inefável. O artista não diz, mostra.
p. 49 Não se pode dizer o significado de uma obra, não se pode exprimir aquilo
que á nela de outra forma, a não ser por ela própria: não existem sinônimos no
caso da arte.
p.50 – o que é expressado pela arte não pode ser expressado de qualquer
outra maneira.
p.54 – a obra de arte é “aberta”, segundo Umberto Eco. Ela é aberta para que
cada um complete o seu sentido.
p.48 – Todos nós, alguma vez, diante de um poema, ou um filme, ou uma música, ou uma
paisagem, sentimos a força desse calar.Alguma vez foi nos foi dada essa experiência de um máximo
desprendimento de nós mesmos numa atenção retesada quase até o limite, que paradoxalmente,
coincide com uma máxima intimidade com nós mesmos. E todos nós sentimos contrariados
quando alguém começou a falar e rompeu esse silêncio. Como se ao ser levado a perder o silencio,
alguém logo caísse no eu habitual e em suas formas habituais de experiência da realidade, e, nesse
cair, dissolvesse irremediavelmente esse tipo de intimidar com as coisas e esse tipo de
ensimesmamento. E todos nós já experimentamos com uma ofensa à pureza do instante e como
uma violência o fato de que alguém nos tenha obrigado a falar, de alguém nos tenha dito: “bem,
diz alguma coisa; que te pareceu? Que estás pensando?”
No entanto, há vezes em que um livro, ou um filme, ou uma música nos faz olhar pela janela e, aí,
na paisagem, tudo parece novo; ou nos faz pensar em alguém e, de repente, sentimos mais
nitidamente sua presença, ou simplesmente faz nos determos um momento e nos sentirmos, a nós
mesmos, de uma forma particularmente intensa. E a paisagem, ou a pessoa evocada, ou nós
mesmos, estamos nessa escrita palavra-por-palavra, quase ao pé da letra. E, todavia, não é que
tudo isso esteja aí exatamente descrito. O que ocorre, melhor dizendo, é que aí está a imagem
interior das coisas e das pessoas. E o ponto justo de silêncio e de vazio para que essa imagem
interior possa renovar-se uma-e-outra-vez.
A obra de arte precisa ter muitos sentidos, muitas leituras. O objeto estético
tem a necessidade do espectador para aparecer.
p.56 – “saber o que está à nossa frente não tem significação prática no mundo
e o que nos permite dar atenção a sua aparência como tal.”
p.57 – Assim é que não existe uma análise das partes constituintes do objeto
estético, sendo este apreendido como um topo, como uma estrutura complexa
de partes inter-relacionadas mas não isoláveis entre si.
59 – na beleza, não existe uma vontade de se ter até ser saciado. Sempre
estamos dispostos a experienciar a beleza, e ao final de uma experiência desta
não ocorre nada ocorrido com uma sensação de fastio, de necessidade
satisfeita. Do contrário, sentimos falta da mesma na vida prática.
Uma experiência estética deve fazer pensar, sim; uma obra de arte é (para nós)
uma grande obra quando permanece “em nossa cabeça” após fruída.
p.88 – Um segundo motivo pelo qual o indivíduo não consegue manter uma
relação estética com a arte, tornando assim sua experiência borrada com as
tintas do desprazer, pode-se dizer que se situa no pólo oposto à situação
anterior. Trata-se daqueles que casos de neurose profunda, de pré-psicose ou
mesmo de psicose, em que os planos de realidade se confudem, e o indivíduo
acaba por mergulhar inteiramente no universo da obra.