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BOLETIM DE ANÁLISE DA CONJUNTURA - FEVEREIRO 2018

TERRITORIAL

O artigo aborda a evolução do desmatamento na Amazônia Legal


no período 2004-2017. Em seu escopo, trata das medidas respon-
sáveis pela redução do desmatamento nos governos petistas, assim
como as ameaças em andamento no período pós-golpe

AMEAÇAS À REDUÇÃO DO DESMATAMENTO NO PERÍODO PÓS-GOLPE


O presente artigo aborda a evolução do desmatamen- pelo uso das terras, o que resulta em assassinatos
to na Amazônia Legal no período 2004-2017 por meio nas disputas mais graves. Já a grilagem de terras rea-
dos dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais lizada para o desmatamento causa também a perda
(Inpe), disponibilizados pelo Ministério da Ciência, Tec- de terras públicas brasileiras. A continuidade desses
nologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). Aborda processos ocasionou e ainda pode ocasionar boico-
também as medidas responsáveis pela redução do tes comerciais de países importadores que defendem
desmatamento nos governos petistas, assim como as
campanhas ambientais. Por fim, o desmatamento é
ameaças em andamento no período pós-golpe.
um dos grandes responsáveis por emissões de gases
de efeito estufa no Brasil, intensificando as mudanças
Evolução do desmatamento na Amazônia Legal climáticas e suas consequências.

O desmatamento gera prejuízos à sociedade e ao O gráfico a seguir aponta a evolução do desmata-


meio ambiente, além de provocar conflitos sociais mento na Amazônia Legal. Em uma série histórica do
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período 2004-2017, observa-se a diminuição de seu no período de quatorze anos. Entre 2004 e 2012 hou-
ritmo ao longo dos anos, especialmente até 2012. Em ve uma tendência de redução do desmatamento mais
2004, 27.772 km² foram desmatados, em oposição a acentuada, chegando a 86%. Nesse período, impor-
6.624 km² de floresta desmatada em 2017. Isso signi- tantes medidas foram tomadas pelos governos Lula e
fica uma redução do ritmo de desmatamento em 76% Dilma para que se conseguisse essa desaceleração.

Gráfico 1 – A evolução do desmatamento na Amazônia Legal – 2004-2017

Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados do MCTIC/Inpe

As medidas pela redução do desmatamento adotadas gência de documentação comprobatória de regulari-


no período 2004-2012 foram abordadas no relatório dade ambiental e outras condicionantes para fins de
“Desmatamento zero na Amazônia: como e por que financiamento agropecuário no Bioma Amazônia.
chegar lá”, elaborado pelo Grupo de Trabalho pelo Des- Depois de 2012, houve oscilações no ritmo de desma-
matamento Zero, formado por oito organizações da so- tamento, mas foi possível perceber que a tendência do
ciedade civil: Greenpeace Brasil, Instituto Centro de Vida período anterior foi modificada. Apesar da diminuição
(ICV), Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrí- pontual de área desmatada entre 2016 e 2017, o relatório
cola (Imaflora), Instituto do Homem e Meio Ambiente da do Grupo de Trabalho pelo Desmatamento Zero apontou
Amazônia (Imazon), Instituto de Pesquisa Ambiental da preocupações. Segundo as organizações, a queda seria
Amazônia (Ipam), Instituto Socioambiental (ISA), WWF um ponto fora da curva tendo em vista as medidas ne-
Brasil e The Nature Conservancy (TNC) Brasil. gativas tomadas pelo governo interino de Michel Temer.
Dentre as ações apontadas pelo relatório, destacam-se O gráfico a seguir mostra a redução da área de floresta
a conservação, a fiscalização, as penas mais duras e a desmatada na Amazônia Legal por unidade da Fede-
restrição de crédito. No quesito conservação, as áreas ração. Observa-se que os dados do Mato Grosso apre-
protegidas na Amazônia Legal aumentaram em 59,6 sentaram a maior queda de desmatamento no perío-
hectares entre 2003 e 2006. Em 2008, houve um do, com uma redução de 89%. O Tocantins também
maior rigor na fiscalização dos municípios com área de apresentou uma redução importante, de 84%. Cami-
desmatamento intensa e os proprietários cujas terras nhando em uma tendência de menor intensidade, os
foram ilegalmente desmatadas passaram a responder números do Amazonas indicaram uma queda menos
a penas como embargo de atividades e apreensão de acentuada do período, de apenas 22%. Os dados do
bens. No mesmo ano, a Resolução nº 3545, de 29 de Amapá também não atingiram um ritmo de redução
fevereiro, do Banco Central, passou a estabelecer exi- significativo, manifestando 33% de queda.
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Gráfico 2 – A evolução do desmatamento nas unidades federativas da Amazônia Legal – 2004-2017

Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados do MCTIC/Inpe.

Segundo o Grupo de Trabalho pelo Desmatamento Zero, mente, empresas e países que compram e investem no
existe um caminho possível para se chegar à redução do Brasil também deveriam ser responsabilizados pelas leis
desmatamento na Amazônia Legal. Esse caminho seria ambientais, recusando aqueles que as infringem.
o resultado de ações governamentais, empresariais e da
sociedade. O poder público se responsabilizaria por po-
líticas ambientais que tenham efetividade e durabilidade Preocupação com desmatamento no período pós-golpe
ao longo do tempo. Nesse sentido, o grupo propõe que O período pós-golpe oferece preocupações devido ao
haja medidas mais eficazes de fiscalização e de repres- novo rumo dado pelo governo federal e pelo Poder Le-
são da grilagem de terras, a criação e manutenção de gislativo para a questão referente à redução do desma-
áreas protegidas e a melhoria da coordenação interfe-
tamento na Amazônia Legal. É evidente que as medidas
derativa entre os estados e o governo federal.
tomadas vêm favorecendo os ruralistas em detrimento
Também seria papel do governo encorajar atividades do meio ambiente, pois houve um afrouxamento em
sustentáveis. O poder público poderia contribuir por relação às ações realizadas durante os governos petistas
meio de incentivo ao extrativismo florestal sustentável. para fiscalizar e coibir o desmatamento ilegal.
Além disso, o governo federal deveria apoiar práticas
Nesse sentido, são ameaças a essa tendência de redu-
agropecuárias que reduzam o desmatamento, estabe-
ção do desmatamento leis e projetos de leis que ga-
lecendo prioridade de crédito rural para os municípios
nham cada vez mais espaço com o fortalecimento dos
que atinjam a determinadas metas de desaceleração
ruralistas pelos golpistas. Dessa maneira, destaca-se a
desse processo. Idealmente, o crédito rural deveria ser
alocado apenas via Programa ABC do governo federal, Lei n° 13.465/2017, que facilita a regularização de ter-
que é o programa de crédito rural para a agricultura de ras provenientes da grilagem, ao possibilitar a extensão
baixa emissão de carbono. de prazo e o subsídio de aproximadamente 21 bilhões
de reais aos grileiros pela concessão de descontos. Os
O setor privado, por sua vez, pode contribuir com o fim
Projetos de Lei 8.107/2017 e 3.729/2004, que tratam
do desmatamento na Amazônia Legal por meio do mo-
da redução da Floresta Nacional do Jamanxim e de ou-
nitoramento da origem dos produtos comprados, com
tras Unidades de Conservação, assim como da redução
o boicote daqueles provenientes de desmatamento.
do rigor do licenciamento ambiental, também podem
Além disso, as empresas podem apoiar os produtores
ser considerados ameaças.
rurais fornecedores a se adequarem às regras ambien-
tais. De acordo com o Grupo de Trabalho pelo Desmata- Se o Brasil já foi liderança mundial na proposição de
mento Zero, também seria importante que as empresas ações ambientais para a redução de mudanças climá-
fossem mais transparentes com a sociedade em relação ticas, hoje essa posição se encontra fragilizada e o país
a seus esforços contra o desmatamento. Internacional- corre o risco de perder mais da sua biodiversidade.
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