You are on page 1of 10
DIRK J. STRUIK HISTORIA CONCISA DAS MATEMATICAS TRADUGAD DE JOAO COSME SANTOS GUERRERO 2," aig revista © wmplade gradiva CAPITULO IV O Oriente depois do declinio da sociedade grega ‘A antiga civilizagao do Préximo Oriente nunca desapareceu, de todas as influéncias helenisticas. Ambas as influén- ‘rega e oriental aparecem claramente na ciéncia de Alexan- Constantinopla e a India eram também importantes locais mtro do Oriente com o Ocidente. Em 394, Teodésio 1 dou 0 Império Bizantino; a capital, Constantinopla, era _rega, mas 0 centro de administragdo de vastos territ6rios, onde s Gregos constituiam somente uma parte da populagio urbana, rante um milhar de anos, este império lutou contra forcas, las do leste, do norte ¢ do oeste, servindo ao mesmo tempo guardio da cultura grega e de ponte entre 0 Oriente ¢ o Oci- dente, A Mesopotamia tornou-se independente dos Romanos ¢ ‘Gregos no século 11d. C., primeiro sob o dominio dos reis Partos, mais tarde (266) sob o dominio da dinastia persa 8 Sassinidas. A regitio do Indo teve, durante alguns séculos, us Depois de 622, 0 ano da Hégira, os Arabes conquistaram rapi- damente varias regides da Asia ocidental e antes do final do século vit tinham ocupado regides do Império Romano do Oci- dente, tal como a Sicilia, o Norte de Africa e a Espanha. Onde Quer que chegassem, tentavam substituir a civilizagdo greco- ~fomana pela do Islao. O arabe tornou-se a lingua oficial, em vez do grego ¢ do latim; mas a circunstaneia de uma nova lin. Buagem ter sido usada nos documentos cientificos ofuscou o facto de, sob o dominio dos Arabes, uma considerével conti. nuidade cultural ter permanecido, As antigas civilizagdes autéc. tenes tiveram mais possibilidades de sobreviver sob este domi. nio do que sob o dominio alheio dos Gregos. A Pérsia, por exemplo, conservou muito da antiga sociedade sassdnida, ape- sar da administragao drabe. Porém, continuou o confronto entre 4s diferentes tradicdes, mas agora de uma forma nova, Através de todo o periodo da dominagao islamic, existiu uma tradigao ‘srega bem definida, que se manteve contra as diferentes cultu. as autéctones, Vimos que os resultados matematicos mais gloriosos desta competicéo ¢ da mistura entre o Oriente ¢ a cultura gresa, durante © apogeu do Império Romano, surgiram no Egipto, Com 0 declinio do Império Romano, o centro de investigagio ‘matemdtica comegou a deslocar-se para a india e mais tarde vol- fou a Mesopotamia. As primeiras contribuigées indianas bem onservadas para as cifncias exactas so os Siddiantas, dos quais © Straya se pode assemelhar, na forma, ao original (300-400 4. C.). Estes livros relacionam-se essencialmente com a astro- nnomia ¢ operam com epiciclos e fracgdes sexagesimais, Estes fae. tos sugerem a influéncia da astronomia grega, talver transmi tida num periodo anterior ao Almagesto; também podem indicar um contacto directo com a astronomia babilénica. Além disso, © Siddhantas revelam muitas caractetisticas genuinamente 16 \dianas. O Siirya Siddhdnta tem tabelas de senos (jy) em vez cordas. Este seno é metade de uma corda, pelo que é um seg- mento de recta. s resultados dos Siddhantas foram explicados sistematica- mente ¢ desenvolvidos por escolas de matemeética indianas, cen- _ tralizadas essencialmente em Ujjain (India central) e Mysore (Sul da india), Foram conservados 0s nomes ¢ os livros dos mate- | Os mais conhecidos destes matemiticos so Aryabhata (cha- “mado «o primeiro», c, $00 d. C.) e Brahmagupta (625). A ques- em relagdo a Grécia, a Babilénia e & hina é um assunto discutivel; no entanto, eles revelam 20 smo tempo uma originalidade consideravel. O que é carac- tico nos seus trabalhos 6 a parte aritmético-algébrica, que mostra a sua tendéncia para as equap6es indeterminadas e, deste lo, alguma afinidade com Diofanto. Estes escritores foram, séculos seguintes, seguidos por outros que trabalharam no mesmo campo; os seus trabalhos eram em parte astronémicos ‘em parte aritmético-algébricos e faziam incursdes na medigao nna trigonometria. Aryabhata I tinha para x 0 valor 3,1416. Um assunto favorito era a procura de triéngulos e quadriléte- racionais, nos quais Mahavira, da escola de Mysore (850), €quagdes indeterminadas do primeiro gran ax + by = c (em que ‘bec sio inteiros) ¢ encontrada em Brahmagrupta. Por isso, lando rigorosamente,¢incorrecto chamar equagées diofanti 85 &s cquagées lineares indeterminadas. Onde Diofanto acei- {0u solucdes fraccionérias, 0s Hindus admitiam somente solu- negativas das equagdes, embora isto possa ter sido uma ica antiga, sugerida pela astronomia babilénica. Bhaskara, F exemplo, resolven a equacio x*—45x = 250, encontrando 17 as solugdes x = 50 e x=—5; ele manifestou algum cepticismo no que diz respeito & validade da raiz negativa. O seu Liffvati foi durante muitos séculos um trabalho-modelo sobre aritmética ¢ ‘medigo no Oriente; 0 imperador Akbar traduziu-o para persa (1587) e uma edicgo inglesa de 1817 foi reeditada em 1827, em Calcutd. A edigao original, em sinscrito, foi varios vezes reedi tada: existe uma com comentarios em sanscrito e hindi (Benares, 1961)**, A antiga India produziu ainda mais tesouros matemé- ticos; sabemos hoje, por exemplo, que a série de Gregory Leibniz para x/4 foi encontrada num manuscrito sAnscrito, att: buido a Nilakantha (1500)°. Na matematica hindu, a realizagao mais conhecida é 0 nosso actual sistema de posigdo decimal. O sistema decimal € muito antigo, tal como o sistema de posigao; a sua combinacio surge ‘na China e depois na India, onde se impés gradualmente em relagao aos antigos sistemas nao posicionais. A sua primeira ‘ocorréncia na [ndia encontra-se num prato do ano 595, onde a data 346 escrita na notagio do sistema decimal de posigao. Os Hindus, muito antes destes registos epigréficos, tinham um_ sistema para expressar mimeros grandes através de palavras Brahmagupta afitma algures no seu ivr que alguns dos seus problemas foram proposts «simplesmiente por prazery. Esta afirmagio confirma que as rmatemétias no Oriente tisha hé muito dixado a sua funedo utilitria. Cento fcinquenta anos depois, Aleuino, no Ocdente,escteviaFroblemas par 0 Deser- ‘olvimento da Mente dos Jovens,exprimindo um objective no tiltrio seme- Uhante. As mateméticas, na forme de um puzzle intelectual, contsibuirem mui- tas vezes para o progresso da citncla, abrindo novos campos. Alguns pucaes ainda esperam a sua inepragio 0 corpo central da matemtica. €. T, Rajagopal eT. V. Vedaminthi Aiyar,Serota math, vol. 17,1981, pp. 65:74; ibd, vol. 18, 1952, pp. 25:30. Ver também C, T. Rajagopal eA. Venkatamaran, J. Roy. Asiatic Soc. Bengali, vol. 15, n.° 1, 1989, pp. 1+: ¢4.£, Holmann, Math. Phys, Seminar Ber. (Gieser), vol. 3, 1953, pp. 193-206. 118 ‘agrupadas de acordo com o método do valor de posicio. Exis- tem textos anteriores nos quais a palavra sfinya,significando , € utilizada explicitamente’®, © chamado «manuscrito Bakshilin, consistindo em setenta folhas feitas de casca de 0 € de origem e data incertas (as datagGes vo do século tt tinha um ponto para representar 0 zero. O registo epigratico ‘mais antigo contendo um sinal para o zero data do século 1X, ndo muito mais tardio que a ocorréncia de um sinal para 'O NOS textos babilénicos. O sinal 0 para representar zero pode ‘ser devido & influéncia grega (ouden = «nada» em grego); enquanto 0 ponto babilénico aparece entre digitos, 0 zero indiano aparece também no final, de forma que 0, 1, 2, .... 9 tornaram digitos equivalentes’”. - O sistema decimal, provavelmente origindrio da China, pene- lentamente ao longo dos caminhos das caravanas, em mui regides do Préximo Oriente, tomando o seu lugar junto de outros sistemas. A penetracdo na Pérsia, talvez também no Egipto, pode muito bem ter acontecido no perfodo sassAnida 641), quando o contacto entre a Pérsia, 0 Egipto e a India estreito, Neste periodo, a meméria do antigo sistema de valor ‘posigio dos Hindus encontra-se num trabalho de 662, escrito por Severus Sébokht, um bispo sirio. Com a tradugdo drabe dos Siddhiantas por Al-Fazati (c. 773), 0 mundo cientifico islamico ‘comegou a familiarizar-se com o chamado sistema hindu. Este sistema comecou a ser utilizado cada vez mais no mundo arabe © para além dele, embora o sistema de numeragao grego tam- * Ito pode ser comparado 20 uso do conccito de «azo» (kenas) na Fisica, “WW; de Aistéeles, 8.215%, Ver também C. B. Boyer, «Zero: the Symbol, the ‘Concept, the Number», in Nat. Math. Meg, vol. 18, 1944, pp. 323-330 7 CA, H.Freudenthal, $000 jaren internationale wetenschap, Grong, 1946, 119

You might also like