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MAIO/2015
1
SUMÁRIO
1. Apresentação .................................................................................................. 5
2. Introdução ....................................................................................................... 7
2.1. Determinantes da Tarifa de Energia Elétrica .................................................. 7
2.1.1. Características técnico-econômicas dos sistemas elétricos .................. 8
2.1.2. Políticas públicas com relação ao setor elétrico................................... 10
2.2. Tarifas de energia elétrica no Brasil e no mundo: o que comparar? ......... 11
2.2.1. Metodologia .............................................................................................. 12
3. Características principais dos países selecionados ................................ 18
4. Comparação internacional das tarifas de energia elétrica: tarifas
residenciais e tarifas comerciais ....................................................................... 40
4.1. Comparação das tarifas residenciais .............................................................. 40
4.2. Repartição dos consumidores residenciais ............................................... 40
4.2.1. Comparação geral .................................................................................... 42
4.2.2. Estudo da composição da tarifa residencial ........................................ 48
4.3. Comparação das tarifas industriais ................................................................ 53
4.3.1. Comparação geral .................................................................................... 53
4.3.2. Estudo da composição da tarifa industrial .......................................... 58
5. Causas das diferenças entre tarifas entre grupos de países .................. 62
5.1. BRICS .................................................................................................................. 62
5.1.1. Rússia: abundância de recursos ............................................................. 65
5.1.2. África do Sul: o papel do carvão e do monopólio estatal
verticalmente integrado ...................................................................................... 71
5.1.3. Índia: participação estatal e tarifas subsidiadas .................................. 77
5.1.4. A política energética da China e dependência do carvão .................. 82
5.2. Os países da América Latina ........................................................................... 86
5.2.1. Argentina: tarifa congelada e subsídios ............................................... 88
5.2.2. México: monopólio verticalmente integrado e estatal ....................... 93
5.2.3. Custo da rede elevados e subsídios na Colômbia ............................... 96
5.2.4. Importação de combustíveis para geração no Chile ........................... 99
5.3. Os países hídricos ........................................................................................... 103
5.3.1. O baixo custo da geração no Québec .................................................. 105
5.3.2. A Noruega e o mercado Nord Pool Spot .............................................. 109
5.3.3. A influência da hidrologia no mercado de energia na Colômbia ... 114
5.4. Países da OCDE .............................................................................................. 121
2
5.4.1. Incentivo à inserção de fontes renováveis na matriz elétrica dos
países da União Europeia. ................................................................................ 124
5.4.2. O efeito do gás de xisto nos Estados Unidos ..................................... 131
5.4.3. Desligamento das usinas nucleares no Japão. ................................... 137
5.5. O Caso do Brasil .............................................................................................. 140
5.5.1. BRICS: Políticas públicas para o setor elétrico e liberalização do
setor elétrico ....................................................................................................... 140
5.5.2. O Brasil e os países de América Latina ............................................... 154
5.5.3. O Brasil em relação a outros países hídricos ..................................... 165
6. Considerações finais ................................................................................. 172
6.1. Determinantes das tarifas .............................................................................. 172
6.1.1. Os custos da indústria de energia elétrica ......................................... 172
6.1.2. Políticas públicas e tarifas de energia elétrica ................................... 173
6.2. As tarifas brasileiras em relação às de outros países ................................. 175
6.3. Reflexões .......................................................................................................... 178
7. Referências bibliográficas ........................................................................ 180
Anexo I: Metodologia de comparação das bases de dados ......................... 200
1. Apresentação da formatação das bases de dados ......................................... 202
1.1. Agência Internacional de Energia (IEA) .................................................. 202
1.2. EUROSTAT.................................................................................................. 204
1.3. Comissão de Integração Energética e Regional (CIER) ......................... 205
1.4. US Energy Information Administration (EIA) ....................................... 209
1.5. Hydro Quebec ............................................................................................. 210
1.6. Eskom ........................................................................................................... 211
1.7. Korea Energy Economics Institute (KEEI) .............................................. 212
1.8. Planning Commission of India ................................................................. 212
1.9. The Lantau Group ...................................................................................... 213
1.10. ANEEL ....................................................................................................... 213
2. Aplicação da Metodologia do Projeto às Bases de Dados ........................... 214
2.1 Taxas de câmbio e taxas de inflação ................................................... 214
2.2. Cálculo da taxa de câmbio real média de vários anos .......................... 215
1.11. Ajuste da taxa de câmbio para os países do CIER ............................... 217
3. Ajuste de Dados ................................................................................................. 218
3.1. Chile .............................................................................................................. 218
3.2. Colômbia ...................................................................................................... 218
3.3. Japão ............................................................................................................. 219
3.4. EUA .............................................................................................................. 219
3.5. África do Sul ................................................................................................ 219
3.6. Coreia do Sul ............................................................................................... 220
3.7. China ............................................................................................................ 220
3.8. Índia .............................................................................................................. 220
3
3.9. Rússia ........................................................................................................... 220
3.10. Brasil ........................................................................................................... 220
Anexo II: Influência da taxa de câmbio ......................................................... 222
1. Comparação das tarifas residenciais com a Paridade de Poder de
Compra .................................................................................................................... 223
2. Comparação das tarifas industriais ................................................................. 226
Anexo III: Comparação Nacional das Tarifas de Energia Elétrica para
o ano de 2014 ...................................................................................................... 229
1. Comparação das Tarifas Residenciais B1 em 2014 ........................................ 229
2. Estudo dos componentes das Tarifas Residenciais B1 ................................. 231
Anexo IV: Comparação Internacional das Tarifas de Energia Elétrica
para o ano de 2014 ............................................................................................. 235
1. Comparação das Tarifas Residenciais............................................................. 236
2. Comparação das Tarifas Industriais ............................................................... 238
4
1. Apresentação
5
estrutura tarifária tais como: composição da demanda, da matriz elétrica e a
extensão das redes.
No quarto capítulo realiza-se a comparação de tarifas residências e industriais
entre os países, aplicando a metodologia descrita no segundo capítulo. Nesta
parte é apresentado um ranking da tarifa residencial e industrial, e ainda as
fontes das informações, a composição destas tarifas segundo o custo de geração,
rede e os impostos e encargos aplicados.
O quinto capítulo analisa as causas das diferenças tarifárias identificadas no
capítulo quatro. Para dar consistência analítica, foi considerado relevante
dividir os países em quatro grupos: (i) BRICS, (ii) países da América Latina, (iii)
países hídricos e (iv) países da OCDE. O Brasil faz parte dos primeiros três
conjuntos de países, porém o caso brasileiro é estudado de forma separada ao
final do capítulo.
Por fim, o sexto capítulo apresenta as principais conclusões do projeto e reúne
algumas reflexões decorrentes do estudo comparativo da formação das tarifas
internacionais.
6
2. Introdução
7
devam convergir. Os custos da cadeia de produção da eletricidade não são os
mesmos nos diversos países e não há mecanismos econômicos que façam com
que vantagens de custos de um país sejam transferidas para os demais.
A eletricidade é um produto que só pode ser comercializado localmente, em
uma dada rede elétrica. Por não poder ser estocada, a eletricidade precisa ser
produzida e transportada simultaneamente ao consumo em tempo real. Devido
a essas características físicas da eletricidade, o preço no atacado também tem
necessariamente um caráter local: o mercado para a eletricidade está delimitado
pela rede de transmissão e distribuição, que conecta produtores e
consumidores. De uma forma geral, os países possuem um ou mais sistemas
interconectados e em alguns casos há interconexões que ligam alguns países,
viabilizando mercados de energia regionais. Mas o comércio da eletricidade não
é tecnicamente possível a nível global e, por isso, não há porque os preços no
atacado convergirem internacionalmente.
O custo das redes, isto é, dos sistemas de transmissão e distribuição, também
têm caráter local. E também neste segmento produtivo, não há porque os custos
de redes serem semelhantes a nível internacional, uma vez que eles refletem e
dependem de características técnicas e econômicas de cada sistema.
Na busca de uma metodologia para análise comparativa pode-se identificar
dois conjuntos de fatores que determinam as diferenças entre tarifas de energia
elétrica em diversos países:
Características técnico-econômicas de cada sistema elétrico;
Políticas públicas relacionadas ao setor elétrico.
De forma sintética, são analisados estes dois conjuntos de variáveis a seguir.
Fatores de Produção
Os principais fatores de produção envolvidos na geração, transmissão e
distribuição de energia elétrica são elencados abaixo.
8
Capital
O setor elétrico tem como uma de suas principais características econômicas a
de ser capital intensivo. Mesmo com a possibilidade de movimentação dos
fluxos de capital entre os países, fatores institucionais e condicionantes de oferta
e demanda, resultam em custos de capital diferentes (inflação, risco país, risco
cambial et cet.) determinando um diferencial estrutural dos investimentos no
setor em relação aos países desenvolvidos.
Trabalho
Representa uma proporção pequena dos custos da indústria de energia elétrica.
Mesmo tendo posição secundária, seu valor pode ser considerado nos custos da
indústria de energia elétrica, observando-se que a mão-de-obra especializada
detém elevado conteúdo de capital humano.
Características do Mercado
9
pelo Custo do Serviço; “Price Cap”; “Revenue Cap”; entre outras), sendo ainda
contempladas as exigências para exploração do potencial de produção, que
rebatem diretamente nos custos de produção.
Políticas sociais
As políticas sociais que impactam diretamente a definição do nível tarifário em
cada país pode ser resumida pela seguinte agenda:
• Universalização do atendimento;
• Subsídio aos consumidores de baixa renda e a outros programas
de governo;
• Compensações por danos socioambientais;
• Execução de melhorias nos municípios e regiões de influência das
grandes obras de geração.
Política ambiental
A política ambiental também condiciona de forma importante a tarifa de
energia elétrica. As restrições ambientais podem elevar os custos dos projetos,
particularmente no que se refere a:
Política tributária
É necessário explicitar que o Setor Elétrico é um alvo “sedutor” e “tentador”
para as Finanças Públicas dado que o aumento da receita por parte do Estado, é
muito simples de ser aplicada, fácil de ser fiscalizar e apresenta elevado grau de
cobertura econômica. Porém, enquanto alguns países se aproveitam deste fato
para tributar fortemente o setor e incrementar a arrecadação fiscal, outros
10
aplicam alíquotas baixas à atividade, tornando as tarifas relativamente mais
baratas.
11
Fatores sociais também influenciam a formação das tarifas pela capacidade ou
não da sociedade pagar pelos serviços de eletricidade, requerendo subsídios ou
em alguns casos incentivando conexões ilegais que oneram os consumidores
regulares. A taxa de câmbio, tema que será examinado na seção subsequente,
também afeta as tarifas finais.
Aspectos técnicos como qualidade requerida, redes subterrâneas, linhas com
grandes extensões rurais, perdas técnicas, perdas comerciais e grandes
distancias entre a geração e os centros de consumo também afetam custos e,
consequentemente, tarifas, dificultando sobremaneira sua comparação.
Para complicar ainda mais os processos de comparação há que se referir ao
momento da comparação, pois a periodicidade de reajuste também pode ser
bastante diferente sendo que em muitos casos existem tarifas atreladas a cestas
de combustíveis com componentes variáveis e outros fixos.
2.2.1. Metodologia
Foram realizadas diferentes comparações na pesquisa vinculada ao Programa
de P&D da Aneel, focando-se nos componentes das tarifas (custos de geração,
de redes, de comercialização), distinguindo as classes de consumidores, a
incidência de encargos e impostos, além da composição tarifária final.
O estudo utilizou uma amostra de 26 países e/ou estados1. A finalidade não é
apenas comparar a tarifa final de energia elétrica, mas quando possível,
comparar os componentes da tarifa. A proposta metodológica da comparação
internacional de tarifas de energia elétrica é detalhada nos próximos
parágrafos2.
1África do Sul, Alemanha, Argentina, Brasil, Califórnia, Chile, China, Colômbia, Coreia do Sul,
Espanha, Finlândia, França, Illinois, Índia, Itália, Japão, México, Noruega, Nova York, Portugal,
Québec, Reino Unido, República Checa, Rússia, Suécia e Texas.
2 A metodologia é explicada em detalhes no Anexo I.
12
existentes à época da finalização deste livro, para a tarifa brasileira em
2015;
ii. Nível de Detalhamento das Tarifas: as tarifas finais de energia elétrica são
segregadas por custos de geração, rede (transmissão e distribuição) e
impostos e encargos. No caso dos consumidores industriais, foi escolhido
divulgar os impostos e encargos não recuperáveis3;
iii. Nível de Desagregação das Tarifas por Países: é calculada uma tarifa média
anual por país e por classe de consumo4.
As fontes primárias das tarifas foram copiladas de dez bases de dados (ANEEL,
CIER, EIA, ESKOM, EUROSTAT, Hydro Quebec, IEA, KEEI, Planning
Commission of Índia, The Lantau Group). O detalhamento das informações
disponíveis e composição de cada base de dados, além dos ajustes realizados
sobre os valores coletados, estão disponíveis no Anexo I.
Critérios de conversão
Uma dificuldade para fazer uma comparação de preços internacionais, é que
por eles serem expressos em moeda local, impede uma comparação direta entre
os valores. É possível utilizar a taxa de câmbio para fazer as comparações,
porém, dada a sua volatilidade, frequentemente os resultados são erráticos, com
valorizações ou desvalorizações relativas expressivas entre um ano e outro.
Uma das alternativas para contornar o problema da volatilidade das taxas de
câmbio é utilizar o câmbio por Paridade de Poder de Compra (ou PPC). Estudos
econômicos indicam que, embora PPC não se verifique no curto prazo, no longo
prazo a taxa de câmbio dos diversos países tenderia a se ajustar para um nível
em que os preços dos bens convergissem a um preço de equilíbrio (Rogoff,
1996; Taylor e Taylor, 2004).
Porém, a existência de bens não-comercializáveis significa que, mesmo no longo
prazo, diferenças de preços entre uma classe de bens e serviços podem persistir
entre países. Se estes bens e serviços não-comercializáveis forem mais baratos
em um país do que em outro, a taxa de conversão calculada pela PPC poderá
ser persistentemente mais valorizada que a taxa de câmbio verificada.
Assim, diferenças entre a taxa de câmbio média no longo prazo e a taxa de
câmbio estimada pelo PPC podem ser permanentes. Uma constatação empírica
é que bens e serviços não-comercializáveis tendem a ser mais baratos em países
em desenvolvimento porque a mão-de-obra é mais abundante e,
3O ajuste dos dados para elaborar o detalhamento das tarifas residenciais e industriais é
detalhado no Anexo I.
4 No caso dos dados do CIER e da EUROSTAT, o cálculo da tarifa média por tipo de
consumidor é detalhado no Anexo I.
13
consequentemente, os salários são relativamente menores (alternativamente
poder-se-ia dizer que a produtividade da mão-de-obra nos países em
desenvolvimento tende a ser menor e, consequentemente, os salários tendem a
ser mais baixos)5. Como consequência, a taxa de conversão PPC acaba sendo
sistematicamente superior (mais valorizada) à taxa de câmbio verificada nos
países em desenvolvimento6. No Anexo II: Influência da taxa de câmbio, são
feitas várias comparações das tarifas de um conjunto de países utilizando várias
alternativas de taxa de câmbio. Observa-se claramente que a comparação é
distorcida de forma sistemática quando se utiliza o PPC: a eletricidade parece
ser sistematicamente mais cara nos países com baixa renda per capita e
sistematicamente mais barata em países com alta renda per capita (ver Tabela 38,
no referido Anexo).
O uso da taxa de conversão PPC para comparar preços de energia elétrica faz,
portanto, pouco sentido. Para uma empresa multinacional que queira comparar
os preços de energia elétrica em vários países para decidir onde instalar a sua
próxima fábrica, o que importa é o preço da energia elétrica dado pela taxa de
câmbio no longo prazo e não pela PPC. Para o consumidor o que importa é
saber se as empresas fornecedoras de energia no seu país são eficientes e se as
políticas públicas que oneram ou reduzem as tarifas são justificáveis. Caso os
custos dos insumos, dos tributos, as políticas sociais e ambientais e
características do mercado sejam próximos nos países comparados, pode-se
fazer uma comparação das tarifas os preços pelo câmbio no longo prazo para
comparar a competitividade (eficiência) de suas empresas de energia elétrica.
Entretanto, os preços convertidos em PPC não são úteis para estas comparações,
pois são afetados pelos preços dos bens não-comercializáveis, e na prática não
representam uma tendência para a taxa de câmbio.
Se o objetivo é comparar o peso dos custos de energia elétrica no orçamento dos
consumidores em cada país, entende-se que a medida mais apropriada seria
comparar os gastos em energia dos consumidores com relação ao salário médio
dos consumidores. Este tipo de comparação, no entanto, refletiria mais as
diferenças decorrentes da variação da renda nos diversos países do que a
diferença dos preços de energia elétrica entre eles. A comparação pela PPC se
aproxima desta comparação, na medida em que tende a produzir uma
estimativa valorizada do câmbio dos países com renda per capita menor, mas é
menos precisa do que considerar a proporção da renda das famílias gasta em
energia elétrica. De qualquer forma, a constatação de que um país gasta uma
proporção maior de sua renda em energia elétrica do que outro indicaria
14
principalmente que este país tem um poder aquisitivo menor do que o outro e,
portanto, é um dado de utilidade duvidosa.
Considera-se, portanto, a taxa de câmbio real verificada em um período longo
como a taxa de conversão mais adequada. A taxa de cambio corrente não foi
utilizada por ser excessivamente volátil. Por outro lado, a taxa de câmbio média
de um período também pode apresentar distorções, na medida em que as taxas
de inflação das diferentes moedas são diferentes. Para mitigar este problema,
optou-se nesta pesquisa por utilizar a taxa de câmbio real média de dez anos,
ou seja, descontando sempre a inflação de todos os países para apurar a taxa de
câmbio.
A escolha de um intervalo temporal de dez anos para cálculo da taxa de câmbio
real média foi feita para mitigar possíveis distorções resultantes da crise
econômica mundial iniciada em 2008. A crise provocou movimentos bastante
bruscos nas cotações de várias moedas que na sequência foram em muitos casos
revertidos, de tal forma que as taxas câmbio de 2013 muitas vezes se distanciam
bem mais da taxa de câmbio real média dos cinco anos anteriores do que da
taxa de câmbio real média calculada em uma janela de dez anos. Por isso, todos
dados processados e sistematizados pela pesquisa se baseiam na taxa de câmbio
real dos últimos 10 anos de cada país considerado.
15
O último passo é o cálculo da taxa de câmbio média de vários anos, que é a
média simples das taxas de câmbio ajustadas ao diferencial de inflações
expressas em preços de 2013. Como a taxa de câmbio real média de 10 anos se
refere ao nível dos preços de 2013, para podermos aplicar a taxa real média de
câmbio aos preços de energia é preciso ajustar os preços nominais da energia
para o mesmo nível de preços da taxa de câmbio real média, ou seja, trazê-los
para o ano base 2013. Portanto, a tarifa final de energia elétrica calculada segue
a seguinte equação:
𝑇𝑎𝑟𝑖𝑓𝑎_𝑛𝑜𝑚𝑖𝑛𝑎𝑙𝑛𝑝 1
𝑇𝑎𝑟𝑖𝑓𝑎_𝑟𝑒𝑎𝑙𝑛𝑝 = ∙
𝑃𝑛,2013 𝑇𝐶𝑅𝑛𝑝
Onde:
𝑇𝑎𝑟𝑖𝑓𝑎_𝑟𝑒𝑎𝑙𝑛𝑝 é a tarifa de energia elétrica do país p para o ano n expressa em
preços de 2013;
𝑇𝑎𝑟𝑖𝑓𝑎_𝑛𝑜𝑚𝑖𝑛𝑎𝑙𝑛𝑝 é a tarifa de energia elétrica nominal do país p para o ano
n, em moeda nacional/kWh;
𝑃𝑛,2013 é o índice de preços ao consumidor do país p para o ano n, com base
2013;
𝑇𝐶𝑅𝑛𝑝 é a taxa de câmbio real entre a moeda país p e a moeda dos EUA para
o ano n.
16
Figura 1: Elaboração das comparações de tarifas de energia elétrica
17
3. Características principais dos países selecionados
18
Figura 2: Mapa dos países da pesquisa segundo o consumo de energia elétrica
per capita 2011
19
Figura 3: Consumo de energia elétrica per capita em 2012 (MWh/hab.)
25,0
21,7
20,7
20,0
14,9
15,0 14,0
MWh/capita
27 X 13,4
11,2
10,4
10,0
7,7
7,3
6,5 6,6 6,6 6,8
5,4
5,0 5,0 5,1
5,0 4,4 4,4
3,5 3,5
3,0
2,5
1,9
0,8 1,1
0,0
USA-CAL
USA-NY
ARG
ZAF
CAN-QBC
USA-TEX
BRA
FRA
COL
CHL
USA-ILL
JPN
CHN
DEU
PRT
CZE
SWE
KOR
NOR
RUS
UK
MEX
ESP
ITA
FIN
IND
A Índia é o país que apresenta o menor consumo de energia elétrica per capita
da lista, com um consumo de 760 kWh/hab. em 2012, ou seja,
aproximadamente 27 vezes inferior ao consumo da Noruega (21.679 kWh/hab.
em 2012). Segundo os dados da Nordic Energy Research (2012)9, o país nórdico
é o segundo maior consumidor per capita de energia elétrica do mundo, atrás
apenas da Islândia, não tratada nesta avaliação. Além das características
econômicas, existe um fator climático que explica parcialmente o elevado
consumo de energia elétrica nos países nórdicos10.
Nota-se que os 26 países da lista apresentam uma grande heterogeneidade no
consumo de energia elétrica, pois, dentre outros aspectos, alguns países ainda
estão ampliando a cobertura elétrica nacional enquanto outros já apresentam
uma grande maturidade no uso da energia elétrica11. Assim, observa-se que os
9 Nordic Energy Research (2012) How much energy does a Nordic citizen use?
10No caso da Noruega, em 2012, a calefação e aquecimento de água eram responsáveis por 78%
do consumo doméstico de eletricidade. Norwegian Water Resources and Energy Directorate
(2012) Energy consumption 2012 - Household energy consumption.
11Em 2012, a eletrificação nacional na Índia atingiu 92% das vilas/cidades do país, ou cerca de
880 milhões de pessoas. No entanto, ainda 311 milhões de pessoas não possuíam eletricidade no
país, a maioria de regiões rurais. Dessa demanda reprimida, 200 milhões de pessoas vivem em
20
países da América Latina, a Índia e a África do Sul possuem os menores
consumos de energia elétrica per capita enquanto os países europeus nórdicos e
os países norte-americanos apresentam os maiores índices de consumo de
energia elétrica per capita do mundo.
Os países selecionados apresentam características diferentes entre si. Na Tabela
1, observa-se que os países com menor consumo de energia elétrica per capita
em geral têm PIB per capita baixo. No entanto, também se caracterizam por
terem populações grandes e um extenso território. A Índia é o país com menor
consumo de energia elétrica per capita e com menor PIB per capita e também, é
o país que tem a segunda maior população, depois da China, e o quarto em
extensão territorial. O Brasil apresenta a terceira maior extensão territorial e, no
entanto, seu consumo de energia elétrica per capita é maior apenas que a Índia,
Colômbia e México.
O país mais extenso da amostra, a Rússia, conta com o maior consumo per
capita em dos BRICS, maior ainda que o da Alemanha (6.608 kWh/hab. vs.
6.538 kWh/hab.). Sistemas ineficientes de aquecimento, preços da energia
subsidiados e o clima frio, além de uma indústria voltada para o setor
energético (que demanda mais eletricidade) são fatores que explicam o alto
consumo per capita na Rússia12. A China, apesar de ter um PIB per capita que
equivale a 54% do PIB per capita brasileiro, possui um consumo de energia per
capita maior. Isso ocorre porque a economia chinesa é mais dependente de
indústrias que a brasileira (na China, as indústrias responderam por 45,3% do
PIB em 2012, contra 26% no Brasil)13.
Da mesma forma, um caso curioso é a África do Sul que tem um consumo de
energia per capita maior do que o Brasil (4.694 kWh/hab. vs. 2.545 kWh/hab.),
porém, um PIB per capita consideravelmente menor (7.314 US$/hab. vs. 11.320
US$/hab.). Dentre as razões, citam-se a baixa tarifa elétrica na África do Sul e a
grande participação do setor industrial no consumo total de eletricidade
(59,5%), como será analisado mais adiante.
Por outro lado, observa-se que os países com maior consumo de energia elétrica
também têm os maiores PIB per capita e, em geral, populações pequenas,
excetuando o Texas, que em 2012 tinha 26 milhões de habitantes. Deste grupo
de países, a Noruega apresenta o maior consumo de energia per capita, o maior
PIB per capita e a menor população dos países da amostra.
vilas ou cidades que já possuem eletricidade. Banco Mundial (2015) Power for All: Electricity
Access Challenge in India.
12 EIA (2013) International Energy Outlook 2013 With Projections to 2040.
13 Banco Mundial (2014)-Base de dados .
21
Tabela 1: Características gerais dos países da amostra, 201214
Consumo energia
PIB per capita -2012 População - 2012
País elétrica per capita - Extensão (km²)
(US$ correntes) (milhões de pessoas)
2012 (kWh)
Índia IND 760 1.503 1.236,7 3.287.260
Colômbia COL 1.067 7.763 47,7 1.141.748
México MEX 1.935 9.818 120,8 1.964.380
Brasil BRA 2.509 11.320 198,7 8.515.770
Argentina ARG 3.047 14.680 41,1 2.780.400
China CHN 3.476 6.093 1.350,7 9.562.911
Chile CHL 3.521 15.246 17,5 756.096
África do Sul ZAF 4.358 7.314 52,3 1.219.090
Portugal PRT 4.394 20.733 10,5 92.210
Itália ITA 4.983 35.132 59,5 301.340
Reino Unido UK 4.986 41.054 63,7 243.610
Espanha ESP 5.139 28.993 46,8 505.600
Rep. Tcheca CZE 5.394 19.670 10,5 78.870
Alemanha DEU 6.538 43.932 80,4 357.170
Rússia RUS 6.608 14.091 143,2 17.098.240
França FRA 6.610 40.908 65,7 549.091
Califórnia USA-CAL 6.829 46.477 38,0 403.466
Nova York USA-NY 7.315 53.241 19,6 141.300
Japão JPN 7.745 46.679 127,6 377.960
Coreia do Sul KOR 10.351 24.454 50,0 100.150
Illinois USA-ILL 11.152 45.832 12,9 149.998
Suécia SWE 13.373 57.134 9,5 447.420
Texas USA-TEX 14.010 42.638 26,1 676.587
Finlândia FIN 14.924 47.244 5,4 338.420
Québec CAN-QBC 20.732 44.303 8,1 1.542.056
Noruega NOR 21.679 99.636 5,0 385.178
Com base na informação analisada da Tabela 1 pode-se apontar que existe uma
relação entre consumo per capita de energia elétrica e a posição do PIB per
capita do país na amostra, sendo que em geral os países com PIB per capita
elevado tendem a consumir mais energia elétrica, como se observa na Figura 4.
Mostra-se que estas duas variáveis têm uma correlação linear de 0,631.
14Com base em dados de: Banco Mundial (2014); U.S. Departament of Commerce – Bureau of
Economic Analysis (2014); Institut de la statistique – Québec (2014); Statistics Canada (2014);
U.S. Energy Information Administration (2014).
22
Figura 4: Relação entre o consumo de energia per capita e o PIB per capita
23
Tabela 2: Consumo de energia elétrica por tipo de consumidor, 201215
15Tabela elaborada com base em dados de: IEA (2014) Ministério de Minas e Energia (2014);
Eurostat (2013); Unidad de Planeación Minero Energética (2013); Secretaria de Energía de
México (2013); Secretaría de Energía de Argentina (2014); Comisión Nacional de Energia de
Chile (2013); U.S. Energy Information Administration (2014).
24
Tabela 3: Acesso à eletricidade e crescimento da população, PIB e consumo de
energia elétrica entre 2008-201216
Observa-se que, em geral, os países com baixo consumo de energia per capita e
significativa expansão econômica tendem a ter crescimento da demanda de
eletricidade maior que os países que apresentam menores taxas de crescimento
econômico, nos quais não se verificou um forte aumento da demanda elétrica,
como mostra a Figura 5 (R² = 0,8716).
16Tabela elaborada com base em dados de: Banco Mundial (2014); IEA (2014) Ministério de
Minas e Energia (2014); Eurostat (2013); Unidad de Planeación Minero Energética (2013);
Secretaria de Energía de México (2013); Secretaría de Energía de Argentina (2014); Comisión
Nacional de Energia de Chile (2013); U.S. Energy Information Administration (2014); U.S.
Departament of Commerce – Bureau of Economic Analysis (2014).
25
Figura 5: Relação crescimento econômico e crescimento da demanda de
energia elétrica
Com base nos dados da Tabela 3, destaca-se o caso dos BRICS. A Índia e a
China são os países que apresentam a maior taxa de crescimento tanto do PIB
quanto do consumo de energia elétrica. Entre 2008 e 2012, o PIB real chinês
cresceu 41,9%, enquanto o consumo de energia elétrica aumentou 45,1%; na
Índia, o consumo de energia elétrica cresceu 40,4% enquanto o PIB real
aumentou em 33%. No entanto, deve-se pontuar que, embora a taxa de
eletrificação chinesa seja acima de 99%, na Índia17, cerca de um quarto da
população ainda não tem acesso à energia elétrica, principalmente na área rural.
Além disso, enquanto a população indiana aumentou 5,3% entre 2008-2012, na
China, esse valor foi de somente 2%.
Essas características de crescimento da demanda fazem com que na Índia e na
China os parques geradores devam se expandir mais rapidamente que em
outros países a fim de suprir o consumo de energia elétrica. Dentre os BRICS os
países com menor crescimento de consumo de energia foram Rússia18 e África
do Sul, com taxas de 2% e -2,4% respectivamente. Estes países também tiveram
17 O caso da Índia é estudado com maior detalhe no ponto 5.1.3 Índia: participação estatal e
tarifas subsidiadas.
18 O caso da Rússia é estudado com maior detalhe no ponto 5.1.1 Rússia: abundância de
recursos.
26
uma baixa taxa de crescimento econômico. A queda do consumo na África do
Sul mesmo com aumento do PIB real pode ser explicada por uma crise do
abastecimento e forte repressão da demanda, a fim de evitar apagões
recorrentes19. Essa situação ocorreu por falta de investimentos em capacidade
acompanhada de um aumento da demanda por energia ao longo dos anos. No
caso brasileiro, o consumo de energia cresceu em 16,4% entre 2008 e 2012,
enquanto a economia expandiu-se em 11,2%.
Por outro lado, os cinco países com maior consumo per capita, em geral,
tiveram uma queda do consumo de energia elétrica, excetuando-se o Texas
(nesse caso representando os Estados Unidos). Como se observa na Tabela 3,
esta queda está principalmente relacionada ao fraco crescimento econômico do
período. Vale lembrar que no período analisado, de 2008 a 2012, houve uma
forte crise econômica que afetou a maioria das economias do mundo e em
particular os Estados Unidos e os países da Europa.
Assim, países como Portugal, Reino Unido, Espanha e Itália tiveram uma forte
queda do consumo de energia elétrica, consequência principalmente da queda
do PIB ocasionada pela crise econômica. Embora a evolução da economia tenha
grande influência no consumo de energia dos países, não se pode deixar de
mencionar outros fatores que também influenciam na variação do consumo.
Um deles são as políticas de eficiência energética, que procuram reduzir a
intensidade energética do PIB (utilizar menos energia por unidade de PIB). Os
países desenvolvidos de uma forma geral, e os europeus em especial, têm
políticas bastante ambiciosas de eficiência energética que incluem, no caso
destes últimos, metas de incremento de eficiência energética fixadas em
compromissos com a Comissão Europeia. Parte destas iniciativas para obtenção
de maior eficiência energética decorre de politicas relacionadas com a
preservação ambiental em especial aquelas relacionadas com as mudanças do
clima20.
Outro fator que pode levar a uma discrepância entre o incremento do consumo
de energia elétrica e da atividade econômica é a performance dos setores eletro
intensivos. Tais setores costumam ter uma participação bem maior no consumo
de eletricidade do que no PIB e por isso uma retração industrial localizada em
tais setores pode provocar uma retração desproporcionalmente alta no
consumo de eletricidade. É sabido que nos últimos anos, de forma geral, a
produção de várias indústrias eletro intensivas têm migrado dos países ricos
19Para uma explicação mais detalhada do setor elétrico da África do Sul ver o ponto 5.1.2 África
do Sul: o papel do carvão e do monopólio estatal verticalmente integrado,
20 Algumas das políticas ambientais relativas ao setor elétrico nos países da Europa,
principalmente aquelas relativas à inserção de fontes renováveis, são estudadas no ponto 5.4.1
Incentivo à inserção de fontes renováveis na matriz elétrica dos países da União Europeia.
27
para países em desenvolvimento, sobretudo para aqueles com fartos recursos
energéticos e energia barata para a indústria.
A seguir são analisados as principais características pelo lado da oferta de
energia elétrica nos 26 países (incluindo estados e províncias dos Estados
Unidos e Canadá) da amostra. Na Tabela 4 se mostra a capacidade instalada em
2012 para a produção de eletricidade assim como a composição por fonte.
Observa-se que o país com menor capacidade instalada é a Colômbia, onde o
sistema é hidrotérmico (68,1% hídrico e 31,3% térmico)21. Este país teve o
segundo menor consumo per capita de eletricidade em 2012, o que em parte
justifica a pequena capacidade instalada quando comparada com outros países.
Contudo, a Colômbia apresentou um forte crescimento do consumo de energia
elétrica no período 2008-2012 (17,6% segundo a Tabela 3) decorrente em grande
parte do crescimento econômico no período, sendo que o PIB desse país cresceu
em 17,2% entre 2008 e 2012.
Por outro lado, a China é o país com maior capacidade instalada22 (1.247,3 GW),
sendo quase dez vezes superior à capacidade brasileira (126,7GW). A
capacidade do sistema chinês responde ao forte aumento demanda, sendo que
este país apresenta a maior população absoluta do mundo (1,35 bilhão) e um
consumo de eletricidade per capita maior que o brasileiro, pelo forte caráter
industrial da demanda energética. Dentre os BRICS, o Brasil possui a maior
participação das residências no consumo final e a China a maior participação
das indústrias. Entre 2008 e 2012, a capacidade instalada da China cresceu
45,6%, passando de 806,4 GW para 1.174,3 GW. No mesmo período, a
capacidade instalada brasileira aumentou 17,6% (de 102,9 GW a 121 GW).
Por outro lado, com base na informação da Tabela 4 também se pode dividir os
países em função da fonte com maior participação na matriz elétrica. Assim,
apenas quatro países apresentam uma participação da fonte hídrica superior a
60% da sua capacidade instalada, entre o quais está o Brasil. Contudo,
destacam-se Québec, com 90,4% em capacidade hídrica, e a Noruega, com
92,8%23.
28
A geração hidrelétrica tem a característica de requerer um alto investimento e
apresentar custos afundados, mas com custos variáveis baixos ou nulos 24.
Assim este tipo de usina tem custos fixos elevados, com longos prazos de
amortização do investimento (decorrente da vida útil econômica longa) o que
reduz o seu impacto no custo da energia elétrica. Neste sentido, espera-se que
os países com uma alta participação de fontes hídricas na matriz elétrica
tendam a ter um custo de geração mais baixo. Cabe, no entanto, a ressalva que a
característica de variabilidade de produção da fonte hídrica, em decorrência do
regime hidrológico, leva à necessidade de fontes complementares, como reserva
para períodos secos.
Capacidade
Hídrica Térmica Nuclear Eólica Solar Outros
País Instalada
(%) (%) (%) (%) (%) (%)
Total (GW)
Colômbia COL 14,4 68,1 31,3 0 0 - 0,6
Finlândia FIN 16,9 18,9 63,2 16,3 1,5 0 0,1
Chile CHL 17,7 33,9 64,3 - 1,6 - 0,2
Portugal PRT 19,8 28,8 47,5 0 22,2 1 0,5
Rep. Tcheca CZE 21,6 15,7 55,1 18,5 1,5 9,2 0
Argentina ARG 30,9 35,9 60,6 3,2 0,3 0 0
Noruega NOR 32,3 92,8 4,9 0 2,2 - 0,1
Suécia SWE 37,9 43,5 22,1 24,9 9,5 0 0
Nova York USA-NY 39,5 14,4 66,8 13,4 4,1 0,1 1,2
África do Sul ZAF 41,6 4,8 90,8 4,4 0 0 0
Québec* CAN-QBC 42,5 90,4 4,2 1,6 3,8 - -
Illinois USA-ILL 45,2 0 66,2 25,6 7,8 0 0,4
México MEX 52,5 21,9 72,4 3,1 1,1 - 1,5
Califórnia USA-CAL 71,3 19,6 59,6 6,2 7,7 1,7 5,2
Coreia do Sul KOR 81,8 7,9 60,6 25,3 3 3,2
Reino Unido UK 97,3 7,4 71,5 10,2 9,1 1,8 0
Espanha ESP 107,6 19,5 46,3 6,9 21,2 6,1 0
Texas USA-TEX 109,7 0,6 83 4,6 11,1 0,1 0,6
Brasil* BRA 126,7 67,8 28,8 1,6 1,8 - -
Itália ITA 128,2 20,2 59,9 - 6,3 12,8 0,8
França FRA 131,0 19,4 22,7 48,2 5,7 3,1 0,9
Alemanha DEU 182,9 9,3 49 6,6 17,1 17,8 0,2
Índia* IND 223,3 17,7 67,4 2,1 8,3 0,8 3,7
Rússia RUS 242,0 19,8 69 10,3 - - 0,9
Japão JPN 284,0 17,2 66,5 16,3 - - -
China* CHN 1.247,3 22,4 69,1 1,2 6,1 1,2 0
* dados de 2013
29
A maioria dos países tem a sua capacidade altamente concentrada em fontes
térmicas, destacando-se o Texas com 83% da matriz térmica e a África do Sul
com 90,8%26. A geração térmica, em geral, tem um custo de investimento menor
(embora este varie bastante de acordo com o tipo de tecnologia usado27), mas
custos variáveis altos28, que são função do custo do combustível usado na
geração e da procedência deste combustível. Assim países que precisam
importar os combustíveis para geração tendem a ter custos variáveis maiores.
Neste sentido, espera-se que países com alta participação de fontes
termoelétricas na matriz e que têm dependência da importação de
combustíveis, como é o caso do Japão e dos países europeus, tenham custo de
geração maior.
Em relação à energia nuclear, a França é o país com maior participação desta
fonte na matriz (48,2%), sendo que Illinois, Suécia e Coreia do Sul também têm
mais de 20% da capacidade instalada em usinas nucleares. A geração nuclear
requer um elevado investimento, mas o custo variável é menor que nas térmicas
a gás, carvão ou óleo29. Neste sentido, espera-se que os países com uma maior
participação de geração nuclear na matriz tenham um custo relativamente
menor que os países com maior participação de outras fontes térmicas.
Com relação à fonte eólica, Portugal, Espanha e Alemanha são os países com
uma maior participação desta fonte na matriz elétrica, 22,2%, 21,2% e 17,1%
respectivamente. A fonte eólica requer investimentos altos, mas ela tem custo
variável baixo ou nulo30. Para uma maior inserção desta fonte na matriz, vários
países, principalmente de Europa, adotaram políticas de incentivo às fontes
eólicas e solares, contratando volumes relevantes de capacidade instalada a
despeito do custo relativamente mais alto desta fonte31.
Por fim, no que toca à energia solar, a Alemanha é o país com maior
participação desta fonte na matriz (17,8%). Com base na informação da EIA
(2013) a geração solar caracteriza-se por ter um custo de investimento muito
elevado, maior que o custo de investimento das outras fontes. A despeito do
26Para uma explicação mais detalhada do setor elétrico da África do Sul ver o ponto 5.1.2 África
do Sul: o papel do carvão e do monopólio estatal verticalmente integrado.
No Levelized Costs of New Electricity Generating Technologies publicado pela EIA (2013) se
27
mostra que o investimento em usinas a carvão é maior que o investimento em usinas a gás.
28Energy Information Administration (EIA, 2013) – Levelized Costs of New Electricity
Generating Technologies.
29Energy Information Administration (EIA, 2013) – Levelized Costs of New Electricity
Generating Technologies.
30Energy Information Administration (EIA, 2013) – Levelized Costs of New Electricity
Generating Technologies.
31As políticas relativas à inserção de fontes renováveis na Europa são estudadas no ponto 5.4.1
Incentivo à inserção de fontes renováveis na matriz elétrica dos países da União Europeia.
30
custo variável baixo ou nulo, o alto nível de investimentos faz com que esta
fonte ainda seja bastante cara. Isso faz com que os países que optaram por
maior participação de energia solar na matriz, tenham um custo de geração
mais alto.
Como já mencionado, o custo da geração térmica depende em grande medida
do tipo de combustível utilizado e da procedência deste. Assim, a Tabela 5
mostra a composição percentual segundo o tipo de combustível usado na
geração térmica em cada um dos países selecionados; e a Tabela 6 exibe a
procedência destes combustíveis, se são produzidos no país ou se importados.
Com base na informação da Tabela 5, observa-se que, em geral, os países
selecionados usam o gás natural como principal combustível na geração,
seguido pelo carvão. Contudo, é conveniente lembrar que o impacto do uso
destes combustíveis na tarifa depende do peso das fontes térmicas na matriz,
como já analisado e da origem do gás e do carvão.
Mais de 90% da energia térmica produzida na China, na República Tcheca, na
África do Sul e na Índia32 usam o carvão como combustível principal. Este dado
é especialmente significativo na África do Sul 33, onde 90,8% da matriz elétrica é
térmica. Contudo, a China é a maior produtora, consumidora e importadora de
carvão do mundo34. Diferentemente de outros países, em que o petróleo é a
principal fonte energética primária, na China, o carvão responde por 69% do
consumo primário, sendo que 97,6% da geração térmica é obtida a partir da
queima do carvão.
Na Noruega e na Califórnia, mais de 90% da geração térmica correspondem ao
gás natural. Porém, apenas 4,9% da matriz elétrica da Noruega é de fontes
térmicas, enquanto na Califórnia 59,6% da geração vêm de fontes térmicas. A
Rússia merece destaque no gás natural por ter a maior reserva e ser uma grande
exportadora deste combustível fóssil 35. Embora o setor termoelétrico do país
seja relativamente diversificado, o gás natural é responsável por 72,7% da
geração térmica. O potencial energético da Rússia é notável não somente no gás
natural, mas também no petróleo e na produção de carvão.
Por fim, o México e o Brasil têm uma elevada proporção de capacidade térmica
a óleo, 23,1% e 24,3%, respectivamente, sendo que no México 72,4% da matriz
32O setor elétrico da Índia é analisado no ponto 5.1.3 Índia: participação estatal e tarifas
subsidiadas
33O setor elétrico da África do Sul é analisado no ponto 5.1.2África do Sul: o papel do carvão e
do monopólio estatal verticalmente integrado
O setor elétrico chinês é abordado com maior detalhe no ponto 5.1.4 A política energética da
34
31
elétrica é térmica36, em contraste com o Brasil, onde 28,8% da capacidade
provêm de usinas termelétricas.
Capacidade Gás
Térmica Carvão
País Instalada natural Óleo (%)
(%) (%)
Total (GW) (%)
Colômbia COL 14,4 31,3 26,8% 70,5% 2,7%
Finlândia FIN 16,9 63,2 61,6% 36,7% 1,7%
Chile CHL 17,7 64,3 57,2% 29,0% 13,8%
Portugal PRT 19,8 47,5 50,4% 41,1% 8,5%
Rep. Tcheca CZE 21,6 55,1 97,3% 2,5% 0,2%
Argentina ARG 30,9 60,6 3,8% 75,4% 20,8%
Noruega NOR 32,3 4,9 5,9% 92,6% 1,5%
Suécia SWE 37,9 22,1 45,6% 31,5% 22,9%
Nova York USA-NY 39,5 66,8 7,0% 92,1% 0,9%
África do Sul ZAF 41,6 90,8 99,9% 0,0% 0,1%
Québec* CAN-QBC 42,5 4,2 53,1% 21,3% 25,6%
Illinois USA-ILL 45,2 66,2 87,5% 12,1% 0,4%
México MEX 52,5 72,4 14,3% 62,6% 23,1%
Califórnia USA-CAL 71,3 59,6 1,1% 97,4% 1,5%
Coreia do Sul KOR 81,8 60,6 64,3% 30,1% 5,6%
Reino Unido UK 97,3 71,5 58,3% 40,5% 1,2%
Espanha ESP 107,6 46,3 38,7% 50,7% 10,6%
Texas USA-TEX 109,7 83 38,7% 60,0% 1,3%
Brasil* BRA 126,7 28,8 17,6% 58,1% 24,3%
Itália ITA 128,2 59,9 26,8% 63,9% 9,3%
França FRA 131,0 22,7 45,3% 45,6% 9,1%
Alemanha DEU 182,9 49 77,1% 20,8% 2,1%
Índia* IND 223,3 67,4 90,3% 9,4% 0,3%
Rússia RUS 242,0 69 23,4% 72,7% 3,9%
Japão JPN 284,0 66,5 34,4% 45,0% 20,6%
China* CHN 1.247,3 69,1 97,6% 2,2% 0,2%
* dados de 2013
36No ponto 5.2.2México: monopólio verticalmente integrado e estatal pode-se encontrar maior
informação sobre o setor neste país.
37Tabela elaborada com base em dados de: Eurostat (2013); EPE (2014); Ministry of Power of
India (2013); UPME (2009); XM (2010; 2012; 2013); MINMINAS (2011); IEA (2014); Comisión
Nacional de Energia de Chile (2013); CAMMESA (2008-2012); U.S. Energy Information
Administration (2014); Statistics Canada (2014); SENER (2013); KEEI (2013); U.S. Energy
Information Administration (2014); Statista (2015); Eskom (2012).
32
com que os preços dos combustíveis tenham maior volatilidade, em especial
nos países onde os preços de importação estejam atrelados a uma cesta de
combustíveis ou à cotação do combustível no mercado internacional.
A Tabela 6 mostra uma relação entre consumo e produção por tipo de
combustível, sendo que quando a relação é menor do que um o país produz
mais do que consome e, quando a relação é maior do que um, o país consome
mais do que produz e, portanto, deve importar o combustível para satisfazer
suas necessidades. É importante mencionar, primeiramente, que a relação foi
feita considerando todo o consumo energético, e não apenas aquele destinado
ao setor elétrico. Essa ressalva, no entanto, não afeta a conclusão sobre a
necessidade de importação. Nos países onde aparece N/A entende-se que o
país não possui produção desse combustível (importa integralmente).
Considerando esses comentários, observa-se que tanto a Colômbia quanto a
Noruega e a Rússia produzem mais petróleo, gás natural e carvão do que
consomem (no caso da Noruega, há uma paridade entre consumo e produção
de carvão). Embora a razão consumo/produção norueguesa seja mais baixa que
a da Rússia em petróleo e gás natural, vale mencionar que a produção russa é
muito maior em valores absolutos. Assim, em 2013, a Rússia produziu 6 vezes
mais petróleo (10,8 milhões de barris diários) e 5,5 vezes mais gás natural (21,4
trilhões de pés cúbicos) que a Noruega. Ainda analisando o caso do petróleo, o
México também produz mais do que consome. No gás natural, o Texas tem
maior produção do que consumo; no carvão, África do Sul, República Tcheca e
Illinois possuem maior produção que consumo. Não é demais relembrar que,
no caso da África do Sul, 90% da matriz é térmica, com uso quase exclusivo de
carvão.
Por outro lado, observa-se que Nova York consome muito mais petróleo do que
é capaz de produzir. O mesmo acontece para Illinois e Espanha com o gás
natural e para a Itália com o carvão. Como consequência, países que consomem
mais do que são capazes de produzir devem importar o montante necessário
para atender aos requisitos domésticos, o que provavelmente terá um impacto
nas tarifas, dependendo da quantidade de combustível importado usado para
gerar energia elétrica.
33
Tabela 6: Relação consumo/produção por tipo de combustível, 201338
38Tabela elaborada com base em dados de: U.S. Energy Information Administration (2014);
Énergie et Ressources naturelles Québec (2013).
34
km. No entanto a densidade da rede está acima da média dos países (média 1,9
km de rede por km²). Vale lembrar que a Índia é o quarto maior país em termos
de território na amostra, mas que, ainda sim, trata-se de um país densamente
povoado, devido a sua grande população. Os esforços realizados no país para a
eletrificação rural visando à inclusão social ao sistema elétrico demandaram
grande expansão das linhas de distribuição. Porém, embora existam iniciativas
para universalizar o serviço de energia elétrica na Índia, é importante lembrar
que o consumo per capita de eletricidade é o mais baixo dos países
selecionados, 760 kWh/hab, o que faz com que a intensidade de uso da rede
também seja baixa.
A extensão de redes na China está subestimada, o que acaba por aumentar a
intensidade de MWh/km de rede. Isso ocorre porque, apesar da coleta integral
da extensão das linhas de transmissão no país, os dados para a distribuição (que
correspondem a 81% dos 4.620.144 km) refletem apenas a maior empresa de
redes, a State Grid, nas voltagens de 35 kV e 10 kV. Existem voltagens mais
baixas não consideradas e haveria que somar também as redes da Southern
Power Grid. Contudo, observa-se que mesmo assim a China tem a terceira
maior intensidade de uso da rede, 893,5 MWh/km, apenas menor que Coreia
do Sul e Québec, e ainda tem a segunda maior extensão da rede, apenas menor
que a Índia. Esse resultado é consequência do alto consumo chinês, embora o
consumo per capita não seja o maior de todos os países, devido à grande
população o consumo total é 4,5 vezes maior do que o segundo país com maior
consumo de energia elétrica, o Japão (China: 4.128,1 TWh vs. Japão: 922,7 TWh).
A Rússia, o maior país do mundo em área, conta com uma extensão de redes
menor que a brasileira. Isso ocorre principalmente porque existe uma alta
concentração da população russa na porção europeia (três quartos da
população russa39) e grandes áreas da Sibéria contam com sistemas isolados de
abastecimento. Vale destacar também o caso do Brasil, que é o terceiro país com
maior extensão de redes de transmissão e distribuição, sendo também o terceiro
maior país por superfície na amostra 40. Isso faz com que a densidade da rede
seja baixa com relação aos outros países, e a intensidade esteja entre as menores,
refletindo o desafio de interconectar países de grande extensão.
Por outro lado, a Alemanha é o país com maior densidade da rede, tendo 5 km
de rede por km2 de superfície. Contudo, Alemanha não é um país com uma
grande extensão territorial, mas está entre os cinco países com maior extensão
35
de rede de distribuição e transmissão, resultando em uma intensidade abaixo
da média (409,4MWh/km).
A Coreia do Sul é dos países com menor extensão territorial da amostra, mas
tem segunda maior densidade da rede (4,7 km de rede por km 2) e a segunda
maior intensidade de uso, 1.023,4 MWh por km de rede. Isso indica que as redes
da Coreia são utilizadas eficientemente, graças principalmente ao alto consumo
per capita do país (10.351 kWh/hab.), o que barateia os custos e
consequentemente as tarifas.
Por fim, deve-se destacar o caso de Québec, que é uma província canadense
muito extensa, mas onde a grande maioria da população concentra-se nas
principais cidades do sul, onde se concentra o maior consumo de energia
elétrica. O cálculo da densidade considera o total do território de Québec e não
apenas a superfície da região sul da província. Portanto, é provável que esse
dado não esteja refletindo a realidade, como no caso da Rússia. Contudo,
observa-se que Québec tem a maior intensidade de uso, o que decorre em parte
do elevado consumo de energia elétrica da província (Québec tem o segundo
maior consumo per capita: 20.730 kWh, fato provavelmente explicado pelo
clima de frio severo) e, por outro lado, à necessidade de pouca extensão da rede
para abastecer o principal mercado, ainda que o território total seja bem maior.
36
Tabela 7: Extensão de rede de distribuição e transmissão, intensidade de uso
e densidade da rede 201241
Intensidade de uso da
Rede - Densidade da rede 2012
País rede 2012 (Consumo -
2012(km) (Km rede/superfície Km2)
MWh/Km rede)
Colômbia *** COL 608.500 83,6 0,5
Índia ** IND 8.970.112 96,8 2,7
Brasil ** BRA 3.600.620 138,4 0,4
Portugal * PRT 232.268 198,9 2,5
Finlândia ** FIN 390.100 207,1 1,2
Rep. Tcheca ** CZE 244.143 232,2 3,1
Suécia * SWE 545.000 233,6 1,2
Itália ** ITA 1.173.412 252,9 3,9
México * MEX 853.490 273,9 0,4
Alemanha * DEU 1.788.131 294,1 5,0
Argentina * ARG 399.197 303,6 0,1
França * FRA 1.419.584 305,8 2,6
Chile ** CHL 200.530 306,7 0,3
Nova York *** USA-NY 429.200 333,6 3,0
Reino Unido ** UK 862.156 368,4 3,5
Espanha * ESP 639.506 375,8 1,3
África do Sul *** ZAF 359.337 548,5 0,3
Califórnia *** USA-CAL 462.355 561,3 1,1
Japão * JPN 1.532.581 602,1 4,1
Illinois *** USA-ILL 192.800 744,3 1,3
Noruega *** NOR 139.591 779,4 0,4
Coreia do Sul * KOR 470.375 1.023,4 4,7
Québec ** CAN-QBC 148.456 1.134,3 0,1
* km rede para ano 2012
** km rede para ano 2013
*** km rede para ano 2014
41 Tabela elaborada com base em dados de: Ministry of Power of India (2013); CEA (2013);
CREG (2014); SENER (2013); IEA (2013); Ministerio de Industria, Energía y Turismo de España
(2013); IEA (2014); ConEdison (2014); Orange & Rockland (2013); Central Hudson (2013);
NYSEG (2014); National Grid (2013); REN (2014); EDP (2014); ERU (2011-2013); CNEA (vários
anos); TERNA (2013); Ameren Illinois (2014); ComEd (2014); PG&E (2014); SCE (2014); Google
Finance (2014); Statnett (2014); ERDF (2012); Svensk Energi (2012); ENEL (2011-14); Ministerio
de Industria, Energía y Turismo (2013); Finsk Enerrgiindustri (2014); Ministerio de Educación
(2010); Southern Grid (2012); State Grid (2013); KEPCO (2014); ESKOM (2014);Eurelectric (2013);
TEPCO (2014), ONS (2013), ANEEL (2014).
37
a tarifa residencial média de 2009-2013 e o indicador de qualidade. O indicador
de qualidade usado neste estudo corresponde a dados da Comissão Europeia
(2014)42 para 2011-2012, onde o valor 1 indica um serviço de má qualidade e 7
um serviço confiável de boa qualidade.
7,0
FRA
UK
CAN-QBC SWE
6,5 NOR CZEFIN
PRT DEU
ESP
USA-TEX
6,0 KOR USA-ILL USA-CAL USA-NY
JPN
ITA
Indicador qualidade
5,5
CHL
CHN
COL
5,0
BRA
MEX
4,5
RUS
4,0
ZAF
3,5 ARG
IND
3,0
- 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0 35,0 40,0
Tarifa residencial média 2009-2013 com imposto em cUS$/kWh 2
R = 0,4537
qualidade por preço Potência (qualidade por preço)
42 O documento Energy prices and cost report publicado pela Comissão Europeia(2014, p.1985)
apresenta um índice de qualidade do serviço de energia elétrica (Quality of electricity supply
globally) para uma lista de 144 países.
43As especificidades do caso do Quebec são analisadas no ponto 5.3.1 O baixo custo da geração
no Québec
44O caso do Chile é analisado com maior detalhe no ponto 5.2.4 Importação de combustíveis
para geração no Chile
38
rede considerada, do nível de perdas, da renovação dos equipamentos e dos
diversos encargos incluídos no custo do fio.
Com base nesta análise dos países, estados e província selecionados, na parte
seguinte analisam-se os resultados da comparação das tarifas de energia elétrica
realizada para estes países.
39
4. Comparação internacional das tarifas de energia
elétrica: tarifas residenciais e tarifas comerciais
40
Esses dados são necessários para elaborar a tarifa residencial dos países da
EUROSTAT e do CIER, sendo que a tarifa residencial calculada para esses
países no segundo item corresponde à média ponderada das tarifas dos
diversos estratos de consumo. Portanto, a Figura 7 detalha a repartição dos
consumidores residenciais entre os diversos estratos de consumo para os
diversos países da EUROSTAT e do CIER (seguindo a norma da EUROSTAT 45).
45No caso dos países do CIER (Argentina. Colômbia e Chile), os estratos do CIER foram
adaptados para coincidirem com os estratos da EUROSTAT.
46DA, DB, DC, DD e DE são os diferentes estratos de consumo residencial apresentados pela
Eurostat.
47Não se consideraram os dados da CIER referentes ao Brasil por que, entre 2009 e 2013, apenas
dez empresas apresentaram dados, sendo não necessariamente são as mesmas empresas que
forneceram dados todos os anos nesse período. Neste sentido, considerou-se que os dados não
eram representativos e foram excluídos.
41
maior consumo (mais de 90% dos consumidores no estrato DE), reforçando a
ideia de que este país é o segundo maior consumidor de energia elétrica per
capita do mundo dado o peso da calefação e do aquecimento de água no uso
final da eletricidade.
Por outro lado, a maioria dos consumidores residenciais da Itália tem um
consumo inferior a 2,5MWh por ano, corroborando que a Itália está entre os
países da Europa com menor consumo per capita. De fato, a repartição dos
consumidores residenciais nos países do CIER (Argentina, Chile e Colômbia) é
fortemente heterogênea, com mais de 60% dos consumidores no estrato DB e
uma grande parte dos consumidores no estrato DA. Apenas uma parte residual
dos consumidores chilenos pertence ao estrato DE, o que se aproxima do perfil
de repartição dos consumidores residenciais do Portugal e da Itália.
42
A Argentina apresenta a tarifa mais baixa dessa seleção, de 4,4 cUSD/kWh,
impostos e encargos incluídos. No entanto, sabe-se que o Governo argentino
tem se mostrado avesso a conceder reajustes nas tarifas, dificultando novos
investimentos, o que, em boa medida, resulta na baixa qualidade do serviço na
Argentina, que está à frente apenas da Índia. Com um nível de impostos e
encargos sensivelmente superior ao peso médio dos 26 países (27% da tarifa
final contra 22% na média), a primeira posição da Argentina é o resultado da
sua tarifa sem impostos, mais barata de todos os países do estudo 49. Por outro
lado, a qualidade das estatísticas oficiais sobre índices de inflação e de atividade
econômica tem sido objeto de críticas dentro e fora da Argentina. Como as
análises aqui realizadas utilizam o câmbio real médio de um período de dez
anos para fazer comparações e este, por sua vez, é ajustado pela inflação, a
subestimativa da inflação nos números oficiais pode ser responsável em parte
pelas baixas tarifas na comparação.
Por outro lado, a Alemanha possui a tarifa mais cara da lista, com uma tarifa
residencial total de 39,5 cUSD/kWh, nove vezes mais cara que a tarifa da
Argentina. Esta tarifa alemã, cerca de duas vezes acima da média dos 26 países,
se explica em grande parte pelos seus impostos e encargos, os mais caros dessa
seleção, com 49% da tarifa final e representando 19,3 cUSD/kWh em 2013,
conforme assinalado na Figura 8.
A tarifa média 2013 dos 26 países é de 16,9 cUSD/kWh, colocando esta média
entre a tarifa do estado de Nova York e do Brasil. Os impostos e encargos
médios em 2013 são de 21% e apresentam uma grande heterogeneidade entre os
países: por exemplo, os impostos para os consumidores residenciais no Texas
representam um peso de apenas 1%, enquanto os impostos e os encargos na
África do Sul representam 54% da tarifa final50.
49As causas que determinaram que a tarifa argentina seja tão baixa estão detalhadas no ponto
5.2.1Argentina: tarifa congelada e subsídios.
50O peso alto dos impostos e encargos na tarifa sul africana resulta em parte da metodologia
utilizada pela ESKOM para fazer a estimativa em 2010. Há um subsídio cruzado entre os
consumidores residenciais através do qual os que consomem mais pagam um encargo elevado
para financiar as tarifas de baixo consumo. A metodologia utilizada para calcular a composição
da tarifa sul africana será detalhada no Anexo I: Metodologia de comparação das bases de
dados deste relatório.
43
Figura 9: Peso dos impostos e encargos na tarifa residencial de 2013 em %51
44
Figura 10: Tarifa residencial final média 2009-2013 em cUSD/kWh – Preços de
201352
52Devido à limitação na disponibilidade de dados disponíveis nas diferentes bases, a média das
tarifas da África do Sul, do Chile e da Coreia divulgadas neste gráfico não inclui as tarifas de
2013.
53 Maior informação sobre a tarifa argentina encontra-se no ponto 5.2.1Argentina: tarifa
congelada e subsídios
45
para a tarifa residencial plena a fim de financiar o subsídio à tarifa de baixo
consumo54.
46
Figura 12: Tarifa residencial final em cUSD/kWh – 2009 vs 2013, preços de
2013
47
Já a tarifa residencial brasileira teve redução de 23% entre 2009 e 2013 passando
de 20,7 cUSD/kWh em 2009 para 16,1 cUSD/kWh em 2013, por conta da
Medida Provisória MP 579, que prorrogou as concessões de geradoras e
transmissoras mediante aceitação pelo concessionário de tarifas reguladas
substancialmente menores que as anteriormente praticadas, além de reduzir ou
extinguir encargos setoriais57.
57No ponto 5.5.2 O Brasil e os países de América Latina se detalham as modificações ocorridas
nos encargos e impostos que afetam o setor elétrico brasileiro.
Nenhuma informação sobre a composição tarifária residencial da Argentina, da Índia e do
58
48
A partir da Figura 13, constata-se que com a exclusão da Argentina e da Índia
da amostra por falta de dados desagregados, a tarifa da Rússia passou a ser a
mais competitiva da lista, com valor final de 5,1 cUSD/kWh para o ano de 2013.
A competitividade da tarifa do país resulta em parte da competitividade do seu
custo de geração (o segundo mais barato junto com Québec, apenas
ultrapassado pela África do Sul), mas também pelo seu custo de rede baixo
(com um custo da rede de 2 cUSD/kWh, a Rússia é a quarta colocada da lista,
depois da Coreia, da China e da África do Sul). Esses elementos se adicionam a
uma taxação baixa, em torno de 18%, totalizando somente o VAT, já que
inexiste um imposto específico para a eletricidade. As plantas geradoras e as
redes de transmissão e distribuição da Rússia são muito antigas e já estão com
grande parte de seus custos fixos amortizados59. Além disso, o país conta com
subsídios aos combustíveis termoelétricos.
A Alemanha ficou com a última posição na comparação da tarifa residencial.
Isso resulta em parte do custo elevado de geração (a Alemanha possui o sexto
maior custo de geração, com 11,7 cUSD/kWh) mas principalmente pelo custo
dos impostos e encargos na tarifa final. Como já foi apontado no precedente
item, 49% da tarifa residencial na Alemanha resulta dos impostos e encargos,
levando a um custo de 19,3 cUSD/kWh na tarifa final.
59Os motivos que levaram a um parque gerador e rede antiga na Rússia são analisados no
ponto 5.1.1 Rússia: abundância de recursos.
Nenhuma informação sobre a composição tarifária residencial da Argentina, da Índia e do
60
49
A Figura 14 ressalta o peso de cada componente na tarifa final de energia
elétrica residencial. Entre outros, destacam-se os casos da Coreia do Sul, do
Reino Unido e do Japão, cujos custos de geração representam cerca de 75% da
tarifa final. Neste contexto, o Japão e o Reino-Unido apresentam os dois maiores
custos de geração para o ano de 2013, com, respectivamente, 20,0 cUSD/kWh e
18,1 cUSD/kWh. O Japão é o maior consumidor de GNL do mundo e os altos
custos em geração decorrem de importações crescentes de combustíveis fósseis.
O país busca substituir a geração nuclear pela termoelétrica depois do acidente
de Fukushima em 201161. Já o Reino Unido, além de depender de importações
para suprir suas necessidades energéticas, com alto incentivo às renováveis em
tarifas feed-in ou obrigações de cotas verdes62.
Por outro lado, podem-se perceber custos de rede significativos na Colômbia63 e
na Califórnia64 (respectivamente 59% e 51% da tarifa final). De fato, a Colômbia
possui o segundo maior custo de rede da seleção com 9,7 cUSD/kWh, apenas
atrás do Portugal com 9,9 cUSD/kWh. O custo de rede da Colômbia está ligado
à baixa intensidade energética por quilômetro de rede. Além disso, o custo de
rede integra os custos de transmissão (cem por cento paga por consumidores),
distribuição, comercialização e perdas. No caso de Portugal, desde 2005,
quando houve um ano seco, verificou-se uma tendência à elevação de custos,
reforçada nos anos também por aumentos nos preços do petróleo e outros
recursos energéticos. Entretanto, os reajustes regulados não foram suficientes
para repassar os sucessivos aumentos de custos de geração, de forma que se
formou um déficit. Como as tarifas de acesso às redes são pagas por todos os
consumidores (livres e regulados), o déficit tarifário passou a ser recuperado no
custo da rede desde 2009, ano em que houve pesados reajustes.
Em seguida é apresentada a classificação das tarifas médias de energia elétrica
dos países selecionados para o período 2009-2013, incluindo o detalhamento
dos componentes da tarifa pagos pelos consumidores finais. Com essa visão
média dos últimos cinco anos, podem-se tirar algumas conclusões sobre a
estrutura de custos de energia elétrica em cada país, tendo uma
50
representatividade consistente da tarifa local ao longo de um período e não
mais em um ano isolado.
65As políticas de regulação de preço da China são tratadas no ponto 5.1.4 A política energética
da China e dependência do carvão
51
Figura 16: Peso médio dos componentes da tarifa residencial entre 2009 e 2013
em %
52
4.3. Comparação das tarifas industriais
66Nenhuma informação sobre a tarifária industrial da China foi encontrada; portanto, este país
não aparece nesta figura. Não foi encontrada nenhuma informação a respeito dos impostos para
a Rússia e a Coreia do Sul. As tarifas da África do Sul e do Chile correspondem às tarifas de
2012.
67 O ICMS e o PIS/Cofins são impostos recuperáveis no sentido de que uma indústria pode
descontar os montantes de impostos embutidos na compra de insumos de seus fornecedores de
seus impostos a pagar. Na Europa o IVA funciona da mesma maneira. Cabe ressaltar, para o
caso do Brasil, que embora as indústrias tenham direito ao ressarcimento do ICMS e do
PIS/Cofins, em algumas situações, sobretudo em indústrias que direcionam boa parte da
produção para a exportação, não é possível aproveitar todo o montante de créditos gerados,
tornando os impostos na prática apenas parcialmente recuperáveis. O mesmo acontece no
segmento comercial e residencial onde estes impostos representam custos.
53
O estado do Québec apresenta a tarifa industrial mais competitiva desta
seleção, 4,5 cUSD/kWh, impostos e encargos não recuperáveis incluídos. Esta
primeira posição se explica em parte pelo desempenho da tarifa sem impostos
(incluindo os custos de geração e os custos da rede, detalhados mais adiante), a
terceira mais barata desta comparação, mas também pelo fato da totalidade dos
impostos aplicados aos clientes industriais do Québec ser recuperável68.
Por outro lado, a Itália possui a tarifa mais cara da lista, 30,9 cUSD/kWh, cerca
de 7 vezes mais cara que a tarifa do Québec. Esta tarifa elevada se explica em
parte pela tarifa sem imposto, a mais cara da seleção internacional, mas
principalmente pelo peso dos impostos e encargos não recuperáveis aplicados
aos consumidores industriais de 10,4 cUSD/kWh em 2013. Assim como o Japão,
a Itália é muito dependente de importações.
A tarifa industrial média do grupo de países em 2013 é de 10,3 cUSD/kWh,
entre a tarifa da Finlândia e a da Califórnia. Os impostos e encargos não
recuperáveis médios em 2013 são de 12% e apresentam uma grande
heterogeneidade entre os países, pois são nulos para os clientes industriais do
Québec, do México, e do Chile, enquanto os impostos e os encargos não
recuperáveis são muito elevados em outros países, notadamente na Itália.
Figura 18: Peso dos impostos e encargos não recuperáveis na tarifa industrial
de 2013 em %69
68Os fatores que determinam o custo da energia no Quebec são discutidos no ponto 5.3.1 O
baixo custo da geração no Québec.
69Nenhuma informação sobre a composição tarifária industrial da Coreia foi encontrada,
portanto este país não aparece na comparação com a divisão entre tarifa sem e com impostos.
As tarifas da África do Sul, e do Chile são de 2012. No caso da China, não houve tarifa
encontrada.
54
O peso médio dos impostos e encargos não recuperáveis nessa seleção
internacional é de 12% para o ano de 2013. A Alemanha possui a maior carga de
impostos dos 25 países, com um peso relativo de 37% em 2013, seguido pela
Itália com 34%. Nessa seleção internacional, 7 países aplicam menos de 5% de
impostos e encargos não recuperáveis para seus clientes industriais. Em 2013, o
Brasil apresentou o quarto maior peso relativo de impostos e encargos não
recuperáveis, com 26% da tarifa final70.
Em seguida, é apresentada na Figura 19 a classificação das tarifas médias de
energia elétrica dos países selecionados para o período 2009-2013, incluindo a
parte dos impostos e encargos não recuperáveis pagos pelos clientes industriais.
Com essa visão média dos últimos cinco anos pode se tirar algumas conclusões
sobre a estrutura tarifária de cada país.
Mostra-se um detalhe dos impostos e encargos que incidem na tarifa brasileira no ponto 5.5 O
70
Caso do Brasil.
71 Nenhuma informação sobre a composição tarifária industrial da Coreia foi achada, portanto
este país não aparece nesta figura. As tarifas da África do Sul, e do Chile correspondem às
tarifas de 2012.
55
tinha a tarifa mais barata de 2013 e está em segunda posição no período de
2009-2013.
Por outro lado, no período de 2009-2013 a Itália possui ainda a tarifa mais cara
da lista, 29,8 cUSD/kWh, cerca de 7 vezes mais cara que a tarifa da África do
Sul. Essa tarifa elevada é explicada em parte pela tarifa sem imposto, a mais
cara da seleção internacional, mas também pelo peso dos impostos e encargos
não recuperáveis aplicados aos consumidores industriais, que representou 7,4
cUSD/kWh na média entre 2009 e 2013.
Figura 20: Peso da carga tributária média entre 2009 e 2013 em %72
56
como os 2 países com a maior redução. As tarifas apresentadas incluem os
impostos e encargos não recuperáveis.
Figura 21: Tarifa industrial final em cUSD/kWh – 2009 vs 2013, preços de 2013
De acordo com a Figura 21, o maior aumento tarifário industrial dos 25 países
foi na África do Sul, com 70% de aumento entre 2009 e 2013 (a tarifa industrial
sul africana passou de 2,9 cUSD/kWh em 2009 para 5,0 cUSD/kWh em 2013) 73.
Apesar de ter sofrido um grande aumento em 5 anos, a tarifa industrial da
África do Sul em 2013 é a segunda menor da seleção. O Japão sofreu também
um forte reajuste da sua tarifa industrial, com um aumento de 16% entre 2009 e
2013, fazendo do país asiático o terceiro mais caro da seleção internacional.
Parte deste reajuste pode ser imputado à redução da geração nuclear após o
acidente de Fukushima e ao aumento dos custos com combustíveis74.
Por outro lado, a tarifa industrial chilena se tornou mais competitiva no final do
período, reduzindo-se de 34% em 5 anos. Isso decorre do ganho de
competitividade dos custos de geração75, da rede e de comercialização.
Por sua vez, o estado de Nova York apresentou uma redução da tarifa
industrial de 31% entre 2009 e 2013, tornando o custo da energia elétrica para os
clientes industriais mais barato que na Noruega, em parte pela queda no preço
do gás no estado.
73Os motivos que levaram ao aumento tarifário de 70% na África do Sul são analisados no
ponto 5.1.2 África do Sul: o papel do carvão e do monopólio estatal verticalmente integrado.
74O caso do aumento na tarifa deste país se estuda no ponto 5.4.3 Desligamento das usinas
nucleares no Japão.
75 Ver ponto 5.2.4 Importação de combustíveis para geração no Chile.
57
4.3.2. Estudo da composição da tarifa industrial
Este item dedica-se a detalhar a composição das tarifas industriais. Os dados
das diferentes bases foram computados com informações obtidas em diversos
relatórios e publicações oficiais para entrar no detalhe da composição tarifária
dos países selecionados, ampliando a análise sobre os custos da geração, de
rede e os impostos e encargos na tarifa industrial.
As próximas figuras apresentam, a comparação detalhada das tarifas industriais
de energia elétrica abrangendo o período de 2009 até 2013. Cabe destacar que
não se tem nenhuma abertura tarifária da África do Sul, da Argentina, do
Brasil76, da Coreia do Sul, da Índia, do Japão e do México, e não se tem dados
sobre a tarifa industrial da China. Esta comparação aprofundada inicia-se com a
Figura 22, que representa a classificação das tarifas de energia elétrica para o
ano de 2013, incluindo o detalhe sobre os custos de geração, os custos da rede,
além do valor dos impostos e encargos não recuperáveis a serem pagos pelos
consumidores industriais.
58
resultado da abundância e baixo custo de gás, que leva a baixos custos de
geração, e da baixa incidência de impostos77.
Por outro lado, a Itália ficou em última posição desta lista, resultado, em parte,
do custo elevado de geração (a Itália possui o maior custo de geração da lista,
com 14,4 cUSD/kWh em 2013) mas principalmente pelo custo dos impostos e
encargos não recuperáveis na tarifa final. A tarifa italiana de 2013 apresenta o
maior nível de impostos e encargos não recuperáveis em 2013, com 10,4
cUSD/kWh, levando a uma tarifa final de 30,9 cUSD/kWh78.
77Texas é o maior produtor de gás natural dos Estados Unidos, sendo que nos últimos anos
houve um forte aumento da produção de gás de xisto que beneficiou o custo de geração
americano. Este tópico é discutido no ponto 5.4.2 O efeito do gás de xisto nos Estados Unidos.
78No ponto 5.4.1 Incentivo à inserção de fontes renováveis na matriz elétrica dos países da
União Europeia., explica-se que a carga tributária da Itália decorre em grande parte das
políticas de incentivo a inserção as renováveis na matriz elétrica.
59
Em seguida é apresentada na Figura 24 a classificação das tarifas média de
energia elétrica dos países selecionados para o período 2009-2013, incluindo o
detalhamento dos componentes da tarifa.
60
Figura 25: Peso médio dos componentes da tarifa industrial entre 2009 e 2013
em %
61
5. Causas das diferenças entre tarifas entre grupos
de países
Esta parte do livro é dedicada a uma análise das causas por detrás das
diferenças entre as tarifas entre os países estudados aprofundando mais a
análise realizada no capítulo anterior. Os países foram reunidos em quatro
grupos: os BRICS, os países da América Latina, os países com forte presença de
geração hídrica e a OCDE. O Brasil se insere nos três primeiros grupos de
países. Entretanto, optou-se por analisar o Brasil separadamente (ver a seção
5.5), fazendo as contraposições entre ele os demais BRICS, os países da América
Latina e os países hídricos em um capítulo à parte.
Ao invés de fazer uma análise exaustiva das características técnico-econômicas
e das políticas públicas relacionadas ao setor elétrico de cada país, adotou-se
uma abordagem mais sucinta, chamando atenção em cada caso para um
conjunto de características que responde pelo nível alto ou baixo da tarifa de
um determinado país com relação aos países com quem ele é comparado.
5.1. BRICS
As tarifas de energia elétrica nos BRICS são baixas para padrões internacionais
por duas razões. Por um lado, a riqueza de recursos naturais nestes países,
notadamente recursos fósseis como gás natural na Rússia e carvão na Índia,
África do Sul e China. Esta riqueza nos recursos fósseis tem permitido aos
países fornecer o setor elétrico com insumos baratos. Além disso, tanto a Rússia
quanto a China subsidiam ou controlam o preço destes recursos para o setor
elétrico.
Além disso, observa-se que nos quatro países dos BRICS analisados o Estado
tem um papel central na indústria elétrica e/ou na produção de combustíveis
para geração. O estado de certa forma controla as tarifas finais de energia
elétrica, que não necessariamente correspondem aos custos de produção. Esta
última afirmativa é particularmente verdadeira se os custos de produção forem
analisarmos com a lógica dos mercados liberalizados em que o capital investido
dever ter uma rentabilidade de mercado, mesmo quando realizado por
empresas estatais e que os insumos destinados ao mercado interno devem ter
preços compatíveis aos do mercado internacional. As estatais destes países
62
frequentemente desrespeitam esta lógica, operando com tarifas definidas fora
de uma lógica de mercado.
Os países que integram o grupo dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África
do Sul) são países que apresentam características socioeconômicas semelhantes,
dentre as quais se destaca a grande extensão territorial, população expressiva e
alto crescimento econômico. Na Tabela 8 se mostra a extensão territorial, a
população e o crescimento médio dos BRICS. Observa-se que houve uma
desaceleração do crescimento nestas economias nos primeiros anos da segunda
década do século XXI.
Crescimen
População 2013 Crescimento
Superfície to médio
(Milhões de médio PIB real
(Km^2) PIB real
pessoas) década 2000
2011-2013
Brasil 8.515.770 200,4 3,7 2,1
Rúsia 17.098.240 143,5 5,4 3,0
Índia 3.287.260 1.252,1 7,2 6,2
China 9.562.911 1.357,4 10,3 8,2
África do Sul 1.219.090 53,2 3,5 2,5
80 BBC News (2014). Is China´s economy really the largest in the world.
63
A Figura 26 ilustra a tarifa residencial real paga pelos consumidores dos BRICS
em 2013, excetuando Brasil81. Observa-se que a tarifa russa era a mais
competitiva, 6,1 cUSD/kWh, embora não seja substancialmente menor que a
tarifa na Índia ou na China. A Rússia possui recursos naturais que permitem
classificá-la como uma grande potência energética mundial, além de ter um
setor elétrico com ativos que datam predominantemente da era soviética,
permitindo uma tarifa diferenciada, conforme será analisado mais adiante.
Quando se avalia o papel do Estado na produção, chama atenção o caso da
China, que tem tarifas de energia elétrica muito competitivas em função das
políticas públicas, que determinam basicamente uma tarifa definida top-down,
com a rentabilidade das empresas estatais, a captação de empréstimos com
garantia soberana e o aporte de recursos fiscais funcionando como as variáveis
de ajuste.
Em relação à África do Sul a Figura 26 e Figura 2782 mostram que, por um lado,
a África do Sul tem a tarifa residencial mais cara dentre os quatro países dos
BRICS analisados83 e, por outro lado, apresenta a menor tarifa industrial. A
conformação das tarifas neste país estão relacionadas à existência de grandes
reservas de carvão e ao baixo custo de transporte deste energético para as
usinas de geração. Adicionalmente se destaca a reforma fracassada do setor
elétrico que criou problemas de fornecimento nos anos 2007 e 200884.
64
Finalmente, conforme se observa nas Figura 26 e Figura 27, na Índia a tarifa
industrial é 53,5% maior que a tarifa residencial o que decorre da existência de
um subsídio cruzado, fator que será analisado mais adiante.
10
8
cUSD/kWh
6 1,2
9,7
4 2,1
5,0
2
3,2
0
RUS
ZAF*
IND*
Custos de Geração Custos da Rede Impostos e encargos não recuperáveis
65
A Tabela 9 demonstra as reservas provadas e a razão consumo/produção. Uma
razão consumo/produção menor que 1 indica que o país produz mais de um
combustível fóssil do que consome. Por outro lado, um índice maior que 1
indica que a produção interna não é suficiente para atender à demanda,
obrigando o país a importar. Observa-se que a Rússia possui liderança absoluta
em todos os quesitos de combustíveis fósseis, caracterizando-se por ser uma
grande exportadora de recursos energéticos, principalmente para Europa. A
economia Russa é altamente dependente das exportações de recursos
energéticos. Segundo dados disponibilizados pela EIA (2015). Countries - Russia,
as receitas de óleo e gás responderam por 52% da receita do orçamento federal e
por mais de 70% do total de exportações.
66
Figura 28: Evolução da capacidade de geração de energia elétrica na Rússia:
2000-2012
Fonte: IEA (2014). Russia- Energy Policies Beyond IEA Countries. (p. 190)
67
Além de um parque gerador antigo, existe uma grande necessidade de
modernização das redes. Por ser o país mais extenso (17.098.240 km2), a Rússia
também tem a rede mais extensa do mundo – somando transmissão e
distribuição a rede é de 2,44 milhões de km94. Contudo, a rede é antiga e carece
de modernização, além de requerer investimento na interconexão de regiões
ainda isoladas, principalmente no norte da Rússia, e o reforço nas linhas que
interconectam com a Europa, Urais e a Sibéria95.
Fonte: Com base em dados de EIA (2015). International Energy Statistics; Banco Mundial (2014).
Datos
94 IEA (2014). Russia. Energy Policies Beyond IEA Countries. (p. 198).
95 IEA (2014). Russia. Energy Policies Beyond IEA Countries. (p. 198).
96Conforme assinalado anteriormente 49,1% da geração total em 2012 foi na base de gás natural.
IEA (2014). Russia. Energy Policies Beyond IEA Countries. (p. 183).
97 IEA (2014). Russia. Energy Policies Beyond IEA Countries. (p. 99).
98 IEA (2014). Russia. Energy Policies Beyond IEA Countries. (p. 82).
68
residências. Já os produtores independentes99 não são sujeitos ao preço
regulado100.
O Serviço Federal de Tarifas (FTS) 101 estabelece a cada ano uma faixa tarifária,
com um preço máximo e um mínimo, em função de parâmetros calculados pelo
Ministério de Economia, que refletem o desenvolvimento econômico e social
esperado nesse ano102. Os preços determinados pelo FTS incluem103:
a) O preço atacadista para o setor industrial e elétrico, que considera a taxa
de câmbio do Rublo com o dólar americano e os preços do petróleo e
gasolina no mercado europeu. Sendo assim, qualquer alteração nestas
variáveis determina uma alteração no preço do gás natural para a
indústria e o setor elétrico.
b) Preço do setor residencial.
c) Preço do transporte de gás natural através dos gasodutos.
Em 2007104 se introduziu um novo mecanismo de cálculo para as tarifas de gás
natural, com o objetivo de aumentar o preço do gás natural no mercado
atacadista interno até atingir paridade com o preço de exportação. De fato,
esperava-se que a partir de 2015 o preço atacadista interno do gás natural fosse
igual ao preço de exportação diminuído dos impostos e do custo de
transporte105. Os custos de transporte de gás na Rússia são calculados com base
na distância existente entre o ponto de entrada do gás e o ponto de saída 106. A
distância média de transporte de gás para o mercado doméstico era 2.785 km
em 2012107 e o transporte representava 50%108 do preço interno do gás. O custo
absoluto do transporte para do gás para exportação é maior, pois a distância
média era ainda maior em 2012: 3.430 km109 (distância média até a fronteira). Já
os impostos de exportação são de 30% do valor total das vendas de gás ao
exterior110. Assim, ainda que o mecanismo de convergência do preço interno do
gás natural fosse integralmente implantado, o gás vendido pela Gazprom para
69
consumo doméstico ainda seria muito mais barato do que o gás colocado no
exterior.
Na Figura 30 se observa que o preço doméstico do gás natural na Rússia vem
aumentando há vários anos. Contudo, o gás natural ainda barato se comparado
com outros países, inclusive os EUA, que, devido ao boom do gás não
convencional, tem preços reconhecidamente baixos.
Fonte: IEA (2014). Russia. Energy Policies Beyond IEA Countries. (p. 108)
111 Preço do gás medido em USD por MWh produzido com gás natural.
112 IEA (2014). Russia. Energy Policies Beyond IEA Countries. (p. 210).
113 IEA (2014). Russia. Energy Policies Beyond IEA Countries. (p. 209).
114 IEA (2014). Russia. Energy Policies Beyond IEA Countries. (p. 210).
70
Figura 31: Tarifa de energia eléctrica para o consumidor final em RUB/kWh,
2001-2012
Fonte: IEA (2014). Russia. Energy Policies Beyond IEA Countries. (p. 210)
115 O modelo institucional vigente na Rússia será tratado com mais detalhe à frente, na seção
5.5.1.
116 IEA (2014). Russia. Energy Policies Beyond IEA Countries. (p. 183).
71
consumo. De todo modo, a tarifa de eletricidade da África do sul é muito baixa
para padrões internacionais e dois fatores podem ser apontados para explicá-la:
as políticas públicas para o setor elétrico e a abundância de carvão de boa
qualidade e com baixos custos de produção.
A Eskom é a empresa pública verticalizada e monopolista, responsável por toda
a cadeia de produção o setor elétrico da África do Sul. Ao longo dos anos esta
empresa passou por várias reformas em função das diferentes políticas
aplicadas pelos governos sul-africanos, mas ela sempre foi gerida de forma a
viabilizar o baixo preço da energia no país.
Até 2001 a Eskom era uma entidade pública isenta do pagamento de impostos e
que não pagava dividendos. Ela era controlada por um Conselho de
Eletricidade formado principalmente por representantes dos grandes
consumidores e do governo e operava sob o princípio de lucros e perdas
nulos117. O acesso a financiamento era com garantia do Estado, garantindo um
baixo custo de captação118.
Em 2001 publicou-se a The Eskom Convertion Bill que converteu a Eskon de
entidade em empresa pública com capital do Estado, mas agora sujeita tanto à
taxação quanto ao pagamento de dividendos. O objetivo do governo com esta
mudança era trazer maior eficiência e competitividade à Eskom 119 e inserir o
setor elétrico sul africano no contexto mundial. Já em 1995 havia sido criado um
regulador do setor, embora este tenha começado a regular efetivamente as
tarifas somente em 2001120.
A dinâmica da Eskom durante as décadas de 1980 e 1990 havia resultado em
excessivos investimentos em capacidade de geração, principalmente durante a
década de 1980, criando uma grande capacidade ociosa 121. Na década de 1990,
por diversos motivos políticos entre eles a primeira eleição democrática na
África do Sul, a política energética havia se orientado no sentido de diminuir a
tarifa real de energia elétrica. Conforme se observa na Figura 32, durante toda a
década de 1990 e quase toda a década de 2000 os preços reais da eletricidade
foram diminuindo.
117Deloitte (2012). The economic impact of electricity price increases in various sectors of the South
African economy. (p.39).
118Deloitte (2012). The economic impact of electricity price increases in various sectors of the South
African economy. (p.40).
119Deloitte (2012). The economic impact of electricity price increases in various sectors of the South
African economy. (p.41).
120Deloitte (2012). The economic impact of electricity price increases in various sectors of the South
African economy. (p.40).
121Deloitte (2012). The economic impact of electricity price increases in various sectors of the South
African economy. (p.39-40).
72
Em consequência desta queda do preço da energia elétrica muitas empresas
eletro-intensivas investiram na África do Sul, ao mesmo tempo em que se
adotou um massivo programa de eletrificação no país122. Ainda cabe destacar
que, historicamente a tarifa industrial na África do Sul é bem mais baixa que a
residencial não subsidiada, em prol de fomentar a indústrias, principalmente
mineradoras.
Fonte: Deloitte (2013). The economic impact of electricity price increases in various sectors of the South
African economy. (p.38)
122Deloitte (2012). The economic impact of electricity price increases in various sectors of the South
African economy. (p.39-40).
123O preço médio real da eletricidade é calculado dividindo a receita total da Eskom pelso kWh
produzidos em cada período, o resultado logo é ajustado pela inflação do país e expressado em
Rands (moeda Sul-africana) de 2011. Deloitte (2013). The economic impact of electricity price
increases in various sectors of the South African economy. (p.37).
124 Eskom (2015). Official website- Electricity Generation- Surplus capacity.
125 Eskom (2015). Official website- Electricity Generation- Surplus capacity.
73
Figura 33 se observa a diminuição da margem de reserva no sistema, atingindo
seu ponto mínimo em 2007.
126Deloitte (2012). The economic impact of electricity price increases in various sectors of the South
African economy. (p.39-40).
127 EIA (2015). Countries- South Africa.
128 Dados da Tabela 5: Composição da geração térmica segundo combustível usado, 2012.
74
elétrico responde por pouco mais da metade do carvão consumido no país,
seguidas pelas indústrias eletro-intensivas e por residências129.
O carvão é decisivo na composição do preço final de tarifas elétricas. A
exploração de carvão na África do Sul é principalmente privada130 e altamente
concentrada em cinco companhias que detêm 85% da produção131. Além disso,
a produção é concentrada em onze minas que respondem por 70% da
produção132. O carvão extraído é de alta qualidade e as jazidas são pouco
profundas, com camadas subterrâneas espessas, o que torna a extração simples
e barata.
A Eskom, a maior consumidora de carvão, tem três tipos de contratos com os
fornecedores133:
I. Contratos de custos acrescidos, que se caracterizam pela participação
da Eskom no capital da empresa mineradora. Neste cenário, a Eskom
paga ao fornecedor os custos operacionais e um retorno pré-
determinado baseado na participação deste no capital da empresa
mineradora, sendo que qualquer aumento no custo deve ser arcado
pela Eskom. Ou seja, o sócio da Eskon tem remuneração garantida e
em troca, todas as reservas de carvão são exclusivamente dedicadas
ao fornecimento à Eskom. Estes contratos têm duração maior que 10
anos, em alguns casos chegando a 40 anos. Em 2012, este tipo de
contrato representava 47% da carteira de contratos de fornecimento
de carvão da Eskom134.
II. Contratos com preços fixos e reajustes pré-estabelecidos, o carvão é
vendido à Eskom com um preço pré-determinado corrigido
anualmente em função de uma fórmula determinada em contrato. A
produção da mina não é exclusivamente destinada à Eskom, porém o
fornecedor deve pagar uma penalidade no caso de não cumprimento
das quantidades acordadas. Este tipo de contrato também se
caracteriza por ter uma duração maior de 10 anos. Para 2012, os
75
contratos com preço fixo e reajustes representavam 24% da carteira
de contratos de fornecimento de carvão da Eskom135.
III. Contratos de curto-médio prazo, que tem as mesmas características
dos contratos de preço fixo, mas têm uma duração menor de 10 anos.
Em 2012, estes contratos representavam 29% da carteira da Eskom 136.
A Eskom tem diferentes esquemas de logística de transporte do carvão até a
central de geração. Os transportadores (esteiras) são a solução mais barata e são
utilizados para distâncias curtas em termoelétricas de boca de mina,
construídas naquelas unidades que têm dedicação exclusiva ao fornecimento da
Eskom137.
Adicionalmente, usa-se o transporte ferroviário e rodoviário para distâncias
mais longas onde a mina de carvão não fica perto da usina de geração, sendo
estas opções de transporte as mais caras.
Na Figura 34 se observa que há um amplo uso de transportadores o que indica
que grande parte da capacidade instalada de geração está na boca de mina e,
portanto, o custo de transporte do carvão até a usina é muito baixo, reduzindo
também o custo de geração. Constata-se, no entanto, que o uso de
transportadores caiu entre 2007 a 2012, consequência do aumento das compras
em contratos de curto-médio prazo que fez que o carvão fosse mais
frequentemente transportado em rodovias para as usinas geradoras.
76
Figura 34: Tipos de entrega de carvão: 2007-2012
77
têm acesso ao serviço de energia elétrica139, estando o déficit do serviço
concentrado em áreas rurais.
Existe ainda um subsídio para a tarifa residencial e agrícola suportado, em
parte, pela tarifa industrial e comercial140. Mas, embora haja grande cada estado
tenha uma realidade diferente, no geral as empresas estatais indianas são
utilizadas para viabilizar a contenção das tarifas de energia elétrica.
12,0
9,7 9,4
10,0
8,0
6,6
cUSD/Kwh
6,1 6,3
6,0 5,0
4,0
2,0
0,0
RUS IND* ZAF
residencial industrial
78
Assim, ao final da década o setor elétrico da maioria dos estados não altamente
deficitária143.
Diante disso, em 2003, o governo da Índia tentou fazer uma reforma do setor
permitindo a participação de agentes privados na geração e dando livre acesso
às redes de transmissão e distribuição e criaram-se as comissões reguladoras
(SERCs) responsáveis regular a tarifa de energia elétrica em cada estado144.
A reforma conseguiu introduzir a participação de agentes privados na geração
de energia, utilizando contratos de compra de energia de longo prazo,
geralmente de 15 a 25 anos145. Estes contratos têm preço determinado na faixa
de 2 a 3 Rupias por kWh, contando com cláusula de indexação à inflação, e
consideram a utilização de carvão produzido na própria Índia146. Neste país
67,4% da matriz elétrica é térmica, sendo que 90,3% da geração térmica utiliza
carvão147.
Embora a Índia tenha a quinta maior reserva de carvão do mundo148, a
produção deste combustível não é suficiente para atender a demanda. O setor
de carvão é um dos mais centralizados e ineficientes do país, sendo o estado
proprietário das duas maiores companhias de produção de carvão149. Como a
produção de carvão é menor que o consumo, conforme se observa na Figura 36,
e ainda sendo o setor elétrico o principal consumidor de carvão da Índia,
precisa-se importar carvão para a geração.
143Santhakumar(2003). Impact of the distribution of the cost of reform on social support for reforms. A
study of power sector reform in Indian states. (p. 7).
144 EIA(2015) Countries- India.
145 IEEFA(2014). Briefing note indian power prices. (p.3).
146 IEEFA(2014). Briefing note indian power prices. (p.2).
147 Tabela 5: Composição da geração térmica segundo combustível usado, 2012 (p.18).
148 EIA(2015) Countries- India.
149 EIA(2015) Countries- India.
79
Figura 36: Consumo e produção de carvão na Índia, 2000-2012
O carvão importado é mais caro, fazendo com que o custo de geração tenda a
aumentar. De fato, na Figura 37 se observa que o custo da energia em Délhi
aumentou fortemente entre 2003 e 2015 principalmente pelo aumento do custo
de geração. Contudo, os geradores privados150 que firmaram contratos de longo
prazo foram prejudicados pela maior necessidade de carvão importado e pelo
aumento de custo do mesmo, pois eles não podem repassar o custo adicional ao
preço, situação que têm duas consequências; a primeira é que as empresas de
geração têm operado com perdas151. E a segunda são os constantes apagões por
causa da falta de combustível para a geração152.
Os principais grupos privados que operam na Índia são Reliance Power, Tata Power e Essar
150
80
Figura 37: Evolução do custo de energia elétrica em Délhi (Rs/kWh): 2003-2015
81
Tabela 10: Índice de qualidade do serviço de energia elétrica nos BRICS 155
Índice
qualidade
China 5,2
Brasil 4,9
Rúsia 4,3
África do Sul 3,9
Índia 3,2
Fonte : European Comission (2014). Energy prices and cost in Europe (p.185)
155Usa-se o mesmo índice apresentado na Figura 6: Relação preço e qualidade dos países
estudados.
156Andrews-Speed, P. (2013). Reform Postponed: The Evolution of China´s Electric Markets, p. 531-
567.
157Andrews-Speed, P. (2013). Reform Postponed: The Evolution of China´s Electric Markets, p. 531-
567.
158Andrews-Speed, P. (2013). Reform Postponed: The Evolution of China´s Electric Markets, p. 531-
567.
82
competitivos, de forma que a companhia vencedora construía e operava a
planta, em um mecanismo de build-operate-transfer (BOT). Esse método de
concorrência continua ocorrendo, principalmente para o desenvolvimento de
geração renovável, mas no todo a participação privada na geração é pouco
expressiva159.
Entre 1997 e 2002 várias medidas foram aprovadas no sentido de reorganizar os
ativos da SPCC e estabelecer as bases necessárias para criar mercados elétricos
em diferentes províncias. Estes primeiro mercados foram chamados de
mercados-teste e tinham como objetivo fazer um ensaio em escala reduzida
sobre o funcionamento dos mercados atacadistas liberalizados de energia
elétrica. Em 2002, a SPCC foi dividida em cinco companhias geradoras160 e duas
companhias de redes (transmissão e distribuição), The State Grid Corporation161 e
The Southern China Power Grid 162, encarregadas de fornecer energia elétrica aos
consumidores finais.
Criou-se também a State Electricity Regulatory Commission (SERC) para viabilizar
a elaboração e regulação dos mercados de energia. A China teve experiências de
mercados atacadistas com vários agentes em 2004 e 2005 (mercados-teste) em
seis regiões do país. No entanto, as diferenças econômicas regionais (que
dificultavam a execução da política de preço único), congestionamentos de
rede, favorecimento de alguns geradores por instituições locais, fraqueza
institucional, volatilidade de preços no mercado atacadista e as sucessivas
falhas de fornecimento de energia no período 2004-2008 (decorrentes do forte
incremento da demanda) levaram a uma paralisação das reformas no setor
elétrico chinês163. As empresas estatais de rede (The State Grid Corporation e The
Southern China Power Grid) passaram então a desempenhar a função de
comprador único de energia no mercado atacadista, fornecendo o serviço ao
consumidor final nas suas respetivas regiões164.
159Andrews-Speed, P. (2013). Reform Postponed: The Evolution of China´s Electric Markets, p. 531-
567.
160The China Huaneng Power Group, The China Datang Corporation, The China Huadian Corporation,
The ChinaGuodian Corporation e The China Power Investment Corporation. Andrews-Speed, P.
(2013). Reform Postponed: The Evolution of China´s Electric Markets, p. 531-567.
161Proprietária da maioria das redes na China incluído as redes inter-regionais. Andrews-
Speed, P. (2013). Reform Postponed: The Evolution of China´s Electric Markets, p. 531-567.
162Proprietária das redes na parte sul do país. Andrews-Speed, P. (2013). Reform Postponed: The
Evolution of China´s Electric Markets, p. 531-567.
163Andrews-Speed, P. (2013). Reform Postponed: The Evolution of China´s Electric Markets, p. 531-
567.
164IEA (2014). The impact of global coal supply on worldwide electricity prices. Overview and
comparissons between Europe, The United States, Australia, Japan, China and South Africa. (p46).
83
A tarifa do consumidor final é determinada pelo Estado, que aplica subsídios
cruzados significativos entre o setor residencial e o industrial 165. As tarifas
baseiam-se no sistema de catálogo de tarifas, conforme se observa na Tabela 11.
Apesar do subsídio cruzado, a tarifa do consumidor final não reflete o preço da
energia no mercado atacadista, sendo a diferença arcada pelas empresas
estatais.
Fonte: Com base em dados de Andrews-Speed, P. (2013). Reform Postponed: The Evolution of
China´s Electric Markets (p. 558)
165IEA (2014). The impact of global coal supply on worldwide electricity prices. Overview and
comparissons between Europe, The United States, Australia, Japan, China and South Africa. (p46).
Usando o tipo de câmbio nominal de 2010 fornecido pelo mesmo autor (1 USD=6,67 yuan).
166
Andrews-Speed, P. (2013). Reform Postponed: The Evolution of China´s Electric Markets (p. 558).
167IEA (2014). The impact of global coal supply on worldwide electricity prices. Overview and
comparissons between Europe, The United States, Australia, Japan, China and South Africa. (p46).
168 EIA (2015) Countries, China.
169 Andrews-Speed, P. (2013). Reform Postponed: The Evolution of China´s Electric Markets, p. 532.
84
país170. A produção de carvão na China é realizada através de várias empresas
públicas, sendo que a Shenhua Group, a maior mineradora, representa 10% do
mercado chinês171. Embora o setor seja basicamente estatal, desde 1994 uma
grande parte da produção de carvão é vendida no mercado interno a preços
próximos dos do mercado internacional172. Até 2009 a China era um país
exportador de carvão173. A partir de então ela passou a importar carvão (Figura
38) o que indica tendência de aumento de preços.
85
Estado chinês também regula o preço de venda de carvão para a geração de
energia.
Em tese sempre se espera que a tarifa industrial seja menor que a tarifa
residencial em função de vários fatores, sobretudo o custo da rede menor para a
indústria, mas também devido a impostos que podem ser recuperados por
empresas176. Quando isso não ocorre, ou mesmo quando as tarifas industriais
176Os consumidores industriais têm altas demandas de energia elétrica e em muitos casos estão
conectados à rede de média ou alta tensão. Portanto, o custo da rede tende a ser menor do que
os pequenos consumidores que acessam o sistema através de redes de baixa tensão. Além disso
em todos os países estudados o setor industrial está sujeito a impostos que podem ser
86
são iguais às residenciais, a explicação é a existência de um subsídio cruzado
dos consumidores industriais em benefício dos consumidores residenciais.
Observa-se na Figura 40, que embora a Argentina e o México ainda tenham as
tarifas mais baratas, a tarifa industrial nestes países é mais cara que a tarifa
residencial, 26% na Argentina e 34% no México, o que sugere a existência de um
subsídio cruzado da indústria a favor do consumidor residencial.
Já no caso do Chile, a tarifa industrial é 34% menor que a tarifa residencial.
Contudo, observa-se que 91,7% da tarifa industrial chilena corresponde ao custo
de geração. Conforme será analisado mais adiante, isso se deve a que o Chile
tem uma grande necessidade de importar combustíveis fósseis para atender a
demanda de energia elétrica.
Por fim, a Colômbia tem a tarifa industrial mais cara dentre os países da
América Latina, embora praticamente não exista diferença entre a tarifa
residencial e a industrial deste país (Residencial: 16,3 cUSD/kWh; Industrial:
15,9 cUSD/kWh), o que sugere a existência de um subsídio cruzado entre
ambos tipos de consumidores.
recuperados (por exemplo, o VAT) e, por esta razão, são excluídos da comparação de tarifas
industriais. Já os consumidores residenciais não recuperam imposto algum e, por isso, a
comparação de tarifas é feita usando todos os impostos. Por este conjunto de razões, é de se
esperar que as tarifas industriais sejam menores que as residenciais.
87
5.2.1. Argentina: tarifa congelada e subsídios
Conforme se observa na Figura 41, a Argentina apresenta as tarifas residencial e
industrial mais baratas na América Latina. Comparando com a tarifa residêncial
chilena, a mais cara da amostra, observa-se que esta última é 4,9 vezes maior
que a tarifa residencial argentina. Enquanto ao comparar a tarifa industrial
argentina com a tarifa industrial colombiana, a mais cara da América Latina,
constata-se que a tarifa na Colômbia é 3 vezes maior do que na Argentina.
Figura 41: Tarifa industrial e residencial dos países da América Latina, 2013
25,0
20,7
20,0
16,3 15,9
15,0 13,5
11,9
10,0 8,9
5,3
5,0 4,2
0,0
ARG* MEX* COL CHL
residencial Industrial
177Em 14 de dezembro de 2014, o jornal La Nación apontava que enquanto a inflação oficial para
2014 estava em 24% as estimativas privadas apontavam a uma taxa de inflação de entre 35 a
40%.
Em 15 de maio de 2015, o jornal La Nación mostrava a cotação oficial do dólar em 8,84
178
88
Apesar das dificuldades metodológicas, a tarifa de energia elétrica na Argentina
é efetivamente baixa e isso decorre não da eficiência do setor elétrico, mas da
intervenção do Estado.
Em 2001 e 2002 a Argentina atravessou uma crise econômica sem precedentes,
que teve impacto forte sobre o setor elétrico do país. Em função desta crise o
governo declarou a Lei de Emergência Econômica (Lei N° 25.561179) em 2002.
Esta Lei180 afetou profundamente a remuneração da geração, da transmissão e
da distribuição. Destacam-se as principais dentre as medidas adotadas:
i. A conversão da tarifa de energia elétrica de seu valor original, que era
expresso em dólares americanos, para novos valores em pesos
argentinos usando a taxa de câmbio de 1 AR$/US$. Devido à grande
desvalorização da moeda local, isso implicou em substancial redução
da tarifa expressa em US$.
ii. O congelamento de todas as tarifas de distribuição e transmissão,
eliminando quaisquer mecanismos de ajustes de preço e de indexação à
inflação ou à taxa de câmbio.
iii. O cálculo do preço spot de eletricidade no Mercado Elétrico Atacadista
(MEM) passou a ser determinado com base no preço do gás natural
(fortemente subsidiado pelo Estado) independente do combustível
utilizado para gerar a energia despachada.
Para entender como estas medidas impactaram no preço final de energia
elétrica é preciso aclarar a forma como as distribuidoras determinam a tarifa. O
cálculo da tarifa pode ser dividido em dois termos: o primeiro faz referência aos
custos de aquisição da energia no MEM e a os custos associados ao transporte
(Parcela A); e, o segundo termo, faz referência aos custos de distribuição
(Parcela B)181. As medidas adotadas pela Lei de Emergência Econômica
impactaram tanto na parcela A quanto na parcela B e, a seguir, analisam-se
separadamente cada um destes efeitos.
No referente ao primeiro termo (Parcela A), as tarifas da atividade de
transmissão foram congeladas retirando-se os ajustes de preço e os mecanismos
de indexação. Na geração o preço da eletricidade no MEM passou a ser
179República Argentina (2002). Lei N° 25.561 de 6 de Enero de 2002. Ley de Emergência Pública e
Reforma del Régimen Cambiario.
180Aclarar que as diretrizes dadas pela Lei de Emergência Econômica foram efetivamente
aplicadas no setor elétrico argentino através de resoluções emitidas pela autoridade de
regulação do setor.
181 ENRE (2015). Site institucional, tarifas.
89
calculado com base no gás natural mesmo quando se use outro combustível
para a geração182 e determinou-se um teto de 120 AR$/MWh para o preço spot.
Esse esquema resulta em um preço de energia elétrica fixo no MEM igual a 120
AR$/MWh independente do custo real do sistema. Por exemplo, para o dia 8
de março de 2015 enquanto o preço no MEM era de 120 AR$/MWh o custo
marginal real do sistema era aproximadamente 14 vezes maior183.
Em 2013 a Argentina introduziu alterações substanciais no desenho de
comercialização de energia no atacado, desvinculando a remuneração dos
geradores do preço do MEM.184 No esquema atual, o governo Argentino
compra os combustíveis diretamente dos fornecedores e entrega o combustível
aos geradores a um preço de referência, bastante inferior ao custo real do mix
de compras. Já os geradores recebem uma remuneração fixa pela
disponibilidade dos equipamentos.
Por outro lado, o segundo termo faz referência ao serviço de distribuição
(Parcela B). Conforme se observa na Figura 42 a tarifa de um consumidor
residencial na Argentina185, está dividida em uma parcela variável mensal e
parcela fixa, esta paga bimestralmente pelo consumidor. Contudo, constata-se
que desde 2004 ambas as parcelas, variável e fixa, têm valores constantes.
90
Figura 42: Tarifa residencial Argentina, 2001-2014
91
2013, o subsídio ao setor elétrico representou 11,1%190 do gasto total da APN,
sendo que a CAMMESSA e a ENRASA representaram 5,9% e 4,3%
respetivamente191, evidenciando-se que os subsídios se concentram
principalmente na geração de energia elétrica.
CAMMESA
Geradores
ENRASA
Transferências
APN correntes e de EBY Energia cedida
capital, empréstimos
NASA Central Atucha II
Fonte: Com base em informações de Rangugni, G (2013). Subsidios energéticos e su impacto fiscal
A combinação destes fatores faz com que a tarifa de energia elétrica argentina,
tanto residencial quanto industrial, seja a mais baixa não somente dentre os
países de América Latina, mas de todos os países estudados. Apesar de ter a
tarifa mais barata dos países estudados, em função das políticas adotadas, a
Argentina também apresenta um índice de qualidade192 do serviço de energia
elétrico muito baixo, conforme se observa na Tabela 12: é o menor índice de
qualidade dentre os países da região.
Índice de qualidade
México 4,6
Colômbia 5,1
Chile 5,4
Brasil 4,9
Argentina 3,5
Fonte: European Commission (2014). Energy prices and cost report (p.185)
92
5.2.2. México: monopólio verticalmente integrado e estatal
Conforme o observado na Figura 41 o México tem a segunda tarifa mais barata
de energia elétrica tanto para os consumidores residenciais quanto para os
industriais. Porém, conforme se observa na Figura 44, a tarifa industrial do
México é 34% maior do que a tarifa residencial, o que sugere a existência de um
subsídio cruzado. Conforme será analisado a seguir, embora o México seja
exportador de combustíveis fósseis, as baixas tarifas mexicanas e a existência do
subsídio cruzado decorre das políticas energéticas do país.
14,0
12,0
10,0 34%
cUSD/kWh
8,0
6,0 11,9
8,9
4,0
2,0
0,0
MEX*
Residencial Industrial
93
combustível quase duplicou nos últimos 10 anos198, sendo os Estados Unidos o
principal fornecedor199. Assim, o fato do México ser um país rico em petróleo
não garante que a geração de energia elétrica seja particularmente barata
devido à necessidade de importação de gás natural para esse fim 200.
Fonte: Com base em dados da Secretaria de Energia (2015). Sistema de Información Energética
94
diferentes níveis de tensão define uma estrutura tarifária que tem 43 tipos de
tarifas de energia elétrica. Esta estrutura tarifária complexa usada pela SHCP
tem privilegiado o subsídio cruzado onde a indústria e o comércio pagam parte
dos custos do consumidor residencial. As residências mexicanas contam com
subsídio, com exceção dos consumidores residenciais considerados de alto
consumo. A Tabela 13 mostra a relação entre o preço e o custo da energia
elétrica por tipo de consumidor; constata-se que tanto o setor residencial quanto
o agrícola e de serviços pagam uma tarifa menor que o custo de produção,
enquanto o industrial e o comercial pagam uma tarifa maior evidenciando-se
assim a existência de um subsídio cruzado.
Demanda em Razão
Uso
% do total preço/custo
Industrial 57,8% 1,04
Residencial 26,0% 0,42
Comercial 6,8% 1,11
Agrícola 5,4% 0,33
Serviços 4,0% 0,91
Fonte: CIDAC (2013). Luz a la competitividad nacional: propuesta de reforma al sector eléctrico
mexicano (p.10)
202 Escobar D, J; Jiménez R, JS (2009). Crisis económica, crisis energética e livre mercado.
203 Secretaria de Energia(2013) . Perspectiva del sector eléctrico 2013-2027. (p. 61).
204CIDAC (2013). Luz a la competitividad nacional: propuesta de reforma al sector eléctrico mexicano
(p.12).
95
forte aumento de 2012 se deve a uma mudança na metodologia de calculo do
passivo e patrimônio implantada pela CFE nesse ano205.
Fonte: CIDAC (2013). Luz a la competitividad nacional: propuesta de reforma al sector eléctrico
mexicano (p.11)
80,0%
24,0%
59,3%
60,0%
40,0%
60,0%
20,0% 37,8%
0,0%
ARG* MEX* COL CHL
205CIDAC (2013). Luz a la competitividad nacional: propuesta de reforma al sector eléctrico mexicano,
(p.11).
96
(tarifa residencial 16,3 cUSD/kWh; tarifa industrial 15,9 cUSD/kWh).
Conforme será analisado mais adiante, isso se deve à existência de um subsídio
cruzado.
Identificadas estas duas características da tarifa de energia colombiana, a seguir
se analisam os fatores que determinam o custo da rede e, posteriormente, os
subsídios existentes entre os diferentes tipos de consumidor. No que se refere
ao custo da rede devem-se considerar dois indicadores: a densidade da rede e a
intensidade de uso da rede.
A densidade da rede é um indicador que calcula a razão entre a extensão total
da rede e a superfície total do país. Um valor baixo da densidade de rede sugere
que o país não tem uma rede suficientemente extensa para interconectar seu
território ou pode significar que o país é muito extenso precisando de extensas
redes de interconexão, levando a um custo de rede maior. Em alguns países a
densidade da rede pode não ser um indicador confiável, podendo existir casos
nos quais, embora exista um território extenso, o mercado esteja concentrado
em uma só região do país. Esse é o caso da Colômbia onde a atividade
econômica, e a rede, estão concentradas nas regiões mais próximas à costa.
Por outro lado, a intensidade de uso da rede representa a razão entre o
consumo de energia e a extensão da rede. Um valor baixo da intensidade de uso
da rede traduz uma baixa transmissão de energia na rede considerada,
implicando um custo maior.
Na Tabela 14 observa-se que todos os países da América Latina têm uma
densidade de rede relativamente baixa se comparamos com a média dos países
da Europa e da Ásia. Embora o resultado deste indicador dependa tanto da
extensão da rede quanto da superfície do país, a diferença observada resulta do
fato dos países de América Latina terem, em geral, uma superfície maior do que
os países da Europa e da Ásia206. Ao serem países de grande extensão, o custo
de interconectar as diferentes regiões do país é sensivelmente maior.
Observa-se também que a Colômbia é o país com menor intensidade de uso da
rede não só na América Latina como entre todos os países considerados no
estudo. Isso implica que o custo imputado aos consumidores seja mais elevado.
206 China que também tem uma densidade de rede baixa (0,5).
97
Tabela 14 207– Indicadores de intensidade e densidade da rede, 2012208
Outro fator de grande importância que contribui para um elevado custo da rede
na tarifa da Colômbia é o fato de todo o custo da rede de transmissão ser arcado
pelo consumidor final, à diferença de outros países onde a rede de transmissão
é pago tanto por geradores quanto por consumidores, constituindo nesses casos
parte do custo de geração.
No que se refere aos subsídios, até 2011 existia um esquema de subsídios
cruzados onde consumidores que viviam em áreas mais pobres tinham
subsídios financiados por contribuições tarifárias impostas à indústria, ao
comércio e aos consumidores residenciais com consumos mais altos (estratos
residenciais 5 e 6) segundo se observa na Tabela 15. Em 2012, algumas
indústrias foram isentas dessa obrigação, quando boa parte deste subsídio
passou a ser arcado pelo orçamento nacional. Contudo, algumas indústrias
ainda contribuem ao subsídio, tendo que pagar aproximadamente 20% a mais
do custo unitário do serviço conforme se observa na Tabela 15.
98
Tabela 15: Esquema de subsídios e contribuições da Colômbia209
Residencial Industrial
Comercial
E1 E2 E3 E4 E5 E6 Isento Contribuinte
% da tarifa subsidiada 60% 50% 15%
Tarifa integral (equivalente ao
custo unitário do serviço)
% a mais da tarifa integral para
contribuir ao financiamento do 20% 20% 20% 20%
subsidio
Ainda é importante destacar que existe uma alta volatilidade dos preços da
energia no mercado elétrico colombiano, decorrente de fenômenos
climatológicos210 e explicável pela elevada participação de geração hidroelétrica
na matriz de geração.
209 Os consumidores residenciais das categorias E1, E2 e E3 são de baixa renda cujo subsidio
aplica-se sobre o Consumo de Subsistência equivalente à 173 kWh/mês. Na categoria E4
encontram-se os serviços especiais como hospitais e centros educativos. Por fim, as categorias
E5 e E6 usuários residenciais de alta renda. Electricaribe (2015). Site institucional. Tarifas Subsídios
y contribuciones.
No relativo aos consumidores industriais, a partir de 2012, o governo estabeleceu que industrias
estão sujeitas à sobre taxa destinada a cobrir o subsídio. Ley 1430 de 29 de Diciembre de 2010.
Por médio de la cual se dictan las normas tributarias de control y para la competitividad.
(http://www.corteconstitucional.gov.co/RELATORIA/2012/C-766-12.htm).
A volatilidade do preço da energia na Colômbia decorrente dos fenômenos climatológicos é
210
99
Figura 48: Tarifa residencial e industrial do Chile, 2013
211Segundo a publicação do jornal Economia e Negócios no dia 30 de janeiro de 2014, ainda não
existe uma interconexão entre o SIC e o SING, embora exista um projeto para construir uma
linha de transmissão que conecte estes dois sistemas.
212 CNE (2015). Site institucional- Electricidad.
100
Tabela 16 – Capacidade instalada do SING e SIC, em GW, 2013
SING SIC
Hídrica 0,01 0% 5,97 43%
Térmica 3,73 99% 7,55 55%
Solar - 0,01 0%
Eólica - 0,29 2%
Outros 0,02 1% - 0%
TOTAL 3,76 13,82
Fonte: Com base em dados de CNE(2015). Site institucional-Electricidad
SIC
2011 2012 2013
Carvão 39,2% 43,2% 55,0%
Gás natural 0,3% 0,2% 0,0%
GNL 40,5% 36,3% 31,2%
Outros 20,0% 20,3% 13,7%
SING
2011 2012 2013
Carvão 69,5% 75,9% 82,7%
Gás natural 25,9% 19,6% 9,4%
Outros 4,5% 4,5% 7,8%
Fonte: Com base em dados da CNE (2015). Site Institucional-Electricidad
213 A tarifa industrial e residencial do Chile considera apenas o mercado cativo dos diferentes
sistemas elétricos.
101
Contudo, o Chile não produz estes combustíveis em quantidade suficiente para
atender a sua demanda interna. Na Tabela 18 observa-se a relação
consumo/produção214 de alguns combustíveis para o os países da América
Latina para o ano 2013. Quando a relação é maior que a unidade significa que o
país consume mais desse combustível do que ele é capaz de produzir e,
portanto, deve importar estes bens para atender à demanda.
mas ao consumo geral de energia dos países. Porém, esse dado proporciona uma ideia da
magnitude das importações de combustíveis nos países latino-americanos.
215Na análise realizada sobre os países da OCDE se destaca o papel dos Estados Unidos na
produção de carvão. 5.4.2 O efeito do gás de xisto nos Estados Unidos.
102
Figura 49: Variação mensal do preço de importação CIF do GNL e do Carvão
no Chile, 2009-2014
Nesta parte, se compara a tarifa de energia elétrica dos três países que
apresentam uma matriz elétrica estruturalmente parecida à brasileira, ou seja,
majoritariamente hídrica. Dessa forma, são analisados os vetores explicativos
das diferenças de preços para o consumidor final entre sistemas a priori
parecidos: o estado de Québec (Canadá), a Noruega e a Colômbia.
No Québec e na Noruega o custo de geração é menor que na Colômbia, em
parte por que mais de 90% da matriz destes países é hídrica. Já a matriz da
Colômbia tem uma alta participação de fontes térmicas, caracterizando-se por
ser uma matriz hidrotérmica com forte geração térmica em anos mais secos.
Ainda no caso do Québec, os ativos de geração são antigos, existe um contrato
muito vantajoso de compra de energia com a hidroelétrica de Churchill Falls e,
além disso, o Québec realiza operações lucrativas de compra e venda em
diferentes mercados. Já no caso da Noruega, é o Nord Pool que determina o
custo da geração baixo neste país.
De acordo com a Figura 50, todos os países selecionados apresentam
capacidade instalada fortemente concentrada na fonte hídrica, na medida em
que a mesma representa a maior parte da matriz, 68,1% na Colômbia, 90,4% no
Québec e 92,9% na Noruega. Isso em princípio deveria se refletir no custo de
geração, que tenderia a ser estruturalmente parecido nos países hídricos.
103
Figura 50: Capacidade hídrica na capacidade total dos países, 2012
Fonte: Com base em dados do Ministério de Minas e Energia (2013). Energía eléctrica; Statistics
Canada (2014) Energy data. Eurostat (2014). Database
104
Na Noruega é importante considerar que o sistema elétrico está inserido no
mercado Nord Pool Spot, junto com Suécia, Dinamarca, e Finlândia 216. A forte
integração energética na região nórdica da Europa, cuja matriz é
majoritariamente hídrica, favorece a competitividade local e proporciona um
custo de geração baixo, resultando em uma tarifa final baixa para o consumidor
norueguês. Fator que também será analisado mais adiante.
216Estes quatro países conformam o Nord Pool, porém é importante destacar que este bloco de
países também têm interligações com outros mercados da Europa como Alemanha, Holanda,
Estónia, Polónia e Rússia. Norwegian Ministry of Petroleum and Energy (2013) – Facts 2013 (p.
52).
217Com base em dados de Statistics Canada(2013)-installed generation capacity by class of electricity
producer.
105
da capacidade instalada na província. O restante pertence a empresas privadas,
que participaram ativamente da expansão do sistema nos últimos anos 218.
No final dos anos 1990 a província de Québec reformou seu setor elétrico com o
motor principal de atender aos requisitos mínimos de reciprocidade
estabelecidos pela FERC norte-americana, para autorizar a integração elétrica e
comercial da geração de Québec com os estados do Nordeste dos EUA. Em 1996
foi criada a agência reguladora e fiscalizadora do setor energético de Québec, a
Régie de l’énergie219. Em 1997, a Hydro-Québec recebeu uma licença para operar
no mercado norte americano, mas para isso a Hydro-Québec teve que dar livre
acesso às redes de transmissão criando assim a Hydro-Québec TransÉnergie220
como empresa formalmente separada da Hydro-Québec, responsável pelos
sistema de transmissão. Posteriormente, em 2000, logo após se ter aprovado a
Act respecting the Régie de l’énergie, a Hydro-Québec passou por um processo de
desverticalização resultando na criação das Hydro-Québec Production, Hydro-
Québec Distribution e Hydro-Québec Équipement221.
Para que essa mudança não prejudicasse o consumidor e ele continuasse se
beneficiando de uma tarifa baixa e estável, em 2000 criou-se o Heritage Pool222,
quebequense.
219Hydro-Québec (2015). Site institucional-history of electricity in Quebec, 1980-1996 a time of
uncertainty.
220 Hydro-Québec (2015). Site institucional- history of electricity in Quebec, 1997-… Renewed Growth.
221 Hydro-Québec (2015). Site institucional-history of electricity in Quebec, 1997-… Renewed Growth.
222 Hydro-Québec (2015). Site institucional -history of electricity in Quebec, 1997-… Renewed Growth.
106
através do qual a Hydro-Québec Production passaria a fornecer para a Hydro-
Québec Distribution um bloco fixo de energia elétrica de 165 TWh por ano223, à
época 95% das necessidades de energia desta, a uma tarifa fixa de 2,79
cCA$/kWh224, que pode ser alterada pelo governo.
O consumidor se beneficiou da tarifa mais competitiva dos países hídricos
listados neste estudo, tendo um custo de geração significativamente mais barato
que os demais. Em 2012, os 165 TWh fornecidos pela Hydro-Québec Production
ao Heritage Pool, representaram 82,9 %225 da geração total de Québec. Este
esquema é possível graças a três fatores:
i. Boa parte dos investimentos nas grandes usinas hidrelétricas de Québec
já estão amortizadas;
ii. A Hydro-Québec Production compra energia da usina de Churchill
Falls a um preço muito vantajoso;
iii. A Hydro Québec Production realiza operações de arbitragem
extremamente rentáveis nos mercados vizinhos, explorando as
diferenças de preço da eletricidade no mercado atacadista entre os
horários de ponta e fora de ponta.
A Hydro-Québec possui 60 usinas hidrelétricas e duas usinas termelétricas226.
Das 60 hidrelétricas, 26 têm grandes reservatórios227 e quatro delas têm uma
potência instalada superior a 2000 MW. Como se observa na Tabela 19, o
parque é relativamente antigo e várias centrais estão amortizadas, o que explica
em parte a baixa tarifa de geração no Québec.
223 Hydro Québec (2015). Site institucional- Act Regulation and conditions of electricity services.
224 Hydro-Québec (2015). Site institucional- history of electricity in Quebec, 1997-… Renewed Growth.
225Com base em dados de Statistics Canada (2013) – 165 TWh/198,9 TWh (produção total de
2012).
226 Hydro Québec (2013). Rapport Annuel 2013 (p.8).
227 Hydro Québec (2013). Rapport Annuel 2013 (p.8).
107
Tabela 19: Dez maiores usinas hidrelétricas no Québec
228No contrato o preço da energia está em mills. Foi realizada a conversão para o dólar canadense sendo
que 1 mill é equivalente a 1/1000 dólar canadense Power contract between Quebec Hydroelectric
Comission and Churchill Falls (Labrador) Corporation Limited (1969). Artigo VIII.
229Ainda o contrato assinado entre Hydro-Québec e CFLCo tem uma cláusula de renovação
automática, sob as mesmas condições do contrato de 1969 incluído o preço, por mais 25 anos
devendo ficar válido até 2041. Power contract between Quebec Hydroelectric Comission and
Churchill Falls (Labrador) Corporation Limited (1969). Artigo III- Renewal of Contract.
108
Ontário durante a noite, quando os preços são baixos e vende energia para
Ontário durante o dia, quando a demanda e os preços são maiores.
Em função destes três fatores, o preço do Heritage Pool permite que o custo de
geração no Québec tão baixo, sendo que para obter a tarifa final do consumidor
deve-se adicionar o custo das redes de transmissão e distribuição assim como os
impostos. Mesmo assim, conforme se observa na Tabela 20, a tarifa é baixa tanto
para o consumidor residencial quanto para o industrial.
Fonte: Com base em dados de Hydro-Québec (2015)- Site institucional -Electricity rates
230Ministère des Ressources naturelles et de la Faune (2006). Quebec Energy Strategy 2006-2015.
(p.24).
231 IEA (2011). Energy policies of IEA countries, Norway Review 2011 (p.97).
109
Figura 54: Capacidade instalada na Noruega, 2008-2012
232Estes quatro países conformam o Nord Pool, porém é importante destacar que este bloco de
países também têm interligações com outros mercados da Europa como Alemanha, Holanda,
Estónia, Polónia e Rússia. Norwegian Ministry of Petroleum and Energy (2013) – Facts 2013 (p.
52).
233IEA (2011). Energy policies of IEA countries, Norway Review 2011 (p.99).
234Mercado intradiario no qual são assinados contratos a cada hora no período entre o mercado
Elspot (24 horas antes da hora do despacho) e a hora imediatamente anterior à hora do despacho
de energia.
235 Norwegian Ministry of Petroleum and Energy (2013) – Facts 2013 (p. 54).
236 Norwegian Ministry of Petroleum and Energy (2013) – Facts 2013 (p. 53-Box. 5,1).
110
preço do mercado financeiro de energia; assim o preço determinado no Nord
Pool Spot serve de referência para os contratos do Nasdaq Omx.
Neste contexto, todo dia o Nord Pool Spot calcula o preço do sistema elétrico,
aquele que equilibra a oferta com a demanda, para cada hora do dia seguinte.
Este preço é o mesmo para todo o mercado nórdico e reflete as condições de
geração e consumo total do sistema nórdico. Porém, ele não considera possíveis
restrições da rede de transmissão. Para isso, a Nord Pool Spot calcula os preços
de área, além do preço do sistema. Os preços de área consideram os gargalos da
rede de transmissão e, portanto, determinam diferentes preços para cada uma
das áreas do mercado nórdico237. Assim, um congestionamento da rede pode
criar uma diferenciação dos preços entre as diferentes áreas do mercado238.
A transparência do modelo de mercado desenvolvido no Nord Pool atraiu
liquidez e resultou na multiplicação das transações de curto prazo. Dessa
forma, mais de 75% do consumo elétrico dos países nórdicos é transacionado no
mercado do dia seguinte no Nord Pool Spot239. Isso significa que o custo da
geração da Noruega é fortemente correlacionado com o preço do mercado do
dia seguinte. Sendo assim, a Figura 55 resume os preços mensais médios do
sistema Nord Pool Spot para o mercado do dia seguinte entre 2008 e 2014.
Constata-se que, embora o mercado tenha passado por alguns extremos neste
período (especificamente no inverno de 2010 com um recorde de 81,7 €/MWh
no mês de Dezembro), o preço mensal do sistema médio foi relativamente
baixo: 39,9 €/MWh.
237 Norwegian Ministry of Petroleum and Energy (2013) – Facts 2013 (p. 55).
238Esses congestionamentos energéticos acontecem na medida em que as diferentes regiões do
mercado nórdico apresentam situações energéticas heterogêneas. Por exemplo, em um
determinado momento, se uma região A apresenta um excesso de oferta enquanto uma região B
apresenta um déficit de energia, é preciso exportar a energia da região A para a região B. Se a
capacidade da rede não for suficiente para permitir a exportação desta energia, um
congestionamento ocorre entre as duas regiões e o preço na região B é superior ao preço da
região A. Essa diferenciação de preço favorece, no curto prazo, a circulação de energia das
regiões em excesso de oferta para as regiões em déficit, e pode sinalizar uma necessidade de
correção deste desequilíbrio de rede no longo prazo.
BOLTZ W (2013)., The Challenges of Electricity Market Regulation, The Evolution of Electricity
239
111
Figura 55: Preços médios mensais no mercado do dia seguinte, em €/MWh
(preços nominais): 2008-2014
Fonte: Com base em dados de Nord Pool Spot (2015) Market data
Cabe destacar que a matriz do sistema nórdico, com alta participação hídrica
em boa parte devido à contribuição da Noruega, junto à transparência e
concorrência criada no mercado, tem permitido baixos preços da energia no
mercado atacadista.
A Tabela 21 mostra a composição da geração total para 2013 no Nord Pool,
considerando a contribuição dos quatro países que fazem parte deste sistema
integrado. Apresenta-se uma configuração com predominância da fonte hídrica,
além de presença notável da fonte nuclear. O baixo custo marginal dessas duas
fontes favorece um preço baixo no mercado do dia seguinte.
Tabela 21: Geração de energia elétrica por tipo de fonte no Nord Pool, 2013
Por outro lado, a multiplicação dos agentes e das transações no sistema Nord
Pool Spot favorece um ambiente competitivo e a redução do preço médio da
geração elétrica.
Em consequência, os preços de energia no Nord Pool têm sido menores do que
no resto da Europa, com exceção dos momentos de hidrologia desfavorável. A
afirmativa pode ser corroborada pela Figura 56, que mostra o Platts PEP, o
Índice de Preços de Energia Pan Europeu, comparado aos preços de geração de
base dos principais mercados de eletricidade europeus, incluindo o Nord Pool.
Observe-se que o preço da eletricidade no Nord Pool só iguala ou supera o Plats
PEP nos quatro primeiros meses de 2011 e em abril de 2013. Em todos os outros
112
meses os preços no Nord Pool ficaram abaixo do índice e com grande frequência
eles foram os mais baixos de todos os mercados europeus.
Fonte: European Commission (2014), Quarterly Report on European Electricity Markets, third
quarter of 2014, (p.13)
240Platts PEP: Índice de Preços de Energia Pan Europeu; CWE (Central Western Europe):
Bélgica, Alemanha, França, Luxemburgo, Holanda, e Austria. EE (Eastern Europe): República
Checa, Hungria, Polônia, Romênia, Eslováquia. UK (Reino Unido): Inglaterra, País de Gales e
Escócia.
241 Com base nos dados da Figura 51 e da Figura 52.
Cabe destacar que em 2012, a Suécia e a Noruega estabeleceram um mercado de certificados
242
comum. Os custos, desde então, são divididos entre os habitantes de ambos os países Legal
Sources on Renewable Energy (2012)- Site institucional.
113
5.3.3. A influência da hidrologia no mercado de energia na Colômbia
A matriz elétrica colombiana tem 68,1% (Figura 50) de participação de fontes
hídricas, comparando com Québec e Noruega nos quais mais de 90% da
capacidade instalada é hídrica243. Embora a geração hídrica na Colômbia
represente em média mais de 75% da geração total a cada ano, conforme se
mostra na Figura 57, observa-se que existe uma grande volatilidade da
produção a partir desta fonte, podendo chegar a representar tanto 83%, como
em 2008, quanto 65%, como em 2010. Este fato se explica pela vulnerabilidade
do sistema aos regimes hidrológicos do país.
114
Figura 58: Afluências regionais no sistema elétrico colombiano, 1995-2014
Fonte: Macias P, A (2013). Estudio de Generación Eléctrica Bajo Escenario de Cambio Climático.
UPME (p.17)
115
uma entidade privada, a XM e, por fim, criou-se um mercado de compras em
bolsa para a energia elétrica247.
Atualmente, o Mercado Atacadista de Energia (MEM) é composto pelo conjunto
de geradores e comercializadores que operam no SIN, permitindo que os
agentes realizem transações de compra e venda de eletricidade tanto de curto
quanto de longo prazo.
Nesse modelo, existe o mercado de contratos de longo prazo, com caráter
financeiro, em que os agentes obtêm cobertura frente à alta volatilidade de
preços da energia no mercado de curto prazo. O mercado de contratos de
eletricidade caracteriza-se por negociações bilaterais248.
Existe também um mercado de curto prazo (Bolsa de Energia ou spot) em que
os geradores, por meio de leilões diários, oferecem preços e declaram
disponibilidade de energia. Os preços spot são determinados a partir das
ofertas e disponibilidade declarada pelos geradores, sendo que os produtores
são despachados por ordem de mérito econômico249, vale dizer, em função do
seu custo marginal.
Neste contexto, considerando que mais da metade da capacidade instalada da
Colômbia corresponde a usinas hidrelétricas, pode-se concluir que o custo
marginal de geração na bolsa de energia é altamente vulnerável à
disponibilidade de recursos hídricos. Assim, conforme se observa na Figura 59,
existe alta volatilidade nos preços em função da ocorrência dos fenômenos
climáticos, principalmente El Niño que determina períodos de hidrologia crítica.
O fenômeno El Niño diminui o aporte hidrológico ao sistema elétrico
colombiano, fazendo com que a geração seja fortemente complementada por
fontes termoelétricas cujo custo marginal é maior, aumentando o preço na bolsa
de energia. Inversamente, na medida em que o aporte hidrológico aumenta, o
preço na bolsa de energia diminui (Figura 59).
116
Figura 59: Geração hídrica vs preço médio da Bolsa de Energia, 2003-2013
Fonte: Com base em dados de UPME(2014)- Boletin estadístico de minas y energia 2000-2013
Fonte: Com base em dados de UPME(2014)- Boletin estadístico de minas y energia 2000-2013
117
relação à produção gás natural, sendo que a partir de 2009 o país passou a
exportar seus excedentes principalmente para Venezuela252.
A demanda de gás natural por parte do setor elétrico é altamente variável, em
função da hidrologia. Na Figura 61 se constata que a demanda das usinas
térmicas pode representar mais de 30% da demanda nacional de gás natural,
por exemplo, como ocorreu em 2010. Enquanto, em um ano de hidrologia boa,
pode representar menos de 20% da demanda total, como exemplificado em
2008.
Fonte: Com base em dados de UPME (2014)- Boletin estadístico de minas y energia 2000-2013
252 Com base em dados de UPME (2014) – Boletin estadístico de minas y energia 2000-2013
253 CREG (2014). Sector Gas Natural em Colombia.
254 CREG (2014). Sector Gas Natural em Colombia (p.12).
255Estes contratos podem ser: de fornecimento firme, fornecimento firme condicionado, opção
de compra de gás e fornecimento com interrupções CREG (2014). Sector Gas Natural em Colombia
(p.17-20).
256 CREG (2014). Sector Gas Natural em Colombia (p.27-29).
118
No mercado secundário os consumidores que realizaram contratos com
interrupções no mercado primário vendem o gás que não consomem para os
outros agentes257. A venda pode ser realizada através da negociação direta258,
onde o vendedor realiza acordos livremente com o comprador; processo de
“use ou venda”, onde se realizam leilões independentes de oferta única
(envelope fechado) para o dia seguinte259; e através de um promotor de
mercado260.
O preço dos contratos de gás natural tende a refletir o preço na boca do poço
dos agentes produtores. Considerando que o campo Guajira representa
aproximadamente a metade da produção de gás natural da Colômbia (47% em
2013261), seu preço representa, razoavelmente, o preço na Colômbia. Assim, na
Figura 62 se observa a evolução do preço semestral do campo de Guajira na
Colômbia, destacando-se que entre o primeiro semestre de 2006 e o primeiro
semestre de 2014 o duplicou-se o preço deste campo.
Fonte: Com base em dados de UPME(2014)- Boletin estadístico de minas y energia 2000-2013
119
períodos de escassez262. Assim, o gerador que tem uma OEF recebe uma
remuneração estável durante um determinado período e se compromete a
entregar uma quantidade determinada de energia no mercado quanto o preço
da bolsa supere o Preço de Escassez263. O “Cargo por Confiabilidad” é pago por
todos os usuários do sistema interconectado da Colômbia e é arrecadado
através das tarifas de comercialização264.
Nesta seção estudaram-se os países que tem matrizes essencialmente hídricas.
Constatou-se que, embora as matrizes do Québec, da Noruega e da Colômbia,
sejam estruturalmente similares o preço da geração é diferente entre estes
países, afetando assim a tarifa dos consumidores finais.
Observou-se que no Québec e na Noruega o custo de geração é menor que na
Colômbia, em parte por que mais de 90% da matriz destes países é hídrica.
Enquanto a matriz da Colômbia tem uma alta participação de fontes térmicas,
caracterizando-se por ser uma matriz hidrotérmica.
Ainda no caso do Québec, constatou-se que os ativos de geração são antigos,
existe um contrato muito vantajoso de compra de energia com Churchill Falls e,
além disso, Québec realiza operações vantajosas de compra e venda em
diferentes mercados. Já no caso da Noruega, é o Nord Pool que determina o
custo da geração neste país.
Por fim, no caso colombiano, constatou-se que, embora em média 75% da
geração anula seja hidroelétrica, a fonte térmica tem um papel complementar
fundamental. Sendo o preço do gás natural que determina o custo da geração
térmica neste país.
120
5.4. Países da OCDE
A seguir se analisa a tarifa de energia elétrica nos países da OCDE 265. Observa-
se que neste grupo encontram-se todos os países europeus abordados no
estudo266, os estados americanos e a província de Québec267, a Coreia, o Japão e
os únicos dois países latino-americanos que pertencem à OCDE, o Chile e o
México268.
Os países da União Europeia (UE) têm unificado a política energética dos países
membros desde início da década de 1990, com os objetivos de dar maior
competitividade à indústria europeia e incrementar o bem estar dos
consumidores269. A construção de uma política energética comum requer que os
mercados internos de energia, entre eles os de eletricidade, tendam a ter a
mesma estrutura. Para isso se implantou um processo de liberalização dos
mercados de energia, processo que se iniciou oficialmente em 1992 quando a
Comissão Europeia formalizou o marco regulatório para a criação do mercado
de eletricidade, estabelecendo um calendário que se desenvolveria em três
etapas270, para introdução de mecanismos de concorrência na atividade elétrica.
A primeira etapa visava introduzir a transparência nos preços cobrados aos
consumidores industriais e garantir o livre acesso às redes. A segunda etapa
iniciada em 1997271 procurava desverticalizar o setor elétrico dos países
europeus, separando as atividades de geração, transmissão, distribuição e
comercialização. Por fim, a terceira etapa se iniciou em 2003272 com a
determinação de liberalizar o mercado varejista para todos os consumidores
industriais e residenciais. Neste esquema, todos os países europeus tendem a
ter uma mesma estrutura de mercado na qual as atividades de geração e
comercialização são competitivas, permitindo a concorrência de vários
geradores e comercializadores, enquanto as atividades de transmissão e
distribuição são monopólios naturais regulados pelo Estado.
Apesar de todos os países da UE terem modelos de mercado elétrico
semelhantes, o custo da geração varia entre os países devido ao fato de a
265 Brasil é o único país dos abordados nesta análise que não faz parte da OCDE (OCDE, 2015).
266Noruega, República Tcheca, França, Finlândia, Suécia, Reino Unido, Espanha, Portugal, Itália
e Alemanha.
267 Ver a análise do ponto 5.3.1 O baixo custo da geração no Québec.
Ver a análise destes países na parte dos países de América Latina, ponto 5.2 Os países da
268
América Latina.
269 Garcia, Y(2006). El mercado de energia en la Unión Europea. (p.90).
270 Garcia, Y(2006) El mercado de energia en la Unión Europea. (p.96).
271 Diretiva da Comissão Europeia 96/92 CE . Garcia, Y (2006).
272 Diretiva da Comissão Europeia 2003/54 CE . Garcia, Y (2006).
121
capacidade de troca de energia entre fronteiras ainda ser, na maior parte dos
casos, insuficiente para fazer convergir os preços dos mercados atacadistas. Na
Figura 63, os preços nos mercados atacadista dos países do centro oeste da
Europa – Alemanha (DE), Holanda (NL), França (FR) e Bélgica (BE) – não são
iguais, embora sejam considerados pela Comissão Europeia como um mercado
elétrico atacadista regional273.
Figura 63: Preço atacadista médio semanal de energia elétrica na região centro
oeste da Europa, 2014
Fonte: European Commission (2014) - Quarterly Reporto n European Electricity Markets. Market
observatory for Energy(p.15)
Por outro lado, existem grandes diferenças na estrutura geral de custos do setor
de cada país. Na Figura 64 se observa a tarifa residencial, expressa em centavos
de USD de 2013, destacando-se que todos os países europeus estudados,
excetuando Noruega, têm tarifas de energia elétrica residencial maiores que o
Brasil. Por exemplo, a tarifa da Alemanha, a mais cara da amostra, é 2,4 vezes
maior a tarifa brasileira.
Conforme será analisado mais adiante, as tarifas dos países da UE estão entre as
mais caras e uma das principais razões para isso está no uso da política
energética como uma das principais formas de atingir objetivos de política
climática. Em especial, a política de difusão de fontes renováveis de energia,
adotada pela Comissão Europeia, com metas individualizadas para cada país
membro, que devem ser atingidas até o ano 2020, fez com que os países
273 European Commission (2014). Quarterly Reporto n European Electricity Markets. Market
observatory for Energy (p.15).
122
adotassem diferentes incentivos para a inserção de fontes renováveis na matriz
elétrica, que acabaram encarecendo a tarifa dos consumidores finais.
No que respeita aos Estados Unidos, vale a pena notar que existem vários
sistemas elétricos independentes no país, operados por diversos operadores274.
Assim, apesar de existirem trocas de energia entre os diferentes sistemas, elas
são insuficientes para fazer convergir os custos dos diversos mercados
atacadistas. O estudo abarca os sistemas elétricos de quatro estados americanos,
Califórnia, Illinois, Nova York e Texas. Embora existam diferenças entre estes
sistemas, que determinam diferentes níveis de tarifas, como se observa na
Figura 64 e na Figura 65, as tarifas de 2013 nestes estados tiveram uma queda
em relação às tarifas de 2009. Isso aconteceu, em boa medida em função da
ampliação na produção de gás de xisto nos Estados Unidos, que beneficiou ao
setor elétrico com a queda do custo de geração, fator que será mais bem
analisado em seções subsequentes.
Por fim, vale a pena destacar também o caso do Japão que apresenta tarifas
industrial e residencial elevadas, conforme se observa na Figura 64 e na Figura
65. Sendo a tarifa residencial 59% maior que no Brasil, enquanto a tarifa
industrial é 47% maior que no Brasil. O comportamento da tarifa elétrica no
Japão pode ser explicado em boa medida pelo desligamento das geradoras
nucleares, logo após o acidente de Fukushima em 2011, que obrigou ao país a
substituir essa fonte de geração por termoelétricas com combustível importado.
274Segundo a Federal Energy Regulatory Commission (2015) nos Estados Unidos existem sete
operadores do sistema independentes: CAISO, ERCOT, SPP, MISO, PJM, NYISO e a ISO-NE.
123
Figura 65: Tarifa Industrial dos países da OCDE, 2013
275European Commission (2011). Energy 2020. A strategy for competitive, sustainable and secure
energy.
124
Tabela 22: Metas individuais para inserção de fontes renováveis na matriz
energética dos países da União Europeia
2005 2020
País (%) (%)
Alemanha 5,8 18,0
Espanha 8,7 20,0
Finlândia 28,5 38,0
França 9,6 23,0
Itália 4,9 17,0
Portugal 19,8 31,0
Reino Unido 1,3 15,0
Rep. Tcheca 6,1 13,5
Suécia 39,8 49,0
Fonte: Com base em dados de European Comission (2015)- Europa 2020
Fonte: Com base em dados de European Comission (2012). Legal Sources on Renewable Energy e
European Comission (2015)- Energy- National action plans
276A partir da informação para cada país disponibilizada pela European Comission (2012). Legal
Sources on Renewable Energy.
277A partir da informação para cada país disponibilizada pela European Comission (2012). Legal
Sources on Renewable Energy.
125
A FIT é um instrumento normativo que estabelece uma tarifa especial, diferente
do preço de mercado, ou um prêmio sobre o preço de mercado para
determinadas fontes de geração de energia elétrica278. Em geral este tipo de
incentivo é estabelecido segundo o tipo de fonte e, em alguns países, depende
também do tamanho do projeto ou de suas características, sendo que em geral
se estabelece um tempo limite durante o qual a FIT estará vigente para o
gerador. Este mecanismo requer que os geradores tenham livre acesso às redes
de transmissão e, sobretudo, que tenham prioridade no despacho de energia
garantindo-se assim o consumo total da energia gerada pelas fontes
incentivadas279. Este último ponto requer, em alguns casos, que se quebre a
ordem de mérito no despacho de energia, utilizando fontes renováveis que são
em última análise mais caras, em substituição à energia de outras centrais com
geração mais econômica.
O custo adicional decorrente da diferença entre as FIT e o preço do mercado,
dependendo do país, pode ser pago pelo consumidor final, como acontece em
quase todos os países da Europa analisados, ou pode ser arcado pelo Estado,
como acontece na Finlândia (Tabela 24). No caso das FIT serem arcadas pelo
consumidor final, este incentivo representa aumento da tarifa de energia
elétrica. Destacam-se os casos da Alemanha e da Itália nos quais se identificou
um encargo especifico destinado a financiar as FIT, na Alemanha o Erneuerbare-
Energien- Gesetz (EEG)280 e na Itália o encargo denominado A3281.
O RPS é um mecanismo que impõe uma obrigação às geradoras ou às
comercializadoras de energia elétrica de terem uma participação mínima de
fontes renováveis no mix de venda de energia282. Em alguns casos se delimita
uma participação mínima por tipo de fonte, podendo ser solar, eólica,
geotérmica, biomassa e, dependendo do país, hídrica. Inclusive consideram-se
algumas usinas com gás natural283 em países nos quais se utiliza
majoritariamente o carvão, já que a emissão de gases de efeito estufa é menor
nas usinas a gás natural.
O RPS284 usa, nos países europeus, um mecanismo de certificados verdes com
os quais os comercializadores demostram que uma percentagem da energia que
126
vendem advém de fontes renováveis. Estes certificados são outorgados aos
geradores renováveis que os comercializam com geradores convencionais ou
comercializadores que precisem atingir metas de energia renovável vendida no
mercado.
Conforme a Tabela 23 e a Tabela 24, constata-se que, dentre os países da Europa
analisados, Itália285, Reino Unido286 e Suécia287 aplicam este mecanismo. Este
tipo de incentivo tende a encarecer a tarifa do consumidor final, via um
aumento do custo da energia, já que a energia vendida pelos comercializadores
é encarecida por conta da compra de certificados verdes.
Embora tanto a FIT quanto o incentivo RPS tendam a encarecer as tarifas dos
consumidores finais, a diferença está em que as FIT são remuneradas
geralmente via impostos e encargos, enquanto os RPS oneram o custo da
energia vendida.
Além desses mecanismos, alguns países disponibilizam créditos com condições
especiais para a construção de usinas de geração a partir de fontes renováveis.
Conforme observado nos Planos Nacionais de Energias Renováveis,
apresentados pelos países da Europa à Comissão Europeia 288, estes créditos
especiais se caracterizam por baixas taxas de juros para alguns projetos de
energia renovável. Constata-se, nas Tabela 23 e Tabela 24, que Alemanha,
Espanha, Itália e Reino Unido têm este tipo de incentivos para a geração a partir
de fontes renováveis.
Adicionalmente, países como França289, Itália290, Reino Unido291 e Suécia292
apresentam um mecanismo de incentivos tributários através da isenção ou
redução das alíquotas de determinados impostos, conforme se observa na
Tabela 24.
Por fim, há casos em que um subsídio direto é pago pelo Estado aos produtores
de energia elétrica a partir de determinadas fontes renováveis. Na Tabela 23
285Italian Ministery for Economic Development (2010) Italian National Renewable Energy Action
Plan.
286 United Kingdom (2010). National Renewable Energy Action Plan for United Kigdom.
287 Regeringskansliet (2010) The Swedish National Action Plan for the promotion of the use of
renewable energy.
288 European Commission (2015). Energy- National action plans.
289 Ministère de l´Écologie (2010). National Action Plan for the promotion of renewable energies.
290Italian Ministery for Economic Development (2010) Italian National Renewable Energy Action
Plan.
291 United Kingdom (2010). National Renewable Energy Action Plan for United Kigdom.
292 Regeringskansliet (2010) The Swedish National Action Plan for the promotion of the use of
renewable energy.
127
observa-se que a Suécia293 e a Finlândia apresentam este tipo de incentivo, no
caso da Suécia exclusivamente para a geração solar, e no caso da Finlândia para
a geração hídrica, conforme a Tabela 24.
293 Regeringskansliet (2010) The Swedish National Action Plan for the promotion of the use of
renewable energy.
128
Os pequenos produtores (residenciais, pequenas indústrias ou comércios) podem optar
por um esquema FIT onde a tarifa é fixada segundo o porte da geração e da tecnologia
usada. O custo é repassado ao consumidor final de energia elétrica. Adicionalmente,
os grandes geradores estão sujeitos a um esquema RPS no qual devem fornecer uma
Reino parte da energia a partir de fontes renováveis (renewable obligation), para cumprir com
Unido esta obrigação os geradores devem apresentar certificados verdes comprados de
geradores renováveis dos quais adquirem a energia, ou através da produção própria de
usinas renováveis. Também estão disponíveis créditos com baixas taxas de juro para
investimentos em fontes renováveis. Adicionalmente, os geradores renováveis estão
isentos do pagamento do encargo CCL (Climate Change Levy).(7)
Aplicam-se FITs para incentivar a geração com fontes renováveis; o valor do benefício
República depende da tecnologia. O custo adicional decorrente das FIT é repassado ao
Tcheca consumidor final através da tarifa de distribuição como um encargo uniforme a nível
nacional.(8)
Aplica-se um sistema de RPS no qual os geradores e alguns consumidores tem a
obrigação de fornecer/consumir uma porcentagem da energia de fontes renováveis. Há
um sistema de certificados verdes no qual tantos produtores quanto consumidores
Suécia devem adquirir uma quantidade de certificados proporcional a sua geração ou
consumo. Adicionalmente existe um subsídio direto com fundos do Estado para o
investimento em painéis solares. Finalmente, os produtores de energia eólica têm
redução do imposto sobre energia e no imposto territorial (real state tax).(9)
Fonte: Com base em dados de European Comission (2012). Legal Sources on Renewable Energy e
European Comission (2015)- Energy- National action plans294
294 Fontes: (1) Federal Rebublic of Germany (2010). National Renewable Energy Action Plan.
(p.64) (2) Ministério de Indústria, Turismo e Comercio (2010). Spaina National Renewable
Energy Action Plan 2011-2020. (P.9;111-117) (3) Ministery of Employment and Economy (2010).
Finland´s national action plan for prommoting energy from renewable sources (p.2-5) (4)
European Comission (2012). Legal Sources on renewable energy France (5) Italina Ministery of
Economic Development (2010). Italian national renewable energy action plan. (p. 50-54;109-111)
(6) National Renewable action plan Portugal (p.91-93) (7) National Renewable action plan for
the United Kindom (p.72; 115-120) (8) Ministery of Industry and Trade (2010). National
Renewable energy action Plan of the Czech Republic. (p.52-55) (9) Regeringskansliet (2009) The
swedithnational action plan for de promotion of the use of renewable energy (p. 80-90)
129
encargo ou tributo, que cubra o subsídio, pois se adotou um mecanismo em que
o subsídio aparece como “custo da rede”295.
Por outro lado, o esquema de RPS impacta os custos de geração já que, em
geral, são os produtores de energia elétrica ou os comercializadores que devem
ter parte de seu mix de geração com fontes renováveis, aumentando assim seu
custo médio. O caso da Suécia é particular por que alguns consumidores
também tem a obrigação de comprar parte da energia de geradores renováveis,
contudo neste caso é também o custo de geração que aumenta.
A despeito dos impactos na tarifa, os resultados da política de incentivo às
renováveis em termos de aumento da participação na matriz elétrica são
inquestionáveis. Destaca-se que entre 2008 e 2012 a Alemanha e a Itália foram
os países com maior aumento de capacidade instalada de fontes eólica e solar
nas respetivas matrizes elétricas (Figura 66), sendo que são estes dois países os
que apresentam as maiores tarifas residenciais dentre os países estudados
(Figura 64) representando os impostos e encargos mais de um terço da tarifa
residencial final em ambos os casos, 48,7% na Alemanha e 33,2% na Itália.
15
10
5
-
DEU ESP FIN FRA ITA PRT UK CZE SWE
2008 2012
295Mesmo o valor do subsídio pago explicitamente aos geradores renováveis nem sempre é
uma boa aproximação para o custo dos programas de incentivo. Isto porque a geração
renovável, em momentos de muita chuva ou muito vento, desloca os geradores tradicionais e
reduz os preços do mercado diário, reduzindo com isso o custo da energia convencional no
mercado. A redução do preço no mercado diário por um lado barateia o custo da energia para o
consumidor final, e por outro, aumenta o valor pago a título de subsídio ao gerador que
corresponde à diferença entre a FIT e o próprio preço de mercado.
130
5.4.2. O efeito do gás de xisto nos Estados Unidos
A inovação tecnológica na exploração de gás natural permitiu aceder a reservas
que eram consideradas não viáveis por estarem localizadas em formações
geológicas compostas de xisto, arenito e carbonato. A produção em grande
escala de gás de xisto nos Estados Unidos começou em 2000 com a exploração
do campo de Barnett no norte de Texas296. Conforme se observa na Figura 67, a
partir desse ano começou-se a exploração de gás de xisto em vários outros
campos aumentando desta forma a oferta deste combustível no mercado
interno. Constata-se ainda, na Figura 67, que desde 2008-2009 houve uma
explosão da oferta em função tanto do maior número de campos explorados
como da maior produção por campo. De fato entre janeiro de 2008 e dezembro
de 2014 a produção de gás de xisto aumentou em 525%, passando de 6,25 para
39,1 bilhões de pés cúbicos por dia297.
Figura 67: Produção de gás de xisto nos Estados Unidos segundo campos
explorados, 2000-2014
A nova tecnologia fez surgir, nos Estados Unidos, a produção em grande escala
de gás xisto. Porém, como esta produção não pode ser exportada para o
131
mercado internacional, os preços do gás no mercado interno americano caíram
muito.
Segundo o estabelecido na Seção 3 da Lei de Gás Natural (Natural Gas Act) tanto
a exportação quanto a importação de gás natural nos Estados Unidos requerem
autorização prévia, sendo que esta somente poderá ser outorgada se a
Comissão responsável considerar que a exportação ou importação deste
combustível não é contra o interesse público do país298. O Department of Energy´s
Office of Fossil Energy e o Federal Energy Regulatory Commission têm que dar
autorização ao produtor para que ele possa exportar gás299. Embora a
exportação seja possível, existe na prática uma barreira à livre saída deste
combustível dos Estados Unidos: pedidos para autorizações para a construção
de terminais de liquefação de gás para exportação não têm sido atendidos ou o
processo demora muito tempo. Na impossibilidade de exportar os excedentes
de gás domésticos, a dinâmica do mercado interno americano de gás natural
descolou completamente do mercado internacional. Atualmente (2015) existe
um debate no Congresso Americano sobre os possíveis efeitos do aumento da
exportação de gás natural sobre o preço do mercado interno. Um aumento
significativo da exportação de gás natural tende a exercer pressão para aumento
do preço no mercado interno300.
No mercado interno, o aumento da oferta de gás de xisto fez com que o gás
natural fosse substituindo outros combustíveis fósseis principalmente do
petróleo, conforme se mostra na Figura 68 onde se observa o índice de consumo
de gás natural, petróleo e carvão, sendo que não houve uma grande variação no
consumo deste último.
298 Estados Unidos. U.S Code. Title 15. Commerce and trade. Chapter 15B. Natural Gas. §717b.
(p.1002).
299Congressional Research Service (2015) U.S. Natural Gas Exports: New Opportunities, Uncertain
Outcomes (p.1).
Congressional Research Service (2015) U.S. Natural Gas Exports: New Opportunities, Uncertain
300
Outcomes (p.1)
132
Figura 68: Índice de variação de consumo de combustíveis fósseis nos Estados
Unidos, 2000-2013 (2006 = 1)
Fonte: Com base em dados de EIA (2015), Coal, natural gás, petroleum
Em paralelo, houve alguma redução nas importações de gás, embora o país siga
importando volumes significativos, sobretudo do Canadá (Figura 69)301. A
produção de gás convencional, porém, vem declinando.
301O Gás Coalbed e o Gás de Xisto constituem o grupo de produção de gás não convencional. O
Gás Coalbed é aquele produzido durante o processo de formação do carvão, assim a produção de
gás é realizada a partir da extração do gás das microestruturas do carvão. O Gás de Xisto é
aquele extraído das formações orgânicas de xisto. EIA (2015). Natural Gás.
133
termoelétricas. Assim entre 2000 e 2012 a capacidade térmica (carvão, gás
natural e petróleo) significou, na média, 75,6% da matriz elétrica302.
Graças ao aumento da oferta de gás natural nacional, a geração de energia
passou a utilizar cada vez mais este combustível, beneficiando-se da queda no
preço e reduzindo o custo da produção de eletricidade. Conforme se observa na
Figura 70, entre 2000 e 2014 houve uma queda na geração de energia a partir de
carvão e petróleo e um incremento da geração a partir de gás natural. Esta
tendência é mais acentuada a partir de 2008 quando se observa uma forte queda
da geração a partir de carvão passando de 1.985 TWh em 2008 para 1.585
TWh303 em 2014, queda de 20,1%. A geração a partir de gás natural aumentou
em 27,1% entre 2008 e 2014, passando de 883 TWh em 2008 para 1.121 TWh em
2014304.
Figura 70: Geração de energia elétrica em TWh, por tipo de combustível, nos
Estados Unidos, 2000-2012
134
Segundo, no caso dos Estados Unidos, considerando que existe uma barreira à
exportação de gás natural, os produtores de gás de xisto não podem vender
livremente sua produção no mercado internacional. Essa restrição tende a
reduzir o preço no mercado interno. Em suma, o boom do gás de xisto nos
Estados Unidos beneficiou a queda no custo de produção de energia elétrica.
Por outro lado, a redução do preço interno do gás natural acabou afetando
também o preço doméstico do carvão, pois tratam-se de bens substitutos. Na
prática, o menor custo do gás aumentou o despacho das plantas a gás e reduziu
o consumo de carvão para geração de energia elétrica. E a menor demanda por
carvão acabou induzindo a uma queda de preços que, por sua vez, beneficiou
inclusive estados que não têm parque gerador a gás expressivo.
Embora no nível nacional a geração total a partir de gás natural tenha
aumentado significativamente, em cada estado esta evolução foi diferente. Na
Tabela 25, se observa que em geral houve um aumento da capacidade instalada
de gás natural nos estados estudados, excetuando-se o Texas. Importante
destacar que nestes quatro estados houve um aumento importante da geração
eólica, principalmente no Texas, fator que contribuiu para que a capacidade de
usinas a gás represente uma proporção menor da capacidade total 305. Contudo,
em 2012, na Califórnia, Nova York e no Texas as usinas a gás natural
representaram mais de 40% da capacidade total.
135
Nos outros três estados, em 2013 a geração de energia a partir de gás natural
representou uma parte importante do total: na Califórnia representou 60%, em
Nova York 40% e no Texas 47%307.
Figura 71: Geração de energia elétrica a partir de gás natural por estado
Assim, a queda observada no preço do gás natural para o setor elétrico teve
influência na redução da tarifa de energia elétrica nos estados estudados. Os
quatro estados estudados apresentaram uma tarifa menor em 2013 do que em
2009, conforme Figura 72, sendo o baixo preço da geração termoelétrica a partir
de gás nacional e a queda no preço do carvão fatores que influenciaram nesta
queda.
136
Figura 72: Comparação da tarifa industrial dos estados americanos, 2009 e
2013
12,00
10,00
8,00
-31%
-19%
cUSD/kWh
-25%
6,00
4,00
2,00
-
USA - CAL USA - ILL USA - NY USA - TEX
2009 2013
137
Embora a capacidade instalada de energia nuclear tenha diminuído, a produção
de energia nuclear diminuiu muito mais, com o desligamento de várias usinas
cuja performance foi reavaliada após o acidente de Fukushima. Conforme se
observa na Figura 73, entre 2008 e 2012 a geração nuclear caiu de 241,3 TWh
para 17,2 TWh, passando de 23,8% da geração total em 2008 a representar
apenas 1,8% do total em 2012.
Enquanto isso, para compensar a queda da geração nuclear, houve um forte
incremento da produção térmica convencional: de 24,15% entre 2008 e 2012,
neste último ano representou 85,8% do total da geração do Japão.
O Japão se caracteriza por ser um país com escassos recursos fósseis, sendo que
deve importar praticamente todos os combustíveis consumidos. De fato, o
Japão é um dos maiores importadores de petróleo e gás natural, e é o maior
importador de GNL do mundo311.
Esta grande dependência da importação de combustíveis fósseis faz com que o
custo de geração seja alto. Na Figura 74 se observa que logo após 2011 (acidente
de Fukushima) o custo de geração aumentou em função do aumento do uso do
gás natural e do óleo combustível para a geração de energia elétrica, em
substituição à energia nuclear. Assim entre 2010 e 2012 o custo de geração no
Japão teve um aumento de 41%.
138
Figura 74: Custo da geração de energia elétrica no Japão entre 2006-2012
Fonte: Matsuo, Y; Yamaguchi, Y (2013) The rise in cost of power generation in Japan after the
Fukushima Daiichi accident and its impacts on the finance of the Electric Power Utilities. The Institute of
Energy Economics, Japan , (p.1)
139
Figura 75: Tarifa industrial e residencial do Japão, 2009 e 2013
30,00
12%
25,00 26,45
23,61
20,00
16%
cUSD/kWh
18,08
15,00
15,54
10,00
5,00
-
residencial industrial
2009 2013
Nesta seção será realizada uma análise do Brasil em relação aos outros grupos
de países dos quais faz parte (BRICS, América Latina e países hídricos).
312 Para uma análise dos outros países dos BRICS ver ponto 5.1BRICS.
140
Figura 76: Tarifas residencial e industrial dos BRICS, 2013
18,0
16,6
16,0
14,0
12,3
12,0
9,7
cUsd/kWh
10,0 9,4
8,0
6,6 6,3 6,6
6,1
6,0 5,0
4,0
2,0
0,0
RUS IND* CHN ZAF BRA
residencial industrial
141
sobre o setor elétrico refletiu diretamente no valor das tarifas, pois tipicamente
há direcionamento de recursos fiscais ao setor elétrico e não se respeita uma
lógica de rentabilidade de mercado para o capital estatal investido.
Ambiente institucional
Rússia
A Rússia313 passou por reformas profundas que se iniciaram em 2002, tendo o
processo de liberalização do seu setor elétrico começado efetivamente em
2005314, visando à modernização do mesmo. Entre 2007 e 2011, o processo de
liberalização continuou por meio de privatizações de diversos ativos de geração
e através de novas regras para os mercados atacadista e varejista; a RAO UES,
holding que controlava a maior parte do setor elétrico, foi dividida e
desverticalizada, com privatização de diversas das empresas que a
compunham315.
Dez anos depois do início das reformas, em 2012 houve uma substancial
reversão do processo de liberalização, com a reconsolidação dos ativos de
transmissão e distribuição nas mãos do governo316. No fim de 2012, o presidente
Vladimir Putin assinou um decreto que estabelece que grande parte dos ativos
de transmissão e distribuição deve ser controlado pelo Estado para o
estabelecimento de uma política centralizada, com investimentos uniformes e
coordenados em redes de transmissão e distribuição.
Neste novo cenário, embora a Rússia tenha aderido ao processo de
privatizações, as redes nacionais permanecem sob tutela do Estado por serem
consideradas monopólios naturais. Duas entidades são responsáveis pela
transmissão: a Federal Grid Company (FSK), que detém sob sua tutela os ativos de
transmissão da Rede Elétrica Unificada Nacional; e a SO-UPS, responsável por
operar a rede em um despacho centralizado e ótimo dos recursos317. Na
distribuição existe também da JSC Russian Grids, que engloba companhias de
distribuição regionais e inter-regionais.
Na geração, a era das privatizações deu espaço à entrada de empresas
estrangeiras. Embora várias usinas tenham sido privatizadas, o Estado Russo
ainda é proprietário das usinas hidrelétricas e nucleares, fontes prioritárias de
despacho. A capacidade hidrelétrica do país representa 20,6% enquanto a
313 Para uma maior análise da Rússia ver ponto 5.1.1Rússia: abundância de recursos.
314 IEA(2014) Russia. Energy Policies Beyond IEA Countries (p.196).
315 IEA(2014) Russia. Energy Policies Beyond IEA Countries (p.196).
316 UK Practical Law (2014) Electricity regulation in the Russian Federation: overview.
317Oksanen M. Karjalainen R., Viljainen S. e Kuleshov D. (2009) Electricity Markets in Russia,
the US and Europe.
142
nuclear representa 11,3%318. O Estado ainda é dono de mais de 30% da
capacidade instalada do país e das quatro maiores empresas geradoras do setor:
Gazprom, RusHydro, Inter RAO e Rosatom.
Os preços no mercado elétrico russo têm sido gradualmente liberalizados nos
últimos anos, mas sem choques, a fim de evitar a desestabilização do setor de
energia. Da energia comercializada no atacado, 2% correspondem a contratos
bilaterais, 18% a tarifas reguladas de geração e 80% da energia é transacionada
no mercado do dia seguinte (DAM).
O mercado varejista permanece fortemente regulado. Os participantes desse
mercado são os comercializadores e companhias de vendas, incluindo o
comercializador de última instância e companhias varejistas. Na Rússia, existem
comercializadores (GSs) que fornecem eletricidade por obrigação universal aos
consumidores finais em áreas geográficas definidas. Em muitas regiões, os
consumidores não podem escolher seus comercializadores, sendo que os GSs
locais atuam como monopólio. As tarifas residenciais são reguladas pelo
governo. Os comercializadores atuam como empresas independentes de venda
de eletricidade aos consumidores residenciais, industriais e comerciais.
Em 2014 o processo de liberalização sofreu novo revés. Com a desvalorização
forte desvalorização do rublo provocada pela adoção de sanções internacionais
à Rússia devido à invasão da Criméia e pela queda abrupta do preço do
petróleo, tanto o preço interno do gás (relacionado ao valor em dólar do
produto exportado) como o da eletricidade deveria sofrer um reajuste
expressivo. Entretanto o governo optou por interromper a progressiva
convergência entre o preço de exportação do gás e o preço para consumo
interno, decretando um congelamento de tarifas de gás e eletricidade.
Índia
Na Índia, a partir dos anos 1950 (pós independência), o governo passou a
participar mais ativamente do setor elétrico por meio da Resolução de Política
Industrial de 1956, que previa geração, transmissão e distribuição de energia
quase que exclusivamente estatais. Essa resolução e anteriormente o Ato de
Eletricidade de 1948 – que permitiu a criação de Agências Estaduais de
Eletricidade (State Electricity Boards ou SEBs) –, tornaram o governo o
verdadeiro responsável pela eletricidade no país. Através do Ato de 1948 a
Central Electricity Authority foi criada para planejar a expansão da matriz. Além
disso, a Constituição indiana precisava que “eletricidade” era uma matéria de
competência conjunta do Governo Central e dos Estados. A energia elétrica
naquela ocasião estava restrita a regiões urbanas e ausente nos campos e
vilarejos, que concentravam a imensa maioria da população.
143
No ano de 1991, seguindo o exemplo de outros países, a Índia anunciou uma
política de liberalização do setor elétrico para uma maior participação
privada319. No mesmo ano, o Ato de 1948 foi emendado para garantir a criação
de companhias privadas de geração. Houve esforços no sentido de melhorar o
ambiente financeiro para particulares a fim de que os retornos de investimentos
em instalações elétricas fossem mais atrativos. As respostas dos agentes
privados às iniciativas do governo indiano foram positivas inicialmente. No
entanto, muitos projetos encontraram entraves significativos na finalização de
acordos de compra de eletricidade, na transparência de mercado e nos contratos
para fornecimento de combustíveis. Alguns credores privados relutaram em
financiar grandes projetos independentes de energia e vender eletricidade a um
comprador monopolista como um SEB.
Atualmente o sistema elétrico na Índia tem uma organização bastante
heterogênea havendo, em um extremo, Estados com divisão entre geração,
transmissão, distribuição e comercialização, como o Rajastão e Delhi e, no outro
extremo, Estados onde as empresas de energia ainda estão verticalizadas, como
por exemplo, em Kerala ou em Manipur.
Embora tenha realizado reformas em seu setor elétrico visando aumentar a
participação de agentes privados no setor, principalmente na geração, grande
parte ainda é estatal. Da mesma forma, a regulação da transmissão e
distribuição é competência dos estados320. A distribuição é gerida por várias
empresas de distribuição (DISCOMS) e regulada por agências estaduais de
eletricidade (SEBs). O Ministry of Power lista 41 DISCOMS na Índia. Alguns
estados só possuem uma (Meghalaya, Assam); outros, cinco (Uttar Pradesh,
Karnataka). Os sistemas de distribuição foram privatizados em Délhi e em
Odisha321.
As distribuidoras atuam também como comercializadoras, pois não há a opção,
para um cliente residencial, de escolher seu fornecedor. Já os clientes com
demanda elétrica acima de 1 MW podem comprar energia bilateralmente de um
gerador. Existe um forte subsídio cruzado das indústrias às residências. Além
disso, as empresas estatais de rede têm, em grande parte dos estados, que arcar
com a diferença entre o custo real de geração e a receita arrecadada com as
tarifas efetivamente aplicadas.
China
Na China, historicamente o Ministério da Energia Elétrica atuou como
formulador de políticas energéticas, regulador e operador do sistema elétrico.
144
Através do Ministério, as províncias chinesas detinham monopólios integrados
em transmissão, distribuição e comercialização em suas jurisdições
específicas322. Na geração, o governo buscou investir na expansão da
capacidade instalada com financiamentos suportados principalmente por
bancos públicos. Já no início da década de 1990, o governo promulgou uma
série de regulações que pretenderiam encorajar o investimento estrangeiro
direto privado na área de energia elétrica.
Em 1997, a State Power Corporation of China (SPCC) foi criada para assumir as
funções administrativas do Ministério de Energia Elétrica relacionadas às
companhias elétricas. As empresas provinciais passaram a ser subsidiárias da
SPCC. Assim, a estatal SPCC detinha a maior parte da infraestrutura de redes e
concentrava 50% da capacidade de geração. O restante era propriedade de uma
variedade de empresas públicas de todas as esferas 323.
Entre 1998 a 2002, várias medidas foram tomadas para reorganizar a SPCC,
como a tentativa de separação dos ativos de geração e redes. Embora o governo
tenha saído parcialmente da administração operacional da indústria elétrica, o
monopólio SPCC continuava a dominar o setor.
Em 2002, com os problemas políticos internos, o órgão mais importante do
governo, Conselho de Estado, assumiu o controle do processo de reforma do
setor elétrico, em uma centralização de tarefas. Assim, cinco anos depois de
criada, a SPCC foi segmentada, com o objetivo de reduzir a concentração de
propriedade em ativos de geração e redes. A empresa foi desverticalizada e
cinco empresas que só atuariam no segmento de geração foram criadas. Porém,
no ano de 2010, as empresas advindas da segmentação da SPCC ainda eram
responsáveis por metade da capacidade de geração da China. O restante era de
diversas empresas públicas, com ou sem envolvimento de uma das cinco
companhias do ex-monopólio.
Existem geradoras privadas no país, sendo, no entanto pouco expressivas para
a capacidade total de geração. Com o aumento das receitas públicas, o
fortalecimento de geradoras estatais (que têm fácil acesso de crédito) e o
impacto da crise de 2008 nas finanças das empresas estrangeiras, o setor público
consolidou-se na cadeia de geração.
Em transmissão e distribuição, duas companhias foram criadas como
proprietárias e operadoras do sistema chinês: State Grid Company (SGCC) e
Southern China Power Grid (SCPG)324. A State Grid é responsável pela maior
parte do território e pelas linhas de transmissão inter-regionais. Já a Southern
Power atua no sul da China. No entanto, a distribuição não foi separada da
145
transmissão e a função de despacho não foi separada da propriedade dos
ativos. As empresas de transmissão também atuam na distribuição e na
comercialização de energia elétrica. O Estado chinês controla ainda os preços e é
o principal investidor do país325.
África do Sul
A África do Sul, por fim, caracteriza-se por ter no setor elétrico um monopólio
verticalmente integrado, detido pela empresa pública Eskom (propriedade
100% estatal), o que significa que o governo da África do Sul detém o controle
sobre todo o setor326. A existência desse monopólio reflete a política nacional de
concentração dos serviços públicos sob tutela do Estado para obter economias
de escala e assegurar a viabilidade no financiamento de empreendimentos
energéticos com retorno de longo prazo. Nessa visão, a competição e
participação privada são consideradas insuficientes para garantir a provisão de
serviços de infraestrutura327.
No início dos anos de 1990, formulou-se um ambicioso plano de privatização e
reestruturação do setor elétrico, à espelho de outros países que liberalizaram
seus mercados. O foco da reforma sul-africana foi buscar a participação do setor
privado na indústria elétrica, tendo o objetivo claro de introdução de
competição, especialmente no segmento de geração, e a permissão do livre
acesso ao sistema de transmissão, com estímulo da participação de agentes
privados no setor elétrico. Também estava previsto dar ao consumidor o direito
de escolher seu fornecedor de eletricidade.
A Eskom foi transformada em sociedade com autonomia de gestão e, em 2001,
suas atividades (geração, transmissão e distribuição) foram separadas, bem
como seus recursos financeiros foram delimitados328. A rede de distribuição
deveria ser fragmentada para ser reformulada em seis novas empresas
distribuidoras, cuja propriedade seria detida pela Eskom e pelos municípios. O
intuito era trazer concorrência e participação do setor privado na distribuição.
No entanto, o processo envolveu uma legislação complexa, principalmente em
relação à transferência dos ativos. Em 2005, apenas uma empresa havia sido
criada, mas foi dissolvida logo depois329. A incerteza institucional sobre quais
papéis o setor público e o privado passariam a exercer contribuíram para um
colapso nos investimentos.
146
A espera por investimentos em geração pela iniciativa privada entre 2002 a 2006
tornou o setor elétrico decadente e cinco anos foram perdidos sem a adição de
capacidade de geração. A sinalização de mudanças não era clara e a burocracia
era adversa, gerando incertezas. Nesse ínterim, a demanda continuou a crescer,
levando o setor elétrico a atuar com uma reserva cada vez menor.
Em 2004, o governo anunciou que a Eskom não seria mais desverticalizada nem
privatizada. Em 2008, depois de anos de poucos investimentos com forte
expansão da demanda de energia elétrica, o setor elétrico enfrentou uma crise
que foi respondida com cortes programados e reajustes tarifários elevados para
financiar a construção de novas plantas pela Eskom. O projeto do mercado de
eletricidade foi encerrado e a Eskom recebeu novamente autorização para
investir em nova capacidade de geração. O governo passou a encarar a Eskom
como uma campeã nacional, que deveria liderar os investimentos em
infraestrutura dando apoio ao crescimento econômico e melhorando o bem-
estar, como fazia antes.
Brasil
Embora o governo brasileiro seja presente no setor através de estatais federais e
estaduais, há claramente um maior grau de liberalização do sistema em relação
aos demais BRICS e a tarifa nacional reflete uma remuneração do capital de
mercado em toda a cadeia de produção. Esta questão é fundamental para que se
compreenda o valor mais elevado da tarifa brasileira quando comparada aos
demais países dos BRICS, pois nestes outros as empresas estatais nem sempre
recebem uma remuneração de mercado.
Regulação econômica
Rússia
Na Rússia o modelo tarifário que define o preço da energia elétrica inclui os
custos com geração (atacadista e regional), rede (transmissão e distribuição),
infraestrutura (remuneração do operador de mercado e do operador da rede) e
o custo de comercialização (GSs). O modelo tarifário geral aplicável às redes de
transmissão e distribuição na Rússia prevê tarifas para o sistema baseadas no
retorno do capital investido. A principal característica da recente regulação é
que o capital investido em um monopólio natural deverá gerar um retorno
suficientemente atrativo para novos investimentos, além de considerar o risco
do investidor. O objetivo do Estado foi criar condições de atrair capital privado
para o desenvolvimento das redes elétricas e teve como base experiências
internacionais bem sucedidas. Na aplicação do sistema de retorno sobre o
capital investido (também chamado de “receitas brutas requeridas”) são
definidos parâmetros com o objetivo de controle de “longo prazo” (durante o
período regulatório de 5 anos). Porém, o controle de longo prazo é de fato
realizado paulatinamente através de ajustes anuais.
147
No cálculo do retorno sobre o capital investido, as receitas brutas requeridas
para a fixação de tarifas são determinadas levando em consideração o nível
básico de custos operacionais, índice de eficiência dos custos operacionais, o
montante de capital investido, o capital de giro, uma taxa de retorno sobre o
capital investido, as perdas e o nível de confiabilidade e qualidade do serviço.
Embora tenha um modelo tarifário bastante sólido no papel, e semelhante ao
dos mercados liberalizados dos países desenvolvidos, o governo russo optou
por não utilizá-lo. Em 2012 houve a reestatização das empresas de rede e em
2014 foi determinado o congelamento de preços das tarifas de todos os
monopólios naturais, o que inclui o setor elétrico, indo contra o plano original
de liberalização, abalando a confiança de investidores privados e não seguindo
seque o reajuste planejado de tarifas segundo a inflação330.
Índia
Na Índia, a Lei de Eletricidade de 2003 autoriza o Governo Central a formular a
política tarifária (Tariff Policy) e a Política Nacional de Energia Elétrica. As
tarifas são estabelecidas pela Central Electricity Regulatory Commission (CERC) e
pelas State Electricity Regulatory Commissions (SERCs), de responsabilidade de
cada Estado331.
Segundo a Política Tarifária Nacional, as Comissões devem determinar as
tarifas com o princípio de multi-year tariff (MYT), adotado para todas as tarifas a
partir de janeiro de 2006. Estas levam em conta os custos com geração,
transmissão e distribuição para a formulação do preço final da eletricidade.
O custo de compra da energia incorpora os custos de geração e os custos de
transmissão. Por exemplo, para a cidade de Delhi, a geração responde por 80%
do preço final. O custo de operação e manutenção considera os custos das
distribuidoras em reparação, manutenção do sistema, administração e com
pessoal. Contabiliza 10% do preço aos consumidores finais na mesma cidade.
Por fim, os custos financeiros englobam a remuneração e depreciação dos ativos
das distribuidoras, os juros e impostos estabelecidos pelo governo. Esses custos
perfazem os restantes 10%. Dessa forma, verifica-se que o custo das
distribuidoras em Delhi é uma pequena fração do custo final (10%). Já em
Mumbai, os custos com distribuição respondiam por 15,6% do preço da energia
final em 2009332.
Embora haja um modelo tarifário, os governos estaduais tendem a manter a
tarifa artificialmente baixa, não repassando os custos totais envolvidos na
148
geração, transmissão, distribuição e comercialização de energia ao consumidor
final.
China
O regulador chinês (NDRC), por sua vez, não reflete obrigatoriamente na tarifa
cobrada sequer os custos de produção. O sistema de precificação das tarifas aos
consumidores finais mudou pouco na década de 1990 e continuou a ser baseado
no modelo criado na década de 1960, chamado “catálogo”.
O sistema “catálogo” é um método de valoração as tarifas elétricas de acordo
com diferentes tipos de consumidores e permite que o governo dê um
tratamento preferencial à indústria pesada, instalações químicas e setor
agrícola. Esse método conta com categorias de consumidores (ex: residencial,
comercial, alta indústria, indústria em geral, iluminação não-residencial,
agricultura e irrigação em áreas pobres) em classificações de tensão, sendo o
sistema aplicado para toda a China. Ele é o ponto de partida para o cálculo das
tarifas finais, sendo acrescentadas outras cobranças e taxas locais.
O modelo tarifário atual não determina as tarifas de redes (T&D) de forma
sistemática e transparente, para refletir os custos (cost-reflective). Tampouco há
distinção clara entre os custos de transmissão e distribuição. Ao invés de iniciar
com uma avaliação bottom-up detalhada de custos, o NRDC toma os preços
praticados como ponto de partida, fazendo os ajustes nos preços da geração e
do varejo. Os custos de transmissão e de distribuição são embutidos nos preços
de varejo cobrados dos usuários finais. Em essência, a diferença entre os preços
de varejo e custos de geração, abrangem transmissão, distribuição, e as funções
restantes das empresas de energia elétrica.
Assim como na Índia, a prioridade é manter uma baixa tarifa, melhorando o
acesso da população de baixo poder aquisitivo à rede elétrica e aumentando a
competitividade da indústria.
África do Sul
Por fim, a tarifa da África do Sul é determinada seguindo uma lógica distinta à
brasileira, uma vez que há um monopólio estatal sobre o setor elétrico que é
instrumento para as políticas públicas no setor elétrico. Na verdade, a regulação
econômica vigente na África do Sul é uma variante da regulação pelo custo do
serviço (taxa de retorno), que em princípio, pode proporcionar à Eskon um
retorno sobre o investimento compatível com o retorno de mercado. Mas na
prática, pelo menos até o momento o regulador fixa as tarifas em um nível bem
mais baixo do que o seria de se esperar, favorecendo a manutenção de um nível
de tarifas reduzido. Assim, as tarifas na África do Sul, pelo menos no presente,
visam mais a sustentabilidade financeira dos negócios da Eskom e a
preservação de sua capacidade de investimentos, do que atingir a rentabilidade
de mercado.
149
O regulador sul-africano (NERSA) estabeleceu o modelo de revisão da receita
da Eskom (reposicionamento tarifário) baseado na metodologia batizada de
Multi Year Price Determination (MYPD). Elaborado em 2005, o MYPD consolidou
e alinhou em um único documento a metodologia regulatória para avaliação
dos pedidos da Eskom sobre as necessidades de receita.
O MYPD incorpora como modelo princípios da regulação por Taxa de Retorno
(Rate of Return - ROR) bem como princípios de regulação por incentivos. Há
incentivos à redução de custos nos serviços de transmissão e distribuição, à
eficiência energética e mecanismos que permitem a introdução de gestão pelo
lado da demanda - Demand Side Management - (EEDSM). A aplicação da
metodologia ROR definida no MYPD preconiza que “a receita a ser auferida
pela Eskom deve ser igual ao custo eficiente para fornecer eletricidade mais um
retorno justo sobre a base tarifária”.
A metodologia é aplicada sobre um Plano de Negócios pleiteado pela Eskom, a
ser aplicado durante o período regulatório seguinte, com período de 5 anos.
Para a determinação dos preços ao longo do ciclo adiante, a metodologia
procura atingir alguns objetivos regulatórios, como garantir a sustentabilidade
da Eskom como negócio e limitar o risco de excesso ou retornos inadequados,
dando incentivos para novos investimentos, especialmente em geração;
assegurar uma razoável estabilidade tarifária e mudanças suavizadas ao longo
do tempo e de acordo com objetivos socioeconômicos do Governo; alocar
adequadamente o risco comercial entre a Eskom e os seus clientes; fornecer
incentivos à eficiência sem levar a impactos indesejados da regulação sobre o
desempenho; fornecer uma base sistemática para a definição de receita / tarifa;
e garantir a coerência entre os períodos de controle de preços.
No mundo real, a implementação do modelo, porém, tem sido feito de forma a
conter as tarifas. Por um lado, a base regulatória de ativos considera os valores
históricos dos mesmos. Com muitos investimentos antigos, construídos nas
décadas de 1970 e 1980, os ativos da Eskon de fato já se encontram bastante
depreciados. Somando a isso o efeito de uma inflação que entre 1995 e 2014 foi
em média 5,1%aa (dados obtidos em www.inflation.eu), o resultado é uma base
regulatória de ativos pequena e bastante defasada dos valores de reposição dos
mesmos.333
Por outro lado, a taxa de remuneração dos ativos que é empregada não tem
sido compatível com uma remuneração de mercado. No último ciclo, a NERSA
definiu uma taxa regulatória de retorno real sobre os ativos da Eskon de 8,16%.
Esta taxa deveria, em tese, ser aplicada sobre a base de ativos. Mas optou por
333Deloitte (2012). The economic impact of electricity price increases in various sectors of the South
African economy. (p.44). A Deloitte estima que o valor da base total de ativos da Eskon é inferior
ao valor de novas usinas com 10% da capacidade instalada total da Eskon.
150
calcular as tarifas para os três anos seguintes usando respectivamente 0,08%,
2,8% e 4,2% como taxa de retorno de forma a não onerar excessivamente os
consumidores.334
Se os parâmetros usados para o cálculo das tarifas da Eskon para o valor dos
ativos da empresa fossem compatíveis com seu valor novo de reposição ou com
o valor histórico corrigido e se fosse empregada uma taxa de retorno
compatível com a de mercado, é evidente que e as tarifas de eletricidade na
África do Sul seriam muito maiores.
Brasil
No Brasil, a tarifa de energia elétrica cobrada do consumidor final é fixada pela
Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica). A metodologia de cálculo da
tarifa precisa garantir o equilíbrio econômico-financeiro da concessão sem
onerar excessivamente o consumidor. Assim, a regulação tarifária brasileira
considera dois fatores: a modicidade tarifária e a racionalidade econômica dos
preços, que embutem uma remuneração ao capital investido compatível com o
custo de capital de mercado.
A Aneel adotou uma metodologia de cálculo de tarifa que decompõe os custos
envolvidos em três categorias distintas: custos não gerenciáveis, custos
gerenciáveis e componentes financeiros.
Custos não gerenciáveis
Os custos não gerenciáveis – denominados Parcela A – são totalmente
repassados aos consumidores, na medida em que são considerados custos que
independem do controle da administração da distribuidora de energia elétrica.
Tal categoria é composta basicamente pelo custo de compra da energia, pelos
encargos setoriais e pelo pagamento dos serviços de transmissão de energia a
longa distância.
Os valores pagos por geração e transmissão são determinados em sua maioria
em contratos de longo prazo estabelecidos via leilões. Há também parte dos
custos que reflete contratos de compra de energia mais antigos, bem como
projetos que vendem energia mediante uma tarifa regulada, como é o caso de
Itaipu, da Eletronuclear e das concessões renovadas de geração e de
transmissão.
Para garantir a expansão da matriz elétrica, o governo realiza leilões específicos
no Ambiente de Contratação Regulado (ACR) em que participam tanto agentes
públicos como privados, normalmente mediante a conformação de sociedades
de proposito específico (SPE), para disputar contratos de fornecimento de
334Deloitte (2012). The economic impact of electricity price increases in various sectors of the South
African economy. (p.52).
151
energia. Os leilões podem ser de energia existente, para projetos já em operação
que tenham energia descontratada, ou para novos projetos, podendo estes
últimos ser do tipo A-5 (contratação cinco anos antes da entrega da energia), A-
3 (três anos) dentre outros. Esses leilões buscam a contratação de energia mais
barata possível para ser alocada entre as distribuidoras e oferecem aos
geradores contratos de longo prazo que permitem, não somente remunerar o
capital, mas financiar os projetos.
Desta forma, o Estado atua como leiloeiro em nome das distribuidoras,
determinando o tipo de projeto que pode participar, estabelecendo o preço teto
e as condições de contração. Já as distribuidoras têm um papel passivo,
limitando-se a declarar a necessidade de compra de energia previamente ao
leilão e a assinar contratos com os geradores vencedores após o mesmo
resultado do certamente.
As receitas do transmissor são compostas por encargos do uso do sistema de
transmissão, pagos por geradoras, distribuidoras e grandes consumidores. Há
acesso não discriminatório à rede básica sob a operação do ONS.
O planejamento e a contratação dos serviços de transmissão, assim como
acontece com a compra de energia, são realizados pelo Estado brasileiro de
forma centralizada, de forma que os Contratos de Uso do Sistema de
Transmissão são impostos às distribuidoras e outros usuários do sistema de
transmissão.
Os custos gerenciáveis
Os custos gerenciáveis, denominados Parcela B, são aqueles que estão sob
controle da distribuidora e são divididos entre custos operacionais e
remuneração dos investimentos. Os custos operacionais consistem nos gastos
com força de trabalho, compra de materiais e contratação de serviço de
terceiros. A Aneel não permite o repasse automático de tais custos aos
consumidores, sendo repassados apenas aqueles considerados eficientes, com
vistas a incentivar os ganhos de eficiência por parte das distribuidoras, que
podem inclusive auferir ganhos extraordinários caso consigam operar com
custos menores que os considerados pela agência. A remuneração dos
investimentos335 e a amortização do capital investido, por sua vez, são incluídas
na tarifa.
A soma da Parcela A e da Parcela B resulta na chamada Tarifa Econômica ou
Tarifa de Equilíbrio para a distribuidora. No entanto, a tarifa efetivamente paga
pelos consumidores é a Tarifa Financeira, que inclui os componentes
335A remuneração dos investimentos se divide entre a quota de remuneração regulatória, isto é,
a parcela referente à depreciação dos ativos, e a remuneração bruta, que consiste na aplicação
do custo médio ponderado de capital (em inglês, Weighted Average Cost of Capital - WAAC)
152
financeiros, compostos pela Conta de Variação da Parcela A (CVA)336,
subsídios337 e outros itens.
Observa-se na Figura 77 que somente o custo da geração no Brasil supera as
tarifas da Rússia, da Índia e da China e que a soma do custo de geração e redes
já posicionam o Brasil como país menos competitivo dos BRICs, mesmo sem
impostos e encargos.
Carga Tributária
Adicionalmente, vale a pena destacar que a carga tributária das tarifas de
eletricidade brasileira é a segunda maior dos BRICS, alcançando 32%, apenas
menor que na África do Sul onde os impostos representam 54% da tarifa
residencial. Há que chamar para a África do Sul, como de resto para todos os
países, utilizou-se como referência para a tarifa residencial uma tarifa sem
qualquer incentivo338. Entretanto sobre a tarifa “normal” para residências sul
africanas incluem pesados encargos que ajudam a suportar a tarifa reduzida
paga por grande parte da população.
153
Diferentemente dos demais países dos BRICS, o Brasil busca garantir a
modicidade tarifária, mas garantindo a remuneração do capital para os
investidores. Desde o estabelecimento do Novo Modelo do Setor Elétrico
(NMSE), de 2003, a solvência e robustez do sistema e a viabilização de novos
investimentos são os objetivos centrais. O poder público atua com concessões,
fiscalizações e na arbitragem entre interesses de companhias e dos
consumidores, mas também está presente em todas as etapas da indústria
elétrica, em empresas como a Eletrobrás, federal e Cemig e Copel, estaduais.
Cabe lembrar que estas empresas, embora sejam de controle estatal, são na
verdade empresas de economia mista, com ações cotadas em bolsa. A regulação
tarifária segue critérios de eficiência econômica para sustentabilidade financeira
das companhias, sejam públicas ou privadas e a competição nos setores de
geração e transmissão se dá em igualdade de condições.
Figura 78: Tarifa residencial e industrial nos países de América Latina, 2013
25,0
20,7
20,0
15,0 13,5
11,9 12,3
10,0 8,9
5,3
5,0 4,2
0,0
ARG* MEX* COL BRA CHL
residencial Industrial
154
Brasil. Enquanto o México todavia se caracteriza por ter a atuação de uma única
empresa no setor a nível nacional.
Ambiente institucional
Chile
O mercado elétrico chileno tem as atividades do setor desmembradas em
geração, transmissão e distribuição de energia elétrica. Todas as atividades das
três etapas da cadeia são desenvolvidas por empresas de capital privado,
estando o Estado com a atribuição de regular, fiscalizar e de fazer um
planejamento indicativo dos investimentos em transmissão.
A atividade de geração opera em um ambiente competitivo enquanto a
transmissão e distribuição estão inseridas dentro de um ambiente regulado. Na
atividade de geração todas as empresas participam de um mercado
competitivo, onde os preços refletem o custo marginal de produção. O sistema
chileno tem participação expressiva de geração térmica baseada em
combustíveis fósseis importados, o que tende a encarecer a produção. No
segmento de transmissão, de acordo com a legislação pertinente, vários agentes
podem operar em regime de concessão, estando a coordenação entre a geração e
transmissão a cargo dos operadores de cada um dos sistemas elétricos do país.
A distribuição de energia elétrica é concebida como um monopólio natural,
operando as distribuidoras em regime de concessão de serviço público. As
tarifas por elas praticadas são reguladas bem como a qualidade do serviço
regulado para o fornecimento aos clientes. Em 2013339 existiam 34 distribuidoras
no país, das quais quatro pertenciam ao SING (Sistema Interligado do Norte do
país) e 27 ao SIC (Sistema Interligado Central), sendo as demais pertencentes a
sistemas elétricos menores.
Colômbia
Na Colômbia, as reformas ocorridas no setor, essencialmente em 1994, tornaram
o investimento no setor elétrico extremamente atrativo, passando a ser um dos
países com a regulação mais liberalizada da América Latina.
Dentro desse novo contexto regulatório, o setor elétrico foi desmembrado em
atividades: geração, transmissão, distribuição e comercialização, sendo a
transmissão e distribuição atividades reguladas. A geração e a comercialização
de energia elétrica ocorrem em ambiente de livre concorrência. A
comercialização de energia elétrica passou a ser administrada por uma entidade
privada, a XM e criou-se um mercado de compras em bolsa para a energia
155
elétrica340. Apesar disso, a maior geradora de energia elétrica do país segue
sendo uma empresa pública, a Empresas Públicas de Medellín341.
Os preços da energia elétrica no atacado tendem a variar fortemente na
Colômbia, de acordo com a hidrologia. O sistema colombiano é, como o
brasileiro, predominantemente hídrico, mas conta com uma capacidade
instalada térmica expressiva que em anos normais fica bastante ociosa, mas que
é acionada continuamente em anos secos. Quando isso ocorre os custos da
energia na bolsa sobem acentuadamente, o que acaba se refletindo no custo da
energia para o consumidor final.
A principal empresa de transmissão do país é a Interconexión Eléctrica S.A. (ESP),
no entanto a mesma não é a operadora do sistema, função que é de
responsabilidade do Centro Nacional de Despacho (CDN), administrado pelo
Administrador del Sistema de Intercambios Comerciales (ASIC).
A comercialização, apesar de ser uma atividade de livre concorrência, pode ser
desenvolvida de forma exclusiva ou combinada com outras atividades do setor,
com isso, o comercializador que atende ao mercado regulado, em geral pertence
ao mesmo grupo que a distribuidora da energia elétrica.
A distribuição de energia elétrica é um monopólio natural regulado com base
em critérios de eficiência e qualidade na prestação do serviço342. Na Colômbia
não existem concessões nem franquias para a atividade de distribuição de
energia elétrica, nem ao menos exclusividade territorial, podendo existir redes
paralelas em uma mesma zona.
Como pôde ser observado, Chile e Colômbia possuem ambientes regulatórios
liberalizados, com forte atuação do setor privado em todos os níveis. No
entanto, ao analisar o México e Argentina o panorama é outro com forte peso
do Estado da determinação das tarifas.
México
No México, a Constituição atribui ao Estado a responsabilidade sobre o setor
elétrico. O Artigo 27 estabelece que corresponde exclusivamente ao Estado
gerar, conduzir, transformar, distribuir e abastecer energia elétrica que tenha
por objetivo a prestação do serviço público. O Artigo 28 por sua vez define as
funções que o Estado deve exercer de forma exclusiva em áreas energéticas,
dentre elas a eletricidade.
156
Na mesma linha, a Lei de Serviço Público de Energia Elétrica (LSPEE) explicita
o objetivo da Comissão Federal de Eletricidade (CFE), suas atribuições e
responsabilidades, bem como uma estrutura para a prestação do serviço
público de energia elétrica343. Assim, a CFE é definida como entidade
verticalizada do governo responsável desde a geração à comercialização.
Apesar das tentativas de reforma iniciadas em 2013, atualmente a organização
do setor elétrico no México ainda se caracteriza por um papel fortemente
verticalizado da CFE com permissão da atuação privada basicamente em
projetos de geração, embora o Estado ainda seja responsável pela maior parte
do parque gerador.
Argentina
No caso Argentino, o processo de desverticalização das empresas estatais de
energia elétrica teve início em 1991, com a reforma do setor elétrico, e foi
motivada, principalmente pela escassez de energia elétrica, enfrentada com
racionamento e cortes programados, ocorrida no final da década de 80. Após a
promulgação da Lei 24065, que estabeleceu um novo regime de eletricidade
(1991), o setor elétrico argentino foi desmembrado em três segmentos
independentes: geração, transmissão e distribuição. Além disso, abriu-se a
possibilidade de entes privados participarem do setor.
Para o segmento de geração foi criada, em 1992, a Compañia Administradora del
Mercado Mayorista de Electricidad Sociedad Anônima (CAMMESA). As suas
funções e atividades são, essencialmente, a coordenação das operações e
atividades de despacho de energia elétrica. A entidade também é responsável
pelo estabelecimento dos preços no atacado, bem como a gerência de transações
econômicas do sistema interligado.
Diferentemente da geração, onde a entrada de novos agentes é livre, nos
serviços de transmissão e distribuição existe a necessidade de obtenção de
concessões, através de processos licitatórios. As empresas de transmissão têm
sob sua responsabilidade a operação e a manutenção de suas redes, mas não são
responsáveis pela expansão do sistema344. As distribuidoras possuem concessão
exclusiva para distribuir energia elétrica aos consumidores dentro da sua área
de concessão.
Porém, o processo regulatório, que se encontrava em franco desenvolvimento,
foi interrompido na Argentina devido à profunda crise político-econômica
ocorrida em 2001. Por conta da crise, foi sancionada a Ley de Emergencia Pública
y de Reforma del Régimen Cambiario nº 25.561, em janeiro de 2002. A lei declarou
emergência pública na esfera social, econômica, administrativa, financeira e
157
cambial. Verificou-se que as políticas energéticas adotadas, na sequência da
crise econômica de 2002-2003, desestruturaram o setor do ponto de vista
econômico financeiro, pois as tarifas não refletem a realidade dos custos da
indústria elétrica.
A referida lei modificou os contratos de concessão existentes, e a partir de sua
entrada em vigor, todas as receitas das empresas foram determinadas com base
na relação 1 peso argentino igual a 1 dólar americano. Foram também
eliminadas todas as cláusulas de reajuste das tarifas com base no índice de
preços ao consumidor e do preço do produtor americano, previstos
anteriormente no regime de remuneração do contrato de concessão.
Do ponto de vista da disponibilidade de recursos naturais, observou-se que em
geral os países da região têm vastos recursos desde hídricos, como no caso do
Brasil e da Colômbia, até combustíveis como no México (o México exporta
petróleo, embora importe gás e carvão). Neste quesito o Chile é relativamente
pobre em recursos energéticos, tendo que importar praticamente a totalidade
dos combustíveis que utiliza.
Regulação econômica
Sob a ótica do Modelo Tarifário, há grande diferenças. Chile e Colômbia
possuem modelos mais “pró-mercado”, com revisões tarifárias periódicas,
cobrança de eficiência, mecanismos de controle de perdas e qualidade de
serviço, acompanhamento dos ativos e investimentos e remuneração
compatível com o mercado. México e Argentina são diferentes: o primeiro
possui setor fortemente subsidiado e o segundo aplica um congelamento de
tarifas.
Chile
O esquema regulatório estabelecido no Chile é o de “Yardstick Competition”
(estabelecimento de uma competição fictícia para a determinação de tarifas
eficientes), com Preço Teto. As revisões tarifárias ocorrem em um intervalo de 4
anos, e tem a mesma duração para todas as distribuidoras do país.
A Lei Geral de Serviços Elétricos reconhece que as atividades de distribuição de
energia elétrica são efetuadas com característica de monopólio natural, e que
por isso tal atividade precisa ser regulada. A regulação da distribuição se
concentra no acompanhamento das condições de exploração dos serviços, dos
níveis e esquemas tarifários a serem aplicados aos clientes regulados, e o
cumprimento, por parte das distribuidoras dos requisitos de qualidade de
serviço.
Colômbia
Na Colômbia, o modelo de regulação adotado para a distribuição de energia
elétrica, até o último período tarifário, é o de Preço Teto de livre acesso. As
tarifas de uso são definidas de forma que os usuários finais paguem aos seus
158
fornecedores de energia elétrica somente uma tarifa final, sendo ela definida
(reavaliada) a cada 5 anos.
Os custos de geração, transmissão, distribuição, custo variável de
comercialização, custo das restrições do sistema e das perdas reconhecidas,
representam a componente de custo variável da tarifa, enquanto o custo de
comercialização compreendem os custos fixos contidos na tarifa de energia
elétrica.
México
No México, o modelo é bastante particular. Não há revisões tarifárias, e sim
ajustes periódicos em função do tipo de tarifas: mensal com fatores fixos para
tarifas domésticas (exceto Doméstica de Alto Consumo - DAC), de iluminação
pública, de bombeamento de águas potáveis e esgoto e bombeamento de água
para atividade agrícola; anual com taxas fixas predeterminadas para as tarifas
de bombeamento de água para irrigação agrícola (algumas classes tarifárias de
irrigação, exceto as com reajuste mensal); e mensal por combustíveis e inflação,
para as demais tarifas.
As tarifas domésticas e as duas tarifas agrícolas são subsidiadas, sendo os
subsídios definidos como a diferença pelo preço da eletricidade paga pelos
consumidores e o custo médio de fornecimento. Os subsídios das tarifas da CFE
são financiados mediante registros contábeis. O Governo Federal reembolsa a
estatal por uma parte dos subsídios transferidos a seus consumidores.
As tarifas são concebidas de formas particulares, com base nas características e
padrões de consumo dos usuários, pela CFE. Da mesma forma, a estrutura
tarifária contém elementos da política econômica e social do Governo Federal,
que se dá por apoios concedidos através de tarifas para determinados grupos
de usuários e atividades econômicas. Os critérios utilizados são heterogêneos,
por exemplo, as tarifas horárias em média e alta tensão consideram elementos
técnicos e econômicos, enquanto que as tarifas agrícolas e domésticas
respondem a decisões relacionadas com a política econômica e social do
Governo Federal.
Argentina
O caso argentino, como mencionado anteriormente, possui uma peculiaridade
no que diz respeito ao modelo tarifário em vigor. Antes ter sido sancionada a
Ley de Emergencia Pública y de Reforma del Régimen Cambiario nº 25.561, no início
de 2002, o país iniciava o processo de implantação da regulação do tipo price
cap. Com isso, apesar do modelo em teoria vigente ser o price cap, por estar
“formalmente em vigor”, na pratica persiste a manutenção de tarifas fixas. De
fato, atualmente, grande parte das províncias argentinas assinaram acordos
com o Estado Nacional para que as tarifas sejam mantidas fixas, tendo então o
Estado Nacional o compromisso de subsidiar o setor, fazendo aporte financeiro
para cobertura de investimentos e custos operacionais. Então, o modelo tarifário
159
que está formalmente regulamentado, apesar de não ser aplicado desde 2002, é
um modelo do tipo price cap com períodos tarifários de 5 anos de duração.
O congelamento das tarifas no caso argentino, assim como o mecanismo
mexicano de fortes subsídios e controle estatal, explicam boa parte das
discrepâncias entre as tarifas do Brasil, Chile e Colômbia com relação a estes
países.
Carga tributária
Sob outra perspectiva, uma característica que distingue o Brasil dentre os países
da região é a carga tributária sobre as tarifas de energia elétrica, principalmente
sobre a tarifa residencial. O Brasil é o país com maior incidência de impostos e
encargos na tarifa de energia elétrica, representando 32,1% da tarifa residencial
final conforme a Figura 79.
Neste ponto, é importante entender a diferença entre um imposto e um encargo,
uma vez que ambos têm papéis muito diferentes no que se refere ao uso dos
fundos arrecadados. Ambos são definidos pelo Estado; a legislação brasileira345
define um tributo como uma prestação pecuniária compulsória instituída em
lei, sendo os impostos considerados um tipo de tributo que não tem um fim
específico, o que significa que os impostos não são arrecadados visando
financiar uma atividade ou setor específico. Diferentemente dos impostos, os
encargos têm o objetivo de arrecadar recursos para financiar uma necessidade
específica de um setor, neste caso para financiar necessidades específicas
relacionadas ao setor elétrico brasileiro346.
Assim, no caso do setor elétrico brasileiro, os encargos fazem referência a
custos, programas e incentivos próprios deste setor, arrecadando, por exemplo,
os recursos para viabilizar a universalização do atendimento, enquanto os
impostos arrecadados através das tarifas de energia elétrica são destinados ao
uso geral dos diversos níveis do Estado.
345República Federativa do Brasil. Lei N°5.172 de 25 de Outubro de 1966, Dispõe sobre o Sistema
Tributário Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e
Municípios. Brasília.
346 Aneel (2014). Site institucional. Encargos Setoriais. Acesso em março de 2015.
160
Figura 79: Composição da tarifa residencial, 2013
25
20
3,3
0,5
15 5,0
5,3
cUSD/kWh
9,7
10
4,5
12,4
5 8,9
6,2 6,7
4,2
0
MEX*
COL
ARG*
CHL
BRA
Custos de Geração Custos da Rede Impostos e encargos
161
Até 2012 a conta de energia elétrica incluía dez encargos setoriais348 que foram
modificados mediante a Medida Provisória N°579349, conforme a Tabela 26.
Assim, houve redução nos encargos através da extinção da CCC, da isenção às
distribuidoras e a algumas empresas de Transmissão e geração do RGR, e a
transferência direta de recursos do Tesouro Nacional350 como parte da
arrecadação da CDE351.
348 Aneel (2014). Site institucional. Encargos Setoriais. Acesso em março de 2015.
349 Convertida na Lei N°12.783 em 2013.
350Uma vez que nem todas as geradoras e transmissoras aderiram à renovação antecipada de
concessões e visando garantir a redução de 20% da tarifa anunciada pelo governo, foi decidido
que a CDE passe a contar com aporte do Tesouro Nacional do Brasil.
351Desde 2013 a CDE passou a assumir objetivos similares aos da RGR. Também foram
adicionadas à CDE as funções de prover recursos para compensar os subsídios tarifários, além
de cobrir os custos de geração nos sistemas isolados, em substituição ao encargo da CCC.
162
Tabela 26 – Encargos do setor elétrico brasileiro
163
Encargo Objetivo Valor 2009 Valor 2013
Pesquisa e Desenvolvimento de Mínimo 0,75% Igual
Desenvolviment pesquisa e programas (P&D) e 0,25%
o e Eficiência de eficiência energética (Eficiência
Energética energética) da receita
operacional líquida
Encargos de Cobrir os custos dos Igual
Serviço de serviços do sistema,
Sistema (ESS) inclusive os auxiliares,
prestados aos usuários
do SIN
Operador Custeio de atividades Orçamento anula do Igual
Nacional do da ONS ONS aprovado pela
Sistema Elétrico Aneel
(ONS)
Encargo de Custos decorrentes da Igual
Energia de contratação da energia
Reserva (EER) de reserva
Figura 80: Tarifa residencial nos países de América Latina, 2009 vs 2013
164
Tabela 27: Encargos arrecadados entre 2009 e 2013 (em R$ milhões)
Encargos Setoriais 2009 2010 2011 2012 2013
Reserva Global de Reversão – RGR
1.629,60 1.594,1 1.724,9 2.311,5 608,9
Fonte: SFF-ANEEL
PROINFA
1.573,0 1.816,0 1.794,3 2.252,7 2.589,7
Fonte: SRE -ANEEL
165
Isso porque ao contrário do Quebéc, não há um forte componente fixo no custo
da energia, que varia de acordo com o preço da energia no NordPool.
100%
5%
90% 4%
31%
80% 29%
70%
60%
50%
90% 93%
40%
68% 64%
30%
20%
10%
0%
Colômbia Quebec Noruega Brasil
A matriz brasileira vem mudando nos últimos anos deixando de ser quase
exclusivamente hídrica e passando a constituir uma matriz hidrotérmica. De
fato, na Figura 82 se verifica que entre 2006 e 2013 a fonte hídrica passou de
representar 75% da capacidade instalada no Brasil para 64% em 2013, enquanto
houve um aumento considerável da capacidade térmica nacional.
352Para Colômbia e Noruega os dados são de 2012. Em base a dados de EPE(2014). Anuario
estadístico; UPME (2009); XM (2010; 2012; 2013); MINMINAS (2011); MME (2013); Eurostat
(2013); U.S. Energy Information AdministrationEIA (2014).
166
Figura 82: Composição da matriz elétrica do Brasil, 2006-2013353
353 Com base em dados dos anuários estadísticos da EPE, elaboração própria
167
Figura 83 – Evolução da capacidade de regularização dos reservatórios: 2000-
2012354
7,0
6,5
EAR máx/Carga
6,0
5,5
5,0
4,5
4,0
00
01
02
03
04
05
06
07
08
09
10
11
12
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
EAR máx/Carga
Fonte: Chipp, Hermes. Procedimentos Operativos para Assegurar o Suprimento
Energético do SIN. Apresentação no GESEL-IE-UFRJ, Rio de Janeiro, 9 de Julho 2008.
354 A evolução de regularização dos reservatórios entre 2008 e 2012 foi estimada.
168
disponíveis (R$ 0,9 bilhões). Isso faz com que, em situações de seca, quando se
faz necessário utilizar as termoelétricas de forma intensa, o custo de operação
do sistema suba de forma acentuada.
Outro fator a ser levado em conta é o custo dos combustíveis usados na geração
térmica. No caso brasileiro a Figura 85 mostra que, embora a geração térmica a
partir da biomassa tenha uma participação importante, o Brasil tendeu a
incrementar a geração a partir de gás natural que representou 12% da geração
total de 2013. Em anos de seca severa, a tendência é que um incremento não só
da geração a gás, como também da geração a óleo, que tem uma capacidade
instalada expressiva no Brasil.
169
Figura 85: Geração elétrica no Brasil por tipo de fonte, 2006-2013355
Embora o Brasil tenha produção de gás natural, esta não é suficiente para cobrir
toda a demanda da economia por este combustível 356. Sendo assim, o país deve
importar este combustível, principalmente da Bolívia a través do Gasbol, mas
também através de terminais de GNL. Na Figura 86 constata-se que o consumo
de gás natural por parte do setor elétrico aumentou consideravelmente, quase
se triplicando entre 2011 e 2013, devido principalmente à crise hidrológica que
atravessa o país. Da mesma forma, se observa que a importação deste
combustível também aumentou e em 62% neste período. Como mencionado ao
longo do estudo, o combustível importado tende a encarecer a geração de
energia elétrica, fato que se reflete na tarifa.
355 Com base em dados dos anuários estadísticos da EPE, elaboração própria.
356 EPE(2014)- Balanço energético 2014.
170
Por fim, outro fator que afeta a tarifa de energia – este é independente da
transição de uma matriz hídrica para uma hidrotérmica – é a renovação de
concessões que venceriam até 2015, o que deve reduzir os custos de geração de
forma estrutural. Como muitos dos investimentos realizados nessas usinas
geradoras já foram amortizados ao longo do período da concessão, a renovação
permitirá uma queda sustentável nos custos da eletricidade, pois não estará
mais incluso na tarifa a remuneração desse capital amortizado357.
171
6. Considerações finais
172
recentemente voltou a apresentar o consumo total de eletricidade do fim da era
soviética e que, por isso, tem ativos de rede e de geração antigos e altamente
depreciados. A Província de Québec também entra nesta categoria com um
vasto parque hídrico de propriedade da estatal Hydro-Québec, que abastece a
distribuidora local de energia a uma tarifa regulada muito baixa.
173
governo federal brasileiro também assumiu, por ocasião da renovação de
concessões de geração e transmissão de energia elétrica, o custeio, com recursos
da União, de diversos programas antes pagos via encargos em um movimento
que foi revertido no início de 2015.
A política fiscal para o setor elétrico também varia muito e pode ter grande
influência no nível de tarifas. Alguns países – e o Brasil é um exemplo –
utilizam o setor elétrico para coletar impostos para uso geral do Estado,
aproveitando-se da facilidade de arrecadação e fiscalização em um setor
concentrado e altamente regulado. Na outra ponta, países como os EUA, Índia e
Canadá optam por alíquotas de impostos baixas, reduzindo o custo da energia
elétrica ao consumidor final. Há que se destacar que no Brasil, assim como nos
EUA e na Índia, alguns impostos variam conforme a região, o que em muitos
casos cria desequilíbrios regionais nas tarifas finais.
A política de remuneração do capital de estatais também aparece em alguns países
como um fator chave para o nível de tarifas. Em países onde o setor elétrico foi
liberalizado, o que inclui muitos países desenvolvidos, mas também alguns
países em desenvolvimento, prevalece a lógica de remunerar o capital investido
no setor elétrico a taxas compatíveis com o retorno de mercado. Assim, todas as
empresas, sejam elas públicas ou privadas, têm como referência de
rentabilidade o custo de capital de mercado ajustado ao (normalmente baixo)
risco do setor elétrico. Mas muitos países, sobretudo países em
desenvolvimento, não adotam uma lógica de retorno de mercado para o capital
estatal. Em países como Rússia, Índia, China, África do Sul e México, as
empresas estatais são comumente utilizadas para manter baixos os custos da
energia elétrica para o consumidor final, praticando tarifas fixadas não sob uma
ótica de rentabilizar o capital investido, mas de manter sustentabilidade global
das finanças públicas. Nesses países as empresas estatais disputam com outras
atividades típicas do estado (saúde, educação, etc.) recursos fiscais para manter
suas atividades ou seu ritmo de investimentos.
A política de preços para combustíveis fósseis também pode desempenhar um papel
relevante no custo da energia elétrica para o consumidor final. A Rússia, por
exemplo, tem praticado um preço de gás para consumo interno,
preponderantemente produzido pela estatal Gazprom, substancialmente
inferior ao preço das exportações, embora ao longo dos anos o diferencial de
preços tenha caído. O mesmo ocorre na Argentina onde a produção de gás
proveniente de campos antigos é remunerada a custos históricos e há subsídio
fiscal para o gás utilizado na geração térmica proveniente de importações ou de
campos mais recentes. Nos EUA a situação é um pouco diversa, pois, apesar de
não existir política governamental de fixação de preços de combustíveis fósseis,
há uma política de restrição à exportação de hidrocarbonetos que limita as
exportações de gás e faz com que o preço no mercado interno descole do
mercado internacional, favorecendo a competitividade energética do país.
174
Finalmente a própria política de tarifas do setor elétrico pode contribuir para
deprimir o custo da energia elétrica para o consumidor final. O caso mais
proeminente é o da Argentina, que simplesmente congelou há vários anos as
tarifas das empresas do setor elétrico, de capital predominantemente privado,
mesmo sendo a economia argentina caracterizada por uma inflação alta. Até
não muito tempo atrás, países como Portugal e Espanha tinham tarifas
calculadas pelo regulador, mas promulgadas pelo poder executivo, que
recorrentemente evitava repassar à tarifa o custo real da geração, criando um
déficit que atualmente está sendo custeado através de tarifas mais altas.
Também a Rússia, já em 2014, congelou as tarifas de eletricidade em meio à
crise de forte desvalorização cambial que acompanhou as sanções da
comunidade internacional que se seguiram à invasão da Criméia.
As tarifas brasileiras de 2013 estão próximas à média dos países estudados, mas
podem ser consideradas altas ou baixas conforme a comparação esteja focada
em um ou outro grupo de países. Se a referência forem os países da OCDE, a
tarifa brasileira é relativamente baixa. Mas se a referência forem os BRICS, a
tarifa do Brasil é muito elevada. A situação do Brasil no ranking das tarifas
elétricas piora um pouco em 2014 e é provável que em 2015 o país passe a ter
uma das maiores tarifas em qualquer base de comparação (ver Anexo IV)
devido ao forte aumento de tarifas do início do ano, decorrente do repasse aos
consumidores a alta dos custos de geração provocada pela crise hidrológica e
da redução do uso de recursos fiscais para custear programas do governo no
setor.
O desenho geral do setor elétrico brasileiro é mais próximo dos países com
mercados liberalizados, sobretudo dos europeus, do que dos BRICs e de outros
países em desenvolvimento. O grau de liberalização do modelo brasileiro é, no
entanto, menor do que o dos países europeus. Basta lembrar que o
planejamento e os leilões para o mercado regulado tem no Brasil papel central
na expansão da geração, enquanto que a expansão nos mercados liberalizados
tende a se dar com pouca participação do Estado. Por outro lado, a
comercialização de energia para a baixa tensão permanece regulada no Brasil,
enquanto a Europa implementa progressivamente a liberalização total da
comercialização no varejo. Mesmo assim, algumas características centrais do
modelo brasileiro são de clara inspiração europeia, como a adoção da
remuneração de mercado como referência para o custo de capital, o uso de
mecanismos de mercado onde possível e a regulação por incentivo para as
atividades consideradas como monopólios naturais.
175
O modelo brasileiro é, porém, fundamentalmente distinto dos demais BRICs.
China, Índia, África do Sul e de uma forma diferente também a Rússia,
recuaram nos processos de liberalização lançados a partir dos anos 90. Quase
todos adotam soluções de mercado em alguma medida, mas em nenhum deles
pode-se dizer que a remuneração de mercado seja a referência para a
rentabilidade do setor. O peso das empresas estatais é grande nos BRICs e elas
tendem a ser geridas com uma ótica de serviço público, que passa pela
sustentabilidade financeira no curto e no longo prazos, mas não
necessariamente por uma rentabilidade de mercado. Nesses países e em outros,
como México e Argentina, a intervenção do Estado pode inclusive usar de
forma mais ou menos transparente de recursos do Estado a fundo perdido, seja
por aportes de capital nas empresas estatais, seja na forma de subsídios.
O paradigma adotado no Brasil é distinto: aqui as empresas estatais competem
nos leilões de expansão da geração com empresas privadas, muitas vezes em
associação com empresas privadas, e as distribuidoras estatais têm tarifas
fixadas pela mesma metodologia das distribuidoras privadas. 358 Em um setor
altamente capital intensivo como o elétrico, a adoção de uma lógica de serviço
público tende a baratear fortemente a energia elétrica para os consumidores.
O uso do peso do Estado para reduzir as tarifas, no grupo de países estudados,
parece estar associado por um lado a um PIB per capita baixo e, por outro lado,
à opção por se aumentar a competitividade da indústria e com isso induzir o
crescimento econômico.
Em quase todos os países há parcelas vulneráveis da população que têm
dificuldade para arcar com custos dos serviços de utilidade pública e que, por
isso, recebem alguma forma de auxílio, por exemplo, através de uma tarifa
social ou tarifa de baixo consumo. Mas o problema é mais agudo em países com
PIB per capita baixo, pois neles grande parte da população tem baixa
capacidade de pagamento, o que cria dificuldades, por exemplo, para sustentar
uma tarifa social baixa apenas com subsídios cruzados. Frente a isso, se entende
a tendência ao uso de medidas horizontais de redução de custos da eletricidade,
frequentemente às custas da injeção de recursos públicos ou do
comprometimento da rentabilidade das empresas estatais.
O estímulo à competitividade da indústria é outro motor para o uso do peso do
Estado para manter baixas as tarifas. Foram os custos de produção baixos que
levaram boa parte da indústria pesada migrar desde os anos 80 do século
358Há que admitir que as empresas estatais também desempenham funções típicas de Estado. A
Eletrobrás, notadamente, gere diversos programas de governo e mantém empresas de
distribuição deficitárias. Entretanto, o grosso das atividades e dos investimentos das empresas
estatais segue uma lógica de mercado e, portanto, não se pode afirmar que atuação das estatais
fora da ótica empresarial tenha peso suficiente para interferir nas tarifas médias de eletricidade
do país.
176
passado dos países desenvolvidos para os países em desenvolvimento.
Notadamente, o crescimento industrial da China foi motivado pelos baixos
custos de produção local, que passam pelas baixas tarifas de eletricidade.
A Tabela 28 traz dados sobre gastos em eletricidade, PIB per capita e tarifa
média em 2012 para vários grupos de países estudados e permite constatar que
o gasto total com eletricidade é maior nos BRICS como proporção do PIB (3,6%)
apesar de eles terem a menor tarifa média de eletricidade (cUSD 0,105/kWh)359.
Nesses países embora tanto as tarifas como o consumo de eletricidade per
capita sejam baixos, o gasto em eletricidade, como proporção do PIB é elevado.
No outro extremo, as tarifas são mais altas nos países europeus (cUSD
0,184/kWh) embora o gasto em eletricidade atinja uma proporção semelhante
do PIB (3,5%). Assim, mesmo com maior consumo per capita de energia elétrica
e tarifas substancialmente mais altas, o gasto de energia elétrica nos países
europeus representa aproximadamente a mesma proporção do PIB que nos
BRICS.
359 A tarifa média é a média entre a tarifa industrial e residencial de 2012 ponderada pelo
consumo industrial e residencial de cada país. Os gastos em eletricidade são a tarifa média
multiplicada pelo consumo total de eletricidade. Tanto a tarifa média como o PIB per capita
estão expresso em dólares americanos de 2012.
177
alto custo variável médio da geração térmica. Isso reflete, em parte, o fato de o
Brasil ser dependente de importações de carvão e, sobretudo, de gás natural, ao
contrário da Colômbia, que é exportadora destes combustíveis fósseis. Mas o
alto custo variável das térmicas brasileira também é fruto da opção pela
contratação de grande quantidade de térmicas com baixa eficiência na
conversão de combustíveis em eletricidade. Esta volatilidade dos custos da
energia no Brasil é sem dúvida uma grande desvantagem comparativa do país,
sobretudo para indústrias eletrointensivas, que tendem a ter dificuldades para
viabilizar novos investimentos em um país com custo de energia
estruturalmente muito volátil e caro relativamente a outros países emergentes.
Finalmente, pesa contra a tarifa brasileira a política fiscal adotada no Brasil para
o setor elétrico, com alto volume de encargos e impostos, influindo fortemente
no nível geral de tarifas. Apesar da elevada carga de tributos, o Brasil não chega
a ter o maior peso de impostos e encargos na tarifa residencial, sendo
ultrapassado, por exemplo, pela Alemanha, Portugal e Suécia. Com respeito ao
consumidor industrial a situação comparativa do Brasil é pior: somente a
Alemanha ultrapassa o Brasil em participação de impostos e encargos no
consumo industrial. E isso, mesmo considerando, como foi feito nas
comparações desta pesquisa, que tanto o ICMS quanto o PIS/Cofins são
totalmente recuperáveis, o que não é verdadeiro para todas as empresas.
Algumas indústrias, sobretudo as exportadoras, geram mais créditos tributários
do que conseguem aproveitar, fazendo que sua carga tributária efetiva seja
ainda maior.
6.3. Reflexões
178
do volume de energia consumida elimina o subsídio cruzado hoje existente em
favor dos consumidores que apresentam baixo consumo: como a remuneração
das redes (TD no jargão do setor) é hoje expressa em reais por kWh, dois
consumidores residenciais com instalações idênticas, mas consumo de
eletricidade diferente não pagam o mesmo pelo serviço de rede, sendo o de
menor consumo subsidiado implicitamente pelos que apresentam maior
consumo.
Isto remete a um assunto que merece estudos adicionais: a forma de tratar
consumidores sensíveis, sem capacidade de pagamento para arcar com os
custos efetivos do serviço. Trata-se de um problema com o qual todos os países
precisam lidar, mas o fazem de formas bastante distintas. Essa pesquisa não
tratou especificamente do tema, pois o foco eram as tarifas médias residenciais e
industriais e não as chamadas tarifas sociais ou diferenciadas. Mas cabe anotar
algumas observações. A teoria da regulação defende a prática de subsídios
focados nos grupos que os necessitam, provocando o mínimo de distorções nos
sinais econômicos das tarifas. Mas em vários países, sobretudo com PIB per
capita baixo ou intermediário, se observa a prática de distorções dos sinais
econômicos das tarifas, por exemplo, através de subsídios cruzados. Em países
como Rússia e Itália a tarifa industrial é maior que a residencial o que
desrespeita a estrutura de custos básica do setor elétrico, em que os custos do
acesso em alta e média tensão são superiores aos custos da baixa tensão.
Outro tema de interesse que não foi tratado no projeto é o instigante tema das
tarifas dinâmicas. Em 2015 o Brasil deu um passo importante no sentido de
fazer com que as tarifas reflitam o custo da energia pela adoção das bandeiras
tarifárias, que podem reajustar a cada mês o custo da energia para o
consumidor final de acordo com o cenário hidrológico. Mas o terreno para
evolução em termos de tarifação dinâmica é muito fértil, sobretudo na medida
em que se difundam os medidores inteligentes.
Finalmente, no que diz respeito à técnica de determinação de tarifas
propriamente dita, talvez estejamos assistindo hoje ao surgimento de um novo
paradigma. Os modelos dominantes de regulação econômica das redes são
ainda a regulação por incentivo, em suas diversas variantes, e a regulação pelo
custo do serviço, que hoje em dia também costuma incorporar alguns
mecanismos de incentivo. Mas, o Reino Unido está introduzindo um novo
modelo de regulação orientado a inovações e não à redução de custos, que
centra o processo de revisão tarifária em um plano de negócios da distribuidora
que, por sua vez, define claramente metas de produtos entregáveis, vários deles
relacionados à modernização da rede (smart grid, geração distribuída,
infraestrutura de mobilidade elétrica, etc.).
179
7. Referências bibliográficas
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<http://www.upme.gov.co/Docs/Plan_Expansion/2009/Plan%20de%20Expa
nsion%202009-2023.pdf> Acesso em: agosto de 2014
199
Anexo I: Metodologia de comparação das bases de
dados
200
b) EUROSTAT: os dados foram extraídos da base Energy Statistics – prices e
são disponíveis no seguinte endereço:
http://epp.eurostat.ec.europa.eu/portal/page/portal/energy/data/databa
se;
c) Comissão de Integração Energética e Regional (CIER): os dados foram
levantados nas pesquisas anuais Tarifas eléctricas en Distribuición
realizadas anualmente pela comissão;
d) US Energy Information Administration (EIA): as tarifas finais industriais e
residenciais foram coletadas da agência americana de energia, cujos dados
são divulgados no seguinte endereço:
http://www.eia.gov/electricity/data.cfm#sales;
e) Hydro Quebec: a Hydro Quebec elabora uma comparação anual das tarifas
de energia elétrica praticadas localmente com 21 estados norte-americanos,
que é disponibilizada no seguinte endereço:
http://www.hydroquebec.com/publications/en/comparison_prices/;
f) Eskom: a Eskom é a maior empresa de energia do país, e divulga as últimas
tarifas dos clientes residenciais e industriais no seguinte endereço:
http://www.eskom.co.za/CustomerCare/TariffsAndCharges/Pages/Tariff
_History.aspx;
g) Korea Energy Economics Institute (KEEI): o instituto publica anualmente
um relatório sobre os preços de energia elétrica, diferenciando as tarifas
industriais e residenciais. Essa publicação é disponível no seguinte
endereço:
http://www.keei.re.kr/main.nsf/index_en.html?open&p=%2Fmain.nsf%2F
main_en.html&s=;
h) Planning Commission of India: a agência governamental Indiana divulga
anualmente o relatório Anual report on the working of state power utilities
& electricity departments, incluindo a tarifa média nacional para os
consumidores residenciais e industriais;
i) The Lantau Group: a consultora divulgou no seu relatório de 2013 as tarifas
de energia elétrica de diversas cidades asiáticas, detalhando os componentes
da tarifa além dos impostos e encargos aplicados aos consumidores
residenciais finais;
j) Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL): as tarifas de energia elétrica
são calculadas pelo sistema de apoio a à decisão (SAD) do regulador
brasileiro e divulgados no seguinte endereço:
http://www.aneel.gov.br/area.cfm?idArea=550.
Há algumas diferenças na metodologia empregada para obter o preço médio
em cada país e estas diferenças podem causar algumas distorções nas
comparações. A próxima seção busca explicar as principais características
metodológicas das diferentes bases de dados pesquisadas.
201
1. Apresentação da formatação das bases de dados
202
Tabela 29: Disponibilidade de dados por país360
IEA 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Argentina
Brazil X X
Canada X X X X X X
Chile X X X X X X X
Colombia X X
Czech Republic X X X X X X X
Finland X X X X X X X
France X X X X X X X
Germany X X X X X X X
Italy X X X X X X X
India
Japan X X X X X X X
Korea X X X X X X X
Mexico X X X X X X X
Norway X X X X X X X
Portugal X X X X X X
South Africa
Spain X X X X X
Sweden X X X X X X X
Thailand X X X X
United Kingdom X X X X X X X
United States X X X X X X X
Por sua vez, a base da IEA não divulga nenhuma informação para a Argentina,
a Índia e a África do Sul. Portanto, não foi possível comparar a coerência dos
dados obtidos desses 3 países com a base da IEA. Destaca-se que a base da
agência internacional da energia foi utilizada como referência para o estudo,
pois todos os dados coletados nas diversas bases foram comparados com os
dados da IEA para fins de checagem de consistência.
Além da apresentação das tarifas de vários países, a IEA também destaca
algumas informações sobre a geração elétrica. Assim, são documentados os
preços dos insumos das geradoras de energia elétrica (carvão, gás natural,
petróleo) para gerar uma unidade de energia (no caso, em MWh). Porém, não
são documentados nessa publicação os custos de geração da energia elétrica na
saída da central, o que torna difícil estimar o custo de geração com apenas o
dado do custo da matéria prima. Em relação ao nível de desagregação dos
dados, é importante destacar que não há também nenhuma informação sobre os
custos de transmissão, de distribuição e de comercialização.
Em síntese, com a base da IEA, temos a disposição as tarifas anuais residencial e
industrial com um detalhamento dos impostos aplicados. Não há nenhum
detalhamento das tarifas sobre os componentes da tarifa final de energia
360Anota-se que para o Brasil, a Colômbia, a Tailândia e os EUA, não há tarifas finais sem taxas.
Para a Coreia do Sul, não há tarifas finais sem taxas e não há nenhuma tarifa industrial desde
2010. Por fim, no Reino-Unido, a IEA não divulgou as tarifas sem taxas para os clientes
industriais para 2013.
203
elétrica e também nenhuma desagregação dos preços por estrato de
consumidor. Contudo, a base da IEA é utilizada como referência neste estudo,
pois os dados obtidos nas outras bases foram comparados com a base da IEA a
fim de evitar eventuais inconsistências.
1.2. EUROSTAT
A EUROSTAT disponibiliza todos os dados sobre os preços de energia elétrica
no seu site, em livre acesso. Mais especificamente, os dados foram extraídos da
base Energy Statistics – prices, que se encontra na base de dados de energia da
agência. As tarifas de energia elétrica divulgadas pela EUROSTAT abrangem
todos os países da União Europeia (incluindo os aqui estudados, Alemanha,
Espanha, Finlândia, França, Itália, Noruega, Portugal, Reino Unido, República
Checa, e Suécia), além de outros países da Europa geográfica e de algumas
tarifas representativas da EU como um tudo.
Na base de dados da EUROSTAT, as tarifas de energia elétrica são
diferenciadas entre as tarifas residencial e industrial (em moeda
nacional/kWh), além de serem distinguidas entre as tarifas com impostos, as
tarifas sem impostos e as tarifas excluindo o Imposto sobre Valor Adicionado e
os outros impostos recuperáveis. Anota-se que a EUROSTAT faz uma distinção
por estrato de consumo dentro das tarifas residencial e industrial, como é
resumido na Tabela 30. A EUROSTAT informa que a banda Da (pequeno
consumidor residencial) não se aplica na Holanda e que a banda If (grande
consumidor industrial) não se aplica para Malta e Luxemburgo e não é
disponível para a Irlanda. Essas informações complementares não afetam o
estudo, pois esses países não são incluídos na amostra dos 24 selecionados. Por
outro lado, a banda Ig, cujo consumo é superior a 150GWh por ano, não é
disponível para alguns países da amostra, pois o preço desta banda de consumo
é disponibilizado em base voluntária.
204
segundo semestre correspondem a uma média dos preços entre Julho e
Dezembro. Destaca-se que todos os países da base têm seus dados atualizados
até 2013.
Além da apresentação das tarifas de vários países, a EUROSTAT também
fornece informações sobre a composição das tarifas, ou seja, fornece o detalhe
das componentes das tarifas: custos de geração, custos da rede, taxas e
encargos. Isso quer dizer que a EUROSTAT divulga todas as informações sobre
a composição da tarifa final, menos o custo da comercialização. Esses dados são
disponíveis tanto para os consumidores residenciais, como para os
consumidores industriais. A partir do detalhe dos componentes da tarifa de
energia elétrica, podemos reconstruir as tarifas finais, seguindo as fórmulas
detalhadas na Tabela 31.
205
Distribuición, onde as empresas de energia elétrica dos países da América Latina
divulgam suas tarifas de maneira voluntaria, além de outras informações sobre
a posição da empresa no mercado (número de clientes, venda de energia, etc...).
As tarifas de energia elétrica divulgadas pela comissão abrangem os países da
América Latina.
Na base de dados do CIER, as tarifas de energia elétrica são diferenciadas entre
os consumidores residenciais361, comerciais e industriais (em USD/kWh), além
de serem distinguidas entre tarifas com impostos, tarifas sem impostos e tarifas
excluindo o Imposto sobre Valor Adicionado e os outros impostos recuperáveis.
O câmbio utilizada para converter a tarifa em USD/MWh corresponde à media
anual do câmbio efetivo no país considerado:
∑𝐷𝑒𝑧𝑒𝑚𝑏𝑟𝑜
𝑚=𝐽𝑎𝑛𝑒𝑖𝑟𝑜 𝑇𝐶(𝑚)
𝑇𝐶𝑇𝑀𝐴 =
12
Onde:
TCTMA é a taxa de câmbio a utilizar no cálculo da tarifa média anual;
TC(m) é a taxa de câmbio na cotização bancária do último dia do mês m.
Lembrando-se que o objetivo do projeto é coletar tarifas finais em moeda
nacional/kWh, para depois aplicar o câmbio real médio dos últimos dez anos,
tarifa apresentada pelo CIER foi convertida em moeda nacional/kWh,
utilizando o câmbio divulgado pela Comissão nos seus relatórios anuais.
Da mesma forma que na base da EUROSTAT, o CIER faz uma distinção por
estrato de consumo dentro das tarifas residencial e industrial, e aplica essa
mesma metodologia para os clientes comerciais, como resumido na Tabela 32.
Destaca-se que os estratos definidos pela comissão diferem sensivelmente
daqueles definidos pela EUROSTAT.
361Incluindo as tarifas residenciais sociais, cujos clientes beneficiam de tarifas mais baratas, por
serem consumidores de baixos níveis de energia.
206
Tabela 32: CIER, estratos de consumo por tipo de consumidor
CIER
Ra: inferior a 40 kWh Cb: inferior a 350 kWh Ib: inferior a 3,5MWh
Rb: entre 40 e 75 kWh Cc: entre 350 e 750 kWh Ic: entre 3,5 e 7,5MWh
Rc: entre 75 e 150 kWh Cd: entre 750 e 1500 kWh Icd: entre 7,5 e 17,5MWh
Rd: entre 150 e 300 kWh Cef: entre 1500 e 6000 kWh Ie: entre 17,5 e 37,5MWh
Re: entre 300 e 600 kWh Cgh/Cg: entre 6000 e 15000 kWh If: entre 37,5 e 244MWh
Rf: entre 600 e 1200 kWh Ch: entre 15000 e 35000 kWh Igh: entre 244 e 2719MWh
Rg: superior a 1200 kWh Cij/Ci: superior a 35000 kWh Ii: entre 2719 e 10700MWh
Ij: superior a 10700MWh
Argentina X X X X X
Bolivia X X X X X
Brazil X X X X X
Chile X X X X X
Colombia X X X X X
Costa Rica X X X X X
Dominican Republic X X X X
Ecuador X X X X X
El Salvador X X X X X
Guatemala X X
Mexico X
Panama X X X
Paraguay X X X X X
Peru X X X X X
Uruguay X X X X X
Venezuela X X X
Fonte: CIER
207
É preciso ressaltar a grande variabilidade dos dados disponíveis na base do
CIER, que dificulta o trabalho de elaboração de uma tarifa média nacional.
Sendo uma divulgação voluntária, as empresas não se comprometem a entregar
seus dados cada ano ao CIER. Assim, uma empresa que divulgou suas tarifas
no ano A pode não aparecer na amostra do ano A+1. Na prática, em cada país é
preciso analisar minuciosamente as empresas que estão na base no período 2009
– 2013, a fim de decidir quais são os dados a serem explorados para construir
uma tarifa média nacional. A Tabela 34 ilustra concretamente essa problemática
no caso do Chile, onde se constata que as mesmas 10 empresas responderam à
pesquisa entre 2009 e 2012, mas apenas uma respondeu em 2013. Neste caso, foi
decidido não calcular a tarifa do Chile para o ano de 2013.
Tabela 34: Disponibilidade dos dados nos países do CIER: o caso do Chile
2009 2010 2011 2012 2013
CGE Distribuicón X X X X
Chilectra X X X X X
CONAFE S.A. X X X X
EDELMAG X X X X
ELECDA X X X X
ELIQSA X X X X
EMELARI X X X X
EMELAT X X X X
EMELECTRIC X X X X
EMETAL X X X X
Além da apresentação das tarifas dos países da América Latina, o CIER também
fornece informações sobre a composição das tarifas (do ponto de vista das
empresas), detalhadas da seguinte forma:
a) Taxa para a comercialização: corresponde ao encargo mensal faturado ao
cliente independentemente da demanda e do consumo realizado naquele
mês;
b) Taxa para a energia: corresponde à parte da tarifa que depende do nível de
energia consumido e de diversas variáveis (tarifa única, por bloques de
consumo ou horaria);
c) Taxa para a potência: componente da tarifa relativa à potência contratada;
d) Impostos: destacando os impostos aplicados na tarifa, incluindo o Imposto
sobre o Valor Adicionado.
Os dados são disponíveis tanto para consumidores residenciais, como para
consumidores comerciais e industriais. Porém, destaca-se mais uma vez a
grande variabilidade das informações disponíveis na base do CIER, sendo que
algumas empresas informam sobre a composição da sua tarifa seguindo a
metodologia da Comissão, enquanto outras informam apenas parcialmente a
composição de sua tarifa. Por exemplo, na pesquisa de 2013, cerca de 35% das
empresas pesquisadas não informaram sobre a taxa de comercialização aplicada
208
na tarifa final, seja por que sua estrutura tarifária não comporta este tipo de
pagamento, seja porque optaram por não informa-lo. Isso precisa ser levado em
conta na hora de avaliar os componentes da tarifa de energia elétrica de um
país.
Em síntese, com a base do CIER, estão à disposição as tarifas anuais dos setores
residencial (incluindo as tarifas residenciais sociais dos consumidores de baixa
renda), comercial e industrial dos países da América Latina. Dentro dessas
tarifas, é possível obter detalhes sobre os impostos aplicados e uma
desagregação por estrato de consumo. Por outro lado, a Comissão disponibiliza
alguns dados sobre a composição da tarifa final de energia elétrica, que não
podem ser explorados neste estudo. Contudo, destaca-se a grande variabilidade
e fragilidade dos dados disponíveis que afeta diretamente a qualidade da tarifa
média nacional calculada na pesquisa.
209
da EIA. Não são estimados os impostos e encargas, nem o custo da
comercialização. Esses dados abrangem o setor elétrico como um todo, portanto
não há nenhum detalhamento tarifário específico para os consumidores
residenciais e industriais.
Para concluir, a base da EIA divulga as tarifas finais médias por estado, para os
consumidores residenciais e industriais. A publicação das tarifas finais média é
realizada anualmente. Por outro lado, a agência americana avalia os
componentes da tarifa final de energia elétrica (geração, transmissão e
distribuição) por estado no Annual Energy Outlook 2014, sem distinção entre a
classe residencial e industrial.
210
Da mesma forma, a tarifa industrial divulgada pela Hydro Quebec e utilizada
para o projeto de pesquisa representa a faixa de consumo de 3060MWh/mês,
não refletindo a média ponderada da totalidade dos clientes industriais do
estado de Quebec, mas apenas um estrato de consumo. Destaca-se que a Hydro
Quebec também divulga a tarifa industrial final para os estratos de
2340MWh/mês, 5760MWh/mês, 17520MWh/mês e 30600MWh/mês. Porém, a
não divulgação da repartição dos consumidores nesses estratos de consumo
impossibilitou a elaboração de uma tarifa industrial média para o estado de
Quebec.
Em síntese, a base de dados da Hydro Quebec informa sobre as tarifas finais
para os consumidores residenciais e industriais no estado de Quebec, bem como
de cidades dos EUA. A publicação das tarifas finais é realizada anualmente e
represente uma faixa específica de consumo para os consumidores residenciais
(1000 kWh/mês) e industriais (3060MWh/mês), assumindo que essas faixas
sejam representativas das tarifas médias do estado de Quebec. A base de dados
também detalha os impostos e encargas aplicados aos consumidores finais.
1.6. Eskom
A Eskom disponibiliza todos os dados sobre os preços históricos de energia
elétrica no seu site, em livre acesso. Mais especificamente, os dados foram
extraídos da base Eskom Annual Reports for respective years. As tarifas de energia
elétrica divulgadas pela Eskom são representativas da África do Sul como um
todo, sendo um agente possuindo um quase monopólio sobre o sistema elétrico
sul africano.
Na base de dados da Eskom, as tarifas de energia elétrica são diferenciadas
entre as tarifas residencial, comercial e industrial (em moeda nacional/kWh). A
tarifa estadual média calculada corresponde à divisão da receita de
fornecimento de energia elétrica pelo consumo efetivo deste fornecimento. A
tarifa final de energia elétrica é calculada uma vez por ano, para todos os
utilizadores e por cada subsetor de consumo.
Os dados coletados abrangem o período 2009-2013. Sendo que o cálculo
considera a receita operacional fornecida pelas empresas de energia, a tarifa
divulgada inclui os encargos e os impostos aplicados aos consumidores finais.
O cálculo da tarifa média da Eskom reflete uma média dentro das diferentes
classes de consumo, e não representa necessariamente a tarifa final paga por um
determinado consumidor. Anota-se que a Eskom não calcula a tarifa final por
estrato de consumo dentro das tarifas residencial e industrial.
Em síntese, a base de dados da Eskom divulga as tarifas finais médias da África
do Sul para os consumidores residenciais e industriais. A publicação das tarifas
finais média é realizada anualmente, incluindo os impostos e os encargos a
211
serem pagos pelos consumidores finais. Por outro lado, não há nenhuma
informação sobre o detalhamento das tarifas nos dados divulgados pela Eskom.
212
industriais. A publicação das tarifas finais média é realizada anualmente,
incluindo os impostos e os encargos a serem pagos pelos consumidores finais.
Anota-se que não há nenhuma informação sobre o detalhamento das tarifas nos
dados divulgados.
1.10. ANEEL
A agência reguladora de energia elétrica disponibilizou os dados sobre os
preços históricos de energia elétrica para elaborar a tarifa final. Mais
especificamente, os dados do consumidor residencial B1 foram disponibilizados
pela Superintendência da Gestão Tarifária e permitiram calcular a tarifa final,
além de determinar os componentes da mesma.
Cabe enfatizar que o regulador não disponibilizou os dados necessários à
elaboração da tarifa industrial brasileiro, fazendo com que os dados levantados
no site da ANEEL (fornecidos pelo Sistema de Apoio à Decisão, SAD) podem
apresentar alguma distorção com as tarifas rigorosamente calculadas pela
agência reguladora.
Os dados coletados abrangem o período 2010-2014. As informações divulgadas
pelo regulador não incluem detalhamento sobre impostos e encargos. Dessa
213
forma, uma estimativa de impostos e encargos foi extraída do sistema de apoio
à decisão (SAD)362 e veio complementar as tarifas coletadas.
Em síntese, a base de dados da ANEEL divulga as tarifas finais de energia
elétrica para os consumidores residenciais e industriais para o período de 2010-
2014, combinando as informações divulgadas pela SGT e pela base do SAD.
362 O sistema de apoio à decisão foi desenvolvido para dar suporte às atividades
desempenhadas pelos servidores da ANEEL em suas atividades de regulação, fiscalização e
mediação do setor elétrico.
214
taxas de câmbio são as taxas oficiais determinadas pelas autoridades nacionais
ou pelo mercado de câmbio do país. É calculada uma taxa de câmbio anual,
correspondendo à média anual das taxas de câmbio do país considerado.
Em um segundo momento, utilizamos os dados do Fundo Monetário
Internacional para obter as taxas de câmbio para o ano de 2013. Dado que o
Banco Mundial não tinha publicado todas as taxas de câmbio para o ano de
2013 na época do cálculo da taxa de câmbio real, utilizaram-se dados do FMI
para completar a base do cálculo. As taxas de câmbio diárias são expressas em
“unidades da moeda local em relação ao dólar dos EUA”. Foi então calculada
uma taxa de câmbio média para o ano de 2013 levando as taxas de câmbio
diárias do FMI.
Da mesma forma, as taxas de inflação foram obtidas nas bases do Banco
Mundial e do Fundo Monetário Internacional. Primeiro, foram extraídas as
taxas de inflação do Banco Mundial medidas pelos índices nacionais de preços
ao consumidor, de 2000 até 2013. Segundo o Banco Mundial, a inflação medida
pelo índice de preços ao consumidor reflete a variação percentual anual do
custo de aquisição de uma cesta de bens e serviços para o consumidor médio,
que podem ser corrigidos ou alterados em intervalos específicos. Portanto, é
calculada uma taxa de inflação percentual anual, geralmente obtida pela
formula de Laspeyres. Por sua vez, extraímos a taxa de inflação de 2013 do
Fundo Monetário Internacional, que disponibiliza as taxas de inflação anuais
até o ano de 2013, medidas pelos índices nacionais de preços ao consumidor.
215
As taxas de câmbio nominais coletadas são expressas em “unidades da moeda
local em relação ao dólar dos EUA”. As taxas de câmbio reais são expressas
também em dólares americanos. O cálculo da taxa de câmbio real é realizado de
forma a levar em conta a diferença entre a inflação do país p e a inflação dos
EUA. Finalmente, as taxas de câmbio reais são ajustadas ao diferencial das
inflações de cada um dos anos e expressas no nível de preços de 2013, de acordo
com a seguinte equação:
𝐸𝑈𝐴
𝑃𝑛,2013
𝑇𝐶𝑅𝑛𝑝 = 𝑇𝐶𝑁𝑛𝑝 ∙
𝑃𝑛,2013
Onde:
𝑇𝐶𝑅𝑛𝑝 é a taxa de câmbio real entre a moeda país p e a moeda dos EUA para
o ano n;
𝑇𝐶𝑁𝑛𝑝 é a taxa de câmbio nominal entre a moeda país p e a moeda dos EUA
para o ano n;
𝐸𝑈𝐴
𝑃𝑛,2013 é o índice de preços ao consumidor dos EUA para o ano n, com base
2013;
𝑃𝑛,2013 é o índice de preços ao consumidor do país p para o ano n, com base
2013.
O último passo é o cálculo da média de vários anos da taxa de câmbio real. Na
pesquisa, foram calculadas as médias dos últimos 5 anos, 10 anos e 14 anos,
conforme ilustrada pela Tabela 35. Embora três taxas de câmbio real fossem
calculadas, foi escolhido a taxa de câmbio real média dos últimos 10 anos como
referência para a pesquisa. Esta escolha metodológica foi feita para se tirar das
distorções econômicas resultantes da crise econômica mundial de 2008/2009.
Observou-se, que a crise de provocou movimentos bastante bruscos nas
cotações de várias moedas que na sequência foram em muitos casos revertidos
de forma e que as taxas câmbio de 2013 muitas vezes se distanciam bem mais
da taxa de câmbio real média dos cinco anos anteriores do que da taxa de
câmbio real média calculada em uma janela de dez anos. Por isso, todos dados
ilustrados ao longo desta pesquisa se baseiam na taxa de câmbio real dos
últimos 10 anos do país considerado.
216
Tabela 35: Taxa de câmbio real média dos últimos 5, 10 e 14 anos a preços de
2013
5 anos 10 anos 14 anos
Argentina 5,0 4,9 4,7
Brazil 2,1 2,4 2,8
Canada 1,0 1,1 1,2
Chile 511,5 552,1 592,6
Colombia 1.937,6 2.246,8 2.497,4
Czech Republic 19,1 20,8 24,8
Finland 0,8 0,8 0,8
France 0,7 0,7 0,8
Germany 0,7 0,7 0,8
India 58,6 64,8 69,7
Italy 0,8 0,8 0,8
Japan 83,9 89,3 89,0
Korea 1.165,7 1.128,8 1.180,4
Mexico 13,3 13,0 12,8
Norway 5,8 6,0 6,4
Portugal 0,7 0,8 0,8
South Africa 8,7 8,9 9,9
Spain 0,8 0,8 0,9
Sweden 6,8 6,8 7,2
United Kingdom 0,7 0,6 0,6
United States 1,0 1,1 1,2
Por fim, que a taxa de câmbio real média de 10 anos se refere ao nível dos
preços de 2013, para podermos aplicar a taxa real média de câmbio aos preços
de energia é preciso ajustar os preços nominais da energia para o mesmo nível
de preços da taxa de câmbio real médio, ou seja, para o ano base 2013. Portanto,
a tarifa final de energia elétrica calculada segue a seguinte equação:
𝑇𝑎𝑟𝑖𝑓𝑎_𝑛𝑜𝑚𝑖𝑛𝑎𝑙𝑛𝑝 1
𝑇𝑎𝑟𝑖𝑓𝑎_𝑟𝑒𝑎𝑙𝑛𝑝 = ∙
𝑃𝑛,2013 𝑇𝐶𝑅𝑛𝑝
Onde:
𝑇𝑎𝑟𝑖𝑓𝑎_𝑟𝑒𝑎𝑙𝑛𝑝 é a tarifa de energia elétrica do país p para o ano n expressa
em preços de 2013;
𝑇𝑎𝑟𝑖𝑓𝑎_𝑛𝑜𝑚𝑖𝑛𝑎𝑙𝑛𝑝 é a tarifa de energia elétrica nominal do país p para o ano
n, em moeda nacional/kWh;
𝑃𝑛,2013 é o índice de preços ao consumidor do país p para o ano n, com base
2013;
𝑇𝐶𝑅𝑛𝑝 é a taxa de câmbio real entre a moeda país p e a moeda dos EUA para
o ano n.
217
preços da base do CIER em moeda nacional/kWh. Para consegui-lo, extraímos
as taxas de câmbios utilizadas pelo CIER na sua pesquisa anual, conforme
assinalado pela Tabela 36, para somente depois aplicar as taxas de câmbio reais
média e com isso obter a comparação final.
Tabela 36: Taxas de câmbio utilizadas pelo CIER, em moeda nacional por
dólar
2009 2010 2011 2012 2013
Argentina 3,5 3,8 4,0 4,3 4,9
Chile 641,3 506,0 466,0 518,7 474,6
Colombia 2.243,7 2.013,2 1.895,5 1.930,0 1.763,5
Fonte: CIER (2013)
3. Ajuste de Dados
3.1. Chile
Os componentes da tarifa dos consumidores residenciais e industriais são
estimados a partir do relatório Derechos y deberes del cliente da CHILECTRA
(2013). Isso significa que a aproximação dos componentes da tarifa do Chile
abrangem o ano de 2012 e apenas os clientes da maior distribuidora do país: a
CHILECTRA.
3.2. Colômbia
Os componentes da tarifa residencial são estimados a partir do relatório Análisis
de la regulación y estructura tarifaria para los países de la comparación do ECSIM
(2012). Os dados disponíveis abrangem o período 2009-2012 para os
consumidores residenciais e foram extrapolados para cobrir o ano de 2013.
Portanto, a composição tarifária residencial da Colômbia é dinâmica e abrange
o período 2009-2013.
218
Por outro lado, os componentes da tarifa industrial colombiana foram
estimados a partir do relatório Informe nacional de competitividad do CONSEJO
PRIVADO DE COMPETITIVIDAD (2013). Neste relatório, foi elaborada uma
comparação dos componentes da tarifa industrial para os consumidores não
regulados, comparando os anos de 2008 e 2012. Os dados disponíveis foram
extrapolados para abranger o período 2009-2013.
Cabe enfatizar que o custo da geração para o consumidor industrial foi extraído
do relatório da ECSIM (2012), pois os valores apresentados no relatório do
CONSEJO PRIVADO DE COMPETITIVIDAD (2013) não parecia
suficientemente consistente para elaborar uma estimativa adequada da
composição tarifaria industrial da Colômbia. A repartição entre o custo da rede
e os impostos do consumidor industrial foram estimados a partir das
informações do relatório de 2013.
3.3. Japão
Os componentes da tarifa abrangem apenas os consumidores residenciais e são
estimados a partir do relatório Global Benchmark Study of Residential Electricity
Tariffs de The Lantau Group (2013). A composição das tarifas elaborada pelo
estudo se refere apenas aos custos aplicados na cidade de Tóquio para o ano de
2013.
3.4. EUA
Em um primeiro momento, os impostos e encargos aplicados aos consumidores
residenciais e industriais são estimados dos relatórios anuais Comparision of
electricity prices in major north american cities divulgadas pela Hydro Québec
(2013). Os impostos e encargos divulgados são os aplicados nas capitais dos
estados considerados e não refletem a carga tributária do estado como um todo.
Os relatórios anuais da Hydro Québec também informam especificamente sobre
os impostos e encargos recuperáveis para os consumidores industriais.
Por outro lado, os custos de geração e os custos de rede se baseiam nas
estimações do Annual Energy Outlook 2040 da EIA (2013). É preciso destacar que
as estimações da agência americana de energia abrangem o setor elétrico como
um todo e não diferenciam os custos para o setor residencial e industrial. As
estimativas divulgadas pela EIA abrangem o período 2011-2013 e foram
extrapoladas para cobrir o período 2009-2013.
219
cerca de 1000 kWh/mês. Desta forma, o detalhamento da composição tarifária
reflete uma faixa de consumo específica, que subsidia os clientes residenciais de
menor consumo. ESKOM (2010) informa que a parte de impostos e encargos
acaba sendo muito elevada por conta do subsídio cruzado que pesa sobre esta
faixa de consumo. Enfim, a estimativa do detalhamento tarifário na África do
Sul reflete apenas o ano de 2010.
3.7. China
Da mesma forma que para o Japão e a Coreia do Sul, os componentes da tarifa
abrangem apenas os consumidores residenciais e são estimados a partir do
relatório Global Benchmark Study of Residential Electricity Tariffs de The Lantau
Group (2013). A composição tarifária elaborada pelo estudo se refere apenas aos
custos aplicados na cidade de Beijing para o ano de 2013.
3.8. Índia
Os impostos e encargos das tarifas residencial e industrial são estimados a
partir do relatório Tariff and Duty of Electric Supply in India do Ministry of Power
(2013) e correspondem aos impostos aplicados na cidade de Delhi para o ano de
2013. Portanto, as informações obtidas refletem apenas os impostos da capital
indiana para o ano de 2013 e não o país como um todo.
3.9. Rússia
Os componentes das tarifas residencial e industrial são estimados a partir do
relatório Russia 2014 - Energy Policies Beyond IEA Countries da IEA (2014) e
correspondem aos impostos aplicados na Rússia para o ano de 2011.
3.10. Brasil
Os componentes da tarifa residencial são estimados a partir das informações
divulgadas pela SGT. Os dados abrangem o período 2010-2014 e detalham a
composição das tarifas residenciais e industriais para todas as distribuidoras
brasileiras.
Para a tarifa residencial, a composição tarifária foi estimada a partir de 10
distribuidoras representativas do setor elétrico brasileiro como um todo. As 10
220
distribuidoras foram escolhidas em função do consumo energético médio dos
últimos 4 anos (conforme disponibilizado na base do SAD) e os coeficientes de
ponderação decorrem do peso energético de cada distribuidora na média desses
últimos 4 anos. Conforme apresentado na Tabela 37, segue a lista das 10
distribuidoras selecionadas para elaborar os componentes da tarifa residencial
brasileira e os coeficientes de ponderação correspondentes:
221
Anexo II: Influência da taxa de câmbio
A comparação das tarifas de energia elétrica entre vários países pode ser
significativamente afetada pela escolha da taxa de câmbio a ser utilizada na
comparação. Há várias alternativas: usar a taxa de câmbio vigente, a paridade
de poder de compra, ou taxa de câmbio real média de um período de vários
anos.
Cada metodologia possui vantagens e desvantagens em comparação com as
outras. A taxa de câmbio vigente é volátil, depende de fatores econômicos e
políticos de curto prazo, e pode não ser representativa da taxa de equilibro de
longo prazo.
Por outro lado, é possível usar a paridade do poder de compra (PPC) para
comparar as tarifas de energia elétrica. A ideia da PPC é calcular a taxa de
câmbio para que uma determinada cesta de bens tenha o mesmo valor entre
todos os países considerados. Essa metodologia equivaleria à taxa de câmbio de
equilíbrio de longo prazo caso não houvesse barreiras alfandegárias, custos de
transporte ou que todos os bens fossem comercializáveis entre os países. A
desvantagem de usar esta metodologia está justamente no irrealismo das
hipóteses. Como na prática há produtos que não são comercializáveis
internacionalmente, bem como barreiras à mobilidade dos fatores produção,
sobretudo mão de obra, a taxa de câmbio efetiva tende a discrepar no longo
prazo da PPC.
Um exemplo permite entender esse ponto. Os baixos salários dos países com
menor renda per capita fazem com que os serviços de uma forma geral sejam
baratos. Como grande parte dos serviços não é comercializável
internacionalmente e como tampouco existe possibilidade real de migrações
maciças de mão de obra capazes de fazer convergir mundialmente os salários,
os baixos preços relativos dos serviços são uma característica estrutural dos
países com baixa renda per capita. E isso tende a gerar um viés nas taxas de
câmbio calculadas pela PPC, relacionado ao forte peso dos serviços na
economia: as taxas de câmbio observadas nos países de renda per capita baixa
tendem a parecer sistematicamente desvalorizadas em relação ao câmbio
calculado pela PPC enquanto as taxas de câmbio dos países ricos tendem a
parecer sistematicamente supervalorizadas. Os exemplos apresentados mais
abaixo permitirão constatar esta tendência.
Uma terceira possibilidade é a de converter os preços pela taxa de câmbio real
média de vários anos. A vantagem desta metodologia é de reduzir as distorções
222
das taxas de câmbio vigentes e estabelecer uma taxa de longo prazo. No âmbito
deste projeto, a escolha metodológica foi de utilizar uma taxa média real dos
últimos dez anos. Cogitou-se utilizar a taxa de câmbio real média em uma
janela de tempo menor, por exemplo, de cinco anos. Entretanto optou-se por
um período mais dilatado a fim de mitigar a grande volatilidade das taxas de
câmbio do período que se seguiu à crise de 2008.
Neste anexo, propõe-se aplicar e comparar diversas taxas de câmbio sobre as
tarifas de energia elétrica e avaliar as diferenças nos resultados. Em um
primeiro momento, será aplicada o ranking das tarifas residenciais com a taxa
de câmbio PPC, em comparação com a taxa de câmbio real média dos últimos
10 anos. No segundo item, serão apresentados os ranking com as taxas de
câmbio real média dos últimos 5 anos e as taxas de câmbio do último ano.
Neste item, as tarifas residenciais com a taxa de câmbio real dos últimos 10 anos
(utilizada como metodologia padrão desta pesquisa) são comparadas com as
tarifas calculadas com a taxa de câmbio pela Paridade de Poder de Compra (ou
PPC). A Figura 8 apresenta o ranking internacional das tarifas residenciais para
o ano de 2013 (incluindo os impostos e encargos), utilizando uma taxa de
câmbio real dos últimos 10 anos. A média internacional da tarifa residencial é
de 16,9 cUSD/kWh, sendo muito próxima da tarifa brasileira para 2013, de 16,6
cUSD/kWh.
223
Figura 87: Tarifa residencial de 2013 em cUSDreal/kWh
Câmbio real médio de 2004 a 2013
224
sentido de apontar taxas PPC mais valorizadas do que as verificadas fará com
que os países com renda per capita baixa apareçam pior neste ranking do que
qualquer ranking baseado no câmbio observado em certo período de tempo.
Na Figura 88, é apresentado o ranking internacional das tarifas residenciais de
2013 com uma taxa de conversão PPC nominal do ano de 2013. Em uma
comparação visual com a Figura 87, salta aos olhos a profunda modificação do
ranking internacional. A média está em torno de 18,9 cUSD/kWh, sendo
ultrapassada por 10 países. O Brasil está agora um pouco acima desta média
com uma tarifa de 20,9 cUSD/kWh, se colocando no 17º deste ranking PPC.
Figura 88: Tarifa residencial final de 2013 em cUSD/kWh – PPC nominal 2013
O viés do PPC no sentido de calcular para os países com baixa renda per capita
uma taxa de câmbio mais valorizada do que a observada na prática pode ser
contatado na Tabela 2. Os países em desenvolvimento, cujo PIB per capita não
ultrapassa 22 mil USD/capita, apresentaram uma degradação de sua posição no
ranking na seleção internacional. Ao contrario, os países cujo PIB per capita está
acima de 22 mil USD/capita apresentaram uma melhoria no ranking
internacional com a classificação PPC 364. Isso indica que que uma comparação
com a taxa de câmbio PPC reflete mais as diferenças decorrentes da variação da
renda nos diversos países do que a diferença das tarifas de energia elétrica.
Assim sendo, a constatação de que um país gasta uma proporção maior de sua
renda em energia elétrica do que outro indica que a população de um país tem
um poder aquisitivo menor do que o outro, o que suporta a conclusão de que a
metodologia da PPC é bastante limitada para comparações entre países com
níveis de renda per capita muito diferentes.
Tirando os estados de Nova York e da Califórnia, que foram os únicos estados a apresentar
364
225
Tabela 38: Evolução do ranking internacional para as tarifas residenciais:
Taxa de câmbio real média dos últimos 10 anos e PPC
226
dos últimos 10 anos. Constata-se que o Brasil possui uma tarifa inferior à media
internacional (9,1 cUSD/kWh), ficando no 10º lugar do ranking.
Já na Figura 90 foi aplicada uma taxa de câmbio real dos últimos 5 anos, onde se
constata uma modificação do ranking internacional. A tarifa industrial média
sem impostos fica estável, em torno de 10,8 cUSD/kWh. Os primeiro e último
lugares do ranking são ainda ocupados respetivamente pela África do Sul (4,2
cUSD/kWh) e pela Itália (20,6 cUSD/kWh). Com essa nova taxa de câmbio real
média, a tarifa industrial da Argentina se torna mais competitiva e se coloca no
segundo lugar do ranking. Por sua vez, o Brasil se tornou menos competitivo no
cenário internacional, tendo uma tarifa de 10,9 cUSD/kWh, ficando no 14º lugar
do ranking.
Figura 90: Tarifa industrial sem impostos 2013 em cUSD/kWh - Câmbio real
médio dos últimos 5 anos
227
melhorar seu posicionamento no ranking internacional, a Colômbia perde
competitividade nessa última modelização, ficando em penúltimo lugar (18,2
cUSD/kWh). Por sua vez, a tarifa industrial brasileira (10,3 cUSD/kWh) se
coloca no 15º lugar, tendo uma tarifa muito próxima das tarifas da Califórnia,
da Alemanha e da França.
228
Anexo III: Comparação Nacional das Tarifas de
Energia Elétrica para o ano de 2014
Este anexo apresenta uma comparação nacional das tarifas de energia elétrica
para o ano de 2014, enfatizando a tarifa dos consumidores residenciais B1.
Pretende-se decompor a tarifa residencial econômica por componente. Os
dados apresentados neste anexo correspondem às tarifas nominais de 2014 e
são expressos em R$/MWh. As tarifas brasileiras residenciais de 2014 foram
elaboradas partir dos dados fornecidos pela Superintendência de Gestão
Tarifária do regulador brasileiro (ANEEL).
No Brasil, a ANEEL adota uma única metodologia para fixar as tarifas das
distribuidoras, mas é interessante perceber que a tarifa final, mesmo sem
considerar os impostos e as taxas locais, varia bastante de uma empresa a outra.
Isso vem do fato que os custos de serviço de distribuição variam
significativamente entre as distribuidoras. De maneira abrangente, os custos de
serviços das distribuidoras são função dos seguintes itens:
i. Portfólio de energia contratada;
ii. Volume de investimentos em ativos fixos e idade média dos ativos;
iii. Níveis de perdas e inadimplência;
iv. Custos operacionais.
De fato, algumas distribuidoras apresentam um mix de compra de energia mais
barato que outras; algumas áreas de concessão de grande extensão geográfica e
baixa densidade demográfica necessitam de mais investimentos para atender
seus consumidores; etc... Isso mesmo sem considerar que os impostos estaduais
e municipais incidentes sobre a tarifa oscilam consideravelmente.
229
em um período prolongado de hidrologia desfavorável, conforme detalhado no
Anexo IV: Comparação Internacional das Tarifas de Energia Elétrica para o ano
de 2014.
350
22
300 44
40
18
18
104
250
R$/MWh
114 117 99
200 115 14
11
150 28 28 12
100 197
164
132 137 138
50
0
2010 2011 2012 2013 2014
Mais especificamente, anota-se que o custo de energia médio subiu entre 2012 e
2014, tendo um aumento de 42,3% e chegando a um patamar de 197 R$/MWh.
Os três outros componentes da tarifa B1 (FIO A, FIO B e Encargos) ficaram
relativamente estáveis desde 2012.
Com o objetivo de analisar com maior profundidade o detalhamento tarifário
das distribuidoras, a Figura 93 apresenta o ranking das tarifas residenciais B1
de energia elétrica para o ano de 2014, incluindo o custo da energia, o custo da
rede (Fio A e Fio B) e os encargos. Nesta Figura, os impostos não foram
estimados.
A tarifa residencial média de 2014 é de 360 R$/MWh, ou seja, apresentou um
aumento de 15% em relação ao ano de 2013. Nesta comparação, a CJE possui a
menor tarifa do painel, com 247 R$/MWh, enquanto a CHESP apresenta uma
tarifa de 467 R$/kWh, sendo a mais cara da comparação.
230
Figura 93: Ranking das tarifas B1 de 2014 em R$/MWh
231
Figura 94: Ranking da tarifa B1 de 2014 em R$/MWh, sem impostos – 10
maiores distribuidoras
232
Figura 95: Ranking detalhado da tarifa B1 de 2014 em R$/MWh – 10 maiores
distribuidoras
233
Figura 96: Repartição dos componentes da tarifa B1 de 2014 em R$/MWh – 10
maiores distribuidoras
234
Anexo IV: Comparação Internacional das Tarifas de
Energia Elétrica para o ano de 2014
365A partir de 2015, as contas de energia passaram a incluir o Sistema de Bandeiras Tarifárias. O
sistema possui três bandeiras: verde, amarela e vermelha, que indicam o seguinte: (i) A
bandeira verde sinaliza condições favoráveis de geração de energia. A tarifa não sofre nenhum
acréscimo. (ii) A bandeira amarela indica condições de geração menos favoráveis. A tarifa sofre
acréscimo de 2,5 cR$/kWh. (iii) A bandeira vermelha sinaliza condições mais custosas de
235
i. Reajuste tarifário extraordinário médio aprovado em Fevereiro de 2015,
que foi estimado em torno de 24,2% para o setor industrial e 20,1% no
setor residencial;
ii. Bandeira tarifária de 55 R$/MWh aplicada em Março de 2015;
iii. Conta ACR de 32 R$/MWh aplicada em Março de 2015.
O reajuste tarifário extraordinário foi aplicado à tarifa brasileira de 2014. Por
sua vez, a bandeira tarifária e a conta ACR foram deflacionadas com base no
mês de Julho de 2014, convertidas em cUSD/kWh com a mesma taxa de câmbio
real de 10 anos utilizada para calcular o ranking 2014 e adicionadas à tarifa
brasileira de 2014.
geração. A tarifa sobre acréscimo de 5,5 cR$/kWh. O sistema de bandeiras é aplicado por todas
as concessionárias conectadas ao Sistema Interligado Nacional.
366A Conta no Ambiente de Contratação Regulada (ACR), criada pelo Decreto nº 8.221/2014,
teve como finalidade lastrear a concessão de empréstimos bancários à CCEE destinados cobrir,
total ou parcialmente, as despesas incorridas pelas concessionárias de distribuição, no período
de fevereiro a dezembro de 2014.
236
Figura 97: Tarifa residencial final de 2014 em cUSD/kWh367
367 As tarifas da China e da Índia calculadas neste gráfico correspondem às tarifas de 2013 e
tarifa da Rússia corresponde à tarifa de 2012.
237
conta ACR 6,5%. Cabe lembrar que nesta estimativa não foram considerados os
reajustes tarifários anuais de 2015.
368A tarifa industrial da China não foi encontrada; portanto este país não aparece nesta figura.
As tarifas da Rússia e da Coreia correspondem às tarifas de 2012, enquanto a tarifa da Índia
corresponde aos valores de 2013.
369O ICMS e o PIS/Cofins são impostos recuperáveis no sentido de que uma indústria pode
descontar os montantes de impostos embutidos na compra de insumos de seus fornecedores de
seus impostos a pagar. Na Europa o IVA funciona da mesma maneira. Cabe ressaltar, para o
caso do Brasil, que embora as indústrias tenham direito ao ressarcimento do ICMS e do
PIS/Cofins, em algumas situações não é possível aproveitar todo o montante de créditos
gerados, tornando os impostos na prática apenas parcialmente recuperáveis.
238
que representou 7,7 cUSD/kWh em 2014. Assim como o Japão, a Itália é muito
dependente de importações.
Por sua vez, o Brasil apresentou uma tarifa de 14,0 cUSD/kWh 370 em 2014,
ultrapassando a média internacional e ficando no 18° lugar nessa seleção. Entre
2013 e 2014, a tarifa nominal apresentou um aumento de 12%, mas a tarifa real
subiu de apenas 5,3%, na medida em que a inflação brasileira superou 6% em
2014.
Em 2015, a tarifa industrial brasileira apresenta um aumento de 48,6% em
comparação com a tarifa de 2014, fazendo com que o Brasil tenha a terceira
tarifa de energia elétrica mais cara do mundo. Isso resulta em primeiro lugar do
reajuste tarifário extraordinário, em torno de 24,2%, mas é também vinculado à
aplicação da bandeira tarifária vermelha (sobre custo de 15,5%) e da conta ACR
(sobre custo de 9%).
370Cabe enfatizar que a tarifa industrial brasileira reflete apenas os dados divulgados na base do
SAD. De acordo com as informações divulgadas pela base do regulador, o cálculo da tarifa
industrial resulta da divisão da receita de fornecimento de energia elétrica com tributos pelo
volume de energia consumido pelos clientes industriais.
239