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cette! pisoe & fectites UL Foucault ( Arquedlogia das Cizncase «2 Historia dos Sistemas de Ss Pensamento Organizacio e selegao de textos Manoel Barros da Motta Traducto: lisa Monteio itr di igo fancsa prepaid tb 3 dingo de Daniel Deer Frangais Bald com a claborgo de Jcgues Lagrange Pe ded dyare, 2000 1969 Ariadne Enforcou-se inde enforce’, Le neue! obserscee, 29,91 de arg de abr de ESM SESr teebie 8 lene Duernce et repenion. Pars, PUP, 1968 Eu erin que “contar” o livro de Deleuze: els aproximadamente fabula que tenet inventar ‘Cansada de esperar que Teseu retorne do labirinto, cansada de ‘espreltar por seu passo igual ede reconhecer seu rosto entre todas senombres que passam, Ariadne acaba se enforcando, No slo amo Sosamente trangado da identidade, da meméria e do reconhect Inento, seu corpo. absorto em seus pensamentos. gira sobre st. No Cnanto, Tesea, amarra rompida, nao retorna. Corredores, tunes fordes ¢ caverns, eneruzihadas, abismos, relampagos sombrios [rovbes lade baixo. ele vane, tropeca, danga, slta. Nasibia geometria do Labirinto habilmente centrado? Néo, mas 20 longe do dissimetrico, do tortuoso, do irregular, do montanhose seo ekte val ao dpice. Ao menos em diregao ao final de sua Prova. “Caairegao a vitoria que the promete 0 retorno? Nao mais: cle val iegremente na direcao do monstro sem identidade, na direio do Giagarate sem espécte, na diregao daquele que nao pertence a ne- inhuma ordem animal, que & homem e fera, que justapoe emt! 0 tempo vazio, repettivo, do julz infernal e @ violencia genital, ins tantinca, do touro, Ele val ma diego dele, nfo para varrer da terra ‘ova forma insuportavel, mas para se perder com ela em sua extrema {storgao, Ell. talvez (mio em Naxos}, que o deus baquico est & cepreia Dionisio masearado, Dionisio distarcado,inflaltamente re jelido. O fo efebre fl rompido, ele que consideravam tio sido: ‘Retadne ft abandonada umn tempo antes do quese pensava;e toda ‘istérla do pensamento ocidental esta por ser eserita "Mas, eu me dow conta, minha fabula nao faz justica ao lvro de Deleure. Ble € bem diferente do enésimo relato do comego ¢ do fim Samelattsiea Ele ¢ teatro, a cena, arepetigto de uma nova hoso- 142. sue Foc oe crn fia: sobre o palco nu de cada pina, Ariadne éestrangulada, Teseu dang, o Minotauro ruge eo cortejo do dews miltiplor1 as gargalha das. Houve (Hegel, Sartre} a flosofiaromance, houve a filoso fia-meditacdo (Descartes, Heidegger|. Eis, apos Zaratustra oretor no da flosofiateatro: nao absolutamente rellexao sobre 0 teatro; ‘ndosabsolutamente teatro prenhe de sgnifieagdes, Mas fllosofla tor nada cena, personagens, signos, repeligao de im acontecimento “inieo e que jamais se reprodua. Gostaria que vocés abrissem o lvro de Deleize como se pur ram as portas de um teatro, quando se acendem os fogos de uma ramp. a cortina se levanta, Autores citados, ndmmeras referencias “is o8 personagens. Eles reeitam seu texto (o texto que eles pro ‘nunelaram em outro lugar, em outros livros, em outras cena, mas que. aqui, se representa de outra forma; tratase da técnica, mits culosa e astuciosa, da “colagem’). Eles tém seu papel (fequente mente, eles yalem por trés, 0 cémieo, o trageo,o dramatico: Péguy, Kierkegaard, Nietzsche; Aristételes~ sim, sm, 0 cdmico~, Pato, Duns Sot: Hegel - sim, ainda -, Holderline Nietzsche ~ sempre}. les Jamals aparecem no mesmo lugar, jamais com a mesina \dentidade: as vezes, comieamente disianciados do funda sombrio aque eles carregam sem o saber, As vezes, dramaticamente prox ‘mos (eis Patio, sabio, um tanto emproado, que expulsa os grosset ros simulaeros, disipa as mas imagens, afaata a aparéncia que Cintila invoca o modelo unio: essa tesa do Bem que emt si mes ma € boa: mases outro Plato, aerrorizado, que nao sabe mals, na Sombra, distingutr de Socrates o sofista zombetez0) ‘Quanio ao drama~ no prépri livro ha, como em Edipo, de Sé foctes,trés momentos. Intcialmente,ainsidiosa espera dos signos cos murmérios, os oraculos que berram, os adivinios cegos que fa Jam demais. A alta realeza do Sujelto (ew nico, coerente)e da Re presentacdo(ideias claras que percorro com o olhar) esta minada, Sob a vor monarquica, slene, caleuladora dos fildsofos ocidentals ‘que queria fazer reinar a unidade, a analogia, a scmelhanga, ano: ‘omtradigao e que queriam reduzir a dilerenca A negngaa (que ¢ di ferente de Ae na0-A, a escola nos ensinou depois), sob essa vox comstantemente sustentada, pode-se ouvir oesilliagamento da dis parkdade. Escutames as gotas de dgva pingando no marmore de Let ‘iz. Contemplamos a fissura do tempo listrar o suelto kantiano. , subitamente, em plena metade do lio lironia de Deleuze que presenta, sab a aparéncia de um equilforio académieo, a diving claudicagio da éiferenca), subitamente a cesura, O véu se rasga: 1960- Ava us ‘esse véu € imagem que o pensamento tinha formado desi proprio fe que Ihe permitia suportar sua propria inclemeéncia. Acredita vase, dizia-se: © pensamento ¢ bom (como prova: o bom senso, do ‘qual ele tem 0 direito eo dever de fazer uso): 0 pensamento € am {como prova, o senso comum: ele dissipa o erro, empilhando gra a grio a colheita das proposicdes verdadeiras (inalmente, a bela piramide do saber... Mas, elo: libertad dessa imagem que o ga & soberanta do su Jelto (que 0 “assuita”, no sentida estrito da palavra), o pensamen to aparece, ou melhor. se exerce tal como ele & mau, paradaxal Ssurghido involuntariamente no limite extremo das faculdades di. persas: devendo afastar mcessantemente sua estupefaciente tlie: Submisso, obcecado, forcado pela violéncia dos problemas: sulea o, como por tantos lampejos de idéias distintas (porque aguca das) € obscuras (porque profundas) ‘Retenhaimos cada uma dessas transformagées que Deleuze ope rao velho decoro filoséfico: o bom senso ein contraortodoxisi 0 ‘Senso comum em tensbes e pontos extremos; a conjragao do er¥0, fem fascinagao pela tole; o claro ¢ distinto em distinto-obscuro. Retenhamos sobretudo essa grande subversio dos valores dalu2:0 ppensamento nao é mais um olhar aberto sobre formas claras e bem Fixadas em sua identiade; ele € gesto, sallo, dana, discordancia extrema, obscuridade tensa, E o fim da hlasofia (a da representa ‘o}Incipt philosophia ta da diferenca) ‘Chega entao 0 momento de errar. Nao como Esto, pobre rel sem cetro, cegointeriormente iuminado; mas vagar na festa som bra da anarauia coroada. Pade-seent3o, a partir dai, pensar a die renga ea repetigao, Ou seja em vez de representivlas~ fazt-las © Jogar com elas, O pensamento no apice de sua Intensdade sera ele proprio diferenga e repeligio: permitia distingulr o que a repre SSentagao buseava reunir; ele tara a perpétua repetigao da qual a inctaisiea obstinada buseava a origem. Nao mals se perguntar: dl ferenga entre o que e 0 qué? Dilerenga delimilando que espéctes © Tepartindo que grande unidadetnieta? Nao mais se perguntar:r petigso do que de qual acontecimento ou de que modelo primaio? Mas pensar a semelhanga, a analogla ou a ldentidade como tantos metas cle velar a diferenga ea diferenca das diferencas: pensar are petiggo, sem origem do que quer que sejae sem reapareeimento da ‘Pensar antes as intensidades (e mais cedo) do que as qualiades| eas quantidades; antes as profundidades do que os comprimentos

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