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EDGAR ROQUETTE-PINTO, OS TIPOS ANTROPOLÓGICOS E

A QUESTÃO DA DEGENERAÇÃO RACIAL NO BRASIL

NO INÍCIO DO SÉCULO

Ricardo Ventura Santos

Professor Adjunto do Museu Nacional/UFRJ e


Pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública/Fiocruz

Trabalho apresentado no GT 19 (Relações Raciais e Etnicidade)


XX Encontro Anual da ANPOCS, Caxambu, MG 22-26/10/1996

Endereço: Departamento de Antropologia, Museu Nacional, Quinta da Boa Vista s/n,


Rio de Janeiro, RJ 20940-040. Fax: 021-295-1396. E-mail: santos@dcc001.cict.fiocruz.br

Código do Trabalho: 96GT1931.DOC


Fotografia: Leucodermos, “Typos anthropologicos do Brasil”, pesquisa por Edgar Roquette-
Pinto, acervo do Setor de Antropologia Biológica, Museu Nacional, UFRJ, Rio de Janeiro, sem
data.
EDGAR ROQUETTE-PINTO, OS TIPOS ANTROPOLÓGICOS E A QUESTÃO DA

DEGENERACAO RACIAL NO BRASIL NO INÍCIO DO SÉCULO

Ricardo Ventura Santos

INTRODUÇÃO

"E dos problemas brasileiros, nenhum que me inquietasse tanto como o da miscigenação. Vi
uma vez ... um bando de marinheiros nacionais - mulatos e cafuzos - descendo não me lembro
se do São Paulo ou do Minas pela neve mole do Brooklyn. Deram-me a impressão de
caricaturas de homens. E veio-me à lembrança a frase de um viajante americano que acabara
de ler sobre o Brasil: 'the fearfully mongrel aspect of most of the population'. A miscigenação
resultava naquilo. Faltou-me quem me dissesse então, como ... Roquette-Pinto aos arianistas
do Congresso Brasileiro de Eugenia, que não eram simplesmente mulatos ou cafuzos os
indivíduos que eu julgava representarem o Brasil, mas cafuzos e mulatos doentes" (Freyre,
1977:lvii).

Em 1929 o médico e antropólogo Edgar Roquette-Pinto, do Museu Nacional, atuou como


presidente do Primeiro Congresso Brasileiro de Eugenia e lá apresentou o trabalho "Nota sobre
os typos anthropologicos do Brasil". A partir da análise de dados de antropologia física,
concluiu que "nenhum dos typos da população brasiliana apresenta qualquer estigma de
degeneração" (Roquette-Pinto 1929:145). Foi esta contribuição que veio à mente de Gilberto
Freyre quando ele rememorou no prefácio de "Casa-Grande & Senzala" a experiência de
observar um grupo de marinheiros brasileiros desembarcando em Nova York num dia de
inverno da década de 20.
É curioso que Freyre, cuja obra enfatizou as diferença entre raça e cultura, entre as
influências de fatores genéticos e ambientais, refira-se a um trabalho em antropologia física
como positivamente associado à reformulação de sua visão acerca das conseqüências da
miscigenação racial. Afinal, a história da antropologia no final do século XIX e nas primeiras
décadas deste provê abundantes exemplos que a antropologia física, ou simplesmente

1
antropologia1, como era também conhecida, em geral oferecia modelos que alimentavam
justamente convicções acerca da desigualdade entre as raças, acerca da dominância do biológico
sobre o cultural, o intelectual e o moral, acerca das conseqüências negativas dos cruzamentos
inter-raciais.
Este trabalho busca contextualizar o enfoque "humanista, compreensivo e construtivo"2
que caracterizou a antropologia física do Museu Nacional nas primeiras décadas deste século
(1910-1930). Esta é uma questão de particular interesse pois, como veremos, tal perspectiva
situava-se no contra-fluxo de significativa parcela da produção da antropologia física na Europa
e nos E.U.A. no período, bem como destoava da tradição do próprio Museu Nacional entre 1870
e 1910, ambas eivadas de um forte determinismo biológico que desqualificava os mestiços e
posicionava os não-europeus nos níveis mais inferiores na hierarquia das raças humanas3.
Argumenta-se neste trabalho que o inesperado papel da antropologia do Museu Nacional de
"anjo da guarda" do povo brasileiro - utilizando uma expressão do próprio Roquette-Pinto (apud
Ribas 1990:81) - não pode ser explicada como resultando de deslocamentos teóricos internos à
disciplina. Uma compreensão mais abrangente demanda que sejam analisadas suas vinculações
com dinâmicas intelectuais e políticas em operação além de fronteiras acadêmicas.
Antropólogos do Museu Nacional - e Roquette-Pinto em particular - comungaram com ideais
nacionalistas propalados por uma parcela da intelectualidade brasileira nas primeiras décadas
deste século, chegando a fornecer "credenciais científicas impressionantes em apoio a crescente
campanha para salvar os brasileiros da armadilha determinista" (Skidmore 1976:188).

1
Ao longo deste texto o termo "antropologia" é empregado em sua acepção mais comum na virada do
século, qual seja, como se referindo à antropologia física.
2
Castro Faria (1956/1958:302) refere-se a um "humanismo autêntico, superior, mas luminosamente
compreensivo, belo e construtivo" em Roquette-Pinto.
3
Corrêa (1982:213-217), Skidmore (1976:185-190) e Stepan (1991:160-162) são alguns dos outros
autores que chamam atenção para o caráter de exceção da antropologia do Museu Nacional nas
primeiras décadas deste século.

2
ANTROPOLOGIA NO MUSEU NACIONAL ENTRE 1870 e 1930

Criado em 1818 por D. João VI para "propagar os conhecimentos e estudo das sciencias
naturaes no Reino do Brazil" (apud Lacerda 1905:3), foi a partir da década de 1870 que se
iniciaram as atividades em antropologia física no Museu Nacional. Em 1876 foi criada a seção
"De anthropologia, zoologia geral e applicada, anatomia comparada e paleontologia animal"
(Lacerda 1905:38), para a qual foi nomeado sub-diretor o médico João Baptista de Lacerda, "o
iniciador dos estudos anthropologicos no Museu Nacional [...], que o mesmo é dizer no Brazil"
(Ladislau Netto 1882:5). Pelo nome da seção percebe-se quão estreitamente ligadas estavam as
investigações antropológicas da história natural.
A história da antropologia física no Museu Nacional entre 1870 e 1930 pode ser dividida
em dois períodos (Castro Faria 1946, 1952). O primeiro relaciona-se com as atividades de
Lacerda e compreende as últimas décadas do século XIX, quando o enfoque principal foi a
craniologia das raças indígena4. O segundo, entre 1910 e 1930, coincide com as pesquisas de
Edgar Roquette-Pinto. Tendo inicialmente realizado investigações sobre a temática indígena,
posteriormente voltou-se para a antropologia do Brasil mestiço5.
A seguir nos debruçaremos sobre linhas de investigação e vinculações teóricas de modo a
identificar continuidades e rupturas.6

4
Castro Faria (1946:16) ressalta que a fase de estudos craniométricos no Museu Nacional foi
principalmente entre 1876 e 1885.
5
Ao longo deste trabalho Lacerda e Roquette-Pinto são referidos como antropólogos físicos. De certa
forma isto é uma simplificação da carreira e produção destes intelectuais, já que eles transitaram em
diversos campos. Por exemplo, Lacerda publicou trabalhos nas áreas de "antropologia, fisiologia,
patologia, moléstias tropicais, profilaxia, veterinária, além de trabalhos relativos ao próprio Museu"
(Lopes 1993:251). Roquette-Pinto, que se autodenominava "naturalista" (Roquette-Pinto 1933:24), não
foi menos polivalente, com interesses que abrangiam antropologia física, etnologia, educação, entre
outros (vide Castro Faria 1952, 1956/1958; Ribas 1990).
6
O intuito aqui não é realizar um detalhamento exaustivo das pesquisas em antropologia física no
Museu Nacional, que pode ser encontrado em Castro Faria (1952).

3
Craniologia, hierarquia e as raças indígenas

No último quarto do século XIX foi intensa a produção da antropologia física do Museu
Nacional, que envolveu atividades de investigação, ensino7 e participação em eventos de ampla
repercussão pública, como a Exposição Antropológica de 1882. Em 1876 João Baptista de
Lacerda explicitava que um de seus objetivos era difundir os estudos antropológicos, que ainda
não haviam "encontrado fervorosos adeptos entre os homens scientificos" do Brasil (Lacerda &
Peixoto 1876:47).
Logo no primeiro volume dos "Archivos do Museu Nacional" Lacerda publicou um
trabalho em craniologia (Lacerda & Peixoto 1876) e outro sobre conformação dentária (Lacerda
1876), ambos com o título geral "Contribuições para o estudo anthropologico das raças
indigenas do Brazil". Estas investigações, assim como as demais conduzidas no Museu
Nacional neste período, tinham na "escola do sr. Broca" (Lacerda & Peixoto 1876:48) seu
principal referencial teórico-metodológico, o que reflete a forte influência da escola francesa8.
Nas últimas décadas do século XIX a antropologia física na Europa - e na França, em particular
- experimentou intenso florescimento, com a publicação de inúmeros tratados e manuais, bem
como desenvolvimento de uma grande quantidade de instrumentos para caracterização
morfológica do corpo humano. Pouco afeitos ao tratadismo ou à elaboração de novas técnicas,
os antropólogos do Museu Nacional foram sobretudo consumidores deste aparato teórico-
metodológico visando a investigação de questões regionais. Seus trabalhos baseavam-se em
detalhadas descrições da morfologia e medições dos ossos que, em seu conjunto, tinham por
objetivo construir "uma história do homem fóssil do Brasil" (cf. Lacerda 1875). Algumas das
questões importantes diziam respeito ao número das raças indígenas, sua antigüidade,
características anatômicas específicas, se dolicocéfalas ou braquicéfalas, se autóctones do Novo
Mundo, e assim por diante9.

7
Em 1877 foi realizado um curso de antropologia no Museu Nacional cujo conteúdo, fortemente
marcado pela fisiologia, foi posteriormente publicado nos "Archivos do Museu Nacional" (Lacerda
1879).
8
Em 1859 foi criada a "Societé d'Anthropologie de Paris" (vide Blanckaert 1989; Castro Faria 1973;
Harvey 1983). Vale mencionar que Lacerda publicou trabalho no periódico da Societé (Lacerda 1875).
9
Segundo Castro Faria (1952:22), à luz da ciência da época Lacerda caracterizava-se por "rigorosa
disciplina de pesquisa, perfeito conhecimento da técnica ... e uma compreensão esclarecida dos grandes
problemas antropológicos brasileiros". Ou seja, era uma antropologia estreitamente afinada com as
tendências teórico-metodológicas de sua época.
4
Como era comum na tradição antropológica na segunda metade do século XIX, julgava-se
possível inferir "objetivamente" acerca dos atributos intelectuais e morais dos indivíduos a partir
do estudo de características físicas10. Seguindo esta trilha, as análises de Lacerda levaram-no a
proferir um veredicto nada favorável aos índios quanto à sua posição na hierarquia das raças e a
seu potencial de vir a participar de maneira efetiva na nacionalidade. Se as características
cranianas ("a porção do órgão pensante attingia às proporções diminutas") e dentárias ("cunho
de animalidade impresso na dentadura")11 não deixavam margens a dúvidas, o estudo de "tres
individuos adultos, do sexo masculino, bem constituidos, pertencentes á tribu dos Xerentes e em
dous Botocudos" (Lacerda 1882b:6) durante a Exposição Antropológica de 188212, realizada no
Museu Nacional, só veio a confirmar o pessimismo que as investigações com os ossos já havia
antecipado:

"... elles são ferozes, sem arte de especie alguma, e sem pendor para o progresso e para a
civilisação [...] Como trabalhador braçal, o indio é inquestionavelmente inferior ao negro [...]
Medimos com o dynamometro a força muscular de individuos adultos [...] e o instrumento
denunciou uma força abaixo da que se observa geralmente em individuos brancos ou negros [...]
Na representação graphica da extensão e das distancias elles mostraram-se destituidos de todo o
senso de comparação [...] O seu sentido mais fino e apurado é o da audição. Entretanto, os sons
combinados, quer de pequenas variações, quer de simples phrases melodicas, difficilmente se
reteem no ouvido indigena. Elles só conseguem repetir phrases musicaes curtas, de pequena
modulação, em que ha repetição frequente das mesmas notas [...] Certas sensações
desconhecidas, assim como as forças occultas causam-lhes pavor. Durante cinco minutos, depois
de ter recebido o choque de uma bobina de Rumkorff, o Botocudo ficou mudo, estatico, o olhar
fixo, com a expressão physionomica do terror" (Lacerda 1905:100-101).

Segundo Monteiro (1996), o índio, presença constante no pensamento brasileiro do século


XIX, passou crescentemente a receber um tratamento científico na segunda metade do século

10
Gould (1991) apresenta uma série de estudos de caso enfocando a antropologia física francesa e norte-
americana da segunda metade do século XIX quanto as suas tentativas de relacionar atributos físicos,
mentais e morais. Vide também Stocking (1968:13-41) e Blanckaert (1989), que abordam
especificamente a tradição francesa.
11
Lacerda (1882c:23) e (1876:82), respectivamente.
12
Para maiores informações sobre a Exposição Antropológica, vide Castro Faria (1993:67-70), Lopes
(1993:187-189) e Nascimento (1991:32-65).
5
XIX. O cientificismo da antropologia física do Museu Nacional combinou idéias evolucionistas
com análises de cunho racial. Situando os índios nos níveis mais baixos da hierarquia das raças,
ecoava com fidelidade teses de determinismo racial importadas, ao mesmo tempo que aprazia
os ouvidos da intelectualidade brasileira, familiarizada que estava com as noções de
inferioridade dos não-europeus professadas por Henry Buckle, Arthur de Gobineau ou Louis
Agassiz, entre outros, autores que escreveram linhas pouco lisonjeiras acerca da constituição
racial do Brasil (Skidmore 1976:27-32). Ao absorver quase que sem questionamentos os
ditames acerca da "inferioridade" das raças indígenas - "sob o ponto de vista moral e intellectual
são os Botocudos a expressão da raça humana no seu maior gráo de inferioridade" (Lacerda
1882a:2) -, extasiada e hipnotizada que estava pelos "modernissimos estudos de Broca, Pruner-
Bey, Quatrefages, Wirchow, Topinard e outros" (Lacerda & Peixoto 1876:47), os antropólogos
do Museu Nacional produziram uma ciência "bem-comportada", no sentido de gerar esquemas
interpretativos alinhados com as correntes científicas mais difundidas e prestigiosas de sua
época.
Depois de um longo período sem publicar trabalhos de temática antropológica, absorvido
em investigações em outros áreas13 e pelas atividades de diretor do Museu Nacional, cargo que
exerceu por 20 anos (1895-1915), em 1911 Lacerda participou do Primeiro Congresso
Universal das Raças, em Londres. Para lá foi como representante oficial do Brasil para
apresentar a memória "Sur les Métis au Brésil" ("Sobre os Mestiços do Brasil") (Lacerda 1911).
A tese do branqueamento, como ficou conhecido este trabalho, argumenta que o Brasil era um
país racialmente viável por sua população estar no caminho de vir a se constituir numa raça
branca (latina). Para tanto, havia de superar certos obstáculos. O primeiro era quanto ao destino
dos índios e negros; e destes, em particular, cujos vícios "foram inoculados na raça branca e nos
mestiços" (1911:12). Segundo Lacerda, estes segmentos, por sua inerente inferioridade racial,
estavam fadados ao desaparecimento progressivo pelo processo de "redução étnica". O segundo
dizia respeito ao enorme contigente de mestiços, entrave este de mais difícil remoção. Lacerda
qualifica os mestiços como fisicamente inferiores aos negros, além de moralmente instáveis;
intelectualmente, porém, comparavam-se aos brancos. Não que os mestiços em geral fossem tão

13
A maior parte da produção em antropologia física de Lacerda concentrou-se nas décadas de 1870 e
1880 (Castro Faria 1952:79-80). Em 1880 foi fundado o "Laboratório de Physiologia Experimental", no
qual Lacerda desenvolveu suas pesquisas sobre toxinas e doenças, tópicos que se tornaram o foco
primário de suas investigações (vide nota 5 e Lacerda 1905) (vide também Lopes 1993:191-194).

6
viáveis; os "generosos proprietários de escravos" é que, através do processo de "seleção
intelectual", haviam estimulado aqueles mais dotados intelectualmente a participar na vida
social, gerando uma população de mestiços diferenciada no Brasil. Para Lacerda o país estava
caminhando para o branqueamento pois os mestiços, além de não formarem uma "raça
fixamente constituída", tendiam por "seleção sexual" a ter filhos com brancos, ainda mais no
Brasil, onde os "cruzamentos não obedecem a regras sociais precisas, onde os mestiços têm toda
a liberdade de se unir aos brancos" (1911:8). Aliado à dinâmica interna de transformação racial,
Lacerda chama atenção para o papel da imigração como fator de aceleração do processo de
branqueamento, através de infusão de sangue europeu/ ariano14.
Se nas investigações craniológicas acerca das raças indígenas Lacerda se alinhou aos
ditames do determinismo racial, sem pretensões ou necessidades de ajustes, sua memória sobre
o branqueamento é um exercício de conciliação entre a realidade (mestiça) da sociedade
brasileira com teorias científicas que desqualificavam o mestiço (Seyferth 1985:97). Como
ressalta esta mesma autora, "a tese do branqueamento reflete a preocupação de parte da elite
republicana do início de século com o problema da mestiçagem e seu significado no contexto
mais amplo da história do Brasil" (1985:96). Para Lacerda os índios vivos - em "carne e osso", e
não somente em "osso" como demandava sua craniologia - eram sujeitos distantes, selvagens
que perambulavam pelos sertões distantes e a priori fadados ao desaparecimento pela inerente
inferioridade racial. Já os mestiços, estes estavam mais próximos, povoando cidades e campos e
indiscutivelmente participando da vida nacional; precisavam ser, de uma forma ou de outra,
incorporados no projeto de construção e desenvolvimento da nação, mesmo que através de uma
fórmula que apregoava seu desaparecimento progressivo.

14
É de autoria de Giralda Seyferth a mais detalhada análise acerca da memória de Lacerda (Seyferth
1985). Esta autora situa inclusive as idéias de Lacerda no plano mais geral do ideal de branqueamento,
contrastando-as com as de outros autores, como Oliveira Viana e Sílvio Romero, por exemplo (vide
também Skidmore 1976:64-65).

7
Antropometria, igualdade e os "typos anthropologicos"

Lacerda havia afirmado por ocasião da Exposição Antropológica que "a anthropologia não
é uma sciencia meramente especulativa, mas que ella é susceptivel de ter applicações praticas e
uteis" (1882b:6). Roquette-Pinto, seu sucessor na antropologia física no Museu Nacional,
também fez valer esta perspectiva. Em um discurso proferido em 194415 assim rememorou sua
trajetória intelectual:

"Durante mais de trinta anos de minha modesta vida de naturalista e professor, dediquei o meu
renitente entusiasmo ao estudo da raça, da gente, dos tipos do Brasil. [Foi] quando os dados
objetivos da ciência, livres de qualquer influência sentimental, me convenceram de que os
problemas humanos não derivam, no Brasil, de influências nocivas de cruzamentos ou atavismos
biológicos, e são exclusivamente questões de meio, de herança social e de cultura [...] Foi a minha
velha antropologia que me abriu esse novo caminho, no desejo de ser útil, única ambição
veemente de minha alma brasiliana. [...] Julguei encontrar na ciência e na técnica os dois 'anjos
da guarda' que devem marcar a estrada do nosso povo" (apud Ribas 1990:81).

Os trinta anos dizem respeito ao período entre 1905 e 1935, quando esteve ligado ao
Museu16. Impregnada de cientificismo e nacionalismo, a transcrição acima aponta uma das
linhas-mestras da antropologia de Roquette-Pinto: instrumento de elevação do povo, deve
buscar libertá-lo das amarras do determinismo biológico.
No início de sua carreira Roquette-Pinto abordou questões relativas à temática indígena17.
Um de seus principais trabalhos é "Rondonia (Anthropologia-Ethnographia)", originalmente

15
Discurso proferido em 1944 por ocasião da visita do presidente Getúlio Vargas ao "Instituto Nacional
do Cinema Educativo" do qual Roquette-Pinto era diretor (cf. Ribas 1990:80-81).
16
Roquette-Pinto não era o único desenvolvendo trabalhos em antropologia física no Museu Nacional
nas primeiras décadas deste século. Fróes da Fonseca foi outro que realizou pesquisas antropológicas,
ainda que não tenha sido vultuosa sua produção (vide Castro Faria 1952:38-41).
17
Conforme indicado por Castro Faria (1952:32-36), a tese de doutorado em medicina de Roquette-
Pinto abordou o exercício da medicina entre os ameríndios (1905). Posteriormente, tal como Lacerda,
chegou a publicar alguns trabalhos sobre temática arqueológica e análise de material ósseo (vide nota
19). Para uma lista da produção bibliográfica de Roquette-Pinto, vide Castro Faria (1956/1958:303-305)
e Ribas (1990:208-211).

8
publicado em 1917 e que resultou de sua participação em uma das expedições da Comissão
Rondon pelos chapadões de Mato Grosso em 1912. Se a antropologia do Museu do século XIX
foi uma "ciência de gabinete" - Lacerda não foi até os índios; eles foram trazidos até o Museu -
com Roquette-Pinto tem-se o contato do investigador com o campo, com os sertões, com o
sujeito das pesquisas antropológicas em seu próprio ambiente. Como indica o sub-título da
primeira edição, o livro combina "anthropologia" (antropologia física) e "ethnografia (descrição
dos costumes, da cultura material e da língua), numa tentativa de "tirar um instantaneo da
situação social, anthropologica e ethnographica" (1917:xiv) dos índios do Mato Grosso.
No que tange à antropologia física, persiste em "Rondonia" um tratamento teórico e
metodológico baseado em raça, que para seu autor "não é uma expressão verbal, sem valia nem
funcção" (1917:126). Tal como Lacerda, a abordagem antropológica em "Rondonia" atrela-se à
tradição francesa, não tanto mais na figura de Broca, mas em continuadores de sua escola, como
Bertillon e Manouvrier, cujas obras enfocaram a somatologia, isto é, as técnicas para
caracterização qualitativa (textura do cabelo, cor da pele, formato dos seios, impressões digitais,
etc.) e quantitativa (mensurações) do corpo humano.
Como vimos, a antropologia do Museu Nacional do final do século XIX erigiu um fosso
intransponível - baseado em características físicas que permitiam inferências acerca da
constituição intelectual e moral - separando os índios dos demais constituintes da nacionalidade.
Roquette-Pinto minimiza estas defasagens: "os homens cultos do Planeta mostram-se indios de
pelle branca, cobertos por uma crosta, mais ou menos espessa, de verniz brilhante" (1917:xi).
Sob o tom poético esconde-se uma mensagem clara: a diferença reside menos na constituição
(biológica) que em fatores ligados à cultura e à civilização, metaforicamente representados pela
"crosta de verniz brilhante"18.
Em "Rondonia", ainda que raça figure como conceito norteador, sua ascendência sobre os
demais aspectos da vida física e social reduz-se se comparada à antropologia física de Lacerda,
que via na biologia explicação potente e suficiente para o entendimento da inferioridade das
raças indígenas:

18
Roquette-Pinto (1917:xii) fala do "estado de accentuada inferioridade" dos índios. É importante
ressaltar que as dicotomias inferior/ superior, atrasado/ evoluído, primitivo/ civilizado que povoam as
páginas de "Rondonia" remetem ao plano da cultura e da sociedade, e não ao da biologia. Como
veremos posteriormente, isto não quer dizer, contudo, que a antropologia de Roquette-Pinto tenha
anulado por completo a dimensão racial, em seu sentido biológico.

9
“... pela sua pequena capacidade craneana os Botocudos devem ser collocados a par dos Neo-
Caledonios e dos Australianos, isto é, entre as raças mais notaveis pelo seu gráo de inferioridade
intellectual. As suas aptidões são, com effeito, muito limitadas e difficil é fazel-os entrar no
caminho da civilisação" (Lacerda & Peixoto 1876:71-72).

Se para Roquette-Pinto as características biológicas dos índios não eram impecilhos


intransponíveis para sua incorporação na "civilização"19, sua cultura "inferior, primitiva,
atrasada", esta sim, era uma barreira para uma participação efetiva na nacionalidade, o que não
deveria ser motivo para a nação oprimi-los. Contudo, em face do "estágio de evolução", formas
de controle - tutela - far-se-iam necessárias:

"Não devemos ter a preoccupação de os fazer cidadãos do Brasil. Todos entendem que indio é
indio; brasileiro é brasileiro. A nação deve protegel-los, e mesmo sustental-los, assim como
acceita, sem reluctancia, o onus da manutenção dos menores abandonados ou indigentes, dos
enfermos, e dos loucos. As crianças desvalidas, e mesmo os alienados, trabalham; mas a sociedade
não os sustenta para se aproveitar do seu esforço... O programma será: proteger sem dirigir, para
não pertubar sua evolução espontanea" (Roquette-Pinto 1917:200-201).

A partir da década de 20 decresce a ênfase em estudos indígenas por parte da antropologia


do Museu Nacional, emergindo o interesse pelos "tipos raciais" constituintes do povo brasileiro.
Nesta fase o trabalho mais relevante é, sem dúvida, "Nota sobre os typos anthropologicos do
Brasil" (Roquette-Pinto 1929). Nacionalista já em sua concepção - segundo Castro Faria
(1952:36) foi planejado como contribuição do Museu Nacional para os eventos de
comemoração dos cem anos de proclamação da Independência (1922) - é um libelo de defesa
dos tipos nacionais, uma tentativa de provar que a "anthropologia do Brasil desmente e
desmoraliza os pessimistas" (1929:147).
A argumentação de Roquette-Pinto parte de dois pontos. Primeiro, o Brasil possui um
território extenso e sub-povoado; segundo, é lançada a questão de quantas e quais são as almas

19
Crítico dos estudos craniológicos - "pouco a pouco a anthropologia vae cuidando, como convém, de
algo mais que medir crânios" (1933:63) - Roquette-Pinto realizou apenas uns poucos trabalhos de
análise de material esqueletal (Roquette-Pinto 1923-1925, Roquette-Pinto & Childe 1925). Neles atem-
se a descrições morfológicas e métricas, sem propor quaisquer inferências acerca de características
intelectuais ou morais. Mesmo na análise anatômica do cérebro de uma índia Catiana submetida a uma
necrópsia em 1917, Roquette-Pinto não traça considerações acerca de comportamento ou de uma
possível inferioridade racial (Baptista & Roquette-Pinto 1926:20-22).
10
necessárias para "tirar partido das riquezas" do país (1929:119). O pano de fundo do trabalho
diz respeito aos encaminhamentos da política migratória, que havia historicamente privilegiado
"buscar, a peso de ouro, gente branca, sem escolha, nem fiscalização" (1929:123). Isto soava
como um contra-senso para Roquette-Pinto, que via abandonados à "indigência os melhores
elementos nacionaes" (1929:123). "Nota sobre os typos anthropologicos" é uma tentativa de
demonstrar que o povo (mestiço) brasileiro por si tinha condições de povoar e explorar as
riquezas de seu país, faltando-lhe não um adequado substrato biológico - "não é da raça a
deficiência" (1929:123) -, mas sim organização nacional.
O trabalho almeja ir além de uma negação retórica de "phantasias rethoricas
desanimadoras" (1929:147). A "cientificidade" da argumentação passa pela enorme massa de
dados apresentados, complementados por inúmeros gráficos, tabelas e fórmulas matemáticas.
Analisando características físicas, fisiológicas e psicológicas/ mentais de "rapazes de todos os
Estados, filhos e netos de brasilianos, de 20 a 22 annos, todos sadios e sujeitos ás mesmas
condições de vida" (1929:124), Roquette-Pinto conclui que "nenhum dos typos da população
brasiliana apresenta qualquer estigma de degeneração anthropologica. Ao contrário. As
características de todos elles, são as melhores que se poderiam desejar" (1929:145).
As diferenças de posturas entre Lacerda e Roquette-Pinto com relação à mestiçagem quase
que falam por si próprias. Além de um hierarquizar e o outro nivelar as potencialidades das
diversas raças, tinham percepções quase que diametralmente opostas em relação às causas e aos
rumos do processo de mestiçagem. Se para um os mestiços estavam desaparecendo por
instabilidade inata, para o outro "não é por fraqueza constitucional que esses mestiços estão
desapparecendo; é sobretudo pela influência de condições sociaes" (Roquette-Pinto 1933:149).
Para Lacerda o mestiço, apesar de um estorvo na configuração racial do país, devia ser visto
como um meio para se atingir um fim: o Brasil devidamente branqueado, com a "mulataria",
através de cruzamentos com os brancos, providenciando seu próprio desaparecimento. Já para
Roquette-Pinto o mestiço era meio e fim simultaneamente: a solução para os problemas do
Brasil residia em criar condições (educação e saúde) para que os "tipos brasilianos" - incluindo
os "faiodermos" e "xantodermos", como ele denominava os mestiços20 - pudessem demonstrar

20
Segundo Roquette-Pinto (1929) os tipos raciais mais numerosos no Brasil seriam os "leucodermos"
(brancos), "melanodermos" (negros), "faiodermos" (descendentes de cruzamentos de brancos x negros)
e "xantodermos" (descendentes de cruzamentos de brancos x índios).

11
toda sua potencialidade: "a anthropologia prova que o homem, no Brasil, precisa ser educado e
não substituido" (1929:147).
Aproximadamente na mesma época em que Roquette-Pinto coletava os dados que
resultaram em "Nota sobre os typos anthropologicos", investigações abordando temática
semelhante estavam sendo realizadas na Europa e nos Estados Unidos. Como no estudo
brasileiro, o objetivo era averiguar a viabilidade biológica e intelectual dos mestiços. Segundo
Provine (1986:26), no primeiro quarto deste século predominou a noção de que as raças
humanas diferiam do ponto de vista hereditário, tanto mental como fisicamente, e que
cruzamentos entre indivíduos de raças muitos distantes eram biologicamente danosos (vide
também Provine 1973). Isto não parece diferir da tradição antropológica na segunda metade do
século XIX, com a exceção de que a argumentação apoiava-se em uma nova racionalidade: o
mendelianismo.
Com a redescoberta das leis de Mendel em 1900, as investigações acerca da
hereditariedade humana entraram numa nova fase21. Segundo os mendelianos os traços
hereditários eram transmitidos através de partículas - os chamados genes. No início do século a
tendência dos geneticistas foi interpretar as mais diversas características físicas e
comportamentais como resultando diretamente da ação dos genes. O influente geneticista norte-
americano Charles Davenport, por exemplo, em 1911 publicou um livro no qual afirmava que
não somente características como cor dos olhos e dos cabelos, comprimento dos braços e das
pernas, tamanho dos órgãos internos, etc, como também nomadismo, criminalidade e
habilidades musicais, obedeciam às regras de transmissão mendeliana (Provine 1973:791,
1986:866-867). No tocante ao cruzamento entre indivíduos de raças diferentes, teorizava-se
acerca dos perigos de nascimento de crianças com "grandes corpos e vísceras pequenas", "com
pequena estatura e um grande aparelho circulatório" ou "com dentes pequenos em uma
mandíbula muito grande" (Provine 1973:791) resultantes de combinações genéticas
inadequadas. Os arranjos desarmônicos não se restringiriam às características físicas:
"geralmente observa-se nos mulatos ambição e impulso combinados com inadequação
intelectual, o que torna os infelizes híbridos disatisfeitos com sua sorte e um aborrecimento para
os demais" (Davenport 1917 apud Provine 1973:791). Outra proeminente figura nas discussões

21
Mendel publicou os resultados de suas investigações em um periódico relativamente obscuro na
década de 1860. A importância de suas observações somente foi amplamente reconhecida em 1900
(Bowler 1989:270-281; Mayr 1982:727-731).

12
relativas à harmonia e desarmonia dos cruzamentos inter-raciais foi o biólogo norueguês John
A. Mjoen, que argumentava que os problemas nos mestiços deviam-se a distúrbios fisiológicos
hereditários: "pode bem ser que as glandulas no descendente de pais de raças diferentes sejam,
graças à nova combinação de genes, mais ou menos disharmonicamente adaptadas entre si"
(1931:4). Entre as desarmonias, Mjoen (1931:3) menciona a ocorrência de extremidades
desproporcionais, comprimento anormal do corpo, volume pulmonar e força muscular além dos
limites normais, alta freqüência de diabetes, perda e equilíbrio orgânico, diminuição de
resistência à tuberculose, entre outras. Os mendelianos chamavam atenção para as implicações
sociais de suas observações, inclusive no tocante à migração. Mjoen, por exemplo, dizia-se
"cada vez mais convencido de que os locatarios das nossas prisões e asilos são recrutados, na
sua maioria, entre tipos de raça mista, cujo numero cresce constantemente acompanhando o
aumento de intercambio entre as populações de todo o mundo" (1931:4).
Roquette-Pinto tinha simpatia pelos esquemas mendelianos de explicação da
hereditariedade. Em seu livro "Seixos Rolados", por exemplo, há uma longa discussão acerca da
"genetica de Mendel" (Roquette-Pinto 1927:176-179)22. Em "Notas sobre os typos
anthropologicos" interpreta uma genealogia na qual há uma criança branca com irmãos mulatos
e negros, pais mulatos e avôs brancos (eles) e negros (elas) segundo uma perspectiva
mendeliana: "por simples jogo de herança mendeliana, chega-se a ver, como eu já vi muitas
vezes, uma criança branca ..., nos braços de uma negra, sua avó..." (1929:138-139). Seu apego
aos esquemas mendelianos, contudo, não o levou a cooptar com o pessimismo das conclusões
de autores como Davenport e Mjoen com relação à inviabilidade física e mental dos híbridos23.
Os comentários de Mjoen com relação a maior freqüência de diabetes em mestiços foram
recebidas com cepticismo; as estatísticas de mortalidade não apoiavam a tese de maior
freqüência do diabetes nos indivíduos de "meio-sangue" (Roquette-Pinto 1933:83-84).
Análises enfocando a trajetória da eugenia na virada do século têm enfatizado as diferenças
entre uma vertente "negativa" e outra "positiva" do movimento (Stepan 1991:1-3). A primeira,

22
Roquette-Pinto (1927) afirmava que a genética mendeliana era importante instrumento para
compreender a expressão das características físicas que interessavam os antropólogos físicos. Segundo
ele, por exemplo, um nariz estreito e fino seria traço dominante sobre o nariz chato e largo; já a abertura
palpebral horizontal seria dominante sobre a oblíqua (1927:192). O importante aqui é frisar que esta era
uma argumentação que derivava de sua leitura de Davenport.
23
Para uma crítica a Davenport no que tange a suas interpretações acerca dos efeitos dos cruzamentos
inter-raciais, vide Roquette-Pinto (1933:60-62).

13
mais comum na Europa e nos E.U.A., era fortemente informada pelo mendelianismo e
postulava a implementação de medidas coercitivas (esterilização, etc.) no encaminhamento das
políticas de melhoria racial. Já a segunda, mais presente na França e na América Latina,
baseava-se numa vertente neo-lamarckiana, advogando que a constituição racial poderia ser
implemetada através da melhoria das condições do meio, sobretudo através de atenção à saúde e
à educação. Como revela sua resposta a Mjoen, o posicionamento de Roquette-Pinto combinou
elementos comuns à vertente negativa (mendelianismo) e positiva (importância do meio) da
eugenia. Esta reordenação de esquemas explicativos possibilitou-o conciliar uma argumentação
biológica (na qual o mendelianismo era elemento central) com uma posição otimista em relação
à viabilidade dos mestiços.

ANTROPOLOGIA FíSICA COMO EXPRESSÃO DO 'NACIONALISMO MILITANTE'

Do exposto acima percebe-se que a antropologia física no Museu Nacional entre 1870 e
1930 deslocou seu eixo interpretativo com relação à viabilidade e ao papel das diversas matizes
de tipos raciais brasileiros na construção da nação. No plano mais geral da antropologia física
enquanto disciplina, apesar de algumas vozes discordantes24, persistia na Europa e nos E.U.A.
uma tendência de condenar os mestiços. Como situar, então, a antropologia de Roquette-Pinto?
Os anos durante e principalmente os seguintes à Primeira Guerra Mundial testemunharam a
emergência de um forte movimento nacionalista no Brasil (Oliveira 1990:145-158; Skidmore
1976:145-172; Stepan 1991:105-106). Segundo Skidmore (1976), o conflito bélico na Europa
foi uma lembrança de que o nacionalismo não era algo obsoleto e que a força de um país estava
associada a sua capacidade de mobilizar recursos: seu povo, sua terra e sua indústria. Quais
eram as potencialidades do Brasil de vir a se tornar uma nação importante no cenário mundial?
Este debate acerca da identidade nacional brasileira era permeado pela questão racial. Segundo
as teses deterministas imperantes, a viabilidade do Brasil enquanto nação era limitada, já que
um dos alicerces de sustentação - seu povo - era de constituição (racial) frágil, faltando-lhe
"coerência biológica" por ser constituído "de massas sem raça, heterogeneidades radicais ... em

24
Franz Boas foi uma delas (Barkan 1992; Santos 1996; Stocking 1968). Apesar de alguns autores
enfatizarem que Boas exerceu uma importante influência sobre Roquette-Pinto (Ribas 1990:120-121;
Schwarcz 1993:96; Stepan 1991:160), chama atenção o fato de Roquette-Pinto praticamente não
mencionar este antropólogo norte-americano em seus trabalhos.

14
vez de unidades biológicas" (Stepan 1991:105). O nacionalismo das décadas de 10 e 20 foi uma
busca de liberação ideológica das amarras impostas pelos ideários racistas europeus (Skidmore
1976:146). Oliveira (1990:145) fala-nos de uma vertente "militante" deste nacionalismo, que
"envolveu a busca de uma nova identidade e [que] teve como parâmetro a recusa de modelos
biológicos que embasavam o pensamento racista". Era um movimento de crítica capitaneado
por intelectuais envolvidos em um projeto de salvação nacional que situou na ausência de saúde
e educação a causa do atraso do povo brasileiro.
Um exemplo de materialização do "nacionalismo militante" foi a chamada "Liga Pró-
Saneamento", um movimento de cunho político-intelectual que entre 1916 e 1920 "proclamou a
doença como principal problema do país e o maior obstáculo à civilização" (Lima & Hochman
1996:1). Os intelectuais que participaram nesta Liga opunham-se ao determinismo racial e
climático, localizando nas endemias (rurais) o principal entrave no projeto de redenção:
indolência, preguiça e falta de produtividade do povo brasileiro deviam-se às doenças e ao
abandono. Entre as obras de referência do movimento estavam "Os Sertões" de Euclides da
Cunha (1902) e "Viagem Científica pelo Norte da Bahia, Sudoeste de Pernambuco, Sul do Pará
e de Norte a Sul de Goiás" por Belisário Penna e Artur Neiva (1916) (Lima & Hochman
1996:9-10). Opondo-se à visão idílica do interior do Brasil dominante no século XIX, estes
textos baseavam-se em um conhecimento empírico in situ das regiões rurais do Brasil,
retratando-as como "espaços de isolamento, de doenças e de vícios" (1996:9). O intelectuais do
movimento pró-saneamento aproximaram-se da imagem do Brasil como um país doente25
através de uma perspectiva cientificista, atribuindo às ciências, mais especificamente à
medicina, um importante papel no processo de reorganização nacional: "a ciência permitiria
desvendar a verdade e 'iluminar' os problemas nacionais, constituindo-se em instrumento crucial
para a intervenção do Estado" (Britto & Lima, 1991:3). Além da excelente análise de Lima &
Hochman (1996), diversos outros trabalhos têm documentado o clima intelectual e político que
motivou e cercou o movimento em prol do saneamento, abordando inclusive suas repercussões
no âmbito da sociedade brasileira (Britto & Lima 1991; Castro-Santos 1985; Stepan 1991;
Thielen et al. 1991). Um dos produtos concretos alcançados foi a criação de uma agência
pública federal (Departamento Nacional de Saúde Pública) voltada diretamente para a reforma
da saúde pública - uns dos objetivos que levou à formação da própria Liga -, agência esta que
exerceu considerável influência nos rumos da política sanitária no Brasil nas décadas seguintes.

25
Thielen et al. (1992) trazem um interessante conjunto destas imagens.
15
Roquette-Pinto foi um intelectual com grande envolvimento com o projeto de redenção
nacional em curso nas primeiras décadas deste século e suas interpretações acerca da
antropologia do Brasil mestiço foram profundamente influenciadas por tais vinculações. Como
um dos mais reconhecidos especialistas em questões raciais de sua época, trabalhando em uma
instituição tradicional e próxima do centro do poder, Roquette-Pinto tornou sua antropologia
física, que no Brasil havia tradicionalmente ocupado a tribuna de acusadora, em "anjo da
guarda" do povo brasileiro. A leitura de seus trabalhos antropológicos demonstra uma intensa
preocupação com a saúde e a educação; estaria no plano ambiental/social e não no âmbito
biológico/racial as razões para se compreender a inferioridade dos tipos nacionais propalada
pelos ideários racistas europeus (vide Roquette-Pinto 1927, 1933, 1942). Como ressalta na
conclusão de seu "Nota sobre os typos anthropologicos", "o numero de individuos
somaticamente deficientes, em algumas regioes do paiz, é realmente consideravel. Isso, porém,
não corre por conta de qualquer factor de ordem racial; deriva de causas pathologicas cuja
remoção na maioria dos casos independe da anthropologia. É questão de politica sanitaria e
educativa" (1929:146). A ele não faltava inclusive o contato com a realidade rural do Brasil,
possibilitada por sua participação como naturalista na "Comissão Rondon" em 1912 e retratada
em seu livro "Rondonia".
Vários fatos podem ser mencionados para atestar o grau de envolvimento de Roquette-
Pinto com o projeto nacionalista-cientificista de resgate do povo brasileiro. Por exemplo, ele
não só esteve envolvido na criação da Liga Pró-Saneamento como participou ativamente da
implementação de suas atividades, tendo inclusive colaborado na editoração da revista Saúde,
que veiculava as idéias dos membros da Liga (Britto & Lima 1991; Lima & Hochman 1996). A
proposta reformista da qual fazia parte também enfatizava a questão da educação popular, o
campo para o qual ele se voltou gradualmente a partir da década de 1920 e principalmente após
seu desligamento do Museu Nacional em 1935 (Ribas 1990:59-103). Na década de 1920
Roquette-Pinto envolveu-se na fundação de duas rádios de caráter educativo e nos anos 30 criou
o "Instituto Nacional de Cinema Educativo", do qual foi o primeiro diretor.
As análises acerca do envolvimento de cientistas com a questão nacionalista no Brasil nas
primeiras décadas deste século freqüentemente ressaltam a ocorrência de um deslocamento
discursivo desde explicações biológicas até aquelas centradas no papel do meio cultural,
econômico e social (Britto & Lima 1991; Castro-Santos 1985; Lima & Hochman 1996;
Skidmore 1976; Stepan 1991). Ainda que Roquette-Pinto inquestionavelmente encaixa-se nesta

16
perspectiva, ressalvas devem ser feitas. Isto porque, interessantemente, seu afastamento das
explicações afeitas ao determinismo racial não veio acompanhado pelo abandono de uma lógica
fortemente calcada na biologia. Em vez de rupturas, de cancelamento de uma dada perspectiva e
adoção de outra, Roquette-Pinto combinou vertentes (cf. Corrêa 1982:215). Isto pode ser
demonstrado, por exemplo, através da distinção que fazia entre higiene ("procura melhorar o
'meio' e o 'individuo'") e eugenia ("procura melhorar a 'estirpe', a 'raça', a 'descendencia')
(1933:70). Ainda que enfatizasse a relevância do meio, não negava a importância de uma
dimensão que a higiene não atinge: "a 'herança biologica', o verdadeiro dominio da eugenia"
(1933:71).
Um ensaio que tece considerações sobre a realização de um concurso de "misses" é, além
de curioso, particularmente revelador da dimensão que a biologia/ raça ocupa no pensamento de
Roquette-Pinto (Roquette-Pinto 1933:25-35). Ressaltando que hesitou em tratar de assunto
aparentemente irrelevante, questiona a escolha da jovem vencedora com base unicamente em
critérios "sensoriais e estéticos". Isto porque haveria "numerosissimos typos, biologicamente
insufficientes, que, no entanto, causam grande sucesso de belleza". Para ele, o tal concurso
deveria ser tomado como uma "prova eugenica", "sem lugar para futilidades". A escolha da
mais bela - representante das "donas do ventre bemdicto de onde sahirá o Brasil de nossos
netos" - deveria caber a especialistas. Se para se escolher o mais lindo peixe deve-se ouvir "os
conselhos de um ichtyologo", o processo de seleção das "misses" deveria se basear em "exames
biologicos severos", a serem realizados por um especialista. A certa altura do texto faz a
seguinte sugestão "em pról da raça":

"... realize, anualmente, cada município, um grande concurso... para escolher um casal de jovens...
typos de herança realmente eugenica, e qualidades pessoaes relevantes... O premio para os dois
jovens eugenicos poderia ser um augmentozinho de ordenado... de modo que, 'ella' pudesse casar
com 'elle'. É o que deseja a Eugenia." (Roquette-Pinto 1933:29).

Este comentário, mais um artifício de retórica que algo a ser efetivamente implementado,
indica que Roquette-Pinto continuou a refletir acerca da sociedade brasileira através de uma
ótica que, ainda que privilegiando o meio, não descartava por completo a importância de
intervenções sobre a constituição biológica (racial) em seu sentido mais stricto, qual seja, sobre
a hereditariedade, sobre o germoplasma. Revela, como colocou Gilberto Freyre (apud Corrêa

17
1982:216), que Roquette-Pinto foi um daqueles "antropólogos especializados antes na
Antropologia Física que na social, mas crescentemente sensíveis à importância do social".

COMENTÁRIOS FINAIS

Desta análise percebe-se quão estreitamente vinculada esteve a antropologia física no


Museu Nacional entre 1870 e 1930 com o clima social e político da época quando foi gerada.
Os antropólogos do Museu Nacional não foram receptáculos passivos de esquemas teóricos
raciais em voga no período. Pelo contrário, idéias foram minadas ou enfatizadas em função de
uma complexa rede de vinculações que extrapolavam os limites do Museu enquanto instituição
e da antropologia física enquanto disciplina. Sob a "objetividade" que as técnicas craniométricas
e somatométricas pareciam conferir às pesquisas, situava-se uma dinâmica na qual ciência e
debates político-sociais retroalimentavam-se ou, utilizando um termo mais apropriado ao
debate, miscigenavam-se, hibridavam-se. Por mais diferentes que tenham sido suas posições,
Lacerda e Roquette-Pinto, cada um a sua maneira, compartilharam de uma visão otimista acerca
do futuro do Brasil enquanto nação. O otimismo de Lacerda calcava-se na exclusão: o país, via
branqueamento, estava no caminho certo, só que numa trajetória que excluia a participação de
alguns segmentos (índios e negros) em favor de outros (brancos). Já Roquette-Pinto professava
uma postura embebida de um otimismo eminentemente inclusivo: todos os segmentos (raciais)
tinham potencialidade de vir a participar no projeto de construção da nação, bastando assegurar-
lhes condições. Como bem colocou Castro-Santos (1985), para o primeiro predominava a
perspectiva de "o passado nos condena"; para o segundo, "o passado nos redime".

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