You are on page 1of 3

925

Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício


ISSN 1981-9900 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o d e P e sq u i s a e E n si n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
w w w . i b p e f e x . c o m . b r / w w w . r b p f e x . c o m . b r

LUTAS PARA CRIANÇAS COM E SEM DEFICIÊNCIA

Martial Arts for children with and without disabilities

Maicon Servílio Pereira1


Leonardo Cavalheiro Scarpato2
Ricardo Manoel de Oliveira Zambelli3
Maria Luiza Tanure Alves4
Edison Duarte5
José Júlio Gavião de Almeida6

Palavras-chave: Luta. Crianças. Deficiência.

1-Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em 4-Faculdade de Educação Física da Unicamp,


Educação Física da Unicamp, Grupo de Estudos e Brasil.
Pesquisa em Lutas da Faculdade de Educação 5-Faculdade de Educação Física da Unicamp,
Física da UNICAMP, Brasil. Brasil; International Wheelchair & Amputee Sports
2-Pós-graduado em Psicomotricidade-Instituto Federation, IWAS, Grã-Bretanha.
Nacional de Deporte Y Recreación, Cuba. 6-Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em
3-Pós-graduado em Pedagogia do Esporte Educação Física da Unicamp, Brasil; Comitê
Educacional, Brasil. Paralímpico do Brasil, Brasil.

INTRODUÇÃO Antunes e Iwanaga (2013), começa a ser


responsável por significativas mudanças
A luta (arte marcial) passou por um conceituais. As adaptações ao espaço, às
processo de ressignificação. Porém, muitos alterações nas regras e a ressignificação do
possuem o receio com a prática, esporte podem favorecer o aluno a explorar o
principalmente na escola, por conta do seu potencial sem desconsiderar a sua
pensamento reduzido de que luta é sinônimo limitação.
de agressividade, violência, sangue e outros Entende-se por deficiência, segundo
mais. Winckler e Mello (p. 51, 2012), “perda ou
Por outro lado, embasando-se nos anormalidade da parte do corpo (estrutura) ou
Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, função corporal (função fisiológica)”,
1998) a prática pedagógica das lutas é um incapacidade como “um termo para déficit,
conteúdo programático da Educação Física limitação e restrição de participação” e
Escolar, entretanto, a inserção deste tema na limitação como “dificuldades que um indivíduo
escola se depara com barreiras que pode ter em realizar uma tarefa”.
prejudicam ou até mesmo inviabilizam seu A partir deste conceito
processo de ensino-vivência-aprendizagem. compreendemos o esporte como oportunidade
Os impedimentos mais comuns a de participação plena nos diversos aspectos
pratica de lutas ao aluno com deficiência são a da vida cotidiana (Alves, Duarte, 2005).
falta de conhecimento específico, e por O processo de ensino-vivência-
consequência, a insegurança por parte dos aprendizagem de lutas para a criança com
professores de trabalhar o tema luta com os deficiência deve ser sistematizado de acordo
alunos e a insciência acerca da deficiência com as necessidades da criança, visando
apresentada pelo aluno. Estes podem explorar os potenciais sem desconsiderar as
comprometer o processo pedagógico. A limitações que a deficiência pode implicar. A
sistematização de ensino, ou a falta desta, fim de tornar as práticas de lutas e esportes de
também pode ser determinante na combate acessíveis a criança com deficiência,
compreensão do tema. Uma vez utilizada sugerimos a utilização do sistema de
determinada estratégia não adequada, o aluno interações das lutas (Gomes, 2010), como
com deficiência pode ser levado à crença de base para a sistematização do ensino de lutas
que este não é capaz de lutar. para crianças com e sem deficiência.
A pessoa com deficiência, diante da A figura 1 explicita o sistema de
marginalização da prática esportiva, segundo interação das lutas de curta, média e longa

Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício, São Paulo. v.11. n.63. p.925-927. Edição Especial. 2016. ISSN 1981-
9900.
926
Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício
ISSN 1981-9900 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o d e P e sq u i s a e E n si n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
w w w . i b p e f e x . c o m . b r / w w w . r b p f e x . c o m . b r

distância. O temo Curta Distância refere-se às as interações dependem de um implemento/


modalidades de luta de contato contínuo, nas arma, como esgrima e Kendô.
quais os oponentes dependem de contato Gomes (2014) baseada em Terrisse
direto e ininterrupto, como por exemplo, judô, explanou que o processo de ensino das Lutas
jiu-jitsu, sumô e huka huka. e Esportes de Combate (tratadas no Brasil
Já o termo Média Distância trata das como Lutas) não ocorre somente com ênfase
modalidades de luta de contato intermitente, em um dos pólos da figura 2.
nas quais os oponentes buscam o contato com A autora justifica dizendo: “É
diferentes partes do corpo, seguindo as necessário cooperação para compreensão da
regras, tais como karatê, Taekwondo e boxe. lógica dos combates, para a adaptação aos
A longa distância representa as imprevistos das situações de luta” (Gomes,
modalidades de luta de contato mediado, onde 2014, p. 31).

Fonte: Gomes, 2010, p. 223.

Figura 1 - Sistema de interações das Lutas.

Fonte: Gomes (2014, p. 31).

Figura 2 - Pólos de oposição e cooperação por um ensino do saber lutar.

Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício, São Paulo. v.11. n.63. p.925-927. Edição Especial. 2016. ISSN 1981-
9900.
927
Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício
ISSN 1981-9900 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o d e P e sq u i s a e E n si n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
w w w . i b p e f e x . c o m . b r / w w w . r b p f e x . c o m . b r

Sugerimos a abordagem do tema lutas situacionais. Movimento. Vol.16. Núm. 2.


para todo aluno (com e sem deficiência) de p.207-227. 2010.
forma lúdica e a fim de estimulá-lo de acordo
com suas necessidades e potencialidades Gomes, M. S. P. Procedimentos pedagógicos
considerando suas limitações. para o ensino das lutas: contextos e
Gomes (2010) sugere o trabalho de possibilidades. Dissertação de Mestrado em
habilidades básicas como equilíbrio (estático e Educação Física. Universidade Estadual de
dinâmico), rolar, projetar, cair, controlar, Campinas. Faculdade de Educação Física.
excluir, tocar e/ou golpear com mãos, braços, 2008. 139 p.
cotovelos, pernas, joelhos e pés e
manipulação de objetos como bola, arco, Gomes, M. S. P. O ensino do saber lutar na
bastão dentre outros. universidade: estudo da didática clínica nas
Estas habilidades proporcionarão lutas e esportes de combate. Tese de
bagagem motora para futuras práticas de Doutorado. Universidade Estadual de
lutas, pois estas são capacidades básicas Campinas. Faculdade de Educação Física.
presentes em todas as lutas de curta, média e 2014. 183 p.
longa distância.
Pereira, M. S. Projeto de extensão Escolinha
CONCLUSÃO de lutas: uma estratégia pedagógica.
Orientação de José Júlio Gavião de Almeida.
É preciso deixar de enxergar o aluno Campinas. 2013. 64 p. Disponível em:
com deficiência e sem deficiência como um <http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/docum
ser que virá a existir e passar a vê-lo como um ent/?code=000949076>. Acesso em:
ser que já existe. Um ser humano em 9/10/2016.
construção, porém já dotado de cultura,
sonhos e desejos, além de uma potencialidade Oliveira Filho, C. W.; Mello, M T. Esporte
intrínseca e particular. Um agente Paralímpico. São Paulo. Atheneu. 2012. 254 p.
influenciador da sociedade. Cabe ao professor
conhecê-lo e considerar suas limitações e Zambelli, R. M. O. Violência Escolar: A prática
explorar seus potenciais. do Karatê-Do no Programa Escola da Família.
A vivência de uma manifestação TCC de Graduação na Faculdade de
cultural deve ser uma das principais intenções Educação Física. Universidade Estadual de
pedagógicas do professor. Campinas. Campinas. 2013.

REFERÊNCIAS AGRADECIMENTOS

Alves, M. L. T.; Duarte, E. A inclusão do Fundação de Amparo à Pesquisa e ao


deficiente visual nas aulas de educação física Desenvolvimento Científico e Tecnológico do
da escola: impedimentos e oportunidades. Maranhão - FAPEMA.
Human Social Science. Maringá. Vol. 27. Núm.
2. p.231-237. 2005.
Seminário de Lutas no contexto escolar e
Antunes, M. M. (org.), Iwanaga, C. C. ambientes educacionais - reflexões e práticas
Aspectos multidisciplinares das artes pedagógicas 2016.
marciais. Jundiaí. Paco Editorial. 2013. 172 p.

BRASIL. Secretaria de educação fundamental.


Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação
Física. Brasília, 1998. Disponível em: Recebido para publicação 10/10/2016
<http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/fisic Aceito em 15/10/2016
a.pdf>. Acesso em: 7/10/2016.

Gomes, M. S. P.; e colaboradores. Ensino das


lutas: dos princípios condicionais aos grupos

Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício, São Paulo. v.11. n.63. p.925-927. Edição Especial. 2016. ISSN 1981-
9900.

You might also like