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Comentário da Lição da Escola

Sabatina – 3º Trimestre de 2018


Tema Geral: O livro de Atos dos Apóstolos
Autor: Wilson Paroschi


Professor de Novo Testamento



Southern Adventist University

Collegedale, TN, EUA

Editor: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br

Revisora: Josiéli Nóbrega

Introdução ao Livro de Atos 


O Livro de Atos, ou Atos dos Apóstolos, é o quarto livro do cânon do Novo Testamento (NT), e o segundo
em tamanho. Com 18.450 palavras (no original grego), ele é menor apenas que o Evangelho de Lucas, que
tem 19.482 palavras. O terceiro é Mateus, com 18.346 palavras.

Autor. Assim como os evangelhos, Atos não traz o nome de seu autor. Segundo a tradição cristã, o autor
foi Lucas, identificado em Colossenses 4:14 como médico de formação e assistente evangelístico de
Paulo. A mesma passagem (Cl 4:10-15), deixa claro que Lucas era gentio, ou seja, não judeu, visto que ali
Paulo não o inclui entre aqueles que são “da circuncisão”, no caso, judeus étnicos ou conversos à religião
judaica. Fora isso, o Novo Testamento pouco ou nada informa a respeito de Lucas, embora deixe implícito
que ele esteve com Paulo em pelo menos duas de suas viagens missionárias, a segunda e a terceira, além
do período de seu aprisionamento em Jerusalém, encarceramento em Cesareia e subsequente viagem a
Roma, após haver ele apelado ao imperador. Em Atos, a primeira pessoa do plural (“nós”) é utilizada
nessas partes do relato (At 16:10-17; 20:5–21:18; 27:1–28:16), o que sugere que o autor tenha participado
dos eventos que narrou. Em 2 Timóteo 4:11, Paulo também se referiu a ele em seu aprisionamento final em
Roma.

A tradição da igreja também diz que Lucas era natural de Antioquia da Síria, mas não há como comprovar
a veracidade dessa informação. Seja como for, ao que tudo indica, Lucas foi o único não judeu a contribuir
para a formação do cânon bíblico. E, visto que ele também deve ter sido o autor do evangelho que leva seu
nome, o “primeiro livro” mencionado em Atos 1:1, ele acabou sendo o escritor que mais contribuiu para a
formação do NT: 27% ao todo, superando o próprio apóstolo Paulo (23%).

Data. O último evento descrito em Atos é a prisão domiciliar de Paulo em Roma por dois anos (At 28:30,
31), o que, segundo as melhores estimativas, deve ter ocorrido entre os anos 61-63 d.C. Como Lucas nada
falou sobre a libertação do apóstolo nem o que ele teria feito em seguida, imagina-se que o livro foi escrito,
ou pelo menos concluído, naquele momento. O evangelho, por sua vez, o “primeiro livro” de Atos 1:1, deve
ter sido escrito durante o cativeiro de Paulo em Cesareia, nos dois anos que precederam sua viagem a
Roma e aprisionamento ali (At 24:27), ou seja, mais ou menos entre 58 e 60 d.C. Note que, no prólogo do
evangelho, Lucas disse que seu conhecimento da vida e do ministério de Jesus chegou até ele por meio de
“testemunhas oculares” (Lc 1:1-4). Como tais testemunhas se achavam principalmente na Palestina, e
Lucas esteve na Palestina ao final da terceira viagem missionária de Paulo (At 21:18), exatamente a viagem
que culminou com sua detenção em Jerusalém, é bem provável que tenha sido durante os dois anos em
que o apóstolo esteve detido em Cesareia que o evangelho foi escrito. É desnecessário dizer que Lucas
acompanhou o apóstolo em sua viagem a Roma para ser julgado pelo imperador – confira o uso da
primeira pessoa do plural em At 27:1–28:16.

Destinatário. Ambos, o evangelho e Atos, foram dedicados a um certo Teófilo (Lc 1:3; At 1:1), de quem
nada sabemos além do fato de que era um interessado na fé cristã, ou quem sabe um recém-converso (cf.
Lc 1:4). Há quem pense que Teófilo fosse uma pessoa influente que poderia ajudar na divulgação tanto do
evangelho quanto de Atos. Na antiguidade, talvez ainda mais que hoje, a produção de livros exigia tempo e
recursos. Nesse caso, Teófilo seria o patronus libri de Lucas, o que era prática relativamente comum nos
tempos de Lucas. Seja como for, a relevância de ambos os livros vai muito além das circunstâncias
envolvendo Teófilo ou os leitores do primeiro século, e é por isso que dois mil anos depois continuamos a
estudá-los com profundo interesse.

Lucas-Atos. Juntos, esses dois livros de Lucas descrevem os primórdios da igreja cristã, sua origem (a vida
e o ministério de Jesus) e conquista do mundo greco-romano (os esforços evangelísticos dos apóstolos,
principalmente Paulo). Visto que Lucas se referiu ao evangelho como “o primeiro livro” (At 1:1), é bem
provável que esses dois volumes tenham inicialmente circulado juntos, como os volumes um e dois de uma
mesma obra. A antiguidade produziu muitos livros assim. É interessante notar que Atos começa no mesmo
ponto em que o evangelho termina, ou seja, com as aparições e instruções finais de Jesus aos discípulos,
seguidas de Sua ascensão (Lc 24:36-53; At 1:1-11). Posteriormente, quando o cânon do Novo Testamento
começou a ser organizado, talvez já no início do segundo século, esses dois livros acabaram sendo
separados um do outro pelo Evangelho de João, o último evangelho a ser escrito.

Período. Atos narra os primeiros trinta anos da história da igreja, desde a ascenção de Jesus no ano 31 d.C
até o final do primeiro aprisionamento de Paulo em Roma, em 63 d.C. Esse período inclui episódios como
o derramamento do Espírito (Pentecostes), a conversão de Paulo e o início das missões gentílicas, sob a
liderança do apóstolo. Foram três viagens missionárias ao todo, mais uma quarta viagem a Roma como
prisioneiro, o que não impediu o apóstolo de testemunhar de Jesus (At 28:16-31). Foi no decurso de suas
viagens (segunda e terceira) e aprisionamento em Roma que Paulo escreveu a maioria de suas epístolas.
Após ser liberto pelo imperador, ele ainda voltaria a empreender pelo menos mais uma viagem, dessa vez
ao redor do Mar Egeu, e a escrever suas últimas epístolas, 1 e 2 Timóteo e Tito (1Tm 1:3; Tt 1:5; 3:12; 2Tm
4:9-13), até ser preso novamente e executado em Roma por volta do ano 67 d.C. (2Tm 4:6-8). Esses anos
finais do apóstolo (63-67 d.C.), porém, são posteriores ao período coberto pelo Livro de Atos.

Tema.   Atos foi escrito para mostrar o cumprimento da comissão evangélica deixada por Jesus aos
discípulos (Lc 24:44-49; At 1:6-8). Fundamental nesse processo foi a vinda do Espírito Santo (At 2:1-4) e a
posterior conversão de Paulo (At 9:1-19; 22:6-16; 26:9-18), o grande herói de Lucas, a quem ele dedica
três quartos do livro. O evangelho é um só, tanto para judeus quanto para gentios (Rm 1:16; 3:29; cf. 2Co
5:15; Cl 3:11; 1Tm 2:4-6; Tt 2:11), e é por isso que ele não podia ficar circunscrito às fronteiras judaicas ou
ao povo de Israel. As boas-novas da salvação em Cristo são para todos, independemente de raça, sexo ou
posição social. Deus não faz acepção de pessoas e deseja salvar todos igualmente (At 1:8; 2:21, 39; 3:25;
10:28, 34-35). E o relato de Atos mostra como o evangelho saiu das dependências de uma residência
qualquer em Jerusalém (At 1:12-14; 2:1) para conquistar o mundo da época, o mundo mediterrâneo, do
qual os judeus faziam parte.

Essa conquista, porém, não foi fácil. Os triunfos da igreja apostólica não foram alcançados senão em meio
a muitas dificuldades. As principais delas, porém, não vieram de fora, mas de dentro da própria
comunidade de fé. Não devemos pensar nesse período como se tudo fosse mil maravilhas. Os apóstolos,
inclusive Paulo, eram humanos e sujeitos a fraquezas e limitações. O Livro de Atos não esconde as
enormes lutas e obstáculos que Paulo precisou superar da parte de seus próprios irmãos na fé em
Jerusalém, incluindo-se os demais apóstolos. Havia muita incompreensão e tabus a ser quebrados. Esses
foram anos de debates, controvérsias e superação quando a igreja buscava uma nova identidade que
extrapolasse os limites do judaísmo e se tornasse o que é hoje: uma igreja mundial. Em Atos, aprendemos
como foi que tudo começou.

Lição 1: 30 de junho a 6 de julho

“Sereis Minhas testemunhas” 


Esboço da lição da semana

Instruções finais aos discípulos (At 1:1-8)

A ascensão (At 1:9-11)

O preparo para o Pentecostes (At 1:12-14)

A escolha de Matias (At 1:15-26) 

I. As intruções finais aos discípulos (At 1:1-8)

O livro de Atos é a continuação do evangelho de Lucas, e começa no mesmo ponto em que o evangelho
termina, ou seja, com as aparições de Jesus após a ressurreição e Suas instruções finais aos discípulos (cf.
Lc 24:44-53). Apenas Lucas nos informa que o período entre a ressurreição e a ascensão foi de quarenta
dias e que o foco dos ensinos de Jesus aos discípulos nesse período foi o reino de Deus (At 1:5).

1. A pergunta dos discípulos sobre o reino

O que levou Jesus a Se concentrar na questão do reino de Deus foi a enorme incompreensão dos
discípulos quanto à Sua morte, como foi revelado na pergunta que eles Lhe fizeram: “Senhor, será este o
tempo em que restaures o reino a Israel?” (At 1:6; cf. Lc 24:21). O que é o reino de Deus? Em termos
simples, o reino de Deus é o governo ou a soberania espiritual de Deus no Universo, e não uma área
geográfica delimitada por fronteiras com um governo central e um grupo de súditos, como nos reinos
terrestres, ainda que no Antigo Testamento (AT), por causa da eleição de Israel e do conceito de nação
santa (cf. Êx 19:5, 6), o reino de Deus se confunda um pouco com um reino político. A noção de reino no
ensino de Jesus tem que ser vista à luz do pecado e do fato de Satanás haver usurpado o domínio desta
Terra das mãos de Adão (Jo 14:30) e lançado uma enorme sombra de dúvida sobre o caráter e o governo
moral de Deus em todo o Universo.

Cristo veio para restabelecer o reino de Deus e Ele o fez por meio da Sua morte (Jo 12:31; 16:11; Ap
12:7-10). Por isso, a mensagem favorita de Jesus desde o início de Seu ministério foi: “Arrependei-vos,
porque está próximo o reino dos Céus” (Mt 4:17), algo antecipado por João Batista (Mt 3:2).

Porém, por causa do cativeiro babilônico e das muitas ocupações estrangeiras que se seguiram, os judeus
começaram a relacionar o reino de Deus com a esperança de um reino terrestre que restaurasse não só a
soberania de Jeová sobre todos os deuses (das nações inimigas) como também a dinastia de Davi em
Judá. No conturbado período de cerca de quatrocentos anos entre o retorno dos exilados de Babilônia e o
nascimento de Jesus, a figura do Messias prometido começou a ser associada mais e mais a um rei que
viria para libertar Israel das mãos dos opressores pagãos.

Infelizmente, era isso que os discípulos tinham em mente quando deixaram tudo para seguir Jesus (Mc
9:33, 34; 10:37). A despeito dos esforços Dele para prepará-los para a realidade da Sua morte (Mt 16:21;
Mc 10:38; Jo 2:19-22; 10:11, 17, 18; 12:32), mesmo na noite anterior à crucificação (Jo 14:19, 20;
16:16-22), eles continuavam presos à ideia de um Messias e um reino políticos. Isso explica o estado de
absoluta desolação em que ficaram em decorrência da cruz. Todos os seus sonhos de glória e
independência ruíram completamente (Lc 24:18-21). A ressurreição, porém, fez com que tais sonhos se
reavivassem, e foi por isso que eles se aproximaram de Jesus e perguntaram mais esperaçosos do que
nunca: “Senhor, será este o tempo em que restaures o reino a Israel?” (At 1:6). 

2. A resposta de Jesus

Foi por causa da incompreensão dos discípulos que Jesus gastou boa parte do período pós-ressurreição
instruindo-os quanto à natureza espiritual do reino (At 1:3) e como isso se relacionava com Sua morte, algo
que os discípulos finalmente parecem ter compreendido (At 2:22-24, 32, 36; 3:18-26; 4:10, 33; 5:30, 31). É
interessante, no entanto, ver como Lucas narra o episódio envolvendo a pergunta do verso 6 de Atos 1 e o
que aconteceu em seguida. Em sua resposta, Jesus não tocou na questão do tempo, deixando-a em
aberto e mudando o assunto do diálogo para a missão que os discípulos teriam que realizar (At 1:7, 8).
Embora a princípio isso também os deixasse confusos quanto à sequência dos eventos finais (a questão
do tempo do verso 6), Jesus sabia o que estava fazendo, como veremos na lição três. Ele sabia que, da
perspectiva humana, o conceito de um breve retorno, presente na expectativa dos discípulos,
principalmente após a ascensão, e o estabelecimento definitivo do reino de Deus no Universo não parecem
se harmonizar com uma missão de caráter mundial, que requer tempo.

II. A ascensão (At 1:9-11)

Lucas é o único evangelista a narrar a ascensão de Jesus, e o faz de maneira muito breve (Lc 24:50-53).
Em Atos, ela ocupa um versículo apenas (At 1:9). O principal interesse de Lucas parece ter sido a aparição
dos anjos e a promessa da volta de Jesus (At 1:10, 11). Duas coisas aqui devem ser destacadas. Primeira,
ao deixar os discípulos em suspense quanto ao tempo em que o reino seria restaurado, a promessa dos
anjos naturalmente levaria os discípulos a concluir que, assim que cumprissem sua missão mundial, Jesus
voltaria. E não havia nada de errado nisso (cf. Mt 24:14). Mas, o ponto é que desdobramentos posteriores
em Atos mostram que, com o Pentecostes, os discípulos pensaram que Sua missão mundial já estivesse
concluída e que Jesus voltaria num breve espaço de tempo, ainda em seus dias. Trataremos disso na lição
três. A segunda coisa importante em relação às palavras dos anjos tem a ver com a maneira da volta de
Jesus. Como a ascensão foi visível, Sua volta também seria visível. “Esse Jesus que dentre vós foi assunto
ao céu virá do modo como o vistes subir” (At 1:11; cf. Ap 1:7). Em nenhum lugar as Escrituras sugerem que
Jesus voltará de forma invisível, como alguns afirmam. Ao contrário, Ele virá “com poder e grande
glória” (Lc 21:27) e um número incontável de anjos (Mt 25:31; Lc 9:26). 

III. A preparação para o Pentecostes (At 1:12-14)

Empolgados com a possibilidade de um breve retorno de Seu amado Mestre, os discípulos retornam ao
cenáculo em Jerusalém – a ascensão havia ocorrido do lado oriental do Monte das Oliveiras, nas cercanias
de Betânia (Lc 24:50). Nunca é demais repetir que o cenáculo (em latim, cenaculum) era apenas um
cômodo no segundo pavimento de uma casa qualquer, em geral das famílias mais abastadas. Tais
cômodos costumavam ser alugados para atividades ou ocasiões específicas (Lc 22:7-13). A Bíblia não nos
informa se esse foi o mesmo cenáculo em que Jesus tivera a última ceia com os discípulos ou outro
qualquer (cf. Jo 20:19, 26). O essencial aqui é destacar como os discípulos e aqueles que os
acompanhavam aguardaram a vinda do Espírito: com intensa oração (At 1:14), algo que eles certamente
haviam aprendido com o próprio Jesus (Lc 3:21; 6:12; 9:28; 18:1; 22:39-46; cf. 11:1). Aqui há uma
importante lição para nós. Não há outra forma de se receber o Espírito senão por meio de fervora oração.
Na verdade, não há vida cristã saudável senão por meio da oração. O que a respiração é para o corpo, a
oração é para a alma. Nada pode substituí-la como fonte de poder e vida. ¹ 

IV. A escolha de Matias (At 1:15-26)

Não está claro porque os apóstolos quiseram substituir Judas. Talvez porque Jesus havia escolhido doze
(Lc 9:1-6) e prometido que eles se assentariam em tronos para julgar as doze tribos de Israel (Lc 22:28-30).
Os doze, com Matias agora no lugar de Judas (At 1:26), formavam um grupo único na igreja primitiva.
Como aqueles que acompanharam Jesus em Seu ministério terrestre (Mc 3:14), eles eram testemunhas da
Sua ressurreição (At 1:21, 22) e depositários de Seus ensinos (Mt 28:20), e, portanto, os responsáveis pelo
doutrinamento da igreja (At 2:42; 5:42). Como tais, eles não deixaram substitutos. Ninguém que viesse
depois deles poderia ser apóstolo no sentido técnico ou autoritativo como eles o foram. Ninguém sobre a
Terra tem ou jamais teve a mesma prerrogativa que eles, à exceção de Paulo, que também foi uma
testemunha da ressurreição e foi especialmente chamado por Deus para ser apóstolo aos gentios (1Co 9:1;
15:7; Gl 1:15, 16). A chamada sucessão apostólica, portanto, segundo a qual a autoridade eclesiástica foi
transmitida pelos apóstolos de forma ininterrupta através dos séculos até os nossos dias, não tem
qualquer base bíblica e é rejeitada pela grande maioria das igrejas protestantes. O legado dos apóstolos
são seus escritos: os livros que formam o cânon do NT e que, juntamente com as Escrituras do AT, são
nossa única regra de fé e prática.²

Conclusão

Pontos a ser enfatizados em classe:

– A natureza espiritual do reino de Deus

– O significado da morte de Jesus para o estabelecimento do reino de Deus

– A certeza da ressurreição (At 1:3)

– A missão de testemunhar a todo o mundo (At 1:8) e o que significa o ato de testemunhar

– A promessa da segunda vinda de Jesus (At 1:11)

– O papel da oração na vida cristã

– O legado dos apóstolos para a igreja

Lição 2: 7 a 14 de julho

O Pentecostes
Editor: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br

Revisora: Josiéli Nóbrega

Cristian Piazzetta

Capelão da Escola Adventista

Cachoeirinha, RS 

Supervisor: Wilson Paroschi



Professor de Novo Testamento

Southern Adventist University

Collegedale, TN, EUA

Esboço da lição da semana

A vinda do Espírito Santo (At 2:1-4)

O dom de línguas (At 2:5-13)

O sermão de Pedro (At 2:14-36)

O primeiro batismo (At 2:37-41)

I. A vinda do Espírito Santo (At 2:1-4)

O tempo de espera havia acabado. Após seguir a orientação dada pelo próprio Jesus de aguardar em
Jerusalém o poder prometido (At 1:4), os apóstolos estavam reunidos a fim de receber a unção do Espírito
do Senhor que os habilitaria a testemunhar de Cristo. Embora Lucas tenha sido um pouco vago quanto à
referência ao local, pode-se inferir que os discípulos estavam reunidos no mesmo cenáculo de Atos 1:13
(hyperoon), o qual não deve ser confundido com o local da Última Ceia de Lucas 22:11 (katalyma).
Reunidos ali para celebrar a festa de Pentecostes, os discípulos foram surpreendidos com manifestações
sobrenaturais que acompanharam o derramamento do Espírito Santo. A vinda do Espírito Divino é descrita
em três declarações paralelas: (1) veio do céu um som, parecido com um vento impetuoso, que encheu
toda a casa, (2) em seguida, apareceram línguas, parecidas com fogo, que pousaram sobre cada um deles,
e (3) finalmente, todos ficaram cheios do Espírito Santo e passaram a falar em outras línguas. A ênfase de
Lucas está na objetividade do evento. Ele foi audível, visível e corpóreo. As imagens de vento e fogo eram
parte do aparato utilizado por Deus em Suas manifestações (teofanias) nos tempos do Antigo Testamento
(cf. 1Rs 19:11; Is 66:15). Certamente, o impacto desses símbolos estava em demonstrar que o próprio
Deus estava ali presente e a tão aguardada promessa do derramamento do Espírito Santo era agora uma
realidade (Jl 2:28-30; cf. Lc 3:16; Jo 14:16; 15:26; At 1:8).

II. O dom de línguas (At 2:5-13)

Os versos seguintes apresentam o resultado do derramemento do Espíriro Santo sobre aqueles que
estavam no cenáculo: eles falaram em línguas. Embora falar outras línguas seja um dom espiritual legítimo,
é importante ressaltar que ele é apenas uma dentre as mais diversas formas pelas quais o Espírito de Deus
Se manifesta. Em 1 Coríntios 12, o apóstolo Paulo listou uma série de outros dons do Espírito Santo (v.
8-11), indicando que Sua manifestação “é concedida a cada um visando a um fim proveitoso” (v. 7), ou
seja, cada dom tem um propósito específico. Por que, então, a manifestação do Espírito Santo se deu na
forma de línguas no dia de Pentecostes?

1. O porquê das línguas

O próprio contexto do episódio evidencia que o dom de falar em línguas no Pentecostes foi uma
capacitação necessária para que os apóstolos dessem início à missão mundial da igreja. Em outras
palavras, se Jesus os havia comissionado para ser Suas testemunhas até os confins da Terra, era de suma
importância que eles fossem capazes de comunicar o evangelho na língua nativa dos ouvintes com os
quais entrariam em contato. E isso aconteceu já no próprio dia de Pentecostes. Lucas foi enfático ao
destacar a vasta quantidade de nações representadas em Jerusalém por ocasião da festividade judaica (v.
9-11). Tão ampla era a representatividade de povos ali que Lucas hiperbolizou ao dizer que ali havia judeus
“vindos de todas as nações debaixo do céu” (v. 5). O fato é que, a fim de que o evangelho fosse anunciado
àquelas pessoas, a barreira linguística que separava os apóstolos delas precisava ser transposta. A
habilidade linguística conferida aos apóstolos foi a intervenção divina para que a mensagem fosse
anunciada. É notável o espanto daquelas pessoas quando perceberam como os discípulos podiam então
falar em suas línguas maternas (v. 8) Embora já tenha sido sugerido que o milagre, na verdade, se deu no
fato de as pessoas entenderem os discípulos, ou seja, uma capacitação especial para compreendê-los, o
texto é claro ao indicar que foram os discípulos que receberam o Espírito Santo, não a multidão. Logo a
manifestação se deu neles. Outro ponto importante é o próprio fato de as pessoas terem ficado atônitas e
perplexas ao ver os discípulos “falando” em suas línguas maternas” (v. 8), o que indica que o milagre
estava ligado à faculdade de falar. Sem dúvida, a intervenção miraculosa do Pentecostes se deu no fato de
que aqueles simples galileus podiam então falar idiomas que até então eram desconhecidos por eles. A
finalidade exclusiva era pregar o evangelho. Ellen G. White comenta:

“‘E em Jerusalém estavam habitando judeus, varões religiosos, de todas as nações que estão debaixo do
céu’ (At 2:5). Durante a dispersão os judeus tinham sido espalhados por quase todas as partes do mundo
habitado, e em seu exílio tinham aprendido a falar várias línguas. Muitos desses judeus estavam nessa
ocasião em Jerusalém. […] Cada língua conhecida estava representada por eles. Essa diversidade de
línguas teria sido um grande empecilho à proclamação do evangelho. Portanto, de maneira miraculosa,
Deus supriu a deficiência dos apóstolos. O Espírito Santo fez por eles o que não teriam conseguido fazer
por si mesmos em toda uma existência. Então eles podiam proclamar as verdades do evangelho em toda
parte, falando com perfeição a língua daqueles por quem trabalhavam.”

2. A natureza das línguas

Que as línguas faladas pelos apóstolos se tratavam de idiomas conhecidos é a conclusão mais lógica e
pertinente a respeito do próprio vocábulo grego empregado por Lucas para expressar a reação da multidão
ao ouvir os discípulos: “E como os ouvimos falar, cada um em nossa própria língua materna?” (v. 8). A
palavra grega traduzida por “língua” é dialektos, que significa o idioma de uma nação ou região, daí a
origem da palavra “dialeto”. Refere-se apenas a uma língua humana, com vocabulário, gramática, sintaxe,
etc. Não deve haver dúvidas de que os apóstolos falaram os idiomas estrangeiros das nações ali
representadas.

Tentativas de equiparar o dom de línguas de Atos 2 aos fenômenos carismáticos modernos não condizem
com a caracterização bíblica do dom. Enquanto o dom de línguas bíblico é tipificado pela inteligibilidade
(1Co 14:9-11) e pela edificação da igreja (1Co 14:12), não é isso o que acontece hoje nas manifestações de
glossolalia em alguns círculos cristãos, onde pessoas entram em estado de transe e pronunciam sons sem
sentido, incompreensíveis a elas mesmas e aos outros participantes.

É conhecido o fato de que línguas extáticas eram amplamente comuns e praticadas em cultos pagãos da
antiguidade, como é relatado por Heródoto e por Virgílio. Análises realizadas por linguistas têm destacado
a grande similaridade entre as línguas extáticas nos movimentos pentecostais e aquelas praticadas em
rituais pagãos; ou seja, trata-se do mesmo fenômeno. Uma boa evidência disso é o estudo da Dra.
Felicitas Goodman, uma antropóloga e linguista que, depois de realizar estudos in loco de várias
comunidades pentecostais de fala inglesa e espanhola nos Estados Unidos e no México, e depois de
comparar gravações de aúdios de rituais não cristãos da África, Bornéu, Indonésia e Japão, publicou seus
resultados em 1972 em uma extensa monografia entitulada: Speaking in Tongues: A Cross-Cultural Study
in Glossolalia. [Falando em Línguas: Um Estudo Transcultural em Glossolalia] (University of Chicago Press,
1972). Goodman afirma: “Quando todos os aspectos da glossolalia são levados em consideração, isto é, a
estrutura segmentar (como sons, sílabas, frases) e outros elementos como ritmo, sotaque e especialmente
a entonação geral, a associação entre transe e glossolalia é então aceita por muitos pesquisadores como
uma suposição correta.”

III. O sermão de Pedro (At 2:14-36)

O sermão de Pedro após a manifestação do dom de línguas foi o primeiro dos “discursos evangelísticos”
do livro de Atos e é muito significativo, pois representa o “Kerygma primitivo” (primeira proclamação) da
igreja, ou seja, o conteúdo da pregação inicial cristã que geralmente consistia em textos das Escrituras
relacionando o Messias a Jesus, com ênfase em Sua morte e ressureição, e apresentando um chamado ao
arrependimento. A mensagem de Pedro enfatizou dois aspectos principais: (1) a profecia de Joel, e (2) a
exaltação de Jesus.

1. A profecia de Joel

Para Pedro, estava claro que o que havia acabado de acontecer era o cumprimento profético de Joel 2. A
profecia de Joel foi originalmente concebida depois que uma praga de gafanhotos tinha devastado a terra
de Israel e resultado numa fome severa. Joel conclamou as pessoas ao arrependimento, prometendo a
restauração da terra e prevendo a chegada do Dia do Senhor, que seria o alvorecer da era messiânica,
quando o Espírito seria derramado sobre toda carne. Ao interpretar o evento do Pentecostes à luz dessa
profecia, Pedro enfatizou a relevância histórica do momento. A profecia de Joel havia acabado de ser
cumprida. O Espírito havia finalmente sido disponibilizado completamente e o ato final do grande drama da
salvação havia começado. Portanto, o Espírito já veio. Ele já foi outorgado por Deus ao Seu povo. O que
falta é nos apropriarmos completamente do dom que já está disponível (cf. Ef 5:18) desde aquele
momento.

2. A exaltação de Jesus

Após ter destacado o significado profético do Pentecostes, Pedro dirigiu sua atenção para os
acontecimentos então recentes da vida, morte, ressurreição e exaltação de Jesus. No entanto, foi a
ressurreição que recebeu maior ênfase, pois representou o elemento decisivo na história do evangelho, a
evidência final de que Jesus não era um homem comum. Por ser o Messias (v. 23), Ele não poderia ser
detido pela morte e, por haver ressuscitado (v. 32), foi exaltado por Deus à Sua destra, tornando assim
possível a vinda do Espírito Santo. A questão é que a vinda do Espírito era condicional à vitória de Jesus na
cruz (Jo 17:4, 5) e Sua subsequente exaltação no Céu (Jo 7:39). Pela cruz, Deus recuperou o governo moral
do Universo e o direito de reclamar a humanidade de volta para Si. A exaltação de Jesus foi o momento
supremo em que isso foi reconhecido não apenas por Deus, mas também pelos anjos e todos os demais
seres criados (Ap 5:8-14; cf. Fp 2: 8, 9; Hb 2:9). O Pentecostes foi o resultado de tudo isso. Era hora de
atacar o reino de Satanás e resgatar o ser humano de volta para Deus.

IV. O primeiro batismo (At 2:37-41)

A resposta ao sermão de Pedro não poderia ter sido mais positiva. As palavras inspiradas do apóstolo de
fato “perfuraram [katenyg?san] o coração” dos ouvintes (v. 37), que apenas queriam saber o que fazer
depois de tão profunda exposição acerca dos efeitos da morte e ressureição de Jesus. Pedro, então,
destacou os quatro principais aspectos da experiência da conversão: (1) arrependimento, (2) batismo, (3)
perdão de pecados e (4) recebimento do dom do Espírito (v. 38). O número expressivo de batismos naquele
dia, quase três mil, revela a forte atuação do Espírito no coração daquelas pessoas. O Pentecostes foi o
primeiro assalto ao reino de Satanás depois da cruz. Cada um de nós tem hoje o privilégio de testemunhar
de Jesus, ampliando esse assalto e trazendo mais e mais cativos do pecado para o reino do nosso grande
Deus.

Conclusão

Pontos a ser enfatizados em classe:



– O cumprimento da promessa do derramamento do Espírito Santo.

– O propósito do dom de línguas.

– A natureza das línguas faladas.

– Vida, morte e ressurreição de Jesus. 

– A exaltação de Jesus como condição para a vinda do Espírito Santo.

– Nossa participação individual na obra de resgate iniciada pelos apóstolos no Pentecostes.

Lição 3: 14 a 21 de julho

A vida na Igreja Primitiva


Editor: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br

Revisora: Josiéli Nóbrega

Autor: Cristian Piazzetta

Capelão da Escola Adventista

Cachoeirinha, RS

Supervisor: Wilson Paroschi

Professor de Novo Testamento

Southern Adventist University

Collegedale, TN, EUA

Esboço da lição da semana

I. Ensino e comunhão (At 2:42-47; 4:32–5:11)

O papel dos apóstolos

Comunhão nos lares

Partilha dos bens

Ananias e Safira

Senso de urgência

II. Oposição das autoridades judaicas (At 3:1–4:31; 5:12-42)

A cura de um paralítico

O sermão de Pedro (o segundo em Atos)

A prisão de Pedro e João

Mais milagres

A segunda prisão dos apóstolos

I. Ensino e comuhnão (At 2:42-47; 4:32–5:11)

Após ter descrito o derramamento do Espírito Santo e a subsequente conversão massiva de judeus no
Pentecostes, Lucas dedicou espaço para relatar como era a vida espiritual desses novos conversos
incorporados à comunidade cristã. Essa seção foi introduzida com a informação de que os cristãos
primitivos perseveravam na doutrina dos apóstolos, na comunhão, no partir do pão e nas orações (2:42).
Essas quatro práticas, portanto, estavam relacionadas à comunhão, que ocorria nos lares, e ao ensino, que
acontecia no templo (2:46).

1. O papel dos apóstolos

A função apostólica na igreja primitiva estava essencialmente ligada ao ensino. Assim como eles haviam
sido instruídos por Jesus (At 1:3), agora os discípulos deviam passar adiante as orientações para os novos
conversos. Tais ensinamentos provavelmente incluíssem conceitos como a morte e a ressureição de Jesus,
as Escrituras do Antigo Testamento e, certamente, suas próprias reminiscências de outros ensinos de
Cristo. Esse processo de instrução acontecia em geral nas dependências do templo, especialmente no
pórtico chamado “de Salomão” (3:11; 5:12, 21, 25 e 42). Como guardiões da vida e dos ensinamentos de
Cristo, os apóstolos possuíam autoridade necessária para orientar a igreja em seu estágio inicial.

2. Comunhão nos lares

A vida de intensa comunhão espiritual era outra marca da piedade cristã primitiva. Vivendo em irmandade,
eles estavam sempre juntos, celebravam a Ceia do Senhor, oravam e compartilhavam suas refeições com
alegria e singeleza de coração (2:44-46). As refeições em questão eram as chamadas Festas da
Fraternidade (agap?), que consistiam em refeições regulares praticadas pelos primeiros cristãos, sendo
essas ocasiões oportunas para assistir os membros mais pobres da igreja. Há indícios de que, mais tarde,
falsos mestres estavam usando essa confraternização para introduzir condutas imorais entre os primeiros
cristãos (cf. Judas 4, 12).

3. Partilha de bens

Outra atitude marcante dos cristãos primitivos era a partilha de bens, caracterizada pela prática de vender
seus bens e propriedades e de manter todas as coisas em comum, além de atender eventuais
necessidades que surgissem entre os mais pobres da igreja (At 2:45). Embora a prática certamente tenha
contribuído para promover a unidade entre os cristãos, mais tarde ela se mostrou problemática devido ao
empobrecimento da igreja de Jerusalém e à falta de recursos para enviar missionários às nações gentílicas.
Por outro lado, considerando que o Espírito Santo estava guiando a igreja, será que esse sacrifício não foi
o plano de Deus, promovendo a unidade por meio das ofertas que as igrejas gentílicas também enviaram a
Jerusalém, e considerando que Deus providenciou, pelo ministério de Paulo, recursos e oportunidades
para que o cristianismo se expandisse em todo o mundo?

4. Ananias e Safira

Deve-se enfatizar aqui que a partilha de bens entre os cristãos primitivos era de caráter voluntário e não um
pré-requisito para alguém se tornar membro da igreja. Embora Lucas relate um bom exemplo de ofertas
voluntárias, como a de Barnabé (At 4:36, 37), houve dificuldades internas no grupo de crentes, ameaçando
a unidade da igreja e a lealdade a Deus, pela falta de integridade em relação aos compromissos assumidos
diante de Deus. Isso se torna evidente no caso de Ananias e Safira (5:1-11).

5. Senso de urgência

Embora a atitude generosa da igreja primitiva reflita um desejo autêntico de estar em harmonia com o
plano de Deus, e ainda que a partilha de bens certamente tenha sido benéfica aos mais necessitados da
comunidade, há indícios de que havia outra motivação por trás desse ato de caridade. É inegável que os
primeiros cristãos, até mesmo os próprios discípulos, mantinham uma ardente expectativa pelo breve
retorno de Jesus. Questionamentos como: “Senhor, será este o tempo em que restaures o reino a
Israel?” (At 1:6) indicam que os primeiros cristãos viam a chegada do reino de Deus sobre a Terra como
uma realidade iminente. Possivelmente, o fato de que o Espírito já tinha vindo sobre a igreja (At 2:4) e de
que todas as nações debaixo do céu haviam sido evangelizadas (At 2:6-41) tenha levado a comunidade
cristã primitiva a entender que o retorno de Cristo fosse apenas uma questão de dias. Afinal de contas,
eram essas as duas condições estabelecidas pelo próprio Jesus para que Ele voltasse: o recebimento do
Espírito Santo e a pregação a todas as nações (1:8). Ancorados na suposição de que esses dois requisitos
já haviam sido cumpridos no Pentecostes, é compreensível a atitude de permanecer em Jerusalém e de
vender todos seus pertences. Afinal de contas, por que se preocupar com o amanhã, se não haveria um
amanhã? Para os cristãos primitivos, a volta de Jesus era uma questão de dias, e eles queriam estar
devidamente preparados. Será que essa postura de viver como se estivessem às vésperas da segunda
vinda de Jesus foi guiada pelo Espírito Santo, mesmo que Jesus não estivesse voltando em tão pouco
tempo assim? No entanto, permanecer em Jerusalém se mostrou um grave equívoco, não porque Jesus
não estivesse voltando naquele tempo, mas porque havia uma missão mundial de pregação do evangelho
que devia ser iniciada. O fato é que não foi a igreja de Jerusalém que tomou a iniciativa de promover o
evangelismo mundial. Isso coube à Antioquia da Síria e os missionários ainda precisaram contar com as
ofertas dos cristãos gentios para aliviar suas próprias necessidades (cf. At 11:29, 30; Rm 15:25-27; 1Co
16:1-3; etc).

Na igreja de Tessalônica, possivelmente houve uma perversão relação à vida cristã em preparação para a
volta de Cristo. Alguns membros da igreja possivelmente estivessem abandonando o trabalho para
aguardar a volta de Jesus. Paulo foi enfático ao dizer que outras coisas ainda precisavam acontecer para
que Jesus voltasse (2Ts 2:3-6), e que aqueles que não quisessem trabalhar, também não deviam comer
(2Ts 3:10). Aprendemos aqui uma preciosa lição para nossos dias: precisamos manter o equilíbrio entre o
senso de urgência quanto à volta de Jesus e a missão da igreja. Como alguém disse: “Devemos estar
prontos como se Jesus voltasse hoje, mas continuar trabalhando [em favor do evangelho] como se Ele
ainda fosse levar cem anos para voltar.” A oração de Jesus pelos discípulos em João 17:15-18 ainda é tão
válida hoje como foi no primeiro século.

II. Oposição das autoridades judaicas (At 3:1–4:31; 5:12-42)

Assim como a igreja começava a enfrentar dificuldades internas, a oposição externa também começava a
surgir, especialmente por parte de alguns líderes judeus de Jerusalém. A liderança do templo era na sua
maioria composta por Saduceus, que, como regra, não acreditavam na ressurreição. Logo, eles ficaram
muito incomodados com a pregação de Pedro, que, entre outros aspectos, enfatizava que Jesus havia
ressuscitado dentre os mortos.

1. A cura de um paralítico

Dos muitos milagres relatados em Atos, a cura do coxo à porta do templo é um dos que mais se
assemelham aos milagres de Jesus registrados nos evangelhos. O fato de Pedro realizar a cura em nome
de Jesus demonstra, por meio do ministério apostólico, a continuidade da obra que Cristo havia iniciado
(At 3:6). Embora os apóstolos estivessem a serviço de Deus e testemunhando em Jerusalém, o fato de eles
subirem ao templo para a oração da hora nona (horário equivalente ao sacrifício da tarde, ou seja, 15h)
pode sugerir que eles ainda estivessem participando dos sacrifícios cerimoniais mesmo após a morte de
Jesus na cruz. Isso demonstra que a compreensão teológica dos primeiros cristãos ainda estava em
processo de formação. Assim como a revelação de Deus foi progressiva (cf. Jo 16:12), também o foi a
assimilação dessa revelação (cf. Jo 12:16). Deus estava pacientemente trabalhando para o
amadurecimento teológico de Sua igreja, e a incrível cura do paralítico deu a Pedro a oportunidade de
testemunhar através de outro sermão.

2. O sermão de Pedro (o segundo em Atos)

A segunda mensagem de Pedro em Atos se assemelha em muitos aspectos ao sermão do Pentecostes. O


discurso pode ser dividido em duas porções principais: Primeiro o apóstolo estabeleceu a relação entre a
cura do paralítico e a proclamação cristã da morte e ressurreição de Jesus (3:12-16) e, segundo, ele
aproveitou a ocasião para apelar veementemente aos judeus para que se arrependessem e aceitassem
Jesus como o Messias enviado por Deus (3:17-26). Vale mencionar também que nesse sermão Pedro
mencionou uma série de títulos de cristãos primitivos que possivelmente fossem usados para identificar
Jesus. São eles: Servo, Santo, Justo e Autor da Vida (cf. 3:13-15).

3. A prisão de Pedro e João

Falavam eles ainda ao povo quando os sacerdotes, incomodados com os ensinamentos dos apóstolos,
especialmente a ressurreição de Jesus (At 4:2), decidiram mantê-los sub custódia até o dia seguinte,
quando seriam julgados pelo Sinédrio. Ao serem interrogados pelas autoridades judaicas quanto à
autoridade pela qual estavam pregando e operando prodígios, Pedro e João, cheios do Espírito Santo e
com profunda convicção, responderam que era em nome de Jesus Cristo que tal homem havia sido
curado. Não podendo negar que o milagre tinha sido, de fato, realizado (o homem curado estava na frente
deles), e temendo a crescente popularidade do movimento, as autoridades judaicas deliberaram que os
apóstolos deveriam parar de pregar e ensinar no nome de Jesus. Nesse contexto foram proferidas duas
das mais belas declarações no livro de Atos: “E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu
não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos” (At 4:12) e
“não podemos deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos” (At 4:20).

4. Mais milagres

Lucas novamente destacou o ministério de cura exercido pelos apóstolos. Tamanha era sua reputação
entre as pessoas, que os enfermos eram deixados pelas ruas, para que a sombra de Pedro pudesse ser
projetada sobre eles (At 5:15). Embora muitas dessas pessoas viessem de cidades vizinhas na esperança
de obter a cura (At 5:16), o ministério dos apóstolos ainda estava restrito a Jerusalém e circunvizinhanças
(At 9:32-43). Somente mais tarde o evangelho seria pregado nas regiões adjacentes (At 8:4-40) e finalmente
no mundo gentílico (At 11:19-21).

5. A segunda prisão dos apóstolos

Quanto mais crescia a popularidade dos apóstolos, mais se enchiam de inveja os líderes religiosos. Isso os
levou a prendê-los uma segunda vez. Mas, a prisão não durou muito. De maneira extraordinária, um anjo
abriu as portas do cárcere e libertou os apóstolos, mostrando a validade das palavras de Pedro: “Antes
importa obedecer a Deus do que aos homens” (5:29).

Conclusão

Pontos que devem ser enfatizados na classe:

– A importância dos lares na igreja primitiva.

– A expectativa da volta de Jesus e a missão mundial da igreja.

– O conteúdo da pregação apostólica.

– A resolução dos apóstolos em obedecer primeiro a Deus, depois aos homens.

Lição 4: 21 a 28 de julho

Os primeiros líderes da igreja


 

Editor: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br

Revisora: Josiéli Nóbrega

Rafael Krüger

Pastor distrital

Munique, Alemanha

Supervisor: Wilson Paroschi

Professor de Novo Testamento

Southern Adventist University

Collegedale, TN, EUA

Esboço da lição da semana

I. Problema interno na igreja (At 6:1-7)

II. Prisão e julgamento de Estêvão (At 6:8-7:60)

III. A expansão do evangelho (At 8:1-40)

I. Problema interno na igreja (At 6:1-7)

A igreja cristã passou por dificuldades e provações desde o seu início. Algumas delas tinham origem
externa, como as constantes prisões e perseguições (At 4:3; 5:17-18; 8:1). Já outras nasceram dentro da
própria comunidade de crentes. Um exemplo disso pode ser visto em Atos 6:1-7. Com o aumento do
número de conversos, os apóstolos, por mais diligentes que fossem, não conseguiam atender a todas as
demandas da igreja. Assim, certas atividades deixaram de ser realizadas satisfatoriamente e um grupo de
pessoas passou a não ser assistido.

1. O motivo da reclamação

A reclamação era sobre a não “ministração cotidiana” (ACF), ou diária, às viúvas helenistas.

Embora o termo “ministração cotidiana” possa ser vago para os leitores modernos, os apóstolos
entenderam a expressão claramente. Eles identificaram que o problema era sobre o “ministrar às mesas” (v.
2). A palavra usada aqui é diakone?. Ela é a da mesma família que diakonia, usada nos versos 1, já
mencionado, e 4, ao se referir ao “ministério da Palavra”. Esses usos indicam uma relação entre as
atividades. A “ministração cotidiana” ou “ministrar às mesas” e o “ministério da Palavra” apontam,
respectivamente, para as atividades de comunhão e de ensino (ver lição 3).

Talvez o problema levantado pelos helenistas não fosse apenas que suas viúvas estivessem passando
fome ou alguma outra necessidade, conforme relata o livro de Atos (4:34-35), mas que elas estavam
também sendo negligenciadas em uma importante atividade espiritual. Por algum motivo, talvez elas não
estivessem sendo atendidas no serviço da comunhão, que envolvia as refeições comunais, a Santa Ceia, e
orações que eram realizadas nas igrejas do lar da comunidade cristã.

2. Um grupo preterido

Após entender o problema que afligia as viúvas helenistas, surgiu a seguinte indagação: por que apenas
elas foram deixadas de lado?

Havia diferenças culturais e religiosas entre os judeus da Palestina (os “hebreus” de At 6:1) e os nascidos
no mundo greco-romano, os helenistas. Esses últimos, por exemplo, não estavam familiarizados com o
aramaico, idioma falado na Palestina, e também não eram tão ligados às tradições, às leis aplicadas
apenas à terra de Israel e ao santuário, aspectos esses importantes para os hebreus. Tais divergências
contribuíam para um distanciamento e tensões históricas entre os dois grupos.

É difícil saber até que ponto essa separação também se refletiu dentro da igreja, mas a verdade é que em
Atos 6:1 lemos que as viúvas helenistas estavam sendo negligenciadas no serviço da comunhão nos lares
e em suas necessidades.

3. O ministério dos Sete

Para solucionar o problema existente, sete homens dentre a própria comunidade dos judeus cristãos
helenistas foram escolhidos para que se responsabilizassem pelas atividades de comunhão nos lares.
Embora eles sejam costumeiramente denominados de diáconos, suas atribuições eram mais amplas do
que as de um diácono moderno. Eles eram como que líderes congregacionais que tinham como função
principal o atendimento às atividades cristãs realizadas nos lares. Além disso, Estêvão e Filipe, o
evangelista, se destacaram na pregação do evangelho (v. 8-9; 8:26; 21:4).

II. Prisão e julgamento de Estêvão (At 6:8-7:60)

Como cristão helenista, Estêvão provavelmente tivesse demonstrado mais facilidade que seus irmãos
hebreus para compreender que a morte de Jesus marcava o fim do sistema cerimonial. Suas mensagens
provavelmente tratassem sobre esse aspecto. Não é à toa que ele foi acusado de blasfemar contra a lei e o
santo lugar (templo), o que, em outras palavras, era considerado blasfemar contra Moisés e o próprio Deus
(6:11, 13-14). Embora as acusações fossem deturpadas, elas certamente estavam apoiadas em aspectos
verídicos da posição de Estêvão.

No Sinédrio, Estêvão não se preocupou com sua defesa. Antes, como profeta, ele fez um longo e histórico
discurso apresentando os erros de seus ouvintes e de seus pais, transformando, assim, os seus
acusadores em réus.

1. O discurso à luz da aliança

É fundamental analisar o discurso de Estêvão sob a ótica da aliança no Antigo Testamento. Ao fazer isso, é
possível entender o motivo pelo qual sua fala se demora em questões históricas do povo de Israel.

Um dos elementos da estrutura da aliança é o prólogo, em que a relação entre Deus e a nação israelita é
descrita (Êx 20:2; Js 24:1-13). Quando um profeta tinha a missão de trazer o povo de volta às estipulações
do pacto do Sinai, ele aplicava a fórmula da aliança, o que incluía o prólogo, de acordo com o seu
contexto. Além disso, ele às vezes também usava a palavra hebraica rîb, cuja melhor tradução é “demanda
judicial da aliança”. Assim, ele dava a ideia de um tribunal, em que Deus apresentava uma ação contra
Israel. Isso pode ser visto em Miqueias 6, onde o rîb é pronunciado três vezes (v. 1-2) e um prólogo é feito
(v. 3-5).

Somente então podemos entender o motivo pelo qual Estêvão dedicou a maior parte da sua fala
recontando a história do povo de Israel para um público que certamente a conhecia (7:2-50). Ele estava
fazendo um longo prólogo antes de trazer a demanda judicial que Deus tinha para com os judeus (v. 51-53).

2. O fim de um período

A morte de Estêvão tem implicações teológicas profundas. Ela marca o encerramento das 70 semanas
sobre o povo de Israel, significando o fim de sua relação teocrática com Deus (Dn 9:24-27). Estêvão foi o
último profeta a tratar Israel como o povo da aliança. O conteúdo do seu discurso, porém, foi diferente da
fala de seus predecessores e mesmo dos apóstolos Pedro e João, quando estes também estiveram no
Sinédrio (At 5:30, 31). Ele não trouxe uma mensagem de esperança e tampouco chamou seus ouvintes ao
arrependimento, aspecto comum nos sermões relatados em Atos (cf. 2:38; 3:19; 17:30). Antes, demonstrou
que o pacto havia sido quebrado: o Espírito Santo foi sistematicamente resistido, profetas foram mortos e a
lei não fora guardada. Por fim, o próprio Messias, ali chamado de Justo, havia sido traído e assassinado. A
parábola dos lavradores maus estava se cumprindo (Mt 21:33-44).

Devemos lembrar que a aliança com Israel não implicava em salvação automática. O pacto era missional, e
consistia num meio idealizado por Deus para transmitir Sua salvação a todas as nações. Esse, inclusive, foi
o chamado original de Abraão (Gn 12:1-3). Assim, o rompimento da aliança não implica necessariamente
na rejeição ou perdição dos judeus, mas que, como nação, ela não mais seria o instrumento de Deus para
tornar as bênçãos salvíficas de Deus conhecidas ao mundo. Isso estaria agora a cargo daqueles que
aceitassem Jesus como Messias e Salvador.

III. A expansão do evangelho (At 8:1-40)

Dois problemas foram decisivos para que o evangelho rompesse as barreiras judaicas. Um deles foi
externo: a perseguição sofrida pela igreja (8:1). Isso fez com que cristãos se espalhassem para outras
localidades circunvizinhas e ali testemunhassem de Jesus. Outra dificuldade foi interna: as diferenças
marcantes entre os cristãos helenistas e os hebreus. Por um lado, essas divergências estavam em algum
grau no pano de fundo da negligência às viúvas helenistas. Por outro, foram as perspectivas desse grupo,
que entendia o cristianismo de maneira mais abrangente e inclusiva, que impulsionaram a pregação aos
tão odiados samaritanos e a um gentio etíope.

Conclusão

Pontos que devem ser enfatizados na classe:

– O contexto por trás da negligência às viúvas helenistas.

– Aspectos negativos e positivos das diferenças entre helenistas e hebreus.

– A relevância e o significado do discurso e da morte de Estêvão.

– O término da aliança de Deus com Israel.

– O caráter inclusivo do evangelho (hebreus, judeus helenistas, samaritanos e gentios).

Lição 5: 28 de julho a 4 de agosto

A conversão de Paulo
Autor: Wilson Paroschi

Professor de Novo Testamento

Southern Adventist University

Collegedale, TN, EUA

Editor: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br

Revisora: Josiéli Nóbrega

Esboço da lição da semana

I. Perseguidor da igreja (At 9:1, 2)

II. Conversão próximo a Damasco (At 9:3-19)

III. Início do ministério (At 9:20-30)

I. Perseguidor da igreja (At 9:1, 2)

Paulo (ou Saulo) aparece pela primeira vez no relato bíblico no contexto da morte de Estêvão. A descrição
de Lucas (At 7:58; 8:1) dá a entender que Saulo exerceu um papel importante, senão de liderança, na
ocasião. A lei determinava que, em caso de apedrejamento, as primeiras pedras fossem lançadas pelas
testemunhas, certamente para inibir acusações apressadas (Dt 17:7). No caso de Estêvão, porém, as
testemunhas haviam sido subornadas para que o acusassem (At 6:11), e o fato de deixarem as vestes aos
pés de Saulo (At 7:58) sugere que ele estava, por assim dizer, supervisionando a execução. Por isso ele é
descrito como consentindo na morte de Estêvão (At 8:1). As palavras parecem ser cuidadosamente
escolhidas para expressar a ideia de que, embora não participando ativamente no apedrejamento, Saulo o
aprovou.

1. A primeira perseguição da igreja

Em seguida ao martírio de Estêvão, “levantou-se grande perseguição contra a igreja em Jerusalém”, o que
forçou muitos fiéis a abandonarem a cidade (At 8:1), a maioria dos quais era dos mesmos judeus cristãos
helenistas convertidos no Pentecostes (At 2:5, 9-11). Convém notar que Estêvão foi um helenista (At 6:1-5),
o mesmo acontecendo com Saulo, que era natural de Tarso, na Cilícia (At 21:39; 22:3). É bem provável que
Saulo frequentasse a mesma sinagoga que Estêvão (At 6:9), e que foi dali que veio a oposição contra ele.
Ou seja, os problemas disseram respeito mais à ala helenista da igreja, o que parece explicar a razão pela
qual os apóstolos (At 8:1) e os demais cristãos palestinos (At 11:1) puderam permanecer em Jerusalém.

Saulo era o líder da perseguição. Sabendo que muitos fiéis haviam fugido para Damasco, uma cidade com
grande colônia judaica cerca de 215 km ao norte de Jerusalém (em linha reta), ele foi ao sumo sacerdote e
pediu autorização para que estendesse a perseguição até lá (At 9:1, 2; 22:5; 26:12). O sumo sacerdote era
o presidente do sinédrio, uma espécie de suprema corte judaica, e era dele a responsabilidade de
administrar as comunidades judaicas ao redor do mundo. Isso quase sempre era feito por meio de um
shaliah (“enviado”), alguém autorizado pelo Sinédrio para exercer funções administrativas e religiosas. E foi
assim, como um shaliah, ou um apóstolo do Sinédrio – a palavra “apóstolo” significa “enviado” – que Saulo
partiu para Damasco.

2. A “heresia” cristã

Paulo declarou em 1 Coríntios 1:23 que a fé cristã era “escândalo para os judeus e loucura para os
gregos”. O problema para os judeus tinha a ver, acima de tudo, com o fato de Jesus ter morrido numa cruz,
pois a lei declarava que todo aquele que fosse pendurado num madeiro seria considerado maldito de Deus
(Dt 21:23). Do ponto de vista judaico, portanto, a fé em Jesus postulava uma grotesca contradição, visto
que Ele – assim pensavam – não poderia ser ao mesmo tempo o escolhido de Deus e o maldito de Deus.
Além disso, Jesus fugia aos padrões estabelecidos no primeiro século: Ele não havia frequentado as
escolas rabínicas de Seus dias (Jo 7:15); Seu comportamento não era pautado pelas tradições rabínicas
(Mt 11:19; Mc 7:5; Jo 5:1-16); e a mensagem da ressurreição era uma afronta aos saduceus, os líderes
máximos do templo e do Sinédrio (At 23:8). Além disso, a crítica feita por Estêvão quanto ao templo e suas
cerimônias (At 6:13, 14; 7:48-50) tocava no que de mais sagrado havia no judaísmo do primeiro século.
Para Paulo, Estêvão e os demais cristãos não eram somente apóstatas, mas representavam uma ameaça
aos pilares da fé judaica. Por isso, decidiu exterminá-los (At 22:4, 5; 26:10, 11; Gl 1:13; Fp 3:6).

II. Conversão próximo a Damasco (At 9:3-19)

A conversão de Paulo nas proximidades de Damasco é mencionada três vezes em Atos, uma por Lucas
(9:3-19) e duas em relatos atribuídos ao próprio Paulo (22:6-16; 26:13-18). O apóstolo também a menciona
brevemente em Gálatas 1:15-24. O que ocorreu ali foi mais que uma visão no sentido profético, mas um
encontro real com o Cristo ressuscitado (At 9:17; 1Co 9:1; 15:8; Gl 1:15, 16) que mudou completamente
perspectiva e a vida daquele jovem fariseu, transformando-o do maior inimigo da fé no seu maior defensor.
Depois do Pentecostes, nenhum outro evento foi tão imporante para a igreja nascente como esse. Com
Paulo, o cristianismo nunca mais seria o mesmo.

O Novo Testamento nos dá preciosas informações sobre a vida de Paulo anterior à sua conversão que
muito nos ajudam a entender seu ministério e o evangelho por ele pregado. De família cem por cento
judaica (Fp 3:5), Paulo nasceu na cidade de Tarso, capital da província romana da Cilícia (At 21:39; 22:3), o
que fazia dele um judeu helenista e profundo conhecedor da cultura greco-romana. Por algum motivo que
desconhecemos, Paulo também era cidadão romano por direito de nascimento (At 22:28), o que significa
que o pai dele deve ter sido um cidadão romano antes dele. Isso dava uma série de vantagens ao apóstolo
e ele soube fazer uso delas, principalmente no contexto de sua prisão e julgamento (At 16:35-39; 22:25-29;
25:10-12). Paulo cresceu em Jerusalém, onde se tornou fariseu (At 23:6; 26:5; Fp 3:5) e foi educado aos
pés do maior rabino judeu da época, Gamaliel (At 22:3), o que o habilitava plenamente a discutir questões
profundas relacionadas à lei, à história de Israel e à salvação. Muito cedo na vida (cf. At 7:58), alcançou a
posição de membro do Sinédrio (At 26:10; cf. 22:20), e era visto por todos “como jovem altamente
promissor, e grandes esperanças eram acalentadas com respeito a ele como capaz e zeloso defensor da
antiga fé”.

Sua conversão, porém, não só frustrou as expectativas dos líderes judaicos da época como também
fortaleceu sobremaneira o movimento cristão. “Um general que tomba em combate está perdido para seu
exército, mas sua morte não acrescenta força ao inimigo. Mas quando um homem preeminente se une às
forças opositoras, não apenas se perdem seus serviços como ganham clara vantagem aqueles com quem
ele se une. Saulo de Tarso, em caminho para Damasco, podia facilmente ter sido morto pelo Senhor, e
muita força se teria retirado do poder perseguidor. Mas Deus, em Sua providência, não apenas preservou a
vida de Saulo, mas converteu-o, transferindo assim um campeão do campo do inimigo para o lado de
Cristo”.

III. Início do ministério (At 9:20-30)

A conversão de Paulo não foi intermediada, nem sequer testemunhada por nenhum dos apóstolos (Gl 1:11,
12), mas aprouve a Deus em Sua graça usar um cristão chamado Ananias para que Paulo recuperasse a
visão e fosse batizado (At 9:10-19). Mais tarde, Deus usaria Barnabé para aproximar Paulo dos demais
apóstolos em Jerusalém (At 9:26, 27) e integrá-lo nos trabalhos evangelísticos em Antioquia da Síria (At
11:25, 26), de onde o apóstolo sairia em suas três viagens missionárias.

Quando cruzamos as informações dos vários relatos da conversão de Paulo, podemos reconstruir com
mais clareza seus primeiros movimentos como cristão. Após a visita de Ananias, Paulo foi à Arábia (Gl
1:17), que era como se chamava o reino nabateano, localizado mais ou menos na região correspondente à
moderna Jordânia. Ali, num período aproximado de três anos (Gl 1:18), Paulo se preparou para o início de
seu ministério. Deve ter sido um período de reclusão, profundo estudo das Escrituras e comunhão com
Deus. Mais ou menos ao final dos três anos, ele voltou para Damasco, que na época estava sob
administração nabateana (2Co 11:32). Em Damasco, Paulo começou a pregar, mas logo surgiu a oposição
e ele foi forçado a fugir da cidade (At 9:20-25). Foi nessa ocasião que ele foi descido num cesto por uma
janela da muralha (2Co 11:33), dirigindo-se em seguida para Jerusalém (At 9:26), onde se encontrou com
alguns apóstolos (Gl 1:18, 19) e procurou testemunhar aos mesmos judeus helenistas que, anos antes,
haviam se levantado contra Estêvão (At 9:28, 29). Mas eles também procuraram tirar-lhe a vida, pelo que os
irmãos o enviaram a Tarso, na Cilícia, sua cidade natal (At 9:30), onde permaneceria por vários anos até
que Barnabé fosse à sua procura e o trouxesse à Antioquia (At 11:25, 26). Nada sabemos do ministério de
Paulo nesse período, a não ser que ele fez vários conversos ali (At 15:41).

Conclusão

Pontos a ser enfatizados em classe:

– O papel do próprio Estêvão na conversão de Paulo (cf. At 7:60).

– A fiel resposta de Paulo ao chamado de Deus (cf. At 26:19).

– A pergunta de Jesus na estrada de Damasco: “Saulo, Saulo, por que Me persegues?” (At 9:4).

– A revelação por meio de Ananias, de que ele teria um poderoso ministério e que ele muito sofreria pelo
nome de Jesus (At 9:15, 16). Mas, mesmo assim, ele foi fiel ao seu chamado (At 26:15).

– A preocupação que Paulo teve de pregar aos mesmos judeus helenistas que anteriormente haviam se
levantado contra Estêvão (At 9:29; cf. 6:9).

Lição 6: 4 a 11 de agosto

O ministério de Pedro
Autor: Wilson Paroschi

Professor de Novo Testamento

Southern Adventist University

Collegedale, TN, EUA

Editor: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br

Revisora: Josiéli Nóbrega

Esboço da lição da semana

Ministério de cura (At 9:32-43)

A conversão de Cornélio (At 10:1-11:18)

A igreja de Antioquia (At 11:19-26)

A perseguição de Herodes (At 12:1-25)

I. Ministério de cura (At 9:32-34)

Havendo Paulo se retirado para Tarso (At 9:30), as atenções de Lucas se voltam para Pedro, que é descrito
numa espécie de ministério itinerante ao longo da região costeira da Palestina. Lucas descreve dois
milagres realizados por Pedro, os quais lembram bem de perto milagres realizados pelo próprio Jesus. O
primeiro foi em Lida, onde Pedro curou um paralítico chamado Eneias, que jazia em seu leito havia oito
anos. Muitos, em toda a região, foram fortemente impactados e se converteram ao Senhor (At 9:35). O
milagre tem semelhança com a cura do paralítico de Cafarnaum (Lc 5:17-26), o que remete à declaração de
Jesus de que os discípulos seriam capazes de fazer obras iguais, ou até maiores, que as Dele (Jo 14:12).

O outro milagre foi em Jope. Ali Pedro ressuscitou uma fiel chamada Tabita, também conhecida por
Dorcas, a forma grega do seu nome. A descrição de Tabita impressiona por suas obras de caridade e amor
desinteressado ao próximo. O milagre também lembra bem de perto outro milagre de Jesus, a ressurreição
da filha de Jairo (Lc 8:41, 42, 49-56). Em aramaico, a língua falada na Judeia na época, as frases de Jesus
e Pedro no momento da ressurreição teriam sido idênticas, exceto por uma única letra: “Talita, cumi!”, no
caso da filha de Jairo (Mc 5:41), e “Tabita, cumi!”, no caso de Dorcas (At 9:40).

II. A conversão de Cornélio (At 10:1–11:18)

A parte central da seção (caps. 10–11) descreve a conversão de um centurião chamado Cornélio, que vivia
em Cesareia, cidade portuária localizada ao norte de Jope. Cesareia era uma bela cidade que, sob a
administração romana, havia se tornado a sede do governo provincial. O encontro entre Pedro e Cornélio
foi providencial, e mostra que Deus tinha a intenção clara de usar o apóstolo para trazer à fé o primeiro
gentio. A ordem de Jesus era que os apóstolos levassem o evangelho a todo o mundo (At 1:8), mas os
preconceitos judaicos da época contra gentios incircuncisos eram uma barreira muito grande que
precisava ser vencida. A preocupação com a contaminação da idolatria pagã era tão grande que os
rabinos ensinavam que nenhum judeu deveria se associar a um gentio incircunciso. A circuncisão era o
sinal do concerto abraâmico (Gn 17:9-27) e a marca que distinguia o povo de Deus das demais pessoas. O
simples contato com gentios incircuncisos, ainda de acordo com os rabinos, provocava impureza
cerimonial, impedindo o judeu de comparecer perante Deus no templo para adorá-Lo. Há evidências de
que, nesse período, essa prática era cumprida tão à risca que muitos criticavam os judeus por seu espírito
exclusivista e sectário. Como a igreja iria fazer conversos de todos os povos, nações, e tribos diante de
uma prática assim?

Deus trabalhou com Cornélio (At 10:1-8) e com Pedro simultaneamente (At 10:9-23), concedendo uma
visão a ambos. A visão de Pedro reflete o conceito exclusivista judaico da época. A resistência de Pedro
em comer até mesmo os animais limpos do lençol é explicada da seguinte forma: “Jamais comi coisa
alguma comum [koinos] e imunda [akarthartos]” (At 10:14). O termo akarthartos é o mesmo utilizado na
Septuaginta, versão grega do Antigo Testamento (AT), para descrever as carnes imundas em Levítico 11. Já
o termo koinos não é usado no AT em relação à alimentação. Seu uso nessa passagem reflete o conceito
rabínico de contaminação por associação. Mesmo carnes limpas – os rabinos ensinavam – ficariam
contaminadas ao entrar em contato com carnes imundas. Pedro se recusa a comer até mesmo os animais
limpos do lençol, pois para ele, tais animais teriam sido contaminados. Foi por isso que Deus respondeu:
“Ao que Deus purificou [kathariz?] não consideres comum [koino?]” (At 10:15). Ou seja, aquilo que é
intrinsicamente puro não é contaminado pelo simples contato com aquilo que é impuro.

A visão tem sido utilizada para defender a ideia de que a distinção entre carnes limpas e impuras do AT não
está mais em vigor. Mas, a resposta de Deus a Pedro no verso 15 mostra que Deus não estava purificando
carnes impuras (akarthartos), mas apenas tentando mostrar ao apóstolo que carnes limpas não eram
contaminadas pela associação com as imundas. Em última instância, o ponto de Deus nem era o alimento
em si, mas a situação dos gentios incircuncisos. Pedro não deveria se preocupar com uma eventual
contaminação cerimonial pelo simples fato de entrar na casa de Cornélio e assentar-se com ele à mesa.
Isso mostra que o evangelho é inclusivo, é para todos, e que Deus não tem favoritos (At 10:34, 35). Como
todos, tanto judeus quanto gentios, pecaram (Rm 3:9, 19, 22), todos carecem da graça de Deus para a
salvação (Rm 3:23), e é por isso que a salvação é unicamente pela fé, quer para judeus, quer para gentios
(Rm 3:29, 30).

Pedro entendeu a mensagem, e o que se segue é a primeira conversão de um gentio incircunciso relatada
no livro de Atos. Para que não restasse nenhuma dúvida de que Deus estava administrando a situação, Ele
permitiu que o Espírito Santo viesse sobre Cornélio e sua família antes mesmo do batismo e que eles
falassem em línguas (At 10:44-46). O fenômeno das línguas neste caso não foi por razões evangelísticas,
como no Pentecostes, e muito menos por ser a evidência típica da conversão. Este é o único relato em
todo o Novo Testamento de alguém falando em línguas no momento em que se converte. É interessante
notar, porém, que Cornélio falou em línguas antes mesmo de ser batizado, o que, associado à reação de
Pedro (At 10:47; 11:15-17) e da igreja de Jerusalém posteriormente (At 11:18), demonstra que o propósito
delas foi apenas convencer a Pedro e aos que com ele estavam de que Deus estava aceitando a conversão
direta de um gentio incircunciso, sem que ele primeiro precisasse se tornar um adepto do judaismo por
meio da circuncisão. A forma como a igreja de Jerusalém depois cobrou explicações de Pedro por haver
ele entrado em contato com um gentio incircunciso (At 11:1-18) mostra como essa questão despertava
enormes preconceitos. Nem tudo seria resolvido nessa ocasião (cf. Gl 2:11-14), mas Deus estava aos
poucos conduzindo sua igreja a uma realidade universal.

III. A igreja de Antioquia (At 11:19-26)

A conversão de Cornélio oferece ensejo a Lucas para relatar a expansão do evangelho em Antioquia da
Síria. Vários refugiados da perseguição de Saulo chegaram até ali e compartilharam a mensagem tanto
com judeus quanto com gentios, “e muitos, crendo, se converteram ao Senhor” (At 11:21). O impacto
parece ter sido grande, tanto que Barnabé foi enviado desde Jerusalém para averiguar a situação. Sentindo
o potencial do trabalho, ele foi a Tarso, que ficava relativamente perto de Antioquia, à procura de Paulo, e
por todo um ano eles trabalharam juntos evangelizando a cidade. Fato histórico significativo é que foi ali,
em Antioquia, que os seguidores de Jesus foram pela primeira vez chamados “cristãos” (At 11:26).

IV. A perseguição de Herodes (At 12:1-25)

O relato que se segue é de uma perseguição imposta por Herodes Agripa I, que viu na excecução dos
líderes da igreja de Jerusalém uma forma de agradar os judeus em geral (At 12:3). Tiago, o irmão de João,
foi martirizado nessa ocasião (verso 2), e Pedro seria o próximo, não fosse o poderoso livramento de Deus
(versos 7-19). Por fim, Herodes colheu os resultados da sua própria crueldade e arrogância, sendo ferido
por um anjo de Deus e tendo uma morte pública humilhante e aparentemente dolorosa (verso 23). O relato
termina com uma breve nota, mas suficiente para mostrar a direção divina da igreja: “A Palavra do Senhor
crescia e se multiplicava” (verso 24).

Conclusão

Pontos a ser enfatizados em classe:

- O poder do ministério de Pedro.

- A universalidade do evangelho.

- A perpetuidade das leis de saúde do AT.

- A fidelidade da igreja apostólica em face da perseguição e as lições que podemos tirar disso para nós
hoje.

Lição 7: 11 a 18 de agosto

A primeira viagem missionária de Paulo


Autor: Rafael Krüger

Pastor distrital

Munique, Alemanha

Supervisor: Wilson Paroschi

Professor de Novo Testamento

Southern Adventist University

Collegedale, TN, EUA

Editor: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br

Revisora: Josiéli Nóbrega

Esboço da lição da semana

I. Missão intencional (At 13:1-3)

II. Mudanças com Paulo (At 13:2, 9, 13)

III. As sinagogas judaicas e a religião de Paulo (At 13:5, 14; 14:1)

I. Missão intencional (At 13:1-3)

O plano missionário de Jesus em Atos 1:8 apresenta uma progressão geográfica na pregação do
evangelho. Começando por onde estavam, Jerusalém, os discípulos deveriam ser também testemunhas na
Judeia, Samaria e demais regiões do mundo. Muito embora a dispersão dos cristãos causada pela
perseguição tenha colaborado para a pregação além das fronteiras judaicas (8:1, 4-8; 11:19-21), a igreja
ainda não havia se organizado para conduzir uma ação evangelística mundial de maneira mais direta e
intencional. Deus, porém, estava prestes a mudar essa situação.

1. Um centro missionário

Um dos destinos dos cristãos perseguidos foi Antioquia (11:19), que se situava cerca de 500 km ao norte
de Jerusalém. Capital da província da Síria – não confundir com Antioquia da Pisídia – a cidade era a
terceira maior do império, ficando atrás apenas da capital Roma e de Alexandria. Localizada próximo ao
litoral, a locomoção para o restante do mundo era facilitada por barcos, meio mais barato e menos
exaustivo que o transporte terrestre.

Antioquia se destaca entre as várias cidades mencionadas em Atos. Isso não se deve apenas ao grande
aumento de conversos (11:21), nem ao fato de que nessa cidade os discípulos foram pela primeira vez
chamados cristãos (11:26). A importância desse lugar se deve à sua ligação com a missão da igreja. Foi ali
que, pela primeira vez, houve um empenho intencional em evangelizar outros lugares (13:1-3). A partir de
então, o evangelismo em campos mais distantes não seria mais um mero fruto de dispersões causadas por
perseguição. A igreja e seus missionários estariam deliberadamente se preparando para, de maneira
planejada e organizada, levar a mensagem aos confins da Terra.

Para refletir: Como sua igreja é conhecida? Será que ela, sendo grande ou pequena, pobre ou rica, tem
sido um centro poderoso da pregação do evangelho e envio de missionários?

2. O Espírito Santo e a missão

Se por um lado é possível observar a liderança da igreja em Antioquia quanto à preparação e o


cumprimento do chamado de Deus (At 13:2, 3), por outro, não se deve diminuir a importância e a
centralidade do Espírito Santo. O serviço e o jejum não foram a principal fonte de estímulo para a missão e
tampouco habilitaram as pessoas para ela. Embora tudo isso seja importante, Lucas destaca o Espírito
como o Agente principal da primeira viagem missionária cristã de que se tem conhecimento. Foi Ele quem
moveu os líderes da igreja de Antioquia a consagrarem Barnabé e Saulo (13:2b). Foi também esse mesmo
Espírito que encheu o coração desses dois pregadores durante o trajeto de cerca de dois anos (13:9, 52).

No livro de Atos, o Espírito Santo está diretamente associado com a pregação do evangelho. Veio do
Espírito, por exemplo, o poder que habilitaria os discípulos a ser testemunhas de Cristo ao redor do mundo
(1:8). Foi também Dele que veio o dom de línguas, o que possibilitou a comunicação do evangelho em
outros idiomas (2:4). Essas, além de tantas outras ações, levaram alguns estudiosos a chamar o quinto livro
do Novo Testamento de “Atos do Espírito Santo”.

Para refletir: Todos aqueles que desejam se empenhar na missão divina devem se lembrar de um princípio
que pode ser aplicado em diferentes contextos: “Não por força nem por poder, mas pelo Meu Espírito, diz
o SENHOR dos Exércitos” (Zc 4:6). O que é mais importante em suas atividades missionárias: seus
métodos ou o Espírito Santo?

II. Mudanças com Paulo (At 13:2, 9, 13)

Mais de uma década se passou desde o chamado de Paulo para ser “um instrumento escolhido” para a
pregação aos gentios (9:15) até sua primeira viagem missionária (13:2). Nesse tempo, Paulo foi um
personagem coadjuvante na narrativa de Atos, sendo Pedro a figura principal (cf. 9:20-12:25). Até mesmo
quando é chamado para uma obra mais relevante, Paulo é mencionado depois de Barnabé, o que
demonstra a maior importância do seu companheiro (11:30; 12:25; 13:2). A partir de sua passagem por
Antioquia da Pisídia, porém, ele ganhou destaque e passou a ser mencionado antes de Barnabé (13:13,
42). Os papéis se invertem e Paulo assume a liderança na obra para a qual foi chamado.

Em Antioquia da Pisídia ocorreu outra mudança com Paulo. Ela tem que ver com a maneira em que ele é
chamado em Atos. O apóstolo tinha dois nomes: um judaico, Saulo, e outro latino, Paulo (13:9). Desde a
primeira aparição na narrativa, Paulo é mencionado pelo nome judaico (7:58). A partir dessa cidade, porém,
ele passou a ser citado como Paulo (13:13). Isso possivelmente tenha ocorrido porque Paulo passou a
estar mais em um contexto greco-romano do que judaico.

Para refletir: Desde a sua conversão, Paulo sabia que Deus o havia escolhido para uma missão muito
importante. Anos se passaram até esse chamado se concretizar. Paulo, porém, se manteve humilde
durante esse processo. Em meio a uma igreja em que, infelizmente, às vezes há disputas de ego e poder, o
que a atitude de Paulo tem a nos ensinar?

III. As sinagogas judaicas e a religião de Paulo (At 13:5, 14; 14:1)

No decurso de suas missões, Paulo ia às sinagogas judaicas e lá pregava o evangelho (cf. 9:20; 17:1, 10,
17; 19:8). Isso aconteceu já desde a primeira viagem (At 13:5, 14-44; 14:1). Com isso em perspectiva, é
válido ponderar: Por que o apóstolo continuou indo às sinagogas mesmo após sua conversão?

Talvez a resposta mais comum seja que essa atitude era pragmática. Afinal, os frequentadores das
sinagogas, judeus e gentios prosélitos, além dos tementes a Deus, tinham conhecimento do Antigo
Testamento e por isso estavam familiarizados com a expectativa do Messias, o que teoricamente os
tornavam mais aptos a aceitar Jesus que os pagãos em geral. Além disso, os prosélitos e tementes a Deus
que se convertessem podiam ser uma ponte entre a sinagoga e outros gentios.

Embora o pragmatismo seja uma resposta válida, ela não é a única. Antes de mais nada, o apóstolo ia à
sinagoga porque ele era judeu e continuou sendo judeu mesmo após sua conversão. Embora tal
perspectiva possa parecer estranha hoje, é preciso lembrar que no primeiro século não havia uma clara
distinção entre cristianismo e judaísmo, como temos atualmente. Os gentios, por exemplo, tratavam as
diferenças entre cristianismo e judaísmo como um mero assunto judaico (At 18:12-16; 23:26-30; 26:13-19).
Os próprios judeus, inclusive, viam os discípulos de Jesus como membros de uma das diferentes seitas
judaicas da época (At 9:1, 2; 28:22). Mais que isso, os cristãos se consideravam os verdadeiros detentores
da fé judaica. Paulo, a título de exemplo, chegou a afirmar o seguinte para os judeus: “Segundo o
Caminho, a que chamam seita, assim eu sirvo ao Deus de nossos pais, acreditando em todas as coisas
que estejam de acordo com a lei e nos escritos dos profetas” (At 24:14; cf. 3:13-26; 4:10-12; 7:51-53).
Paulo jamais deixou de ser judeu. Ele continuou crendo no único e verdadeiro Deus e praticando tudo que
era prescrito pela lei do Antigo Testamento e que não era cerimonial por natureza, ou seja, que não estava
centrado no templo e em suas cerimônias.

Para refletir: Embora o atual judaísmo seja notoriamente diferente do cristianismo, isso não significa que
haja uma descontinuidade entre o Antigo e o Novo Testamento. A fé cristã está fundamentada nesses dois
documentos inspirados. Com isso em mente, pense: quanto de seu cristianismo está fundamentado no
Antigo Testamento? Quanto da graça, da justificação e do amor você encontra na primeira parte da Bíblia?

Conclusão

Pontos a ser enfatizados em classe:

– O surgimento de um centro cristão fora de Israel.

– A importância do Espírito Santo na missão da igreja.

– O tempo decorrido até que Paulo se destacasse.

– A ligação entre o cristianismo primitivo e o judaísmo do primeiro século.

Lição 8: 18 a 25 de agosto

O concílio de Jerusalém
Cristian Piazzetta

Capelão da Escola Adventista

Cachoeirinha, RS

Editor: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br

Revisora: Josiéli Nóbrega

Supervisor: Wilson Paroschi

Professor de Novo Testamento

Southern Adventist University

Collegedale, TN, EUA

Esboço da lição da semana

I. O desenvolvimento do concílio (At 15:1-5)

O ponto em debate

O testemunho de Pedro

O parecer de Tiago

II. O resultado do concílio (At 15:6-35)

A decisão dos apóstolos

A carta de Jerusalém

A reação da igreja

I. O desenvolvimento do concílio (At 15:1-5)

O texto de Atos 15:1-35 está localizado exatamente no centro do livro. Além de estar numa posição
central, a seção também é de suma importância para a história da igreja apostólica, pois foi no concílio de
Jerusalém que a igreja conseguiu dar um importante passo para resolver a questão da admissão de
gentios na comunidade cristã.

1. O ponto em debate

Quando regressaram de sua primeira viagem missionária, Paulo e Barnabé fizeram questão de relatar à
igreja de Antioquia as experiências que haviam tido e como Deus abriu a porta da fé aos gentios. No
entanto, nem todos estavam satisfeitos com o sucesso da missão gentílica e, quando as notícias chegaram
a Jerusalém, um grupo de crentes desceu até Antioquia para criar contenda sobre o assunto. Eles
afirmavam que nenhum gentio poderia ser salvo sem primeiro se submeter à circuncisão. Para Paulo, a
questão era muito simples. Todos, tanto judeus como gregos, pecaram e carecem da graça de Deus (Rm
3:9, 23). O meio de acesso à graça divina é única e exclusivamente a fé (Rm 5:1; Gl 2:16; Ef 2:8). Se todos
pecaram e a salvação é pela fé, logo, ela está igualmente disponível a todos (2Co 5:15; 1Tm 2:4). Portanto,
conforme Paulo ensinava, os gentios não precisavam se submeter à circuncisão para depois aceitarem a
Cristo. Eles poderiam fazê-lo diretamente.

Provenientes da Judeia, os oponentes de Paulo, também chamados de judaizantes, argumentavam o


contrário. A menos que os gentios fossem circuncidados e guardassem todas as demais leis cerimoniais
judaicas, eles não poderiam ser salvos. Para eles, a salvação só poderia ser encontrada na comunidade da
aliança de Deus, por meio da circuncisão (Êx 12:48). Em suma, os gentios só poderiam ser salvos se eles
primeiramente se convertessem ao judaísmo. Após acalorada discussão entre Paulo e esse grupo, decidiu-
se enviar um grupo a Jerusalém para que a questão fosse resolvida na presença dos líderes da igreja. A
vinda de Paulo, Barnabé e outros a Jerusalém ensejou o chamado concílio de Jerusalém, a primeira
reunião formal da história eclesiástica.

2. O testemunho de Pedro

Havendo grande discussão em torno da questão, seria natural que os apóstolos tomassem a palavra para
direcionar o debate. Pedro foi o primeiro. Ele foi enfático ao relembrar que muito tempo antes Deus o havia
escolhido para pregar o evangelho aos gentios – uma clara referência a sua experiência na casa de
Cornélio (At 10). Embora o encontro houvesse ocorrido havia algum tempo, provavelmente mais de dez
anos, a experiência havia deixado uma impressão indelével no apóstolo. Deus havia aberto as portas para
os gentios e eles também poderiam ser incorporados à fé. Pedro aprendeu naquela ocasião que Deus não
faz acepção de pessoas; ao contrário, em qualquer nação, aquele que O teme pode ser aceito (cf. At
10:34, 35). Segundo o apóstolo, uma prova disso foi que naquele mesmo momento o Espírito foi
derramado sobre os gentios, exatamente como havia acontecido com os apóstolos (At 10:45). Para Pedro,
a questão era óbvia: Se Deus havia aceitado os gentios da casa de Cornélio por meio da fé, sem a
circuncisão, por que a igreja deveria colocar esse fardo sobre os demais gentios?

3. O parecer de Tiago

Ao final do discurso de Pedro, Paulo e Barnabé se pronunciaram, relatando aquilo que eles haviam
testemunhado no campo missionário. Terminado o relato, foi a vez de Tiago, o próprio irmão de Jesus,
emitir seu parecer. Em suma, ele seguiu a mesma posição de Pedro, mas com uma abordagem diferente.
Enquanto o argumento de Pedro centrou-se primariamente na sua experiência pessoal na casa de
Cornélio, Tiago recorreu às Escrituras, conferindo solidez bíblica à compreensão de Pedro.

Valendo-se de conceitos do Antigo Testamento, Tiago argumentou que a adesão de gentios à fé


demonstrava o interesse de Deus em constituir um povo (laos) para o Seu nome (At 15:14). O uso do termo
laos, que era geralmente aplicado a Israel, para falar dos gentios, demonstra a visão mais inclusiva de
Tiago. Em Zacarias 2:11, a Septuaginta (tradução grega do AT) também aplica o termo laos aos gentios que
no dia final viriam para habitar em Sião e seriam parte do povo de Deus. Ao citar outros textos dos profetas
como Amós 9:11, 12, e mesmo Zacarias 2:11, Tiago deixou evidente que a inclusão de gentios ao povo de
Deus tinha embasamento escriturístico e, portanto, não deveria haver obstáculos desnecessários para a
adesão deles. No entanto, tendo em vista que os gentios conversos passariam agora a se relacionar com
os outros membros da comunidade de fé, especialmente os de origem judaica, e que havia a necessidade
de romper completamente com o contexto pagão do qual eles vinham, Tiago propôs que os gentios se
abstivessem de quatro coisas: (1) consumo de carne oferecida a ídolos em rituais pagãos; (2) consumo de
sangue; (3) uso de carne de animais estrangulados; e (4) prática de relaxões sexuais ilícitas.

II. O resultado do concílio (At 15:6-35)

Tiago havia proposto uma solução adequada que não colocaria em risco a missão gentílica nem a
comunhão entre cristãos judeus e gentios. Na realidade, a decisão alcançada sob a orientação do Espírito
Santo (At 15:28) foi um reflexo dos regulamentos encontrados em Levítico 17–18 sobre estrangeiros
residentes – estrangeiros que escolhessem morar em Israel. Seguir essas regulamentações significava que
os estrangeiros haviam renunciado ao paganismo (Lv 18:30), e essa certamente foi a questão central por
trás da decisão do concílio. No mundo greco-romano, o paganismo permeava quase todos os aspectos da
vida, e assim, como no antigo Israel, qualquer gentio que quisesse se unir à igreja teria que tomar uma
posição clara contra isso. No entanto, esse era apenas o começo da vida como cristão. Uma vez tomada a
decisão de abrir mão de todas as convenções e contaminações pagãs e seguir a Jesus, o crente deveria
viver uma vida segundo a vontade de Deus (Rm 6:15-19, 22; Tt 2:11, 12). Com os estrangeiros no antigo
Israel, não era diferente. Uma vez admitidos na comunidade, eles deveriam guardar o sábado (Êx 20:10;
23:12; Dt 5:14), participar das festividades religiosas (Dt 16:11, 14) e jejuar no Dia da Expiação (Lv 16:29).
Eles podiam inclusive entrar na relação de aliança com Deus (Dt 29:10-15; 31:12) e oferecer holocaustos
(Lv 17:8; 22:18; Nm 15:14-16). Em suma, eles, não menos que os israelitas, deveriam ser leais a Deus (Lv
20:2; cf. Ez 14:6-8).

1. A decisão dos apóstolos

Todas as partes parecem ter ficado satisfeitas com a sugestão de Tiago (At 15:22). Assim, a igreja decidiu
redigir uma carta descrevendo a solução encontrada e enviar dois delegados de Jerusalém junto com
Paulo e Barnabé para notificar a igreja de Antioquia. Os delegados foram Judas, chamado Barsabás, e
Silas, alguém que se tornaria ajudante de Paulo posteriormente (At 15:40; 2Co 1:19). Ambos os
representantes eram homens extremamente virtuosos (v. 22, 32), que possuíam a confiança necessária
para cumprir essa missão.

2. A carta de Jerusalém

Os versos seguintes (v. 23-29) apresentam o conteúdo da carta. Ela foi escrita em estilo formal, seguindo a
introdução típica das cartas greco-romanas. Primeiro uma referência aos remetentes, depois aos
destinatários, e em seguida uma saudação habitual. A mensagem em si apenas reproduziu em palavras a
decisão alcançada em comum acordo pela igreja. Para obter o status de membro, os gentios deveriam se
abster de quatro práticas que demonstravam sua renúncia ao paganismo (ver acima).

3. A reação da igreja

Após a chegada da comitiva de Jerusalém, a igreja foi reunida e a carta foi lida na presença de todos. A
reação da comunidade de Antioquia foi bastante positiva. Ao tomarem conhecimento da resolução do
concílio, os cristãos se regozijaram pelo conforto recebido (v. 31), pois sua prática de aceitar os gentios
sem exigir deles a circuncisão e outras obrigações cerimoniais havia sido sancionada pela igreja de
Jerusalém. A resolução final alcançada pelo concílio foi, sem dúvida, um importante avanço na
compreensão soteriológica da igreja primitiva, mas o problema era por demais complexo para ser resolvido
nas poucas linhas de uma carta. Dificuldades relacionadas a esse assunto logo viriam à tona novamente
(cf. At 21:20-25; Gl 2:11-14), o que exigiria de Paulo uma forte reação em suas cartas (cf. Gl 1:9; 3:1; Ef
2:11-14; Fp 3:2; Tt 1:10-12).

Conclusão

Pontos a ser enfatizados em classe:

– A controvérsia em torno da circunicisão

– A decisão de resolver problemas em conjunto

– A salvação pela graça

– A validade dos requisitos solicitados aos gentios

– A forte condenação Paulina à visão da salvação pelas obras

Lição 9: 25 de Agosto a 1º de Setembro

A segunda viagem missionária


Autor: Wilson Paroschi

Professor de Novo Testamento

Southern Adventist University

Collegedale, TN, EUA

Editor: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br

Revisora: Josiéli Nóbrega

Esboço da lição da semana

I. O desentendimento entre Paulo e Barnabé (At 15:36-41)

II. De volta à Galácia (At 16:1-5)

III. Paulo em Macedônia (At 16:6–17:14)

IV. Paulo em Atenas e Corinto (At 17:15–18:22)

I. O desentendimento entre Paulo e Barnabé (At 15:36-41)

A leitura da carta de Jerusalém com a decisão do concílio a respeito dos gentios (At 15:22-29) trouxe um
enorme conforto e regozijo aos crentes de Antioquia (v. 31). A decisão não só validava, por assim dizer, a
conversão dos gentios locais como também representava um incentivo para que Paulo continuasse com
suas viagens missionárias. Foi nesse contexto que o apóstolo convidou Barnabé a visitar os irmãos por
eles batizados em sua primeira viagem juntos (v. 36). Isso demonstra a preocupação de Paulo com os
novos conversos.

Na primeira viagem, João Marcos, primo de Barnabé (Cl 4:10), havia acompanhado os missionários na
primeira parte da viagem, mas logo desistiu e voltou para Jerusalém (At 13:13). Como Barnabé quisesse
outra vez levar o primo, Paulo não julgou “justo levarem aquele que se havia afastado desde a Panfília, não
os acompanhando no trabalho” (15:38), e por isso eles se desentenderam a ponto de se separarem (v. 39).
Paulo talvez tenha sido duro demais com o jovem, mas, alguns anos mais tarde, ele parece ter se
reconciliado com Marcos, chegando a declarar que ele lhe era útil ao ministério (2Tm 4:11). Deus nos dá
inúmeras chances. O que isso nos ensina sobre como deveríamos agir em relação aos outros?

A separação entre Paulo e Barnabé produziu pelo menos um resultado positivo: eles duplicaram os
esforços. Barnabé, acompanhado de Marcos, foi para Chipre, o primeiro destino da viagem anterior (At
15:39), ao passo que Paulo foi para as regiões da Síria e Cilícia (v. 41), convidando Silas para que fosse
com ele (v. 40). A passagem pela Cilícia parece ter sido rápida e serviu para que Paulo visitasse os crentes
que ele havia deixado nos seis anos em que ali estivera desde que fugiu de Jerusalém (9:30) até que
Barnabé o convidou para trabalharem juntos em Antioquia (11:25, 26).

II. De volta à Galácia (At 16:1-5)

O primeiro episódio mencionado por Lucas nessa segunda viagem foi em Listra, uma das cidades da
Galácia. Ali, Paulo conheceu um jovem cristão chamado Timóteo, muito apreciado por sua fé e dedicação,
e o convidou para que se juntasse a ele (At 16:1-3). A circuncisão de Timóteo pode parecer
condencendência do apóstolo e uma negação do próprio evangelho que pregava, mas a verdade é que,
sendo filho de mãe judia, Timóteo era judeu e, portanto, deveria ser cincuncidado para que sua presença
não escandalizasse os judeus das sinagogas por onde o grupo passaria. Um judeu incircunciso seria
expulso da sinagoga e tratado como traidor.

A razão pela qual Timóteo não havia sido cincuncidado quando criança foi o fato de que seu pai era grego
(v. 3). Na cultura greco-romana, a circuncisão era vista com repúdio, uma mutilação do que consideravam
uma forma perfeita. Foi por esse motivo que muitos gentios frequentavam as sinagogas, adoravam o Deus
de Israel, mas sem chegarem ao ponto da circuncisão. Cornélio foi um desses (10:1, 2). Paulo rejeitava a
circuncisão como pré-requisito para a salvação (Rm 3:28-29; 4:9-12; Gl 5:2, 3, 11), mas não via problemas
em aceitá-la por razões práticas, para que não fosse um impedimento à pregação do evangelho entre os
judeus. O que podemos negociar e o que não podemos negociar ao tentar converter outras pessoas?

III. Paulo na Macedônia (At 16:6–17:14)

Uma vez na Galácia, Paulo faz planos de visitar lugares novos, como a Ásia (At 16:6) e a Bitínia (v. 7), mas
foi induzido pelo Espírito a seguir em outra direção (v. 8). Às vezes, podemos fazer planos e pensar que
estamos fazendo a coisa certa, mas os propósitos de Deus podem ser outros. Até que ponto estamos
dispostos a permitir que Ele nos guie e que a vontade Dele se cumpra em nossa vida?

Em Trôade, numa visão noturna (v. 9), Deus orientou Paulo e sua equipe a seguir até a Macedônia, que
ficava ao noroeste, do outro lado do Mar Egeu (v. 10). E foi assim que o apóstolo chegou ao que hoje é a
Europa.

1. Filipos (At 16:6-40)

Na Macedônia, a primeira parada mais importante do apóstolo foi em Filipos, onde ele, seus auxiliares e
um pequeno grupo de fiéis foram num sábado à beira de um rio para adorar (v. 13). Ouvimos, às vezes, que
Paulo ia aos sábados às sinagogas por razões puramente evangelísticas, mas esse episódio em Filipos
demonstra que a aparente falta de uma sinagoga na cidade não impediu o apóstolo de, no sábado,
procurar um lugar tranquilo para que pudesse adorar a Deus.

Também em Filipos, temos a conhecida história da conversão do carcereiro (At 16:27-34). Àqueles que
defendem a ideia de que basta crer em Jesus para ser batizado, convém lembrar que o relato de Lucas é
breve demais para se estabelecer qualquer conclusão definitiva. E se o carcereiro também fosse um judeu,
um prosélito (gentio convertido ao judaísmo), ou um temente a Deus (como no caso de Cornélio)? Só lhe
faltaria mesmo aceitar Jesus como Salvador pessoal. E se ele, de alguma forma, já houvesse sido
alcançado pela pregação de Paulo ali? Note que, quando isso aconteceu, Paulo já estava em Filipos havia
algum tempo (v. 18). Interessados na fé devem ser devidamente instruídos para que o batismo não seja
banalizado, o nome de Deus desonrado e a igreja enfraquecida pelo ingresso de pessoas despreparadas e
incapazes de viver à altura do chamado divino.

2. Tessalônia e Bereia (At 17:1-14)

Em seguida, Paulo foi a Tessalônica, cidade mais importante da Macedônia. Depois de algumas semanas
de trabalho (At 17:2), muitos judeus rejeitaram sua pregação e se opuseram a ele de tal modo que ele foi
forçado a seguir para Bereia (v. 5-9). Em Bereia, a reação inicial foi muito positiva (v. 11, 12), mas o fim da
história não foi muito diferente da de Tessalônica (v. 13, 14). A disposição dos bereanos de avaliar pelas
Escrituras a mensagem de Paulo é digna de louvor e imitação (v. 11), mas nem isso importa se essa atitude
não for acompanhada da decisão de aceitar a graça de Deus.

IV. Paulo em Atenas e Corinto (At 17:15–18:22)

Tendo deixado Bereia às pressas, Paulo se dirigiu a Atenas, na província da Acaia, ao sul da Macedônia (At
17:15).

1. Atenas (At 17:15-34)

Uma vez em Atenas, berço da cultura e um dos centros da religião grega, Paulo se mostrou tão
inconformado com o paganismo reinante que decidiu manter dois pontos de pregação, por assim dizer:
aos sábados, na sinagoga local, e os demais dias em praça pública.

Sua mensagem chamou a atenção de alguns nobres da cidade e Paulo foi convidado a falar no Areópago,
o principal conselho da cidade. Ali, o apóstolo teve que adotar uma estratégia diferente. Em vez de usar as
Escrituras hebraicas, como fazia nas sinagogas, ele falou do verdadeiro conhecimento de Deus de uma
forma um pouco mais filosófica (v. 22-31). Mesmo assim, sua mensagem quase não surtiu efeito. Poucos
foram os que se mostraram interessados em saber mais acerca do assunto (v. 32-34). Os membros do
conselho eram pessoas estudadas, da aristocracia ateniense, e bastante secularizadas. Tais pessoas são
sempre mais difíceis de alcançar. Como regra, são mais céticas e autossuficientes. Mas, mesmo assim,
precisam ouvir o evangelho. Como testemunhas de Jesus, não devemos ir somente aonde teremos
melhores resultados. Deus não faz acepção de pessoas (At 10:34, 35).

2. Corinto (At 18:1-22)

Corinto era um dos mais importantes centros pagãos do mundo mediterrâneo, com muitos templos
dedicados a deuses e cultos os mais variados. Na antiguidade, o paganismo estava em todos os aspectos
da vida. A religião permeava todas as atividades, desde simples refeições, que eram com frequência
dedicadas a deuses pagãos, a festividades e até os jogos olímpicos. E junto com o paganismo vinha a
imoralidade. Muitos cultos antigos eram dedicados à fertilidade, cujos rituais envolviam orgias sexuais com
prostitutas que atuavam como uma espécie de sacerdotisas sagradas. Os desafios de Paulo ali eram
enormes, e por isso ele ficou em Corinto por um ano e meio (At 18:11), mais tempo que em qualquer outra
cidade até então.

E para tornar as coisas ainda mais difíceis, Paulo teve a oposição dos judeus locais, que denunciaram as
atividades do apóstolo às autoridades locais como sendo contrárias à lei (v. 12, 13). Mas, em Corinto,
Paulo fundou uma de suas principais igrejas, apesar de seus muitos problemas, como pode ser visto em
suas cartas a essa igreja (1–2 Coríntios). Como vimos, não era fácil tornar um pagão num cristão fiel. Deus,
porém, é poderoso e não devemos recuar diante de desafios assim.

Conclusão

Pontos a ser enfatizados em classe:

– A controvérsia entre Paulo e Barnabé como evidência da dureza do coração humano.

– A duplicação dos esforços missionários de ambos. Deus pode usar mesmo nossos erros para alcançar
Seus propósitos soberanos, embora isso não nos isente da nossa responsabilidade.

– A necessidade de nos submetermos à guia do Espírito, como aconteceu com Paulo.

– A resistência dos judeus ao evangelho e sua aceitação pelos gentios.

– O uso de diferentes estratégias, como em Atenas, para alcançar grupos diferentes.

– A necessidade de testemunhar e pregar mesmo quando os resultados não são aqueles que esperamos.

Lição 10: 1º a 8 de setembro

A terceira viagem missionária


Autor: Rafael Krüger

Pastor distrital

Munique, Alemanha

Supervisor: Wilson Paroschi

Professor de Novo Testamento

Southern Adventist University

Collegedale, TN, EUA

Editor: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br

Revisora: Josiéli Nóbrega

Esboço da lição da semana

I. Empenho contínuo (At 18:23)



II. Um novo batismo? (At 18:24–19:7)

III. Perigo iminente (At 20:29, 30)

IV. Verdades do evangelho (At 19:18-20)

Empenho contínuo (At 18:23)

Em suas viagens missionárias, Paulo não apenas pregava o evangelho para não cristãos; ele também
acompanhava o desenvolvimento espiritual dos novos conversos e da igreja como um todo. O apóstolo fez
isso quando, ao voltar para Antioquia no final de sua primeira viagem, passou por cidades em que havia
pregado no início de sua jornada “fortalecendo a alma dos discípulos” (At 14:21, 22). Sua segunda viagem
começou com o propósito de ver como estavam “os irmãos por todas as cidades nas quais” ele havia
anunciado “a Palavra do Senhor” (At 15:36; cf. vs. 41). Algo semelhante ocorreu no seu terceiro
empreedimento missionário, quando ele “saiu, atravessando sucessivamente a região da Galácia e Frígia,
confirmando todos os discípulos” (At 18:23).

Para refletir: Quanto de nossas energias está sendo empregado para o evangelismo? E quanto de nossas
forças é usado para a manutenção dos novos crentes?

Um novo batismo? (At 18:24–19:7)

Lucas abre um parêntese na jornada missionária de Paulo para apresentar Apolo, judeu helenista que se
havia convertido aos ensinos de Jesus. Embora não seja possível afirmar quando Apolo se tornou cristão,
há indícios de que ele não seria recém-converso. Afinal, além de ter conhecimento preciso a respeito de
Jesus, ele tinha ouvido falar apenas do batismo de João (At 18:25), o que sugere que ele tinha se
convertido antes do derramamento do Espírito Santo no Pentecostes. Isso, por sua vez, explica o motivo
pelo qual Priscila e Áquila tiveram que explicar a Apolo detalhes sobre “o caminho de Deus” (At 18:26).

Embora Apolo seja mencionado em algumas ocasiões nas cartas paulinas, todas as referências são
posteriores ao relato de Atos 18:24–19:1. Sua menção, no entanto, não é sem propósito para o enredo do
livro. Além de apresentar um pouco da história de um importante evangelista da igreja primitiva (cf. 1Co
1:12; 3:4), o relato serve também de guia para a narrativa seguinte, que discorre sobre o encontro de Paulo
com cerca de doze discípulos (At 19:1-7).

Há semelhanças entre esse grupo de discípulos e Apolo. Primeiramente, ambos viveram ao menos um
tempo em Éfeso (At 18:24; 19:1). Em segundo lugar, todos eles eram discípulos de Jesus. Por fim, tanto
Apolo quanto os discípulos receberam o batismo de João. Há, todavia, uma importante diferença entre as
duas histórias. Se por um lado Apolo não passou novamente pelas águas, por outro, o novo batismo dos
doze discípulos é parte vital no relato seguinte. Mas, por que há essa diferença se todos receberam o
mesmo batismo?

A resposta para essa pergunta passa pelo momento histórico em que o batismo de João foi aplicado.
Como já mencionado, as evidências indicam que Apolo foi batizado antes do Pentecostes, assim como
Jesus e Seus discípulos. Nesse tempo, o batismo de João era o único existente e válido e, portanto, Apolo
não precisaria descer novamente às águas (como também os discípulos de Cristo não precisaram). Após o
Pentecostes, porém, o batismo passou a ser em nome de Jesus e a estar associado com o dom do
Espírito (At 2:38; 8:14-17; 10:47, 48). A partir de então, o batismo de João (apenas) não deveria ser
aplicado aos novos conversos. O fato de que os discípulos de Éfeso passaram uma segunda vez pelas
águas parece indicar que eles tenham recebido o batismo de João após o Pentecostes.

É válido observar que o ocorrido com os discípulos de Éfeso não é um rebatismo no sentido estrito do
termo, mas sim o primeiro batismo válido que eles receberam. Algo semelhante ocorre quando alguém
batizado por aspersão se torna adventista. Essa pessoa necessariamente precisa ser batizada por imersão.
Note: isso não é um rebatismo. É seu primeiro batismo seguindo a norma bíblica para essa cerimônia.

Para refletir: Diferentemente de nós, os doze discípulos que Paulo encontrou em Éfeso ainda não tinham
ouvido falar sobre o Espírito Santo. Seja honesto e responda: haveria alguma diferença na sua vida se você
também não conhecesse o Espírito Santo? Em outras palavras: quanto de espaço você tem dado para o
Espírito atuar em sua vida? Qual é a importância Dele na sua vida?

Verdades do evangelho (At 19:18-20)

O evangelismo entre os gentios pagãos não era uma tarefa simples. Afinal, havia várias barreiras que
dificultavam a compreensão e aceitação do evangelho entre esse grupo. Presumivelmente, os gentios
tinham noções antagônicas em relação ao cristianismo. Por exemplo, eles eram politeístas e alheios ao
conceito da graça imerecida. Além disso, de modo geral os não judeus desconheciam o Antigo
Testamento, o que dificultava a apresentação de Jesus como o Messias prometido das Escrituras.

Apesar dessas e ainda outras dificuldades religiosas e éticas, é possível observar no relato de Atos que
Paulo não alterou o evangelho para que fosse mais palatável ou ainda mais aceitável aos gentios. Se por
um lado é possível ver o apóstolo usando conceitos conhecidos entre seus ouvintes para facilitar a
compreensão da mensagem, como no caso de Atenas (cf. At 17:23, 28), por outro nota-se claramente que
os conceitos cristãos se mantiveram inalterados. Os pagãos deveriam abandonar a idolatria (1Co 10:14;
Rm 1:22, 23), o misticismo e a magia (At 19:19), e todos eram chamados para se converterem ao Senhor e
servir “o Deus vivo e verdadeiro” (1Ts 1:9).

Para refletir: Um extremo é se tornar intolerante com aqueles que pensam de maneira diferente e
apresentar um evangelho incompreensível para aqueles que nao têm familiaridade com as Escrituras. O
outro é ser negligente com a verdade para ser aceito e distorcer o evangelho com o intuito de traduzi-lo.
Tenha cuidado para não cair para nenhum desses lados.

Perigo iminente (At 20:29, 30)

Antes de concluir sua terceira viagem missionária, Paulo convidou a liderança da igreja de Éfeso para uma
última conversa. Em sua fala, o apóstolo convocou os presbíteros para vigiar e cuidar do rebanho que Deus
lhes havia confiado. Esse chamado de Paulo não foi sem um claro motivo. Segundo o apóstolo, após sua
partida se levantariam pessoas como “lobos ferozes […] que [torceriam] a verdade, a fim de atrair os
discípulos” (At 20:29, 30, NVI).

Falsos ensinos e heresias não foram um desafio somente para a igreja em Éfeso. Desde o início, a igreja
primitiva precisou lidar com problemas teológicos e doutrinários. Talvez a questão da circuncisão e o papel
da lei na salvação sejam os pontos mais conhecidos atualmente (At 15:1; Rm 3:28). Havia, porém, ainda
outras heresias que apareciam na igreja, tais como a angelolatria (Cl 2:18), docetismo (1Jo 4:1-3),
ascetismo (Cl 2:20-23; 1Tm 4:3-4), entre outras.

Hoje, a igreja cristã também se encontra em perigo frente a uma enorme gama de doutrinas que contraria
os ensinos bíblicos. Para lidar com esse desafio é importante ter unidade de fé, conhecimento de Cristo e
maturidade espiritual (Ef 4:13). Esses são alguns aspectos que Paulo apresentou à igreja de Éfeso anos
mais tarde, “para que [eles] não mais [fossem] como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao
redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro” (v.
14).

Para refletir: Você está bem firmado no conhecimento bíblico? Será que ao menor sinal de brisa de
doutrina, para usar a linguagem paulina, a sua fé treme?

Conclusão

Pontos a ser enfatizados em classe:

– A necessidade de acompanhar os novos conversos.

– A diferença entre o batismo de João que Apolo e os discípulos de Éfeso receberam.

– A firmeza e tato de Paulo ao anunciar o evangelho.

– A existência de desafios doutrinários/teológicos na igreja primitiva e na atual.

Lição 11: 8 a 15 de setembro

Prisão de Paulo em Jerusalém


Cristian Piazzetta

Capelão da Escola Adventista

Cachoeirinha, RS

Supervisor: Wilson Paroschi

Professor de Novo Testamento

Southern Adventist University

Collegedale, TN, EUA

Editor: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br

Revisora: Josiéli Nóbrega

Esboço da lição da semana

I. A chegada de Paulo (At 21:17-26)

O encontro com os líderes

O relatório de Paulo

A crítica dos presbíteros

A proposta dos líderes de Jerusalém

A fraqueza de Paulo

II. A prisão de Paulo (At 21:27–23:35)

Tumulto no templo

A detenção de Paulo

A defesa de Paulo

Perante o Sinédrio

Transferência para Cesareia

I. A chegada de Paulo (At 21:17-26)

Chegamos à última seção de Atos. No final de sua terceira viagem missionária, Paulo se propôs a visitar
Jerusalém, possivelmente para entregar as ofertas coletadas nas igrejas gentílicas. Infelizmente, o que era
para ser uma ocasião festiva, representou o fim da liberdade do apóstolo. Em Jerusalém, Paulo se deparou
com um rumor de que seu ministério não era benquisto pelos judeus. Tal oposição resultaria no seu
aprisionamento e num longo período de julgamentos. A despeito da situação, Deus ainda tinha planos com
Paulo, e aquilo que parecia uma tragédia, acabou de alguma forma colaborando para que o evangelho
chegasse até os confins da terra.

1. O encontro com os líderes

A recepção de Paulo em Jerusalém foi calorosa (At 21:17). O texto não mostra claramente quem
exatamente compunha esse grupo que o recebeu. Possivelmente, fossem crentes helenistas associados a
Mnason, um discípulo natural de Chipre, talvez conhecido de Barnabé, com quem o apóstolo se
hospedaria (v. 16). A alegre recepção de Paulo se assemelha à boa acolhida que ele tinha recebido antes
do Concílio de Jerusalém (At 15:4). No entanto, dificuldades relacionadas aos gentios logo viriam à tona.

2. O relatório de Paulo

Paulo novamente fez questão de relatar o sucesso da missão gentílica. Lucas não nos conta o que
exatamente Paulo destacou, mas é provável que ele tenha contado do período de três anos em que
estivera em Éfeso (At 20:31) e das várias experiências que havia passado ali (At 19:8-41). Embora
entusiasmados com as boas notícias, os líderes de Jerusalém não estavam à vontade. Havia um problema,
o qual os levou a criticar o ministério de Paulo, bem como propor uma solução para diminuir a tensão.

3. A crítica dos presbíteros

Os líderes de Jerusalém estavam preocupados com a reputação de Paulo (ou talvez com os padrões da
igreja por eles defendidos). O problema era o boato de que Paulo aconselhava os judeus da diáspora a
apostatarem de Moisés e abandonar as práticas de seus ancestrais (At 21:21). É evidente que as
acusações eram falsas. O que o apóstolo afirmava era apenas que, em termos de salvação, nem a
circuncisão nem a incircuncisão eram coisa alguma, pois todos são igualmente salvos pela fé (Rm 2:28; Gl
5:6). A repetição dessa antiga crítica demonstra que o Concílio de Jerusalém não havia resolvido
completamente a questão do preconceito judaico. Na verdade, essa questão ainda custaria a liberdade de
Paulo.

4. A proposta dos líderes em Jerusalém

A recomendação foi que Paulo provasse que ainda era um judeu fiel. Havia ali outros judeus que estavam
sob o juramento de nazireu. Ao finalizar o período, que durava trinta dias, esperava-se que o participante
raspasse seu cabelo e o queimasse em holocausto (Nm 6:18). Além disso, era exigido que alguns animais
fossem oferecidos em sacrifício (um cordeiro, uma cordeira e um carneiro), além da oferta de manjares
(cereais) e libação de azeite (Nm 6:14, 15). Evidentemente, tomar tal voto envolvia um alto custo financeiro.
A sugestão, então, foi que Paulo se unisse àqueles homens e bancasse tais gastos. Ao assim fazer, estaria
demonstrando sua lealdade à lei (Torah) e a improcedência dos rumores a seu respeito.

5. A fraqueza de Paulo

Infelizmente, ao acatar a recomendação dos líderes de Jerusalém, Paulo comprometeu a mensagem na


qual acreditava e que era o centro de sua pregação. Sua intenção parece ter sido boa. Nas palavras de
Ellen G. White, ele “acreditava que, se por alguma concessão razoável pudesse ganhá-los para a verdade,
removeria um grande obstáculo ao êxito do evangelho em outros lugares. Não se achava, porém,
autorizado por Deus para ceder tanto quanto eles pediam.”

II. A prisão de Paulo (At 21:27–23:35)

O tiro saiu pela culatra, por assim dizer. Seu erro ao tentar corrigir um problema inexistente (a alegação de
que ensinava os judeus cristãos a se apostatarem de Moisés) precipitou um grande tumulto no pátio do
templo que acabou culminando com sua detenção, o que daria início a várias sessões de julgamento que
se estendem praticamente até o fim do livro de Atos.

1. Tumulto no templo

O voto do nazireado requeria uma purificação no terceiro e no sétimo dias (Nm 19:12). Paulo
provavelmente estivesse voltando ao templo no último dos sete dias para completar o ritual, mas ao ser
identificado por um grupo de judeus provenientes da Ásia, um grande alvoroço teve início. A acusação era
que ele havia introduzido no templo a Trófimo, gentio cristão de Éfeso, onde Paulo estivera por três anos
em sua viagem recente. A nenhum gentio era permitido adentrar ao pátio interior do templo. A reação foi
imediata. Os gritos enfurecidos da multidão ecoavam as mesmas palavras que haviam sido proferidas
contra Estevão: “Este homem não cessa de falar contra o lugar santo e contra a lei” (At 6:13). Obviamente
a acusação era infundada, pois Lucas indica que Paulo e Trófimo haviam sido avistados junto na cidade,
não no templo. Mas, não havia tempo para explicações. Paulo teria que arcar com o custo de sua
associação com os gentios. A ironia é que Paulo estava no templo justamente para realizar sua própria
purificação, mas nesse momento foi acusado de havê-lo contaminado.

2. A detenção de Paulo

A vida de Paulo estava por um triz. Não fosse a intervenção do comandante romano, o apóstolo
dificilmente teria sobrevivido. O relato sugere que Cláudio Lísias tomou cerca de duzentos soldados para
tentar sufocar a revolta (At 21:32). Sendo Paulo o objeto principal da ira da multidão, foi natural a ordem de
que ele fosse preso, acorrentado e recolhido à fortaleza romana, que ficava na parte norte do templo. O
apóstolo permaneceria preso até o final do relato de Atos, um período que durou quase cinco anos.

3. A defesa de Paulo

Diante de tamanha injustiça, é natural que Paulo tivesse solicitado o direito de defesa. Impressionado com
a habilidade do apóstolo de falar em grego e assegurado de que ele não era um dos vários revolucionários
que causavam tumultos na cidade (At 21:36-39), Lísias concedeu ao apóstolo a oportunidade de falar em
defesa própria. Paulo recorreu à sua própria experiência de conversão, relatando seu antigo zelo judeu e
como ele havia sido comissionado pelo Jesus ressurreto. Até esse ponto, a multidão o ouvia atentamente.
Mas, ao mencionar sua missão aos gentios (At 22:21), a multidão ficou ainda mais irritada desejando tirar-
lhe a vida. A ira dos judeus motivou Lísias a levar Paulo novamente à fortaleza para o interrogar por meio
de açoites. Quanto a isso, Paulo foi incisivo, pois ele possuía cidadania romana e não podia ser submetido
a esse tipo de tortura (v. 25-29).

4. Perante o Sinédrio

Incapacitado de certificar-se das acusações dos judeus, Lísias decidiu entregar Paulo à corte de
julgamento judaica, o Sinédrio. Em seu discurso, Paulo procurou enfatizar que a real motivação por trás
das acusações era a sua esperança na ressureição dos mortos (At 23:6). Tendo em vista que o Sinédrio era
composto por fariseus, que criam na ressurreição, e saduceus, que não criam, uma nova confusão se
formou. A disputa tornou-se tão violenta que Lísias teve que intervir, levando Paulo de volta à fortaleza. No
entanto, mais confortante do que intervenção do comandante, foram as palavras do próprio Senhor
dirigidas ao apóstolo (v. 11). Deus estava cuidando de Paulo e ainda o usaria poderosamente!

5. Transferência para Cesareia

O encorajamento divino veio num momento oportuno, pois logo em seguida o apóstolo enfrentaria a
conspiração de um grupo de quarenta judeus que se uniram sob juramento de nada comer nem beber
enquanto Paulo não estivesse morto (At 23:12, 13). Providencialmente, a trama chegou ao conhecimento
de Paulo, por meio de seu sobrinho (v. 16), e ele prontamente tratou de informar ao comandante para que
sua vida fosse preservada. O apóstolo seria então enviado para Cesareia, a capital da província e um local
mais seguro e apropriado para o seu julgamento.

Conclusão

Pontos a ser enfatizados em classe:

– As circunstâncias da prisão de Paulo e a própria contribuição do apóstolo para que isso acontecesse.

– A experiência pessoal utilizada por Paulo em sua defesa.

– A hostilidade dos judeus para com Paulo.

– O plano que Deus ainda tinha para o apóstolo.

Lição 12: 15 a 22 de setembro

Detenção em Cesareia
Rafael Krüger

Pastor distrital

Munique, Alemanha

Esboço da lição da semana

I. As acusações contra Paulo (At 24:20, 21)

II. Porque Ele vive (At 24:15, 16)

I. As acusações contra Paulo (At 24:20, 21)

Desde sua breve estadia em Jerusalém até o fim de seu aprisionamento em Cesareia (At 21:17–26:32),
Paulo foi vítima de diversas acusações. Entre elas, o livro de Atos relata as seguintes: (1) ensinar que os
judeus deveriam se afastar de Moisés, da circuncisão e dos costumes da lei (21:21); (2) ensinar todos a ser
contra o povo de Israel, a lei e o Templo (At 21:28); (3) profanar o Templo (At 21:28; 24:6); (4) provocar
confusões entre os judeus de todo o mundo (At 24:5). Há ainda outras denúncias que não foram
detalhadas por Lucas (At 25:7). As alegações, porém, eram inverídicas e não podiam ser provadas (At
24:13; 25:7). É válido, então, questionar: Por que Paulo foi acusado falsamente? Qual era a razão pela qual
alguns judeus tinham tanto ódio dele?

1. O motivo para as acusações

Há ao menos dois motivos para que falsas acusações tenham sido levantadas contra Paulo. Um deles é
que, ao menos em parte, os delatores criam que as denúncias eram verdadeiras. A atitude da liderança da
igreja cristã para com Paulo, por exemplo, parece indicar que o boato de que o apóstolo era contrário a
Moisés e à lei era tido como verdadeiro (At 21:20-24). Além disso, como Paulo foi visto andando com
Trófimo, que era gentio, havia ao menos uma possibilidade de que o apóstolo o tivesse levado para dentro
do Templo (At 21:29). De qualquer forma, o boato e o indício não deveriam ser aceitos antes de passarem
por um juízo honesto e imparcial.

Outra razão para as falsas acusações era o desejo já existente de matar Paulo. Durante o ministério do
apóstolo, é possível encontrar situações em diversos lugares em que ele foi vítima de conspirações e
tentativas de assassinato por parte de seus compatriotas judeus (At 9:23; 13:50; 14:5; 17:13; 23:12). Na
Ásia, por exemplo, última região em que trabalhou antes de voltar a Jerusalém, ele passou pelas “ciladas
dos judeus” (At 20:19). Embora nem Paulo nem Lucas detalhem quais ciladas foram essas, elas
provavelmente foram formuladas para tirar a vida do apóstolo. Afinal, foram judeus dessa região que
inicialmente incitaram o povo para tirar a sua vida (At 21:27-31). Quanto a isso, é válido lembrar que a
chegada do apóstolo a Jerusalém provavelmente se deu na época do Pentecostes (At 20:16) e, portanto, é
possível que alguns judeus envolvidos nas ciladas estivessem em Jerusalém para celebrar a festa. Aquilo
que não conseguiram concretizar em terras gentílicas, seria teoricamente mais fácil entre o seu próprio
povo.

2. O motivo para o ódio

As acusações feitas a Paulo foram instrumentos usados para tentar matá-lo. Mas, por que ele era alvo de
tamanho ódio? O apóstolo argumentou em diferentes oportunidades que o que estava por detrás das
alegações levantadas contra ele era a sua crença na ressurreição (At 23:6; 24:20, 21; 26:6-8). É válido
observar dois aspectos sobre isso. O primeiro é que o problema não estava com a ressurreição em si.
Embora os saduceus não cressem que os mortos voltariam à vida, o que gerava conflitos dentro da
comunidade judaica (At 23:6-10; cf. Lc 20:27-39), a maior parte dos judeus cria na ressurreição, ainda que
existissem diferenças sobre o modo como esse evento se daria. A problemática, portanto, era
especificamente com a ressurreição de Jesus. Afinal, entre os acusadores de Paulo encontravam-se judeus
que, como o apóstolo, também criam na ressurreição (At 24:25).

O segundo ponto tem a ver com as implicações que a ressurreição de Jesus trazia. Uma delas é a
veracidade da fé cristã. Segundo Paulo, a ressurreição de Jesus é um ponto crucial do cristianismo (1Co
15:14). Assim, se Jesus de fato ressuscitou, não apenas o cristianismo é correto, mas o judaísmo, como
era então entendido e praticado, estava equivocado (cf. At 2:22-36; 3:13-26). Outra consequência tem a ver
com os gentios. Após a ressurreição de Jesus, os cristãos passaram gradualmente a entender que os
gentios não eram impuros e também que não precisavam se tornar judeus para ser salvos; a graça era
suficiente (cf. At 10:34-45; 11:17, 18; 15:1-29). Os gentios também passaram a ser alvo especial do
evangelismo cristão (At 1:8; 9:15). Esses aspectos, porém, eram difíceis de serem entendidos até mesmo
para os primeiros cristãos (At 11:1-3; 15:1, 5), quanto mais para os judeus nacionalistas e exclusivistas da
época. Observe, a título de exemplo, que os acusadores de Paulo chegaram à histeria quando o apóstolo
afirmou que Jesus o havia enviado “para longe, aos gentios” (At 22:21, 22; cf. 26:20, 21).

Para refletir: Apesar de ser odiado e perseguido, Paulo não desistiu de pregar o evangelho em sua
totalidade. Mesmo prisioneiro, ele continuou a fazê-lo. E hoje, quando muitas vezes a mensagem bíblica
apresenta desafios e problemas ao senso comum, o que você faz? Está disposto a ser um porta-voz da
Palavra mesmo que isso custe sua reputação?

II. Porque Ele vive (At 24:15, 16)

Mais do que apenas trazer luz teológica e missiológica, a ressurreição também apresentou para Paulo uma
nova maneira de enxergar a vida. Por exemplo, porque Jesus ressuscitou e estava vivo, o encontro na
estrada para Damasco foi possível e real (At 26:13-19). A partir dali, Paulo assumiu uma nova identidade.
Ele não era mais o perseguidor, mas o perseguido. Não era mais o acusador, mas o acusado. Ele se tornou
apóstolo do Senhor e, com isso, teve que deixar para trás coisas que antes considerava importantes, mas
que perderam o valor depois do seu chamado (Fp 3:8).

Porque Jesus estava vivo, Paulo era ousado. Ele não se intimidou por estar encarcerado e pregou para o
governador Félix e o rei Agripa. Para o governador, apresentou temas duros que o fizeram ficar apavorado
(At 24:25). Quando esteve com Agripa e Festo, não parou quando foi chamado de louco, mas prosseguiu
até deixar claro seu objetivo em ver a conversão do rei Agripa e dos demais ouvintes (26:24, 29).

Porque Jesus estava vivo, Paulo tinha segurança. O apóstolo, por exemplo, passou por fome, pobreza e
muitas outras adversidades, e ainda assim estava em paz, pois sabia que tudo podia Naquele que o
fortalecia (Fp 4:12, 13). Ele confiava que Deus o socorria quando as perseguições vinham (At 26:22). Ele
ficou dois anos preso em Cesareia, mas tinha a certeza de que finalmente iria para Roma, pois o Senhor o
havia prometido (At 23:11). Ele confiava na atuação de Jesus.

Porque Jesus estava vivo, Paulo tinha esperança. Porque Cristo é as primícias dos que dormem, o
apóstolo podia ter a esperança da ressurreição (cf. 1Co 15:20-22; At 24:15; 26:6-8). A ressurreição, por sua
vez, traz diversos aspectos positivos para a vida. Ela consola o enlutado (1Ts 4:13-18), motiva para uma
vida ética (At 24:16; 1Co 15:32-34), e concede paz e serenidade para encarar a morte. Para usar as
palavras de Paulo: “Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará
naquele Dia, e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a Sua vinda” (2Tm 4:8).

Para refletir: Como a ressurreição e a certeza de que Jesus está vivo podem mudar sua maneira de encarar
o dia a dia? Por fim, por que não terminar essa reflexão cantando o hino “Porque Ele Vive”, Hinário
Adventista, 70?

Conclusão

Pontos a ser enfatizados na classe:

- A falsidade das acusações contra Paulo

- O motivo para as denúncias em relação ao apóstolo Paulo

- A ressurreição de Jesus como tema central no cristianismo

Lição 13: 22 a 29 de setembro

Viagem a Roma
Esboço da lição da semana:

I. Início da Viagem para Roma (At 27:1-8)

II. Desfecho de Lucas-Atos (At 27:9–28:1-15)

III. Paulo em Roma (At 28:16-29)

IV. A vitória do Evangelho (At 28:30, 31)

I. Início da Viagem para Roma (At 27:1-8)

Os dois capítulos finais de Atos narram a viagem de Paulo a Roma para ter seu caso decidido perante o
tribunal de César. É evidente que o desejo do apóstolo sempre tinha sido estar na capital imperial para fins
evangelísticos (Rm 1:11; 15:23), mas diversas circunstâncias o haviam impedido de fazê-lo. Mas agora,
embora limitado por sua condição de prisioneiro, Paulo finalmente realizaria esse antigo desejo, cumprindo
assim a expectativa do próprio Jesus de que sua mensagem fosse levada até aos confins da Terra (At 1:8).

II. Desfecho de Lucas-Atos (At 27:9–28:1-15)

Paulo foi enviado a Roma com outros prisioneiros, sob custódia de um centurião chamado Júlio (At 27:1);
ele estava acompanhado por Lucas e Aristarco. A viagem é descrita com riqueza de detalhes, talvez para
aumentar a expectativa do leitor quanto ao que aconteceria com o apóstolo. No decorrer do Evangelho de
Lucas e do Livro de Atos, há paralelos interessantes entre Jesus e Paulo: ambos são presos por turbas
judaicas e, em seguida, entregues às autoridades romanas (Lc 22:47-53; 23:1-5; At 21:10, 11, 27-36);
ambos são confrontados com acusações falsas (Lc 23:1, 2; At 21:28; 24:5-9); ambos são julgados pelo
sinédrio (At 22:30–23:10), por um rei judeu (Lc 23:6-12; At 25:13–26:30) e pelo administrador romano local
(Lc 23:1-3; At 24:1-23); ambos são sentenciados a sofrer açoites em algum momento em seus julgamentos
(Lc 23:16, 22; At 22:24); ambos são considerados inocentes (Lc 23:4, 15, 20-22; At 23:29; 26:31, 32) e
ambos recebem tratamento injusto meramente por razões políticas (Lc 23:18-25; At 24:24-27; 25:6-9).
Assim, a pergunta com a qual o leitor se depara é: Paulo sofrerá o mesmo destino que Jesus e será
executado pelos romanos somente para agradar seus inimigos judeus?

Além desses paralelos, precisamos nos lembrar de que Lucas constrói sua narrativa em torno da missão
dos discípulos descrita em At 1:8: “Sereis Minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia
e Samaria e até aos confins da Terra”. Lucas mostra que, durante a viagem, um anjo informou a Paulo que
ele chegaria a Roma para testemunhar diante do imperador (At 27:24). Além do julgamento injusto ao qual
havia sido submetido, Paulo enfrenta uma tempestade marítima incrivelmente violenta (27:13-20), a fome (v.
21, 33), um naufrágio noturno (v. 39-41, 44), o desejo dos soldados de matar todos os prisioneiros (v. 42,
43), a picada de uma cobra venenosa (28:3) e o preconceito dos pagãos (v. 3-5). O ponto que Lucas está
tentando enfatizar com um relato tão dramático e detalhado é que “aconteça o que acontecer, Deus
cumprirá Seu propósito em ter Paulo pregando as boas-novas do evangelho bem no coração do império”.

III. Paulo em Roma (At 28:16-29)

Embora não conheçamos as circunstâncias que deram origem à igreja de Roma, é evidente que seus
membros tinham um considerável respeito e apreço por Paulo. Ao se aproximar da cidade, vários fiéis
foram ao seu encontro em diversos pontos da estrada (At 28:15). Talvez a mensagem de que ele estava a
caminho tenha sido transmitida antecipadamente quando o apóstolo passou a semana em Putéoli,
aproximadamente 270 km ao sul (v 13, 14). Como resultado dessa demonstração de afeto por parte de
seus amados irmãos, o apóstolo agradeceu a Deus e se sentiu profundamente encorajado a enfrentar seu
julgamento final pelo imperador (v 15).

Em seu relatório oficial a César, Festo deve ter escrito que, de acordo com a lei romana, Paulo não era
culpado de nenhum crime significativo (At 25:26, 27; cf. 23:29). Isso explica por que ele teve permissão de
alugar uma residência privada (28:30), em vez de ser enviado a uma prisão regular ou campo militar.

Logo após sua chegada, seguindo a política de ir primeiro ao judeus (At 13:5, 14; 14:1; 17:1), Paulo
convidou líderes judaicos a fim de declarar sua inocência e explicar sua prisão. Seu propósito era criar uma
atmosfera de confiança que lhe permitisse compartilhar o evangelho com eles. Intrigados pelas alegações
de Paulo, decidiram dar-lhe uma oportunidade (v. 22, 23). O resultado, como de costume, foi uma resposta
variada: alguns creram, enquanto outros não (v. 24). Para expressar seu desapontamento, Paulo citou
Isaías 6:9, 10 para transmitir o juízo de Deus sobre eles devido à sua rejeição deliberada do evangelho (v.
26, 27). Sua conclusão – de que a salvação de Deus seria então levada aos gentios (v. 28) – pode ser
facilmente mal compreendida como se os judeus não tivessem mais oportunidade de conversão. Mas essa
passagem somente reverbera declarações prévias de Paulo (At 13:46, 47; 18:6). Ao longo de suas
jornadas, ele sempre se voltava aos gentios após ter pregado aos judeus de cada localidade.

Seguindo a prática romana, Paulo permaneceu acorrentado a um soldado o tempo inteiro (At 28:16, 20) e
foi dessa maneira que ele levou adiante seu ministério, tanto escrevendo cartas – as famosas epístolas da
prisão (Efésios, Filipenses, Colossenses e Filemom) – como dando testemunho de Jesus Cristo (At 28:31).
A partir de informações em outras de suas cartas, sabemos que após esse aprisionamento de dois anos
em Roma, ele deve ter sido posto em liberdade devido à fragilidade das acusações contra ele e deve ainda
ter realizado outra viagem, provavelmente passando por Creta (Tt 1:5), Éfeso (1Tm 1:3), Colossos (Fm 22),
Trôade (2Tm 4:13), Corinto e Mileto (2Tm 4:20) e Nicópolis (Tt 3:12). No entanto, por algum motivo, ele
novamente foi preso e conduzido a Roma – o segundo aprisionamento. É nesse momento que ele declara
suas famosas palavras: “Quanto a mim, estou já sendo oferecido por libação, e o tempo da minha partida é
chegado. Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé. Já agora a coroa da justiça me está
guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos
quantos amam a Sua vinda” (2Tm 4:6-8). A tradição da igreja nos informa que Paulo foi executado alguns
anos depois desse segundo aprisionamento, em 67 d.C.

IV. A vitória do evangelho (At 28:30, 31)

Paulo finalmente foi a Roma. Apesar de sua condição de prisioneiro e da triste nota sobre a rejeição do
evangelho por parte dos judeus, a última cena de Atos é de triunfo e reafirmação (At 28:30, 31). Além de
retratar o cumprimento da promessa dada por Deus de que Paulo testemunharia de Jesus naquela grande
cidade, e até mesmo diante do imperador (At 23:11; 27:24), ela também destaca o cumprimento da missão
dada aos discípulos em Atos 1:8. Talvez seja por isso que Lucas não tenha se preocupado em mencionar a
libertação de Paulo após os dois anos de prisão. O apóstolo jamais deixou a região mediterrânea, nem
mesmo foi à Espanha, como desejava, mas o que Jerusalém representava para o mundo judaico, Roma
representava para o gentílico. Nesse sentido, ao pregar o evangelho na capital do império, Paulo havia
atingido os confins da Terra e, portanto, cumprido sua missão aos gentios. Mas, esse era apenas o
começo. Ainda havia muito a ser feito e, mesmo hoje, cada cristão tem o elevado privilégio de replicar em
seu círculo de influência aqueles esforços iniciais a fim de completar a missão da igreja.

Conclusão

Pontos a ser enfatizados em classe:

- As condições extremas da viagem de Paulo a Roma.

- O cuidado divino em permitir que ele chegasse ao seu destino.

- O desejo de Paulo de compartilhar o evangelho mesmo na prisão.

- O legado literário de Paulo em Roma: as epístolas da prisão.

- A vitória do evangelho nos trinta primeiros anos da igreja cristã.

Supervisor do comentário:

Wilson Paroschi ensinou na Faculdade de Teologia do Unasp, Engenheiro Coelho, por mais de trinta anos.
Desde janeiro deste ano, é professor de Novo Testamento na Southern Adventist University, em
Collegedale, Tennessee, Estados Unidos. Ele é PhD em Novo Testamento pela Andrews University (2004) e
realizou estudos de pós-doutorado na Universidade de Heidelberg, na Alemanha (2011).

https://mais.cpb.com.br/licao/viagem-a-roma/

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