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Semana Europeia da Mobilidade

Mobilidade em Barcelos

Baptista da Costa

Câmara Municipal de Barcelos

17 de Setembro de 2018

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Introdução
Trata-se, neste texto, de algumas reflexões sobre a necessidade de uma nova
estratégia e modelo de gestão da mobilidade na Cidade de Barcelos.

Não se pretende, aqui, descobrir o “Toque de Midas” para a resolução dos


problemas da mobilidade em Barcelos, mas só levantar alguma “poeira”
provocatória de outras reflexões complementares que se impõem.

Barcelos no mapa
A Euro Região Atlântica, formada pela Galiza e a Região Norte de Portugal, é
uma das euro regiões da União Europeia. Trata-se de um espaço
socioeconómico com grande dinamismo e potencial de desenvolvimento com
mais de 6 milhões de habitantes.

Na área compreendida no Quadrilátero Urbano constituído por Barcelos, Braga,


Famalicão e Guimarães, com uma população de 600 mil pessoas, a densidade
populacional é tipicamente urbana.

O Concelho de Barcelos tem uma área de 380 km2 e 120 mil habitantes, está
dividido em 61 freguesias.

A cidade de Barcelos, composta por 5 freguesias com e 25 mil habitantes, é


atravessada pelo Rio Cávado.

Dotada de boas ligações rodoviárias, Barcelos está próximo do Porto de


Leixões (55km / 37 minutos), do Aeroporto de Francisco Sá Carneiro (53km /
35 minutos) e estão em curso as obras na linha férrea que fará uma moderna
ligação à rede ferroviária nacional e internacional.

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Barcelos – Cultura e tradições

Conhecer Barcelos é percorrer a sua feira semanal que se realiza no centro da


cidade, as suas festas e romarias que têm o seu ponto alto em Maio na Festa
das Cruzes.

Ponto de passagem obrigatório no Caminho de Santiago, tem na Lenda do


Galo uma das suas mais importantes referências, sendo o “Galo de Barcelos”

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um dos símbolos de Portugal. No Museu Arqueológico pode ser visto o
Cruzeiro do Senhor Galo que data do século XIV.

Com uma atividade económica importante no sector primário tem no leite e no


vinho as suas principais referências. Também as suas indústrias têxtil e
cerâmica são reconhecidas.

Cidade Criativa da UNESCO, tem no Figurado uma das suas referências tendo
no Museu da Olaria uma coleção com mais de 6 mil peças.

Em Barcelos está o IPCA, a mais jovem instituição pública de ensino superior


fundada em 1994, que conta com 4 mil alunos nas suas escolas de Gestão,
Tecnologia e Design.

Barcelos do automóvel e insustentável

A Cidade de Barcelos, apesar da sua reduzida dimensão, tem uma elevada


pressão automóvel. Essa pressão automóvel é justificada com a falta de
transportes públicos urbanos, de infraestruturas que potenciem modos ativos
de transporte – como o andar a pé e de bicicleta - e a elevada oferta de lugares
de estacionamento automóvel no centro da cidade.

Sem menosprezar o transporte individual, insubstituível para certos tipos de


deslocações, é importante conquistar uma elevada repartição modal a favor
dos Transportes Coletivos.

Mas mais importante ainda, será potenciar as deslocações a pé ou de bicicleta.

Visão estratégica
Nas atuais condições económicas, sociais e políticas, há que encontrar e
privilegiar intervenções economicamente sustentáveis que sejam agregadoras
e consensuais na sociedade.

Barcelos tem de encontrar elementos que unam os seus protagonistas, que


potenciem o seu património e que possam promover o desenvolvimento e
crescimento.

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Desenvolvimento económico baseado no conhecimento e na inovação.
Crescimento sustentável, eficiente no uso dos recursos e competitivo.
Crescimento inclusivo, promovendo uma economia com altas taxas de
emprego que assegure a coesão social e territorial.

Fazer cidade implica uma visão coletiva que envolve os seus agentes e a
população numa visão de longo prazo que não se esgote nos ciclos eleitorais.

Há que elaborar um plano que beneficie a comunidade, aumentando o


sentimento de pertença, melhorando a mobilidade, beneficiando a saúde e
segurança dos seus habitantes, as condições ambientais, melhoria do acesso
ao emprego, aumentar a procura do sistema de transportes, reduzindo o
trânsito na cidade e diminuído as emissões poluentes.

A cidade tem que ser pensada em torno do sistema de transportes que é


regrante para todo o desenvolvimento urbano.

A mobilidade está para a cidade como as veias para o corpo humano.


Desenvolver os Transportes Públicos e realizar Percursos Pedonais e
Cicláveis, evidenciando a importância que os decisores dão à circulação de
peões e ciclistas na cidade, contribuirá para uma radical mudança de atitudes e
mentalidades.

Novas Realidades em Barcelos

Barcelos, como todas as cidades, está em constante construção e tem que dar
resposta às novas realidades que vão surgindo.

Há novas realidades que merecem uma referência particular.

1 - O IPCA – Instituto Politécnico do Cávado e do Ave, com as Escolas de


Gestão, Tecnologia e Design tem 4 mil alunos e um crescimento constante
criando uma nova realidade económica e social que obriga a repensar a
Cidade.

2 - A modernização e eletrificação da Linha Férrea que passa por Barcelos está


em curso. Esta intervenção liga, de uma forma conveniente, Barcelos à Rede
Ferroviária Nacional e Internacional.

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A proximidade da Estação de Caminho-de-ferro com a Estação Central de
Camionagem criou as condições para a instalação de um Interface Multimodal
– Gare Central de Barcelos - de importância regional. Acresce que já foi
lançado o concurso para a construção dos 1,2 Km de acessos deste ponto à
rede viária nacional, aumentado a sua atratividade (Nó de Santa Eugénia).

3 - O Rio Cávado atravessa Barcelos e que não sendo uma nova realidade, é
cada vez mais um elemento valorizado pela sociedade por razões ambientais.
A maior atenção dada ao rio e às suas margens por parte das diferentes
autoridades reforçam a sua importância. Tal como já dizia o Eng. António
Guterres há mais de 20 anos, o século XXI é o século da água.

Quatro cenários de atuação

A Cidade de Barcelos encontra-se numa fase de grande transformação que


obriga a decisões políticas importantes que devem contar com a participação
da sociedade.

Os traçados da rede de transportes públicos são, em qualquer cidade, uma


opção política porque nas cidades a mobilidade de pessoas, dados e bens é
um fator decisivo para a sua competitividade e sustentabilidade.

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As cidades devem projetar no desenho urbano e na mobilidade, soluções que
beneficiem a saúde e a segurança dos seus habitantes.

Para melhorar as condições ambientais é determinante a implantação de um


sistema de transportes atrativo que reduza o trânsito, diminuindo as emissões
poluentes.

Promover os modos ativos (andar a pé e de bicicleta) e os transportes coletivos


é a opção das cidades, em todo o mundo, e é recomendado pelas instituições
internacionais.

A ligação de Barcelos Cidade à região em que se insere exige uma liderança


capaz de dialogar com os concelhos vizinhos para fomentar a transparência e
racionalidade económica dos investimentos.

É neste contexto que abordo quatro cenários de atuação.

1 – Transportes Públicos Urbanos

A decisão de criar uma rede experimental de duas linhas de transportes


públicos urbanos veio colmatar uma lacuna da cidade.

Com início em Setembro de 2018, funciona como a espinha dorsal do sistema


de transportes públicos de Barcelos, cobrindo os principais pontos geradores
de mobilidade da cidade.

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A linha Amarela, com 5 km por sentido, liga o Continente a Arcozelo, passando
pelo acesso pedonal do IPCA e pelo principal Interface de transportes públicos
da cidade – a Gare Central de Barcelos que contempla a Estação da CP e a
Estação Central de Camionagem.

A linha Vermelha, com 6 km por sentido, liga o Estádio Cidade de Barcelos ao


E’Leclerc, passando pelas principais escolas, pela Igreja de Bom Jesus da
Cruz, atravessando a Ponte Velha, aproximando Barcelinhos do centro da
cidade.

As duas linhas são o mais a direito possível, para serem de fácil leitura aos
utilizadores, e cruzam-se no ponto central da cidade: o Campo da Feira.

Estas duas linhas possuem, em três das suas extremidades, locais de interface
entre o Transporte Individual e o Transporte Coletivo: O E’Leclerc, o Estádio
Cidade de Barcelos e o Continente.

2 – Rede Ciclavel

A opção de valorizar os percursos pedonais e ciláveis levou ao projecto, em


curso, da criação da 1ª fase da rede ciclável na cidade.

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Com uma extenção de 7 km, nas zonas mais centrais da Cidade contará com a
intervenções físicas nos pontos críticos e interceções, compatibilizando-a com
a Rede de Transportes Públicos Urbanos, evitando conflitos futuros.

3 – Central Multimodal - Gare Central de Barcelos

A modernização e eletrificação da Linha do Minho é uma nova realidade que


terá impacto sobre a forma como as pessoas se deslocam em Barcelos e na
Região.

A proximidade da Estação de Caminho-de-ferro à Central de Camionagem


criou as condições para a construção da Central Multimodal.

O Nó de Stª Eugénia, em fase de concurso, que liga a Central de camionagem


à rede viária nacional (N103), participa no reforço desta centralidade.

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Esta centralidade pode ser fortemente potenciada e desenvolvida se abordada
numa ótica de TOD – Transit Oriented Development.

Recorrendo ao investimento privado, o TOD consiste na maximização do uso


do solo à volta de Estações de Caminho-de-ferro e Centrais de Camionagem.

No conceito de TOD o desenho urbano com múltiplos usos (habitação,


comércio, escritórios, equipamentos, etc.) cria comunidades densas e
multimodais onde os residentes utilizam menos o transporte individual,
conduzem menos, utilizam mais os transportes coletivos e os modos ativos,
promovendo o crescimento urbano sustentável.

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O TOD cria melhor acesso a empregos, habitação e oportunidades para
pessoas de todas as idades e rendimentos, proporcionando a todos estilos de
vida convenientes, acessíveis e ativos. Ou seja, lugares onde nossos filhos
podem brincar e nossos pais podem envelhecer confortavelmente.

4 – Barcelos no contexto regional

Todas as intervenções no Sistema de Transporte deverão ter em conta a


harmonização com as Políticas de Ordenamento do Território, baseadas em
investimentos realistas, envolvendo a necessidade de rentabilizar as
infraestruturas ferroviárias existentes e de optar por soluções apropriadas, de
fácil concretização e maleáveis perante a adequação a cenários futuros.

Naturalmente, o sistema de transportes deverá ser diversificado, bem


dimensionado, em qualidade e quantidade, e capaz de dispor de uma gama de
serviços compatível com as características da procura.

É neste contexto que vale a pena questionar algumas opções que carecem da
racionalidade acima descrita.

4.1 – Paragem de comboios de longo curso

Está enraizada a ideia de que a ligação ferroviária de Braga ao Norte de


Portugal e à Galiza se faz por Nine.

E porque não tirar partido da renovação e eletrificação da Linha do Minho,


potenciando a oportunidade que Barcelos oferece à região?

Partindo de Braga, da zona do E’ Leclerc e da Estação da CP de Braga em


Ferreiros (porque é lá que está previsto um interface Rodo-ferroviário e existe a reserva de canal para

rede ferroviária de alta velocidade) a Estação de Caminho-de-ferro de Barcelos está


mais acessível a Braga do que a de Nine para a ligação de Braga ao Norte de
Portugal e à Galiza.

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Há uma melhor rede viária e melhores transportes de Braga para Barcelos do
que para Nine, apesar de ambos estarem a distâncias semelhantes (Barcelos a
21 km e Nine 20 km). Com a construção dos 1,2 km de ligação da Central de
Camionagem de Barcelos à EN 103, esta ligação, por Barcelos é a obvia.

Braga tem a Estação da CP para o Norte de Portugal e Galiza em Barcelos.

Neste contexto é de referir que a manutenção da reserva de canal para a Rede


Ferroviária de Alta Velocidade em Braga é muito importante para Barcelos.

A complementaridade entre as duas cidades cria sinergias e otimiza os


investimentos públicos.

4.1 – Estação de Cabreiros – Estação beterraba?

Veio a público a intenção do Dr. Ricardo Rio, Presidente da Câmara Municipal


de Braga de incluir no PDM uma estação de Caminho-de-ferro em Cabreiros,
próximo de Barcelos.

Esta intenção merece uma maior justificação já que não pode representar o
abandono da reserva de canal para a Alta Velocidade Ferroviária em Braga,
privando Barcelos deste serviço no futuro.

Acresce que são múltiplos os exemplos recentes, nomeadamente em Espanha


e França, de novas estações ferroviárias que se revelaram casos de insucesso

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por terem sido criadas por pressão das autarquias, longe das cidades –
conhecidas como estações beterraba porque à sua volta só nasceram campos
de beterraba e nada de cidade.

Nine é uma estação beterraba que muitos, por hábito, persistem em manter
como ponto de interface, o que contribui para que os decisores não parem o
comboio em Barcelos, onde estão as pessoas.

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