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PESQUISA-AÇÃO CRÍTICO-COLABORATIVA: A BUSCA DE DIÁLOGO1

Action research: the search for dialogue

Elza Yasuko Passini


Universidade Estadual de Maringá
Departamento de Geografia
Av. Colombo, 5790 – CEP 87020-900 – Maringá – Paraná – Brasil
elzayp@wnet.com.br

RESUMO

Esta pesquisa teve como objetivo dialogar com professores usuários do "Atlas Escolar de Maringá: ambiente e
educação" e buscar subsídios e entendimentos metodológicos que possibilitem um trabalho significativo com alunos de
terceira série do Ensino Fundamental da rede municipal de Maringá. A pesquisa foi realizada com cinco professoras
que abriram suas salas para que pudéssemos observar e entender a forma como os alunos interagiam com mapas,
gráficos e fotos do Atlas, assim como suas dúvidas e necessidades. As observações, conversas informais, entrevistas,
leitura de cadernos do aluno e do professor foram instrumentos utilizados para o diagnóstico da situação-problema, e
em reuniões com as professoras tentamos encontrar diferentes soluções para melhoria do entendimento da Geografia da
localidade pelos alunos. A colaboração das cinco professoras foi muito significativa para o resultado da pesquisa,
chegando à sistematização de um “livro” que intitulamos "Alfabetização cartográfica: vivência de uma pesquisa ação
crítico colaborativo" que poderá subsidiar os usuários do Atlas em suas ações de sala de aula.

Palavras-chave: Atlas municipal, geografia da localidade, pesquisa-ação colaborativa, situação problema.

ABSTRACT

The objective of this research study was to interact with primary school teachers who are users of the
“Maringa School Atlas: environment and education” and seek methodological support and understanding to
make possible a significant project with third grade students at Maringa municipal schools. The study was
carried out with five teachers who welcomed us into their classrooms so we could observe the way the
students interacted with Atlas maps, graphs and photos, as well their questions and needs. Observations,
informal talking, interviews, and reading of student and teacher notes were used as sources to diagnose the
problem-situation; in meetings with the teachers, we sought different solutions to improve the students‟
understanding of local geography. The collaboration from the five teachers was very significant to the results
of this research, and we were able to compile a book with this experience, titled “Cartography literacy: the
experience of collaborative action research,” which could assist Atlas users in the classroom.

Keywords: Municipal atlas, local geography, action research, problem-solving.

1.1INTRODUZINDO E JUSTIFICANDO Maringá: ambiente e educação": “O Atlas


trouxe dois problemas para nós, não sabemos
Segundo um provérbio chinês, a crise é Geografia, muito menos Cartografia.” O
um desafio que provoca crescimento e isso se encontro com esses professores da terceira
aplica à nossa pesquisa. Ela foi iniciada série do Ensino Fundamental foi promovido
quando tivemos que tomar uma atitude após pela Secretaria de Educação do Município de
um choque diante da declaração dos Maringá2, justamente com o propósito de
professores usuários do "Atlas Escolar de discutirmos os trabalhos realizados com o
1
Esta pesquisa é parte do projeto elaborado para o
2
TIDE (regime de trabalho de Tempo Integral e Secretaria de Educação do Município de Maringá, 9 de
Dedicação Exclusiva) maio de 2007, apresentação do Atlas.

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Atlas: necessidades e possibilidades. Departamento de Geografia, alunos de
Estávamos diante de um problema de graduação e pós-graduação. O projeto teve
formação, pois muitos professores disseram início em 2000 e finalizado no início de 2006.
que não estão utilizando o Atlas por não terem Após demorado procedimento burocrático, a
conhecimento específico de Geografia e que, Prefeitura de Maringá subsidiou a publicação
portanto têm dificuldades para ler mapas, do material e ele foi distribuído às escolas no
extrair informações, assim como realizar os início de 2007. Desde então, procuramos
trabalhos sugeridos para que o aluno faça acompanhar o trabalho que alguns professores
levantamento e tratamento de dados do desenvolviam com o Atlas estabelecendo
ambiente em que vivem. diálogos de aproximação e avaliação. Eles
É de conhecimento da comunidade afirmaram de forma clara que necessitam de
escolar e confirmado por uma sondagem material para trabalhar a Geografia da
realizada por Gomes de Sá (2007) que o localidade, mas que necessitam de subsídios
currículo básico, dos professores do Ensino tanto na forma de capacitações como de
Fundamental, séries iniciais em sua material que indicassem os caminhos para
formação inicial, não possibilita o estudo dos utilização de mapas e gráficos.
fundamentos da Geografia e da Cartografia. Atendendo à demanda dos professores
Há sim, disciplinas de Metodologia de sobre a necessidade de cursos de capacitação e
Ensino com carga horária reduzida para material auxiliar para leitura de mapas,
discussão dos objetivos, objetos, recursos e elaboramos um manual e uma proposta de
métodos de ensino de Geografia. Torna-se realização das atividades de Cartografia, via
assim, um ensino aleijado que trata da forma Programa de Educação a Distancia. Para
sem conteúdo, com ênfase somente na efetivação dessa proposta, procuramos
prática. As observações das aulas e as conhecer as possibilidades de uma integração
conversas com os alunos nos permitem entre a programação do Núcleo de Educação a
afirmar que os alunos: não gostam de textos Distância da Universidade Estadual de
longos, sentem-se entediados com leituras; Maringá e a Coordenação de Informática da
gostam de ver mapas; preferem atividades a Secretaria de Educação.
serem ouvintes passivos; sentem dificuldade A rede das escolas municipais de
com símbolos abstratos e nos modos de Maringá com 40 unidades funciona no período
implantação dos símbolos (pontual, zonal, da manhã e da tarde e tem em seu quadro 80
linear); confundem as direções cardeais e o professores, com faixa etária entre 21 e 60 anos.
sentido da declividade; diferenciam-se nos
níveis de compreensão e de representação do Faixa etária dos professores
espaço. Durante as atividades de ler e
interpretar mapas, alguns alunos tiveram 21 - 30

bom desempenho quando auxiliados nas 31 - 40


41 - 50
tarefas com pistas simples como acompanhar
51 - 60
o percurso do rio com o dedo para indicar a mais de 60
sua direção e delimitar uma bacia não revela
hidrográfica ou mostrar a declividade do
terreno representada em uma foto e no mapa.
Como podemos perceber, a faixa
O “Atlas Escolar de Maringá: ambiente predominante é de 31 a 50 anos de idade. A
e educação” foi elaborado com objetivo de ser maioria tem formação em Pedagogia e outros
uma ferramenta de apoio para aulas de em História, Letras, Geografia, Matemática,
Geografia nas séries iniciais do Ensino Ciências Econômicas e Educação Física.
Fundamental. Ele foi desenvolvido por Uma sondagem inicial do nível de
demanda dos professores daquelas séries, por inclusão digital dos professores da rede
meio de um trabalho colaborativo entre municipal mostrou que alguns professores
professores do ensino básico, professores do ainda relutam em utilizar a internet para

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obtenção de informações assim como não se internacional etc. Essas possibilidades podem
sentem seguras em manter contato por via motivar os professores a utilizarem essas
eletrônica, sendo visivelmente dependentes de ferramentas em suas aulas. Para situações
colegas ou pessoas da família. O programa de como a dificuldade de reunir todos os
inclusão digital do governo federal que tem professores para a prática de atividades, a
dado subsídios aos laboratórios de informática educação a distância será um caminho de
das escolas nem sempre mobiliza os muitas possibilidades.
professores. É preciso que os professores se O Coordenador do Programa de
sintam motivados a utilizar o computador Implantação de Laboratórios de Informática
como ferramenta auxiliar das suas aulas como nas escolas relatou estar seguindo um
planejamento, planilha de acompanhamento cronograma de capacitação para professores e
das aulas e da aprendizagem dos alunos, que os mesmos tornam-se monitores de
organização de atividades e tantas informática nas suas escolas. Os professores
possibiilidades existentes que sem o passo necessitam de atividades práticas com
inicial que lhes dê segurança serão adiadas e computadores para introduzirem os softwares
perdidas. Considerando essa realidade e a específicos das disciplinas em suas aulas, um
dificuldade em atender à demanda de caminho ainda em construção, na medida em
capacitação dos professores para melhorar a que as empresas de software têm priorizado
alfabetização cartográfica, acreditamos que atividades de Matemática e Ciências, ficando
integrá-los em um programa de Educação a as outras disciplinas restritas à elaboração de
Distância, provoque a sua inclusão no meio textos e atividades de completar lacunas, que
digital. certamente não são muito motivadoras. Há
muitas possibilidades de iniciação à pesquisa
nos sites, mas será necessário que os monitores
Professores e a inclusão digital
de informática das escolas realizassem
investigação cuidadosa e disponibilizassem
essas informações aos professores e ao mesmo
tempo, discutissem com eles as possibilidades
conectados de trabalho integrado. Neste ano, se cumprido
não conectados o cronograma de implantação dos laboratórios
de informática nas escolas da rede municipal
de ensino, certamente todas as escolas estarão
equipadas com acesso à internet rápida.

São vários os meios que uma aula no Laboratórios de informática nas escolas
modelo a distância promove: fórum de municipais de Maringá
discussões, interpretação socializada de textos,
aulas com simulações, explicitação de laboratório de
atividades práticas com procedimentos passo a informática ativos

passo, inserção de imagens de vídeo e da laboratórios de


internet entre outros. A distância tempo e informática para
2009
espaço são facilmente articulados para que
possamos ver, por exemplo, as diferentes
posições de uma sombra nas quatro estações
do ano em um momento, simulações dos Em nossos encontros, atendendo a
movimentos da Terra, visão simultânea das solicitação dos professores, realizamos uma
estações do ano nos hemisférios Norte e Sul aula de entrada no Google, mostrando a escala
podem ser visualizadas. Podemos também global e local de forma dinâmica. Alguns
realizar um mapa ativo com a dinâmica da professores conheciam os caminhos de
população, fluxo migratório, comércio inserção de dados das coordenadas geográficas

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para localização de um ponto no globo e faz sentido para os alunos que vivem naquele
ficaram motivados em utilizar essa ferramenta lugar. Representá-lo utilizando a
como complemento das aulas. Essa ferramenta sistematização da gramática gráfica ajudará
pode ser motivadora para entrada no mapa e o aluno entender a organização lógica dos
com a implantação da internet rápida nas símbolos, avançando nos níveis de leitura e
escolas, um passo significativo pode ser dado construção do conhecimento. Esse caminho
em direção à alfabetização cartográfica. necessita de um estreito entendimento da
A mediação da linguagem cartográfica forma como os alunos veem os elementos do
permite aos sujeitos da leitura, melhor espaço e desenvolvem o pensamento
compreensão do espaço geográfico de vivência, simbólico ao representá-los. A aprendizagem
desenvolve a autonomia intelectual e a da habilidade de ver e representar ocorre
cidadania. Ela não deve ser apenas atividade de com o desenvolvimento do pensamento
copiar ou colorir mapas, pois elas não permitem simbólico, a capacidade de articular
a elaboração da significação do conteúdo. A conteúdo e forma. As observações dos
entrada no mapa é uma leitura, um estudo da trabalhos dos alunos, as conversas que
Geografia por meio da linguagem cartográfica. tivemos com os professores colaboradores da
Poderia ser a linguagem poética, plástica, pesquisa foram muito importantes nessa
corporal ou musical, mas é a cartográfica, a mais aproximação entre sujeito e objeto. No
adequada para se entender a espacialidade de um conjunto, os alunos das terceiras séries
fenômeno. O Atlas de Maringá tem como desenham com entusiasmo e conseguem
proposta um trabalho interativo com a Geografia apreender os elementos da paisagem ao
da localidade para que o aluno desenvolva a representá-la. O avanço para selecionar os
habilidade de ler mapas articulando significado e elementos, classificá-los e codificá-los
significante. Na medida em que o conteúdo, o ocorre quando o professor acompanha de
significado, é de seu conhecimento, ele terá que forma metódica o raciocínio dos alunos no
trabalhar apenas com um conhecimento novo, a processo de classificação e codificação. As
linguagem dos mapas. Entrar no mapa para professoras participantes do projeto foram
entender o espaço do cotidiano, desvendá-lo e bastante pacientes em tentar entender a
ressignificá-lo, ajuda o aluno a passar do classificação e codificação dos alunos para
conhecimento empírico para o conhecimento comporem uma legenda com lógica.
sistematizado. Tomar uma paisagem da O grupo de pesquisadores da
localidade e representá-la, utilizando a gramática Cartografia Escolar tem produzido Atlas
gráfica, é um exercício de lógica que faz com Municipais, discutido a alfabetização
que o aluno entenda a relação dos elementos do cartográfica como método de coordenação
espaço de diferença, ordem ou proporção. A entre sujeito e objeto, avaliado e acompanhado
representação dessa relação é monossêmica, sem as ações nas salas com os usuários: professores
ambiguidades e permite a leitura em um instante e alunos. Consideramos de suma importância
de percepção. Esse processo de desenvolvimento que haja diálogo aberto com os usuários e um
da leitura do espaço e sua representação olhar sobre os trabalhos realizados com o
auxiliam o sujeito a entender a Geografia Atlas com humildade para sempre aprender,
presente no seu espaço de ações cotidianas. tanto na análise e avaliação como nas
O exercício de codificação obriga o propostas de intervenção realizadas na ótica do
“mapeador” a observar os detalhes da aluno e do professor.
paisagem e desenvolve o raciocínio Queremos convidar os professores a
relacional ao estabelecer uma classificação realizarem um trabalho que vá além da
dos elementos presentes na qual ele necessita constatação das informações visíveis da
recompor a visão do todo no recorte paisagem. Almejamos que a partir da leitura
selecionado. dos mapas e questões colocadas nas páginas
A utilização da múltipla linguagem e do Atlas os alunos possam realizar um
o arranjo visual dos elementos da paisagem trabalho de investigação científica, levantando

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dados, entrevistando moradores, usuários de observação e o acompanhamento do trabalho
serviços, trabalhadores, fotografem, e analisem cartográfico junto aos alunos possibilitaram a
os dados coletados para tomar uma atitude. todos a compreensão da mente que representa.
Muitos Atlas chegam às escolas e O grupo concordou que deve haver explicação
permanecem nas prateleiras das bibliotecas, teórica do conteúdo, sugestão de atividades
outros são trabalhados usando as indagações com explicitação dos objetivos, as habilidades
colocadas como desafio para que os alunos a serem desenvolvidas, os procedimentos a
investiguem, leiam, representem, interpretem e serem seguidos, recursos a serem utilizados e
avancem como pesquisadores da Geografia do os objetos a serem avaliados.
lugar onde moram e estudam. Como entender Do universo de 80 professores da rede
essa diferença entre "Atlas morto e Atlas municipal, cinco professoras abriram suas
vivo?”. salas permitindo que observássemos suas
Nosso objetivo é que o Atlas aulas, os trabalhos que realizavam com o
Municipal de Maringá seja utilizado em sala Atlas, conversássemos com seus alunos,
de aula de forma a contribuir para a formação lêssemos os cadernos dos alunos e os cadernos
do aluno pesquisador em busca de uma de classe. Na composição do manual, elas
aprendizagem significativa da Geografia da sugeriram os temas, as atividades, que foram
localidade, desenvolvimento de habilidades de por elas testadas e fotografadas. Elas se
ler o espaço, representá-lo, assim como mostraram muito motivadas em participar
possibilidades de avançar nas leituras das dessa pesquisa, colaboraram tanto na
representações. Para tanto, temos mantido o participação das conversas diagnósticas como
diálogo de aproximação com professores e na avaliação crítica das atividades. Todos os
alunos para entender os caminhos utilizados sujeitos da pesquisa afirmaram trabalhar com o
para entrar nos mapas e gráficos, extrair as Atlas e que gostariam de poder trabalhar
informações neles contidas e alcançar os níveis melhor os mapas inseridos assim como
de leitura mais avançados, conforme Bertin elaborar outros conforme atividades propostas.
(1990) e Martinelli (1991). Nossa expectativa O grupo assim formado está
é que o avanço nos níveis de leitura possibilite composto por:
a percepção de problemas e desafie os alunos a cinco professores de 3ª série, em
realizar suas investigações no espaço onde quatro escolas;
moram e estudam e discutam as possibilidades um bacharel;
de soluções. um professor universitário
Embora muitos educadores não Os pesquisadores participantes da
concordem com Manuais de Orientação, elaboração do Atlas continuaram dando apoio
decidimos atender à demanda dos professores para verificar a adequação das atividades para
e elaborar um Manual Complementar do Atlas construção de conceitos e noções. As
Escolar de Maringá. professoras serão denominadas neste trabalho
de A, B, C, D e E.
2. PESQUISA-AÇÃO CRÍTICO-
COLABORATIVA Identificação Idade Turnos Formação
A 62 MeT M, C e Pd
O manual de orientação construído foi B 48 M, T e N G e Ms G
o resultado de uma pesquisa colaborativa C 44 M eT Pd
idealizada com os professores sujeitos e D 54 MeT Pd
usuários do Atlas. Foi inicialmente uma E 38 T Pd e CE
demanda por tópicos como sugestão de Turnos: M = manhã; T = tarde; N = noite; Formação: M
atividades, textos complementares e glossário. = Matemática; C = Ciências; Pd = Pedagogia; G =
Geografia; Ms G = Mestrado em Geografia; CE =
Com o avanço dos trabalhos, principalmente Ciências Econômicas.
pela percepção de novas necessidades, o
manual foi alterado na forma e no conteúdo. A

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As escolas municipais em Maringá têm entanto, durante as visitas realizadas, o Diretor
em sua maioria boa localização, acesso de não se interessou pelo extraordinário trabalho
ônibus, quadras, bibliotecas, jardins, refeitório realizado pela professora. Ela se dedica ao
amplo e bem higienizado, laboratório de trabalho, participou da pesquisa de forma
informática e algumas, ainda, têm sala muito comprometida, proporcionando todas as
multiuso para projeção de filmes, jogos e informações e circunstâncias para a realização
outras atividades extra sala como festas ou das atividades propostas. Sua análise e auto
reuniões. avaliação foram muito significativas. Seria o
Muitas delas passaram por reforma trabalho do professor um trabalho isolado com
recentemente e têm visivelmente uma sua sala de aula com seus alunos, uma
aparência agradável, renovada, bastante produção no coletivo da aula somente?
convidativa. As escolas visitadas não fugiram Por outro lado, a professora E, também
a esse padrão. Apenas uma delas que fora uma profissional de valor inestimável,
municipalizada em 2007 estava em plena comprometida com o fazer pedagógico, análise
reforma com prejuízo da biblioteca, sala dos e avaliação, trabalha em um espaço bastante
professores, pátio para brincadeiras, quadras. precário, sem ao menos ter local adequado
O grupo concordou em realizar uma para dispor o material. Nessa escola também
pesquisa bibliográfica para conjunção de não houve participação da direção.
conceitos e habilidades. Houve encontros nas As professoras B e C trabalham em
horas de HTPC (Horário de Trabalho uma escola muito bem localizada, recém-
Pedagógico Coletivo) para discussão do Atlas reformada, com toda estrutura possível e
e de textos de suporte. Nessas horas, os tiveram também participação na pesquisa com
professores relatavam as formas como muito profissionalismo. Tanto a direção como
trabalharam ou pretendiam trabalhar com a supervisão foram bastante participativas,
mapas e deram sugestões para o manual. fornecendo as informações solicitadas.
Mostraram-se bastante colaborativas na A professora A que trabalha em uma
resolução de problemas que estavam escola de periferia de alta violência, mostra-se
enfrentando com o trabalho de mapear, tranquila em sair com os alunos no entorno da
considerando a própria aula como objeto de escola, realiza entrevistas com os moradores e
análise. Houve confiança e respeito durante os faz um belíssimo trabalho de levantamento da
trabalhos, muita pontualidade e história do bairro. A Diretora conhece os
responsabilidade. projetos de cada professor, incentiva as ações
Inicialmente, elaboramos um glossário extra sala dos professores e valoriza o trabalho
para auxiliar os professores e alunos a do corpo docente.
entenderem conceitos de Geografia e Como diferenciar esses profissionais,
Cartografia. Porém, ao testá-lo, ele se mostrou seus espaços de ação e as circunstâncias
uma ferramenta pouco eficaz, porque segundo favoráveis e desfavoráveis? Certamente a
depoimento dos professores, as explicações resposta ainda será construída com a
continuaram abstratas. As colocações no texto continuidade dos trabalhos. Muitos professores
de entrada, de que a expressão colocada no são criativos e realizam trabalhos
mapa - escala 1: 300, significa que cada significativos para avanço nas leituras dos
centímetro no mapa equivale a 300 cm do alunos, tanto textos escritos como
espaço real, não foram muito esclarecedoras. representações gráficas, utilizando os textos do
Difícil entender a influência de Atlas para motivar os alunos a pesquisarem e
circunstâncias como localização da escola ou a refazem o conteúdo, inserindo os dados
qualidade da administração na qualidade do levantados pelos alunos no bairro e nas
ensino promovido pelos professores. A escola respectivas famílias.
da professora D localiza-se na Zona Norte, um Escolhemos a pesquisa na modalidade,
bairro de classe média baixa. O espaço escolar crítico-colaborativa por ser um método
muito bem conservado, amplas instalações, no qualitativo que envolve os participantes como

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iguais sem hierarquias em busca de soluções decorrer da seleção de temas e atividades e na
de problemas identificados. A investigação realização e análise dos resultados dos testes.
inicia-se com a formação do grupo com A entrada nas escolas, a organização
histórico de autorreflexão sobre problemas e a das formas de intervenção e a análise dos
definição dos objetivos. Os participantes diálogos fundamentam-se em Vygotsky (1989)
devem ser aqueles que têm vontade de e seus intérpretes (SMOLKA, 1993;
particpar da pesquisa numa perspectiva do FONTANA, 2005) na análise das mediações
problema a ser superado com a compreensão e do trabalho escolar e em Bertin (1990) e seus
melhoria de suas próprias práticas, condições, seguidores na análise das necessidades dos
segundo Elliot (2000), imprescindíveis para a sujeitos. Como representar os diferentes
pesquisa-ação crítico-colaborativa se realizar. elementos do espaço com alunos de sete a dez
Segundo esse autor, o grupo deve ter no ato da anos de idade? Piaget (1993) responde em
sua formação a percepção e definição do parte a essa questão: o início das relações
problema para discutir e formular uma espaciais construídas na percepção e depois na
proposta de solução. Os professores que representação, uma nova construção. Por outro
concordaram em participar desta pesquisa são lado, ele lembra a construção das relações
aqueles que consideraram o Atlas de Maringá espaciais topológicas, projetivas e euclidianas
um recurso que os auxilia para como processos não-simultâneos, mas de
desenvolvimento de trabalhos com a Geografia suporte umas para com as outras. E
da localidade e que tinham alguma demanda a perseguimos o entendimento de como o aluno
fazer. A participação espontânea das entra no mapa e extrai informações. Na
professoras no grupo de pesquisa foi um construção do sentido dos símbolos do mapa o
indicador de que eram profissionais aluno constrói a lógica da legenda e pode
comprometidas, principalmente, por entender os princípios da gramática gráfica de
concordarem em considerar a própria aula Bertin (1990). Essa construção é quase uma
como situação problema. As reuniões para tradução do conteúdo conhecido do espaço
discussão dos temas e estudo para investigação cotidiano para a linguagem cartográfica:
das melhores formas de se trabalhar com os expressam o mesmo conteúdo de forma
conceitos de Geografia foram sempre muito diferente.
motivadoras. No decorrer dos trabalhos, as Como citado inicialmente, o material
professoras modificaram suas práticas e elaborado teve por objetivo dar apoio e
mostraram-se mais abertas em expor suas continuidade à elaboração do “Atlas Escolar
ideias e explicar a forma como trabalham. de Maringá: ambiente e educação”. Temos
Passaram a enviar relatórios espontaneamente como meta o desenvolvimento do
e mostraram-se muito criativas na sugestão das conhecimento procedimental na leitura de
atividades. Foi um caminho de mão dupla, mapas por meio de atividades de construção de
porque partindo da necessidade de construir conceitos e habilidades de mapear e ler
um conceito, por elas selecionado, a escolha representações. A pesquisa bibliográfica e a de
da forma (atividade, texto ou uma explicação análise das mediações das professoras nas
sucinta) foi discutida com os pares. aulas seguiram de forma paralela, uma
Buscamos essa parceria com os influenciando e dando subsídios para a outra,
professores praticantes para que juntos na medida em que o método escolhido foi o da
pudéssemos estudar e analisar a aula como pesquisa-ação crítico-colaborativa. Tínhamos
objeto de investigação e que não fossem meros a intenção de estabelecer um diálogo com os
executantes de projeto nascido no meio professores que se declararam “não conhecer
acadêmico. O método mostrou-se bastante Geografia nem Cartografia”. Qual a
adequado aos nossos objetivos, pois as necessidade explícita e implícita? O grupo
professoras como usuários do Atlas tinham formado tinha como objetivo comum
muita colaboração a dar tanto no início da desvendar as necessidades dos alunos e
definição dos passos da pesquisa como no professores de forma profunda, como relata

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Flusser (2007) com uso consciente e autêntico Compreendemos que o processo de ensino-
da língua para que houvesse progresso e aprendizagem dos mapas de relevo na escola
avançar nos níveis de conversa. Como deve começar pela noção de curvas de nível,
profissionais, devemos ter rigor para significar que é a base cartográfica dos mapas
os conceitos, expandir o território da realidade hipsométricos, os mais usados nas
publicações didáticas (atlas, livros, mapas-
e provocar o desenvolvimento da ciência e da murais). Essa noção deve ser abordada
língua. Discutimos com as professoras suas primeiro em representações tridimensionais
necessidades utilizando as próprias práticas e, só depois, passar para o plano
como objeto de reflexões com o intuito de bidimensional. A passagem do concreto ao
formar o pesquisador da própria aula. abstrato, deve ser problematizadora para que
Sugerimos o registro em diário e concordamos o aluno analise a proposta como um
que ele seria a base das nossas reuniões como problema e participe de sua solução. É
retomada dos acontecimentos ocorridos em possível que respeitando o nível de
torno do Atlas. Sugerimos que o nosso estudo desenvolvimento cognitivo do aluno
fosse visto como problematização – resolução possamos dar oportunidade para que
e que o nosso primeiro problema seria definir, observe, pense, proponha, apresente,
compare e discuta soluções para o seguinte
delimitar o problema. Concordamos que as problema: como representar no plano as
necessidades suscitadas pelo Atlas: mapas, formas e altitudes do relevo visto de cima?
gráficos, conteúdo dos textos, continuava (MIRANDA, 2001, p. 189))
sendo um problema complexo que necessita de
muito trabalho para se chegar a uma mudança As demandas feitas pelos professores
de postura dos professores. O primeiro podem ser agrupadas em quatro categorias:
problema levantado foi de fácil solução: o  1 - de conteúdo – necessitam de
mapa da cidade dividido em bairros. A subsídios com textos para complementar o
Secretaria adquiriu os mapas murais com conteúdo explicito no Atlas;
divisão de bairros e os distribuiu a todas as  2 - de atividades – necessitam
escolas. O segundo problema suscitado, a de sugestão de atividades para utilização dos
leitura de mapas de relevo passou por diversos mapas, gráficos e roteiros de pesquisa
estágios de discussão e finalizou com duas colocados no Atlas;
atividades. A primeira foi a atividade realizada
 3 – de fundamentação teórica –
com modelo de isopor impermeabilizado do conteúdo da Geografia: hidrografia,
cedido por Santil (2007)3 para entendimento topografia, geografia urbana, geografia
das curvas de nível (Anexo 1). Durante a regional etc;
discussão dessa atividade, a professora “E”
 4 – de complementação com
relatou preferir utilizar o próprio mapa da
mapas como um mapa da cidade dividido em
cidade com curvas de nível, separando as
bairros, porque os alunos têm dificuldade para
curvas e os pontos cotados, representando em
reconhecerem a divisão em zonas como a que
folha EVA. E fez uma solicitação explícita:
colocamos no Atlas. Esse mapa mural já foi
“Se você pudesse ampliar o mapa de curvas de
solicitado pela Secretaria da Educação para a
nível de Maringá e tirar cinco cópias, nós
Editora dos mapas e encaminhado para as
podemos passar o molde para o EVA. Esse
escolas.
trabalho será muito importante para os alunos
Exemplo de demanda 1
poderem ver a relação entre relevo e a direção
Alguns professores relataram que têm
dos rios, eles não sabem [...]”. Percebemos na
dificuldade para obtenção, seleção e
professora um nível de conhecimento
organização de materiais complementares
melhorado em relação à linguagem dos mapas
adequados à série e aos objetivos das aulas e
e a função da maquete.
solicitaram a elaboração de uma coletânea de
textos que tragam mais “informações” sobre a
3 História da Colonização de Maringá: “Achei
Material produzido na disciplina Cartografia I, sob
orientação do Professor Fernando Luis Santil. que na parte da História vocês poderiam ter se

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aprofundado mais [...] eu preciso ficar Atlas “vivo” nas salas de aula, elaboramos o
procurando outros materiais para completar manual com muito cuidado para incorporar as
[...]”. Esses professores mostraram-se bastante demandas e críticas das professoras como
comprometidos com o conteúdo, princípio do método de pesquisa-ação crítico-
proporcionando aos alunos um estudo colaborativa e principalmente para
profundo sobre os processos de construção do partilharmos das análises das ações cognitivas
espaço. dos alunos.
Exemplo de demanda na categoria 2: Temos a pretensão de que o grupo de
“Eu trabalhei com o mapa de relevo e os pesquisa tenha a função de formação
alunos não entendem direito, fiz também a continuada e que com a participação no grupo,
maquete do jeito que você fez naquele outro as professoras que se tornaram pesquisadoras
encontro, mas ficou muito confuso para eles. continuem nessa prática de apontar as
Não há uma maneira mais simples de fazer necessidades e analisá-las como situação
aquilo (a maquete)?” Essa professora problema na busca de soluções.
demonstrou com a sua crítica que os cursos Ao serem instigados sobre as ações
que realizamos têm reação dos professores, desenvolvidas na aula, os professores podem
que eles voltam às salas para colocar em tomar dois caminhos:
prática o que fora demonstrado.  entender que o desafio colocado
A primeira manifestação no encontro: é uma invasão aos seus métodos de ensino, seu
“não sabemos geografia nem cartografia”, planejamento, seu projeto, ignorar nossas
insere-se no Grupo 3, a necessidade de provocações e se manter em sua rigidez;
fundamentação teórica.
Na nossa concepção, é essa a função  Sentir-se incomodado com a
do Atlas: instigar professores e alunos a se questão levantada, ficar atento para ouvir e
tornarem buscadores de conhecimento. Os entender o ponto de vista do outro e começar a
textos elaborados pelo grupo de pesquisa do observar a própria ação de forma crítica,
Atlas de Maringá foram retirados no momento analisando suas ações, assim como a sua
da edição para adequação das unidades ao relação com cada aluno.
leitor (7 a 10 anos). Nos testes realizados O material produzido pelos alunos é
durante a elaboração do Atlas, os alunos se muitas vezes desperdiçado, porque retornam
manifestaram a favor das fotografias e ao aluno com vistos e elogios, sem que os
entediados em relação aos textos considerados professores analisem os avanços do aluno e do
longos. Consultamos também o professor coletivo da sala. Nossa proposta é que cada
Martinelli durante o Colóquio no Rio/2003 e objeto apreendido (internalizado) ou em vias
ele relatou que Atlas é coletânea de mapas e os de ser internalizado (desenvolvimento
textos devem ser introduzidos com a função próximo) seja estudado, principalmente em
estrita de facilitar a entrada no mapa. relação aos passos necessários para avançar e
O Atlas na sala dessas professoras tem atingir o desenvolvimento potencial.
tido “vida” e ultrapassado as expectativas Na aula a que assistimos, a professora
formuladas no início do processo. E trabalhava com os alunos o tema das páginas
Queríamos formar um caminhar de 52 a 54 do Atlas “Os migrantes em Maringá”.
sentido duplo, incorporando a prática dos A partir da leitura do texto do Atlas, os alunos
professores nessa produção coletiva, mantendo realizaram pesquisas sobre o percurso da
um diálogo sem hierarquias, em termos de migração de suas famílias e depois eles
igualdade com aqueles que abriram as suas elaboraram um gráfico dessa mobilidade. A
salas para essa pesquisa. Estamos tentando professora não responde às questões colocadas
desta maneira, evitar o que Zeichner (apud pelos alunos, instigando-os a pensar, atuando
GERALDI, 2000) adverte sobre ceticismo de como mediadora para criar uma circunstância
professores em relação à pesquisa acadêmica. motivadora para o desenvolvimento da ideia
Perseguindo o objetivo de tornar o em construção: imigrantes, país de origem,
país e povo.

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O primeiro volume do manual que retângulo da legenda com as formas. Em
intitulamos “Alfabetização Cartográfica” conversa com a professora, ela nos relatou que
contempla as seguintes noções e/ou conceitos: a aluna está sob observação psicológica, toma
coordenadas geográficas; escala, movimento remédios fortes para estabilização emocional e
de rotação, orientação, pontos cardeais. dificilmente realiza uma tarefa integralmente.
Daremos sequência a essa publicação, pois Percebemos a necessidade de tempo para
está em elaboração um segundo volume com observar, acompanhar e entender as ações dos
desenvolvimento de temas como região, alunos para que os fragmentos mostrem seus
regionalização, região metropolitana de sentidos particulares.
Maringá, campo e cidade, rural e urbano, uso Aprender com Palomar é mais do que
de solo, migração, circulação e noções de rede. simples transposição da sua educação do olhar,
O terceiro volume terá trabalhos sobre bacia mas principalmente construir um método de
hidrográfica, degradação das margens, observação. As aulas das cinco professoras
ocupação de risco, fundo de vale, mata ciliar, foram observadas e interpretadas na tentativa
qualidade da água, atitudes e responsabilidade de ter um olhar disciplinado para ver, registrar
ambiental. Os dois volumes subsequentes terão e associá-las às possibilidades de análise
também desenvolvimento de atividades para apontadas por Smolka (1993), Fontana (2005)
construção de conceitos e noções transitando e Edwards (1997). A riqueza das conversas
entre implantação pontual, linear e zonal de entre professores e crianças no ambiente
variáveis visuais adequados para os temas e as escolar é muitas vezes desconsideradas por
representações. As atividades foram adaptadas aqueles que buscam compreender as
a partir dos trabalhos de Simielli (1993), construções dos sujeitos. Nogueira (1993)
Passini (1989, 2007), Schäffer et al. (2005), sugere trabalhar na análise do episódio de sala
McCleary (2001), Cartwright (s/d), Miranda de aula, das atividades de leitura para
(2001) e Campello (2006). evidenciar indicadores da elaboração da
atividade mental pela criança, destacando
3. VER, SENTIR E TENTAR ENTENDER processos de negociação durante a atividade de
AS AÇÕES DOCENTES E DISCENTES. leitura. Também Nogueira (1993) se
Calvino (1994) descreve o olhar e a preocupou com os fragmentos que ela
percepção de Palomar na sua intencionalidade denomina de ruídos. Ela relata que a
de observar e escolher um ponto de professora participa como mediadora na
observação. Ali ele limita seu campo de organização da atividade de leitura e segundo
observação estabelecendo um quadrado (10 X sua análise, há diferentes negociações:
10 m) para fazer um inventário de todos os - leitura para si e leitura para o outro,
movimentos da onda escolhida. Acredito que tentativa de imposição entre uma e outra
nossa presença na sala de aula deva, entre criança,
outras atitudes, ter a disciplina de Palomar: ver - correções colaborativas ou impositivas,
a classe, escolher um ponto de observação, incorporação da fala do outro.
delimitar um campo de visão e acompanhar os Nogueira (1993) analisa o processo de
movimentos de um aluno dentro de um leitura e fala a partir da relação entre
intervalo de tempo. Muitas vezes, a habilidade pensamento e linguagem, sempre
do aluno ou suas questões colocadas podem ou questionando a forma como ocorrem os
não ser padronizadas. O conjunto da visão que processos internos de significação dos signos.
se tem se torna fragmentado, sem A aula da professora “B” poderia ser
possibilidade de generalização, mas, é preciso considerada de entonação “não comunicativa”
incluir esses fragmentos e buscar sentido e egocêntrica, sem intencionalidade de atingir
neles. Por exemplo, uma aluna na sala da o outro. Ela parecia não ter intenção de
professora “E” ao implantar o símbolo no estabelecer uma comunicação com os alunos,
mapa mostrou não diferenciar as implantações podendo se aproximar da categoria de fala
zonais, pontuais ou lineares, colocando o interior, pois é a fala de si para si e não

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egocêntrica no sentido de estar centrada nos conhecimento isoladamente, desvendando o
próprios pensamentos. As suas falas: “Vamos objeto, mas é por meio dos outros que o sujeito
fazer uma leitura”; “ó Liu, pára com essa estabelece essas relações [sujeito – objeto]
conversa” tem uma entonação única como com o objeto. A utilização das ferramentas da
parte da mesma ação verbalizada. Ela separa inteligência do sujeito é acionada na relação
dois alunos que discutem e ao mesmo tempo com os outros sujeitos. Essa afirmação de
fala para outro grupo para que se virem para Vygotsky (1989) e o esquema de Macedo (s/d)
frente e continua lendo sem se dirigir aos mostrando a coordenação entre sujeito e objeto
ouvintes, sem se importar se os alunos na construção do conhecimento e seu
acompanham o que ela lê, sem ao menos olhar desenvolvimento infinito é ilustrativo para a
para eles e tentar entender as suas ações interpretação das aulas. Contudo, fica a
interiores, a compreensão ou não do texto que dúvida se ao transportar a coordenação [sujeito
ela lia. A leitura também era para si, sem – objeto] do esquema de Macedo para uma
preocupação de buscar sentido ou diálogo. situação socializada podemos afirmar que o
Quando questionado por que ela não propunha conhecimento foi inicialmente construído na
que os alunos lessem, ela utilizou a mesma relação entre sujeitos para ser internalizada?
entonação nem ascendente nem descendente e Essa transposição é válida? A emergência de
respondeu: „”eles não sabem ler, não vão sentido por meio da leitura coletiva e a relação
entender”. Refletindo sobre essa afirmação da que os alunos estabelecem com o gráfico e o
professora, hoje vejo algum sentido, uma vez mapa pode indicar como afirma Vygotsky a
que a entonação, acentuação correta das emergência de novos comportamentos?
palavras é significativa na busca do sentido. “Nossa análise atribui à atividade simbólica
Se os alunos não derem a entonação uma função organizadora específica que
significativa, como seus pares irão entender o invade o processo do uso de instrumento e
texto? Difícil prever quando lerão buscando produz formas fundamentalmente nova de
sentido, se a professora que poderia iniciá-los comportamento.” (Vygotsky, 1989, p. 27).
na decodificação e busca de sentidos não Tanto em Vygotsky como em Piaget, o
partilha a leitura, tampouco estabelece diálogo desenvolvimento é concebido como
com os alunos para que participem ativamente elaboração em substituição de respostas inatas.
no processo de construção de significados na Piaget considera o desenvolvimento como
leitura. Seria prematuro afirmar que não conquista do sujeito a cada estágio por meio da
houve construção de sentido na aula da coordenação com os objetos e suas relações
professora B apenas pela observação, pois desvenda-os, construindo um conhecimento
cada criança pode ter buscado por si a melhorado. Para Vygotsky, o sujeito é sempre
significação do texto. O que podemos afirmar um ser social e, portanto suas aquisições são
é que a ausência de eco na relação com os coletivas no seio de um grupo (família ou
outros, a construção do significado da leitura escola). Ele ainda afirma que o sujeito aprende
pode permanecer potencial (sem se tornar real) e se desenvolve. “Nas formas que surgem
por mais tempo sem emergir, pois a construção mediadas pela ação individual (que contém as
coletiva de significados permite ao grupo um ações dos outros em sua intersubjetividade) a
avanço melhorado, sem que seja apenas a palavra tem um papel fundamental, por ser
somatória das partes. signo por excelência e, portanto, fruto de
A sala de aula, o espaço de construção elaboração de um grupo social.” (Smolka,
social do conhecimento, o lugar da troca, da 1993, p. 9).
aprendizagem coletiva, da aprendizagem As aulas das professoras “D” e “E” são
socializada que possibilita o desenvolvimento, interativas e as duas professoras ficam atentas
nesse ambiente rico de desafios e pistas o buscando compreender o desenvolvimento das
aluno não pode ser apenas um ouvinte passivo. ações dos alunos. São sensíveis aos gestos, às
Smolka (1993) enfatiza, fundamentando-se em falas “egocêntricas” de entonação de
Vygotsky, que o sujeito não constrói insegurança quase imperceptíveis dos alunos,

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para atendê-los com materiais, repetindo a múltipla, permitindo aos alunos entenderem a
explicação ou o comando da atividade. A aula linguagem da poesia e da literatura de cordel
é viva e visivelmente centrada no aluno. sobre o mesmo tema tratado ao discutir o
As professoras D e E conseguem significado de cada palavra com os alunos.
utilizar o mapa como recurso mediador na
construção de significação. As atividades 4. MAPAS E GRÁFICOS:
desenvolvidas com mapas do Atlas eram INSTRUMENTOS DE MEDIAÇÃO?
partilhadas sem que houvesse uma
organização grupal pré-estabelecida. Os alunos “A atividade de leitura não é apenas
circulavam livremente pela sala para ver o decodificação nem apreensão de um único
mapa do outro e continuavam o seu próprio sentido pré-estabelecido. A leitura envolve
trabalho após constatação de que os mapas também a atividade do leitor que atribui
estavam semelhantes na utilização das cores e sentidos ao texto a partir das relações que
estabelecem, segundo suas experiências”.
na implantação dos símbolos. A professora D (Nogueira, 1993, p.31).
distribuiu uma cópia do mapa de bacias
hidrográficas de Maringá (página 81 do Atlas)
para cada aluno e solicitou que separassem as Queremos enfatizar essa afirmação da
bacias hidrográficas do Ivaí e do Pirapó, autora porque na leitura do mapa, segundo
colorindo as duas bacias de forma que Simielli (1990), a decodificação é uma porta
mostrassem bem a separação das bacias. Ela de entrada, porém a leitura do mapa vai além
desenvolveu com os alunos a percepção da da decodificação, pois deve buscar a
diferença e da variável visual que melhor significação dos símbolos. Essa significação
representa essa relação: cores. A professora E deve provocar no leitor o entendimento da
trabalhou inicialmente com processos espacialização dos fenômenos representados, e
migratórios da população de Maringá, o processo de decodificação faz aparecer um
utilizando as páginas 52, 53 e 54 do Atlas e espaço com conteúdo. A significação do
depois desenvolveu um roteiro de questões espaço que vai além da junção de símbolos
para serem investigadas junto às famílias com decodificados deve possibilitar uma nova
os alunos. A professora auxiliou os alunos a leitura, a ressignificação.
elaborarem um gráfico para expressar o Concordamos com Smolka (1993) que
resultado das investigações contendo a apropriação da escrita transforma o próprio
informações sobre o trajeto seguido pelas sujeito, sua atividade, sua forma de
famílias até chegarem a Maringá. As mesmas funcionamento mental. Ousamos incluir a
informações foram passadas pelos alunos para gráfica, pois Bertin (1990) também afirma que
o mapa de divisão política do Brasil, colorindo a elaboração de mapas e gráficos desenvolve o
os Estados por onde a família teria viajado. Ela pensamento lógico. Da mesma forma como o
discutiu com os alunos a percepção da sujeito que não lê a escrita tem dificuldade
diferença na escolha dos símbolos, sempre para entender uma informação, aquele que não
numa aula dialógica, utilizando entonação de lê o mapa terá dificuldade para entender o
negociação, sem imperativos, ouvindo cada espaço, orientar-se ou localizar os elementos
aluno que pedia a palavra. A mediação por de forma ordenada.
meio da significação dos símbolos e das Para observação da aula da professora
relações espaciais no mapa pode ser E, consideramos como Palomar (CALVINO,
considerada fator de desenvolvimento que 1994), uma posição de onde pudéssemos
estava por emergir? As aulas foram simples, acompanhar as ações de um aluno em
nenhum recurso tecnológico, mas as duas particular e seguimos suas mãos que
professoras construíram noções de legenda e a deslizavam no papel. Ele desenhou o mapa
lógica na relação dos elementos sempre numa utilizando a legenda com o retângulo,
aula ativa, descontraída e dialogada. As duas confundindo a implantação pontual e zonal.
professoras trabalham com linguagem Os alunos deveriam implantar a cor nos

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Estados onde as famílias circularam em seu fala egocêntrica os alunos se mantêm no nível
processo migratório, portanto zonal. A de “conversação” com tendências à “conversa
professora observando o trabalho de carteira fiada”, uma vez que não há diálogo para
em carteira, aproximou-se, e, numa entonação construção de conceitos e habilidades? Da
de negociação, sem ser imperiosa, tampouco mesma maneira, em aulas nas quais há
dócil, ofereceu outra cópia para aquele aluno discussão na busca de solução para melhor
refazer o trabalho, deslizando o dedo sobre a representação dos objetos em questão,
área a ser colorida. No entanto, no trabalho podemos afirmar que a conversação tem
refeito, o aluno manteve o mesmo equívoco. tendências para avançar no nível da ciência,
Ela explicou novamente com linguagem uma forma mais rigorosa da utilização da
gestual, passando a mão pela região a ser língua?
colorida, a implantação zonal requerida. Fundamentamo-nos em Freire (1982)
Conversando com a professora sobre esse para estabelecer essa relação entre o
aluno, após a aula ela explicou que aquele desenvolvimento das habilidades de -ler e
aluno toma remédios de controle de emoções e entender-; -ler, entender e expressar-
está em tratamento. Apresenta distúrbios de corretamente o pensamento. Essa construção
comportamento e dificilmente finaliza uma relacional provoca um avanço mútuo entre
tarefa por inteiro. A mãe aguarda chamada do pensamento e o uso da palavra significada, a
Posto de Saúde do bairro para inclusão do palavra que expressa o mundo. Assim como
filho em programa de acompanhamento Flusser (2007), Freire (1982) também se refere
psicológico. às palavras vazias de sentido:
Ocorreu o mesmo fato na aula da
professora D que fez um trabalho com os rios “Não há palavra verdadeira que não seja
de Maringá. Esse episódio nos remete à praxis. Daí, que dizer a palavra verdadeira
necessidade de incluir um capítulo de seja transformar o mundo. A palavra
gramática gráfica (Bertin, 1990) no manual em inautêntica, por outro lado, com que não se
elaboração, pois se percebe que os alunos tanto pode transformar a realidade, resulta da
dicotomia que se estabelece entre seus
na atividade com rios (implantação linear) elementos constituintes. Assim é que,
como no mapa dos movimentos migratórios esgotada a palavra de sua dimensão de ação,
(implantação zonal) não diferenciaram o sacrificada, automaticamente, a reflexão
símbolo da legenda da sua implantação no também se transforma em palavreria,
mapa. verbalismo, bla-blá-bla. Por tudo isso,
As aulas assistidas nos revelaram alienada e alienante. É uma palavra oca, da
diferentes formas de utilização do Atlas, mas qual não se pode esperar a denúncia do
as cinco professoras mostraram ter muita mundo, pois que não há denúncia verdadeira
autonomia em selecionar o tema conforme a sem compromisso de transformação, nem
circunstância motivadora: Centenário da este sem ação (FREIRE, 1982, p. 91-92).
Imigração Japonesa, Aniversário da Cidade,
Semana do Meio Ambiente. No entanto, elas Paulo Freire (1982) relata que quando
mostraram diferentes posturas no a palavra não reflete a realidade, que não é
enfrentamento das ações dos alunos: ignorar, fruto da consciência do sujeito torna-se um
incluir, auxiliar para avançar. A diferença da blá-blá-blá, uma palavra oca, que não se
mediação entre as cinco professoras pode transforma em realidade, justamente como
resultar em diferentes níveis de aprendizado, Flusser afirma. Língua é realidade e passa por
principalmente no intervalo entre níveis de aprimoramento para ser utilizado
desenvolvimento real e próximo. Seria conscientemente e com autenticidade, é
simplificação demasiada uma associação do produtiva porque contém informação, contém
gráfico de Flusser (2007) sobre o a realidade e provoca o progresso da ciência.
desenvolvimento da língua e desenvolvimento Segundo Vygotsky, certos pensamentos não
dos alunos? É correto dizer que em aulas de podem ser comunicados às crianças, mesmo
que elas estejam familiarizadas com as

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palavras necessárias se eles refletem uma de 4h semanais em dois semestres.
realidade conceitualizada como densidade Da nossa parte, perseguiremos o
demográfica que exige a compreensão da compromisso de manutenção do diálogo e do
relação existente entre a população absoluta e trabalho interativo entre as escolas básicas e a
o espaço onde a população se distribui. É uma universidade, na forma presencial nas HTPC e
realidade conceitualizada, A compreensão do também a distância. Está em discussão com a
conceito pode ser auxiliada por atividades Coordenação do Núcleo de Educação a
práticas de medição do espaço da sala de aula, Distância (UEM) e Coordenação dos
quantificação da população da sala e o cálculo Laboratórios de Informática da Secretaria
dessa relação, a divisão. Os alunos precisam Municipal de Educação a criação de um
construir noção de população densa e escassa Programa de Formação Continuada em serviço
por meio de comparação entre espaços de a distância que discuta as leituras dos textos e
dimensões visivelmente diferentes como a sala mapas do Atlas online no formato Fórum.
de aula e o pátio. A mesma quantidade de Espera-se que com a continuidade da
alunos se distribui densamente ou comunicação, principalmente na forma de
escassamente nos dois espaços e fazer escolhas Pesquisa Colaborativa, haja enriquecimento
das variáveis visuais que possam representar mútuo com a formação de coletivos
essa ordem. Esses conceitos exigem o inteligentes.
raciocínio relacional e é necessário que a
criança possa estabelecer algumas relações REFERÊNCIAS
como área e quantidade de pessoas. Como
também no caso do clima, a criança precisa BERTIN, Jacques. A Neográfica e o
estar construindo noção de tempo, conseguir tratamento gráfico da informação. Curitiba:
compor a ideia de regularidade da repetição UFPR, 1990.
dos tipos de tempo ao ler um gráfico de clima.
Essas construções exigem um processo de CALVINO, Ítalo. Palomar. São Paulo:
percepção concreta de dados para que haja Companhia das Letras, 1994.
entendimento e, portanto, acreditamos que o CAMPELLO, Edna. Meu primeiro atlas. Rio
manual que elaboramos seja um caminho de Janeiro: IBGE, 2006.
válido na medida em que possibilita a
construção de conceitos por meio de CARTWRIGHT, W. Making Maps.
atividades. Melbourne, s/d. (cópia).
EDWARDS, V. Os sujeitos no universo
5. FINALIZANDO E CONTINUANDO... escolar. São Paulo: Ática, 1997.
O manual será publicado pela Eduem ELLIOT, John. Recolocando a pesquisa-ação
(Editora da Universidade Estadual de em seu lugar original e próprio (p. 137-152).
Maringá) e será utilizado como material IN GERALDI, Corinta Maria Grisolia;
complementar ao trabalho com o Atlas. As FIORENTINI, Dario; PEREIRA, Elizabete
demandas de complementação do conteúdo Monteiro de A. (orgs) Cartografias do
teórico e de atividades estão incluídas no Trabalho docente. Campinas: Mercado
manual. Aberto, 2000.
Das propostas surgidas no grupo, FLUSSER, Vilém. Língua e realidade. São
encaminharemos para o Departamento de Paulo: Annablume, 2007.
Teoria e Prática em Educação (UEM) a
solicitação para ampliação da carga horária da FONTANA, Roseli A. Cação. Mediação
disciplina Metodologia de Ensino de pedagógica na sala de aula. Campinas:
Geografia de 2h semanais para 4h semanais Autores Associados, 2005.
em dois semestres e a inclusão da disciplina FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio
Cartografia Escolar com carga horária também de Janeiro: Paz e Terra, 1982.

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GERALDI, Corinta Maria Grisolia; ensino e representação. São Paulo: Contexto,
FIORENTINI, Dario; PEREIRA, Elizabete 1989.
Monteiro de A. (orgs.) Cartografias do PASSINI, Elza Yasuko. Geografia: ver, tocar,
Trabalho docente. Campinas: Mercado sentir. Boletim de Geografia, Maringá, ano
Aberto, 2000. 19 – número 1, volume 1 p.173 - 178, 2001.
GOMES DE SÁ, Medson. Elaboração de um PASSINI, Elza Yasuko. Prática de Ensino
manual de orientação para leitura e de Geografia e o estágio supervisionado. São
interpretação do Atlas Municipal de Paulo: Contexto, 2007.
Maringá: ambiente e educação. (Trabalho de
Conclusão de Curso) - Universidade Estadual PIAGET, J. e INHELDER, BÄRBER. A
de Maringá: Maringá, 2007. representação do espaço na criança. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1993.
MACEDO, Lino de. O funcionamento do
sistema cognitivo e as derivações no campo SCHÄFFER, Neiva Otero et al. Um globo em
da leitura e da escrita. São Paulo: IPUSP, suas mãos, práticas para a sala de aula.
s/d. (Mimeo). Porto Alegre: UFRGS, 2005.
MARTINELLI, Marcelo. Curso de SIMIELLI, Maria Elena Ramos. Mapas como
cartografia temática. São Paulo: Contexto, meio de comunicação no ensino
1991. fundamental. São Paulo: FFLCH/USP, 1990.
McCLEARY JR., George F. When Boy scouts ______. Primeiros mapas. São Paulo: Ática,
go to camp: experience and learning – 1993.
mapping – the environment. In: SMOLKA, Ana Luiza B. NOGUEIRA; Ana
INTERNATIONAL CARTOGRAPHIC Lúcia; GÓES e Maria Cecília R. de. A
CONFERENCE, 20., 2001, Beijing. linguagem e o outro no espaço escolar.
Proceedings… Beijing: Chinese Society of Vygotsky e a construção do conhecimento.
Geodesy Photogrammetry and Cartography, Campinas: Papirus, 1993.
2001. v. 5.
VYGOTSKY, L. S. A formação social da
MIRANDA, S. L. A noção de curva de nível mente. São Paulo: Martins Fontes, 1989.
no modelo tridimensional. IN Boletim de
Geografia, Maringá, ano 19 – número 2,
volume 1 (p. 186 – 194), 2001. Data de recebimento: 17.08.2009
Data de aceite: 15.12.2009
PASSINI, Elza Yasuko e ALMEIDA,
Rosângela Doin de. Espaço geográfico:

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Interpretação do gráfico: O gráfico de Flusser é um parâmetro para que nós educadores persigamos a
utilização da língua com rigor. Partindo do Equador da Realidade devemos tentar o nível de conversação e
evoluir para uma forma perfeita e rigorosa da poesia e da ciência. Dirigindo-se para o norte expande o nível
da realidade, é a possibilidade de progresso da ciência. O nível da oração se atinge com cuidado ao utilizar as
palavras, há reflexão de sentidos metafóricos, a linguagem utilizada para criar outra realidade. Na direção do
pólo Norte há o vazio autêntico, do nada a dizer porque está tudo dito entre os sujeitos da conversação e não
é necessário dizer, porque existe uma compreensão profunda das palavras já construídas.
Do equador para o Sul o vazio é de outra natureza. No Pólo Sul, o vazio do nada é a ausência de sentido.
Não há nada a falar porque a mente não produz pensamento e desvinculada da realidade. Do Equador da
realidade, a conversa fiada ou salada de palavras são conversas do gênero que se houve nos salões de beleza,
nos bares, nas feiras, supermercados. O balbuciar que o autor coloca como a incapacidade de definir a
palavra para expressar um pensamento indefinido.
Ao mesmo tempo há a divisão no Hemisfério leste, da linguagem musical e no Hemisfério oeste da
linguagem plástica. Há um entrelaçamento de significados para as tendências leste-oeste, norte-sul. O
professor de qualquer nível de ensino não tem o direito de transformar o momento da aula em conversa fiada
ou salada de palavras. Ele deve chegar sempre com o conteúdo aberto para conversação e criar
circunstâncias na aula para utilização da língua com rigor e cuidado para expandir a realidade e ultrapassar
os limites impostos e fazer progredir a realidade.

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