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38, 2016

TEMAS ATUAIS SOBRE PRESTAÇÃO DE CONTAS DOS PARTIDOS POLÍTICOS


E CANDIDATOS

Marcia Pelegrini∗

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1


Advogada. Mestre e doutora em Direito do Estado pela PUC/SP. Professora de Direito Administrativo da PUC/SP. Procuradora aposentada da
Municipal de Diadema (1989 a 2014). Secretária de Assuntos Jurídicos da Prefeitura de Diadema (1990 a 1997). Secretária de Assuntos
Jurídicos da Prefeitura de Santo André (1997 a 2000); Assessora da Presidência da Câmara Municipal de São Paulo (2001 a 2002).
Asserssoa de Gabinete de Conselheiro no Tribunal de Contas do Município de São Paulo (2003 a 2010). Secretária Executiva do Ministério da
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Cadernos de Pós-Graduação em Direito, Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 38, 2016
SUMÁRIO/CONTENTS/ÍNDICE

TEMAS ATUAIS SOBRE PRESTAÇÃO DE CONTAS DOS PARTIDOS POLÍTICOS E CANDIDATOS.................................4


Marcia Pelegrini

CADERNOS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO: ESTUDOS E DOCUMENTOS DE TRABALHO .....................................28

Cadernos de Pós-Graduação em Direito, Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 38, 2016
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TEMAS ATUAIS SOBRE PRESTAÇÃO DE CONTAS DOS PARTIDOS POLÍTICOS


E CANDIDATOS

Marcia Pelegrini∗

Resumo: O presente artigo busca trazer de forma sucinta alguns assuntos atuais e polêmicos
relacionados ao tema das prestações de contas pelas agremiações políticas e seus
candidatos, em especial aqueles inseridos na legislação brasileira após as minireformas
eleitorais através das leis 12.034/2009 e 13. 165/2015, esta última com importantes
alterações relacionadas às prestações de contas. O artigo também aborda o posicionamento
atual e a evolução das decisões de nossos Tribunais sobre o assunto abordado.

Palavras Chave: Prestação de contas. Partidos Políticos. Candidatos. Eleições.

1. Nota introdutória

O tema abordado no presente artigo decorre de reflexões realizadas em aula ministrada no curso de
pós graduação em Direito Eleitoral da USP, sob a organização dos professores Enrique Ricardo Lewandowsky,
Heleno Taveira Torres e Monica Herman Salem Caggiano, em homenagem ao Ministro Ricardo Lewandowsky.

Destacamos, que o tema inicialmente não despertava grandes discussões de natureza jurídica,
realidade que, com o passar do tempo, foi sendo profundamente alterada.

Embora as contas eleitorais venham sendo diretamente controladas pela Justiça Eleitoral desde 1993,
por ser um procedimento predominantemente contábil, historicamente não recebeu maior atenção da doutrina e
dos Tribunais, como ocorre em relação a outras questões eleitorais. Passou a ganhar relevância como tema de
maior complexidade jurídica recentemente.1

Deste modo, considerando o perfil da análise das contas, que tem um altíssimo grau de conteúdo
contábil, os juízes sempre seguiram os pareceres elaborados pelos setores técnicos de análise de contas, razão
pela qual, sempre teve um conteúdo de análise extremamente formal, com forte incidência de regras e
princípios contábeis.


Advogada. Mestre e doutora em Direito do Estado pela PUC/SP. Professora de Direito Administrativo da PUC/SP.
Procuradora aposentada da Municipal de Diadema (1989 a 2014). Secretária de Assuntos Jurídicos da Prefeitura de
Diadema (1990 a 1997). Secretária de Assuntos Jurídicos da Prefeitura de Santo André (1997 a 2000); Assessora da
Presidência da Câmara Municipal de São Paulo (2001 a 2002). Asserssoa de Gabinete de Conselheiro no Tribunal de
Contas do Município de São Paulo (2003 a 2010). Secretária Executiva do Ministério da Justiça do Brasil ((2011 a 2014).
1Segundo voto do Relator Ministro Gilmar Mendes no PC nº 976-13.2014.6.00.0000, A prestação de contas de campanha é

instrumento adotado desde 1965 (Lei nº 4.740/1965, art. 58, inciso VI) .para assegurar a transparência na arrecadação e
utilização dos recursos nas campanhas eleitorais e aferir se os parâmetros legais foram observados, de modo a coibir, na
medida do possível, eventual abuso de poder e consequente desequilíbrio entre os candidatos, bem como garantir a
soberania nacional.
Até 1993, a Justiça Eleitoral participou de forma indireta do controle das contas de campanha, tendo como função
principal dar publicidade aos resultados das análises das contas realizadas pelos próprios integrantes dos partidos
políticos. Após o impeachment do Presidente Fernando Collor de Mello, foi aprovada a Lei nº 8.713/1993, (Essa regra
passou a constar nas resoluções editadas por este Tribunal a partir da Res.-TSE nº 20.987, de 21.2.2002, que
regulamentou a arrecadação e aplicação de recursos nas campanhas eleitorais de 2002, sendo reproduzida nas
instruções relativas aos pleitos subsequentes) e a Justiça Eleitoral passou a examinar diretamente as prestações de
contas de campanha.

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Contudo, essa situação veio sofrendo severas transformações e cada vez mais merecendo destacada
atenção do Tribunal Superior Eleitoral, o que pode ser observado pelas Resoluções que cuidam das prestações
de contas, que a cada eleição são mais detalhadas e procuram contemplar as situações vislumbradas nas
decisões pretéritas para serem aperfeiçoadas e corrigidas.

Atualmente o TSE possui enorme preocupação com tais Resoluções e com a etapa de análise que
antecede o julgamento das contas. Há, com certeza, um olhar mais atento.

A prestação de contas se conecta a relevantes princípios do Direito Eleitoral e Constitucional, como a


igualdade de chances entre os candidatos e partidos políticos, a moralidade e cânones democráticos e
republicanos consagrados na Constituição Federal, tendo por finalidade precípua evitar o abuso do poder
econômico e suas consequências, que terminam por desvirtuar a igualdade de chances entre os candidatos e
as agremiações partidárias.

Através dela, busca-se verificar a regularidade da arrecadação e da aplicação dos recursos de


campanha feitas ao longo do período eleitoral, conferindo maior transparência e buscando evitar o trânsito de
valores fora dos lançamentos contábeis decorrentes da movimentação financeira espelhada pelas contas
eleitorais abertas para esta específica finalidade.

Muito semelhante ao que ocorre com o controle da prestação de contas dos Partidos Políticos, o
controle das contas dos candidatos tem por objetivo principal cercear o abuso de poder, notadamente o de
caráter econômico, conferindo-se mais transparência e legitimidade às eleições.

É direito impostergável dos cidadãos saber quem financiou a campanha de seus candidatos e de que
maneira esse financiamento se deu. Nessa seara, impõe-se a transparência absoluta.

Mas essa importância não se limita a saber quem são os financiadores da campanha de determinado
candidato, situação que desde a eleição presidencial de 2014 já estava delineada com a determinação da
identificação dos doadores nas prestações de contas dos candidatos e também dos Partidos Políticos.

Neste aspecto, cumpre consignar que houve tentativa, mediante alteração introduzida pela 13.165/15,
que modificou o parágrafo 12, inc. II do art. 28 da Lei 9.504, de retomar a não necessidade de individualização
das contas, nos seguintes termos: “§ 12. Os valores transferidos pelos partidos políticos oriundos de doações
serão registrados na prestação de contas dos candidatos como transferência dos partidos e, na prestação de
contas dos partidos, como transferência aos candidatos, individualização dos doadores. (Incluído pela Lei nº
13.165, de 2015)”.

Em novembro de 2015, o Pleno do Supremo Tribunal Federal, por unanimidade e nos termos do voto
do Relator, deferiu a cautelar para suspender, até o julgamento final da ação, a eficácia da expressão “sem
individualização dos doadores”, constante da parte final do § 12 do art. 28 da Lei Federal nº 9.504/1997,
acrescentado pela Lei Federal nº 13.165/2015, conferindo, por maioria, efeitos ex tunc à decisão.2

2OTribunal, por unanimidade e nos termos do voto do Relator, deferiu a cautelar para suspender, até o julgamento final da
ação, a eficácia da expressão “sem individualização dos doadores”, constante da parte final do § 12 do art. 28 da Lei
Federal nº 9.504/1997, acrescentado pela Lei Federal nº 13.165/2015, conferindo, por maioria, efeitos ex tunc à decisão,
vencido, no ponto, o Ministro Marco Aurélio, que lhe dava eficácia ex nunc. Falou, pelo requerente Conselho Federal da
Ordem dos Advogados do Brasil – CFOAB, o Dr. Marcos Vinícius Furtado Coelho. Presidiu o julgamento o Ministro
Ricardo Lewandowski. Plenário, 12.11.2015.

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2. Obrigatoriedade e a penalidade relacionada ao repasse do fundo partidário

Como sabemos, à despeito da autonomia conferida pela Constituição Federal aos partidos políticos,
são eles obrigados a prestarem contas à Justiça Eleitoral por força do artigo 17, inciso III da Carta Magna, em
seu capítulo V, que trata dos Partidos Políticos.

No texto constitucional, como não poderia deixar de ser, o constituinte originário se limitou a criar o
dever de prestar contas, a ser regulamentado pelos órgãos competentes. Também a doutrina pátria é escassa
nessa matéria, de modo a assumir especial relevância as resoluções editadas pelo Tribunal Superior Eleitoral e
pelas decisões das Cortes Eleitorais.

A regulamentação está disciplinada nas Lei dos Partidos Políticos (Lei 9.096/1995), na Lei Eleitoral (Lei
9.504/97) e nas Resoluções emanadas pela Justiça Eleitoral dispondo sobre a arrecadação e gastos de
recursos por partidos políticos e candidatos e sobre as prestações de contas a cada eleição.

A Lei n. 9.096/1995, no Título III, que trata das Finanças e Contabilidade dos Partidos Políticos, ao
tratar da prestação de contas preceitua em seu artigo 30, que todas as esferas partidárias devem manter
escrituração contábil, “de forma a permitir o conhecimento da origem de suas receitas e a destinação de suas
despesas” e em seu artigo 32, “caput”, que “o partido está obrigado a enviar, anualmente, à Justiça Eleitoral, o
balanço contábil do exercício

Quais são as penalidades previstas na legislação aos Partidos Políticos que não apresentarem
prestações de contas ou tiverem as mesmas rejeitadas?3

ADI 5394 MC / DF DISTRITO FEDERAL MEDIDA CAUTELAR NA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE


Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI Julgamento: 05/10/2015
Decisão Despacho: Cuidase de ação direta de inconstitucionalidade ajuizada pelo Conselho Federal da Ordem dos
Advogados do Brasil – CFOAB – para objetar contra a constitucionalidade de dispositivo da Lei 13.165, de 29 de
setembro de 2015, que alterou o conteúdo da Lei 9.504/97 (lei das eleições), para incluir no seu art. 28 o § 12, que
permite a efetivação da transferência de recursos entre partidos políticos e candidatos “sem individualização dos
doadores”. Segundo alegado, este mecanismo dificultaria o rastreamento das doações eleitorais, impedindo que os
eleitores e as autoridades identificassem os interesses representados pelos candidatos, o que favoreceria a sustentação
de relações pouco republicanas entre os políticos e os seus financiadores. Por constituir uma espécie de obstrução à
transparência do processo eleitoral, o registro “despersonalizado” das doações violaria os princípios republicano e da
moralidade. Após identificar essas lesões constitucionais, a requerente enfatiza a necessidade de suspensão cautelar do
§ 12 do art. 28 da Lei 13.165/15. Destaca, para tanto, a alta plausibilidade do direito invocado, ilustrada pela
contrariedade da norma atacada com a Resolução 23.406 do Tribunal Superior Eleitoral, e a existência de acentuado
perigo com a demora na prestação jurisdicional, decorrente da proximidade dos pleitos eleitorais de 2016. Quanto à
urgência na concessão de provimento judicial liminar, observa também a necessidade de preservar o princípio da
anualidade eleitoral, contido no art. 16 da CF, que exige a definição das regras do processo eleitoral com antecedência
mínima de um ano. Considerada a indiscutível relevância das razões deduzidas, bem assim a necessidade de garantir a
indispensável previsibilidade das regras dos próximos pleitos eleitorais, cumpre submeter o pedido de liminar à imediata
consideração do Plenário do Supremo Tribunal Federal, pelo que aplico à causa o rito ao art. 10 da Lei 9.868/99,
determinando que: (a) sejam notificados o Congresso Nacional e a Presidência da República, para que prestem
informações no prazo de 5 (cinco) dias (Lei 9.868/99, art. 10, caput); e (b) 30/05/2016 Pesquisa de Jurisprudência: STF
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudenciaDetalhe.asp?s1=000516215&base=baseMonocraticas> 2/2
simultaneamente, dê-se ciência ao Advogado-Geral da União e ao Procurador Geral da República, para que se
manifestem no prazo de 3 (três) dias (Lei 9.868/1999, art. 10, § 1º). Publique-se. Intime- se. Brasília, 5 de outubro de
2015. Ministro Teori Zavascki Relator Documento assinado digitalmente
3Na presente análise não trataremos da penalidade de cancelamento do registro civil e estatuto do Partido Político prevista

no artigo 28,III da Lei dos Partidos Políticos, tampouco das sujeições à lei penal aos responsáveis, prevista no artigo 37
caput da referida lei.

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A princípio, cumpre consignar que, conforme agora estabelecido textualmente na Lei 13.165/15, que
introduziu o § 5o, no artigo 32 da Lei nº 9.096/95: “A desaprovação da prestação de contas do partido não
ensejará sanção alguma que o impeça de participar do pleito eleitoral”

Às esferas partidárias que não prestarem contas ou que, embora as tendo apresentado, forem
desaprovadas, no todo ou em parte, a lei previa como principal sanção a suspensão de novas cotas do
Fundo Partidário; fundo esse que representa, de longa data, a maior fonte de recursos dos partidos políticos,
e, por isso, é o fator que mais os impulsiona a apresentar suas contas à Justiça Eleitoral e a zelar para que elas
sejam regularmente aprovadas.

Todavia, a mini reforma de 2015 introduziu importante mudança nesse aspecto, pois alterou de forma
significativa a penalidade para os casos de desaprovação total ou parcial das contas partidárias.4

Ao alterar o artigo 37 da lei 9096/95, passou a estabelecer que a penalidade para os casos de rejeição
total ou parcial das contas será a devolução do valor apontado como irregular, mais aplicação de multa de até
20% sobre esse valor.

A sanção deverá ser aplicada de forma proporcional e razoável pelo período de 12 meses e através de
descontos nos repasses do Fundo Partidário, desde o julgamento. Esse desconto será suspenso no segundo
semestre de ano de eleições.

Nos autos do PC- Prestação de Contas nº 901-76, Brasília/DF, de relatoria da Ministra Luciana Lóssio,
em 26.4.2016, o TSE aplicou a sanção vigente à época da prestação de contas, pois tratava-se de contas do
exercício de 2010 apresentadas pelo Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB).

A Relatora votou inicialmente pela incidência da lei mais benigna, com a aplicação da multa, de acordo
com a redação atual da lei. Todavia, terminou por ajustar seu voto e acompanhar os demais Ministros, que
argumentaram em linhas gerais, que a disciplina nova somente deve se aplicar à partir de 2016; que, no campo
eleitoral a sanção está ligada à idéia de inibição da prática do ato e nesse sentido aplicar a nova redação, ainda
que mais benéfica, enfraqueceria a higidez ética e moral das eleições e, por fim, que que afrontaria o princípio
da isonomia por existirem inúmeras decisões já transitadas em julgado impondo a penalidade vigente à época.

4LEI 13.165/15, que alterou o artigo 37 da Lei dos Partidos Políticos.


“Art. 37. A desaprovação das contas do partido implicará exclusivamente a sanção de devolução da importância
apontada como irregular, acrescida de multa de até 20% (vinte por cento).
§ 2o A sanção a que se refere o caput será aplicada exclusivamente à esfera partidária responsável pela
irregularidade, não suspendendo o registro ou a anotação de seus órgãos de direção partidária nem tornando
devedores ou inadimplentes os respectivos responsáveis partidários.
§ 3o A sanção a que se refere o caput deverá ser aplicada de forma proporcional e razoável, pelo período de um a
doze meses, e o pagamento deverá ser feito por meio de desconto nos futuros repasses de cotas do Fundo
Partidário, desde que a prestação de contas seja julgada, pelo juízo ou tribunal competente, em até cinco anos de
sua apresentação.
......................................................................................
§ 9o O desconto no repasse de cotas resultante da aplicação da sanção a que se refere o caput será suspenso durante o
segundo semestre do ano em que se realizarem as eleições.

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2.1. Partidos políticos e a fonte vedada prevista no inciso II do artigo 31 da Lei 9.096/95. (autoridades)

Este dispositivo, dentre outros, foi objeto da ADI 4650, através da qual, em 17/09/2015 o STF julgou o
pedido parcialmente procedente, em vista da inexistência de modelo constitucional cerrado de financiamento de
campanhas (ausência de moldura constitucional), a atestou a existência de normas fundamentais limitadoras da
discricionariedade legislativa.

Consignando que a decisão não encerra o debate constitucional em sentido amplo, sendo uma última
palavra provisória, decidiu no mérito que: a) É inconstitucional a doação por pessoas jurídicas, eis que significa
violação aos princípios democrático e da igualdade política. Captura do processo político pelo poder econômico.
Plutocratização do prélio eleitoral;; b) É materialmente compatível com os cânones democráticos, republicano e
da igualdade política a doação por PESSOAS NATURAIS, bem como a utilização de RECURSOS PRÓPRIOS
PELOS CANDIDATOS

Assim, fixou-se o entendimento de que as doações pelas pessoas naturais estão em compatibilidade
com a Constituição, de modo que o aspecto que analisaremos, permanece como tema de importante debate.

Disciplina o inciso II do artigo 31 da Lei dos Partidos Políticos que é vedado ao Partido receber direta
ou indiretamente, doações de autoridade ou órgãos públicos, ressalvado o Fundo Partidário.5

Qual é o alcance da expressão utilizada pela lei6? Quem seriam as autoridades impedidas de doar aos
partidos políticos?

O Art. 12 da Resolução 23.432/14 (Doações Partidos Políticos), deu redação com o entendimento do
Superior Tribunal de Justiça sobre quem seriam as autoridades vedadas de doar, da seguinte forma: “§ 2º
Consideram-se como autoridades públicas, para os fins do inciso XII do caput deste artigo, aqueles,
filiados ou não a partidos políticos, que exerçam cargos de chefia ou direção na administração pública
direta ou indireta.

O mesmo conteúdo veio repetido no inciso IV do artigo 12 da Resolução nº 23.464/15 que regulamenta
as finanças e contabilidade dos Partidos nas eleições de 2016, vedando o recebimento de doações de
autoridades públicas, assim consideradas pelo parágrafo primeiro como os filiados ou não a partidos políticos,
que exerçam cargos de chefia ou direção na administração pública direta ou indireta.7

5Lei 9.096/95 - art. 31. É vedado ao partido, receber, direta ou indiretamente, sob qualquer forma ou pretexto, contribuição
ou auxílio pecuniário ou estimável em dinheiro, inclusive através de publicidade de qualquer espécie, procedente de:
(I) Entidade ou governo Estrangeiro
- (II) autoridade ou órgãos públicos, ressalvado o Fundo Partidário
- (III) Autarquias, Estatais, Fundações instituídas por lei e que recebam recursos de entidades governamentais e
concessionárias de serviços públicos;
(IV) Entidade de classe ou sindical:
6Cumpre consignar que sobre este tema, o TSE já pacificou o entendimento de que o dispositivo atinge a

contribuição dos ocupantes de cargos em provimento em comissão ou função de confiança, calculada em


percentagem ao Partido sobre a remuneração recebida e descontada em folha de pagamento. (Resolução
22.025/2005).
7Resolução 23.464/15 - Das Finanças e Contabilidade dos Partidos nas eleições de 2016.

Art. 12. É vedado aos partidos políticos e às suas fundações receber, direta ou indiretamente, sob qualquer forma ou
pretexto, doação, contribuição ou auxílio pecuniário ou estimável em dinheiro, inclusive por meio de publicidade de
qualquer espécie, procedente de:
I – origem estrangeira;
II – pessoa jurídica;

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A jurisprudência do STJ e do TSE faz referência a cargos de chefia ou direção, como aqueles a serem
alcançados pela expressão “autoridade” empregada pela lei. Tal entendimento foi empregado nas Resoluções
expedidas pelo TSE, de forma que resta aos operadores do Direito buscar no ordenamento jurídico o conteúdo
e alcance das expressões “cargos de chefia ou direção na administração direta ou indireta.”

Tais referências são desde logo encontradas no capítulo que cuida da administração pública, no artigo
37, caput e inciso V, da Constituição Federal, como sendo os cargos de provimento em comissão de livre
nomeação e demissão, que não dependem de concurso público para seu preenchimento e destinam-se ao
desempenho das atribuições de direção, chefia e assessoramento.

Segundo entendimento mais recente do Tribunal Superior Eleitoral, a vedação alcança apenas os
ocupantes de cargos demissíveis ad nutum da administração direta ou indireta que tenham a condição de
autoridade.

Constata-se que a vedação do inciso II do art. 31 da Lei n. 9.096/1995, não alcança o detentor de
mandato eletivo, tampouco os servidores públicos filiados ou não, nomeados em funções públicas, comissões,
por nomeação, eleição, designação ou delegação para o exercícios de atribuições legais.8

O tema foi objeto de ação direta de inconstitucionalidade – ADI 5494 proposta em março de 2016 pelo
Partido da República, com pedido de medida cautelar, para suspender dispositivo legal que impede as
agremiações de receberem recursos provenientes de autoridades.

Sob a argumentação de que afrontam os seguintes dispositivos constitucionais: artigos 5º, caput e
inciso II (princípios da igualdade e legalidade); artigo 17, § 1º (princípios regentes dos partidos políticos); artigo
19, III (proibição de criação de distinção entre os brasileiros) e artigo 37 (princípios da legalidade,
impessoalidade, moralidade e eficiência da Administração Pública).

São basicamente dois os argumentos trazidos pelo Partido da República: a) não é possível concluir
que as contribuições efetuadas aos partidos políticos por servidores considerados autoridades – pessoas
físicas, portanto – tenham verdadeira natureza de verbas públicas, revelando, na realidade, contribuição
pecuniária de natureza privada, originada de recursos próprios”; A contraprestação pecuniária pelo exercício de
cargos e empregos públicos ostenta, após o recebimento, evidente natureza privada; b) A Constituição Federal
assegura a espontânea filiação partidária do cidadão, “independentemente da função profissional que
desempenha”

Aduz que a legislação já veda a doação por entidades públicas para afastar influência do Estado nas
eleições e ainda que a Lei das Eleições (9504/97), portanto, posterior à Lei dos Partidos Políticos, embora trate
de doações para campanhas eleitorais, não elenca entre as fontes vedadas do art. 24, “autoridades”, mas, como
já se disse, dentre outros, órgãos públicos e entidades ou governos estrangeiros.

III – pessoa física que exerça atividade comercial decorrente de concessão ou permissão; ou
IV – autoridades públicas.
§ 1º Consideram-se como autoridades públicas, para os fins do inciso IV do caput deste artigo, aqueles, filiados
ou não a partidos políticos, que exerçam cargos de chefia ou direção na administração pública direta ou indireta.
8Resolução TSE 21.841/2004 – art 5º parágrafo 1º: Não alcança os agentes políticos e os servidores públicos filados a

Partidos Políticos nomeados em cargos, funções, mandatos, comissões, por nomeação, eleição, designação ou
delegação para o exercício de atribuições constitucionais.

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Há pedido alternativo de, na eventualidade de o STF não acolher o pedido, para que seja conferida
interpretação conforme a Constituição da República, sem redução de texto, ao artigo 31, inciso II da Lei nº
9.096/1995, para que o termo autoridades não alcance, sob qualquer hipótese, os funcionários públicos
demissíveis ad nutum, já que esses não se confundem com autoridade, muito menos com órgãos públicos.

O Ministro relator, Luiz Fux, não concedeu a liminar pretendida pelo PR em face do lapso temporal
entre a criação do dispositivo e a propositura da ação, e em maio de 2016, diante de sua indiscutível
plausibilidade normativa a denotar a relevância da matéria constitucional suscitada e de seu especial significado
para a ordem social e a segurança jurídica, aplicou o preceito veiculado pelo artigo 12 da Lei nº 9.868, de 10 de
novembro de 1999, a fim de que a decisão venha a ser tomada em caráter definitivo, o que não havia ocorrido
até a publicação deste artigo.

Cumpre registrar por derradeiro e para reiterar a relevância e atualidade do tema, que tramita no
senado o PLS 663/15, com proposta de vedação de doações a partidos políticos por ocupantes de cargos em
comissão ou função de confiança na administração pública e empregados, proprietários e e diretores de
empresas prestadoras de serviços terceirizados que tenham contratos com quaisquer dos entes da federação
brasileira.

No dia 06/04/16 a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania aprovou substitutivo ao PLS 663/15,
que seguiu para votação em turno suplementar na CCJ antes de seguir para a Câmara dos Deputados.9

A CCJ constatou que a proposta não visa afastar a vedação do art 31, II, que veda a doação aos
Partidos por AUTORIDADES, conforme interpretação dada pelo TSE no sentido de que todos enquadrados no
conceito de autoridades (cargos de direção e chefia) estão impedidos de doar, mas sim para incluir na vedação
os ocupantes de cargos e funções de assessoramento.

Portanto, a emenda tem por objeto incluir na vedação o servidor ocupante de cargo em comissão ou
função de confiança e os empregados, proprietários ou diretores de terceirizadas que tenham contrato com a
administração direta ou indireta e votou pela rejeição da proposta de vedação em qualquer tempo.10

9O substitutivo recebeu algumas emendas, em especial as seguintes: a) de autoria do senador Aécio Neves (PSDB-MG), o
projeto propunha a alteração da Lei dos Partidos Políticos (Lei 9.096/1995) para vedar, nos seis meses anteriores às
eleições, doações a Partidos e para alterar a Lei das Eleições (9.504/97), para vedar nos 3 meses antes das eleições as
doações de campanha a candidatos e Partidos, por ocupantes de cargo em comissão ou função de confiança na
administração pública direta e indireta, sob a justificativa de que tem sido comum a indicação para cargos em comissão
ou funções de confiança por meio do financiamento de campanhas eleitorais dos responsáveis pela nomeação, inclusive
como condição para a ocupação do cargo. Tem por finalidade moralizar as campanhas e as nomeações e reduzir a
influência do poder político no resultado das eleições. b) de autoria dos senadores Lasier Martins (PDT-RS) e Ronaldo
Caiado (DEM-GO), visando vedar em qualquer tempo as doações por ocupantes de cargo em comissão ou função de
confiança;c) de autoria do senador Eunício Oliveira (PMDB-CE) para que empregados, proprietários ou diretores de
empresas prestadoras de serviços terceirizados à administração pública sejam proibidos de fazer as doações a partidos,
nos seis meses anteriores ao pleito, e a campanhas eleitorais, nos três meses anteriores às eleições. O relator, senador
Ricardo Ferraço (PSDB-ES), votou pela aprovação do projeto na forma do substitutivo de Eunício Oliveira, com a rejeição
das emendas de Lasier e Caiado. Para o relator, o projeto é moralizador e contribuirá para a redução da influência do
poder político no resultado das eleições, promovendo assim a igualdade entre as candidaturas e estabelecendo como
critério nas nomeações para os cargos em questão a aptidão técnica dos profissionais escolhidos; c)A senadora Gleisi
Hoffmann (PT-PR) pediu a rejeição da proposta, que considerou inconstitucional por estabelecer discriminação entre
categorias de servidores, já que a vedação não atinge os funcionários efetivos, argumento rebatido por Ferraço, por
considerar que o projeto estabelece igualdade de oportunidades, porque os candidatos de partidos fora do poder não têm
como receber doações de servidores de cargos em comissão.
10Referida proposta foi aprovada por 16 votos contra 3 e encontra-se tramitando no Senado.

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Temos, em conclusão, acerca do assunto, evolução jurisprudencial11 com avanços e recuos,


predominando atualmente o entendimento de que a expressão “autoridade” alcança todos aqueles servidores
da administração direta ou indireta, filiados ou não a partidos políticos, que ocupam cargos admissíveis e
demissíveis “ad nutum”, de chefia ou direção, desde que ostentem a condição de autoridades.
Atualmente, é a Resolução nº 23.464/2015 que regulamenta o disposto no Título III da Lei nº 9.096/95,
que trata das finanças e contabilidade dos Partidos Políticos, vedando as doações de titulares de cargos em
comissão que ostentam a condição de autoridade.

11EVOLUÇÃO JURISPRUDENCIAL SOBRE O TEMA:


À época da entrada em vigor da Lei dos Partidos Políticos - 9.096, de 19 de setembro de 1995 - sobrevieram os primeiros
questionamentos acerca da prestação de contas dessas agremiações, que resultaram nas contraditórias Resoluções n°
19.804, DJ de 14.3.1997 (Pet n° 134) e nº 19.817, de 27.3.1997 (Pet n° 119).
Na primeira, restou assentado, corretamente, que com “o termo 'autoridades', o que a lei procurou impedir foi a
interferência dos organismos estatais na vida partidária, a desmedida influência do poder político no âmbito das
agremiações, (...) não obstar, o que seria excessivo, contribuições financeiras de quem, representante de partidos, no
Parlamento, nas Câmaras Municipais, pretenda, com seu aporte financeiro, vitalizar as instituições. (...)" (Pet n° 134, Rel.
Min. Costa Porto, DJ de 14.3.1997). A orientação, portanto, foi a de não se aplicar a vedação do art. 31, II, da Lei n°
9.096/95 ao parlamentar vinculado a Partido Político.
Já na segunda, o mesmo e. Ministro Costa Porto, ao julgar regulares as contas do PMDB em 1997, advertiu a
agremiação quanto à contribuição compulsória imposta pelo Estatuto partidário, por entender que essas contribuições
afrontam a disposição do art. 31, 20 da Lei n° 9.096/95 e não podem, assim, ser admitidas (Pet n° 119, Rei. Min. Costa
Porto, DJ de 27.3.1997).
O tema começou a se pacificar quando o eminente Ministro Nelson Jobim, no julgamento das contas do Partido dos
Trabalhadores, referentes ao exercício financeiro de 1996, adotou posicionamento no sentido de que a “contribuição de
filiados ocupantes de cargos exoneráveis ad nutum resulta em inexistência de violação ao art. 31, II, da Lei n° 9.096/95"
(Resolução-TSE n° 20.844, de 14.8.2001, relator Ministro Nelson Jobim -Diário da Justiça de 9.11.2001).
Não se pode deixar de ressaltar que este entendimento, pelas razões antes aduzidas e outras que a seguir serão
expostas, é o único cuja interpretação seja consentânea com a Constituição da República, data vênia.
Adotando essa mesma linha, o e. Ministro Luiz Carlos Madeira ratificou o entendimento inaugurado e. Ministro Nelson
Jobim, ao responder consulta formulada pelo Partido da Frente Liberal (PFL), concretizando-o na Resolução nº 21.627,
de17.2.2004.
Orientação diversa, porém, inaugurou-se quando a Corte, seguindo o entendimento defendido pelo eminente Ministro
Marco Aurélio, afirmou incidir "a vedação do inciso II do art. 31 da Lei n° 9.096/95, relativamente à contribuição de
detentor de cargo ou função de confiança, calculada em percentagem sobre a remuneração percebida e recolhida ao
Partido mediante consignação em folha de pagamento".
Atualmente, o julgamento das prestações de contas dos partidos políticos é norteado pelo entendimento externado
inicialmente pela Resolução-TSE nº 22.585/2007, quando, em consulta formulada pelo Partido Democratas (DEM), a
Corte Eleitoral estabeleceu que incide a vedação de contribuição aos titulares de cargos demissíveis ad nutum que
ostentem a condição de autoridade.
Tal Resolução restou assim ementada, verbis:
Consulta nº 989/DF, Relator: Ministro Luiz Carlos Madeira, DJ de 23.3.2004.
10 Resolução nº 22.025, de 14.6.2005, rel. Min. Marco Aurélio - Cta n° 1.135, Rel. Min. Marco Aurélio, DJ de25.7.2005.
Consulta n° 1.428 – DF, Rel. Min. José Delgado, Red. designado Min. Cezar Peluso.
Partido político. Contribuições pecuniárias. Prestação por titulares de cargos demissíveis ad nutum da administração
direta ou indireta. Impossibilidade, desde que se trate de autoridade. Resposta à consulta, nesses termos. Não é
permitido aos partidos políticos receberem doações ou contribuições de titulares de cargos demissíveis ad nutum da
administração direta ou indireta, desde que tenham a condição de autoridades.
A Corte Superior Eleitoral, após os debates, assentou: "não é permitido aos partidos políticos receberem doações ou
contribuições de titulares de cargos demissíveis ad nutum da administração direta ou indireta, desde que tenham a
condição de autoridades".
O Ministro José Delgado, que ficou vencido, votou no sentido de que "o art. 31, II e III, da Lei n° 9.096/95, veda aos
partidos políticos o recebimento de doações ou contribuições de cargos demissíveis ad nutum".
Todavia, prevaleceu o voto do Ministro Cezar Peluso no sentido de que se averigua a vedação "desde que tais
detentores sejam considerados autoridades, porque pode haver detentor de cargo demissível ad nutum sem poder típico
de autoridade, como, por exemplo, um assessor técnico".
Assim, o Tribunal fixou que o conceito de autoridade abrangeria apenas servidores ocupantes de cargos de direção e
chefia.

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Em face dessa realidade, temos a ADI proposta pelo Partido da República, que invoca a redação
adotada pela Resolução 23.464/15, vedando doações aos partidos pelos titulares dos cargos em comissão que
ostentam a condição de autoridade, pedindo urgência na uniformização da exegese constitucional para que a
celeuma seja dirimida antes do pleito de 2016 e por fim, o PLS 663/15 visando aumentar o alcance da
expressão para que sejam albergados os ocupantes de cargos de assessoramento e as empresas terceirizadas.

Não há como em conclusão e reflexão, não retomar a decisão proferida na ADI 4650 com o
recentíssimo entendimento do STF que deu por inconstitucional a doação por pessoas jurídicas, restando
atualmente para os Partidos Políticos, como fontes de financiamento, no intuito de lhes dotar dos mecanismos
necessários ao atingimento de suas finalidades institucionais12e13 o público, advindo do Fundo Partidário e as
fontes indiretas, como acesso ao rádio e televisão e as doações das pessoas físicas, naturais. Penso que em
relação a estas, a contribuição deveria independer da profissão ou cargo eventualmente ocupado.

3. Prestação de contas pelos candidatos

O dever de prestar contas por candidatos está previsto na Lei 9.504/9714, que estabelece normas sobre
as eleições, com disciplina específica sobre a arrecadação e aplicação de recursos nas campanhas eleitorais. A
cada eleição o Tribunal Superior Eleitoral expede resoluções sobre a arrecadação, gastos de recursos e
prestação de contas.15

Abordaremos agora alguns temas relevantes e atuais, alterados pelas leis que modificaram a Lei das
Eleições em 2013 e 2015, relacionados aos candidatos.16
A Justiça Eleitoral, nos termos preconizados pelo artigo 30 da referida lei, ao analisar a prestação de
contas, poderá decidir, pela aprovação, quando estiverem regulares, pela aprovação com ressalvas, quando da
existência de falhas que não lhes comprometam a regularidade; pela desaprovação, diante da constatação de
falhas que comprometam sua regularidade e pela não prestação, quando não tiverem as mesmas sido
apresentadas após recebimento de notificação pela Justiça Eleitoral, no prazo de 72 horas.
Neste tema é importante mencionar a Portaria 488-TSE, de 19.8.2014, que aprova os procedimentos
para aferição técnica da regularidade das prestações de contas de candidatos, partidos políticos e comitês
financeiros explicitando os conceitos de falhas de natureza formal, impropriedades e irregularidades, bem como
os critérios a serem considerados pelos analistas por ocasião da emissão do parecer técnico.17

12Art. 1º da Lei n. 9.096/1995 – que dispõe sobre partidos políticos – ao prever que “O partido político, pessoa jurídica de
direito privado, destina-se a assegurar, no interesse do regime democrático, a autenticidade do sistema representativo e
a defender os direitos fundamentais definidos na Constituição Federal”.
13Nas palavras de Fávila Ribeiro: Os partidos têm decisivo e imprescindível papel nas organizações políticas

contemporâneas, na difusão de idéias que alimentam o debate político e cumprem sempre a arregimentação coletiva,
seja para plebiscitos, referendo ou eleição, para os quais funciona como elemento constante o sufrágio popular.
14Alterada pelas Leis 12.891/13 e 13.165/15, esta última, dentre outras finalidades, visando a redução de custos das

campanhas eleitorais.
15Para as eleições municipais de 2016, o TSE expediu a Resolução nº 23463/15.
16Lei 12.891/13 e Lei 13.165/15.
17Portaria 488-TSE

Art. 3º As inconsistências que podem ser detectadas no exame possuem naturezas distintas, classificadas segundo os
critérios abaixo:
I - Falhas de natureza formal - revelam o descumprimento de normas técnicas que não afetam, no mérito, o exame
das contas;

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Em relação ao percentual de impropriedades, falhas e irregularidades que poderiam levar à rejeição,


não há uma definição exata, ocorrendo a avaliação diante de cada caso concreto. A jurisprudência do TSE tem
sido no sentido de que em se tratando de irregularidades com percentual ínfimo em relação aos valores
movimentados, aplica-se o princípio da proporcionalidade para aprovação com ressalvas, assim como as falhas
materiais de pequena relevância não autorizam a rejeição das contas.18

II - Impropriedades - demonstram o descumprimento de obrigações de natureza eleitoral, mas que não comprometem,
isoladamente, a regularidade das contas prestadas, gerando ressalvas; e
III - Irregularidades - demonstram o descumprimento de obrigações de natureza eleitoral, contudo, de maior gravidade
e repercussão sobre as contas, as quais podem vir a comprometer a regularidade, a consistência e a
confiabilidade das contas prestadas, podendo gerar a desaprovação das contas ou o julgamento pela sua não
prestação. (Grifo nosso).
Art. 4o A emissão do PTC deve considerar, de acordo com o prudente critério do analista das contas:
I - o exame individualizado e minucioso do caso concreto;
II - o exame em conjunto de todas as eventuais falhas detectadas;
III - o montante envolvido na falha detectada e sua representatividade nas contas.
Parágrafo único. Os parâmetros constantes deste artigo excepcionam os casos em que, apesar de pequena monta, as
irregularidades culminam por afetar de forma irreparável a confiabilidade das contas ou aquelas circunstâncias em que a
norma, por si só, já determina a desaprovação.
18Nesse sentido:

AgR-AI nº 7677-44/RS, rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 1º.10.2013, e Pet nº 2.661/DF, rel. Min. Marcelo Ribeiro, julgado
em 24.4.2012.
Ainda que seja expressivo o montante dos valores relativos às doações queapresentaram divergência de informações
(R$1.400.000,00 – um milhão e quatrocentos mil reais), representa apenas 1,41% do total arrecadado(R$99.069.529,12 –
noventa e nove milhões, sessenta e nove mil, quinhentos e vinte e nove reais e doze centavos), o que não afasta a
aplicação do entendimento mencionado.
PC nº 4080-52/DF, rel. Min.Hamilton Carvalhido, julgado em 9.12.2010. Naquela assentada, foi aprovada com
ressalvas a prestação de contas da campanha eleitoral para presidente da República do Comitê Financeiro
Nacional do Partido dos Trabalhadores nas eleições de 2010, não obstante a existência de irregularidade relativa
a R$2.610.419,28 (dois milhões, seiscentos e dez mil, quatrocentos e dezenove reais e vinte e oito centavos), mas
que representava apenas 1,8251% do total declarado, com base em um juízo de proporcionalidade.
Ante o exposto e com base na manifestação da Coepa, aprovo com ressalvas as contas do Diretório Nacional do
Partido da Social Democracia Brasileira
PC nº 976-13.2014.6.00.0000/DF 34: relativas à arrecadação e à aplicação de recursos financeiros na campanha eleitoral
de 2010.
(PC nº 4086-59/DF, de minha relatoria, julgado em 5.8.2014 – grifo nosso)
PC nº 976-13.2014.6.00.0000/DF 38: Nos termos da manifestação da Asepa, as irregularidades representam 4,05% das
receitas e 5,15% das despesas da candidata, o que, com base em uma compreensão da reserva legal proporcional, não
autoriza a desaprovação de contas.
Com efeito, o próprio art. 30, § 2º-A, da Lei nº 9.504/1997 estabelece que nem todas as irregularidades materiais
autorizam a desaprovação de contas, quando “irrelevantes no conjunto da prestação de contas, que não comprometam o
seu resultado”.
PC nº 3882-15/DF, rel. Min. Henrique Neves da Silva, julgada em 7.8.2014: Da mesma forma a jurisprudência do
TSE afirma que, “como o partido se manifestou sobre a alegada ausência de comprovação, e o valor total das
irregularidades apuradas corresponde a 3,88% do total movimentado, não se justifica o prolongamento do
processo, pois as falhas materiais de pequena relevância não ensejam a rejeição das contas”
Nesse sentido, ainda, os seguintes julgados do Tribunal em que se aplicou o princípio da proporcionalidade
quando a irregularidade foi pequena ante o contexto da campanha eleitoral:
PARTIDO POLÍTICO. PARTIDO DEMOCRATAS (DEM). PRESTAÇÃO DE CONTAS. EXERCÍCIO FINANCEIRO DE
2009. APROVAÇÃO COM RESSALVAS. RECOLHIMENTO AO ERÁRIO. NECESSIDADE. PRECEDENTES.
1. Na forma da legislação que rege a matéria, o partido deveria ter juntado aos autos documento comprovando a
transformação do Instituto Tancredo Neves em fundação.
2. Não foram informados quais eventos deram causa a gastos com passagens e hospedagens nem os respectivos
períodos. Também incompleta a documentação relativa a despesas com táxi, consultores, alimentação, advogados e
prestadores de serviços diversos.
3. A utilização de recursos do Fundo Partidário para efetuar donativos e contribuições a organismo internacional não se
coaduna com nenhuma das hipóteses previstas no art. 44, incisos I a V, da Lei nº 9.096/95.

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Pois bem, tratemos da questão relacionada à quitação eleitoral. A não prestação de contas resulta na
impossibilidade do recebimento pelo candidato da quitação eleitoral pelo prazo do mandato ao qual concorreu e
enquanto as contas não forem apresentadas.

4. Conforme expressa previsão do inciso V do art. 2º da Resolução-TSE nº 21.841/2004, o estatuto da agremiação


partidária deverá conter disposição capaz de obstar a contabilização de qualquer recebimento ou dispêndio referente ao
respectivo instituto ou fundação.
5. Não foi apresentada nota fiscal expedida por empresa de táxi aéreo, deixando o DEM de comprovar a regularidade
dessa despesa, o que resultou em descumprimento do disposto no art. 34, III, da Lei dos Partidos Políticos, c.c. o art. 9º,
I, da Res-TSE nº 21.841/2004.
6. É entendimento deste Tribunal Superior que o pagamento de juros e multas cíveis, devidos em decorrência de
obrigações não satisfeitas, não se subsume ao comando normativo contido no inciso I do art. 44 da Lei nº 9.096/95,
sendo, portanto, defeso utilizar as verbas do Fundo Partidário para o cumprimento desse fim.
PC nº 976-13.2014.6.00.0000/DF 39
7. Na hipótese, além das irregularidades meramente formais, as demais são relativas a não comprovação de
despesas ou aplicações inadequadas do Fundo Partidário, alcançando apenas 1,69% daqueles recursos – no
montante de R$ 339.457,71 –, o que possibilita a aplicação dos princípios da proporcionalidade e da
razoabilidade.
8. A jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral é no sentido de que, mesmo quando as irregularidades encontradas
redundam na aprovação com ressalvas das contas apresentadas, é cabível a determinação de devolução dos respectivos
valores ao Erário.
9. Contas aprovadas com ressalvas.
(PC nº 978-22/DF, redator para o acórdão Min. Dias Toffoli, julgada em 25.10.2014 – grifos nossos) Prestação de contas
de campanha. Candidato. Eleições 2012.
1. Não configura cerceamento de defesa a ausência de intimação para se manifestar sobre o parecer conclusivo quando
nele não se aponta outras falhas senão aquelas em relação às quais o candidato já havia sido intimado e os documentos
e argumentos por ele apresentados foram considerados como insuficientes para afastar as irregularidades anteriormente
detectadas.
2. A ausência de recibos eleitorais e de notas fiscais constitui, em regra, irregularidade apta a ensejar a desaprovação
das contas do candidato. Precedentes: AgR-REspe nº 2450-46, rel. Min. Henrique Neves, DJE de 25.11.2013; AgR-
REspe nº 6469-52, rel. Min. Arnaldo Versiani, DJE de9.10.2012.
3. É inviável a aplicação dos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade se não há, no acórdão regional,
elementos que permitam mensurar se os valores relativos às falhas identificadas são ínfimos em comparação
com o montante dos recursos arrecadados na campanha.Agravo regimental a que se nega provimento. (AgR-AI nº
1380-76/MG, rel. Min. Henrique Neves da Silva, julgado em16.6.2014 – grifos nossos)
AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. PRESTAÇÃO DE CONTAS. CANDIDATO. ELEIÇÕES 2010. FALHAS
SANÁVEIS. REEXAME DE FATOS E PROVAS. VALOR ÍNFIMO. PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE E
RAZOABILIDADE. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL. AUSÊNCIA DE SIMILITUDE FÁTICA. APROVAÇÃO DAS CONTAS.
RESSALVAS.
1. Para rever as conclusões enunciadas na origem e assentar a gravidade das falhas apontadas, seria necessário novo
exame dos fatos à luz das provas produzidas, providência incompatível com a estrita via do recurso especial. (Enunciado
de Súmula nº 279 do Supremo Tribunal Federal).
2. O valor irrisório das falhas apontadas (não totaliza 2% do montante global da campanha) permite a aprovação
das contas com ressalvas, tendo em conta os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade.
Precedentes.
3. Não sendo possível constatar a presença de vícios insanáveis, não há similitude fática capaz de justificar dissenso
jurisprudencial entre o acórdão recorrido e os arestos tidos como paradigmas.
4. Agravo regimental desprovido.
AgR-REspe nº 6368-15/RN, rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 25.6.2013 – grifos nossos). Prestação de contas. Doação
por fonte vedada.É de manter-se a decisão do Tribunal Regional Eleitoral que, em observância aos princípios da
proporcionalidade e razoabilidade,
PC nº 976-13.2014.6.00.0000/DF 40: entendeu, diante das particularidades do caso, aprovar com ressalva as
contas do candidato, considerando que a irregularidade alusiva à doação por fonte vedada – proveniente de
sindicato – correspondeu a percentual ínfimo em relação ao total de recursos arrecadados para a campanha.
O TSE já decidiu que, se a doação recebida de fonte vedada for de pequeno valor e não se averiguar a má-fé do
candidato ou a gravidade das circunstâncias diante do caso concreto, é possível a aplicação dos princípios da
proporcionalidade e da razoabilidade para aprovar, com ressalva, a prestação de contas. Precedente: Agravo Regimental
no Agravo de Instrumento nº 82-42. Agravo regimental não provido. (AgR-AI nº 10207-43/MG, rel. Min. Arnaldo Versiani,
julgado em 9.10.2012 – grifos nossos).

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A polêmica reside na situação de contas julgadas irregulares, eis que neste aspecto o Tribunal Superior
Eleitoral vem alterando o entendimento ao longo dos últimos anos.

3.1. Quitação eleitoral – requisito para registro de candidatura. Consequências do resultado da


prestação de contas

O inciso VI do artigo 11 da lei Eleitoral exige a certidão de quitação eleitoral para registro de
candidatura, que também é condição de elegibilidade, porque pressupõe o pleno gozo dos direitos políticos.

A quitação eleitoral abrange as multas por ilícitos eleitorais e penalidades pecuniárias de ausência às
urnas.

Acerca das consequências dos julgamentos das contas, como já se observou, vem a justiça eleitoral
alterando seu entendimento ao longo dos anos.

A Resolução 22.715/2008, trouxe em seu artigo 41 § 3º o entendimento de que a rejeição das contas
impedia a obtenção da quitação eleitoral. Todavia, em 2009 a Lei Federal 12.034, incluiu o § 7º na ao artigo 11
da Lei das Eleições (Lei 9.504/97), no seguinte sentido:
Art. 11 [...] § 7º A certidão de quitação eleitoral abrangerá exclusivamente a plenitude
do gozo dos direitos políticos, o regular exercício do voto, o atendimento a
convocações da Justiça Eleitoral para auxiliar os trabalhos relativos ao pleito, a
inexistência de multas aplicadas, em caráter definitivo, pela Justiça Eleitoral e não
remitidas, e a apresentação de contas de campanha eleitoral. (Incluído pela Lei nº
12.034, de 2009).

Em virtude do novo dispositivo legal, o TSE passou a divergir quanto a esse tema, eis que, como se
viu, havia um posicionamento no sentido de que a desaprovação das contas impediria a obtenção de certidão
de quitação eleitoral ao respectivo candidato sob o argumento de que a referida norma deveria ser interpretada
à luz dos princípios norteadores do processo eleitoral.

Não obstante, a alteração da lei trouxe clara intenção do legislador de alterar tal posicionamento, eis
que a redação deixa estabelecido que bastaria a apresentação das contas de campanha para que o candidato
ficasse quite com a Justiça Eleitoral.
Em 2010, por ocasião da edição da Resolução nº 23.221/2010, O Tribunal Superior Eleitoral aprovou
redação que que dispunha, entre outras hipóteses, que a quitação eleitoral deveria abranger a apresentação
“regular” de contas de campanha eleitoral. Em virtude dessa expressão “regular”, inúmeras foram as discussões
sobre eventual extrapolação pelo TSE de seu poder regulamentar, restringindo a obtenção de certidão de
quitação eleitoral pelo candidato, de forma diferente da prevista na lei.
O conteúdo da Resolução gerou celeuma quanto à expressão “apresentação regular de contas de
campanha”, tendo prevalecido, por fim o entendimento de que a rejeição das contas de campanha, por si só,
não teria o poder de impedir a obtenção da certidão de quitação eleitoral.19

19Por
voto da maioria, o TSE entendeu que o adjetivo “regular” não significava a necessidade de aprovação das contas de
campanha, de modo que a desaprovação das contas não impediria a quitação eleitoral do candidato (REspe nº 4423-
63/RS, rel. Min. Arnaldo Versiani, em 28.9.2010).

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Mas a doutrina e várias Cortes Eleitorais regionais, mesmo após esse entendimento continuaram
divergindo quanto ao tema, alguns mantendo o posicionamento pela impossibilidade da concessão de certidão
de quitação eleitoral em decorrência da rejeição das contas.

Em junho de 2012, ao excluir o § 2º do art. 52 da Resolução nº 23.376/2012, que dispunha acerca da


suspensão de quitação eleitoral a candidatos que tivessem suas contas rejeitadas, o TSE levou a crer que o
entendimento adotado seria, de fato, o mais benéfico aos candidatos, posicionamento agora expresso, de forma
inequívoca, na jurisprudência atual.20

Assim, constata-se que o recente posicionamento da Justiça Eleitoral é pela concessão de certidão de
quitação eleitoral aos candidatos que tenham apresentado suas contas de campanha, ainda que estas tenham
sido desaprovadas, nos termos literais do estabelecido pelo art. 11, § 7º, da Lei das Eleições (Lei nº
9.504/1997), mas, se por ocasião da solicitação do registro as contas não tiverem sido apresentadas, a certidão
de quitação não será expedida.

3.2. Limite de gastos de campanha – fixação e penalidades em caso de inobservância

Este tema sofreu profunda modificação com a mini reforma política implantada pela Lei 13.165 de
2015. Anteriormente, o artigo 17-A da Lei das Eleições estabelecia a fixação do limite de gastos a cada eleição,
por lei ou na falta desta no prazo legal, pelo partido por ocasião do registro da candidatura. Referido limite não
poderia ser ultrapassado sob pena de aplicação de multa no valor de 5 a 10 vezes o valor excedido.

Mas o valor do limite de gastos inicialmente fixado e registrado pelo partido político poderia ser objeto
de alteração posterior, diante de fato superveniente devidamente justificado nos termos de autorizações
inseridas nas Resoluções, a exemplo dos §§ 6º e 7º do artigo 4º da Resolução nº 23.406/13, que regeu a
derradeira eleição antes da novel alteração legal.

Para tanto, deveria ser encaminhado pedido de alteração pelo partido à Justiça Eleitoral, ficando
condicionado ao deferimento pelo Ministro Relator do processo de prestação de contas. Normalmente, na
esteira das decisões do TSE, os pedidos desta natureza eram deferidos diante da necessidade da campanha
eleitoral em segundo turno, sendo sua realização suficiente para justificar a adequação da estimativa inicial de
gastos de campanha, bem como, que demonstrada estaria a ocorrência de fato superveniente.

Não obstante as dúvidas e celeumas havidas durante a vigência desta previsão legal, fato é que já não
existe interesse efetivo em sua detida análise, exceto para a finalidade de apresentar a atual regra legal para a
fixação dos gastos de campanha e as penalidades em caso de ultrapassagem.

20ELEIÇÕES 2012. REGISTRO DE CANDIDATURA. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL ELEITORAL.


DESAPROVAÇÃO DAS CONTAS DE CAMPANHA. QUITAÇÃO ELEITORAL. ENTENDIMENTO JURISPRUDENCIAL
MANTIDO NA RESOLUÇÃO Nº 23.376/2012. OBSERVÂNCIA DO PRINCÍPIO DA SEGURANÇA JURÍDICA.
DEFERIMENTO DO PEDIDO DE REGISTRO. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
1. A apresentação das contas de campanha é suficiente para a obtenção da quitação eleitoral, nos termos do art. 11, §
7º, da Lei nº 9.504/1997, alterado pela Lei nº 12.034/2009.
2. Entendimento jurisprudencial acolhido pela retificação da Resolução nº 23.376/2012 do TSE.
3.Agravo regimental desprovido. (AR-REspe nº 232-11/RJ, Relator Ministro Dias Toffoli, TSE).
No mesmo sentido:
AgR-REsp 11197de 30/08/12 e REsp 442363 de 28/09/10.

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Atualmente, o limite de gastos nas campanhas eleitorais dos candidatos será definido pela justiça
eleitoral com base nos gastos declarados, na respectiva circunscrição, na eleição para os mesmos cargos
imediatamente anterior à promulgação da Lei 13.165/15, que fixou em seu artigo 5º percentuais de limites para
primeiro e segundo turnos para as eleições majoritárias.21

Nesta linha, a Resolução nº 23.463/15 em seu artigo 4º fixou que em 20/07/16 serão divulgados os
limites atualizados pelo INPC ou índice que o substituir.

Não há mais possibilidade de requerimento de alteração, eis que a lei já fixa os percentuais para
segundo turno. Atualmente a penalidade aplicada é de multa correspondente a 100% da quantia excedida.

Embora as discussões sobre as condições necessárias e imprescindíveis para a alteração dos valores
fixados inicialmente pelos partidos durante o pleito tenha perdido sua relevância, já que não há mais permissão
legal para alteração, pois os valores já estariam pré-fixados, considero pertinentes ainda duas observações.

A primeira relacionada à eventual necessidade de alteração pela própria justiça eleitoral em situações
excepcionais, por exemplo de extrema mudança na economia a atingir as campanhas. A lei autorizou a
atualização monetária dos valores, de modo que fatos supervenientes e imprevisíveis autorizariam a atualização
para a manutenção do real valor da moeda, no curso do processo eleitoral.

A segunda diz respeito a questão decorrente da legislação e do sistema de prestação de contas


eleitoral- SPCE, que deve despertar especial cuidado pelos responsáveis pelas prestações de contas das
campanhas.

Por força da legislação e visando garantir que os valores lançados na contabilidade eleitoral reflitam
exatamente o que foi arrecadado e gasto na campanha, todas as doações eleitorais se dão mediante a emissão
de recibo eleitoral (as financeiras e as estimadas em dinheiro).

Deste modo, quando a campanha majoritária, por exemplo, a campanha nacional para presidente da

21Art. 5o O limite de gastos nas campanhas eleitorais dos candidatos às eleições para Presidente da República, Governador
e Prefeito será definido com base nos gastos declarados, na respectiva circunscrição, na eleição para os mesmos cargos
imediatamente anterior à promulgação desta Lei, observado o seguinte:
I - para o primeiro turno das eleições, o limite será de:
a) 70% (setenta por cento) do maior gasto declarado para o cargo, na circunscrição eleitoral em que houve apenas um
turno;
b) 50% (cinquenta por cento) do maior gasto declarado para o cargo, na circunscrição eleitoral em que houve dois turnos;
II - para o segundo turno das eleições, onde houver, o limite de gastos será de 30% (trinta por cento) do valor previsto no
inciso I.
Parágrafo único. Nos Municípios de até dez mil eleitores, o limite de gastos será de R$ 100.000,00 (cem mil reais) para
Prefeito e de R$ 10.000,00 (dez mil reais) para Vereador, ou o estabelecido no caput se for maior.
Art. 6o O limite de gastos nas campanhas eleitorais dos candidatos às eleições para Senador, Deputado Federal,
Deputado Estadual, Deputado Distrital e Vereador será de 70% (setenta por cento) do maior gasto contratado na
circunscrição para o respectivo cargo na eleição imediatamente anterior à publicação desta Lei.
Art. 7o Na definição dos limites mencionados nos arts. 5o e 6o, serão considerados os gastos realizados pelos candidatos
e por partidos e comitês financeiros nas campanhas de cada um deles.
Art. 8o Caberá à Justiça Eleitoral, a partir das regras definidas nos arts. 5o e 6o:
I - dar publicidade aos limites de gastos para cada cargo eletivo até 20 de julho do ano da eleição;
II - na primeira eleição subsequente à publicação desta Lei, atualizar monetariamente, pelo Índice Nacional de Preços ao
Consumidor - INPC da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE ou por índice que o substituir, os
valores sobre os quais incidirão os percentuais de limites de gastos previstos nos arts. 5o e 6o;
III - atualizar monetariamente, pelo INPC do IBGE ou por índice que o substituir, os limites de gastos nas eleições
subsequentes.

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República descentraliza recursos financeiros, repassando-os aos Estados para a realização da campanha
nacional, tais recursos voltam para a contabilidade nacional, como recursos estimáveis em dinheiro.

Nenhum reparo a fazer em relação à necessidade do lançamento contábil, eis que se presta a registrar
a movimentação de todos os recursos de campanha, sejam os financeiros ou os estimáveis em dinheiro.

Todavia, o sistema de lançamento contábil soma os recursos financeiros destinados aos Estados para
a realização de campanha eleitoral aos mesmos recursos que voltam de forma estimada (doações estimadas
em dinheiro) para a campanha nacional, fazendo com que tais valores sejam computados em duplicidade, o que
significa importante alerta para fins de controle do limite financeiro de gastos.

Note-se que, o sistema, a despeito de ter sido desenvolvido para garantir o efetivo controle e
transparência dos recursos efetivamente empregados nas campanhas eleitorais, termina por trazer entraves e
dificuldades para a exata verificação do que realmente foi gasto, eis que faz com que os valores efetivamente
gastos se misturem na somatória que não reflete o real valor aplicado na campanha, pois, neste aspecto, é
contado em dobro. Então, na realidade, causa séria distorção, pois acaba por acarretar em duplicidade não real
de gasto.

Deste modo, este é alerta relevante a ser observado pelos gestores financeiros das campanhas
eleitorais, por ocasião de descentralização de recursos financeiros a serem empregados também na campanha
do candidato de repassou os valores, ou seja, descentralização de recursos financeiros que voltam para a
contabilidade como doação estimada.

3.3. Relatórios parciais de contas. Requisitos e exigências que devem ser atendidas por ocasião da
apresentação

Outra importante questão a ser observada diz respeito às prestações de contas parciais.

A Lei 9.504/97 em seu artigo 28 § 4º dispõe sobre a obrigatoriedade da apresentação de prestações de


contas parciais durante a campanha eleitoral. Esta obrigatoriedade atinge os candidatos, os Partidos e as
coligações. O relatório deverá discriminar os recursos em dinheiro e estimáveis e os gastos realizados. 22

Por sua vez, a Resolução nº 23.463/15, que regulamenta a prestação de contas para as eleições
municipais de 2016, definiu o período de 9 a 13 de setembro para a prestação de contas parcial, exigindo, além
do registro da movimentação financeira, desde o início, até o dia 08/09: a indicação dos nomes e CPFs dos
doadores; a especificação dos valores doados e a identificação dos gastos com detalhamento dos fornecedores.

Portanto, atualmente os relatórios parciais devem discriminar os doadores e respectivos valores, além
da obrigatoriedade da divulgação de todos os recursos recebidos nas 72 horas seguintes.

22§ 4o Os partidos políticos, as coligações e os candidatos são obrigados, durante as campanhas eleitorais, a divulgar em
sítio criado pela Justiça Eleitoral para esse fim na rede mundial de computadores (internet):
I - os recursos em dinheiro recebidos para financiamento de sua campanha eleitoral, em até 72 (setenta e duas) horas de
seu recebimento;
II - no dia 15 de setembro, relatório discriminando as transferências do Fundo Partidário, os recursos em dinheiro e os
estimáveis em dinheiro recebidos, bem como os gastos realizados.
§ 7o As informações sobre os recursos recebidos a que se refere o § 4o deverão ser divulgadas com a indicação dos
nomes, do CPF ou CNPJ dos doadores e dos respectivos valores doados.

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3.4. Efetiva movimentação de recursos – regime de competência

Trata-se de importante exigência prescrita na lei que desde a eleição presidencial de 2014 tomou rumo
e atenção diferenciada diante de apontamento do órgão técnico e das considerações e encaminhamentos feitos
no voto do Ministro Relator e acatados pelo plenário nos autos do PC 976-13 –TSE.

A prestação de contas parcial deve corresponder à efetiva movimentação de recursos ocorrida até a
data da sua entrega. Isso significa que tema anteriormente controvertido, inclusive com entendimentos
divergentes nos Tribunais Regionais Eleitorais, passou a ter entendimento explicitado a partir dessa decisão,
que acabou por entender que o regime a ser adotado na prestação de contas é o de competência e não de
caixa.

Atualmente disciplina a Resolução, no § 6º do artigo 43, que “ A não apresentação tempestiva da


prestação de contas parcial ou a sua entrega de forma que não corresponda à efetiva movimentação de
recursos pode caracterizar infração grave, a ser apurada na oportunidade do julgamento da prestação de contas
final.

Na interpretação ao dispositivo, o Ministro Relator do PC 976-13, Gilmar Mendes, asseverou em seu


voto, que:
“A obrigatoriedade de a prestação de contas parcial refletir a efetiva movimentação de
campanha objetiva não apenas dar publicidade às campanhas eleitorais na perspectiva das
doações e despesas, como decorrência lógica do princípio da transparência eleitoral, mas
também possibilitar o efetivo controle das contas pela Justiça Eleitoral, devendo a análise
ser diluída no curso da campanha, evitando-se, como no caso dos autos, que a quase
totalidade da campanha seja examinada em pouco mais de 10 dias, o que, obviamente,
inviabiliza o objetivo da prestação de contas, o efetivo controle legal dos valores
arrecadados e gastos no curso da campanha e, consequentemente, eventuais ilicitudes que
justifiquem o ajuizamento de ações que apurem abuso de poder econômico ou
arrecadação/gasto ilícito de campanha (art. 30-A da Lei nº 9.504/1997.
Ademais, não se pode perder de vista que, enquanto o Tribunal Superior Eleitoral analisa
apenas uma dezena de prestação de contas presidenciais, cujo efetivo controle fica
consideravelmente prejudicado em razão do exíguo prazo e do fato de a prestação de
contas parcial não refletir a efetiva movimentação de campanha, ficando um grande
volume de informações e documentos para a prestação de contas final, o exame dos
Tribunais Regionais Eleitorais simplesmente fica inviabilizado, considerada a enorme
quantidade de contas a serem analisadas em curtíssimo espaço tempo, o que, além
de justificaras propostas que serão apresentadas ao final deste voto, demonstra a
necessidade de a Justiça Eleitoral atuar com rigor quando a prestação de contas
parcial não representar a realidade de campanha naquele momento.
Correto o parecer conclusivo da Asepa, a quem compete fazer uma análise rigorosamente
técnica das contas, observando os exatos limites da resolução, o qual qualificou aquele fato
como grave. (destaque em negrito nosso).

Restou pois, consagrado o entendimento, segundo o qual, no relatório parcial devem constar todas as
despesas que reflitam a campanha efetivamente realizada até a data da apresentação do relatório, e não
apenas as despesas pagas até aquela data. Muitos ajustes são celebrados com pagamentos futuros, ainda não
efetivados por ocasião da apresentação dos relatórios parciais e estes devem estar presentes nas parciais.
Trata-se de noção de contabilidade, denominada regime de competência.

Cadernos de Pós-Graduação em Direito, Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 38, 2016
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Todavia, em juízo de ponderação, considerou o Ministro Relator que essa postura mais rigorosa
adotada pela Justiça Eleitoral deveria ser aplicada nos pleitos futuros, eis que as mudanças radicais na
interpretação devem ser acompanhadas de devida e cuidadosa reflexão sobre sua aplicação, em vista do
postulado da segurança jurídica.23
Temos, portanto, esta importante e inafastável definição a ser observada no pleito eleitoral de 2016.

4. A natureza jurisdicional do processo de prestação de contas eleitoral


O processo de prestação de contas eleitoral historicamente teve natureza administrativa, de modo que
a jurisprudência do TSE sedimentou-se no sentido de que as decisões neles proferidas não fazia coisa julgada
material e tampouco era reconhecida a possibilidade de interposição de recursos especiais contra decisões dos
Tribunais Regionais , eis que não haveria uma ação processual pedindo a aplicação do direito ao caso concreto,
mas apenas um ônus do candidato na conformidade da legislação eleitoral. 24e25

23Todavia, conquanto a resolução do Tribunal Superior Eleitoral tenha qualificado como grave a circunstância de a
prestação de contas parcial não refletir a efetiva movimentação de campanha, entendo que, em um juízo de ponderação,
essa postura mais rigorosa e correta da Justiça Eleitoral deve ser aplicada nos pleitos futuros, permitindo amplo debate
pelos atores do processo eleitoral durante as audiências públicas para as eleições de 2016, pois o Tribunal Superior
Eleitoral tem aprovado com ressalvas quando as irregularidades são formais.
De fato, o Tribunal Superior Eleitoral tem entendido que “a existência de irregularidade formal enseja a aprovação das
contas com ressalvas” (AgRREspe nº 394-40/RO, rel. Min. Henrique Neves da Silva, julgado em 2.10.2013).
Da mesma forma a Pet nº 1.612/DF, rel. Min. Felix Fischer, julgada em 30.3.2010:[...] é assente nesta c. Corte que a
existência de irregularidades formais enseja a aprovação das contas com ressalvas (PET nºs 1.465/DF, Rel. Min. Marcelo
Ribeiro, DJe de 21.5.2009; 1.009/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJ de 13.3.2006; 1.006/SP, Rel. Min. Caputo Bastos, DJ
de 22.9.2004; 812/RJ, Rel. Min. LuizCarlos Madeira, DJ de 4.10.2004). Na espécie, o partido requerente incorreu em
impropriedade de natureza formal, de cunho técnico, que examinada em conjunto não compromete a integridade e a
transparência da prestação de contas, à inteligência do art. 27, II, da Resolução-TSE nº 21.841/2004.
Portanto, conforme venho sustentando no Supremo Tribunal Federal, especificamente no julgamento do RE nº 637.485/RJ, de
minha relatoria, que envolvia a questão do prefeito itinerante, as mudanças radicais na interpretação da Constituição e da
legislação eleitoral devem ser acompanhadas da devida e cuidadosa reflexão sobre suas consequências, tendo em vista o
postulado da segurança jurídica. Não só a Corte Constitucional, mas também o Tribunal que exerce o papel de órgão de cúpula
da Justiça Eleitoral devem adotar tais cautelas por ocasião das chamadas viragens jurisprudenciais na interpretação dos
preceitos constitucionais que dizem respeito aos direitos políticos e ao processo eleitoral.
Não se pode desconsiderar o peculiar caráter normativo dos atos judiciais emanados do Tribunal Superior Eleitoral que
regem todo o processo eleitoral. Mudanças na jurisprudência eleitoral têm efeitos normativos diretossobre os pleitos
eleitorais, com sérias repercussões, portanto, sobre os direitos fundamentais de cidadãos (eleitores e candidatos) e
partidos políticos. No âmbito eleitoral, a segurança jurídica assume a face de princípio da confiança para proteger a
estabilização das expectativas de todos aqueles que de alguma forma participam dos prélios eleitorais.
A importância fundamental do princípio da segurança jurídica, para o regular transcurso dos processos eleitorais, está
plasmada no princípio da anterioridade eleitoral, positivado no art. 16 da Constituição, evitando que mudanças
jurisprudenciais ocorridas após a eleição, como no caso dos autos, possam ter imediata aplicação, sob pena de criar uma
situação absolutamentecasuística, pois o novo entendimento é formulado pela Justiça Eleitoral em momento em que está
ciente do resultado das urnas.
Nessa linha, em recente julgado sobre a necessária compreensão da segurança jurídica, o Tribunal Superior Eleitoral
assentou que “o entendimento do TSE firmado nas eleições de 2010 no sentido de que fato superveniente que afaste a
inelegibilidade, como uma medida liminar, poderia ser apreciado a qualquer tempo, desde que não exaurida a jurisdição,
não pode sofrer alteração jurisprudencial após o resultado de eleição seguinte, sugerindo indevido casuísmo” (ED-AgR-
REspe nº 458-86/GO, de minha relatoria, julgados em 20.5.2014).
24"Ademais, a teor da recente jurisprudência do TSE, não cabe recurso especial contra acórdão de Tribunal Regional

Eleitoral, que examina prestação de contas de candidato, por constituir matéria eminentemente administrativa (Acórdãos
26115/SP, DJ de 8.11.2006, rel. Min. José Delgado; e 25762/PB, julgado em 28.11.2006, rel. Min. Caputo Bastos"
(AgRgAg nº 6565/MG, rel. Min. Gerardo Grossi, DJ, 29.06.07, p. 339).
25O cabimento de recurso especial ou ordinário em processo de prestação de contas foi tema de Repercussão Geral em

Recurso Extraoridinário RE-RG 591.470-4 MG. Relatora Ministra Carmen Lúcia.

Cadernos de Pós-Graduação em Direito, Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 38, 2016
21

A linha de sustentação seria no sentido de tratar-se de jurisdição voluntária, onde não há lide, diante da
inexistência de interesses contrapostos, não havendo interesse de um autor a prevalecer contra interesse do
réu. O julgador agiria na qualidade de administrador do processo eleitoral e não por provocação de um
interessado com o escopo de aplicar o direito objetivo fazendo valer o seu direito subjetivo, exigindo uma
prestação jurisdicional.

Assim, a jurisprudência mansa e pacífica do TSE era no sentido de que, apesar de não fazer coisa
julgada material, as decisões prolatadas estariam sujeitas à preclusão em face da necessidade da estabilização
das relações jurídicas.26

Todavia, com o advento da Lei 12.034/2009 o quadro normativo foi alterado, de modo que a natureza
das decisões passou a ser jurisdicional, por força de lei, fazendo, portanto, coisa julgada material.27

Em 09/09/ 14 foi redistribuído pelo seguinte despacho: “Observo que o presente recurso trata da matéria objeto do Tema
124 da Repercussão Geral (Cabimento de recurso especial eleitoral contra decisão administrativa sobre prestação de
contas de campanhas eleitorais), em cujo paradigma, o RE 591.470/MG, de minha relatoria, foi acolhido e homologado o
pedido de desistência formulado pelo recorrente. Isso posto, determino que seja procedida à substituição do RE
591.470/MG pelo presente recurso e à atualização dos sistemas informatizados da Corte, para fazer constar o RE
825.274/DF como paradigma do Tema 124 da Repercussão Geral. Redistribua-se este processo, nos termos do art. 325-
A do RISTF, com a devida compensação. Publique-se. Brasília, 9 de setembro de 2014. Ministro LUIZ FUX”.
26No AgR-REspe n° 25.114/AC, o Relator, Ministro César Asfor Rocha entendeu que "as decisões prolatadas em

processo de prestação de contas, apesar de não fazerem coisa julgada material, estão sujeitas à preclusão pelo
mesmo fundamento: necessidade de estabilização das relações jurídicas", como bem assentou o voto condutor
do acórdão regional” (o realce é nosso).
A colhendo e citando esse mesmo entendimento:
No Mandado de Segurança n° 558-SP, o Ministro Relator, Marcelo Henriques Ribeiro de Oliveira, considerou que:
“AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO EM MADADO DE SEGURANÇA. SEGUIMENTO NEGADO. PRAZO. TERMO
INICIAL. CONHECIMENTO DO ATO LESIVO. PRESTAÇÃO DE CONTAS. PRECLUSÃO. FUNDAMENTO NÃO
INFIRMADO. ART. 24, III, DA LEI Nº 9.504/97. INAPLICABILIDADE.
1. Os argumentos trazidos no recurso não são suficientes a ensejar a modificação da decisão agravada.
2. O prazo de 120 dias para a impetração de mandado de segurança, previsto no art. 18 da Lei nº 1.553/51, começa a
fluir do momento em que o eventual titular do direito toma conhecimento do ato lesivo.
3. As decisões prolatadas em processo de prestação de contas, apesar de não fazerem coisa julgada material, estão
sujeitas à preclusão pelo mesmo fundamento: necessidade de estabilização das relações jurídicas.
4. É necessário que os fundamentos da decisão agravada sejam especificamente infirmados, sob pena de subsistirem
suas conclusões.
5. A vedação prevista no art. 24, III, da Lei nº 9.504/97, por se tratar de norma restritiva, não pode ser estendida à
empresa licenciada para explorar serviço público que não é concessionária.
6. Agravo regimental desprovido.”
No AgReg no Recurso em Mandado de Segurança n° 2239749-20.2009.6.06.0000, a Ministra Carmen Lúcia, no mesmo
sentido: “Agravo regimental em recurso ordinário em mandado de segurança. Prestação de contas de campanha.
Desaprovação. Eleições 2008.
1. O recurso que não impugna na integralidade os fundamentos do acórdão recorrido é deficiente (Súmulan. 283 do
Supremo Tribunal Federal).
2. O prazo de 120 dias para impetração do mandado de segurança se inicia com a ciência do ato tido por ilegal, tem
natureza decadencial e não se suspende nem se interrompe.
3. As decisões proferidas em prestação de contas, quando ainda dotadas de natureza administrativa, assim consideradas
aquelas anteriores à edição da Lei n. 12.034/2009, sujeitam-se à preclusão pelo princípio da segurança jurídica.
4. Agravo regimental ao qual se nega provimento.”
Na Pet nº 1.614/DF, Rel Mini. Marcelo Robeiro, julgado em 5.3.2009) – AgR-Respe – Agravo regimental em Recurso
Especial eleitoral nº 30060 – José de Freitas/PI – Acordão de 04/12/2014 – Relator (a) Min. GILMAR FERREIRA
MENDES: Admitir a juntada de documentos em processo de prestação de contas, após seu julgamento, seria permitir a
“eterna” instrução do feito, o que não é cabível. As decisões prolatadas em processo de prestação de contas, estão
sujeitas à preclusão em razão da necessidade de estabilização das relações jurídicas”
27Lei 12.034/09

“Art. 37. ........................................................................

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Nesse sentido já teve o TSE oportunidade de se manifestar em várias oportunidades, nos seguintes
termos:28
“1. A Lei 12.034, de 29.9.2009, ao prever nos §§5º,6º e 7º do artigo 30 da Lei 9.504/97, a
possibilidade de interposição de recurso nos processos de prestação de contas, conferiu
caráter jurisdicional a esses processos, antes de índole eminentemente administrativa.
2. Disso resulta, que a partir da entrada em vigor do citado diploma, o exame das contas de
campanha se sujeita à observância de todas as formalidades inerentes aos processos
judiciais.
3. O recurso eleitoral foi interposto pelo próprio Agravante, que não demonstrou capacidade
postulatória. Nos termos do art. 4º da Lei 8.906/94 são nulos os atos privativos de advogado
por pessoa não inscrita na Ordem dos Advogados do brasil – AgR-REsp – Agravo
regimental em Recurso especial Eleitoral nº 50947 – Aguaí/SP - Acórdão de 15/05/2014 –
Relator (a) Min. LAUTIRA HILÁRIO VAZ – DJE – Diário de Justiça eletrônico, Tomo 107,
Data10/06/2014, Página 39.

§ 3o A sanção de suspensão do repasse de novas quotas do Fundo Partidário, por desaprovação total ou parcial da
prestação de contas de partido, deverá ser aplicada de forma proporcional e razoável, pelo período de 1 (um) mês a 12
(doze) meses, ou por meio do desconto, do valor a ser repassado, da importância apontada como irregular, não podendo
ser aplicada a sanção de suspensão, caso a prestação de contas não seja julgada, pelo juízo ou tribunal competente,
após 5 (cinco) anos de sua apresentação.
§ 4o Da decisão que desaprovar total ou parcialmente a prestação de contas dos órgãos partidários caberá recurso para
os Tribunais Regionais Eleitorais ou para o Tribunal Superior Eleitoral, conforme o caso, o qual deverá ser recebido com
efeito suspensivo.
§ 5o As prestações de contas desaprovadas pelos Tribunais Regionais e pelo Tribunal Superior poderão ser revistas para
fins de aplicação proporcional da sanção aplicada, mediante requerimento ofertado nos autos da prestação de contas.
§ 6o O exame da prestação de contas dos órgãos partidários tem caráter jurisdicional.” (NR)
28No mesmo sentido:

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO N° 1949-65.2014.6.00.0000 - CLASSE 6 — PIRANGUINHO


- MINAS GERAIS. Relatora: Ministra Luciana Lóssio.
ELEIÇÕES 2012. AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. PRESTAÇÃO DE CONTAS. NÃO PRESTADAS.
TRÂNSITO EM JULGADO. COISA JULGADA. DESPROVIMENTO. A decisão transitada em julgado de não prestação de
contas está acobertada pelo manto da coisa julgada, o que acarreta a imutabilidade do julgado e de seus efeitos, não se
admitindo a interposição de qualquer recurso. Os §§ 51 e 60 do ad. 30 da Lei n° 9.504/97, acrescidos pela Lei n°
12.034/2009, conferiram o caráter jurisdicional aos processos de prestação de contas de campanha.
Agravo regimental a que se nega provimento.
AgR-AgR-Al - Agravo Regimental em Agravo Regimento em Agravo de Instrumento n° 83414 – Belo
Horizonte/MG. Acórdão de 15.12.2011. Relator: Mm. ARNALDO VERSIANI LEITE SOARES:
Prestação de contas. Campanha eleitoral. Não apresentação. Trânsito em julgado. Após a edição da Lei n° 12.034/2009,
os processos de prestação de contas de campanha têm natureza judicial, com possibilidade de interposição de recursos,
conforme o disposto nos §§ 50, 60 e 70 do ad. 30 da Lei das Eleições, o que implica a necessidade de estrita
observância das disposições previstas na legislação eleitoral, não havendo possibilidade de mitigação da coisa julgada
com base nos princípios, da proporcionalidade e da razoabilidade.
Agravo regimental não provido. (grifo nosso)
Decisão: O Tribunal, por unanimidade, desproveu o agravo regimental, nos termos do voto do Relator: Publicação: DJE -
Diário da Justiça Eletrônico, Tomo 28,
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO N° 834-14.2011.6.00.0000 -
CLASSE 6 – BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS Relator: Ministro Arnaldo Versiani Agravante: Partido Social Cristão
(PSC) – Estadual Advogados: Henrique Maciel Campos Santiago e outros Prestação de contas. Campanha eleitoral.
Não apresentação. Trânsito em julgado. - Após a edição da Lei n° 12.03412009, os processos de prestação de contas de
campanha têm natureza judicial, com possibilidade de interposição de recursos, conforme o disposto nos § 50, 60 e 70 do
art. 30 da Lei das Eleições, o que implica a necessidade de estrita observância das disposições previstas na legislação
eleitoral, não havendo possibilidade de mitigação da coisa julgada com base nos princípios da proporcionalidade e da
razoabilidade. Agravo regimental não provido.

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Não obstante algumas opiniões ainda resistentes29, temos que a definição do legislador afastou as
discussões doutrinárias em torno do tema, trazendo nova realidade ao cenário normativo, que confere o
necessário amparo legal às decisões do TSE, estando o assunto pacificado. Inclusive, já afastou aquele

29 Neste sentido, citamos artigo publicado na Folha de São Paulo, em 02/09/2015, sob o título “PRESTAÇÃO DE CONTAS
E COISA JULGADA” por Frederico Vasconcelos, que transcreve o artigo “A coisa julgada e o procedimento de prestação
de contas eleitoral, de autoria do advogado e Procurador Regional da República aposentado, Rogério Tadeu Romano:
O procurador-geral eleitoral, Rodrigo Janot, determinou o arquivamento do pedido do ministro do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) Gilmar Mendes para a Procuradoria Geral da República investigar suspeitas de irregularidades na
campanha eleitoral do ano passado da presidente Dilma Rousseff. O chefe do Ministério Público entendeu que não há
indícios de irregularidades na contratação de uma gráfica – a VTPB Serviços Gráficos – pela campanha da petista,.Janot
considerou que as contas já foram aprovadas em dezembro e o prazo para recursos se encerrou, impedindo qualquer
questionamento, e também avaliou que não há indícios mínimos da prática de crimes que justifiquem a abertura de uma
apuração.
O ministro Gilmar Mendes é relator da prestação de contas da campanha, que já foi julgada pelo TSE e aprovada com
ressalvas, por unanimidade, em dezembro do ano passado. Ele manteve o processo aberto em razão de indícios de
irregularidades verificadas na Operação Lava Jato.
Em maio do corrente ano, o ministro enviou ao procurador-geral eleitoral um ofício no qual apresentava reportagens
jornalísticas que apontaram suspeitas de se tratar de uma empresa fantasma e sem estrutura para oferecer os serviços
contratados.
Conforme dados do sistema de prestação de contas do TSE, a VTPB recebeu da campanha entre julho e outubro do ano
passado R$ 22,908 milhões na campanha por publicidade e materiais impressos.
Na semana passada, o ministro Gilmar Mendes também enviou à Procuradoria Geral da República outro ofício,
apontando suspeitas de crimes de lavagem de dinheiro e falsidade ideológica durante a campanha. Esse ofício ainda não
respondido por Rodrigo Janot.
Com o devido respeito, não há a figura da coisa julgada em procedimentos administrativos como os de prestação de
contas, no Juízo Eleitoral. Por essa razão podem eles ser reabertos, tão logo encontrados indícios de irregularidades nas
contas fornecidas.
O entendimento trazido pelo Parquet é no sentido de que o processo de prestação de contas tem começo, meio e fim.
Assim não se poderia “ressuscitar a instância eleitoral” já finda.
Não há coisa julgada na jurisdição voluntária, porque não há lide, no sentido de interesses contrapostos, mas um
interesse único a considerar e, por isso mesmo, não há declaração de direito, no sentido de que o interesse do autor
deva prevalecer sobre o do réu. Aliás, por isso mesmo, o Código de Processo Civil nem sequer usa as expressões
“partes, autor, réu”, valendo-se da expressão “interessados”.
Adriano Soares da Costa(Instituições de direito eleitoral) assim disse:
“O processo de prestação de contas tem natureza administrativa. Não há “ação” processual pedindo a aplicação do
direito objetivo ao caso concreto, deduzindo ação em sentido material. Presta-se contas porque é ônus de quem se
candidata justificar em quê empregou os recursos públicos ou privados, sempre na conformidade da legislação eleitoral.
Quem não se desincumbe deste ônus, não prestando contas, sofrerá os mesmos efeitos de quem, prestando, teve as
contas rejeitadas.”
Disse ainda ele sobre essa atividade promovida pela Justiça Eleitoral:
“Para que possamos observar quando o Juiz Eleitoral está atuando como Juiz – é dizer, exercendo atividade jurisdicional
-, e não como administrador judicialiforme, mister perquirir a referibilidade do interesse tutelado à sua atuação: se a regra
jurídica for dirigida a ele, de modo a lhe outorgar o poder-dever de agir para a consecução da finalidade normativa, estará
ele agindo na qualidade de administrador do processo eleitoral; se, ao revés, a atuação judicial for provocada por um
interessado, com o escopo de aplicar o direito objetivo para fazer o seu direito subjetivo, estaremos diante de uma
atividade jurisdicional, pela qual o Juiz agirá autoritativa e imparcialmente”.
Adriano Soares da Costa corrobora do entendimento do Tribunal Superior Eleitoral, ao considerar que o exame das
contas dá-se no exercício de atividade administrativa.
No mesmo sentido Pedro Rosa(Do cabimento do recurso eleitoral no processo de prestação de contas e partidos e
candidatos), para quem:
“O processo de prestação de contas, seja anual, seja de campanha, é um procedimento administrativo, pelo qual são
mostradas todas as movimentações financeiras dos partidos políticos e candidatos. Não há partes, nem lide. Há
interessados. Sua natureza é meramente administrativa”.
Ora, uma das características da atividade administrativa de prestação de contas é de não possuir coisa julgada, como
ocorre com os procedimentos de jurisdição voluntária.
De toda sorte, se houve a prática de crimes durante a campanha, seja de falsidade, lavagem de dinheiro, até de
sonegação fiscal, eles devem ser investigados em todas as suas circunstâncias quanto a materialidade e autoria
delituosas.

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Tribunal a invocação de aplicação do artigo 1111 do antigo CPC que, no que dizia respeito aos procedimentos
especiais de jurisdição voluntária, permitindo a modificação da sentença por circunstâncias supervenientes.30

Ainda que tenha a lei superado os questionamentos e divergências em torno do tema, consideramos
relevante irmos um pouco além, para procurarmos apontar argumentos que demonstrem o acerto do legislador

A justiça eleitoral, no exercício de seu mister, desempenha atividades administrativas, jurisdicionais,


consultivas e normativas.31 Resta questionar se no julgamento das contas de candidatos e dos partidos
políticos, estaria a Justiça Eleitoral, através de seus juízes e nos órgãos colegiados, de seus plenários,
exercendo atividade de natureza administrativa, já que segundo entendimento até então adotado, trata-se de
procedimento voluntário, já que somente os processos contenciosos se revestem da natureza jurisdicional.

A questão que se coloca é se pode haver jurisdição onde não há lide o que nos remete ao conceito de
jurisdição voluntária. Por certo, estaríamos afastando desde logo eventuais discussões sobre a existência de
interesses contrapostos nos processos de prestações de contas, o que não nos parece verdadeiro, já que
admite-se inclusive, a interposição de representações após a apresentação das contas e tais processos tem
sido palco de intensas discussões, disputas e controvérsias. Não por outra razão, inafastável o dever assegurar-
se o direito ao contraditório e à ampla defesa, nos termos estabelecidos nos incisos LIV e LV do artigo 5º da
Constituição Federal.

Segundo Frederico Franco Alvim,32 as teorias mais recentes acerca da jurisdição voluntária têm traçado
críticas ao posicionamento tradicional, no sentido de que o fato de não existir contenciosidade, não afasta a
jurisdicionalidade dos procedimentos voluntários, reconhecendo nos mesmos uma atividade de natureza
jurisdicional.

Além disso, os juízes, ao julgarem as contas, agem como terceiros imparciais e desinteressados,
desempenhando atividade de natureza jurisdicional, eis que a jurisdição é o exercício da atividade
desempenhada pelo órgão investido nessa função, que dá a última palavra sobre a questão submetida ao seu
crivo, aplicando a vontade da lei.

Concluímos, nessa visão, com as palavras de Frederico Franco Alvim, que contemplam nossa visão
sobre o tema:
“A Justiça Eleitoral, obviamente, não é parte do processo de prestação de contas. Nele atua,
pois, em exercício de jurisdição. Insta lembrar, ainda, que já se tentou negar à jurisdição
voluntária o caráter de jurisdição sob o argumento de que em seus procedimentos não
haveria parte, apenas interessados. Outra falácia. O interessado, candidato ou partido
político, apresenta as contas pedindo, ainda que de modo implícito, a sua aprovação.
Portanto vem a juízo, em seu próprio nome, solicitar a atuação da lei. Ora, quem reclama é
parte. O que não há é contraparte.”33

30AgR-Al no 1949-65.2014.6.00.0000/MG – Relatora Min. Luciana Lóssio


31José Jairo Gomes destaca que a Justiça Eleitoral desempenha quatro funções primordiais: administrativa, jurisdicional,
normativa e consultiva. A primeira seria realizada na preparação, organização e administração do processo eleitoral. A
segunda, quando da aplicação, em processo, do Direito à espécie. Já a função normativa exerce-se pela expedição, por
parte do TSE, de Resoluções com força de lei. A função consultiva, por sua vez, ocorre quando da formulação, perante
os tribunais eleitorais, de questionamentos feitos em tese. In GOMES, José Jairo. Direito eleitoral. 4. ed. Belo Horizonte:
Del Rey, 2009, p. 55-58.
32ALVIM, Frederico Franco. A natureza jurídica do exame da prestação de contas. Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 15,

n. 2640, 23 set. 2010. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/17464>. Acesso em: 1 jun. 2016.
33Idem 29.

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5. Viabilidade de separação de responsabilidades do candidato e seu vice no processo de prestação de


contas

Nas eleições de 2014, nos autos das ações unificadas que buscam desconstituir o mandato da chapa
presidencial eleita, diante de suposta ocorrência de condutas vedadas, abuso de poder político, econômico e
dos meios de comunicação, utilização de recursos ilícitos, bem como fraude, suficientes a desequilibrar as
eleições, o Vice- presidente requereu a separação das responsabilidades, a fim de que a decisão não o atinja.34

As alegações são, de forma sintética, as seguintes: a cassação se daria por arrastamento ou


beneficiamento, sem que o vice tenha praticado qualquer das condutas narradas pelos autores e embora a
condenação por beneficiamento não seja novidade na Justiça Eleitoral, o caso concreto mereceria novo
enfrentamento do tema que com a promoção da separação das responsabilidades entre titular e vice, diante da
movimentação distinta de recursos, em conta corrente específica e destinação legal induvidosa.

Em 04/05/16, o MPE através do Vice-Procurador Geral eleitoral, Nicolau Dino, apresentou


manifestação no sentido de que não é possível a separação das responsabilidades do titular e vice quanto à
sanção de cassação do diploma nas ações eleitorais que impliquem na cassação de registro, diploma ou
mandato.

Segue o representante do Ministério Público demonstrando, que o ilícito que beneficia a titular,
acarretando no seu êxito nas urnas, logicamente também beneficia o vice. Assevera que tese contrária colide
frontalmente com a jurisprudência do TSE, já que é entendimento consolidado, o que passamos a enumerar,
extraídos da mencionada manifestação:

• que a unicidade monolítica da chapa majoritária, vale dizer, que a responsabilidade dos atos do titular
repercute na situação jurídica do vice;

• que decorre disso a existência de litisconsórcio necessário entre os candidatos a titular e vice da
chapa majoritária, nas ações eleitorais que possam implicar a cassação do registro, diploma ou
mandato; 35

• que abuso de poder aproveita a chapa em sua totalidade, beneficiando titular e vice e esse
fundamento que vem embasando a jurisprudência, se presta a justificar a impossibilidade de
separação de responsabilidade de titular e vice.

• que o TSE já assentou que, para caracterização da prática de abuso de poder, é suficiente que tenha
ocorrido o beneficiamento do candidato porque tal dispositivo legal visa proteger a lisura do pleito
eleitoral e não, propriamente, a vontade do eleitor.

• que na apuração de abuso de poder, não se indaga se houve responsabilidade, participação ou


anuência do candidato, mas sim se o fato o beneficiou. Precedente: AgR-REspe 38881-28/BA, Rel.
Min. Arnaldo Versiani, DJe de 7.4.2011.

34(Rel.Ministra Maria Theresa n° 1547-81 e 1943-58 (AIJE´s), 761 (AIME) e 846 (Representação).
35Recurso Contra Expedição de Diploma nº 703/SC, onde o TSE conclui que o Vice deve integrar o polo passivo e ser
citado para a ação por ser necessariamente atingido pela decisão, devendo ter direito de se defender.

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• que isso decorre do pressuposto de que estariam vinculados os diplomas do titular e do vice, razão
pela qual a cassação do diploma do primeiro acarretaria, necessariamente, a cassação do segundo.

E prossegue:
“Assim é que, vige, a respeito do tema, o princípio da indivisibilidade, ou da unidade
monolítica da chapa majoritária. De acordo com referido princípio, a eleição do vice ocorre
por arrastamento, em razão da eleição do titular, de modo que não há separarem-se as
situações jurídicas do vice e do titular, se o vício que se imputa ao titular decorreu do
processo eleitoral, tal qual se infere do voto exarado pelo e. Ministro Carlos Ayres Britto:
Eu me baseio na Constituição, no particular. A Constituição diz: 'a eleição do Presidente da
República importará a do Vice-Presidente com ele registrado. Ou seja, a eleição do vice se
dá por arrastamento, por conseqüência da eleição do titular.
Como o direito constrói suas próprias realidades, segundo Kelsen, é um caso curioso um
mandatário sem voto; ele não teve voto nenhum e no entanto é mandatário, tanto que a
Constituição chega a dispor sobre ele, dizendo: 'O Vice-Presidente da República, além de
outras atribuições que lhe forem conferidas por lei complementar, auxiliará o Presidente,
sempre que por ele convocado para missões especiais'. Ocorre que essa majoritariedade,
essa chapa majoritária se caracteriza por uma unidade monolítica: não há como separar o
presidente do vice se o vício que se imputa ao titular decorreu do processo eleitoral. Ou
seja, o titular chegou ao poder – não estou antecipando o voto quanto ao mérito -
viciadamente; isto contamina a subida conjunta ao poder do vice-presidente. Ou seja, o
acessório segue a sorte do principal. 36

O regime jurídico da unicidade monolítica, que consagra o principio da indivisibilidade da chapa


majoritária, é reconhecido pelo Tribunal Superior Eleitoral em diversos julgados, e exatamente porque ele vai
sofrer consequência jurídica no seu patrimônio jurídico, por fato alheio, é que se reconhece a necessidade de se
fazer presente no processo, eis que a responsabilidade recai sobre ele, mas com base em fato alheio.
Destacam-se os seguintes julgados:
“(...) À luz do principio da indivisibilidade da chapa única majoritária, nem a presença do vice
na relação processual nem a formação de litisconsórcio, seja no pólo ativo, seja no pólo
passivo, autorizam arrolar testemunhas acima do permissivo legal, pois o mandato do vice é
regido por uma relação jurídica de subordinação ao mandato do prefeito' (REspe nO
25.839/PI, reI. Min. Cesar Asfor Rocha). (RCED 671/MA, ReI. Min. Carlos Ayres Britto, DJ
de 11.12.2007)
“(...) Em razão do princípio da indivisibilidade da chapa única majoritária, o cancelamento do
registro do titular, após o pleito, atinge o registro do vice, acarretando a perda do diploma de
ambos. (...) (REspe 25.586/SP, ReI. Min. Carlos Ayres Britto, DJ de 6.12.2006)

E nessa linha foi o entendimento do Ministro Marcelo Ribeiro:


Pode ser cassado o vice sem que tenha cometido qualquer ato ilícito, em razão da
unitariedade da chapa. Em tese, por exemplo, o governador pode ter praticado uma série de
ilícitos na campanha, enquanto o vice nada fez de errado; comportou-se exemplarmente.
Surge um processo contra o governador, recurso contra expedição de diploma que, julgado
procedente ou provido, cassará o mandato do vice. Neste caso, sim, penso ser correta a
aplicação do princípio da indivisibilidade, da unitariedade da chapa."37

36TSE RCEd n. 703/SC., DJE 01.09.2009.


37TSE RECED 703, rel. Min. Felix Fisher, DJE 01.09.2009.

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6. Honorários advocatícios e gastos eleitorais

Em agravo regimental em recurso especial interposto contra acórdão do Tribunal Regional Eleitoral de
Sergipe, que desaprovou contas de campanha de candidato ao cargo de deputado estadual, referentes às
eleições de 2014, por constar irregularidades, dentre elas a não declaração de valores gastos com honorários
advocatícios em ações judiciais, o Plenário do Tribunal Superior Eleitoral, por unanimidade, entendeu que os
honorários relativos aos serviços advocatícios e de contabilidade referentes a processo jurisdicional contencioso
não são considerados gastos eleitorais de campanha.38

O Ministro Relator ressaltou que a atuação do advogado no âmbito eleitoral divide-se em serviços
advocatícios de consultoria e atuação contenciosa, esclarecendo que a consultoria consistiria na prestação de
orientações acerca da adequação dos atos de campanha à legislação, tratando-se de atividade-meio da
campanha eleitoral, e a atuação contenciosa se daria em processos jurisdicionais.

A linha adotada pelo Tribunal Superior Eleitoral, nesse precedente que originou alteração na Resolução
nº 23.463/15, reconhece que honorários advocatícios em atuação contenciosa não são considerados gastos de
campanha, e por esta razão estariam sujeitos a contabilização e ao teto limite de gastos.39

Deste modo, tais despesas, incluídas as de profissionais de contabilidade em processos jurisdicionais,


quando contratadas, deverão ser lançadas como despesas nas contas anuais dos Partidos ou como despesas
dos próprios candidatos. Já, as despesas prestadas à título de consultoria jurídica e de contabilidade em favor
das campanhas, deverão ser lançadas na contabilidade, de acordo com os valores efetivamente pagos, eis que
são consideradas como gastos eleitorais.

A garantia constitucional à ampla defesa dos candidatos, que não deve sofrer nenhum tipo de
limitação, foi o fundamento norteador da decisão, sobretudo, considerando o caráter jurisdicional conferido ao
processo de prestação de contas, pela Lei 12.034/2009, como tivemos oportunidade de tratar adrede.40

Referências
GOMES, José Jairo. Direito eleitoral. 4. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2009.
ALVIM, Frederico Franco. A natureza jurídica do exame da prestação de contas. Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 15,
n. 2640, 23 set. 2010. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/17464>. Acesso em: 1 jun. 2016.

38AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL ELEITORAL N° 773-55. 2014.6.250000 - CLASSE 32— ARACAJU -
SERGIPE Relator: Ministro Henrique Neves da Silva.
39Resolução 23.470 de 1º de março de 2016.
40O Ministro Henrique Neves asseverou que a partir da Lei nº 12.034/2009 o processo de prestação de contas passou a ter

caráter jurisdicional e que a presença desses profissionais nessas ações está intimamente relacionada às garantias
inerentes à ampla defesa, que não podem ser limitadas. Entretanto, ressaltou que os serviços advocatícios de consultoria
prestados aos candidatos no curso das campanhas constituem atividade-meio e, como acessórios da campanha eleitoral,
constituem gastos eleitorais, devendo ser contabilizados na prestação de contas (art. 26 da Lei nº 9.504/1997).
O Ministro Gilmar Mendes, em voto-vista, observou a importância da distinção da atividade de consultoria da atividade
contenciosa, especialmente após o advento da Lei nº 13.165/2015, que fixa rígidos limites de gastos para as campanhas
eleitorais. Asseverou que as despesas referentes à atuação contenciosa serão pagas com recursos do candidato,
cabendo aos órgãos fiscais a apuração de eventual irregularidade.

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CADERNOS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO

ESTUDOS E DOCUMENTOS DE TRABALHO

Normas para Apresentação

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CADERNOS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO

ESTUDOS E DOCUMENTOS DE TRABALHO

Normas para Apresentação

A apresentação do artigo para publicação nos Cadernos de Pós-Graduação em Direito deverá obedecer as
normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)

● Titulo: Centralizado, em caixa alta. Deverá ser elaborado de maneira clara, juntamente com a versão em
inglês. Se tratar de trabalho apresentado em evento, indicar o local e data de realização.

● Identificação dos Autores: Indicar o nome completo do(s) autor(res) alinhado a direita. A titulação
acadêmica, Instituição a que pertence deverá ser colocado no rodapé.

● Resumo e Abstract: Elemento obrigatório, constituído de uma seqüência de frases concisas e objetivas e
não de uma simples enumeração de tópicos, não ultrapassando 250 palavras. Deve ser apresentado em
português e em inglês. Para redação dos resumos devem ser observadas as recomendações da ABNT -
NBR 6028/maio 1990.

● Palavras-chave: Devem ser apresentados logo abaixo do resumo, sendo no máximo 5 (cinco), no idioma
do artigo apresentado e em inglês. As palavras-chave devem ser constituídas de palavras representativas
do conteúdo do trabalho. (ABNT - NBR 6022/maio 2003).

As palavras-chave e key words, enviados pelos autores deverão ser redigidos em linguagem natural,
tendo posteriormente sua terminologia adaptada para a linguagem estruturada de um thesaurus, sem,
contudo, sofrer alterações no conteúdo dos artigos.

● Texto: a estrutura formal deverá obedecer a uma seqüência: Introdução, Desenvolvimento e Conclusão.

● Referências Bibliográficas - ABNT – NBR 6023/ago. 2000.

Todas as obras citadas no texto devem obrigatoriamente figurar nas referências bibliográficas.

São considerados elementos essenciais à identificação de um documento: autor, título, local, editora e
data de publicação. Indicar a paginação inicial e final, quando se tratar de artigo de periódicos, capítulos
de livros ou partes de um documento. Deverão ser apresentadas ao final do texto, em ordem alfabética
pelo sobrenome do autor.

● Citações: devem ser indicadas no texto por sistema numérico, obedecendo a ABNT - NBR 10520/ago.
2002.

As citações diretas, no texto, de até 3 linhas, devem estar contidas entre aspas duplas.

As citações diretas, no texto, com mais de três linhas devem ser destacadas com recuo de 4 cm da
margem esquerda, com letra menor que a do texto utilizado e sem aspas.

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