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Prezado Candidato,
O Instituto Vladimir Herzog (IVH) é uma entidade sem fins lucrativos, cuja missão é
trabalhar, junto à sociedade, os valores da Democracia, dos Direitos Humanos e da
Liberdade de Expressão. Criado em 2009 por amigos e familiares de Vladimir Herzog,
o IVH foi fundado para celebrar a vida de Vlado e baseia suas ações na trajetória do
jornalista, assassinado pela ditadura que dominou o Brasil entre 1964 e 1985.
Passamos hoje por um momento difícil da história política de nosso país, enquanto
convivemos com o acirramento da desigualdade, da violência e do discurso de ódio.
Por meio das eleições de outubro, o IVH acredita que a sociedade brasileira pode
transformar esta complexa conjuntura em um importante momento de pactuação
sobre as responsabilidades e os rumos que queremos para o Brasil nos próximos
anos. Neste sentido, é fundamental que possamos conhecer as propostas de país de
todos os candidatos.
Esperamos contar com sua inestimada adesão para discutirmos temas e propostas
tão caras ao futuro de nosso país.
Atenciosamente,
LEI DE ANISTIA
Promulgada em 1979, a Lei de Anistia foi importante para a redemocratização, mas
segue sendo uma das principais responsáveis pela impunidade e pela permanência
do legado autoritário no Brasil. Na sua opinião, a Lei de Anistia deve ser
reinterpretada pelo Supremo Tribunal Federal?
> Alvaro Dias (Podemos): Não, por uma questão de segurança jurídica. Não cabe ao
Poder Judiciário de hoje rever um acordo político feito na transição do regime militar
para a democracia. Previsibilidade é importante. Mas eventual mudança de posição
do STF deverá ser respeitada.
> Fernando Haddad (PT): A Lei de Anistia foi condição para o fim do regime militar
que ceifou vidas inocentes em nosso país. Apesar da decisão tomada pelo STF em
2010, por 6x5, casos posteriores como o da Guerrilha do Araguaia julgado pela Corte
Interamericana de Direitos Humanos em 2011 e precedentes do próprio STF
requerem que o Supremo Tribunal Federal revisite o tema e fixe a interpretação
definitiva à luz da Constituição Federal e dos Pactos Internacionais de Direitos
Humanos assinados pelo Brasil.
É por isso que temos o compromisso de encaminhar uma série de medidas para
averiguar as violações de direitos cometidas durante esse período trágico e doloroso
da história brasileira, a ditadura militar, dando continuidade aos trabalhos da
Comissão Nacional da Verdade.
Não é à toa que grande parte da sociedade não conhece a verdadeira história da
ditadura de modo que hoje, assistimos a uma exaltação desse período e de seus
agentes do terror vistos como heróis nacionais, sem nenhum tipo de repreensão das
instituições jurídicas.
Além disso, vamos abrir todos os arquivos militares do período da ditadura (1964-
1985) que se referem à estrutura de repressão e às violações de direitos para assim
poder esclarecer, finalmente, as circunstâncias e localização dos corpos dos
desaparecidos. Também será criado um banco de dados integrado com perfis
genéticos dos familiares de desaparecidos políticos da ditadura e também da
democracia, bem como de todas as vítimas de execuções sumárias.
> João Goulart Filho (PPL): Minha família foi uma das mais duramente perseguidas
pela ditadura. Com a deposição de meu pai, o presidente João Goulart, pelo golpe de
1964, tivemos que viver no exílio, impedidos de retornar ao próprio país. João
Goulart foi o único presidente do Brasil que morreu no exílio (1976). Capitaneadas,
pela primeira vez, por um setor favorável ao escancaramento do país ao capital
estrangeiro, nossas Forças Armadas haviam se desviado de sua missão histórica que
é defender o território nacional, nosso povo e nossas riquezas naturais da cobiça e
da exploração internacionais. Para isso, realizaram o expurgo de mais de sete mil
militares. Só depois da anistia, nossa família pôde retornar ao Brasil, assim como
centenas de outros brasileiros. Quem está reabrindo essa ferida é o candidato Jair
Bolsonaro e seu vice Hamilton Mourão, os quais atribuem o título de herói ao
falecido Carlos Alberto Brilhante Ustra, um assassino e torturador, em cujo período
no DOI-CODI morreram 47 pessoas. Reafirmo o que disse na sessão do Congresso
que revogou a fatídica sessão de 1º de abril de 1964 que consumou o golpe contra a
democracia e as Reformas de Base: “Sem ódios nem ressentimentos, devemos olhar
a luz que emerge desse prisma e caminhar com propostas rumo ao futuro do Brasil”.
Considero que qualquer reinterpretação desta legislação só deverá ser feita por
intermédio de consulta popular ou plebiscito.
> Marina Silva (Rede): A Lei de Anistia representou o acordo político possível no seu
momento histórico, que possibilitou uma transição negociada da ditadura para a
democracia. Esse acordo foi revisto e ampliado na Constituinte e pela Lei 10.559, de
2002. As diversas etapas do Plano Nacional de Direitos Humanos têm sido
momentos de forte debate que vem consolidando os avanços possíveis.
> Vera (PSTU): Sim, sem dúvida é preciso melhorar muito a Lei da Anistia. A
reivindicação de uma Anistia ampla, geral e irrestrita para garantir justiça plena e
reparação digna pelos prejuízos e danos causados a todos os perseguidos pela
Ditadura Militar está muito longe de ser alcançada. A Lei de 1979 foi uma importante
conquista, mas não fez justiça para todos.
> João Goulart Filho (PPL): O jornalista Vladimir Herzog foi covardemente
assassinado, em 1975, nas dependências de um órgão subordinado ao Exército, o
famigerado DOI-CODI, em São Paulo. Recentemente, a Corte Interamericana de
Direitos Humanos, órgão da OEA, condenou o Brasil por não apurar esse brutal
assassinato, o que levou o Ministério Público Federal de São Paulo a reabrir as
investigações sobre o caso. A CIDH o considerou como crime de lesa-humanidade,
portanto, imprescritível. Considero que não se pode deixar de apurar crimes de lesa-
humanidade. Um povo tem direito à própria memória e à verdade.
> Marina Silva (Rede): Como diz o ex-Ministro do Supremo, Ayres Brito, não há saída
fora da Constituição. Portanto, meu governo irá sempre defender e garantir todas as
prerrogativas do Estado de Direito. O Ministério Público terá plena autonomia de
ação e o Executivo estará a serviço do respeito à ordem democrática.
Recentemente o Estado brasileiro reconheceu as circunstâncias da morte do
diplomata José Jobim. Sequestro, tortura e morte durante o período militar passam
a constar no atestado de óbito, como expressão da verdade sobre um período regido
por leis de exceção. A Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos
(CEMDP) expediu novo atestado e a família resgatou a verdade sobre a morte do
diplomata, bem como os fatos reais de sua biografia. Meu governo, havendo
possibilidade constitucional, apoiará todos os procedimentos necessários para
observar esse direito da vítima e de seus familiares.
> Vera (PSTU): Sim, atuarei com muita firmeza na apuração de todos os crimes
cometidos pela ditadura militar para punir os responsáveis, os torturadores (muitos
estão vivos e vivem impunes) e as empresas que financiaram e colaboraram com o
aparato repressivo tais como Volkswagen, Cia Docas do Porto de Santos, GM,
Embraer, Petrobrás e muitas outras.
Entre nossas prioridades, está criar uma nova comissão da verdade que apure os
crimes do Estado cometidos nas últimas décadas, após o fim da ditadura civil-militar,
investigando a atuação dos órgãos repressivas nas favelas, no campo, contra a
população negra, pobre, indígena. Assim, vamos investigar os crimes de maio de
2006, o massacre do Carandiru, entre outros.
> João Goulart Filho (PPL): A Comissão Nacional da Verdade, constituída pelo
governo brasileiro para investigar as violações aos direitos humanos praticadas no
Brasil, particularmente durante o período da ditadura, concluiu seu relatório final
em dezembro de 2014. Apresentou ao final 29 recomendações, com medidas
institucionais, constitucionais e legais. Dentre elas, considero prioritária a proposta
de revogação da Lei de Segurança Nacional. A primeira LSN do período ditatorial,
corporificada nos decretos-lei 314, de 1967, e 898, de 1969, erigia em legislação a
chamada Doutrina de Segurança Nacional, que havia se transformado em
fundamento do Estado durante a ditadura de 1964. Essa “doutrina”, nascida na
Escola de West Point dos Estados Unidos, era fruto da política de “guerra fria”
patrocinada por aquele pais, que dividia o mundo em dois blocos – um liderado pela
URSS e outro pelos EUA - e elegia como “inimigo interno” todos aqueles que lutavam
contra a subordinação do Brasil à potência estadunidense. Essa LSN foi revogada em
dezembro de 1978, no contexto da política de abertura política, e substituída pela lei
de no. 6.620/78. Esta, por sua vez, foi substituída pela atual LSN, sob no. 7.170, de
dezembro de 1983. Apesar das mudanças ocorridas, essa nova LSN mantém
aspectos da lei original, ao criminalizar a atuação dos movimentos sociais. Sou
adepto da doutrina de que o papel das Forças Armadas não é reprimir seu próprio
povo, mas defender o território nacional, nosso povo e nossas riquezas naturais da
cobiça e da exploração internacionais. Por isso, a LSN 7.170 deve ser revogada e
substituída por uma legislação que incorpore essa doutrina e fortaleça a
independência, a democracia e a justiça social no país.
SISTEMA ONU
O Brasil aprovou a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) e ratificou os
Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura (1985). Seu governo
pretende seguir inserido no sistema internacional de direitos humanos, cumprindo
suas obrigações perante à comunidade internacional?
> Alvaro Dias (Podemos): Sim, é importante para o Brasil estar em harmonia com a
comunidade internacional e mostrar aos seus pares que respeita os direitos
humanos.
> Fernando Haddad (PT): Sim. O surgimento dos mecanismos de proteção aos
direitos humanos em todo o mundo aumentou de maneira considerável a proteção
do ser humano. Não podemos admitir retrocessos. No governo Haddad, o Brasil
continuará fazendo parte dos Sistema Internacional e Regional de Direitos Humanos,
cumprindo as suas obrigações perante a comunidade internacional.
> Geraldo Alckmin (PSDB): Não há razão para não seguir apoiando o fortalecimento
dos mecanismos internacionais e internos de proteção aos direitos humanos,
fundamentais e indispensáveis para a construção de uma sociedade
verdadeiramente justa e solidária. O Brasil é signatário e deve ser apoiador. Tome o
exemplo da Venezuela, a importância da relação diplomática e a observação externa
do respeito aos direitos humanos. O Brasil tem também compromisso com todos os
Países e povos irmãos.
> Guilherme Boulos (PSOL): Temos como compromisso central em nosso governo o
respeito aos direitos humanos e sociais. Vemos com muita preocupação o retrocesso
de determinados setores políticos brasileiros em negar as leis e convenções
internacionais, insinuando, inclusive, a retirada do Brasil no sistema internacional.
Nossa política internacional não pode ficar restrita a apenas questões comerciais e
institucionais e oscilar na defesa dos direitos humanos. Esse princípio, articulado ao
de solidariedade entre os povos, serão os pilares de nossa atuação. Vamos assumir
um papel de liderança nas discussões multilaterais com uma agenda pautada em
temas como democratização das instituições internacionais, meio ambiente,
habitação, regimes justos de comércio e investimento.
> João Goulart Filho (PPL): A Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada
pela ONU em 1948, é uma conquista fundamental da Humanidade. Proclama em seu
preâmbulo, dentre outros princípios, “que o desconhecimento e o desprezo dos
direitos do Homem conduziram a atos de barbárie que revoltam a consciência da
Humanidade”. Na nossa região, seus princípios foram consagrados na Declaração
Americana dos Direitos e Deveres do Homem, da OEA. Esta, por sua vez, aprovou em
1985 a Convenção Interamericana para prevenir e Punir a Tortura, que, em seu
preâmbulo, reafirma “que todo ato de tortura ou outros tratamentos ou penas
cruéis, desumanos ou degradantes constituem uma ofensa à dignidade humana (...)
e são violatórios aos direitos humanos e liberdades fundamentais proclamados na
Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem e na Declaração Universal
dos Direitos do Homem”. O meu governo criará e porá em prática todos os
instrumentos institucionais e legais para evitar violações aos direitos da pessoa
humana, não apenas em função de nossa inserção no sistema internacional de
direitos humanos subscrito pelo Brasil, mas, sobretudo, por nosso profundo
compromisso com o desenvolvimento mais amplo do povo brasileiro.
> Marina Silva (Rede): Sem dúvida nenhuma. A defesa dos direitos humanos sempre
foi um pilar não apenas da nossa política externa, mas também da atuação do
Estado brasileiro desde a redemocratização. Infelizmente esse pressuposto foi
relativizado em governos recentes. O Brasil precisa recuperar seu protagonismo na
busca de uma governança internacional em diversas dimensões, como ambiental,
econômica e principalmente em direitos humanos.
> Vera (PSTU): É preciso ir além da Declaração Universal dos Direitos Humanos
(1948) e da ratificação da Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura
(1985). A ONU tem sido omissa e conivente com violações dos direitos humanos em
todo o mundo exatamente porque foi criada para atender os interesses das grandes
potências imperialistas. A defesa dos direitos humanos e de condições dignas de
sobrevivência se contrapõe aos interesses do capital e dos lucros, criando
contradição insuperável e conflitos onde o papel da ONU é o daquele hipócrita
administrador de conflitos que sempre pende para o lado dos poderosos capitalistas.
A defesa consequente de leis de direitos humanos e que reafirmem severamente a
punição a tortura prescinde da exigência de extinção da própria ONU.
Todas essas medidas vão ao encontro das normativas e tratados da ONU assinados
pelo Brasil. Nosso governo tem o compromisso de implementar as recomendações
dos relatores dessa instituição, que estão constantemente fazendo avaliações e
propostas de políticas públicas para a promoção dos direitos humanos e proteção de
seus defensores. Decisão da ONU não se discute, se cumpre.
> João Goulart Filho (PPL): A liberdade de expressão é um requisito fundamental dos
seres humanos para exercerem sua dignidade e sua melhor convivência entre si. Em
todas as suas formas e manifestações, trata-se de um direito fundamental e
inalienável, inerente a todas as pessoas. É um dos fundamentos da democracia. Só
com liberdade de expressão o povo pode construir seu próprio destino. Essa
liberdade é ameaçada quando se instaura no país um cartel da mídia para impor sua
“verdade” ao conjunto da sociedade, abafando a liberdade de expressão popular. É
também ameaçada quando comunicadores e defensores dos direitos humanos são
ameaçados ou mortos no exercício do labor de investigar e informar. Meu governo
se compromete a democratizar os meios de comunicação de massa e a envidar
todos os esforços para evitar novas mortes e punir os responsáveis por crimes contra
comunicadores e defensores dos direitos humanos.