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Tensegridade: a vida como prática e o desafio de criar espacialidades (in) comuns

Tensegridade
O Corpecendo é um projeto de pesquisa que relaciona os processos da dança e do design
pelo viés do conceito de tensegridade, para colocar em um mesmo patamar ontológico
sujeito e objeto ; para dar primazia ás transformações materiais dos corpos e dos espaços e
assim articular o sentido de espacialidades (in)comuns. Tensegridade é uma palavra que
decorre da contração dos termos integridade e tensão e que sido empregada para a
descrição de uma infinidade de estruturas e processos- do sistema solar ao átomo,
passando pelas forças da natureza , as tramas sociais e os sistemas corporais, ritos – bem
como aplicada como conceito para fundamentar processos de edificação de formas, pela
arte, design e arquitetura.
Saracena

Buckminister Fuller's Geodesic Dome


Sebastian Huth (2015) ‘FORM FOLLOWS TENSION’ combines the benefits of active bending
with a tensegrity and membrane system. It is using elastically bent glass fiber composites in
combination with polyester membranes and belts, to form a modular, pretentioned and self-
stabilizing structure. https://eikeschling.wordpress.com/2015/08/20/bending-activated-
tensegrit

Neste artigo discorremos sobre tensegridade como fundamento de uma proposição


poética que parte do desenvolvimento de uma série de roupas (vestíveis) para refletir
sobre o vestir nas experiências multidimensionais do cotidiano.
(o que são espacialidades (in) comuns)
O projeto toma como fundamento um pensamento da arte relacionado aos processos de
explicitação (tornar visivels, dar a vista) estruturas subjacentes e coincidentes dos corpos e
dos espaços. Investe em um fazer ancorado nas materialidades - as texturas das tramas e
do tecer (croche, artesanato e rede de pescar) – e na virtualidade – pelo vies de sensores
que ligados as roupas e a uma base de dados de audios produz paisagens sonoras ) dos
corpos e dos objetos.

A geometria da tensegridade é aplicada para a criaçao dos vestiveis, pelo vies do uso de
tramas (croche e nos de rede de pescador) e para abordar os movimentos corporais -
sistemas fascial e o sistema esquelético

Neste artigo apresentamos o desenvolvimento dos vestíveis apresentando os relatos de


processo do grupo de trabalho compsoto por pesquisadores da dança e do design,
respectivamente, pelo vies da educaçao somatica e a ideia do design colaborativo.
. A estrutura do texto ancora-se nos tres termos, cada um dos quais corresponde a cada
uma das palavras -chave do título do artigo. São eles : tensegridade, prática e
espacialidades.

Pelo viés do conceito de Tensegridade abordamos as dinâmicas implicadas pelo vestir - ao


mesmo tempo como um ato material e social, estético, orgânico
O conceito de prática pauta a tensegridade como pauta para pernsar a perfomatividade dos
objetos , dos corpos e dos espaçoes. Para lidar com as materialidades das roupas mas
também com os fluxos de materiais, que definem os vestir .
Por este viés, descrevemos nosso processo pelas espacialidades buscadas, definidas como
(in) comuns, porque comunam movimentos; tramados pelos corpos e pelos objetos para a
construção de lugares .

Tensegridade
Para Fuller (1975, p 641), tensegridade descreve um princípio de relação estrutural em que
a forma da estrutura é garantida pelos comportamentos tencionais finamente fechados,
compreensivamente contínuos do sistema e não pelos comportamentos de membros
compressionais descontínuos e exclusivamente locais: a tensegridade define a capacidade
de um sistema se produzir, cada vez mais, sem no entanto se quebrar ou se romper. (Fuller,
640)

Em termos operacionais, a produção de estruturas de tensegridade parte da proposição de


sistemas capazes de se estabilizarem mecanicamente - devido à maneira pela qual as
forças tensionais são distribuídas e equilibradas dentro de uma estrutura, como afirma
Conelly, R e Back, A. (1998). Sendo que esta estrutura se mantem coesa pelo viés de dois
tipos de elementos, que podem ser chamados de cabos e escoras, o quais desempenham
papéis complementares: os cabos mantêm os vértices juntos; as escoras os mantêm
separados.
Essas estruturas, segundo (1) poderiam ser distinguidas pela maneira como as forças são
distribuídas dentro delas; ou seja, os membros de uma estrutura de tensegridade estão
sempre em tensão ou sempre em compressão ; os membros de tensão formam uma rede
contínua, desta maneira, as forças de tração são transmitidas por toda a estrutura;
produzindo estabilidade (1)
Tensegridade na arte

O artista Kenneth Snelson articua os princípios da tensegridade partido de estudos sobre


as forças físicas no nível macroscópico (com base nas leis da mecânica clássica newtoniana),
a natureza do equilíbrio e os modos de articulação dos espaços, a partir de esculturas que
refletem a integridade estrutural das formas conectando os tubos rígidos de compressão
e cabos de tração flexível no sentido de produzir estabilidade para além da força da
gravidade, no vácuo do espaço exterior.

Fig. 1.1. Cantilever de Snelson (1967). Imagen por cortesía del artista.
Segundo Borrows, o processo conectivo proposto pelo artista apontaria para uma visão
da criação como conexão de forças e produção de estabilidade, para ele, as estruturas
produzidas pelo artista aproximam-se da lógica do sistema solar e das dinâmicas
universais que mantém tudo unido.

.
Easy-K de Kenneth Snelson. Imagen tomada de Snelson (2004). 

4. Prática
4.1 Espaço
Peter Sloterdijk, emprega o termo tensegridade em um estudo no qual apresenta o mundo
moderno como construção de esferas: estruturas geométricas capazes de explicar
metaforicamente os processos de construção da modernidade.
Em Esferas III apresenta o neologismo de antroposfera para propor uma definição de
humano (modern) como um ser inserido em uma construção a qual chamamos mundo. De
acordo com Sloterdijk este ser humano se relacionaria com o mundo através de nove
dimensões, as quais ele define como topoi; os quais descrevem como os humanos
interagem consigo mesmo, entre si e com o mundo: desde sua fisicalidade ás dimensões
psicológicas, desde a sua individualidade até o coletivo, desde a relação com o meio
ambiente até as construções políticas. (esferas III, 669)
O conceito de tensegridade é aplicado pelo autor ao descrever a sociedade moderna como
construção que não dependeria de quaisquer princípios transcendentes, estruturas
abstratas ou qualquer contexto metafísico, antes disso, pelas relações mútuas de partilha e
conexão de espaços (ref. Livro 669).
O modo como os humanos construíram e constroem seus espaços opera-se pelo viés das
aberturas e conexões (simultâneas), que definem os principio de coexistência entre os
seres humanos e todas a demais dimensões do mundo, em um todo comum; Ou seja o
autor fala de um mundo constantemente produzido, pela tensão mútua entre os seus
componentes.
O nomotopo, topoi relacionado aos sistemas de regulação do social, é definido por ele
como uma arquitetura normativa da coexistência, um éter moral engendrado no cotidiano
como um sistema de tensões imanentes em ação permanente sobre o corpo; definido pelos
costumes, cultura, objetos, direitos, regulações, relações de produção, jogos de linguagem,
formas de vida, instituições, habitos. (esferas III, pag. ) Sendo as sociedades, definidas por
ele, como tensegridades de expectativas, ou seja, multiplicidade de condiçoes de vivências e
ações reguladas, que se consolidam por meio de intimidações e ameaças1. 2

1 Relacionadas ao conceito de Biopoder por Foucault


As tensões produzidas pelas intimidações e ameaças seriam reguladas, pela da pressão de
expectativas de coletivos, para produzir a estabilidade da sociedade. As expectativas de
coletivos, por sua vez, não se manifestariam pelo viés de pressão, mas pelo vies de trações;
representadas pelas construções que reforçam ambições e auto estima por uma regularidade
temporal de açoes pautadas por regras definidas pelo próprio grupo.
Ou seja, as construçoes sociais (cultura) - que condicionam os corpos pelos preceitos de regras
– quando tocam os corpos, geram tensões cuja resposta é um esforço de tração – as múltiplas
ações dos individuos que se reconhecem como parte de um coletivo que possui regras e
temporalidades próprias.
4.2 Corpo

A Educação Somática é um campo vasto composto por diferentes abordagens e técnicas.


Cada qual com suas especificidades, possui em comum uma metodologia de investigação
corpórea pautada pelo trabalho sobre a senso-percepção. Podemos citar algumas como a
Eutonia, o Método Feldenkrais, a Técnica de Alexander, os Bartenieff Fundamentals, o Body
Mind Centering, entre outras.
A partir de um exercício de alargamento dos sentidos, estas práticas somáticas
atuam como propositoras de uma experiência de abertura à criação de um corpo “outro”,
expandindo os limites de suas organizações demasiadamente condicionadas em
automatismos cristalizantes. De um modo geral, as práticas somáticas convidam o corpo a
exercitar os sentidos fora do regime restrito da representação.
Criado pela norte americana Bonnie Bainbridge Cohen, o Body Mind Centering
consiste numa anatomo-fisiologia experimental do corpo. Tal abordagem tem como
proposição metodológica a experimentação dos sistemas corporais (sistema esquelético,
muscular, endócrino, nervoso, sistema dos ligamentos e fáscias, sistemas dos órgãos,
sistema dos fluidos, e os órgãos dos sentidos e a percepção) por meio da visualização, toque,
movimento e sonorização.
Diferente de outras abordagens somáticas, o Body Mind Centering não propõe um
método centrado em exercícios corporais codificados, através dos quais se operaria uma
reorganização do corpo na direção de um uso sensório-motor mais adequado previamente
estabelecido. Trata-se aqui de uma aprendizagem eminentemente experimental através da
qual o corpo compreendido em sua ontogênese perpétua explora os seus próprios meios de
constituição tanto materiais e energéticos, quanto formais. Esta aprendizagem ocorre por
meio da focalização senso-perceptiva sobre uma ou várias estruturas anátomo-fisiológicas
(regiões teciduais constitutivas da matéria-corpo em sua pluralidade) implicadas num
movimento determinado e em relação com o meio circundante. Por meio desta focalização,

2
O autor oferece a noçao de antropotécnica para ampliar o conceito de biopoder (Foucault)
Foucault se concentrou principalmente nos fenômenos da disciplina e da biopolítica da idade clássica.
A meu ver, seria preciso dirigir a atenção à volta do Renascimento e do Estado moderno. É neste
preciso momento que todos os grupos na posse dos “saberes" se interrogam sobre como se poderiam
produzir, anular, suprimir os futuros sujeitos do Estado. A preocupação é, no entanto, a de garantir um
número de sujeitos suficiente para o funcionamento da máquina. O sujeito moderno é, antes de tudo, o
sujeito da superprodução “populacionista". Ser sujeito significa, portanto, ser esperado sobre a terra por
um Estado que quer consumir-te em sua nova política da força. (arrumar)

Entrevista Sloterdijk https://www.fronteiras.com/entrevistas/a-antropotecnica-de-peter-sloterdijk-


seres-humanos-sensiveis-ao-seu-apelo-deveriam-trabalhar-sobre-si-mesmos
solicita-se fazer emergir uma paisagem de qualidades táteis e cinestésicas, de texturas
diferenciadas em suas intensidades, assim como diversificados limiares energéticos. A partir
de então, redesenha-se tanto o território corpóreo sentido pelo experimentador, como o
espaço de projeção da cinesfera3. O espaço ao redor é modificado por meio da reverberação
entre dentro e fora somente possível pela ativação de uma qualidade porosa e vibrátil da
pele e demais membranas do corpo. A partir desta ativação, as qualidades vibráteis do
corpo e do ambiente podem se contagiar mutuamente.

O Sistema Fascial:
Este sistema corporal formado por células do tecido conjuntivo formam um invólucro
membranoso que conecta e integra todos os ossos, músculos e órgãos do corpo. O tecido
fascial forma uma rede fibrosa que envelopa todas as partes do corpo fazendo com que,
quando uma parte se movimenta, o corpo responde como um todo. Seu aspecto geométrico
e arranjo espacial dentro do corpo se aproxima da imagem da rede, uma rede lubrificante e
deslizante que oferece uma superfície macia para todas as outras estruturas do corpo.

3
Cinesfera é a esfera de espaço tridimensional ao redor do corpo dentro da qual acontece o movimento
e cujas periferias podem ser alcançadas facilmente pelos membros esticados sem que precisemos
mudar a nossa base de apoio. Ao nos movermos carregamos conosco a nossa cinesfera, transferindo-a
para um novo ponto de apoio, como uma aura. Também denominada kinesfera, este conceito pertence
ao Método Laban de Análise do Movimento. Para maiores informações vide FERNANDES, Ciane. O
Corpo em Movimento: O Sistema Laban/Bartenieff na Formação e Pesquisa em Artes Cênicas. São
Paulo: Annablume, 2006.
3. processo poético
Poética

O nosso processo produtivo parte de uma lógica de espaço ativada pelas tensões dos
movimentos dos corpos; pela compressão dos espaços e por uma gramática modular, para
a produção das roupas
Cada uma das unidades do vestível , alinhadas lado a lado não tem uma relação aparente
entre si nem com os lugares, no entanto, o ato de vestir produz as tensões pelos alinhavos
e nó, o crochê e a rede de pescar
(iv) A compressão é produzida pela resistência dos lugares – onde os vestíveis são
instalados;
(v) Cada peça da roupa (módulo) pode ser vista como um “ícone de relação”, um diagrama
que se associa a ideia de tecer em movimento, de fazer crescer o espaço de dentro e pra
fora, para ligar as dinâmicas do corpo ás dinâmicas dos espaços;
(vi) Os movimentos dos corpos estão condicionados pelas configuraçoes dos vestíveis -
definidos pela elasticidade e flexibilidade
(vii) A produção dos vestíveis esta condicionada pelos movimentos dos corpos;

Os vestíveis são estratégia para fazer transbordar os espaços internos nos espaços
externos, e vice versa, gerando uma linha de continuidade; um “entre” a partir do qual não
existe mais dentro e fora, interno e externo, invisível e visível; para a construção de
espacialidades incomuns.

Definimos as espacialidades (in) produzidas pelos jogos de tensão e distenssão, estabilidades


e instabilidades , dos corpos e dos espaços

Parâmetro para definir os vestíveis


 Os vestíveis supõe um processo que evita apaziguar a matéria para criar conforto -
elástico
 Os vestiveis vestem os corpos e os espaços – antes da identidade presume
identificação
 Os vestiveis nem sempre cabem nas partes dos corpos previstas para o uso; é
necessário definir ao vestir .
 Os corpos totalmente vestidos ficam fadados á estagnação - trancados em formas
finais e fechados em si mesmos; por isso vestimos dois pontos dos corpos .
 O corpo sempre sera insuficientemente vestido .
 Desenvolvimentos : Modularização
 Os vestíveis foram desenvolvidos em tamanho absoluto, tendo como medida o
movimento dos corpos. A produção parte das escalas do corpo, para construir os
espaços.
 Trabalhamos com protótipo sem redução de escala; isso significa que cada fase
investigativa apresenta-se como produto do processo; buscamos a reciprocidade
entre os módulos que compõem as roupas e a modularização das ações dos
perfomers.
 Não buscamos modelos para produzir os vestíveis – eles não são modelos para ser
vestidos. Queremos que eles se apresentem como produto das ações, explicitem as
tensões e as compressões entre corpos e lugares.
1. exercico 1
Pesquisas materiais a partir do uso de tecidos flexíveis (elastano) para ampliar os espaços
do corpo pelo sentido da dobra, da torção, da sobreposição, da tensão.
Registro
O uso do diagrama para definir em formas de simbolização das tensões produzidas pelos
corpos sobre o espaço
Linhas e nos
Rede de pescadores
Croche

Referência Bibliográfica

1. Burkhardt, Robert William, Jr. A Practical Guide to Tensegrity Design 2nd editionCopyright
2004-2008 by. P.O. Box 426164, Cambridge, USA.

2 Valentín, Gómez Jáuregui . Tensegridad estruturas tensegríticas em ciência.

3. Myers, Thomas W.
Trilhos anatômicos / Thomas W. Myers; - Rio de Janeiro : Elsevier,


2010.

4. Slotedjik, Peter, Esferas III. Trad. Isidoro Reguera. Madri: Siruela, 2009.

5. Burrows, Joelle. Kenneth Snelson Exhibition: The Nature of Structure The New York
Academy of Sciences, January – April 1989, Catalog Introduction

6. Avoni, Andrea. The Intersection of Space and Law. edited by Sarah Marusek, John
Brigham. Street-Level Sovereignty:, 2017

7. Fuller, R. Buckminster. SYNERGETICS Explorations in the Geometry of Thinking Published


by Macmillan Publishing Co. Inc. 1975.

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