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Entretanto, ele não usou apenas a língua dos vikings e as línguas nórdicas para
criar os orcs e seu idioma. A palavra "Orc" é, na verdade, o nome de uma tribo que
viveu na Escócia em tempos remotos, nas Ilhas Orkney (também conhecidas como
Órcadas). "Orc" é uma palavra do idioma gaélico que, até onde sei, significa
"javali". Os cultos guerreiros das tribos nativas das Ilhas Britânicas provavelmente
usaram javalis da mesma forma que os cultos guerreiros escandinavos dos
“berserks” [N.: Algo como guerreiros implacáveis] e dos lobisomens usavam javalis
e lobos. Os "Orcs" eram parte de um grupo de tribos conhecido desde a era
romana até a época dos vikings como Pictos ("Aqueles que se pintam").
Portanto não chega a surpreender que um inglês católico como Tolkien tivesse
usado, entre outros, “Bárbaros escoceses loucos, ruivos e que brandiam pesadas
espadas” e “‘berserkers’ escandinavos furiosos, que queimavam igrejas” como
modelos para alguns de seus vilões e, por causa disso, eu me senti mais atraído
para esses vilões do que para os mocinhos. Eu tinha pouco em comum com
personagens “cristãos”, como os cavaleiros “ingleses” de Rohan ou o povo
“francês” de Gondor. Eu tinha pouca admiração por um “santo” como Aragon.
Mesmo os elfos eram como estrangeiros, já que Tolkien usou o finlandês quando
criou a língua deles e usou os finlandeses como modelo quando os criou. Eles
realmente têm muito em comum com os Elfos, já que vivem no que é basicamente
uma grande floresta (Finlândia), a leste das montanhas escandinavas (“As
Montanhas Cinzentas”). Antes eles viviam no norte da Rússia, na vasta floresta
("Myrkwood", [Negra]) a oeste dos montes Urais. Eles também têm boa aparência
(são loiros) e, como os elfos, são um pouco quietos, melancólicos, diferentes e
distantes. Misteriosos, por assim dizer. Para mim, a linguagem dos elfos soa
estrangeira e incompreensível – assim como o finlandês é incompreensível –
enquanto o idioma dos orcs e a Língua Negra obviamente foram baseados no
idioma de meus ancestrais. Então Uruk-Hai foi uma escolha lógica para o nome da
banda.
(Você deve ter notado como o nome era idiota: Old Funeral. Mas, a favor deles,
devo dizer que acho que eles se chamavam originalmente apenas Funeral. Então
descobriram que outra banda também se chamava Funeral, mas eles já tinham
usado aquele nome antes da outra banda Funeral, então eles mudaram para Old
Funeral. Eles eram, em outras palavras "the old Funeral" [N.: o “velho” Funeral], e
não Old Funeral, então o nome não é tão idiota como parece à primeira vista).
Muitas bandas (exceto Old Funeral, é claro ) tinham nomes ingleses “maneiros”,
como Immortal, Mayhem, Darkthrone, Destruction, Celtic Frost, Enslaved,
Pestilence, Paradise Lost, Morbid Angel, Death, e assim por diante. Eu não queria
isso e essa foi uma das razões que me levaram a escolher os nomes Uruk-Hai e
depois Burzum. Naquela época – antes do lançamento dos filmes da série “Senhor
dos Anéis” dirigidos por Peter Jackson – seu significado era praticamente solis
sacerdotibus: só os iniciados, por assim dizer, sabiam o que significava. Somente
pessoas que tinham um interesse especial no mundo de Tolkien sabiam, e isso era
legal – era assim que eu pensava. Isso permitia que os ouvintes se sentissem
especiais e percebessem que Burzum era feito especialmente para eles (e era).
A idéia por trás do Burzum não era somente fazer música original e pessoal, mas
também criar algo novo – um pouco de “escuridão” num mundo “luminoso”, seguro
e maçante demais. Diferentemente de 99% de todos os músicos, eu não tocava
música para me tornar famoso, ganhar dinheiro e dar umas transadas. Eu não
tinha interesse em fama ou dinheiro e minha visão sobre as mulheres era muito
ingênua e romântica, uma visão quase medieval (ou de um mundo de fantasia)
sobre as mulheres, então eu não tinha nada além de desprezo pela atitude
estúpida “sexo, drogas e rock’n’roll” do resto do pessoal do metal. Ao invés disso,
minha motivação era um desejo de experimentar a magia e tentar criar uma
realidade alternativa usando a “magia”. Se o poder espiritual de muitas pessoas
pode ser “reunido” em um pote, ou transferido através de um objeto ou ser mágico
(em norueguês chamamos isso de fylgja ["seguidor", "espírito guardião"]), ele
poderia ser usado para criar algo real. Isso é um pensamento puramente mágico e,
ao invés de ser baseado em ocultismo é baseado em magia e fantasia – e isso é
algo sobre o qual é interessante pensar. Burzum foi criado para ser esse pote, a
arma mágica (ou se Você preferir, o anel mágico), por assim dizer. Devo enfatizar
(no caso de Você pensar que acabei de descrever tudo que se passava em minha
mente) que esse era um projeto experimental que tomava apenas parte de meu
tempo, já que eu também fazia outras coisas na vida (como me preparar para uma
guerra de guerrilha no caso de uma invasão da Noruega pelos EUA... ).
Burzum deveria ser tal símbolo. Burzum era uma tentativa de criar (ou “recriar”, se
Você preferir) um passado imaginário, um mundo de fantasia – que, por sua vez,
era baseado em nosso passado Pagão. O próprio Burzum era um feitiço. As
músicas eram como feitiços e os álbuns eram elaborados de maneira especial,
para fazer os feitiços funcionarem. O Burzum não foi concebido para shows ao
vivo e sim para ser escutado à noite, quando os raios de sol não podiam vaporizar
o poder da magia e quando o ouvinte estivesse sozinho – de preferência em sua
cama, prestes a dormir. Os primeiros dois álbuns foram feitos para o formato LP, o
que significa que cada lado é um feitiço, portanto eles não funcionam em CD, a
menos que você programe o CD player para tocar somente as faixas de um lado
do LP de cada vez. Já os últimos álbuns foram criados para CD, portanto eles não
funcionam tão bem em LP. A primeira faixa serve para acalmar ou “preparar” o(a)
ouvinte e torná-lo(a) mais suscetível à magia, as músicas seguintes levam o(a)
ouvinte à exaustão e colocam-no(a) em um estado de transe e a última faixa
“acalma” o(a) ouvinte e leva-o(a) para o “mundo de fantasia” – quando ele ou ela
adormeceria. Esse era o feitiço, a magia que tornaria o passado imaginário, o
mundo de fantasia, real (na mente do(a) ouvinte). Se Você analisar os álbuns do
Burzum e como eles são feitos, Você entenderá o que quero dizer. A última faixa
do “feitiço” (no lado do LP ou no CD) é sempre uma faixa calma (muitas vezes de
sintetizador). Se isso funciona ou não é, obviamente, outra questão, mas essa era
a idéia.
A arte gráfica dos dois primeiros álbuns foi inspirada por um módulo do AD&D (1ª
edição) chamado "The Temple Of Elemental Evil", e as artes gráficas do terceiro e
do quarto álbum foram inspiradas por tradicionais contos de fada escandinavos. Eu
nunca cheguei a ler livro algum sobre Satanismo, então aqueles que acreditam
que fui influenciado pelo Satanismo estão simplesmente enganados. Embora eu
tenha dito que era satanista durante um curto período de 1992, eu nunca fui um
satanista. Na verdade, apenas usei o termo para provocar as pessoas e marcar
minha hostilidade com relação ao Cristianismo – e enfatizar a necessidade de
“escuridão” no mundo (já que “luz” demais não ilumina nossos caminhos e nos
aquece e sim cega nossos olhos e nos queima – conforme foi claramente dito nos
álbuns "Hvis Lyset Tar Oss" e "Filosofem" [Se Você quiser saber mais sobre essa
filosofia, sugiro que leia meus artigos ou livros sobre Paganismo]).
O outro lugar era uma colina arborizada com um antigo horg (um monumento de
pedra pagão) a cinco minutos a nordeste de onde eu fui criado. Era uma floresta
decídua [N.: que mudava conforme a estação], então era muito diferente da outra
floresta (de pinheiros) na qual costumávamos lutar, e era um local fascinante. É
claro que trazer armas para um local sagrado e lutar nele não é, teoricamente,
uma coisa boa, de acordo com as antigas tradições, mas as armas eram feitas de
madeira e não tinham sido feitas para machucar pessoas, então aquilo não era
algo muito sério (elas estavam mais para varinhas de mágicos do que para outra
coisa).
Era sempre muito bom voltar pra casa e tomar um banho quente depois dessas
lutas: suados, encharcados, com hematomas, sempre sangrando e com espinhos
ou folhas de pinheiro em nossas roupas (e até no cabelo). Eu me sentia como se
tivesse voltado pra casa depois de uma batalha real. Exausto – e me sentindo vivo.
Inicialmente eu praticava esse jogo de luta com alguns amigos de RPG mas,
quando encontrei os caras do Old Funeral (e do Amputation, depois Immortal), nos
também começamos a fazer isso. Esse era um evento social para nós e durante os
intervalos falávamos de música, alguns planejavam shows ao vivo e nós
geralmente inspirávamos uns aos outros – antes de chegarmos em casa no meio
da noite e tocarmos música!
(Devo acrescentar que, quando fui preso por matar Euronymous, essas lutas foram
descritas como “rituais satânicos noturnos” pela mídia, só para dar a Você um
exemplo de como eram ridículos e falsos os rumores e as acusações de
“Satanismo” propagados pela mídia).
O clima da floresta, o clima da noite, o clima do antigo local sagrado, a dor dos
hematomas e pequenos ferimentos, o gosto dos espinhos dos pinheiros, da terra e
do sangue, e o cheiro da madeira queimando: Essa era a nossa (ou pelo menos a
minha) inspiração. Sempre que voltava para casa, depois que já tinha passado dos
17 anos e troquei meu ciclomotor [N.: bicicleta dotada de motor] por um carro, eu
tocava música bem alto no som do carro e sempre dava longos passeios pelos
vales e florestas durante a noite, e através da cidade ou zonas rurais, antes de
finalmente chegar em casa. O som monótono do motor do carro e a música alta
eram hipnóticos e, é claro, eu era influenciado pelas endorfinas também, já que
meu corpo estava lutando contra a dor dos hematomas e outros ferimentos. Essa
era uma “escuridão” positiva em nosso mundo de “luz” – e isso me inspirou, além
de me fazer sentir vivo.
Na época em que comecei com o Burzum ainda não tinha ouvido falar do Venom,
então logicamente o Burzum não foi – como alguns alegaram – influenciado pelo
Venom, de forma alguma. Quando eu dirigia de volta para casa depois das lutas
de “espada”, ouvindo música, eu costumava escutar uma fita demo do Paradise
Lost, lançada em 1989 ou 1990 eu acho; "Hammerheart" e "Blood. Fire. Death”, do
Bathory; a fita demo do Old Funeral, chamada "Abduction Of Limbs" (...);
Pestilence (uma banda holandesa de Death Metal, pelo que me lembro) e algumas
outras bandas underground de Death Metal que não me lembro hoje. Ouvia ainda
house underground e techno (mas apenas quando estava sozinho, porque fãs de
metal não parecem gostar desse tipo de música) e, é claro, eu ouvia Burzum. Os
outros caras gostavam de Entombed e Morbid Angel, mas eu nunca gostei e nem
ouvi. A propósito, ninguém ouvia Venom mas, no final de 1991, começamos a
ouvir Celtic Frost e Destruction antigos, os primeiros do Kreator ("Pleasure To Kill"
e "Endless Pain") e (também os primeiros) álbuns do Bathory que, a propósito,
todos nós achávamos que era Thrash Metal. Entombed e outras porcarias do
Death Metal que estavam na moda foram esquecidos por eles. Sei que os caras do
Emperor ouviam Merciful Fate e King Diamond ao invés das, ou talvez além das,
bandas que mencionei acima, coisas que eles escutavam nos anos 80, então não
se pode sair por aí afirmando que alguém devia ouvir essa ou aquela banda.
Escutávamos aquilo de que gostávamos. Em 1992 eu (e pelo menos um dos caras
do Emperor) também começamos a escutar Dead Can Dance, "Within The Realm
Of A Dying Sun" e outros sons desse tipo. Nós estávamos simplesmente cansados
das hordas maçantes, modistas e repetitivas de bandas de Death Metal que
produziam toneladas de álbuns ruins que soavam todos da mesma forma e
voltamos a ouvir o que ouvíamos antes ou tentávamos encontrar outro tipo de
música. É claro que continuei escutando bons lançamentos de Death Metal, como
a demo do Paradise Lost que mencionei antes, e sei que os outros ouviam o "Altar
Of Madness", do Morbid Angel, e Deicide (quando eles lançaram seu álbum de
estréia, em 1992, eu acho).
[N.:
“Drifting
In the Air
Above a Cold Lake
Is a Soul
From an Early
Better Age
Grasping for
A Mystic Thought
In Vain...but Who's to Know
Further on Lies Eternal Search
For Theories to Lift the Gate
Only Locks Are Made Stronger
And More Keys Lost as Logic Fades
In the Pool of Dreams the Water Darkens
For the Soul That's Tired of Search
As Years Pass by
The Aura Drops
As Less and Less
Feelings Touch
Stupidity
Has Won too Much
The Hopeless Soul Keeps Mating”.
“Movendo-se
No ar
Sobre um lago gélido
Há uma Alma
De velhos
E melhores tempos
Ansiando por
Um pensamento místico
Em vão... mas quem sabe
Adiante estará a busca eterna
Por teorias que abram o portal
Somente fechaduras são mais fortes
E mais chaves são perdidas quando a lógica desaparece
No lago de sonhos a água escurece
Porque a Alma está cansada de procurar
Os anos passam
A aura some
E cada vez menos
Os sentimentos tocam
A estupidez
Está dominando
A Alma desamparada continua procurando seu par”]
Isso era, na verdade, tudo o que eu tinha pra dizer e as outras letras do Burzum
eram apenas comentários sobre esta. O último verso era "the hopeless soul keeps
mating", mas na capa estava escrito erroneamente "the hopeless soul keeps
waiting" [N.: “A Alma desamparada continua esperando”] devido a um erro de
Euronymous, que administrava a gravadora (DSP) que lançou o álbum pela
primeira vez. Aparentemente minha letra de mão era difícil de ler. Além disso, a
música "Ea, Lord Of The Deeps" [N.: “Ea, Senhor do Abismo”] foi mudada para
"Ea, Lord Of The Depths" [N.: “Ea, Senhor das Profundezas”], mas obviamente
Euronymous achou melhor mudá-la.
A magia era necessária somente porque eu não estava satisfeito com o mundo
real. Não havia aventura, medo, trolls, dragões ou mortos-vivos. Não havia magia.
Então percebi que eu mesmo precisava criar a magia. Porém, foi muito triste ver
essa magia ser arruinada ou pelo menos enfraquecida em 1993, quando a mídia
começou a escrever sobre ela, e ver muitas antigas bandas de country, rock e
Death Metal da Noruega subitamente tingirem seus cabelos e começarem a usar
“corpse-paint” e a tocar Black Metal; para ficarem famosas, ganharem dinheiro e
darem umas transadas – e não para mudarem o mundo. Com certeza eles não se
importavam com a magia, mas, em sua defesa, devo dizer que nunca mostraram
muita magia para eles. A mídia distorceu demais as coisas, como sempre fazem.
As novas bandas fizeram que o Black Metal se tornasse parte do mundo moderno,
ao invés de uma revolta contra essa realidade, que é o que deveriam ter feito
Talvez eles tenham se sentido atraídos porque a magia funcionou, porque se
sentiram atraídos por algo que era especial. Eu não sei. Só sei que não gosto de
ver no que isso tudo se transformou: somente uma outra subcultura do tipo “sexo,
drogas e rock’n’roll” sem imaginação e que é parte do mundo moderno. Isso se
tornou parte da política “pão e circo” dos opressores – tornou-se parte do
problema.
Minha esperança era de que o Burzum pudesse inspirar as pessoas a desejar uma
nova e melhor realidade no mundo real e a fazer alguma coisa a respeito. Talvez
se revoltar contra o mundo moderno, recusando-se a participar do estupro da Mãe
Terra, recusando-se a participar do assassinato de nossa raça européia,
recusando-se a se tornarem parte de alguma dessas subculturas “rock’n’roll”
criadas pela mídia e construindo novas e saudáveis comunidades, onde a cultura
Pagã – e a magia, se Você assim preferir – possa ser cultivada.
Dezembro de 2004
Mas ainda não tínhamos cortado relações com ele, não completamente, e, como
última tentativa de manter sua loja funcionando, concordamos que eu deveria dar
uma entrevista a um jornal para atrair alguma atenção para o metal. Ele não tinha
mais álbuns do Burzum, mas ainda tinha outros álbuns para vender em sua loja.
Quando eu dei a entrevista anônima em janeiro de 1993 eu exagerei bastante e,
quando o jornalista foi embora, nós – uma garota e eu – demos umas boas
risadas, porque ele não pareceu ter entendido que eu estava zoando com ele. Ele
levou tudo muito a sério. Infelizmente, ele procurou a polícia no dia seguinte (19),
fui preso e, no dia 20, seu jornal publicou a sua versão do que eu tinha dito, e isso
enquanto eu estava encarcerado e incapaz de dizer a alguém que aquilo era
somente um monte de asneiras que eu tinha dito para atrair algum interesse para
um certo gênero musical – e para ajudar Euronymous a ganhar alguns fregueses e
alguns trocados.
Porém, a parte interessante foi que, quando eu estava preso, Euronymous fechou
a loja, ao invés de tirar proveito da situação, porque seus pais acharam que a
atenção era inconveniente demais! Então o “maligno” herói do Black Metal fez o
que sua mãe e seu pai mandaram! Sim, realmente patético mas, agindo assim, ele
também fez com que todos os meus esforços fossem em vão. Eu passei seis
semanas preso por causa disso e tudo o que ele fez foi fechar a loja! Choveram
fregueses, que encontraram a loja fechada! Isso não é estúpido?!
Quando eu saí da prisão eu estava bastante desiludido por tudo o que tinha
acontecido na mídia e a polícia bagunçou tanto a minha vida quando fez a batida
em meu apartamento que foi difícil levar a Cymophane pra frente do jeito que eu
tinha planejado. Enquanto isso, a DSP assinou (provavelmente devido ao alvoroço
da mídia) um contrato de distribuição com uma empresa de Oslo [N.: capital da
Noruega] e conseguiu voltar a prensar e vender seus álbuns.
Para mim ele nem existia mais. Quando ele me telefonou para me perguntar se
eles, os caras do Mayhem, poderiam ficar em minha casa enquanto estivessem
nos estúdios Grieghallen para terminar o álbum do Mayhem, eu disse não. E
ninguém mais em Bergen queria dar a eles um lugar para ficarem, então eles
precisaram alugar um quarto em um motel. Ninguém tinha nada contra
Hellhammer, o único outro membro do Mayhem na época, mas nós simplesmente
não queríamos nos envolver com Euronymous. Eu sempre tive um bom
relacionamento com Hellhammer, e ele também não estava muito impressionado
com Euronymous, por assim dizer. Em 1992, quando gravamos "De Mysteriis Dom
Sathanas", ele até brincou dizendo que deveríamos matar o cara!
Por alguns meses esse sentimento de desprezo por Euronymous espalhou-se pela
cena do metal, já que cada vez mais pessoas percebiam o quanto ele era idiota, e
ele me culpava por tudo isso, então começou a me odiar. Ele acreditava que o fato
das pessoas terem perdido o respeito por ele era culpa minha. De certa forma ele
estava certo, já que eu não mantinha minhas opiniões em segredo, mas acredito
que ele fez isso para si mesmo. Ele simplesmente se revelou através da maneira
pela qual reagiu aos problemas. Ele se fez de tolo. Além disso, quando a mídia
publicou todas aquelas asneiras sobre mim, ele se sentiu menos importante. De
repente ele não era mais o “personagem principal” da cena metal hardcore. Ele
acreditava que isso também era minha culpa. Essa foi provavelmente a razão pela
qual as pessoas alegaram que o assassinato foi o resultado de uma luta pelo
poder entre duas figuras importantes da cena, mas a verdade é que isso era
importante apenas para ele. Eu não dava a mínima pra isso. Eu nem mesmo me
relacionava com tanta gente ligada ao metal assim e, quando saía, preferia ir a
festas house e a um clube techno underground em Bergen chamado "Føniks"
(Fênix), enquanto a maioria dos caras do metal ia a algum local de rock'n'roll. Na
verdade, eu ia ao clube techno para fugir de todo aquele pessoal novo do metal,
porque eu não gostava da atenção que recebia deles. Eu preferia a atenção das
garotas, por assim dizer.
Algum tempo depois o Mayhem chamou um novo guitarrista, Snorre W. Ruch of
Thorns, de Trondheim, e quando ele se mudou para Bergen eu o deixei dormir em
uma cama para hóspedes na sala de meu apartamento até que ele conseguisse o
seu próprio. Nesse momento Euronymous começou a conspirar contra minha vida.
Ele queria me matar. Para ele eu era o problema, então me matando ele
acreditava que o problema desapareceria.
Snorre
Mas o problema era que ele incluiu algumas pessoas ligadas ao metal em sua
conspiração para me matar, e eles me contaram. Ele disse que contou a eles
porque ele confiava neles mas, obviamente, eles gostavam mais de mim do que
dele, podemos dizer assim. Certo dia ele telefonou para Snorre, que vivia em meu
apartamento, e Snorre me deixou ouvir o que Euronymous tinha a dizer. Ele disse
a Snorre que "Varg precisa desaparecer de uma vez por todas" e coisas desse
tipo, confirmando os planos que outros me contaram antes.
Muitos alegaram que eu exagerei em minha reação, até porque Euronymous era
um bundão mesmo, e ele não teria coragem nem para tentar me matar. Claro, ele
era um bundão, mas daquela vez ele não contou seus planos para todo mundo,
como ele costumava fazer. Mas eu levei aquilo a sério porque ele contou somente
para algumas pessoas em quem confiava, seus amigos mais próximos – ou
aqueles que ele acreditava que eram seus amigos mais próximos. Além disso, em
agosto de 1993 ele estava prestes a ser preso por quatro meses, depois de ser
condenado por ferir duas pessoas com uma garrafa quebrada, porque eles tinham
“olhado para sua namorada” em um ponto de ônibus. Ele não era um cara muito
simpático e, quando ele sentia que estava sendo posto contra a parede, ele era
bem capaz de executar seus planos. Quando sentem muito medo, mesmo os
maiores covardes tornam-se perigosos.
No mesmo dia em que ele contou a Snorre sobre suas intenções de me matar (e,
indiretamente me contou, já que eu estava ouvindo a conversa), eu recebi uma
carta dele, na qual ele fingia estar sendo bem amigável e dizia que queria me
encontrar para discutir um contrato que eu não tinha assinado ainda. Essa era a
única desculpa que ele tinha para me encontrar e parecia que ele estava armando
uma pra cima de mim. De acordo com seus “amigos”, o plano era me encontrar,
me nocautear com uma arma de choque, me amarrar e me colocar no porta-malas
de um carro. Depois ele dirigiria até uma floresta, me amarraria a uma árvore e me
torturaria até a morte enquanto gravaria tudo em vídeo.
Varg Vikernes
Minha reação foi, naturalmente, raiva. Quem diabos ele pensava que era? No
mesmo dia decidi ir de carro até Oslo, dar a ele o contrato assinado e
simplesmente dizer a ele “f*da-se” e, ao fazer isso, eliminar todas as desculpas
que ele tivesse para me contatar de novo. Mas tenho que admitir que não deixei de
considerar a possibilidade de dar umas porradas nele. Pouco antes de sair Snorre
me disse que queria ir junto, porque ele tinha alguns novos riffs de guitarra para
mostrar a ele. Eu pretendia continuar até Sarpsborg com um lote de camisetas do
Burzum (para o Metallion da revista "Slayer" pelo que me lembro) e apenas deixar
Snorre em Oslo com Euronymous. A propósito, o estranho (e desleal) Snorre não
parecia ter problema algum em ser amigo de nós dois, como uma pessoa normal
(de bom caráter) teria.
Deixamos Bergen por volta das 21:00 e chegamos a Oslo entre 03:00 e 04:00 (não
me lembro exatamente, já que isso aconteceu há mais de onze anos). Nós nos
revezamos na direção e, quando chegamos, eu estava dormindo no banco de trás.
Por causa disso eu tinha tirado meu cinto e, quando paramos, eu passei o cinto
para ele e pedi para colocá-lo em um lugar seguro. Eu tinha guardado uma faca no
cinto e ficar dirigindo com uma faca no banco de trás não é muito seguro.
Alguns segundos depois ele se levantou do chão com um pulo e correu pra
cozinha. Eu sabia que ele tinha uma faca na mesa da cozinha e pensei “se ele vai
pegar uma faca, eu também vou pegar uma faca”. A minha faca de cinto estava no
carro, porque estava no cinto que eu tinha deixado lá, mas eu tinha um canivete,
ou melhor, uma faca de bota (com uma lâmina de 8 cm) em meu bolso. Eu pulei na
frente dele e consegui pará-lo antes que pusesse suas mãos na faca de cozinha.
Nesse momento ele já tinha mostrado suas intenções então, quando ele correu pro
quarto, eu percebi que ele queria pegar outra arma. Algumas semanas antes ele
tinha dito a algumas pessoas que em breve a polícia devolveria para ele a
espingarda (a usada por “Dead” quando ele se matou), então eu percebi que era
isso o que ele estava tentando: pegar a sua espingarda (embora ele, na verdade,
não tivesse uma arma de choques ou uma espingarda em seu apartamento, eu
não sabia). Eu corri atrás dele, o esfaqueei e fiquei um pouco surpreso quando ele
saiu correndo do apartamento. Não fez nenhum sentido ele ter fugido e o que me
deixou zangado foi saber que ele tinha começado a briga mas, no momento em
que ele se deu mal ele decidiu fugir, ao invés de lutar como um homem. Isso é
algo que sempre detestei.
Euronymous
Do lado de fora encontramos Snorre, que tinha terminado seu cigarro. Todas as
portas pareciam iguais e Snorre era um cara bem distraído, então ele acabou
subindo até o sótão, um andar acima, por engano. Confuso, ele desceu e usou seu
isqueiro para iluminar o número da porta, tentando ler para saber se era o
apartamento certo. Enquanto ele estava tentando ler o número da porta,
Euronymous saiu correndo de cueca, sangrando e gritando como um louco. Snorre
ficou tão surpreso e aterrorizado que ficou parecendo um fantasma, e pareceu que
seus olhos estavam prestes a saltar. De acordo com Snorre, ele ficou tão surpreso
e chocado que apagou e não se lembrou de nada até que momentos depois eu
perguntei se ele estava bem.
Isso pode soar como uma maneira estranha de matá-lo, mas minha faca era muito
pequena e apenas pontuda. A lâmina não era afiada. Era tão cega que eu não
conseguiria cortar um tomate em dois sem esmagá-lo. A única maneira de matá-lo
rapidamente com aquela faca seria perfurar seu coração ou crânio. De fato, eu
poderia ter sido capaz de matá-lo muito mais fácil e rapidamente se eu nem
tivesse uma faca e, ao invés disso, tivesse batido nele até a morte. A única razão
que me fez sacar a faca foi porque ele estava tentando fazer isso e eu imaginei
que seria justo se eu também tivesse uma faca, embora a que eu tinha não era
muita coisa.
Ele já havia mostrado sua intenção de me matar e, mesmo ele não sendo mais
uma ameaça direta contra mim naquele local e naquele momento, eu não senti
nenhum remorso por tê-lo matado. Sua covardia me deixou muito zangado e eu
não vi nenhum motivo para deixá-lo viver, não quando ele já tinha demonstrado
sua intenção de me matar. Se eu o tivesse deixado viver eu apenas teria dado a
ele a oportunidade de atentar contra minha vida mais uma vez no futuro.
Matar uma pessoa com uma faca cega de 8 cm é algo bem sangrento mas,
embora o sangue tenha espirrado sobre as paredes da escadaria conforme
descíamos correndo, não havia sangue no meu rosto. De qualquer forma, Snorre
tinha as chaves do carro então eu corri para impedi-lo de sair com o carro, me
deixando para trás em Oslo, encharcado de sangue. Eu peguei as chaves, abri a
porta, devolvi as chaves para ele e disse para dirigir. Eu entrei rapidamente no
saco de dormir que eu guardava no porta-malas, antes de entrar no carro, para ter
certeza de não deixar nenhuma marca de sangue no carro. Naquele momento eu
achei que era melhor tentar fugir. O que eu não sabia era que Snorre ainda estava
em choque, então ele apenas dirigiu a esmo em Oslo por 20 minutos e acabei
tendo que assumir o volante. Enquanto dirigíamos por Oslo, Snorre viu um agente
policial na estrada para Bergen nos arredores de Oslo, então tivemos que ir por
outro caminho. Dirigimos para o norte na direção de Trondheim e logo depois
desviamos para oeste. Eu parei perto de um lago e tirei todas as minhas roupas.
Eu amarrei pedras nelas e nadei até deixá-las afundar onde o lago era mais
profundo. Por sorte, eu ainda tinha as camisetas que pretendia vender em
Sarpsborg (como disse, para o Metallion, pelo que me lembro), e Jørn of Hades
tinha esquecido um agasalho de moletom (ironicamente, um moletom do Kreator,
com os dizeres "Pleasure To Kill" [N.: “Prazer de Matar”]), então eu também tinha
um moletom limpo (bem, não exatamente “limpo”, mas pelo menos não estava
encharcado de sangue). Finalmente, eu tinha uma calça muito, muito suja que
estava jogada havia muito tempo no banco de trás, então eu tinha um conjunto
quase completo de roupas. Dirigir como um “soldado” e sem meias não seria um
problema.
(Snorre depois mostrou à polícia onde eu tinha jogado as roupas, mas tudo o que
eles conseguiram achar foi uma camiseta com a figura de um viking e o texto:
“Noruega: Terra dos Vikings”, que não tinha traços de sangue. Tudo o mais havia
desaparecido e mesmo mergulhadores não conseguiram encontrar coisa alguma.
Eles não tinham absolutamente prova nenhuma de que a camiseta pertencia a
mim [e quem neste mundo esperaria que eu usasse uma camiseta com esse
tema?]. As outras peças de roupa provavelmente tinham afundado na lama
espessa do fundo do lago, como era de se esperar).
Naquele momento eu achei que eles poderiam já estar nos procurando e, para o
caso de já estarem, eu sugeri a Snorre que eu deveria deixá-lo em uma estação de
trem, num local chamado Gol, a caminho de Bergen. Se a polícia me parasse eu
estaria sozinho e ele não teria problemas. Ele recusou a oferta e voltamos para
Bergen sem quaisquer incidentes. A primeira coisa que fiz foi visitar uma gráfica
para conseguir um álibi e depois fui me encontrar com o cara que havia ficado em
meu apartamento, para dizer a ele que precisávamos conversar, para também
conseguir um álibi. Snorre já havia dito a ele pelo telefone que “algo havia
acontecido” em Oslo, quando paramos em uma cabine telefônica perto de Voss,
algum tempo depois de termos saído de Hønefoss. Inventamos uma história e tudo
parecia bem.
Algumas pessoas, por alguma razão bizarra, alegaram que eu matei Euronymous
por causa de uma garota e, portanto, devo acrescentar que minha namorada da
época (e de abril de 1993 até 1998) nem sabia quem ele era. Ela nunca tinha
ouvido falar dele até eu matá-lo (e posso dizer que ela não era nem mesmo uma
“metalhead”, mas uma garota “comum” que ouvia música pop). Então ela,
obviamente, não tinha nada a ver com tudo isso e eu com certeza não o matei por
causa de uma garota. Até onde eu sei Euronymous nunca teve uma namorada,
então essas pessoas que estavam espalhando esse boato idiota não poderiam
estar falando de sua namorada.
O problema era que Snorre ainda estava em choque. Tenho que admitir que nada
disso me afetou. Não se tratava de um grande problema; um criminoso que tinha
planos de me matar estava morto. E daí? Não vejo nenhuma razão para ter pena
de uma pessoa que planejava me torturar até a morte enquanto gravava tudo para
sua própria diversão.
A polícia queria falar comigo – já que eles acharam desde o primeiro dia que eu
era culpado – e me convocaram para ir a Oslo para ser interrogado Eu concordei e
falei com eles, apresentei o álibi que tínhamos criado após o assassinato e me
liberaram. Em seguida eles passaram a investigação para minha cidade natal, por
razões óbvias, e começaram interrogar os outros também. Eles não tinham
qualquer evidência contra mim, então eles tinham que fazer alguém falar para
poderem me pegar. Eles entenderam rapidamente que Snorre era o elo fraco da
corrente, por assim dizer. Seus nervos estavam à flor da pele e eles pegaram
pesado com ele. Eles telefonaram para ele na noite em que eu não estava lá,
fazendo perguntas, sempre as mesmas perguntas, até que, depois de nove dias,
ele não agüentou. De acordo com um relatório da polícia, ele estava tão abalado
emocionalmente que precisaram esperar várias horas antes que pudessem
conseguir algum tipo de declaração dele. Aparentemente aquilo foi uma
experiência bastante traumática para ele. Ele contou que eu havia matado
Euronymous e onde eu estava. Naquele momento eu estava em um clube noturno
e, quando eu saí (entre 02:00 e 03:00, em uma sexta-feira, 19 de agosto de 1993),
me prenderam.
Porém eles ainda não tinham evidência concreta contra mim. A única coisa que
eles realmente poderiam usar contra mim era a confissão de Snorre, mas ele nem
mesmo tinha me visto esfaquear Euronymous. Seu testemunho provava que ele
havia estado em Oslo, mas a única coisa que me ligava ao crime era seu
testemunho. Eles até tinham uma gravação dele em fita, feita pela câmera de
vigilância de um posto de gasolina em Hønefoss naquela noite, quando ele estava
reabastecendo o carro no caminho para Oslo. Eu, por outro lado, não podia ser
visto em lugar algum. Ele estava sozinho no carro. Se eles não tivessem feito nada
a respeito disso, eles teriam sido forçados a condená-lo pelo assassinato, e eu
ficaria livre. Ele estava com a corda no pescoço!
Então o que Você acha que aconteceu? Eles de repente alegaram – dois meses
após o assassinato e dois meses após eu ter me tornado suspeito (e eles já tinham
minhas digitais, da prisão em janeiro de 1993) – que haviam encontrado minhas
digitais em sangue na cena do crime. Eu estava usando luvas quando o matei,
então eu sabia que aquilo era uma grande asneira, mas ninguém mais sabia, e
Snorre erroneamente acreditou que eu tinha dito a ele que eu não estava usando
luvas quando o matei. Então, subitamente, Snorre e o outro cara mudaram suas
histórias e alegaram que nós havíamos planejado tudo. Disseram pro cara no
apartamento que eu tinha cometido o crime mas, se ele não cooperasse com eles,
então Snorre seria condenado em meu lugar. “Você quer que Snorre vá para a
cadeia por algo que Varg fez?”. Tudo estava preparado para me pegarem e para
livrarem Snorre mas, nesse processo, eles inventaram uma história que era muito
pior que a verdade. Eles alegaram que Snorre tinha planejado seu álibi dando seu
cartão eletrônico (cartão de crédito) para o outro cara, que o usaria no meio da
noite em Bergen, deixando assim evidência eletrônica de que ele estava em
Bergen e não em Oslo naquele momento. Mas o único problema era que ele nunca
deu ao outro cara seu cartão, então o outro cara obviamente nunca deixou rastro
eletrônico algum em Bergen, então qual o motivo de fazer tal alegação? Eles
alegaram que alugamos filmes que já tínhamos visto antes então, se alguém nos
perguntasse sobre os filmes, seríamos capazes de dizer do que se tratavam. Eles
também alegaram que o cara em meu apartamento tinha estado lá para fazer
barulho, assim os vizinhos acreditariam que eu estava em casa. Disseram ainda
que ele havia saído do apartamento usando minha jaqueta, para fazer as pessoas
que ele encontrasse na rua acreditassem que ele era eu, usando o cartão de
Snorre para deixar evidência eletrônica. Entretanto, ele nunca pegou o cartão de
Snorre e ninguém disse que o tinha visto se passando por mim, então... Snorre
teria me acompanhado para enganar Euronymous para que me deixasse entrar
em seu apartamento, eles também alegaram, embora tenha sido eu quem tocou a
campainha e falou com ele. Finalmente, eles disseram que eu havia dado uma
faca a Snorre, que havia ficado no carro, no caso de eu precisar de sua ajuda.
Essa, claro, era a faca de cinto que eu havia pedido a ele que colocasse no porta-
luvas, porque eu não queria uma faca jogada no banco de trás do carro.
Naturalmente, eu não a coloquei no cinto porque é ilegal andar por Oslo com uma
grande faca no cinto e eu poderia ter sido preso se a polícia me pegasse. Eles
distorceram tudo completamente e fizeram parecer que eu havia planejado o
assassinato.
Na verdade, eu chego até a ficar envergonhado pelo fato de ter feito amizade com
essas pessoas, tanto esse cara quanto Snorre – e por algum tempo também com
Euronymous. Há um ditado que diz: “Diga-me com quem andas que te direi quem
és”. Se isso é verdade eu certamente fui um completo idiota... Mas em meu favor
devo salientar que eu também tinha outros amigos, bons amigos (pôxa!).
No tribunal eu disse a eles que Snorre não tinha nada a ver com aquilo e que ele
estava no lugar errado e na hora errada mas, no dia seguinte, Snorre estava
testemunhando e alegou que eu estava errado. Eu tinha planejado tudo e ele sabia
porque ele era parte do esquema. Toda a sua estratégia de defesa baseou-se em
demonstrar que eu não podia culpá-lo, mas eu sequer tinha pensado nisso (e levei
um bom tempo para entender que essa era sua preocupação). Se ele tivesse dito
a verdade, ele teria se livrado da condenação mas, ao invés disso, ele insistiu em
sua mentira – porque seu advogado de defesa convenceu-o a fazer isso – e ele
pegou 8 anos por fazer absolutamente nada.
A mídia divulgou que o assassinato foi o resultado de uma “luta pelo poder” em um
“movimento satânico” e que eu o tinha matado para tomar o seu lugar como líder
(?). Mas isso não faz o menor sentido. Então é assim que a coisa funciona? Você
mata alguém para tomar o seu lugar? Se Você quiser ser indicado como diretor de
uma firma, Você não consegue tal coisa matando o diretor atual. Em que tipo de
mundo esses jornalistas vivem? Seria num bando de animais ou coisa desse tipo?
Isso simplesmente não faz sentido algum. Mas essa era a teoria deles, sua única
teoria. O jornalista “dominante” (Michael Grundt Spang), que escrevia para o maior
jornal da Noruega, até mesmo gastou seu tempo escrevendo sobre meu cabelo e
sobre minha aparência em geral. De acordo com ele, eu “jogava” meu “rabo-de-
cavalo castanho” de um lado pro outro “como uma garota” e não possuía “brilho
diabólico” ao meu redor, como seria de se esperar de um “satanista diabólico”
como eu, e assim por diante. Ele ficou, obviamente, bastante desapontado pelo
fato de eu não parecer “diabólico”. Aparentemente nunca passou pela cabeça dele
que eu poderia não parecer um “satanista diabólico” simplesmente porque eu não
era um “satanista diabólico”... Snorre foi simplesmente descrito como “uma versão
menor, mais magra e mais pálida do Conde”. O jornalista certamente não tinha a
intenção de que aquilo soasse engraçado, mas certamente soou, simplesmente
porque era incrivelmente idiota.
Fui condenado a 21 anos, a pena máxima na Noruega, e o juiz alegou que eu tive
“um motivo incompreensível” para matá-lo. É realmente tão difícil assim entender
que eu o matei porque eu soube que ele tinha planos de me torturar até a morte e
depois me atacou? Que parte disso o juiz não entendeu? Inicialmente era
autodefesa mas, quando ele começou a fugir, eu não estava mais numa situação
de vida ou morte então, naquele momento, não era mais autodefesa e sim
homicídio doloso e, na minha opinião, aquilo foi um ataque preventivo, para que
ele não tivesse uma segunda chance de me matar. Por isso minha pena deveria
ter ficado apenas entre 8 e 10 anos! Ao invés disso, eu peguei 21 anos e Snorre
pegou 8 anos por fazer absolutamente nada!
Eles também tentaram apresentar o assassinato como brutal e alegaram que ele
morreu porque seus dois pulmões tinham sido perfurados. Eles ainda alegaram
que eu o esfaqueei 23 vezes. Em primeiro lugar, eu sabia muito bem que ele havia
morrido quando eu o esfaqueei na cabeça. Em segundo lugar, ele caiu sobre uma
pilha de fragmentos de vidro estando de cueca. Naturalmente, ele se cortou muito
– até mesmo sob um de seus calcanhares, já que ele se levantou depois de cair.
Eles também sabiam disso, porém alegaram que eu o tinha esfaqueado 23 vezes,
só para fazerem as pessoas acreditarem que eu era muito cruel, bestial e brutal.
No tribunal mostraram fotos da autópsia a um júri perplexo. As fotos mostravam
Euronymous nu sobre uma mesa, com todo o cabelo raspado, seus olhos ainda
abertos e todos os cortes numerados a caneta sobre sua pele. Eu sabia que foi
humilhante para ele ter sido morto mas, quando eles mostraram as fotos da
autópsia no tribunal, aquilo foi certamente muito pior. Matar babacas é uma coisa,
mas eu nunca humilharia alguém daquela forma.
Ah, e, claro, o juiz incluiu na sentença que: "Varg Vikernes acredita em Satã",
embora eu tenha repetidamente afirmado no tribunal que eu não acreditava nem
em “Satã” e nem em “Deus”. Eles ignoraram a verdade e criaram a sua própria
realidade, por razões políticas.
Estou furioso com tudo o que aconteceu, mas sei que darei a volta por cima no
final e acho que isso é o que realmente importa. Eu nem mesmo os odeio, apenas
tenho pena deles. Acima de tudo sou grato por não ser como eles. Recuperarei
minha liberdade um dia, mas eles provavelmente não terão melhorado nem um
pouco. É como no caso do gordo e do feio: o gordo sempre pode perder peso, mas
o feio sempre será feio.
Dezembro de 2004
O cara da "Tempo" me descreveu como parecendo ein Bisschen wie ein Engel (um
pouco angelical), como a pessoa chamada Ilde fez, só que em inglês, mas Ilde
acrescentou que: "[Vikernes] olha pela janela, e através das árvores ele tem a
visão de um muro alto com torres de vigia e luzes de busca", e isso apenas é
prova de que essa é uma entrevista forjada. Em primeiro lugar, eu falei com o
alemão da "Tempo" na prisão de Bergen em 1994 ou 1995 e, pelo que me lembro,
não havia janelas naquela sala mas, se eu estiver errado e houvesse realmente
janelas, a única coisa que Você poderia ver através delas seria outro bloco da
prisão (e certamente nenhuma árvore). Além disso, não há torres de vigia com
luzes de busca em nenhuma prisão da Noruega. As prisões norueguesas
simplesmente não são construídas dessa forma (e devo acrescentar, em resposta
a um tolo artigo de 2003 que alegou que eu havia sido atingido pelo tiro de um
guarda da prisão, que os guardas das prisões também não portam armas). Então
sobre que diabos esse Ilde estava falando? A entrevista inteira é, obviamente,
outra fraude. Ele nunca falou comigo! Nem sei quem ele é – ou talvez quem ela é!
Onde pessoas como esse alemão conseguem essas baboseiras? Se não têm
nenhuma base na realidade, então devem estar inventando tudo por conta própria.
Por quê? Por que inventar histórias quando você pode simplesmente falar comigo
para saber a verdade?
Infelizmente, não podemos confiar em nada do que tenha sido dito e escrito sobre
outros dissidentes também. Os dissidentes são sempre demonizados e os que
apóiam os que estão no poder sempre são glorificados. A história não é nada além
de uma ferramenta usada pelos poderosos para fazerem com que as massas os
adorem e os sigam e também para terem certeza de que essas pessoas rejeitem e
trabalhem contra seus inimigos ou adversários.
Hoje sou visto como nada além de um criminoso, então não posso esperar que os
simpatizantes desse sistema podre digam a verdade sobre mim e, é claro, não sou
o único sofrendo esse tipo de campanha de mentiras. Todos os que se revoltam
contra o mundo moderno e contra esse sistema doentio passam mais ou menos
pelo que estou passando. Eles são demonizados, ignorados, caluniados e assim
por diante. Até mesmo o adolescente comum passará por isso em sua
comunidade se ele ou ela fizer algo que é considerado anti-social ou politicamente
incorreto (ou apenas usar roupas especiais). Todos os que se revoltam contra o
mundo moderno devem estar preparados para enfrentar as conseqüências, mas
isso não significa que devemos simplesmente aceitar o fato das pessoas estarem
espalhando mentiras, nos ignorando ou nos caluniando. Devemos sempre reagir,
nunca desistir. Não importam as conseqüências.
Assim é o Burzum na Noruega: oficialmente ele não existe e nunca existiu e, caso
realmente tenha existido, certamente não teve papel relevante em contexto algum.
Burzum foi apagado da história do metal na Noruega, pelos extremistas de
esquerda que controlam a mídia norueguesa. Mas, de certa forma, isso é
fascinante, já que estamos realmente testemunhando o processo de falsificação da
história.
Eu tenho consciência de que sou persona non grata há muito tempo, mas não
sabia que a situação era tão ruim assim. Eu não imaginava que precisaria gastar
meu tempo convencendo as pessoas de que ainda estou vivo ou que
testemunharia a mídia na Noruega fingir que o Burzum não existe e que nunca
existiu, ou que os fãs do Burzum teriam que enfrentar obstáculos como aqueles
descritos acima.
Fenrir
Varg "Fenrir" Vikernes [N.: Na mitologia nórdica, Fenrir é um lobo gigantesco que
também é filho de Loki, deus do mal. Durante o Ragnarök, o apocalipse da
mitologia nórdica, Fenrir cresce tanto que consegue escapar do controle dos
deuses e mata Odin, o deus dos deuses, para em seguida ser morto por Vidar,
filho de Odin].
(Dezembro de 2004)
Eu poderia argumentar que nunca fui um adorador do diabo, mas penso que é
melhor simplesmente provar que a adoração do diabo é produto da imaginação
dos judeus e cristãos. Quando você sabe que nunca houve qualquer forma de
adoração do diabo na Europa, então você também deve entender que nunca
houve adoradores do diabo. Quando você sabe disso, fica claro que também não
há a possibilidade de eu ser um adorador do diabo.
Da mesma forma que não sabemos exatamente o que significa “pagão”, ninguém
sabe exatamente por que eles chamaram essas pessoas em particular de “bruxas”
– ou Hexen (alemão) ou hekser (norueguês). Mas o que sabemos é que esse
também é um termo judaico-cristão e que nunca foi usado pelos pagãos. O
Sabbath é um dia santo judaico e não tem relação alguma com nossa cultura
européia.
Esse é o problema aqui: tudo o que as pessoas sabem sobre esse culto é o que os
desprezíveis judeus e cristãos nos contaram. Eles demonizaram tanto esse culto
que pensamos no tão falado "Black Sabbath" como alguma cena maluca ou
nojenta, com as “bruxas malignas” indo para Blokkbeg ou alguma outra montanha
para adorar Satã. De acordo com os judeus e cristãos, elas faziam isso na sexta-
feira 13 para zombar de Jesus Cristo, porque havia 13 pessoas presentes na
Última Ceia; o próprio Satã era um demônio, com chifres na testa, que mancava
porque tinha pés de cabra ou cavalo; “bruxas” eram acusadas de sacrificar
crianças pro demônio e fazer sexo com ele. Por causa disso, os cristãos
enforcaram e queimaram as “bruxas”, ou as executaram de outras maneiras e, até
o século XVIII, assassinaram centenas de milhares de “bruxas” e outras pessoas
de quem não gostavam na Europa.
Ao invés de expressar o que penso sobre tudo isso, direi a Você o que esse culto
e, em particular, o mistério da Sexta-Feira 13, realmente significavam. Isso poderá
surpreender muita gente, mas sabemos perfeitamente bem o que esses rituais
significavam, por que eram praticados e até mesmo quem os praticava.
Naturalmente, eu não posso descrever todos os mistérios de uma antiga religião
em um artigo como este, mas espero poder dar a Você uma breve e abrangente
explicação sobre o mais demonizado de todos os mistérios, o conhecido "Black
Sabbath", que originalmente era um festival da fertilidade, celebrado na Sexta-
Feira 13 de cada mês do calendário antigo (que consistia do Dia do Ano Novo e de
13 meses, cada um formado exatamente por 4 semanas).
Genealogia dos deuses
nórdicos
Valkiria
Dizem que as freiras católicas casam-se com sua divindade e essa prática tem
suas origens nos cultos Pagãos, nos quais as sacerdotisas Pagãs casavam-se
com sua divindade. A grande diferença era que a divindade Pagã era representada
na Terra por um sacerdote Pagão. As sacerdotisas pagãs podiam, em outras
palavras, dar à luz crianças e ser realmente úteis aos seus semelhantes e à sua
comunidade, diferentemente das freiras Católicas, que rejeitam a vida quando se
recusam a ter filhos. Para se tornar um sacerdote Pagão, a pessoa precisava ser
escolhida pelas sacerdotisas (que na Escandinávia eram freqüentemente
chamadas de valkyries ["as que definem os escolhidos"]) para ser seu sacerdote
Freyr e, para isso, elas organizavam diferentes tipos de competições para escolher
o homem mais bem preparado para essa tarefa. Os mais conhecidos desses
eventos são, obviamente, os Jogos Olímpicos da Grécia, que eram originalmente
um “mercado de carne” para virgens (mulheres solteiras), que exigiam que os
homens competissem entre si despidos (nus) para que elas pudessem ver todas
as qualidades físicas deles antes de decidir com quem iriam casar. Não havia
sentido na participação de mulheres nesses jogos, pois serviam principalmente
para que as mulheres encontrassem o melhor homem, ou o homem de quem mais
gostaram. Os jogos eram organizados a cada quatro anos, duas vezes para cada
pentagrama perfeito (o símbolo do amor) formado no céu pelo planeta (que
conhecemos como) Vênus (que na antiga Escandinávia era conhecido como
Freyja). Outras competições semelhantes eram organizadas por toda a Europa e
sua finalidade era a mesma: separar os fracos dos fortes.
Não sei muita coisa sobre a perseguição aos Pagãos na Europa, mas sei que, da
mesma forma que no norte europeu, o Paganismo permaneceu forte no leste
europeu por muito tempo, e os últimos grupos de poetas (que consistiam
frequentemente de pessoas “aleijadas” [como homens que mancam...]) não
pararam de espalhar sua cultura na Rússia até a revolução Bolchevique de 1917.
Eles viajavam, muitas vezes como mendigos, contando histórias para as pessoas,
fazendo profecias ou cantando em troca de comida e abrigo. Muitas das
tradicionais músicas festivas ainda usadas na Rússia são essas músicas (!).
Na Noruega, a música de uma poetisa foi registrada no século XVII ou XVIII. Uma
senhora que viajava pela região de Telemark chegou a uma fazenda e se ofereceu
para cantar uma música em troca de comida e abrigo, como era de costume. Ela
cantou os 52 versos de uma canção chamada Draumkvædet ("a canção dos
sonhos"). A canção descrevia em detalhes como um iniciado, Olav Åsteson (Olav,
"o filho do amor"), viajou pelo mundo espiritual nos 13 dias de Yule e encontrou as
divindades no Paraíso. A canção é um pouco cristianizada, algo que os bardos
precisavam fazer na era judaico-cristã a fim de não serem perseguidos ou mesmo
assassinados pela igreja, mas ainda é bem interessante e expressiva. A velha
mulher foi uma das últimas trovadoras conhecidas da Noruega.
Notas:
Varg Vikernes
"Picketed and Pilloried"
(June 2005)
Já no caso dos amplificadores para guitarra, todos os caras ligados ao Death Metal
diziam-me que a única maneira de conseguir o som “correto” (da moda) era
usando amplificadores Marshall mas, como eu não gostava daquele som, eu usava
um amplificador Peavey. No "Filosofem" eu nem cheguei a usar um amplificador
para guitarra; ao invés disso, usei somente o amplificador do aparelho de som de
meu irmão (que, claro, não tinha sido projetado para esse uso) e alguns velhos
pedais empoeirados.
Para gravar o álbum de estréia (em Janeiro de 1992), gastei somente 19 horas no
total, desde o momento em que cheguei no estúdio com os instrumentos até a
masterização (!). O número de horas gastas (em 1992) no "Det Som Engang Var"
(DSEV) foi um pouco maior, 26, porque não havia ninguém para me ajudar a
transportar os instrumentos e coisas desse tipo e, portanto, tive que carregar e
preparar tudo sozinho. A gravação de "Hvis Lyset Tar Oss" (HLTO) aconteceu em
Setembro de 1992 e levou algo entre 20 e 30 horas (não me lembro), mas isso
incluiu gravar duas músicas que nunca foram incluídas no álbum (uma versão
muito ruim da faixa "Burzum" ["Dunkelheit"] e uma outra que nunca usei).
"Filosofem" foi gravado (em Março de 1993) em apenas 17 horas, mas isso se
deveu principalmente ao fato de eu ter usado um kit de bateria que já estava lá –
no estúdio, e que tinha sido usado por alguma banda de jazz ou rock no dia
anterior – então isso me poupou muito tempo. Além disso, naquele momento eu já
havia passado pelo processo de gravação de um álbum algumas vezes, então
toda a parte técnica já havia se tornado rotina.
A razão para eu ter usado o estúdio Grieghallen era que tínhamos usado aquele
estúdio quando gravamos um EP com o Old Funeral, acho que em 1990, então eu
conhecia o técnico de som (um cara bastante positivo, habilidoso e gente fina que
morava em Bergen), e ficava localizado a apenas 1,5 km de meu apartamento em
Bergen. Se eu morasse em outra cidade eu, obviamente, usaria outro estúdio.
Havia uma ideologia por trás disso; era a aceitação da honestidade e a apreciação
do que era puro e natural. Se o som não é definido como bom por algum músico
de queixo empinado (frustrado) que trabalha para alguma revista de música, isso
não significa coisa alguma para mim. O natural é sempre o melhor, seja quando
estamos falando de música ou de qualquer outra coisa. A música natural e de
melhor qualidade é (da forma como vejo) música com “alma” e não música que foi
trabalhada por meses em um estúdio para remover até mesmo os menores erros
(peculiaridades).
Mesmo em 1990 a maior parte das bandas de Death Metal seguiu a corrente, foi
incorporada na indústria da música comercial e perdeu toda a sua “alma”. As
assim chamadas bandas de Black Metal logo em seguida seguiram essa tendência
e, (até onde eu sei) com exceção de Fenris do Darkthrone, todas elas se
venderam e deixaram de honrar as idéias originais do Black Metal. As bandas mais
jovens da Noruega, que surgiram em 1993 ou depois, em razão da cobertura da
mídia sobre nosso mundinho, nunca souberam coisa alguma sobre essas idéias
então, ironicamente, elas nunca se venderam realmente. Entretanto, chega a ser
um pouco idiota o fato de fazerem essas coisas e terem uma certa aparência sem
nem saberem por quê. Elas apenas se juntaram a um bando e nunca souberam de
onde esse bando surgiu ou onde esse bando esteve antes de se juntarem a ele.
Em resumo, podemos dizer que as tão faladas bandas de Black Metal também se
comercializaram.
Neste ponto devo lembrar a Você daquilo que escrevi no começo deste artigo;
pessoas me perguntavam coisas, como quais instrumentos eu usei nas gravações
dos álbuns do Burzum. Tais perguntas são tão irrelevantes e desinteressantes
para mim quanto perguntas sobre que marca de calça ou de cueca eu usei quando
gravei os álbuns. Será que realmente importa saber que instrumentos eu usei? Eu
não acho, e penso que é importante não se preocupar com essas coisas. Eu usei a
minha guitarra e, se eu tivesse outra guitarra, teria usado essa outra. É simples
assim. Eu usei o que estava à mão e minha principal prioridade era fazer música
honesta e original – e eu poderia ter conseguido isso com qualquer tipo de
instrumentos, não importando sua idade, preço e marca. É simples assim.
Eu gostaria de agradecer a Você pelo seu interesse no Burzum e pela sua atenção
mas, por favor, não espere que eu dê prioridade a cartas com perguntas sobre
instrumentos, detalhes técnicos ou outras coisas pelas quais não tenho interesse
algum. Se Você acha essas coisas interessantes, para mim tudo bem, mas não
espere que eu tenha os mesmos interesses que Você.
Alguns dos termos que já utilizei são bastante imprecisos e percebo que as
pessoas reagem aos diversos termos de maneiras diferentes, dependendo de sua
origem ou de quem são. Um escandinavo, por exemplo, não tem um grande
motivo para reagir negativamente ao termo “nazismo”, mas entendo que um eslavo
[N.: da Europa central e oriental] tem bons motivos para agir dessa forma.
Enquanto os “nazistas” alemães tiveram comportamento exemplar na Dinamarca e
na Noruega durante a Segunda Guerra Mundial, eles certamente não agiram
assim na Polônia ou na antiga União Soviética. Na Noruega, apenas 0,03% da
população foi morta durante a guerra (e a grande maioria foi, na verdade, morta
pelos Aliados) enquanto, por exemplo, na Bielo-Rússia aproximadamente 25% da
população foi morta – e isso teve muito a ver com a visão incrivelmente simplista e
surpreendentemente ignorante dos alemães em relação aos eslavos e sua cultura.
Você poderia imaginar que a estúpida visão dos alemães sobre os eslavos é uma
coisa "nazista", mas (infelizmente?) parece ser mais uma visão germânica e suas
raízes datam pelo menos da Idade Média, quando alguns cruzados alemães
veteranos, os Cavaleiros de Maria e os “Swordbrother Knights”, juntaram suas
forças (e formaram a Ordem Teutônica) e começaram a cristianizar os primitivos
pagãos (bálticos e eslavos) na Prússia, Memel, Kurland, Livland, Estland, Polotsk,
Pskov, Ingermanland, et cetera.
A razão pela qual eu ter sido atraído e às vezes ter expressado apoio ao “nazismo”
se deve principalmente ao fato de que muitos dos “nazistas” noruegueses (e
alemães) adotaram nossa religião Pagã como nossa religião de sangue e
rejeitaram a Judaico-Cristandade como heresia judaica – e eles foram os primeiros
a fazerem isso depois de muito, muito tempo! Eu também notei que a maior parte
das pessoas que apóiam a minha pessoa ou aquilo que represento também são
chamadas de “nazistas” – enquanto quase todos os outros simplesmente me
condenaram e boicotaram, assim como tudo o que fiz. O que me faz diferente dos
“nazistas” são, basicamente, três coisas: ao contrário deles, não sou socialista
(nem mesmo em nível nacional), não sou materialista e acredito na (antiga)
democracia (escandinava!).
Portanto, como não sou um “nazista”, comecei a usar outro termo, já no final dos
anos 90. Fiz isso não somente para evitar confusões, mas também para encontrar
um termo mais adequado e preciso do que os outros que já usei. Esse novo termo
é “odalismo”, do norueguês antigo óðal ("terra natal", "alódio" [N.: qualquer bem
isento de direitos senhoriais], "lei alodial", "nobreza", "nobre", "bens herdados",
"terra pátria", "propriedade da terra", "família distinta", "distinto", "esplêndido",
"semelhante" e "a nação"). Esse termo inclui tudo o que é positivo sobre todos os
outros “ismos” que já usei, englobando o Paganismo, nacionalismo tradicional,
racismo e ambientalismo. Ele não somente é mais preciso, mas também muito
mais inclusivo e pode ser utilizado por todos os europeus (e outros povos
também). Finalmente, e talvez o que é mais importante, esse não é um termo
deturpado pela história.
Se tivermos uma relação positiva com nossa terra natal, com nosso sangue, com
nossa raça, com nossa religião e com nossa cultura, não destruiremos nada disso
com a moderna “civilização” (isto é, capitalismo, materialismo, Judaico-
Cristandade, poluição, urbanização, mistura de raças, Americanização, socialismo,
globalização, et cetera). O “fantasma nazista” assustou milhões de europeus e fez
com que não se preocupassem com seu sangue e sua terra natal durante
sessenta anos; portanto, já é tempo de esquecer esse fantasma e começar
novamente a pensar e cuidar das coisas que (gostemos delas ou não) são
importantes para nós.
Não é fácil encontrar saídas que levem aos caminhos pedregosos fora da estrada
pavimentada. A maior parte das pessoas passa rapidamente por eles sem nem
perceber que estão lá. Você precisa procurar por eles, muitas vezes nos lugares
mais improváveis, e mesmo assim poderá não encontrá-los. Outros têm mais
sorte, pois seguiram as informações de outros. Destino é, talvez, tudo o que
importa e aqueles que são predestinados a encontrar os caminhos pedregosos
conseguirão, um dia, encontrá-los. Quer eles gostem ou não.
Eu estou andando num desses caminhos pedregosos e talvez seja por isso que às
vezes é difícil as pessoas entenderem o que estou dizendo, fazendo ou pensando
e talvez seja por isso também que muitos reagem com repugnância ou medo, não
importa o que eu faça ou diga. Mas e daí? Eu sei o que é essencial na vida e só
me importo realmente com os “heróis e heroínas espirituais”, os Einherjers [N.:
Guerreiros mortos recolhidos pelas Valquírias para irem ao palácio de Valhala,
onde viverão em banquetes e fartura até o derradeiro dia do Ragnarok] e as
Valquírias, que ocasionalmente encontro nas florestas e que encontraram sua
própria saída da estrada pavimentada. Eu só me importo realmente com indivíduos
fortes que estão procurando as runas e o ouro dos deuses na relva verde. Eu
realmente só respeito os outros que gostam de mim e andam por caminhos
pedregosos. As massas medíocres não importam nem um pouco. Valhalla não é
para as ovelhas.
Varg "Loki" [N.: Figura complexa da mitologia nórdica, era um dos filhos de Odin e
pode ser considerado, entre outras coisas, como um símbolo da maldade]
Vikernes (Dezembro de 2004)
Parte IX - O Amanhã
Há muitos personagens chamados de Varg Vikernes na Noruega. Um deles é um
demonizado, alienado, ridicularizado e isolado “bicho-papão”, que foi denunciado
pela imprensa de viés judaico e pelo famigerado sistema judiciário da Noruega. Ele
não é real, ele nunca foi real e nunca será real, mas é vagamente baseado em um
adolescente de 19 anos real que, em 1993, expressou publicamente sua fúria
contra um mundo moderno que enlouqueceu. O mundo moderno e doente seguiu
em frente na direção do Inferno por uma estrada pavimentada de boas intenções,
mas Varg Vikernes congelou no tempo e foi forçado a viver na imutável e fictícia
realidade criada pela escória da imprensa de viés judaico e pela “inquisição
Norueguesa”. Nem os que promovem a campanha de mentiras na mídia e nem os
“inquisidores” conseguem se ajustar à realidade neste contexto então, mesmo
hoje, podemos ouvir, de tempos em tempos, os gritos dos porcos da imprensa
marrom: “bruxo!”, ”bruxo!”, “queimem-no!”, “queimem-no!”, e as pessoas do
sistema judiciário certamente não são melhores que isso.
Outro Varg é o prisioneiro que escreve artigos, como este, para manter a sanidade
e para não deixar que as falsas acusações e a campanha de mentiras e
informações tendenciosas fiquem sem resposta. Ele é real, mas somente enquanto
os ataques continuarem. Se as mentiras pararem de vir da escória jornalística e se
o famigerado sistema judiciário parar com seus processos que correm fora da
realidade, ele cessará de existir e passará ao esquecimento. Ele é real somente
porque precisa ser. Ele é simplesmente o muro que protege a sanidade, a honra e
a vida do real Varg Vikernes. Como as fortalezas da Europa, esse muro não foi
construído por diversão, mas por necessidade.
O Varg Vikernes real não é tão interessante assim, eu acho, e não há muito a ser
dito sobre mim e, em qualquer caso, quando eu sair da prisão, seja isso quando
for, eu certamente desaparecerei da vista do público. Eu penso que sou prisioneiro
de um navio (o “Sodoma e Gomorra”) – o mundo moderno – que navega direto
para o desastre e, quando eu for solto do cativeiro, saltarei do navio e voltarei
nadando para terra firme o mais cedo possível... Não quero nada dessa
famigerada e completamente doente civilização, então farei o melhor possível para
fugir de tudo. Não haverá mais artigos como este, comunicações (estritamente
falando) desnecessárias com estranhos do mundo moderno ou entrevistas.
Publicarei alguns livros, provavelmente sob algum pseudônimo, para permanecer
anônimo, e talvez um ou dois álbuns do Burzum, mas só isso.
Eu digo isso porque me disseram que algumas pessoas esperam muito de mim
assim que for solto. Bem, não esperem coisa alguma. A menos que Você leia
meus livros ou ouça meus álbuns, nunca espere ouvir mais nada de mim
novamente. Eu não quero mais saber de Você ou do mundo completamente
insano no qual Você vive. Não contem comigo. Eu vou para casa, para os campos
noruegueses, para a natureza, para o ar puro, para uma vida saudável na fazenda
e para o abraço da Mãe Terra. Você pode ficar com o Seu bordel urbano imundo e
com o Seu Inferno na Terra mestiço e doente.
Lif e Liftrasir
Se Você de fato tem as mesmas idéias sobre esse assunto, ótimo, e saúdo Você
por isso mas, diferentemente de mim, Você pode fazer algo a respeito e não
entendo por que Você não fez nada ainda. Estou na prisão então, infelizmente,
não posso escapar da influência da moderna Sodoma e Gomorra ainda. Qual é a
Sua desculpa?
Varg "Lífþrasir" Vikernes (24.02.2006) [N.: “Lífþrasir” significa "o que segura a
vida". Depois do dia de Ragnarok em que deuses, monstros e homens batalham
pelo destino do universo, Liftrasir será um dos sobreviventes. Juntamente com Lif
será o responsável pela repovoamento humano de Midgard (Terra)].
A PRISÃO
Você nunca deve confiar naquilo que é divulgado pela mídia. A primeira prioridade
deles é espalhar boatos e a segunda é ganhar dinheiro. Eles nunca se preocupam
realmente em dizer a verdade. Quanto à minha real motivação, discutiremos isso
mais tarde.
Pergunta de Ann, da França: Fale algo sobre sua família. Como estão a sua
esposa e sua filha? Elas estão bem? Você as vê com freqüência?
Quanto à minha esposa, não sei do que você está falando. Eu nunca fui casado
com a mãe da minha filha e também nunca fui casado com ninguém. Você poderia
dizer que ainda estou esperando por uma princesa que caia do céu no meu colo...
Nada em especial. Sou um ser humano racional e não vejo razão para ansiar por
coisas que não posso ter. Eu me adapto à situação, apenas isso.
Meu palpite é agosto de 2006, mas não sei ao certo. Eles mudam as leis e as
regras a todo o momento, então ninguém sabe realmente.
MÚSICA
Muitas pessoas me pediram para fazer a seguinte pergunta a você: Por que
você encerrou o Burzum e há alguma chance de que ele seja ressuscitado no
futuro?
Há muitas razões para isso. Em primeiro lugar, eu estava muito cansado de ouvir
boatos idiotas sobre o Burzum e percebi que a melhor maneira de calar as
pessoas era dizer que o Burzum não existe mais e esperar todos esquecerem o
assunto. Em segundo lugar, é muito difícil continuar enquanto eu estiver na prisão.
Claro, consegui gravar dois álbuns de música eletrônica, mas não achei que
valeram o esforço, podemos assim dizer. De qualquer forma, toda a inspiração que
eu ainda tinha praticamente acabou por causa dos muitos rumores idiotas
relacionados ao Burzum e a mim. Em terceiro lugar, eu não quis ser associado às
famigeradas novas bandas de "Black Metal". Elas me envergonharam e eu estava
cansado de ter que explicar a todo mundo que eu não tinha nada a ver com essa
gente, com sua imagem ou com qualquer coisa que eles fazem. Na verdade, eu
me senti manipulado pela mídia e vi o crescente movimento "Black Metal" como
resultado das mentiras da mídia e de sua ridícula representação minha e de
outros. Além disso, eu fiquei intrigado com o fato de meus álbuns de música
eletrônica terem sido colocados nas prateleiras de “Black Metal” das lojas de
discos (foi isso que me disseram). Parecia que, não importava o que eu fazia, as
pessoas preferiam ficar com o retrato (errado) que a mídia criou para mim em
1993. Então pra quê continuar?
Por fim, devo dizer que não era nada inspirador ver milhares de novas bandas
emergirem do nada e começarem a tocar exatamente a mesma música que eu
tocava. Por que eu iria querer tocar esse tipo de música, quando tantas outras
bandas também faziam isso? Até onde eu sei, eles até faziam melhor do que eu
jamais fiz! Então por que eu ainda deveria continuar a me interessar por isso? Nós
realmente precisamos de milhões de bandas tocando a mesma música? Não basta
ter apenas um Paradise Lost, um Das Ich, um Vangelis, um Dead Can Dance, ou
um Pink Floyd, um Iron Maiden e assim por diante? Por que precisaríamos de
milhares de clones?
Eu achei que, se eles queriam copiar as primeiras bandas de "Black Metal", pra
mim tudo bem. Há outras coisas que eu posso fazer, então eu segui em frente.
Nos últimos anos houve um grande crescimento das bandas NSBM (National
Socialistic Black Metal), que baseiam sua ideologia e música nas idéias
nacional-socialistas, nazistas, pagãs e arianas. Qual é a sua opinião sobre
elas?
Não sei muita coisa sobre isso, mas o que sei é que, pelo menos, esses caras têm
a coragem de ser diferentes e politicamente incorretos, diferentemente das bandas
molengas e poser da cena “Black Metal”. Pelo menos o NSBM tem um argumento
diferente daquela atitude idiota tipo “sexo, drogas e rock’n’roll” do resto da cena
metal.
Há muitos rumores na imprensa sobre um álbum chamado “Sorg”, que você
gravou na prisão não faz muito tempo. Isso é verdade ou não?
Esse é o tipo de boato que me fez abandonar o projeto Burzum. Eu nunca gravei
um álbum chamado “Sorg”.
Bem, quem é que inventa esse boatos? Por qual motivo Fenriz e Nocturno Culto
tocariam bateria e guitarra no álbum "Filosofem"? O álbum foi gravado em 1993,
em Bergen, e tudo foi tocado por mim. Eu mesmo carreguei os instrumentos até o
estúdio e gravei o álbum sozinho.
Já que estamos falando sobre "Filosofem", você mencionou certa vez que
não ouviu a versão final desse álbum. Você já o escutou, só por curiosidade?
VISÃO DO MUNDO
O que você está fazendo agora? Você tem escrito livros ou artigos
ultimamente? Publicou algo em revistas? Você ainda faz pesquisa em
mitologia e história européia e ariana?
Sim, ainda leio livros e tento ampliar meus horizontes. Não tenho escrito muitos
artigos ultimamente; na verdade, o único que escrevi no ano passado é aquele que
enviei a você há algumas semanas sobre o livro “Lords Of Chaos”. Nos últimos
três anos, mais ou menos, tenho estado muito isolado, por diferentes razões, e não
estive em condições de escrever muitos artigos ou de fazer algo realmente
relevante. Sim, eu escrevi alguns livros desde 1998, mas alguns não valem a pena
ser publicados e outros serão incluídos em trabalhos posteriores depois de terem
sido traduzidos para o inglês. Provavelmente o primeiro livro será publicado no
começo do ano que vem e será em inglês, a propósito. Você saberá mais a
respeito depois.
Depois de certo tempo eu percebi que seria interessante ver o que essas pessoas
fariam se eu nem mesmo fosse um membro da NHF. Será que eles ainda
alegariam que eu era o líder? Não importava se eu era um membro ou não, já que
eu estava na prisão e incapacitado de participar de qualquer uma de suas
expedições até velhos fortes nas colinas, ou coisas desse tipo. Por essa razão eu
deixei a AHF/NHF, para ver como os idiotas da Antifa/Monitor e a polícia secreta
agiriam. Na prática, eu nunca fui um membro, então os caras da NHF nunca
notaram qualquer diferença (de fato, eu não me encontrei nem com metade deles)
e, se eu quiser escrever artigos para a revista deles, eu posso fazer isso de
qualquer maneira, sendo membro ou não.
A AHF/NHF nunca me pediu para sair e não houve briga alguma entre nós. Eu
simplesmente saí, pelos motivos mencionados acima.
Nós podemos ir à biblioteca aqui uma vez por semana e pedir para o bibliotecário
livros de qualquer outra biblioteca na Noruega. Fora isso, eu às vezes recebo livros
de minha bondosa mãe, que é membro de um clube de livros, ou de amigos.
Você já leu The Book of Veles [N.: O Livro de Veles, que fala de cultura e
história eslava, mas que tem sua autenticidade contestada]? Qual é a sua
opinião sobre ele?
Não, eu não o li, mas li um review escrito por Sverd em uma revista norueguesa
(KultOrg. Skandinavio [Ooops, esqueci como é que eles escrevem isso...]) e
gostaria de lê-lo (essa revista é conhecida como "KulturOrgan Skadinaujo"; mais
informações aqui: www.kultorg.com - ed.). O problema é que ainda não encontrei o
livro em nenhuma biblioteca da Noruega. Por alguma razão estranha, ultimamente
também tenho tido problemas para encontrar livros sobre mitologia grega...
Bem, de qualquer forma, tenho uma visão geralmente positiva sobre as nações do
leste europeu, tanto as nações eslavas quanto as bálticas, e posso acrescentar
que tenho uma visão muito mais positiva sobre o leste do que o oeste ou o sul da
Europa. Há mais cultura aborígine européia na Lituânia, por exemplo, do que há
em todo o oeste e sul da Europa.
Como sou da Rússia, qual a sua opinião sobre os russos e nossos vizinhos –
ucranianos e bielo-russos?
Até onde sei, Ucrânia significa algo como “na fronteira” e, claro, Bielo-Rússia
significa “Rússia branca” porque há mais pessoas loiras lá do que no resto da
Rússia então, para mim, vocês são basicamente iguais – como os dinamarqueses,
suecos e noruegueses são basicamente iguais. E isso é, na verdade, um elogio a
todas essas nações, já que tenho uma visão bastante positiva sobre a cultura e a
população russa (e escandinava). As mulheres russas são bonitas, a música russa
é bonita e a história nos diz que os russos são corajosos, fortes e orgulhosos.
Todos os deuses pagãos europeus são os mesmos, nós apenas os chamamos por
diferentes nomes, como Svarog, Uranos, Wotan e Óðinn (Ódhinn), ou Perun, Zeus,
Jupiter, Donar e Þórr (Thórr), e assim por diante. Há pequenas diferenças em
diferentes partes da Europa mas, basicamente, os deuses são os mesmos – e
originalmente eles eram idênticos (da mesma forma que nossas línguas indo-
européias).
É claro que muitos russos têm sangue escandinavo e vice-versa. Mas eu não acho
que o fato de que muitos escandinavos, principalmente suecos, se estabeleceram
na Rússia/ Ucrânia/ Bielo-Rússia na era Viquingue tenha algo a ver com o fato de
que temos deuses pagãos em comum. É errado acreditar que os russos não
tinham uma religião e uma cultura pagã antes dos escandinavos chegarem à sua
região. Como disse antes, todas as tribos aborígines na Europa tinham uma
religião pagã comum e, da mesma forma que nossas línguas se desenvolveram
com o tempo, também o nosso paganismo se desenvolveu.
Bem, eu não usaria o termo “hiperbóreos”, mas acho que isso é irrelevante.
Obviamente, não posso dizer com certeza, mas aparentemente os hiperbóreos, se
formos usar o seu termo, vieram da Atlântida para a Europa quando a Atlântida
estava coberta de gelo, há uns 80.000 anos. O mais provável é que as ruínas de
Atlântida estejam sob o gelo da Antártica (dessa forma, afundando num “mar” de
gelo), e um desastre natural forçou os hiperbóreos a se mudarem para outras
partes do mundo (deve ter ocorrido um erro de impressão aqui, porque a
Hiperbórea seria localizada no Ártico – ed.). Alguns lugares em que eles se
estabeleceram eram desabitados e outros eram habitados por outras raças.
Algumas tribos foram assimiladas por populações maiores de outras raças (como
na América, entre 10.000 e 20.000 anos atrás), outras pereceram e a única tribo
que sobreviveu “imaculada” foi aquela que foi para a Europa. Essa foi a tribo que
originou todos os povos (“brancos”) europeus e essa é, obviamente, a tribo a que
me refiro quando digo que todos tivemos a mesma língua e religião no passado.
O que você está mencionado é uma teoria que diz que houve uma migração de
indo-europeus, ou arianos, para a Europa há 4.000 anos. Eles baseiam essa teoria
na disseminação de armas de bronze, em especial de um certo tipo de machados
de bronze (machados de guerra). Isso pode parecer razoável, mas é, na verdade,
um absurdo. Não houve “invasão” da Europa pelos arianos. O que vimos foi a
disseminação da tecnologia do bronze, que foi rapidamente adotada por todos os
povos europeus (os outros “arianos”).
Intuição...
Por outro lado, quem é que esses muçulmanos pensam que são? A própria
sobrevivência deles depende da boa-vontade do mundo ocidental. Eles deveriam
estar contentes pelo fato do mundo ocidental não decidir arrasá-los completamente
e, considerando essa possibilidade, provocar os EUA com terror não é uma idéia
muito boa. E eles já arrasaram povos antes (os nativos americanos, por exemplo).
Já há pessoas argumentando que deveríamos bombardear Meca toda vez que
algum desses muçulmanos peida na direção errada. Também vemos pessoas
dizendo que deveríamos simplesmente deixar Israel fazer o que quiser “naquelas
paradas”. Por que deveríamos nos preocupar com o que acontece a eles quando
esses muçulmanos ameaçam a vida de nossos filhos? De qualquer forma, os
árabes não têm direito àquela área: as culturas mesopotâmicas/ babilônicas,
egípcias e assírias não foram construídas pelos árabes. Os árabes chegaram a
essas áreas vindos da península saudita no século VII, ou seja, centenas de anos
depois que a última dessas culturas antigas que mencionei já tinha deixado de
existir. Pelo menos os israelenses possuem direitos históricos sobre aquela área,
até eu entendo isso. Chamar os árabes de “palestinos” não muda esse fato.
Bem, eu posso dizer o que eles estão fazendo lá: praticando sua religião. O Islã é
uma religião imperialista e eles sabem que a única maneira deles dominarem o
mundo é fazer com que seus seguidores se mudem em massa para países
civilizados, poderosos e ricos. Eles se reproduzem como ratos e, se os deixarmos
ficar, seria apenas uma questão de tempo antes de se tornarem maioria e, se isso
acontecer, eles não precisarão de poder militar para tomar o poder. Nossa
“democracia” fraca e tolerante torna isso possível. Em Oslo, 40% de todas as
crianças já são imigrantes como esses!
Na minha mente paranóica, parece que alguém está deixando esses muçulmanos
chegar e ficar somente porque eles querem nos manter reféns, por assim dizer.
Por que alguém deveria temer o terror muçulmano se não houvesse muçulmanos
em nossos próprios países? É claro que não! Eles são uma ameaça apenas
porque eles vivem entre nós. Agora, quem se beneficia com isso? Israel com
certeza sim, já que cada vez mais pessoas entre nós estão inclinadas a deixar os
israelenses fazer o quiserem “naquelas paradas”, porque temos medo ou estamos
cansados da escória muçulmana (como sempre, uso termos bastante
diplomáticos...). Além disso, os governantes ocidentais também se beneficiam
disso. Eles são capazes de assegurar seu poder, reprimir sua oposição e todos os
que discordam deles, usando a ameaça do terror como desculpa para fazer isso.
Quando isso for feito, poderemos também expulsar os turcos da Europa e devolver
aquela área para os gregos... (Seria isso o que chamamos “jogar lenha na
fogueira”? Se não tivéssemos noção alguma, alguém poderia pensar que eu sou
britânico...).
Há muito o que precisa ser mudado se quisermos que nossa civilização sobreviva.
Em primeiro lugar, precisamos nos livrar de todos os imigrantes não-europeus.
Não tenho a intenção de insultar os europeus do sul, mas veja só o que a mistura
de raças fez a eles! Se não houvesse a mistura de raças (e o Cristianismo), a
Grécia, por exemplo, ainda estaria produzindo brilhantes filósofos e uma bela
cultura. O que resta de tudo isso hoje? Você precisa até procurar bastante para
achar um banheiro que funciona quando você está nessa região. Há tanto crime lá
que qualquer escandinavo normal cairia da cadeira estupefato se alguém dissesse
o quanto a situação é ruim lá. E todos conhecemos a “bênção” que a herança turca
deixou para o resto dos bálcãs. Eu não diria que essa é a área mais harmoniosa
do mundo. Então, em primeiro lugar, precisamos de uma Escandinávia “somente
européia”. Sangue europeu e religião (isto é, pagã) européia. Quando isso for feito,
nós não teríamos muitos problemas ainda por resolver, na verdade... o resto viria
naturalmente.
FUTURO
Possivelmente.
Sei que você é bastante inspirado pela música folk européia e eslava. Você
tem algum plano de compor esse tipo de música e lançá-la no futuro? Ou
você já teve a chance de compor material novo?
Bem, eu compus material novo, mas não é música folk. E nem planejo compor
música folk. Eu adoro esse tipo de música mas, de alguma forma, não vejo razão
alguma para eu mesmo tocar esse tipo de música. Se eu faço algo, tem que ser
algo especial, que eu não possa conseguir de nenhuma outra banda, entende o
que quero dizer? Não acho que eu tenha algo para contribuir para a música folk e
eles estão muito bem sem mim.
Isso, na verdade, tem a ver com o problema do Black Metal. Esses caras tocando
em bandas bem que podiam ficar satisfeitos em ouvir Black Metal, ao invés de
formar suas próprias bandas. Por que todo mundo precisa tocar? Não é suficiente
ouvir a música? Se você não faz algo diferente do resto, então não vale a pena
compor música... é o que eu acho.
Varg Vikernes
Trondheim, Noruega
12 de agosto de 2004
Quando estes aparentes fãs do Burzum na mídia escrevem notícias que o Burzum
lançará um outro álbum, a reação é meio estranha. A maioria deles são honrados
o suficiente para escrever o artigo inteiro, ou pelo menos a maior parte dele, e
dizer aos seus leitores de onde eles conseguiram essas notícias. Isso é jornalismo
correto e legal, quando lidando com material protegido por direitos autorais.
Aplausos a vocês por isso.
O engraçado é que eu nunca disse se isso era uma coisa ruim ou não. Talvez eu,
de fato, pense que se vestir e parecer 'gay' seja okay, mas talvez não para black
metallers, que se enxergam e tentam se mostrar como uma espécie de 'guerreiros
das trevas'? Quem pode dizer? Eu certamente nunca disse nada sobre isso em
meu artigo. Então, quando os leitores de minhas palavras reagem tão fortemente é
porque ELES são homofóbicos; ELES obviamente pensam que se vestir e parecer
como homossexuais é algo ruim. Talvez eles devam olhar no espelho e pensar
sobre isso por um minuto antes de me atacar por ser homofóbico?
No que se refere ao título do próximo álbum, 'O Deus Branco', isso não tem nada a
ver com 'raça' ou 'cor de pele' ou algo do tipo. Por favor parem com essas
besteiras sobre 'O Deus Branco' ser um álbum racista. Este álbum é sobre Baldr,
conhecido como 'O Deus Branco', porque ele é uma deidade solar e porque ele é
pálido após ter passado algum tempo na terra dos mortos. Eu não uso o nome de
Baldr porque quero falar para todas culturas diferentes da Europa, e todos temos
nossos próprios nomes para esta deidade. Os britânicos e outros o chamam de
Belenus, os Gregos o chamam de Apollon, os Romanos chamam de Apollo, os
Eslavos de Byelobog, e assim por diante, e antes deles todos nós o chamávamos
de Belus. No entanto, todos o conhecemos como o Deus Branco, e então eu uso
este nome para o título do meu álbum.
O próximo álbum será uma descrição da parte de nossa cultura que a maioria de
nós esqueceu a respeito. Eu sei que isso interessa a muito de vocês, ou ao menos
muitos dos fãs do Burzum (visto que muitos dos leitores daqui não são fãs do
Burzum). Talvez vocês devam esperar e ver por vocês mesmos, antes de
começarem a 'queimar livros', como certos antepassados na história.
Obrigado pela atenção, e por serem capazes de trazer alguma cor em suas vidas.
:)
Respeitosamente,
Varg Vikernes
(19.11.2009)"
Com um título que incluía a palavra “white” [N.: “branco”], aparentemente não foi
possível escapar do radar da mídia racista “ocidental”. Para eliminar a desculpa
usada por eles para espalhar sua campanha de ódio anti-Varg/anti-Burzum quando
(ou até antes) o álbum for lançado, decidi mudar o título. Esses tolos, sempre do
contra, não têm interesse na música mesmo e, devido a isso, não quero a atenção
deles – e não vou tê-la se usar um título que não dê a eles um motivo para me
atacar.
O novo título do álbum é, como você já deve ter adivinhado pelo título deste artigo,
é "Belus", o nome indo-europeu para Baldur/ o Deus Branco. Eu poderia ter usado
qualquer nome europeu para esta deidade, mas escolhi este porque é o mais
antigo nome conhecido e porque é pan-europeu.
"Belus" será lançado pela Byelobog Productions entre março e abril do ano que
vem e terá onze faixas novas: nove faixas de metal, além de uma intro e uma outro
estilo ambiente, o que dá aproximadamente 50 minutos de música (a longa outro
não está incluída). As letras são todas em norueguês, mas traduções em francês e
russo estarão disponíveis no site burzum.org o mais rápido possível –
possivelmente até antes do lançamento do álbum.
Respeitosamente,
Varg Vikernes
(Novembro de 2009)
No final de 1991 eu não tinha acesso fácil a fontes de outros tipos que não os de
minha máquina de escrever. Aquilo foi antes da popularização da Internet. Eu tinha
que comprar algum tipo de fonte adesiva e só podia comprar poucos conjuntos
para depois usá-los para “construir” palavras, letra por letra. Por alguma razão,
seja porque as letras certas tinham acabado ou porque fiz de propósito – não
consigo me lembrar – escrevi o nome Burzum com letras maiúsculas e usei a
única fonte diferente que eles tinham na livraria: Gothic.
Quando lancei o álbum de estreia, pedi para a gravadora, a DSP, para usar esse
tipo de letra não somente para o nome da banda, mas para todos os outros textos
do álbum. O nome Burzum não era, em outras palavras, realmente um logo, mas
apenas o nome da banda escrito em letras Gothic juntamente com outros textos
em Gothic. Depois de um certo tempo parei de pensar sobre logos e, por alguma
razão, não mudei o tipo de fonte usada nos álbuns. Dessa forma, muitos
começaram a pensar que o nome “Burzum” em fonte Gothic era o “logo Burzum".
Mas nunca foi. Apenas o nome importava; a fonte era, e ainda é, irrelevante.
Para o álbum "Dauði Baldrs" ou "Hliðskjálf" (não me lembro qual) eu quis usar uma
fonte ainda mais comum, como Arial mas, por algum motivo, acabei não mudando.
Não me lembro por que não mudei. Algumas memórias perdem-se para sempre –
porque não importam realmente.
Para "Belus" eu finalmente decidi usar uma fonte diferente para enfatizar que o
Burzum não tem um logo e também para indicar que este é um novo começo para
o Burzum. Eu encontrei algumas fontes de graça na Internet e escolhi uma que era
adequada ao conceito do álbum: Belus, o deus do carvalho (e sua esposa, Eduno,
a donzela dos campos). A que decidi usar tem uma aparência florida, tipo fantasia,
e era exatamente o que eu estava procurando.
Tenho certeza que essa fonte já foi usada por outros antes de mim – qualquer um
na face da Terra pode fazer o download de graça – e não estou tentando ser
original. Cansei de ser original. Eu só quero fazer aquilo que me agrada, não
importa o que o resto do mundo possa ou não possa fazer, e eu não quero um
logo. Eu simplesmente usei uma fonte que se encaixa no conceito do álbum. Estou
sendo eu mesmo e não o oposto daqueles de quem não gosto.
A propósito, se um dia eu quiser criar um logo para o Burzum eu o farei. Nada está
entalhado na rocha: nem logos, nem decisões sobre logos e nem qualquer outra
coisa. Nem mesmo o nome Burzum está...
Varg Vikernes
(Dezembro de 2009)
A vida seria melhor, ou pelo menos muito mais fácil, para mim pessoalmente se eu
também tivesse me domesticado mas, como o lobo, eu não posso. Eu sou
indomável. Então estou em constante conflito com o mundo em que vivo. Ele é
feito pelo homem domesticado e para ele, não para mim. Agora, se você estiver
lendo isto existe, é claro, uma chance de que você seja um homem livre, assim
como eu; você é indomado e provavelmente indomável. E, obviamente, você é
assim pela mesma razão que eu; yo nasceu um ser humano livre de linhagem
genuinamente européia. Não somos mestiços e, portanto, somos indomáveis. A
última fortaleza de esperança para a humanidade como espécie.
Porém, ao invés de continuar com esse tópico, eu explicarei por que isso é
mencionado no contexto do Burzum. Veja bem, o Burzum surgiu não porque eu
queria fazer música ou porque procurava fama e fortuna (como se eu tivesse
alguma dessas agora...). Não. O Burzum surgiu porque eu não tinha nada melhor
pra fazer. Nada me interessava. Por nada valia a pena trabalhar ou lutar. E – caro
Deus Pagão – eu certamente não queira passar o resto de minha vida entre
pessoas domesticadas. “Pessoas-ovelhas”. Naturalmente eu tinha a esperança de
que o mundo seria completamente destruído na III Guerra Mundial para que
pudéssemos recomeçar do zero e construir algo melhor sobre as ruínas do velho
mundo e, enquanto isso, eu tocava minhas guitarras no meu quarto de menino.
Mas, como bem sabemos, essa esperança foi esmagada quando o Muro de Berlin
caiu e a União Soviética deixou de existir. Tudo que me restou foi minha velha
guitarra e nada mais para fazer.
Mas eu, honestamente, gostaria de ter feito outra coisa. Algo mais particular. Algo
que eu não precisasse compartilhar com o mundo para poder tirar o meu sustento.
O único problema é que não consigo dizer o que poderia ter sido. Já era muito
tarde para me alistar nas Waffen-SS, e aqueles caras usavam uniformes, então eu
provavelmente não me encaixaria bem, e era certamente tarde demais para
embarcar num navio viking e ensinar aos apoiadores do Judaísmo em toda a
Europa que os europeus não devem ajoelhar-se na frente de falsos “deuses”
estrangeiros e especialmente não daquele bastardo e criminoso judeu chamado
Jesus.
Hoje em dia estou, de certa forma, de volta ao ponto de onde comecei: esperando
por este mundo ser destruído, não pela 3ª Guerra Mundial, entre os criminosos da
OTAN e do Pacto de Varsóvia, mas pela crescente turbulência, tumultos e guerras
civis, que levarão ao colapso total de todas as instituições de nossa sociedade. Eu
temo isso, porque não acho que será um período de mudança muito fácil para
nenhum de nós, mas sei que precisamos disso, então acredito que será algo bom.
Mesmo as “pessoas-ovelhas” precisam disso, caso contrário serão destruídas
pelos seus mestres judeus. É claro que os judeus escaparão do naufrágio com
todo o ouro que puderem carregar, isso se tiverem algum lugar para ir agora, mas
o resto de nós, pessoas-ovelhas e pessoas boas, sofrerão por um longo tempo
antes que as coisas melhorem novamente.
Então, caros amigos e inimigos, ainda estou com minha guitarra e sou forçado
pelas circunstâncias a permanecer como um mero músico. Não como um guerreiro
nórdico defendendo seus semelhantes e sua tribo. Não como um soldado da SS
lutando contra os serviçais dos judeus no leste ou oeste. Nada favorável, honrado,
divertido ou nobre; somente um mero músico... outro músico qualquer. Como se já
não houvesse muitos deles.
Varg Vikernes
Bergen, 11.11.2012
Devo ainda notar que um encontro que eu tive com a agência de desemprego em
Bergen também contribuiu para o rumor de eu ser megalomaníaco. Naturalmente
eu não queria um emprego e pagar impostos para aquele sistema por nada deste
mundo e queria estar absolutamente certo de que eu não seria empregado por
ninguém (sim, não conseguir um “emprego” totalmente sem sentido na Noruega
Soviética era um problema), então quando perguntado que tipo de emprego eu
queria eu disse “ditador da Noruega”. Ele parou e, sem dar qualquer sinal de que
havia entendido que eu estava tirando sarro, perguntou-me calmamente se havia
outros empregos que eu gostaria de ter (veja você, ele tinha dois espaços em
branco em seu formulário sob o título “opções de emprego” para preencher) e eu
então respondi: “Naturalmente, eu também não recusaria uma oferta para o
emprego de ditador do mundo”. (Por alguma razão eu nunca mais tive contato com
eles...) Mesmo os “metalheads” entenderam que era gozação mas, quando eu fui
preso, isso foi o que informaram para a polícia (aparentemente dizer nada para a
polícia nunca foi uma opção para aqueles caras) que, com maestria, encaixou as
peças (as outras eram os meus mapas de RPG) e voilá, eles haviam descoberto o
meu segredo. Eu era definitivamente um doido megalomaníaco e deveria ser
tratado como tal (e, como você deve saber, foi o que fizeram comigo desde então).
*Suspiro*
Agora, bem, desculpe pelas minhas divagações. Voltarei ao tópico original deste
artigo.
O que aconteceu em seguida foi que, por algum tempo, não permitiram que eu
jogasse RPGs na prisão porque eles não permitiam nenhuma propaganda satânica
(...). Quando eu argumentei que aquilo não era nenhuma “propaganda satânica”
eles começaram a dizer que havia uma proibição de toda propaganda nazista (eu
acho que qualquer referência a “raças” diferentes tornava qualquer RPG algo
completamente nazista na opinião de qualquer representante domesticado da
espécie “Homo norwegicus”. A mera menção da palavra “raça” provavelmente
fazia seus sentimentos de culpa irem pras alturas. “Rememba da Holocaust!”
("Lembra da Holocausto!")). Então... Nada mais de jogos de poder nazistas para o
megalomaníaco Varg.
Como se isso já não bastasse, minha mãe, que obviamente culpava meus RPGs
por tudo o que aconteceu de errado em minha vida, rapidamente percebeu que
estavam tomando muito espaço em sua casa de três andares (e suas outras
casas, apartamentos e prédios de escritórios aparentemente também não tinham
espaço para eles), então ela jogou todos fora como se fossem lixo. Tudo o que já
tinha sido lançado de MERP até 1993. Todos os conjuntos D&D e toneladas de
suplementos. GURPS (Generic Universal Role Playing System, ou Sistema
Genérico e Universal para RPGs) com toneladas de suplementos. RuneQuest.
HârnMaster. Twilight 2000. Rolemaster com toneladas de suplementos, Conan
RPG, et cetera, et cetera, et cetera. Tudo desapareceu. Para sempre. Quase todo
o dinheiro que eu tinha agarrado com minhas mãos sorrateiras entre as idades de
12 e 20 foi gasto em RPGs. Eles eram meu refúgio mental, ou até mesmo minha
vida, por assim dizer, e mesmo assim eles foram muito facilmente jogados fora
como se fossem lixo pela minha própria mãe. Mas, obviamente, estando na prisão,
eu estava tão cheio de outros problemas (a maior parte do tipo “propaganda
satânica” [vulgo completos absurdos]) que não conseguia dar muita atenção ao
que acontecia do lado de fora. O maior pesar veio mais tarde, quando eu tive mais
tempo para respirar e pensar e, por mais tolo que isso possa parecer, ainda está
lá. Aquilo ainda me perturba. Eu realmente sinto falta de meus velhos RPGs e de
jogá-los.
Eu finalmente comecei a preencher o vácuo que aquilo deixou em minha vida por
volta de 2007 ou 2008 (eu acho), quando me permitiram encomendar uma cópia
do D&D 3.5 (o único RPG que eu sabia que estava disponível naquela livraria) e
mandar para a prisão em que eu estava, já que eu tinha curiosidade em saber se a
magia ainda estava lá. Mas, na verdade, não estava. Era como no tempo em que
eu era um garoto e tinha problemas em achar D&D (ou AD&D) muito intrigante. O
sistema de Classe de Armadura, Classes, Níveis de Experiência, Pontos de
Ataque, memorizar feitiços diariamente (quantas vezes você tinha que memorizar
um feitiço antes de saber de cor?) e assim por diante; simplesmente não fazia
sentido. E eles também não tinham feito nada com essas regras e conceitos
ilógicos. Ainda estava tudo lá.
Agora, é aqui que eu - finalmente, você poderia pensar – chego ao ponto; ao invés
de ficar desejando e perder meu tempo lamentando a perda da maior (ouso dizer)
alegria da minha (pelo menos da minha adolescência) vida, eu percebi que eu
deveria criar meu próprio RPG. Todos os meus velhos RPGs tinham falhas e
aspectos negativos, então por que não fazer um jogo exatamente do jeito que eu
quiser? Claro, outros ainda vão preferir outros jogos, e não há problema nisso,
mas eu gostaria de ser capaz de jogar – ou pelo menos ler as regras de (eu sou no
fundo um bastardo infeliz sem amigos) – um jogo com todas as características que
eu gostava e também sentia falta em meus velhos RPGs. Então eu comecei e
passei todo o tempo que eu deveria ter usado para estudar na prisão (...)
trabalhando em meu RPG, e tenho feito isso desde então Agora eu componho
música, que é meu ganha-pão, mas, para ter alguma satisfação extra na vida, ou
talvez simplesmente pela nostalgia e desejo, eu tenho meu RPG como hobby, se
você quiser chama assim. Se tudo acontecer de acordo com meu plano, eu
começarei a publicar online filmes curtos, artigos ou monólogos relacionados, para
promover o jogo. Ainda não está pronto e nem foi testado e, até onde sei, poderei
levar uma eternidade para terminá-lo, mas – tenha paciência – eu faço isso
principalmente por paixão, uma adoração por RPGs e por fantasia em geral. Não
preste atenção em meu jogo se você não quiser. Mas pelo menos agora você sabe
por que eu faço isso. RPGs são tão parte de mim quanto o Burzum e, de certa
forma, são os dois lados da mesma moeda. Quando o caos chega, ele chega pra
valer, mas até então eu desfrutarei de minha música e de meu RPG.
Agora eu devo acrescentar que eu não quero fazer um jogo para computadores,
por muitas razões, mas principalmente porque quando as lâmpadas apagarem em
nosso mundo, e todos os computadores desligarem, ainda poderemos ler um livro
de RPG e jogar não só durante o dia mas também à noite sob a luz de uma vela,
lamparina ou fogueira. Dados não precisam de eletricidade. Nem nós.
Si vis pacem, para bellum ("Se você quiser paz, prepare-se para a guerra").