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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TURMAS RECURSAIS

@ (PROCESSO ELETRÔNICO)
JRBS
Nº 71005531207 (Nº CNJ: 0024222-17.2015.8.21.9000)
2015/CÍVEL

RECURSO INOMINADO. CONSUMIDOR. AÇÃO


DECLARATÓRIA DE NULIDADE DO CONTRATO
C/C REPETIÇÃO DO INDÉBITO E INDENIZAÇÃO
POR DANOS MORAIS. IDOSO. VENDA CASADA.
CONCESSÃO DE EMPRÉSTIMO CONSIGNADO EM
BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. EXIGÊNCIA DE
CONTRATAÇÃO DE SEGURO PRESTAMISTA
COMO GARANTIA DE PAGAMENTO. VALOR DO
SEGURO EMBUTIDO NO EMPRÉSTIMO.
PAGAMENTO DE JUROS SOBRE O PRODUTO.
DEVER DE INFORMAÇÃO NÃO OBSERVADO.
PRÁTICA ABUSIVA. ART. 39, I, DO CDC. CABÍVEL A
DEVOLUÇÃO NA FORMA DOBRADA. INCIDÊNCIA
DO ART. 42, PARÁGRAFO ÚNICO, DA
LEGISLAÇÃO CONSUMERISTA. CONTRATO
RESCINDIDO. DANOS MORAIS INOCORRENTES.
SENTENÇA REFORMADA.
RECURSO PROVIDO.

RECURSO INOMINADO PRIMEIRA TURMA RECURSAL CÍVEL

Nº 71005531207 (Nº CNJ: 0024222- COMARCA DE PORTO ALEGRE


17.2015.8.21.9000)

MARCO ANTONIO DE ANDRADE RECORRENTE

BANCO DO ESTADO DO RIO RECORRIDO


GRANDE DO SUL

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos.


Acordam os Juízes de Direito integrantes da Primeira Turma
Recursal Cível dos Juizados Especiais Cíveis do Estado do Rio Grande do
Sul, em DAR PROVIMENTO AO RECURSO.
Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes
Senhores DR. ROBERTO CARVALHO FRAGA (PRESIDENTE) E DR.ª
FABIANA ZILLES.
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2015/CÍVEL

Porto Alegre, 29 de outubro de 2015.

DR. JOSÉ RICARDO DE BEM SANHUDO,


Relator.

R E L AT Ó R I O
(Oral em Sessão.)

VOTOS
DR. JOSÉ RICARDO DE BEM SANHUDO (RELATOR)

Eminentes Colegas.

Conheço do recurso inominado, pois preenchidos os


pressupostos de admissibilidade.

Trata-se de Recurso inominado interposto pela parte autora


que se insurge contra a sentença de primeiro grau que julgou improcedente
a ação de declaração de nulidade do contrato de seguro. Pretende o autor
seja a instituição requerida condenada a restituir em dobro o valor de R$
3.099,35, cobrado em única parcela, a título de Seguro Prestamista.

O recurso merece provimento.

Tenho que restou comprovada a prática abusiva prevista no art.


39, I, do Código de Defesa do Consumidor, que estabelece:

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Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou


serviços, dentre outras práticas abusivas:
I - condicionar o fornecimento de produto ou de
serviço ao fornecimento de outro produto ou serviço,
bem como, sem justa causa, a limites quantitativos;
(...)”

No caso em tela, restou demonstrado que em 21/07/2014 foi


firmada cédula de crédito bancário, na qual a instituição financeira concedeu
ao autor crédito no valor de R$ 9.063,44 (fl. 44). Sobre este valor, o autor
assumiu o encargo de pagar R$ 163,44 a título de IOF e taxa de juros de
26,88% ao ano. Assim, o autor comprometeu-se a pagar em 58 parcelas
mediante desconto em seu benefício previdenciário (fl. 49).

No anexo da cédula bancária (fl. 50), o autor ratifica a


informação de que, sobre o total do crédito concedido, incidiria o desconto
de R$ 163,44 pelo tributo (IOF). Ou seja,a quantia líquida que deveria ser
repassada ao autor era de R$ 8.900,00. Nada constou sobre outros
descontos.
Somente com a análise de outro contrato a situação torna-se
clara. No mesmo dia em que firmada a cédula bancária, o autor contratou
com a seguradora pertencente ao mesmo grupo da instituição bancária,
seguro prestamista com pagamento em parcela única de R$ 3.099,35 (fls.
51/52).
Logo, do total tomado de empréstimo e sobre o qual o autor
pagará taxa de juros, R$ 3.099,44 foram para pagar o seguro prestamista.

O que se depreende é que o autor foi onerado, pois pagará


encargos sobre uma parcela que beneficiou o grupo ao qual pertence a

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requerida, seja pela parcela única, seja pelos juros incidentes sobre R$
3.099,44.

E, considerando que o autor autorizou o desconto da parcela


em seu benefício previdenciário, a requerida passou a ter diversas garantias
para o mesmo fim.

Tenho, então, que restou configurada a venda casada de


produtos, a qual configura prática comercial abusiva.

No caso concreto, ressalto ainda, que o consumidor não foi


devidamente informado de haveria o desconto como contratado, tanto que
na cédula bancária não constou o abatimento da parcela do seguro.

A matéria já foi objeto de análise pela Turma Recursal e no


mesmo sentido da decisão recorrida se posicionou, a saber:

RECURSO INOMINADO. CONSUMIDOR. BANCO. EMPRÉSTIMO


CONTRATO TENDO O SEGURO DE VIDA COMO CONDIÇÃO À TAXA
DE JUROS MENOR. VENDA CASADA CONFIGURADA.
NECESSIDADE DE CANCELAMENTO. DANOS MORAIS
INOCORRENTES. Narrou a parte autora que em 10.07.2013
contratou com a parte ré empréstimo, consignado em conta-
benefício, no valor de R$ 9.870,00. Entretanto, apenas o valor de
R$ 7.191,71 foi creditado em sua conta, sendo que a quantia de
R$ 2.678,29 foi relativo à cobrança e em quota única de seguro
não contratado. A parte ré, por sua vez, alegou regularidade na
cobrança em vista da anuência da demandante, acostando cópia
do contrato assinado. Correta a sentença ao vislumbrar que se
trata da hipótese de venda casada o que é defeso (artigo 39, I e
IV do CDC). Aliás, a própria instituição demandada as fls. 24,
aventou a ocorrência de venda casada, porquanto condicionou à
autora o pagamento de taxa de juros menor na operação,
mediante a contratação do seguro. Como bem assinalado, apesar
da suposta anuência da autora na contratação, sequer se cogita
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vantagem à autora, pela aludida prática do Banco, porquanto a


suposta economia na aderência do seguro não alcança sequer a
metade do custo da contratação da cobertura. Ademais, o intuito
da autora era na solicitação de empréstimo restando adstrita à
adesão de seguro não requerido. Por abusiva a venda casada,
tem-se por indevida a cobrança do valor de R$ 2.678,29. Cabível,
ainda, a devolução em dobro da referida quantia, nos termos do
artigo 42, parágrafo único, do CDC. Logo, merece ser reformada a
sentença no ponto, restando inalterados demais comandos. A
fixação de danos morais exige a comprovação mínima das
alegações da parte recorrente (art. 333, inciso I do CPC), porque
tem como requisito, além da cobrança indevida, a demonstração
de ter a parte experimentado algum sofrimento excepcional. O
mero descumprimento de relação contratual e/ou a simples
cobrança de valores não ensejam a condenação em danos morais,
razão pela qual merece ser mantida a sentença nesse ponto.
SENTENÇA PARCIALMENTE REFORMADA. RECURSO DA PARTE
AUTORA PROVIDO EM PARTE. RECURSO DA PARTE RÉ
IMPROVIDO. (Recurso Cível Nº 71004992806, Primeira
Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Fabiana Zilles,
Julgado em 24/03/2015)

Todavia, não vislumbro a ocorrência de circunstância que


ultrapassem o dissabor.

O desconto e a contratação, nos moldes em que ocorreram,


configuram prática abusiva prevista no Código de Defesa do Consumidor
que flagrantemente onera o cliente. Mas, por si só, não geram abalo aos
direito da personalidade. Caso em que o autor não demonstrou situação
excepcional que justificasse a indenização pretendida.

Diante do exposto, VOTO POR DAR PARCIAL PROVIMENTO


AO RECURSO interposto pela parte autora para determinar a devolução, em
dobro, da quantia de R$ 3.099,35, corrigida pelo IGPM desde o desembolso
(22/07/2014) e com juros de 1% ao ano desde a citação. Igualmente, declaro
rescindido o contrato de seguro prestamista firmado.

Sem custas e honorários com base no art. 55 da lei 9.099/95.

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DR. ROBERTO CARVALHO FRAGA (PRESIDENTE) - De acordo com o(a)


Relator(a).
DR.ª FABIANA ZILLES - De acordo com o(a) Relator(a).

DR. ROBERTO CARVALHO FRAGA - Presidente - Recurso Inominado nº


71005531207, Comarca de Porto Alegre: "DERAM PROVIMENTO AO
RECURSO. UNÂNIME."

Juízo de Origem: 10.JUIZADO ESPECIAL CIVEL REG PARTENON PORTO


ALEGRE - Comarca de Porto Alegre

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