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Tensegridade
O Corpecendo é um projeto de pesquisa que relaciona os processos da dança e do design
pelo viés do conceito de tensegridade, para colocar em um mesmo patamar ontológico
sujeito e objeto ; para dar primazia ás transformações materiais dos corpos e dos espaços e
assim articular o sentido de espacialidades (in)comuns. Tensegridade é uma palavra que
decorre da contração dos termos integridade e tensão e que sido empregada para a
descrição de uma infinidade de estruturas e processos- do sistema solar ao átomo,
passando pelas forças da natureza , as tramas sociais e os sistemas corporais, ritos – bem
como aplicada como conceito para fundamentar processos de edificação de formas, pela
arte, design e arquitetura.
Saracena
A geometria da tensegridade é aplicada para a criaçao dos vestiveis, pelo vies do uso de
tramas (croche e nos de rede de pescador) e para abordar os movimentos corporais -
sistemas fascial e o sistema esquelético
Tensegridade
Para Fuller (1975, p 641), tensegridade descreve um princípio de relação estrutural em que
a forma da estrutura é garantida pelos comportamentos tencionais finamente fechados,
compreensivamente contínuos do sistema e não pelos comportamentos de membros
compressionais descontínuos e exclusivamente locais: a tensegridade define a capacidade
de um sistema se produzir, cada vez mais, sem no entanto se quebrar ou se romper. (Fuller,
640)
Fig. 1.1. Cantilever de Snelson (1967). Imagen por cortesía del artista.
Segundo Borrows, o processo conectivo proposto pelo artista apontaria para uma visão
da criação como conexão de forças e produção de estabilidade, para ele, as estruturas
produzidas pelo artista aproximam-se da lógica do sistema solar e das dinâmicas
universais que mantém tudo unido.
.
Easy-K de Kenneth Snelson. Imagen tomada de Snelson (2004).
4. Prática
4.1 Espaço
Peter Sloterdijk, emprega o termo tensegridade em um estudo no qual apresenta o mundo
moderno como construção de esferas: estruturas geométricas capazes de explicar
metaforicamente os processos de construção da modernidade.
Em Esferas III apresenta o neologismo de antroposfera para propor uma definição de
humano (modern) como um ser inserido em uma construção a qual chamamos mundo. De
acordo com Sloterdijk este ser humano se relacionaria com o mundo através de nove
dimensões, as quais ele define como topoi; os quais descrevem como os humanos
interagem consigo mesmo, entre si e com o mundo: desde sua fisicalidade ás dimensões
psicológicas, desde a sua individualidade até o coletivo, desde a relação com o meio
ambiente até as construções políticas. (esferas III, 669)
O conceito de tensegridade é aplicado pelo autor ao descrever a sociedade moderna como
construção que não dependeria de quaisquer princípios transcendentes, estruturas
abstratas ou qualquer contexto metafísico, antes disso, pelas relações mútuas de partilha e
conexão de espaços (ref. Livro 669).
O modo como os humanos construíram e constroem seus espaços opera-se pelo viés das
aberturas e conexões (simultâneas), que definem os principio de coexistência entre os
seres humanos e todas a demais dimensões do mundo, em um todo comum; Ou seja o
autor fala de um mundo constantemente produzido, pela tensão mútua entre os seus
componentes.
O nomotopo, topoi relacionado aos sistemas de regulação do social, é definido por ele
como uma arquitetura normativa da coexistência, um éter moral engendrado no cotidiano
como um sistema de tensões imanentes em ação permanente sobre o corpo; definido pelos
costumes, cultura, objetos, direitos, regulações, relações de produção, jogos de linguagem,
formas de vida, instituições, habitos. (esferas III, pag. ) Sendo as sociedades, definidas por
ele, como tensegridades de expectativas, ou seja, multiplicidade de condiçoes de vivências e
ações reguladas, que se consolidam por meio de intimidações e ameaças1. 2
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O autor oferece a noçao de antropotécnica para ampliar o conceito de biopoder (Foucault)
Foucault se concentrou principalmente nos fenômenos da disciplina e da biopolítica da idade clássica.
A meu ver, seria preciso dirigir a atenção à volta do Renascimento e do Estado moderno. É neste
preciso momento que todos os grupos na posse dos “saberes" se interrogam sobre como se poderiam
produzir, anular, suprimir os futuros sujeitos do Estado. A preocupação é, no entanto, a de garantir um
número de sujeitos suficiente para o funcionamento da máquina. O sujeito moderno é, antes de tudo, o
sujeito da superprodução “populacionista". Ser sujeito significa, portanto, ser esperado sobre a terra por
um Estado que quer consumir-te em sua nova política da força. (arrumar)
O Sistema Fascial:
Este sistema corporal formado por células do tecido conjuntivo formam um invólucro
membranoso que conecta e integra todos os ossos, músculos e órgãos do corpo. O tecido
fascial forma uma rede fibrosa que envelopa todas as partes do corpo fazendo com que,
quando uma parte se movimenta, o corpo responde como um todo. Seu aspecto geométrico
e arranjo espacial dentro do corpo se aproxima da imagem da rede, uma rede lubrificante e
deslizante que oferece uma superfície macia para todas as outras estruturas do corpo.
3
Cinesfera é a esfera de espaço tridimensional ao redor do corpo dentro da qual acontece o movimento
e cujas periferias podem ser alcançadas facilmente pelos membros esticados sem que precisemos
mudar a nossa base de apoio. Ao nos movermos carregamos conosco a nossa cinesfera, transferindo-a
para um novo ponto de apoio, como uma aura. Também denominada kinesfera, este conceito pertence
ao Método Laban de Análise do Movimento. Para maiores informações vide FERNANDES, Ciane. O
Corpo em Movimento: O Sistema Laban/Bartenieff na Formação e Pesquisa em Artes Cênicas. São
Paulo: Annablume, 2006.
3. processo poético
Poética
O nosso processo produtivo parte de uma lógica de espaço ativada pelas tensões dos
movimentos dos corpos; pela compressão dos espaços e por uma gramática modular, para
a produção das roupas
Cada uma das unidades do vestível , alinhadas lado a lado não tem uma relação aparente
entre si nem com os lugares, no entanto, o ato de vestir produz as tensões pelos alinhavos
e nó, o crochê e a rede de pescar
(iv) A compressão é produzida pela resistência dos lugares – onde os vestíveis são
instalados;
(v) Cada peça da roupa (módulo) pode ser vista como um “ícone de relação”, um diagrama
que se associa a ideia de tecer em movimento, de fazer crescer o espaço de dentro e pra
fora, para ligar as dinâmicas do corpo ás dinâmicas dos espaços;
(vi) Os movimentos dos corpos estão condicionados pelas configuraçoes dos vestíveis -
definidos pela elasticidade e flexibilidade
(vii) A produção dos vestíveis esta condicionada pelos movimentos dos corpos;
Os vestíveis são estratégia para fazer transbordar os espaços internos nos espaços
externos, e vice versa, gerando uma linha de continuidade; um “entre” a partir do qual não
existe mais dentro e fora, interno e externo, invisível e visível; para a construção de
espacialidades incomuns.
Referência Bibliográfica
1. Burkhardt, Robert William, Jr. A Practical Guide to Tensegrity Design 2nd editionCopyright
2004-2008 by. P.O. Box 426164, Cambridge, USA.
4. Slotedjik, Peter, Esferas III. Trad. Isidoro Reguera. Madri: Siruela, 2009.
5. Burrows, Joelle. Kenneth Snelson Exhibition: The Nature of Structure The New York
Academy of Sciences, January – April 1989, Catalog Introduction
6. Avoni, Andrea. The Intersection of Space and Law. edited by Sarah Marusek, John
Brigham. Street-Level Sovereignty:, 2017