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2009

Recife
2009

recife
Introdução

Nas últimas décadas as grandes e médias cidades condições de moradia da população de baixa renda a luta pela moradia social no Centro já tem mais de vem estar previstos nos planos diretores municipais.
brasileiras e suas regiões metropolitanas passaram por que já reside nessas áreas. dez anos e tem como marcas a ocupação de edifícios Os imóveis públicos subutilizados devem ser des-
dinâmicas socioespaciais muito semelhantes. Houve O projeto foi desenvolvido por organizações parcei- vazios pelo movimento organizado e a produção de tinados prioritariamente à produção de habitação
queda generalizada das taxas de crescimento popu- ras em cinco capitais: São Paulo (Instituto Pólis), Belém moradia através de vários tipos de programas: refor- social, especialmente nas cidades onde existem em
lacional e o aumento de população nessas cidades (FASE — Federação de órgãos para Assistência Social ma de edifícios antigos, construção nova, intervenção grande quantidade.
deu-se de forma bastante desigual entre os bairros e e Educacional — Amazônia), Fortaleza (Cearah Perife- em cortiços. No entanto, a escala de produção ainda é Além disso, é imprescindível a concessão de subsí-
municípios de suas regiões metropolitanas. ria), Recife (FASE/ HABITAT) e Rio de Janeiro (FASE e muito pequena diante da demanda e dos problemas a dios nos financiamentos, garantindo que sejam aces-
De um lado, houve perda de população nos bair- Fórum Nacional de Reforma Urbana — FNRU). serem enfrentados. síveis à população de menor renda, frequentemente
ros das áreas centrais, providas de infraestrutura, e, de Em cada uma dessas cidades foram estabelecidas No Rio houve experiências de reforma de imóveis excluída dos programas existentes.
outro, crescimento significativo nos bairros e municí- parcerias com os Fóruns Regionais, movimentos or- históricos para transformação em habitação. Os movi- Destacamos ainda, a importância de desenvolver
pios periféricos, áreas precárias e ambientalmente frá- ganizados, universidades, pesquisadores e técnicos mentos sociais têm se organizado, ocupando prédios programas de aluguel social e subsídio ao aluguel,
geis. Enquanto as áreas centrais perderam população, dos governos locais. A coordenação das atividades e casarões abandonados, lutando para que a produ- que podem contribuir para a diminuição das uni-
bairros afastados dos centros e municípios periféricos foi feita pelo Instituto Pólis com o apoio técnico e fi- ção seja ampliada e atinja a população de menor ren- dades imobiliárias vagas em edifícios situados em
cresceram a taxas que superaram 10% ao ano. O poder nanceiro da OXFAM GB — agência internacional com da, principalmente através da utilização de imóveis áreas centrais.
público contribuiu para esse processo, principalmente sede no Reino Unido, que apoia projetos sociais nos públicos vazios e subutilizados. Por fim, consideramos fundamental conhecer me-
através da construção de grandes conjuntos habita- países em desenvolvimento. No Recife também há acúmulo de discussão, prin- lhor as áreas centrais das cidades, levantando usos, ti-
cionais em áreas com carência de infraestrutura, de As cinco capitais envolvidas no projeto têm em co- cipalmente sobre a questão da garantia de manuten- pologias construtivas, imóveis de valor histórico e cul-
onde a população tem que se deslocar por quilôme- mum a situação de perda de população nos bairros ção das comunidades pobres que vivem em áreas tural, espaços públicos e, principalmente, a situação
tros diariamente para chegar ao trabalho. centrais, existência de número significativo de imó- centrais através de instrumentos urbanísticos, como de seus usuários e moradores, de forma a desvendar
Hoje, os centros urbanos dessas cidades perma- veis e domicílios vazios nessas áreas e crescimento ZEIS — Zonas Especiais de Interesse Social — e pro- os problemas e as potencialidades dessas áreas, que
necem como regiões de grande concentração de das áreas periféricas. Seus centros apresentam ótimas jetos de urbanização. Houve experiência de produ- apresentam especificidades em cada cidade.
postos de trabalho em escala metropolitana, mas condições de infraestrutura urbana e de serviços e ção através de reforma de um edifício no Centro e A caracterização dessas áreas centrais, suas rela-
apresentam número significativo de imóveis e domi- concentram postos de emprego, mas caracterizam- o debate dos movimentos junto ao poder público ções com a dinâmica de crescimento das metrópoles
cílios vazios e subutilizados. se por situações urbanas específicas, que devem ser tem se centrado na estruturação de uma política em e com a questão da habitação social e das políticas
Por isso, movimentos sociais ligados à temática da levadas em consideração na discussão acerca da pro- larga escala que envolva também a recuperação do públicas formuladas até hoje, foram pontuadas nes-
reforma urbana e da moradia, técnicos e estudiosos moção de habitação social nessas áreas. patrimônio histórico. ta publicação, que é composta de um caderno por
que historicamente centraram-se na luta por deman- Recife, Rio de Janeiro e Belém têm áreas centrais Em Fortaleza a discussão sobre a melhoria do Cen- cidade. Em cada caderno buscamos desenvolver os
das mais relacionadas aos problemas das periferias portuárias parcialmente desativadas, com significa- tro com promoção de habitação social está no início, seguintes temas: a problemática habitacional e urba-
— urbanização e regularização de favelas e loteamen- tivo patrimônio histórico edificado e abandonado, e envolvendo técnicos e movimentos sociais locais em na; a dinâmica de crescimento nas últimas décadas;
tos, implantação de redes de serviços e equipamen- grandes áreas públicas subutilizadas. torno da elaboração do “Plano Habitacional para a Re- as características do Centro; os atuais moradores,
tos públicos, produção de habitação em mutirão com As áreas centrais de Fortaleza e São Paulo desta- abilitação da Área Central de Fortaleza”. trabalhadores e usuários das regiões centrais e as
autogestão — hoje têm como bandeira a defesa da cam-se pela grande concentração de empregos ao Em Belém a discussão também está começando e propostas e experiências de produção de habitação
moradia em áreas centrais. mesmo tempo em que apresentam taxas acima de envolve a questão da reabilitação de edifícios históri- social no Centro.
Reivindicam a implementação de uma política ha- 20% de domicílios vazios. cos para promoção de habitação social. Alguns proje- O objetivo é que o presente material sirva como
bitacional que reverta a lógica histórica de assenta- Na última década essa problemática vem sendo tos, realizados pelo governo estadual e pelo Programa instrumento de disseminação e aprofundamento da
mento da população de baixa renda nas periferias e cada vez mais debatida no Brasil e, embora todas as Monumenta (do IPHAN, Ministério da Cultura), estão discussão acerca da habitação em áreas centrais entre
contribua para que as cidades caminhem rumo a uma capitais parceiras do projeto, entre outras, tenham em andamento. técnicos, lideranças, movimentos, gestores públicos e
configuração socioespacial mais justa e sustentável. propostas em andamento pelos três entes federativos, As experiências mostram que muitos são os de- entidades. Todo o material aqui sistematizado é fruto
Partindo desse contexto, o projeto “Moradia é Cen- ainda foram poucas as ações concretas no sentido de safios a serem enfrentados para a efetivação de uma de um ano de trabalho do projeto “Moradia é Central”,
tral — inclusão, acesso e direito à cidade”, teve como viabilizar uma política habitacional nas áreas centrais, política habitacional em áreas centrais. Para que os durante o qual foram promovidos seminários locais e
objetivo sensibilizar a opinião pública acerca da im- com prioridade para as famílias de menor renda. imóveis vazios e subutilizados localizados em áreas uma exposição itinerante — atividades realizadas com
portância da efetivação de políticas públicas de pro- Houve experiências significativas de produção de providas de infraestrutura sejam objeto de políticas os parceiros do projeto nas cinco capitais — que ti-
moção de habitação social nos centros urbanos, ten- habitação social nas áreas centrais em São Paulo e Rio habitacionais, garantindo o acesso da população de veram como objetivo gerar o comprometimento de
do como princípios a utilização de imóveis vazios e de Janeiro, que envolveram movimentos sociais e téc- baixa renda à terra urbanizada, é necessária a aplica- políticos, gestores públicos, entidades e atores sociais
ociosos para produção habitacional e a melhoria das nicos comprometidos com a questão. Em São Paulo, ção dos instrumentos do Estatuto da Cidade, que de- com a questão.

4 Moradia é central  recife 5


A dinâmica de
A problemática crescimento urbano
do recife do Recife

A Região Metropolitana do Recife (RMR) é hoje a As necessidades de deslocamentos e viagens co- Em 1913, o Recife possuía uma população de 182 do Capibaribe redirecionaram a ocupação do territó-
maior aglomeração urbana do Nordeste e a quinta do tidianas geradas por esse padrão de crescimento ur- mil habitantes. Uma década depois chegava a 313 mil rio, provocando seu crescimento para o sul. A partir
Brasil, com 3,6 milhões de habitantes, segundo os da- bano revelam a dimensão do problema: a frota de 4,6 — incremento populacional de mais de 58%. da implantação de equipamentos e infraestrutura viá-
dos do IBGE de 2007. mil ônibus transporta diariamente 1,7 milhões de pas- Ao longo do século XX, o crescimento populacio- ria no bairro de Boa Viagem, a zona sul do Recife tam-
A cidade do Recife, dividida em seis Regiões Po- sageiros e o metrô, outros 180 mil. nal e um conjunto de intervenções urbanas criaram bém passou a ser ocupada pela população de média
lítico-Administrativas (RPA), concentra cerca de 1,5 As intervenções públicas realizadas no Recife na nova fisionomia e delimitação da cidade e de sua área e alta renda, atraída pela paisagem da orla marítima.
milhões de habitantes, abrigando 42% da população segunda metade do século XX seguiram um modelo central. Destaca-se a remoção de cerca de 13 mil habi- Isto ocasionou um crescimento populacional progres-
total da Região Metropolitana. de planejamento urbano que reforçou esse processo tantes do Bairro do Recife por ocasião da reforma do sivo na zona sul do Recife, tornando-a a região mais
O crescimento urbano da Região se caracterizou de expansão periférica do tecido urbano, intensifi- porto. A demolição dos sobrados nos anos 1910 e a er- populosa do município.
por uma ocupação inadequada nos morros e áreas de cando as situações de precariedade habitacional e radicação dos mocambos, nos anos 1930 e 1940, que Em 1980, a população do Recife já ultrapassava
mangue na direção norte da capital e dos municípios subutilização de áreas com infraestrutura. Enquanto neste período abrigavam cerca de 165 mil habitantes, um milhão de habitantes e em 1990 correspondia a 1,3
metropolitanos, elevando progressivamente a deman- se consolidava a ocupação nas periferias, uma enor- caracterizaram estas intervenções. milhões, dos quais 64% continuava vivendo em condi-
da por deslocamentos entre estes e a região central me área edificada cujo uso característico era o resi- A política de erradicação dos mocambos imple- ções habitacionais precárias.
da cidade do Recife, onde se concentra a maior parte dencial, esvaziava-se. mentada pelo Interventor do Estado, Agamenon Ma- As políticas habitacionais historicamente não aten-
dos empregos. A ocupação irregular e precária de áreas alaga- galhães, deu origem à Liga Social Contra o Mocambo deram a demanda criada pelo crescimento popula-
Nas últimas décadas constata-se, à semelhança do diças e de morros tornou-se a solução habitacional que, na década de 1940, promoveu a remoção dos 12 cional da cidade, tampouco houve políticas públicas
que vem ocorrendo em outras áreas metropolitanas para grande parte da população. Atualmente, uma mil mocambos localizados no Centro do Recife, prin- de combate à especulação imobiliária e promoção do
brasileiras, altas taxas de crescimento populacional das características da cidade do Recife é seu déficit cipalmente nas áreas alagadiças entre o Derby e a Ta- acesso à terra urbanizada para a população de baixa
nos municípios da periferia metropolitana e taxas ne- habitacional, que se contrapõe aos imóveis desocu- caruna. Tal intervenção incluiu a abertura do canal de renda. Esse quadro acirrou os processos de perda de
gativas de crescimento em vários bairros centrais da pados no Centro. Segundo dados do IBGE (2000), o drenagem ao longo do qual, na década de 1970, foi população nas áreas servidas de infraestrutra e de au-
cidade do Recife. déficit habitacional do município do Recife é de mais construída a primeira avenida perimetral, hoje, Aveni- mento das ocupações irregulares e precárias no terri-
Entre 1991 e 2000 Recife apresentou uma taxa geo­ de 58 mil moradias, enquanto há 37 mil domicílios da Agamenon Magalhães. tório metropolitano.
métrica de crescimento populacional de 1,5% — relati- vagos na cidade. Outras tentativas de expulsão das demais comuni- Em 2000 Recife atingiu 1,4 milhões, de um total
vamente baixa, se comparada às dos municípios mais A área central do Recife, que concentra uma par- dades pobres ocorreram nos anos posteriores, mas a de 3,2 milhões de habitantes na Região Metropolitana,
periféricos da Região Metropolitana, que cresceram a cela significativa de empregos da Região Metropoli- resistência popular garantiu a permanência de muitas representando mais de 44% da população da RMR. A
taxas superiores a 2,5%, como Ipojuca, Moreno, Cama- tana, apresentou decréscimo populacional da ordem delas, como a de Coelhos e a de Brasília Teimosa. dinâmica metropolitana no período de 1991 a 2000
ragibe, Araçoiaba e Ilha de Itamaracá. de 5% entre os últimos dois censos realizados pelo Apesar da resistência, as políticas de expulsão re- foi marcado pela perda de população das áreas cen-
IGBE (1991 e 2000), processo que impactou de diver- sultaram na transferência de quase um terço das famí- trais e servidas de infraestrutura e pelo crescimento
sas formas os bairros que a compõem. De forma geral, lias que viviam nos mocambos para regiões periféricas exacerbado das regiões periféricas e assentamentos
houve perda de população, abandono dos imóveis de da cidade, ocasionando o surgimento do chamado precários. Esta dinâmica expandiu a malha urbana e
uso residencial e deterioração do patrimônio edifi- cinturão de áreas pobres do Recife. Grande parte das gerou problemas como a concentração de imóveis
cado na área central. Soma-se a isso a existência de famílias que antes ocupava o entorno da área central vagos no Centro.
inúmeras áreas públicas vazias, que reforçam o grau migrou para municípios vizinhos e para os morros da O mapa e a tabela a seguir (figuras 6 e 7) ilustram o
de subutilização dos imóveis deste território. São 18 zona norte da cidade. Ao mesmo tempo, a elite se processo, mostrando que 31 bairros perderam popula-
terrenos públicos que contabilizam aproximadamen- concentrou em bairros como Casa Forte e Apipucos — ção em diferentes regiões da cidade. O Centro, espe-
te 145 hectares na orla marítima. Em contraposição, 7 historicamente marcados pela presença de população cialmente os bairros de Paissandu, São José, Cabanga,
núcleos de favelas com 9 mil domicílios, concentra- abastada — e com atrativos como a vegetação nativa Boa Vista, Santo Amaro, Soledade, Ilha do Leite e Coe-
das principalmente nos bairros de Santo Amaro, Ilha e terras planas e secas. lhos, concentrou as maiores perdas. Mas também hou-
do Leite e Coelhos, se adensam com precariedade Nos anos 1960, a população atingiu contingente ve saída de moradores em bairros do entorno do Cen-
da moradia. superior a 763 mil habitantes dos quais 59% residia tro, como Afogados, Ipsep, Estância, Jardim São Paulo,
Estas áreas necessitam de altos investimentos para em áreas com precariedade habitacional. Na década Mustardinha, Mangueira, Derby e Prado; e em bairros
suprir a falta de serviços e equipamentos públicos e de 1970, quando se instituiu a Região Metropolitana da região noroeste da cidade, como Dois Irmãos, Alto
serem consolidadas como bairros centrais, a exemplo do Recife, a cidade já possuía mais de um milhão de do Mandu, Casa Amarela, Nova Descoberta, Vasco da
Figura 1. Recife cresceu de forma desigual nas áreas centrais e de Brasília Teimosa, onde a prefeitura investiu recur- habitantes, ao lado de 1,8 milhões da RMR. Gama, Alto Santa Teresinha, Alto José Bonifácio, Mor-
periféricas nas últimas décadas. Foto: Gilvan Barreto sos para transformá-la no bairro que existe hoje. Ainda nos anos 1970, as sistemáticas inundações ro da Conceição, Água Fria e Fundão.

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Código Bairro População % População TGCA
1991 - 2000 1991 - 2000

4 Paissandu -213 -29% -3,68


40 Soledade -681 -24% -2,95
33 São José -2.109 -20% -2,39
32 Cabanga -335 -18% -2,17
3 Boa Vista -3.026 -18% -2,15
18 Estância -1.894 -17% -2,11

57 Dois Irmãos -503 -14% -1,68


17 Ipsep -1.672 -6% -0,70
66 Nova Descoberta -2.021 -6% -0,63
Figura 2. A região central (RPA 1) perdeu 4,9 mil moradores de 1991 Figura 3. O bairro da Boa Vista perdeu 18% de seus moradores de 23 Jardim São Paulo -1.158 -4% -0,43
a 2000. Foto: Gilvan Barreto 1991 a 2000. Foto: Gilvan Barreto 2 Santo Amaro -955 -3% -0,36
77 Água Fria -841 -2% -0,21
9 Afogados -624 -2% -0,19

31 Pina 641 2% 0,26


11 Areias 787 3% 0,29
83 Beberibe 379 5% 0,50
8 San Martin 1.277 6% 0,64
89 Campo Grande 2.447 8% 0,91
30 Boa Viagem 10.704 12% 1,26
44 Brasília Teimosa 2.236 13% 1,39
5 Ilha Joana Bezerra 2.050 19% 1,97
legenda 26 Várzea 10.747 20% 2,05
49 Iputinga 8.730 23% 2,31
Limite bairros
Limite Municípios 41 Santo Antônio 115 27% 2,70
Figura 4. O bairro Barro cresceu 57% de 1991 a 2000, ganhando Figura 5. O bairro Caçote cresceu 77% de 1991 a 2000, ganhando Hidrografia 80 Aflitos 992 29% 2,89
11 mil novos moradores. Foto: Gilvan Barreto 3,7 mil novos moradores. Foto: Gilvan Barreto 19 Curado 3.511 35% 3,41
13 Cohab 19.738 40% 3,81
Tgca - taxa geométrica de crescimento 56 Caxangá 2.031 44% 4,12
Em processo oposto, bairros periféricos da cidade anual - 1991 a 2000 54 Guabiraba 2.378 48% 4,46
cresceram a altas taxas, destacando-se Cohab (39%),
Barro (57%), Macaxeira (71%), Passarinho (76%) e Ca- Sem dados 12 Barro 11.283 57% 5,13
çote (77%) — bairros que já eram bastante populo- até -2,00 1 Recife 360 64% 5,63
sos e cresceram em média 64% de 1991 a 2000. de -1,99 a 0,00 65 Macaxeira 7.977 71% 6,11
Nas últimas décadas a criação de novas centrali- de 0,01 a 2,50 52 Passarinho 6.655 76% 6,47
dades promoveu a transferência de atividades antes de 2,51 a 5,00 16 Caçote 3.672 77% 6,56
concentradas no Centro para outras áreas, como os de 5,01 a 10,00 55 Sítio dos Pintos 3.244 134% 9,92
bairros de Encruzilhada e Casa Amarela. Isso resultou
no aumento do número de domicílios vazios na área
central. Tal fato também ocorreu em outras áreas con- Figura 6. Mapa — Dinâmica populacional na Região Metropolitana Figura 7. Tabela — Dinâmica populacional nos bairros do Recife de
solidadas, provavelmente devido à produção imobili- do Recife de 1991 a 2000. 1991 a 2000 (destaque para alguns bairros).
ária acima da demanda real por novos imóveis. Fonte: IBGE Censos 1991 e 2000 (Elaboração própria) Fonte: IBGE Censos 1991 e 2000 (Elaboração própria)

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Os dados sobre domicílios vagos apresentados no Destaca-se também a vacância no Bairro de Boa
mapa e na tabela a seguir (figuras 8 e 9), mostram Viagem, onde foram construídos muitos edifícios ha-
que a dinâmica urbana e imobiliária produziu vacân- bitacionais novos para as classes média e alta nos úl-
cia em várias regiões da cidade. No Centro, os bair- timos anos. Este bairro concentrava o maior número
ros que mais concentraram domicílios vagos, segun- absoluto de domicílios vazios da cidade — 4.597 uni-
do o Censo do IBGE de 2000, foram: São José (17%), dades — o que representava 12% de seu total.
Coelhos (15%), Boa Vista (15%) e Soledade (14%). O É importante lembrar que a contagem do IBGE
bairro Ilha do Retiro, no entorno do Centro, também corresponde aos domicílios particulares permanentes
apresentou índice alto: 17% de seu estoque imobiliá- — casas, apartamentos ou cômodos destinados à mo-
rio estava desocupado em 2000. Juntos, esses bair- radia — que estavam vagos no momento da pesquisa.
ros somavam 2.246 domicílios vazios, parte dos quais Inclui, portanto, apartamentos vagos em prédios in-
poderia ser utilizada para habitação social. teiramente ou parcialmente vazios, além de casas e
cômodos residenciais desocupados. Por isso este nú-
mero não contempla unidades comerciais vazias, anti-
DOMIcílios vagos gos hotéis ou galpões abandonados (tipos de imóveis
que podem ser transformados em habitação social a
Município Bairro Domicílios Domicílios % Domicílios partir de reforma).
Vagos Vagos Apesar da perda de população e da concentração
de domicílios vazios, o Centro manteve sua dinâmica
São José 2.949 498 16,89% peculiar, não deixando de ter sua importância, tanto
Coelhos 2.296 358 15,59% habitacional quanto como polo de comércio popular. A
Boa Vista 6.867 1.038 15,10% região continua atendendo a uma demanda de comér-
cio e serviços da população moradora do próprio bair-
Boa Viagem 3.7341 4.597 12,31% ro, dos bairros periféricos e de municípios vizinhos.
O Centro continuou, portanto, concentrando gran-
Recife Pina 8.681 875 10,08% de parte dos empregos da Região Metropolitana e da
Várzea 19.163 1.790 9,34% cidade do Recife. O mapa ao lado mostra a concen-
tração de empregos da capital em relação aos demais
Nova 9.674 795 8,22% municípios metropolitanos.
Descoberta
Ilha Joana 3.644 285 7,82%
Bezerra
Santo Antônio 267 20 7,49% concentração de empregos

Varadouro 1.935 285 14,73% Município Empregos % em relação à RM de RE


Jardim 11.272 1.502 13,33%
Atlântico Recife 503.893 68,0%
legenda legenda
Olinda Alto da 1.531 187 12,21% Jabotatão dos Guararapes 70.306 9,5%
Conquista Olinda 61.523 8,3%
Limite bairros Limite bairros
Limite Municípios Vila Popular 1.516 156 10,29% Limite Municípios Paulista 24.548 3,3%
Hidrografia Alto da 2.227 229 10,28% Hidrografia Cabo de Santo Agostinho 21.548 2,9%
Bondade
Ipojuca 17.159 2,3%
% DE DOMIcílios vagos Nossa Sra do Ó 4.871 813 16,69% concentração de empregos Igarassu 13.670 1,8%
Centro 1.094 173 15,81% Camaragibe 7.970 1,1%
Janga 13.388 2.090 15,61% Abreu e Lima 7.070 1,0%
até 9% Paulista até 20 mil Moreno 4.577 0,6%
de 9,01 a 11% Nossa Sra da 936 116 12,39% de 20,1 mil a 40 mil São Lourenço da Mata 4.443 0,6%
de 11,01 a 13% Conceição de 40,1 a 515 mil Itapissuma 3.111 0,4%
de 13,01 a 15% Acima de 500 mil Ilha de Itamaracá 1.103 0,1%
acima de 15,01 Paratíbe 4.303 395 9,18% Araçoiaba 504 0,1%

Figura 8. Mapa — Concentração de domicílios vagos na Região Figura 9. Tabela — Concentração de domicílios vagos no Recife, em Figura 10. Mapa — Concentração de empregos na Região Figura 11. Tabela — Concentração de empregos na Região
Metropolitana do Recife. Olinda e Paulista (destaque para alguns bairros). Metropolitana do Recife. Fonte: CEMPRE, 2006 — Referente a Metropoliatana do Recife. Fonte: CEMPRE, 2006 — Referente a
Fonte: IBGE Censo 2000 (Elaboração própria) Fonte: IBGE Censo 2000 (Elaboração própria) pessoal ocupado assalariado (Elaboração própria) pessoal ocupado assalariado (Elaboração própria)

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Características do
Centro do Recife

Dados da população moradora do Centro (bairros da RPA 1)


e Brasília Teimosa (pertencente à RPA 6)

população gênero (%) faixa etária (%) renda (%)

Bairro Total Mulheres Homens Ate 24 anos de 25 a 59 60 ou mais Ate 3 SM de 3 de 5 + de


Jovens adultos idosos a 5 SM a 10 SM 10 SM

Recife 925 50,1 49,9 53,9 40,6 5,4 93,6 4,2 2,3 0,0
Santo Amaro 29.140 54,4 45,6 46,7 42,0 11,3 65,4 9,5 13,0 12,1
Boa Vista 14.033 58,2 41,8 33,7 48,7 17,6 22,7 14,9 28,8 33,6
Soledade 2.201 59,6 40,4 32,8 49,5 17,7 22,3 13,7 27,0 37,0
Santo Antônio 539 48,2 51,8 27,5 50,3 22,3 66,3 13,9 9,4 10,4
Paissandu 531 56,7 43,3 38,2 47,8 13,9 12,4 11,8 32,3 43,5
Ilha do Leite 959 56,6 43,4 36,1 49,5 14,4 25,4 10,9 28,7 35,0
Coelhos 6.826 52,4 47,6 51,1 41,0 7,9 89,2 5,4 3,1 2,3
Ilha Joana Bezerra 12.755 52,0 48,0 58,3 36,2 5,5 93,5 4,5 1,8 0,3
Cabanga 1.536 56,1 43,9 41,3 43,4 15,3 61,5 14,3 14,7 9,5
São José 8.653 51,9 48,1 52,5 39,2 8,3 86,6 7,4 4,8 1,3
Total Área Central 78.098 54,4 45,6 46,8 42,5 10,7 65,50 9,84 12,55 12,11
Brasília Teimosa (RPA 6) 19.155 52,3 47,7 47,9 43,3 8,7 81,1 10,8 6,5 1,6
Total Recife 1.422.905 0,53 46,50 46,2 44,4 9,4 61,4 10,4 12,8 15,4

Figura 13. Tabela — Dados da população moradora do Centro (bairros da RPA 1) e Brasília Teimosa (pertencente à RPA 6).
Fonte: IBGE Censo 2000 (Elaboração própria)

Alfabetização, domicílios e gênero nos bairros centrais (RPA 1 e Brasília Teimosa)

Bairro Taxa de Alfabetização (1) Total de Domicílios Porcentagem de Mulheres Responsáveis Pelo Domicílio

Recife 72.88 303 48,26


Santo Amaro 86,79 7.785 47,3
Figura 12. Foto aérea do Centro do Recife. Fonte: Prefeitura do Recife (Elaboração própria) Boa Vista 97,35 5.322 51,31
Soledade 98,11 911 53,19
Santo Antônio 90,27 277 37,13
A área central do Recife, com uma extensão ter- sul do município, inclusive Brasília Teimosa, Boa Via- Paissandu 97,98 180 48,81
ritorial de 15,2 km2, corresponde à Região Político- gem e Pina, a população corresponde a aproximada- Ilha do Leite 98,15 303 49,17
Administrativa 1 (RPA 1), composta pelos bairros: mente 25% do total. As tabelas a seguir trazem os da- Coelhos 79,86 1.868 45,42
Boa Vista, Cabanga, Coelhos, Ilha do Leite, Ilha Jo- dos socioeconômicos dos moradores do Centro, com Ilha Joana Bezerra 74,5 3.305 40,46
ana Bezerra, Paissandu, Recife, Santo Amaro, Santo base no Censo IBGE de 2000. Cabanga 92,67 441 45,58
Antônio, São José e Soledade. Em 2000, residiam na O Centro do Recife desempenha um papel im- São José 78,33 2.415 48,1
área central do Recife 78 mil habitantes, ocupando portante na dinâmica da cidade e da Região Metro- Brasília Teimosa (RPA 6) 85,45 4.878 39,51
22 mil domicílios. politana, nele estão situados as sedes dos governos Total 27.988
Dentre as seis Regiões Político-Administrativas, a estadual e municipal, secretarias estaduais, órgãos fe-
RPA 1 abriga o menor número de habitantes. Sua po- derais, sede de empresas, bancos e escritórios, além Figura 14. Tabela — Alfabetização, domicílios e gênero nos bairros centrais (RPA 1 e Brasília Teimosa).
pulação equivale a apenas 5,5% da população total da de universidades, museus, hospitais, polos industriais Fonte: Prefeitura do Recife (Dados do IBGE, 2000; Elaboração própria).
cidade, enquanto na RPA 6, que abrange os bairros ao e centros comerciais. (1) Taxa de Alfabetização da População de 15 anos e mais

12 Moradia é central  recife 13


Figura 15. Vista da região central. Foto: Gilvan Barreto

Assim, o Centro é ponto de convergência de mi- de substituição das suas edificações por empreendi-
lhares de pessoas em busca de emprego, serviços e mentos imobiliários destinados à população de média
produtos, além de atividades de cultura e lazer. A pre- e alta renda nestas áreas próximas à orla. O capital
sença desta diversidade econômica (indústria, comér- imobiliário avança sobre parcelas significativas deste
cio, serviços etc.) dá ao Centro, hoje, uma importância território, conforme evidencia a venda dos galpões da
significativa frente às demais regiões da cidade. REFESA e do Edifício JK para empreendedores priva-
Uma excelente rede de infraestrutura cobre a área dos. Nesta dinâmica, o Centro que já vem perdendo
central, permitindo que estas atividades comerciais faixas consideráveis de população, pode também per-
e de serviços se mantenham e se desenvolvam. Um der a atual população moradora, devido ao encareci-
conjunto articulado de vias liga o Centro aos demais mento do custo de moradia e ao efeito transformador
bairros do Recife, muitas utilizadas como corredores provocado pelos novos padrões de moradia.
de transporte urbano. Só no Centro, existem sete des- Segundo dados do IBGE, o Centro perdeu em uma
tes corredores, incluindo a Avenida Norte, por onde década (1991–2000) 6% da população moradora, pas-
circulam 223 linhas de transporte coletivo. A área sando de 83 mil, para 78 mil habitantes. Entretanto,
central é atendida também pelo terminal de metrô para muitas dessas famílias, morar no Centro signifi-
interligado aos municípios de Jaboatão dos Guarara- ca estar próximo do trabalho e obter renda, seja nas Figura 16. Construção abandonada no Centro do Recife. Figura 18. Torres residenciais de alto padrão (Pier Maurício de
pes e Camaragibe, além de uma linha para zona sul atividades formais ou informais. Além disso, muitas Foto: Gilvan Barreto Nassau e Pier Duarte Coelho) em construção na orla do Bairro do
do Recife, que está sendo ampliada para aumentar a das famílias pobres que residem nas comunidades Recife. Ao fundo, vê-se Brasília Teimosa. Foto: Gilvan Barreto
capacidade de transporte de passageiros. Os termi- não consolidadas ou nos cortiços e palafitas têm aí
nais integrados de passageiros promovem o embar- a única possibilidade de moradia, o que reforça a ur-
que intermunicipal para outras cidades da região e gente necessidade de promover a habitação popular
do estado, complementando esta importante rede de no Centro do Recife.
transporte de passageiros. No intuito de urbanizar, regularizar e garantir a al-
A potencialidade do Centro como lugar da diver- gumas destas famílias, o direito à moradia, o Plano Di-
sidade de usos e da moradia para todas as faixas de retor definiu, no interior da RPA 1, quatro Zonas Espe-
renda é reforçada pela quantidade expressiva de imó- ciais de Interesse Social (ZEIS): Coelhos, Coque, Santo
veis e domicílios abandonados, desocupados e fecha- Amaro e João de Barros. A população total abrangida
dos, tanto públicos como privados. Os dados do IBGE por estas zonas era, em 2000, de 38 mil pessoas, o que
de 2000 para a RPA 1 revelam a existência de 3.361 equivalia a 49% da população total moradora da RPA1.
domicílios vagos nesta área. Próxima a estas quatro ZEIS foi também delimitada a
Uma pesquisa realizada pela Prefeitura do Recife ZEIS Brasília Teimosa, que embora não esteja incluída
em 2008 apontou a presença de 253 imóveis priva- na RPA 1, sofre forte pressão do mercado imobiliário,
dos abandonados, desocupados ou fechados. Quan- por conta de sua localização estratégica próxima à
to aos imóveis públicos, os números são ainda mais área da REFESA. Outras áreas pertencentes à RPA 1,
expressivos, já que na área central há um conjunto também precárias, não foram delimitadas como ZEIS,
pertencente à União e que perfaz 145 hectares, parte correndo risco de remoção: a Favela do Rato, localiza-
do qual poderia ser utilizado para a construção de da no Bairro do Recife; Frei Casemiro; Vila do Papel e
novas moradias. Vila dos Motoristas, no Bairro de São José; Roque San-
Com esta potencialidade e disponibilidade de teiro, no Bairro dos Coelhos e Vila Brasil, localizada no Figura 17. Edifício JK: abandonado há anos, foi recentemente
área, o Centro vem assistindo a um gradual processo Bairro de Ilha Joana Bezerra. vendido a um empreendedor privado. Foto: Gilvan Barreto

14 Moradia é central  recife 15


Brasília Teimosa e
o Centro do Recife

Situada em uma área de grande interesse para pro- Teme-se que o projeto Recife–Olinda, que interliga A faixa de renda familiar de 3 a 6 salários mínimos
moção imobiliária, a comunidade Brasília Teimosa está os centros das duas cidades, e que incorpora o terri- constituiu um terço (33%) dos entrevistados e a de 7
localizada entre o bairro de Boa Viagem e o Centro tório de Brasília Teimosa em sua área de intervenção, a 10, cerca de um décimo deles (11%). Na faixa entre
tradicional do Recife, oficialmente situada no territó- destitua o direito à moradia das famílias que ali resi- 10 e 20 salários mínimos, a pesquisa abarcou 5,4%
rio da RPA 6, e uma Zona Especial de Interesse Social dem, promova sua expulsão ou impacte na permanên- dos entrevistados e 4,6% na faixa superior a vinte
— ZEIS (ver Figura 12). cia das mesmas. Portanto, considerar Brasilia Teimosa salários mínimos.
Como o próprio nome indica, Brasília Teimosa é um território do Centro do Recife é estratégico para A diversidade do Centro, com suas atividades vol-
fruto de intensa luta popular pelo direito à moradia. os movimentos sociais e entidades envolvidos no pro- tadas para vários públicos e faixas de renda, transpa-
Surgida em meados dos anos 1950, a comunidade tem jeto Moradia é Central. rece nas respostas dadas sobre hábitos e atividades
resistido às pressões do capital que tem tentado in- A proximidade com o Centro possibilita o acesso aos desenvolvidas nos seus bairros. Mais de 90% dos en- Figura 20. Cena cotidiana do Centro.
corporar o lucro de sua localização estratégica. serviços, equipamentos e postos de trabalho oferecidos trevistados fazem compras e mais de 80% trabalham Foto: Prefeitura do Recife
A Comunidade está separada fisicamente do nú- nessa área da cidade. Além disso, a pouca distância que ou “negociam” no bairro. Do total de entrevistados,
cleo principal do município pela Bacia do Pina, toda- separa as duas áreas facilita o acesso ao Centro de for- 53% utiliza os bares e restaurantes e 37,4% os cinemas
via o mesmo não se dá com as relações socioespaciais. mas alternativas como de bicicleta ou a pé, barateando e teatros, constituindo o público que comparece ao
A integração entre a comunidade de Brasília Teimosa o custo de deslocamento da população local ao Centro. Centro em horários noturnos.
e o Centro é intensa e também se dá nas propostas Por tudo isto os movimentos populares da cidade con- Os equipamentos de saúde foram avaliados
estratégicas do planejamento municipal. Propostas sideram Brasília Teimosa uma parte da área central do como bons e ótimos por dois quintos dos entrevis-
como a criação de uma ponte interligando o Centro Recife. Assim, garantir a permanência da população de tados. Do universo que utiliza os serviços, a metade
tradicional do Recife ao território de Brasília Teimosa menor poder aquisitivo em Brasília Teimosa e impedir (50,7%) o considerou bom e um quarto (24,8%) o
ou como o projeto Recife-Olinda, destaca a área de processos de especulação, expulsão e encarecimento avaliou como regular. Parcela pouco significativa fez
Brasília Teimosa como espaço estratégico para o de- do solo urbano são reivindicações trabalhadas e deba- avaliações negativas.
senvolvimento da cidade. tidas no âmbito deste projeto que merecem atenção. A avaliação sobre os serviços de saúde ali presta-
dos revelou-se positiva e o resultado foi semelhante
em relação aos equipamentos de lazer. Também neste
caso, cerca da metade (48,6%) dos entrevistados ava-
liaram este item positivamente.
Para quase 90% dos entrevistados a facilidade do
transporte público foi um fator preponderante nas
avaliações positivas quanto às atividades realizadas
no Centro. Destes, 60% considerou positiva a acessi-
bilidade ao Centro pelo transporte público oferecido. Figura 21. Paisagem do bairro da Boa Vista.
Quando perguntados sobre a moradia e trabalho, Foto: Prefeitura do Recife
Gente que mora e 44,2% declarou gostar e desejar permanecer no bairro
onde mora ou trabalha.
trabalha no Centro Este percentual amplia-se vigorosamente na pes-
quisa realizada pela Prefeitura do Recife no bairro da
Boa Vista, núcleo histórico do Centro, onde há uma
presença crescente de imóveis vazios e descaracte-
rização provocada pela substituição de usos residen-
O Centro do Recife continua sendo o lugar do ha- ciais para os comerciais em imóveis cedidos ou sim-
bitar, do trabalhar, das compras e do lazer. Uma pes- plesmente ocupados, acarretando sérios problemas
quisa realizada pela Prefeitura, em 2005, para avaliar de conservação.
a opinião dos moradores e trabalhadores, revelou al- O fato de 60% dos imóveis ainda permanecerem
guns de seus traços característicos e permitiu visua- com uso residencial e da maioria dos moradores en-
lizar o perfil de quem mora e trabalha no Centro ou trevistados ter nascido, continuar residindo e ainda
freqüenta o Centro por outros motivos. Esta pesqui- exercer atividades profissionais no próprio bairro,
sa abarcou um público bastante variado, com diver- pode ser uma das razões da satisfação em residir no
sidade de renda, gênero, idade e níveis de escolari- Centro, apesar do processo de perda de população.
dade. O estrato das pessoas com renda inferior a três Do total de pessoas entrevistadas, 80% declararam
salários mínimos concentrou 46% dos entrevistados, que gostam de morar ou trabalhar no Centro pelas se-
maioria constituída de moradores ou trabalhadores Figura 19 Ambulantes / comércio informal no centro. guintes razões — estar “perto de tudo”, “existência de Figura 22. Edifícios históricos na Boa Vista.
dos bairros centrais. Foto: Prefeitura do Recife escola” ou “facilidade do transporte”. Foto: Prefeitura do Recife

16 Moradia é central  recife 17


Figura 23. Rua de uso misto no bairro da Boa Vista.
Foto: Prefeitura do Recife

A promoção
habitacional no
Centro do Recife

Os pontos positivos mencionados para aqueles que


gostam de morar ou trabalhar no Centro são: o trans- As primeiras iniciativas relacionadas à política de ciamentos foram buscados junto às agências multila-
porte, o comércio, a localização/proximidade do Cen- promoção habitacional no Recife iniciaram-se na dé- terais. Entre os programas promovidos desta maneira
tro, a tranquilidade, os serviços de saúde, as opções de cada de 1980, com a implantação do Plano de Regu- pelo poder público na década de 1990, destacam-se: o
lazer, as igrejas, a facilidade para compras e o estar no larização das Zonas Especiais de Interesse Social (Lei Programa de Erradicação de Sub-habitação (PROMO-
Figura 24. Teatro Santa Isabel. Foto: Gilvan Barreto “Recife Antigo”. Municipal 14.947/87), conhecido como PREZEIS. RAR) e o Habitar Brasil, ambos financiados pelo BID
Os aspectos negativos: falta de segurança/policia- Foi um processo pioneiro no Brasil de urbaniza- — Banco Interamericano de Desenvolvimento.
mento, falta de estacionamento, presença de prédios ção de favelas com participação de seus moradores. As intervenções habitacionais no Centro do Reci-
abandonados, calçadas esburacadas, prostituição, me- Atualmente, são 66 ZEIS demarcadas em todo o mu- fe foram realizadas no âmbito dos programas PRO-
nores de rua, deficiência na iluminação pública, exces- nicípio, representando 12% do território da cidade e MORAR (na década de 1980) e Morar no Centro
so de barulho, trânsito e poluição. Pesam para muitos 80% das favelas. Destas, quatro estão na área central (2000–2005) e, atualmente, estão previstas no Pro-
destes moradores ou trabalhadores, problemas carac- da cidade (RPA1): Coque, Coelhos, João de Barros e grama de Requalificação de Áreas Urbanas Centrais
terísticos das áreas centrais metropolitanas. Santo Amaro. e no Projeto do Complexo Turístico–Cultural Recife
A segurança pública e a limpeza urbana foram os O PREZEIS foi uma conquista e contribuiu para um Olinda, descritos a seguir.
dois aspectos que pior avaliação tiveram entre os en- avanço nas leis e ações posteriores no campo da habi- Para os movimentos sociais e entidades que atuam
trevistados, somando 64,5% de avaliações negativas tação social. Movimentos e organizações se legitima- na área, qualquer intervenção urbana e habitacional
no primeiro item e 33,5% no segundo. ram a partir de então como interlocutores das políti- no Centro do Recife deve priorizar as áreas de con-
Embora os pontos apontados sejam conhecidos, cas públicas. Mesmo assim, algumas urbanizações e a centração da população pobre (favelas e palafitas),
é importante ressaltar que há um público interessa- promoção de moradia no Centro ainda não ocorreram, que devem ser demarcadas e asseguradas como ZEIS
do em permanecer na área do “antigo Recife”. No devido às limitações da atuação do poder público. (Zonas Especiais de Interesse Social), evitando a ex-
entanto, cabe ao poder público oferecer à população, Desde a extinção do BNH, em 1986, a política pulsão da população devido à valorização imobiliária
as possibilidades de acesso à moradia e garantir, nas habitacional foi descentralizada e os municípios, sem e à atuação do mercado. Para a produção de novas
áreas que são as mais disputadas pelo mercado, que receita específica para a habitação, passaram a utilizar unidades habitacionais devem ser utilizados prédios e
os núcleos habitacionais em ZEIS sejam atendidos por outras fontes de recursos para executar a sua política terrenos, públicos e privados, que se encontram hoje
Figura 25. Paisagem do Centro Antigo. Foto: Gilvan Barreto políticas urbanas e habitacionais. urbana e habitacional. No caso do Recife, muitos finan- abandonados na área central.

18 Moradia é central  recife 19


Desafios no Recife

PROMORAR. O PROMORAR teve como objetivo


promover a urbanização de favelas no Centro, com Diante da realidade enfrentada pelas milhares de No caso dos imóveis de interesse do patrimônio cul-
foco em Coque e Coelhos (na RPA 1) e em Brasília Tei- famílias que não têm moradia adequada nem acesso a tural, o elevado custo de reabilitação se deve, dentre ou-
mosa (na RPA 6) — áreas que historicamente sofreram financiamentos e em face da falta de recursos e de po- tros motivos, pela falta de mão-de-obra especializada,
pressões para a remoção de sua população. Apesar líticas de produção de moradia popular, principalmen- que onera o valor da adequação dos imóveis para estas
das ações de urbanização dessas áreas, o programa te em áreas centrais, muitos movimentos urbanos de famílias. No caso dos imóveis vazios e subutilizados que
foi uma ação pontual de habitação no Centro e a área luta por moradia — no Recife e em outras cidades do não cumprem uma função social, a prefeitura deveria in-
do Coque permaneceu urbanisticamente segregada. Brasil — reafirmam o debate sobre a moradia digna e a duzir ao uso por meio da aplicação do IPTU progressivo,
Além disso, os benefícios trazidos pelo programa à reforma urbana, além de evidenciarem a urgência com porém ainda não houve ações neste sentido.
população pobre dependem hoje da demarcação e que devem ser implementadas ações nesse sentido. Enquanto isso o capital imobiliário avança sobre
manutenção dessas áreas como ZEIS. A luta pelo direito de ocupar o espaço central do grande parcela do território central recifense, deixando
Figura 26. Favela na área central do Recife. Foto: Gilvan Barreto Recife como local de residência para as famílias de cada vez menos espaço para geração de oportunida-
Morar no Centro. Em 2000, foi lançado o projeto menor renda está apenas começando e o movimento des habitacionais populares. Tal avanço busca conso-
Morar no Centro pela Prefeitura, com foco nos bairros de moradia é a vanguarda nesta luta. O debate sobre lidar o Centro como um espaço da classe média, pro-
do Recife e da Boa Vista. Foram levantados imóveis, a questão da moradia tem ocupado espaço de desta- duzindo imóveis destinados a este segmento. A venda
resultando em 60 estudos para reforma pelo Pro- que tanto para os movimentos sociais quanto para as do edifício JK, dos terrenos da REFESA e a construção
grama de Arrendamento Residencial (PAR) da Caixa diferentes esferas governamentais. dos edifícios Píer Maurício de Nassau e Píer Duarte Co-
Econômica Federal. No entanto, a única experiência As intervenções do Poder Público nos últimos anos elho (popularmente chamados de “Torres Sandy e Ju-
concreta foi a adequação do Edifício São José. Essa demonstram como a luta pela moradia no Centro já nior”) são exemplos claros desta tendência.
experiência, realizada no âmbito do PAR, atendeu faz parte de uma agenda que tem se mostrado cada No caso do Edifício JK, de propriedade do INSS e
apenas famílias com renda superior a três salários mí- vez mais intensa. A articulação de programas de rea- leiloado por 2,3 milhões de reais, foram divulgadas in-
nimos, excluindo as de mais baixa renda. bilitação e habitação e a aplicação dos instrumentos formações de que será instalada ali uma faculdade par-
do Estatuto da Cidade já promulgados são algumas ticular, reforçando, assim, a realização de empreendi-
Programa de Requalificação de Áreas Urbanas das possibilidades de enfrentamento da problemáti- mentos que não atendem à população de menor renda.
Centrais. Em 2005, no âmbito do Programa de Requa- ca. Três temas que ganham evidência são: a conso- A venda de parte dos terrenos da REFESA, por
lificação de Áreas Urbanas Centrais, do Ministério das lidação das ocupações na área central, a criação de 55,4 milhões de reais, para um consórcio composto
Cidades, a Prefeitura delimitou 11 perímetros de reabi- novas ZEIS e a garantia do título de propriedade aos por diferentes empresas do Recife, representa uma
litação integrada (PRIs) no Centro: São José (leste e integrantes das comunidades, da forma como foi ado- grande perda para a luta por habitação na área central
oeste), Guararapes, Boa Vista, Ilha do Leite, Eixo da Av. tada em Brasília Teimosa, um dos ícones da luta pela da cidade, pois houve privatização de uma área que
Conde da Boa Vista, Soledade Unicap, Soledade Aga- urbanização e que hoje é alvo constante das pressões deveria servir ao interesse coletivo.
menon, Santo Amaro, bairro do Recife e Imperial. do mercado imobiliário. Enquanto não se promovem novas oportunidades
No momento está em fase de projeto a requalifica- Figura 27. Perímetros de Reabilitação no Centro do Recife. Em relação ao Projeto Recife-Olinda, é preciso ga- de habitação popular, crescem as ocupações irregulares
ção de um setor da Rua Imperial, onde está previsto o Foto: Prefeitura do Recife rantir que as propostas atendam à população de renda e a precariedade habitacional da maioria da população,
re-assentamento inicial de 1050 famílias moradoras de baixa da região central e que as ações promovidas não em favelas, palafitas e cortiços. No Centro do Recife,
palafitas das comunidades de Vila Brasil e Coelhos, às provoquem uma expulsão dos moradores das áreas há uma grande concentração de cortiços que atendem
margens do Capibaribe. Destas, 200 unidades serão contempladas pelo projeto. à demanda específica e considerável de quem precisa
produzidas através da requalificação de imóveis aban- Há muitos desafios a serem enfrentados por todos estar no Centro por questão de sobrevivência.
donados, em processo de aquisição pela municipali- os agentes interessados em desenvolver uma política A permanência da população de menor poder aqui-
dade. O objetivo é reassentar as famílias em situação de acesso à terra e à moradia digna para a população sitivo na área central da cidade deve ser garantida pela
de risco na própria área, e promover a recuperação de baixa renda em áreas centrais. Destacamos alguns implementação das políticas urbanas e habitacionais,
ambiental da orla do rio. entraves burocráticos para acesso aos financiamen- assegurando a proximidade aos locais de trabalho e a
tos pelas famílias de menor poder aquisitivo: a falta manutenção dos laços afetivos e culturais.
Projeto do Complexo Turístico-Cultural Recife de subsídios; o alto custo das adequações e reformas Para representantes dos movimentos que lutam por
Olinda. Entre 2005 e 2007, as prefeituras de Recife habitacionais; a falta de controle do uso e ocupação habitação, a ocupação dos imóveis vazios e subutiliza-
e Olinda, o Governo do Estado e o Ministério das Ci- do solo e da especulação imobiliária. A especulação dos no Centro é uma estratégia de luta pela produção
dades elaboraram o “Projeto do Complexo Turístico- imobiliária é um grande impeditivo à efetivação de de habitação social. A falta de determinados serviços e
Cultural Recife Olinda”; com o objetivo de reabilitar uma política habitacional no Centro uma vez que os a inadequação dos imóveis, nas áreas de favelas e pa-
áreas pertencentes à União e remanescentes da ativi- proprietários de imóveis vazios e desocupados não lafitas, são outras questões que necessitam de solução
dade portuária e ferroviária. O Projeto prevê 1,5 milhão são punidos pelo não cumprimento da função social para a garantia do direito à moradia no Centro.
de m2 de novas construções, dos quais cerca de 10% e quando seus imóveis são adquiridos para produção Por fim, é preciso criar novas oportunidades de habi-
destinados à habitação, comércio e serviço. De 7.692 pública são avaliados por seu suposto valor de mer- tação de interesse social na área central do Recife, além
novas unidades habitacionais propostas, 1.824 (23,7%) Figura 28. Maquete eletrônica do calçadão na Ilha do Recife após cado, encarecendo o custo final da unidade e incenti- de garantir a permanência daquelas comunidades que
serão destinadas ao mercado popular. intervenções. Foto: Prefeitura do Recife vando a especulação. já se encontram na região, afinal, moradia é central.

20 Moradia é central  recife 21


Projeto “Moradia é Central —
inclusão, acesso e direito à cidade”

Coordenação
Instituto Pólis

Apoio
OXFAM GB

Parceiros Nacionais
FASE
CEARAH Periferia
HABITAT para a Humanidade
Fórum Nacional da Reforma Urbana

Parceiros em Recife
FERU — Forum Estadual de Reforma Urbana
Observatório de Políticas Públicas — PE

Apoio em Recife
Prefeitura Municipal do Recife

Publicação “Moradia é Central — Recife”

Coordenação e Organização
Margareth Matiko Uemura, Isadora Tami Lemos Tsukumo,
Natasha Mincoff Menegon, Sidney Piochi

Elaboração do texto base


Ailson Barbosa (Observatório de Políticas Públicas PE)

Colaboração
Socorro Leite (Habitat), Lívia Miranda (UFPE / FASE) Noé Sérgio e
Patrícia Antonino (Prefeitura do Recife).

Revisão
Marilia Akamine Risi

Identidade e programação visual


Imageria Estúdio

Produção de mapas
Renato Augusto Dias Machado

Fotos
Gilvan Barreto e Prefeitura do Recife

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