Professional Documents
Culture Documents
1
EMERGÊNCIAS CLÍNICAS
2
Parada cardiorrespiratória/ACLS
valadas com a checagem de pulso. A utilização estiver <94%, diante das evidências dos efeitos
de epinefrina está indicada a cada 3 a 5 minu- nocivos da hiperóxia após a PCR.
tos. A vasopressina pode substituir a 1ª ou a 2ª
dose de epinefrina. A atropina não está mais C - Hipotermia induzida
indicada. De acordo com a suspeita etiológica, É indicada por 12 a 24 horas após a PCR, obje-
medidas específicas devem ser realizadas con- tivando-se temperatura central de 32 a 34°C. É
comitantes às manobras de RCP (Tabela 2). um método terapêutico que possui impacto na
evolução neurológica destes pacientes, sendo
Tabela 2 - Principais causas de PCR por assistolia
ou atividade elétrica sem pulso e a terapia reco- indicada àqueles que não respondem adequa-
mendada durante as manobras de ressuscitação damente a comandos após a RCP. A presença
Hipovolemia Reposição de volume de sangramento ativo não compressível é con-
Oferta de oxigênio e venti- traindicação absoluta.
Hipóxia
lação
“Hidrogênio” – aci-
D - Prognóstico neurológico
Bicarbonato de sódio Muitos pacientes evoluem com sequelas
dose metabólica
Reposição de potássio/bi- neurológicas irreversíveis após a PCR. Além da
Hipo/hipercalemia hipotermia induzida, é necessário tratar ade-
carbonato
Hipotermia Aquecimento quadamente as convulsões, que devem ser
Pneumotórax hiper- diagnosticadas clinicamente ou por eletroence-
Punção de alívio falograma e tratadas prontamente.
tensivo
Tamponamento
Punção pericárdica (Marfan)
cardíaco
Toxinas Antagonistas específicos
Tromboembolismo
Trombólise
pulmonar
Trombose corona-
Tratamento de reperfusão
riana
7. Cuidados pós-PCR
Suporte cardiopulmonar e neurológico é
recomendado após as manobras efetivas de
RCP, para um melhor prognóstico às vítimas
sobreviventes.
A - Suporte cardiovascular
Além da administração de soluções crista-
loides e drogas vasoativas para manutenção da
pressão sistêmica, o cateterismo de urgência é
indicado para pacientes com suspeita de PCR
por infarto agudo do miocárdio.
B - Suporte ventilatório
A saturação arterial da oxi-hemoglobina
deve ser continuamente monitorizada, sendo
a oferta de oxigênio indicada quando a SpO2
3
2
Choque
Roberta Pulcheri Ramos
4
Choque
5
EMERGÊNCIAS CLÍNICAS
6
3
Choque séptico
Giselle Amado Boumann
7
EMERGÊNCIAS CLÍNICAS
8
Choque séptico
B - Erradicação da infecção
Tratamento antimicrobiano rápido e efetivo
é essencial para o controle da sepse grave e
do choque séptico. Assim, regimes antimicro-
bianos devem ser iniciados tão logo seja feita
a suspeita de sepse. No entanto, deve-se aten-
tar que alguns focos não são resolvidos apenas
com antimicrobianos, como abscessos e infec-
ções relacionadas a cateteres que formam bio-
filme (cateter venoso central, sonda vesical de
demora), e devem ser removidos com pronti-
dão.
Os esquemas antimicrobianos devem sem-
pre levar em consideração o foco infeccioso e
a história do paciente (uso prévio de antimicro-
bianos, alergias, comorbidades e origem – hos-
pitalar ou comunitária).
9
4
Anafilaxia
Fabrício Martins Valois
1. Conceito - Fármacos;
- Exercício físico;
As reações anafiláticas representam um
- Hemoderivados;
evento não tão frequente na rotina da sala de
emergência, respondendo por menos de 0,5% - Látex;
das admissões; no entanto, sua importância é - Óxido de etileno;
demonstrada pela mortalidade não desprezível, - Contrastes radiológicos;
de cerca de 1%. A anafilaxia corresponde a uma - Idiopática.
série de manifestações sistêmicas por reação de
hipersensibilidade aguda, ocasionada por libera- 3. Fisiopatologia
ção de mediadores de mastócitos intermediados
Ainda que classicamente a anafilaxia tenha
pela IgE, após a exposição a determinado antí-
sido relacionada a mecanismos dependentes
geno em um indivíduo previamente sensibilizado.
da IgE, outras vias imunológicas são reconhe-
Por vezes, o indivíduo pode apresentar um
cidas, como as dependentes de IgG e as rela-
quadro que é indistinguível daquele associado
cionadas a imunocomplexos. Classicamente,
à anafilaxia, porém sem participação da IgE.
considera-se que a reação anafilática decorra
Anteriormente, situações como essas eram
de uma reexposição a um antígeno que gerou
denominadas reações pseudoalérgicas, ou ana-
sensibilização prévia, com produção, principal-
filactoides; a WAO (World Allergy Organization)
mente, de IgE. Minutos a horas após um novo
recomenda evitar esse termo, pois as reações
contato, ocorrerá liberação de mediadores da
mediadas por IgE são denominadas imunológi-
anafilaxia, como histamina e outras substân-
cas (o que incluiria reações mediadas por IgG,
cias, por mastócitos ligados à IgE específica. A
imunocomplexos e complemento); as demais,
partir desse evento, uma série de modificações
não imunológicas. Na prática, no entanto, o
teciduais ocorre: há aumento da permeabili-
suporte oferecido na sala de emergência é
dade capilar, edema de mucosa, e, eventual-
indistinguível nessas 2 situações, sendo abor-
mente, contração de musculatura lisa, fenô-
dadas em conjunto neste capítulo.
menos que podem ser locais ou sistêmicos. As
manifestações podem ser intensificadas por
2. Etiologia ativação sequencial do complemento ou da
cascata de coagulação.
Tabela 1 - Causas mais comuns de anafilaxia imu-
nológica e não imunológica
Nas reações não imunológicas, a ativação de
mastócitos e basófilos ocorre sem participação
- Alimentos;
de imunoglobulinas ou imunocomplexos. Um
- Venenos de insetos;
exemplo comum na prática diária é a “síndrome
10
Anafilaxia
do homem vermelho” (red man syndrome), horas. Ademais, é reconhecido o fato de que
observada com uso da vancomicina. Por meca- quanto mais precoces forem as manifestações,
nismos desconhecidos, o fármaco induz libe- maior é o potencial daquele antígeno em causar
ração de mediadores que promovem eritema um quadro com repercussão clínica significativa.
difuso, com graus variáveis de hipotensão, A forma como ocorreu a exposição ao antí-
muito similar às reações imunológicas. Outra geno também é relevante. Enquanto o contato
situação não infrequente é a reação aos con- localizado geralmente induz a quadros mais
trastes radiológicos, que decorre de ativação restritos (por exemplo, com sintomas nasais
do complemento e do sistema de coagulação, após a exposição a antígenos inaláveis), a expo-
configurando mecanismo não imunológico. sição sistêmica mais frequentemente se associa
a quadros mais exuberantes.
4. Manifestações clínicas e Na avaliação clínica, o questionamento sobre
quadros similares no passado é de importância
diagnóstico fundamental, principalmente se houver relato
As manifestações clínicas relacionadas à de quadro com repercussão grave, o que pode
anafilaxia são variadas, envolvendo diversos denotar pior prognóstico.
sistemas, podendo acontecer isoladamente Por vezes, o paciente apresentará um qua-
ou agrupadas. No entanto, de forma geral, o dro clínico compatível com anafilaxia, mas des-
quadro será descrito como tendo início minu- conhecerá o antígeno causal; tanto nessa situ-
tos ou horas após a exposição a determinado ação, quanto naquela em que houver suspeita,
antígeno. pelo paciente, de um antígeno específico, é fun-
Tabela 2 - Manifestações clínicas mais frequentes damental o questionamento objetivo acerca da
exposição aos antígenos mais frequentes, prin-
Eritema, rash morbiliforme, urticá-
Pele cipalmente para evitar recorrência do quadro.
ria, angioedema, piloereção
Prurido, parestesias, edema (lábios,
Para a abordagem diagnóstica, existem crité-
Mucosa oral rios propostos para a caracterização da anafila-
língua, úvula), gosto metálico
Prurido, lacrimejamento, eritema, xia (Tabela 3).
Ocular
edema Tabela 3 - Critérios diagnósticos da anafilaxia
Sintomas nasais (prurido, crises es- Início agudo (minutos a horas), com manifesta-
ternutatórias, rinorreia), prurido ções em pele e/ou mucosas
Respiratório na orofaringe, rouquidão, estridor, (exemplo: eritema, urticária generalizada, edema
dispneia, tosse, chiado, cianose (hi- facial)
poxemia) - Associado a pelo menos 1 dos seguintes:
· Acometimento do trato respiratório (exemplo:
Gastrintes- Náuseas, vômitos, dor abdominal
dispneia, sibilância, estridor, redução do pico de
tinal em cólica, diarreia, disfagia fluxo expiratório);
Tonturas, síncope, dor torácica, pal- · Redução da pressão arterial ou sinais de baixo débi-
Cardiovas- pitações, taqui/bradicardia, hipo- to (como síncope, hipotonia).
cular tensão, incontinência fecal/urinária, - 2 ou mais dos seguintes, após exposição a antíge-
parada cardíaca no conhecido pelo paciente (minutos a horas):
Ansiedade, convulsões, cefaleia, · Envolvimento de pele e/ou mucosas (exemplo:
Neurológico eritema, urticária generalizada, edema facial);
confusão
· Acometimento respiratório (exemplo: dispneia,
sibilância, estridor, redução do pico de fluxo ex-
A evolução dos sintomas é variável e pode piratório);
seguir um curso monofásico, com estabilidade · Redução da pressão arterial ou sinais de baixo débi-
após surgimento das primeiras manifestações, to (como síncope, hipotonia);
ou bifásico, quando mesmo após estabilização · Sintomas gastrintestinais persistentes (exemplo:
vômitos).
inicial, aparecem novos dados após algumas
11
EMERGÊNCIAS CLÍNICAS
12
Anafilaxia
13
5
Síndrome coronariana aguda
Fabrício Martins Valois
14
Síndrome coronariana aguda
A dor torácica habitualmente dura de poucos O ECG também pode auxiliar no diagnós-
minutos até 1 hora e pode ser referida irradiação tico diferencial, com achados que indiquem
para o dorso, o membro superior esquerdo e a pericardite ou embolia pulmonar, por exem-
mandíbula. Deve-se ter atenção à possibilidade plo. É importante lembrar que uma parcela de
de apresentações atípicas, o que é comum e traz pacientes com SCA se apresentará com ECG
consigo um prognóstico pior. Dor de característi- normal ou com tênues anormalidades; assim,
cas diversas, como pleurítica ou com piora com não pode ser utilizado, isoladamente, para
palpação ou movimentação representando SCA, afastar a possibilidade de SCA, principalmente
ocorre mais raramente; o que não é infrequente por representar uma análise pontual, possi-
é o relato de sintomas como dispneia, fraqueza, velmente dissociada do quadro dinâmico que
mal-estar, desconforto cervical ou no braço, epi- compreende a síndrome.
gastralgia, dispepsia, sudorese profusa, asso- Os achados ao ECG de pacientes com
ciados ou não à dor torácica. Quando a dor não SCA sem supradesnivelamento de ST (AI ou
acompanhar o quadro descrito, recebe a denomi- IAMSSSST) podem ser tênues, como depressão
nação de equivalente isquêmico, mais observado do segmento ST e inversão da onda T em uma
em idosos e diabéticos, e que merece a mesma parede específica (Figura 1 e Tabela 2). A inver-
abordagem daqueles pacientes com dor típica.
são da onda T é menos específica, mas passa
O exame físico não demonstra dados signifi-
a ter poder diagnóstico quando localiza uma
cativos na maioria das vezes. Quando anormal,
parede específica, e principalmente se há tra-
geralmente apresenta achados relacionados a
çado prévio sem a anormalidade.
complicações do infarto, como edema agudo
Eventualmente, a presença de depressão do
dos pulmões, ou dados relacionados a algum
diagnóstico diferencial, como sinais de trom- ST em uma localização pode refletir imagem
bose venosa profunda na embolia pulmonar. “em espelho” de um IAMCSSST de parede recí-
Os casos de suspeita de SCA, com base em proca, particularmente encontrada na parede
quadro sugestivo (como aqueles com dor torá- lateral em pacientes com infarto da parede
cica possivelmente cardíaca, dor cardiogênica inferior, ou o contrário.
definida ou suspeita de equivalente isquêmico), Uma abordagem adicional ao ECG deve ser
devem ser avaliados seriadamente no serviço feita em pacientes com suspeita de IAM do ven-
de emergência, com análise de enzimas cardí- trículo direito; esses casos podem ocorrer em
acas e eletrocardiograma. até 30% daqueles com estigmas eletrocardio-
gráficos de infarto da parede inferior. O infarto
3. Investigação diagnóstica do ventrículo direito deve ser documentado
com derivações precordiais à direita, V3r e V4r.
A - Eletrocardiograma
O eletrocardiograma (ECG) representa o
método complementar mais importante na
avaliação de pacientes com SCA. É útil na aná-
lise clínica inicial e no acompanhamento no
setor de emergência. A análise contemplará a
frequência cardíaca, o ritmo, a morfologia do
complexo QRS, mas principalmente as seguin-
tes anormalidades características:
- Supradesnivelamento do segmento ST;
- Infradesnivelamento do segmento ST;
- Inversão de onda T; Figura 1 - ECG com inversão da onda T em deriva-
- Ondas Q. ções precordiais
15
EMERGÊNCIAS CLÍNICAS
C - Outros exames
Figura 2 - Supradesnivelamento de ST em paciente Todos os admitidos com hipótese de SCA
com infarto da parede inferior (D2, D3 e avF) devem ter análise laboratorial de hemo-
grama, eletrólitos e função renal colhidos
com a 1ª avaliação de enzimas. O perfil lipí-
dico deve ser analisado em todos, e a coleta,
realizada na manhã seguinte à internação,
em jejum.
16
Síndrome coronariana aguda
17
EMERGÊNCIAS CLÍNICAS
18
Síndrome coronariana aguda
mostra superior à trombólise química; desta única, dependente do peso: <60kg = 30mg; 61 a
forma, se ambas estiverem disponíveis, e o 70kg = 35mg; 71 a 80kg = 45mg; >90kg = 50mg).
paciente for considerado apto à angioplastia, Como o efeito da estreptoquinase é dura-
esta deve ser realizada. douro, a heparinização após seu uso não é
A angioplastia primária associa-se a meno- necessária; no caso do rt-PA, de efeito por 2 a
res taxas de recorrência, necessidade de rein- 3 horas, a heparina deve ser iniciada e mantida
tervenção e reinternação quando em compara- por 24 horas.
ção ao trombolítico. No entanto, diferente dos
Tabela 6 - Contraindicações aos trombolíticos
trombolíticos, não está disponível em todos os
centros e tem critérios rígidos para sua execu- Absolutas
ção; sem respeitá-los, o método passa a ser - Acidente vascular cerebral hemorrágico prévio;
inferior aos trombolíticos. O principal deles é o - Acidente vascular cerebral isquêmico ou trauma
cranioencefálico grave nos últimos 3 meses;
tempo para emprego:
- Malformação vascular cerebral;
- O tempo da chegada ao pronto-socorro até
a insuflação do balão deve ser inferior a 90 - Neoplasia do sistema nervoso central;
minutos; - Sangramento ativo (exceto menstruação);
- O tempo porta-agulha deve ser inferior a - Distúrbio de coagulação;
30 minutos. - Dissecção de aorta.
Relativas
Ademais, espera-se que alguns pré-requisi-
- Hipertensão arterial sistêmica grave não controlada;
tos sejam atendidos:
- Pressão arterial >180x110mmHg à apresentação;
- Centro de hemodinâmica com mais de 200
- Uso de anticoagulantes;
angioplastias/ano;
- Cirurgia de grande porte nas últimas 3 semanas;
- Hemodinamicista com mais de 75 procedi-
- Acidente vascular cerebral isquêmico há mais de 3
mentos/ano;
meses;
- Paciente com perfil de maior benefício com
- Ressuscitação cardiopulmonar prolongada e trau-
angioplastia: IAMCSSST, sintomas <12 ho- mática (>10 minutos);
ras e evolução com edema pulmonar, pa- - Punções vasculares recentes não compressíveis;
cientes <75 anos com choque cardiogênico - Sangramento interno recente (2 a 4 semanas);
nas primeiras 36 horas (angioplastia em até - Uso prévio de estreptoquinase em mais de 5 dias
18 horas após o choque). – contraindicação para estreptoquinase;
- Gravidez;
Entre aqueles com evolução da dor por mais de
- Doença ulcerosa péptica ativa.
12 horas, mas menos de 24 horas, com insuficiên-
cia cardíaca congestiva grave, repercussão hemo- Alguns sinais podem indicar reperfusão
dinâmica ou sintomas isquêmicos persistentes, a coronariana:
angioplastia também pode ser considerada. - Alívio dos sintomas;
A trombólise química, quando indicada,
- Restauração do estado hemodinâmico;
deve ser feita nas primeiras 12 horas após o
- Restauração do equilíbrio elétrico;
início da dor, desde que haja contraindicações
absolutas. Na presença de contraindicações - Redução do supra em mais de 50% após 60
relativas, a decisão deve ser individualizada. a 90 minutos.
Os fármacos mais utilizados são estreptoqui- Considerando pacientes admitidos no
nase (1,5mUI em 30 minutos), que tem como pronto-socorro e que não apresentam mais cri-
efeito adverso mais comum a hipotensão; e térios de elegibilidade para trombólise química
rt-PA (10U em bolus; após 2 bolus de 10U com ou angioplastia, o tratamento será conserva-
intervalo de 30 minutos) ou tenecteplase (dose dor, e o prognóstico, certamente pior.
19
6
Insuficiência cardíaca
descompensada Fabrício Martins Valois
20
Insuficiência cardíaca descompensada
21
EMERGÊNCIAS CLÍNICAS
4. Tratamento
A proposta terapêutica a ser instituída a
pacientes com IC descompensada depende da
gravidade da apresentação e do tipo de des-
compensação. Uma forma prática, e muito
utilizada, de alinhar o raciocínio terapêutico é
classificar os pacientes conforme a perfusão e
o grau de congestão em repouso: (a) boa per-
fusão e sem congestão; (b) boa perfusão, mas
com congestão; (c) perfusão ruim, mas sem
congestão; (d) perfusão ruim com congestão.
A proposta terapêutica para cada grupo está
demonstrada na Figura 3.
22
Insuficiência cardíaca descompensada
Dispneia
Redução de pré e pós- - Hipotensão;
Nitroglicerina Isquemia miocárdi 10 a 20µg/min IV
-carga - Tolerância.
ca
A - Diuréticos
Os diuréticos têm papel importante no tratamento da descompensação da IC, pois habitual-
mente há sobrecarga de volume. De fato, seu uso só tem certa restrição nos casos de hipotensão
23
EMERGÊNCIAS CLÍNICAS
grave e/ou choque cardiogênico. O benefício cativa com o tratamento diurético, ou naqueles
do fármaco decorre da redução da volemia, com hipotensão. Não há indicação de uso se
com pico de diurese na 1ª hora após a oferta, a função sistólica for preservada. Os fármacos
além de venodilatação, reduzindo a pré-carga. rotineiramente utilizados são dobutamina ou
O fármaco mais utilizado é a furosemida, milrinona.
em dose inicial que varia de 40 a 100mg IV; Pelo exposto, fica claro que o uso de ino-
em pacientes que já utilizam o fármaco croni- trópicos é terapia excepcional. De fato, são
camente, a dose deve ser aumentada em até fármacos não isentos de efeitos adversos: são
2 a 3 vezes. A resposta farmacológica deve ser arritmogênicos e podem precipitar isquemia
avaliada por meio de status volêmico, grau de miocárdica por aumentar o consumo local de
congestão, peso diário, oximetria; em casos de oxigênio.
resposta insatisfatória, a associação de tiazídico
ou diurético poupador de potássio pode ampli- D - Outros fármacos
ficar o efeito diurético. Ademais, nos casos IECAs e antagonistas dos receptores de
refratários, há recomendação de reduzir inges- angiotensina, ainda que sejam importantes no
tão de sódio (2g/d) e realizar restrição hídrica tratamento da IC, não demonstraram benefício
se houver hiponatremia. relevante na fase aguda da descompensação.
Além da monitorização dos efeitos terapêu- Se houver uso prévio, sua manutenção poderá
ticos, é importante observar a presença de ser tentada, principalmente conforme a função
efeitos adversos, principalmente piora da fun- renal – se houver instabilidade dos níveis de
ção renal. Elevações dos níveis de ureia com creatinina, o ideal será a remoção temporária.
pequena variação da creatinina são frequen- Raciocínio similar é dedicado ao uso dos
tes (mantendo relação ureia–creatinina >20), betabloqueadores. Se não houver uso prévio,
mas não indicam redução da dose do diurético, a recomendação será evitá-los na fase inicial
refletindo apenas reabsorção passiva de ureia; do tratamento da descompensação. Naqueles
do contrário, na elevação pronunciada da cre- com uso prévio, principalmente se IC sistólica,
atinina, pode ser necessária a suspensão do o fármaco deve ser mantido apenas nos casos
diurético – caso a congestão persista, pode ser de descompensação leve.
indicada hemodiálise. Diuréticos poupadores de potássio, que
também têm benefício em alguns subtipos de
B - Vasodilatadores pacientes com IC, habitualmente são iniciados
apenas após estabilização, pois seu impacto é
Recomendações atuais orientam associação
pequeno na fase aguda – exceto na tentativa
de vasodilatadores ao tratamento diurético
de amplificar o efeito de diurético de alça em
para alívio de sintomas e congestão, principal-
casos selecionados.
mente se não há hipotensão grave associada.
Por sua vez, vasopressores, como noradre-
Tradicionalmente, a nitroglicerina tem sido
nalina, estarão indicados nos casos específicos
o fármaco mais utilizado, com outras opções
de hipotensão grave.
como nitroprussiato e nesiritida. Podem ser uti-
lizados nitroglicerina, nitroprussiato e nesiritida
(menos recomendado).
C - Inotrópicos
Recomendações atuais sugerem o uso de
inotrópicos por tempo curto em pacientes com
disfunção sistólica e hipoperfusão sistêmica,
principalmente na ausência de resposta signifi-
24
7
Arritmias cardíacas
Fabrício Martins Valois
25
EMERGÊNCIAS CLÍNICAS
26
Arritmias cardíacas
27
EMERGÊNCIAS CLÍNICAS
Uma situação peculiar e que demanda cau- adores de canais de cálcio e digoxina devem ser
tela adicional é a associação de fibrilação atrial evitados.
e Síndrome de Wolff-Parkinson-White (SWPW),
Tabela 7 - Flutter atrial
e alguns cuidados devem ser tomados no manu-
O flutter é gerado por mecanismo de
seio da fibrilação atrial nessa situação. Pode
reentrada atrial e tem como causas
ocorrer alta resposta ventricular, entretanto há principais insuficiência cardíaca con-
competição entre os estímulos conduzidos atra- gestiva, doença pulmonar obstrutiva
vés do nó atrioventricular e pela via atrioventri- crônica, hipertireoidismo, doença
cular anômala responsável pela SWPW. Se hou- reumática cardíaca ou insuficiência
ver uso de fármacos que determinem redução coronariana. No flutter, há surgimento
Comentários
seletiva na condução do nó (não atuam sobre das ondas “f”, conferindo um padrão
a via anômala), haverá inibição da competição “serrilhado” à linha de base, mais bem
entre as 2 vias, causando o aumento do número observado nas derivações D2, D3 e
avF. Na maioria das vezes, a frequência
de estímulos conduzidos efetivamente ao ven-
atrial é de 250 a 350bpm, e a ventricu-
trículo, determinando aumento da resposta lar, de 150bpm. O ritmo habitualmen-
ventricular e evolução para fibrilação ventricular te é regular, e o QRS, estreito.
– 300 a 400 estímulos passam por minuto pela O tratamento mais efetivo é a car-
via anômala, agora livre, pelo bloqueio seletivo dioversão elétrica (50J); os antiarrít-
do nó atrioventricular. Assim, para o controle da micos são pouco efetivos. Nos casos
resposta ventricular na fibrilação atrial associada Tratamento crônicos (raros), tem sido sugerido
a SWPW, utilizam-se fármacos que bloqueiem o seguimento das mesmas orienta-
tanto o nó como a via de condução anômala, ções de anticoagulação da fibrilação
como a amiodarona; betabloqueadores, bloque- atrial.
28
Arritmias cardíacas
29
EMERGÊNCIAS CLÍNICAS
30
Arritmias cardíacas
31
8
Síncope
Fabrício Martins Valois
32
Síncope
causas em 3 grupos: síncope cardiogênica, sín- no entanto, na quase totalidade desses casos,
cope não cardiogênica e síncope de causa des- não há recorrência do quadro, denotando
conhecida. ausência de comprometimento orgânico signi-
Em algumas séries da literatura, estima-se ficativo. Na prática, alguns dados da história e
que 40% dos casos de síncope fiquem sem defi- do exame clínico podem ser úteis na elucidação
nição etiológica, após investigação exaustiva; da causa de síncope.
33
EMERGÊNCIAS CLÍNICAS
34
Síncope
normais, a probabilidade de doença grave é especificidade de 92%, mas o teste não tem
muito baixa, e o indivíduo pode ser acompa- sido incorporado à abordagem de pacientes
nhado sem a necessidade de investigação adi- com síncope.
cional. Outros testes, como holter e teste ergomé-
Dependendo do eletrocardiograma e do trico, poderão ser úteis, principalmente em
padrão da síncope, outros testes podem ser nível ambulatorial e em indivíduos seleciona-
recomendados na sala de emergência, como dos.
o ecocardiograma, que pode identificar cau-
sas como estenose aórtica, dissecção de aorta, 7. Estratificação de risco de
tamponamento cardíaco. eventos cardiovasculares na
O tilt table test é recomendado aos pacien-
tes com estigmas de síncope vasovagal, tanto
síncope
em nível ambulatorial quanto durante inter- Como dito, o principal foco no atendimento
nação hospitalar. As principais indicações do da sala de emergência é identificar situações
exame após evento de síncope são: que denotem elevada morbimortalidade asso-
- Episódio único de síncope em pacientes de ciada ao evento de síncope. De fato, a 1ª deci-
alto risco; são na sala de emergência é se o indivíduo
- Síncope recorrente (sem doença cardiovas- pode receber alta, ou se necessitará de obser-
cular estrutural, ou doença cardiovascular vação ou internação hospitalar. Situações que
presente, excluídas outras causas com tes- geralmente denotam risco elevado e exigem
tes diagnósticos); investigação adicional e observação hospitalar
- Situações em que seja importante docu- estão descritas na Tabela 3.
mentar a presença de síncope vasovagal.
Tabela 4 - Estratificação de risco na síncope – situ-
ações que denotam risco cardiovascular elevado
O estudo eletrofisiológico tem sido cada vez
mais incorporado à rotina médica. As principais Idade >45 anos e comorbidade
indicações são: Doença estrutural grave
- Suspeita de arritmia por meio da história, História de arritmia, insuficiência cardíaca, infarto
do exame físico ou do eletrocardiograma; Estigmas de síncope arritmogênica ou isquemia
- Risco ocupacional elevado; - Síncope durante exercício;
- Avaliar etiologia de arritmia já identificada.
- Síncope em posição supina;
O estudo eletrofisiológico não está indicado - Palpitações, dor torácica ou dispneia no momento
a pacientes com eletrocardiograma normal, da síncope;
ausência de doença estrutural e sem palpita- - História familiar de morte súbita;
ções. - Anormalidade eletrocardiográfica;
A necessidade de exames laboratoriais - Pressão arterial sistólica persistentemente baixa
será guiada pelos dados clínicos disponíveis. (<90mmHg).
A única recomendação universal é para a Comorbidades importantes
glicemia capilar, que deve ser realizada em - Hematócrito inferior a 30%;
todos os pacientes com alteração do nível de - Distúrbio eletrolítico.
consciência. O peptídeo natriurético cerebral
(BNP) já foi estudado como marcador para O algoritmo demonstrado na Figura 1 esque-
distinguir as síncopes cardiogênicas das não matiza a abordagem de pacientes com síncope
cardiogênicas; a sensibilidade é de 82%, com na sala de emergência.
35
EMERGÊNCIAS CLÍNICAS
8. Tratamento
Em pacientes estáveis, o tratamento será
necessário se houver uma causa estabelecida.
Naqueles que apresentam instabilidade hemo-
dinâmica, a abordagem deve ser feita como
preconizada pelo suporte avançado de vida.
36
9
Crise hipertensiva
Fabrício Martins Valois
37
EMERGÊNCIAS CLÍNICAS
38
Crise hipertensiva
39
EMERGÊNCIAS CLÍNICAS
após o uso do betabloqueador para impedir atingido, devem ser liberados com a prescri-
taquicardia reflexa. ção de um anti-hipertensivo para uso contínuo,
com seguimento ambulatorial.
3. Tratamento Se o paciente já for sabidamente hipertenso,
na alta deverá ser orientado ajuste medicamen-
O foco principal do tratamento da crise hiper-
toso, além de reforçar a importância do uso regu-
tensiva é a redução dos níveis pressóricos para
lar dos fármacos e de ajuste na ingesta de sal.
faixa tolerável, em velocidade que dependerá
Nas emergências hipertensivas, no entanto, a
da presença ou não de lesão em órgãos-alvo. O
redução da pressão arterial deve ser mais signi-
objetivo é impedir lesão vascular ou neurológica
ficante e ao mesmo tempo cuidadosa. A redução
permanente, além de inibir piora da função ven-
imediata dos níveis da pressão diastólica para
tricular, sem que exista risco de o paciente sofrer
valores entre 100 e 110mmHg é desejável em um
com consequências da hipotensão arterial.
período de 3 a 6 horas, respeitando o limite de
Na urgência hipertensiva, os níveis pressóri-
cos devem ser reduzidos em período de horas queda da pressão em até 25% daquele da apre-
a semanas. Os pacientes que apresentam pres- sentação inicial nas primeiras 24 horas. Quando a
são superior a 180x120mmHg podem receber meta for atingida, geralmente após 24 a 48 horas,
um anti-hipertensivo por via oral no setor de o fármaco parenteral poderá ser desmamado e se
emergência (como captopril 12,5 a 25mg) e ter iniciará um anti-hipertensivo por via oral.
reavaliação em algumas horas. A meta é redu- As Tabelas 2 e 3 enumeram, respectiva-
ção para níveis aquém de 160x100mmHg, mas mente, os fármacos mais utilizados nas emer-
evitando minorar a pressão arterial média em gências hipertensivas e algumas peculiaridades
mais de 30% nas 24 horas. Se o objetivo for das síndromes mais comuns.
40
Crise hipertensiva
41
10
Insuficiência respiratória aguda
Fabrício Martins Valois
42
Insuficiência respiratória aguda
solvido por mmHg de paO2. No mesmo dL de zida: uma mesma paO2 gera uma menor SaO2,
sangue há 1,34mL de oxigênio em cada grama para facilitar a liberação do oxigênio na perife-
de hemoglobina: ria. Do contrário, em situações de baixa ativi-
dade metabólica, com alcalemia, hipotermia,
DO2 = Débito cardíaco x [(paO2 x 0,003) + (1,34 x hipocapnia ou redução do 2,3-difosfoglicerato,
Hb x SaO2/100)] a curva será desviada para a esquerda: haverá
No entanto, ainda que a SaO2 seja um aumento da afinidade do O2 pela hemoglobina,
determinante mais importante do conteúdo com a clara intenção de poupar energia.
arterial de oxigênio que a paO2, seu valor – da Uma paO2 de 60mmHg como indicativo de
SaO2 – depende dos níveis da paO2, como nos hipoxemia e de insuficiência respiratória tem
mostra a curva de dissociação da hemoglobina valor quando o paciente estiver respirando em
(Figura 1). ar ambiente, com a fração inspirada de oxigênio
(FiO2) de 0,21. Se estiver utilizando concentra-
ções maiores de O2, a avaliação da hipoxemia
será feita por meio da razão paO2–FiO2, indi-
cando hipoxemia relativa se o valor estiver infe-
rior a 300. Ter uma relação paO2–FiO2 inferior
a 300 indica que, se o indivíduo estivesse em
ar ambiente, a paO2 certamente ficaria inferior
a 60mmHg. Reduções expressivas da relação
paO2–FiO2 têm sido utilizadas para definir IRpA
grave e também a Síndrome do Desconforto
Figura 1 - Curva de dissociação da oxi-hemoglo-
bina Respiratório Agudo (SDRA) – paO2–FiO2 <200.
De forma geral, se aceita que, para cada litro
Pela curva de dissociação da oxi-hemo- de oxigênio ofertado, a FiO2 aumenta em 0,04.
globina observamos que, conforme ocorre No entanto, o cateter nasal e a tenda facial, 2
aumento da paO2, há incremento da saturação dos dispositivos de suplementação de oxigê-
da hemoglobina com oxigênio. No entanto, nio mais frequentemente utilizados, não con-
a partir de determinado ponto, aumentos da seguem atingir frações inspiradas superiores a
paO2 promovem incrementos modestos na 0,4.
SaO2. Abaixo desse mesmo ponto, qualquer
redução da paO2 tem impacto importante na B - Ventilação alveolar e a paCO 2
saturação. Esse ponto, em condições normais, O CO2 é um gás que apresenta difusibilidade
corresponde ao valor de 60mmHg, que se con- maior que o oxigênio. Desta forma, seus níveis
vencionou definir como limiar para hipoxemia. dependem muito mais da ventilação alveo-
Desta forma, com valores de paO2 acima de lar do que da integridade da membrana alve-
60mmHg, a saturação da hemoglobina atingirá olocapilar. A ventilação alveolar é produto do
valores satisfatórios. volume-minuto pela frequência respiratória.
Existem situações nas quais a curva de Assim, hiperpneia ou taquipneia são fatores
dissociação pode sofrer desvios. Quando há que promovem redução da paCO2, enquanto a
queda da ventilação alveolar gera hipercapnia.
aumento da demanda energética, sinalizados
pela presença, no tecido, de acidose, hiperter-
mia, hipercapnia e aumento do 2,3-difosfogli- 3. Tipos de insuficiência
cerato (produto da degradação do ATP), a curva respiratória
é desviada para a direita. Nesse caso, a afini-
A ineficiência das trocas gasosas pode se
dade da hemoglobina pelo oxigênio será redu-
manifestar em 2 contextos principais: redução
43
EMERGÊNCIAS CLÍNICAS
44
Insuficiência respiratória aguda
45
EMERGÊNCIAS CLÍNICAS
cerbada, edema agudo de pulmão cardiogê- Tabela 4 - Situações que indicam evolução da VNI
nico, pneumonia em imunodeprimidos e na para ventilação invasiva
falência da desintubação. Nos últimos anos - Assincronia com o aparelho;
têm surgido evidências crescentes de bene- - Intolerância a interface;
fícios em outras situações clínicas, como na - Ausência de melhora de trocas;
pneumonia e na asma, o que fez com que o - Ausência de melhora da dispneia;
método passasse a ser indicado para todas as - Instabilidade hemodinâmica;
etiologias da IRpA, exceto se houver contrain- - Nível de consciência ruim após 30 minutos.
dicações (Tabela 3).
Tabela 3 - Contraindicações à VNI
- Parada cardiorrespiratória (ou sua iminência);
- Instabilidade hemodinâmica;
- Incapacidade de proteger vias aéreas – rebaixa-
mento do nível de consciência;
- Obstrução fixa das vias aéreas;
- Trauma ou cirurgia facial;
- Falta de colaboração do paciente;
- Anastomose de esôfago recente;
- Hemorragia digestiva alta ou hemoptise franca;
- Pneumotórax não drenado.
B - Ventilação invasiva
A ventilação invasiva estará indicada para
pacientes com quadros mais graves de IRpA,
especificamente com falência ou contraindica-
ção à VNI (Tabelas 3 e 4). A proposta da venti-
lação mecânica é propiciar repouso ventilatório
enquanto são tomadas medidas destinadas a
controlar o distúrbio causador da anormalidade
nas trocas gasosas. Idealmente, o paciente deve
permanecer sedado nas primeiras 24 horas, e
a evolução para desmame ventilatório depen-
derá do controle da etiologia.
46
11
Asma aguda
Fabrício Martins Valois
47
EMERGÊNCIAS CLÍNICAS
são ricas em eosinófilos. É mais frequente até 3 dias, associada a queixas rinossinusais.
no gênero feminino, e o quadro tem insta- Ao exame físico, os pacientes apresentarão
lação insidiosa, iniciado geralmente com grau variável de desconforto respiratório, com
queixas rinossinusais e evolução por 10 a presença de taquipneia, uso de musculatura
15 dias. A melhora completa ocorre com o acessória e tiragem intercostal em alguns casos.
passar dos dias e depende do uso de corti- A presença de sibilos é característica e pode ser
coides inalados; acompanhada de roncos. Em pacientes com
- Tipo 2: representa quase 10% dos casos evolução desfavorável da crise, com obstrução
e tem elevada mortalidade. Esses pacien- grave das vias aéreas, a redução do fluxo aéreo
tes têm pouca inflamação brônquica, mas pode ser tão importante que os sibilos podem
broncoespasmo exuberante. É mais comum se tornar imperceptíveis. Assim, ausência de
no gênero masculino, e o quadro tem insta- sibilos nem sempre denota quadro mais leve.
lação repentina, geralmente motivado por De fato, o diagnóstico da crise de asma na
algum gatilho, como exposição a alérgeno sala de emergência não é tão problemático, no
ou irritante, estresse emocional etc. Esses entanto 2 aspectos devem ser valorizados: a
pacientes necessitam de doses adequadas estimativa de gravidade da crise e a avaliação
de broncodilatadores para evoluírem com de diagnósticos diferenciais.
melhora clínica. O broncoespasmo, se não Vários dados na história clínica do paciente
revertido, pode ser fatal. asmático são importantes na avaliação prog-
nóstica e podem ser utilizados como parâ-
3. Diagnóstico metro. De forma geral, indícios clínicos que
demonstrem inflamação descontrolada e
Na maioria das vezes, os pacientes que estigmas de crises graves previamente são
se apresentam com crise de asma na sala de valorizados: idas frequentes à Emergência,
emergência já têm o diagnóstico estabelecido história de hospitalização por asma e/ou intu-
previamente. As manifestações mais frequen- bação orotraqueal, necessidade de uso pro-
tes na crise de asma são tosse, dispneia e longado de corticoide sistêmico e/ou de bron-
chiado no peito, com intensidade crescente em codilatador de alívio.
período variável de tempo, de minutos a dias. A caracterização da gravidade da crise é fun-
Habitualmente é possível identificar um fator damental para estabelecer condutas no trata-
desencadeante, como as infecções virais, tanto mento. Vários parâmetros têm sido utilizados
de vias aéreas superiores quanto inferiores. com esse propósito, como podem ser contem-
Desta forma, é frequente o relato de febre por plados na Tabela 1.
48
Asma aguda
Iminência de parada
Leve Moderada Grave
cardiorrespiratória
Sibilos difusos ins-
Sibilos expiratórios Sibilos expiratórios
Ausculta piratórios e expira- Tórax silente
moderados difusos
tórios
Frequência car-
<100bpm 100 a 120bpm >120bpm Bradicardia relativa
díaca
Pulso paradoxal
<10 10 a 25 >25 Ausente
(mmHg)
Confuso ou sono-
Estado mental Agitado ou normal Agitado Agitado
lento
VEF1 (predito <50%, ou resposta a
para idade, sexo e >80% 50 a 80% terapia menor que 2 <50%
altura) horas
SaO2 (%) >95 91 a 95 <91 <91
paO2 (mmHg) Normal >60 <60 <60
paCO2 (mmHg) <42 <42 ≥42 ≥42
49
EMERGÊNCIAS CLÍNICAS
50
Asma aguda
tomas relacionados à doença. Nesses casos, o em comparação com a do ar, poderia diminuir
corticoide sistêmico é prescindível; nos demais, a resistência das vias aéreas. Outro benefício
deverá ser ofertado. teórico é que esse elemento poderia promo-
A prednisona é utilizada em dose de 0,5mg/ ver uma retenção maior das partículas aeroli-
kg/d a 1mg/kg/d, por 5 a 14 dias. Não há sadas no pulmão, podendo, assim, aumentar o
necessidade de retirada gradual do corticoide benefício dos beta-2-agonistas inalatórios. Sua
quando usado por período de tempo inferior a disponibilidade prática é pequena, e seu uso é
3 semanas. reservado aos casos graves e refratários.
O corticoide intravenoso de escolha é a
metilprednisolona, na dose de 0,5 a 1mg/kg/d, H - Suporte ventilatório
dividida em 2 a 3 doses. Até pouco tempo, a Ventilação Não Invasiva
(VNI) não era recomendada na asma brônquica;
E - Xantinas na última década, no entanto, o corpo de evi-
As metilxantinas não são recomendadas roti- dências na literatura favorável ao uso da VNI na
neiramente no tratamento da crise de asma. asma tornou possível recomendar essa modali-
Sua prescrição deve ser restrita a casos sele- dade de suporte ventilatório na inexistência de
cionados, com ausência de resposta ao trata- contraindicações e desde que a equipe esteja
mento padrão otimizado. familiarizada com o método (Tabela 2).
51
EMERGÊNCIAS CLÍNICAS
tório, fundamentais para o adequado controle diferente dos pacientes com doença pulmonar
do broncoespasmo com broncodilatadores (que obstrutiva crônica, os asmáticos podem ter piora
devem ser ofertados imediatamente e em doses da mecânica com PEEP elevada, por causar hipe-
máximas). Quanto aos parâmetros do respira- rinsuflação dinâmica – auto-PEEP. Dependendo
dor, pode-se utilizar modo de controle a volume da evolução (dos parâmetros de troca gasosa
ou pressão, com o cuidado de monitorizar a e da auto-PEEP), pode-se tentar elevar a PEEP,
mecânica respiratória, evitando picos de pressão sempre observando, cautelosamente, se haverá
ou volumes correntes muito baixos (a depender ou não piora da auto-PEEP.
do modo escolhido). O ideal é que a frequência A maioria dos pacientes asmáticos que
respiratória seja baixa, para aumentar o tempo necessitam de intubação e ventilação mecânica
expiratório e impedir hiperinsuflação dinâmica. o faz por período curto, podendo ser avaliada
A pressão expiratória final positiva (PEEP), ini- a desintubação precocemente, eventualmente
cialmente, deve ser a mais baixa possível, já que, dentro de 24 horas.
Figura 1 - Resumo do tratamento da crise aguda de asma (adaptado de Diretrizes Brasileiras para o Manejo
da Asma, SBPT, 2012)
52
12
Exacerbação da DPOC
Fabrício Martins Valois
53
EMERGÊNCIAS CLÍNICAS
clínica será importante para definir a etiologia coronariana, arritmia, insuficiência car-
e estimar a gravidade da exacerbação. Dessa díaca congestiva;
forma, tanto a modalidade terapêutica a ser - Manter a SpO2 >90%;
empregada quanto o local de tratamento serão - Reduzir a resistência das vias aéreas, ali-
definidos. viando a obstrução brônquica: broncodila-
A história prévia do paciente é relevante, tadores e corticoides;
por fornecer parâmetros prognósticos impor- - Melhorar o trabalho respiratório: suporte
tantes. O grau de dispneia apresentado habitu- ventilatório não invasivo, ventilação mecâ-
almente para atividades rotineiras, a gravidade nica.
da obstrução vista em espirometrias antigas
e o tratamento de manutenção são itens que Um aspecto que demanda avaliação priori-
devem ser abordados. tária é a definição do local de tratamento do
Ao exame físico, inúmeros parâmetros indivíduo: domicílio, enfermaria ou unidade de
podem denotar repercussão clínica importante terapia intensiva (Tabelas 1 e 2).
sugerindo a necessidade de internação hospi- Tabela 1 - Situações que motivam internação hos-
talar, como desconforto respiratório, cianose, pitalar na exacerbação da DPOC
instabilidade hemodinâmica, sinais de sobre- - Insuficiência respiratória aguda grave:
carga ventricular direita (cor pulmonale), alte- · Aumento acentuado da dispneia;
ração sensorial e respiração paradoxal. Todos · Distúrbio de conduta ou hipersonolência;
são parâmetros que motivarão a internação · Incapacidade de se alimentar, dormir ou deam-
bular.
hospitalar.
- Hipoxemia refratária, hipercapnia com acidemia;
Rotineiramente, os testes complementares
solicitados na avaliação da DPOC exacerbada - Embolia pulmonar, pneumotórax;
englobam exames de imagem (prioritariamente - Descompensação de outra morbidez, como insu-
ficiência cardíaca congestiva ou diabetes;
radiografia de tórax), e hemograma e eletróli-
tos. Tomografia de tórax estaria indicada para - Impossibilidade de seguir as orientações terapêu-
ticas em domicílio.
elucidação de imagem suspeita à radiografia,
Fonte: adaptado de II Consenso Brasileiro sobre
ou nos casos em que houver possibilidade de
DPOC, SBPT, 2004.
embolia de pulmão. Não existe recomendação,
até o momento, de uso de biomarcadores como Tabela 2 - Fatores que indicam necessidade de
PCR e procalcitonina rotineiramente como tria- internação em unidade de terapia intensiva
gem de infecção bacteriana nesses pacientes; - Instabilidade hemodinâmica e/ou necessidade de
droga vasoativa;
sua coleta deve ser desmotivada.
A gasometria arterial é dispensável na maio- - Taquipneia importante (frequência respiratória
>30irpm);
ria dos casos. Recomenda-se a coleta apenas
nos pacientes com SpO2 <90% ou com sinais de - Hipoxemia refratária ou acidemia;
insuficiência respiratória grave. Nos demais, a - Confusão mental aguda;
mera identificação de hipercapnia, hipoxemia ou - Fadiga da musculatura respiratória.
mesmo aumento da diferença alveoloarterial de
oxigênio certamente não teria impacto clínico. A - Broncodilatadores
Os broncodilatadores devem sempre ser uti-
4. Abordagem terapêutica lizados na exacerbação da DPOC, geralmente
em doses mais elevadas e com frequência
Os principais objetivos no tratamento da maior daquela de uso rotineiro do paciente.
exacerbação da DPOC são: Como em qualquer outro cenário, a via inalató-
- Identificar e tratar a etiologia: infecção, ria será sempre a de escolha, por maior eficácia
pneumotórax, embolia pulmonar, doença e menor incidência de efeitos adversos.
54
Exacerbação da DPOC
55
EMERGÊNCIAS CLÍNICAS
56
Exacerbação da DPOC
57
13
Tromboembolismo pulmonar
Fabrício Martins Valois
58
Tromboembolismo pulmonar
59
EMERGÊNCIAS CLÍNICAS
quência, cianose, sinais de trombose profunda, tos naqueles que de fato têm embolia, em rela-
crepitações e febre. ção aos daqueles que tinham outro diagnóstico
Ainda que o quadro gere a suspeita de TEP, ao final da investigação (Tabela 3). No entanto,
a definição diagnóstica exige metodologia com- os dados clínicos terão importância adicional
plementar. Diversos estudos já demonstraram na definição da probabilidade pré-teste, como
que os dados clínicos de pacientes com sus- veremos adiante, o que é fundamental para a
peita de TEP na sala de emergência são indistin- escolha da metodologia complementar.
60
Tromboembolismo pulmonar
61
EMERGÊNCIAS CLÍNICAS
é de 0,9, e valores superiores a esse (ou seja, VD diagnóstico de TEP. O exame tem boa acurácia
de diâmetro igual ou maior que o do VE) indicam para identificação de trombose venosa do terri-
sobrecarga de câmaras direitas, caracterizando o tório ileofemoral, o mais implicado na emboliza-
evento como submaciço. ção. No entanto, um exame negativo não afasta
Limitações corriqueiras à realização do o diagnóstico de TVP, tampouco de embolia.
exame são alergia ao contraste e insuficiência É um método barato, não invasivo, sem uso de
renal. Há respaldo na literatura para não res- radiação ou contraste, e que pode ser realizado
tringir seu uso em gestantes, desde que seja mesmo em pacientes instáveis sem condições de
baseado em suspeita diagnóstica adequada, transporte para realização de outro exame.
não sendo justificada a realização intempes-
tiva do exame. Os potenciais riscos devem ser g) Arteriografia pulmonar
debatidos com a paciente, que pode, eventu- A arteriografia ainda é considerada o padrão-
almente, se negar a realizá-lo, indicando-se -ouro para o diagnóstico de TEP, no entanto
investigação com outro método. tem sido pouco utilizada rotineiramente: além
Outra possibilidade durante a tomografia de ter taxas de complicações em torno de 2%,
helicoidal é avaliar a presença de trombos nas a angiotomografia tem satisfeito as demandas
veias dos membros inferiores, principalmente diagnósticas.
quando há êmbolos pulmonares periféricos
que não foram identificados pela tomografia. O C - Algoritmos diagnósticos
método tem boa correlação com a ultrassono- Considerando-se a variedade de métodos
grafia, não adiciona custos, tampouco é neces- complementares disponíveis para investigação,
sária uma dose adicional de contraste. é necessário proceder a uma rotina de investi-
gação, conforme a probabilidade pré-teste de o
paciente ter TEP (Figura 2). Ainda que a expe-
riência clínica seja importante, diretrizes reco-
mendam que sejam utilizados critérios objeti-
vos, como o escore de Wells (Tabela 5).
Tabela 5 - Escore de Wells para probabilidade clí-
nica de TEP
Critérios Pontos
Sinais e sintomas de TVP 3
Outro diagnóstico pouco provável 3
Antecedente de TVP ou TEP 1,5
Taquicardia (FC >100bpm) 1,5
Imobilização ou cirurgia recente (últimas 4
1,5
semanas)
Figura 1 - Angiotomografia de tórax demons- Hemoptise 1
trando falhas de enchimento bilaterais nos ramos Neoplasia diagnosticada ou em tratamen-
1
principais da artéria pulmonar em paciente com to (últimos 6 meses)
embolia pulmonar (setas) Probabilidades clínicas
<2 pon-
Baixa (TEP em 5 a 13%)
f) Ultrassonografia de membros inferiores tos
A ultrassonografia é útil para a identificação 2a6
Intermediária (TEP em 38 a 40%)
de TVP; no contexto de um paciente com sinto- pontos
mas compatíveis com embolia, a presença de >6 pon-
Alta (TEP em 67 a 91%)
trombose venosa é extremamente favorável ao tos
62
Tromboembolismo pulmonar
63
EMERGÊNCIAS CLÍNICAS
64
14
Pneumonia adquirida na comunidade
Giselle Amado Boumann
65
EMERGÊNCIAS CLÍNICAS
a pneumonia deve ser tratada como doença estado geral, com mal-estar, adinamia, mialgias
de etiologia bacteriana sempre. Do contrário, e prostração. A febre é mais proeminente, mas
a rinossinusite aguda e a traqueobronquite costuma limitar-se a 3 a 4 dias. Não há dispneia,
aguda são abordadas como de natureza viral e a dor torácica, quando presente, tem cará-
habitualmente, considerando-se a possibili- ter osteomuscular e relaciona-se ao excesso
dade de infecção bacteriana secundária ape- de tosse. A ausculta pulmonar poderá revelar
nas se houver evolução desfavorável ou em roncos esparsos, como indicativo de secreção
se tratando de indivíduo com comorbidade espessa em vias aéreas.
grave, como insuficiência cardíaca, renal ou A pneumonia apresenta-se, geralmente, com
hepática avançadas. febre, tosse, expectoração e dor torácica tipo
Na rinossinusite aguda os sintomas rinossi- pleurítica. Outros sintomas, apesar de menos
nusais são proeminentes, com poucas queixas frequentes, também podem ser observados,
relacionadas às vias aéreas inferiores, geral- como dispneia e calafrios. No entanto, é possível
mente restritas a tosse, que é seca na maioria que o quadro seja mais frustro, principalmente
das vezes. Ainda que exista algum grau de adi- em pacientes nos extremos da idade – a febre
namia, o comprometimento sistêmico é dis- pode ser de menor grau, e a tosse seca, irritativa.
creto, com febre pouco frequente e limitada às Ao exame físico de um paciente com
primeiras 48 horas. pneumonia, o principal achado indicativo do
Na traqueobronquite os sintomas rinossi- diagnóstico é a presença de estertores finos
nusais podem estar presentes, mas a tosse, crepitantes localizados. Outros dados, como
geralmente produtiva, domina o quadro. Por taquipneia e cianose guardam relação com a
vezes, há algum grau de comprometimento do gravidade do quadro.
66
Pneumonia adquirida na comunidade
67
EMERGÊNCIAS CLÍNICAS
ção do aspirado traqueal ou, sempre que for O derrame pleural parapneumônico é um
possível, fazer a broncoscopia, cultura do lavado exsudato com predomínio de neutrófilos. Os
broncoalveolar. marcadores de que há um derrame complicado
são:
5. Complicações - Líquido francamente purulento;
- Presença de pH <7;
Várias são as complicações possíveis da pneu-
monia: meningite pneumocócica, artrite séptica - Presença de glicose <40mg/dL;
ou reativa, endocardite, pericardite e perito- - Presença de germes à pesquisa direta ou à
nite. No entanto, a complicação mais comum cultura.
da pneumonia adquirida na comunidade é o
Se houver sinais de derrame complicado, a
derrame pleural – derrame parapneumônico. Na
drenagem torácica estará indicada. Caso exis-
maioria das vezes, trata-se de derrame pequeno
tam loculações, pode haver necessidade de
e causado meramente por irritação pleural rela-
toracoscopia.
cionada a um infiltrado periférico. No entanto,
Atenção especial deve ser dada à ADA. Ape-
o derrame parapneumônico pode sofrer compli-
sar de ser utilizada como marcador do derrame
cações, com reação inflamatória intensa e infec-
pleural da tuberculose, o empiema pode se
ção secundária do líquido pleural (empiema).
apresentar com valores da enzima acima de
Os principais marcadores clínicos de compro-
40U/L.
metimento pleural importante na infecção são
o volume do líquido acumulado e a organiza-
ção do derrame. O quadro clínico do paciente 6. Gravidade
não tem sensibilidade suficiente para indicar a A avaliação da gravidade da doença serve
característica da doença pleural. Assim, todos para determinar o local onde o paciente deve
os pacientes com pneumonia e derrame pleu- ser tratado. O escore CURP-65 é amplamente
ral que apresente espessura maior que 1cm na utilizado para esse fim (Tabela 3). Para cada
radiografia em decúbito lateral, ou com derrame
variável presente soma-se 1 ponto. Pacientes
loculado, devem ter o líquido aspirado para aná-
com até 1 ponto devem ser submetidos a tra-
lise laboratorial.
tamento ambulatorial. Com 2 ou mais pontos,
A análise do líquido pleural deve incluir pH,
considerar tratamento hospitalar.
glicose, proteínas totais, desidrogenase láctica
(DHL), bacterioscopia e cultura para bactérias. Tabela 3 - Critério CURP-65
A solicitação de ADA (adenosina deaminase), Letras Significados Pontos
BAAR (Bacilos Álcool-Ácido-Resistentes) e cul- C Confusão mental 1
turas para fungos e micobactérias dependerá
U Ureia >50mg/dL 1
da suspeição clínica.
R Frequência respiratória ≥30irpm 1
O objetivo principal da análise do líquido
pleural é diferenciar exsudato de transudato. Pressão arterial sistólica
P (<90mmHg) ou diastólica 1
Para tal, usam-se os critérios de Light.
(≤60mmHg)
Tabela 2 - Critérios de Light (presença de 1 dos 65 Idade ≥65 anos 1
seguintes = exsudato)
- Relação de proteínas totais no líquido pleural– Apesar de prático, esse escore não leva em
soro >0,5; consideração fatores que também são impor-
- Relação de DHL no líquido pleural–soro >0,6; tantes na avaliação da gravidade de um paciente
- DHL acima de 200UI/L no líquido pleural ou maior com pneumonia. Assim, mesmo que o paciente
que 2/3 do limite superior do laboratório para o apresente baixa pontuação no CURP-65, é
método no soro.
importante avaliar a presença de comorbida-
68
Pneumonia adquirida na comunidade
69
EMERGÊNCIAS CLÍNICAS
70
15
Acidente vascular cerebral
isquêmico Gustavo Wruck Kuster
1. Conceitos 2. Etiologias
O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é a 3ª
causa de mortalidade e a 1ª de morbidade do A - Aterosclerose de grandes artérias
mundo. O AVC é definido como déficit neuroló- Causado pela presença de placas ateros-
gico súbito com duração maior que 24 horas. Já cleróticas nas artérias que levam o sangue
o Ataque Isquêmico Transitório (AIT) é definido para o cérebro (artérias carótidas, cerebrais,
como déficit neurológico súbito com reversão vertebrais e basilar). As placas podem causar
completa em até 24 horas, embora a maioria diminuição de fluxo cerebral por hipofluxo ou
dos AITs dure no máximo 1 hora. Os fatores de embolia.
risco vasculares associados ao AVC estão des-
critos na Tabela 1. B - Aterosclerose de pequenas artérias
(lacuna)
Tabela 1 - Fatores de risco vasculares, alvos e
intervenções terapêuticas As síndromes lacunares clássicas incluem
Fatores de ris- Alvos terapêu- Intervenções síndrome motora e sensitiva pura, hemipare-
co vasculares ticos terapêuticas sia-hemiataxia e disartria-clumsy hand, que tra-
Modificação de duzem a topografia das pequenas lesões isquê-
Hipertensão micas (<15mm), no território de pequenas arté-
Pressão arterial estilo de vida e
arterial sistê-
<120x80mmHg anti-hiperten- rias perfurantes, na região de cápsula interna,
mica
sivos tálamo, ponte e mesencéfalo, respectivamente.
Glicemia de Modificação de
Diabetes jejum <110mg/ estilo de vida e C - Embolia cardíaca
dL hipoglicemiantes O AVC isquêmico (AVCi) secundário a embo-
LDL <100mg/ lia cardíaca geralmente compromete a circula-
dL, HDL Modificação de ção anterior terminal ou o topo de basilar. São
Dislipidemia >45mg/dL, estilo de vida e causas frequentes de embolia: fibrilação atrial,
triglicérides estatina estenoses e próteses valvares, infarto recente
<150mg/dL do miocárdio, doença de Chagas, aneurisma de
Adesivos de nico- septo atrial e forame oval patente.
Cessação do tina e/ou inibido-
Tabagismo
tabagismo res da recaptação D - Indeterminado
de serotonina Quando não é possível classificar o AVC ou
Manter INR quando há mais de 1 etiologia provável (por
Fibrilação Anticoagulantes
entre 2 e 3 (se exemplo, estenose carotídea e fibrilação arte-
atrial orais
varfarina) rial), o AVC é considerado indeterminado.
71
EMERGÊNCIAS CLÍNICAS
E - Outros
Etiologias pouco frequentes podem ser
identificadas dependendo da faixa etária do
paciente e dos fatores de risco associados. São
elas: dissecção arterial, displasia fibromuscu-
lar, doença de moyamoya, vasculite, CADASIL e
doença de Fabry (as 2 últimas são causas gené-
ticas).
3. Quadro clínico
O quadro clínico do AVC depende do terri-
tório arterial acometido, conforme descrito na
Tabela 2.
Figura 1 - (A) Tomografia computadorizada de
Tabela 2 - Quadro clínico de acordo com o territó- crânio mostrando hiperdensidade espontânea
rio arterial envolvido (seta) de artéria cerebral média direita, (B) evo-
Territórios arteriais Quadros clínicos luindo horas depois com imagem hipodensa em
todo território irrigado pela mesma artéria
Diminuição de força na
Artéria cerebral ante-
perna e no pé contralateral
rior
à lesão 4. Exames complementares
Hemiparesia contralateral,
Artéria cerebral média desvio conjugado do olhar, A - Tomografia computadorizada
distúrbios da fala
A Tomografia Computadorizada (TC) de crâ-
Artéria cerebral pos- Hemianopsia, confusão nio é o 1º exame a ser realizado quando há
terior mental
suspeita clínica de AVC na sala de emergência.
Rebaixamento do nível de A TC é capaz de diferenciar AVC isquêmico de
Artéria basilar consciência, alteração dos hemorragia intracraniana. Além disso, é sufi-
nervos cranianos
ciente para indicar trombólise intravenosa em
Artérias lenticuloes- Hemiparesia, hemi-hipoes- pacientes elegíveis para trombólise. O exame
triadas tesia, hemiataxia deve ter o laudo de um radiologista em até 45
minutos da chegada do paciente.
As alterações precoces do AVC isquêmico
na TC incluem diminuição da atenuação dos
núcleos da base, diminuição na diferenciação
entre substância branca e cinzenta, e hiperate-
nuação arterial, que indica trombo intraluminal
(Figura 1). Esses achados não devem excluir os
pacientes candidatos a trombólise.
B - Ressonância magnética
A Ressonância Magnética (RM) de crânio é
particularmente importante em pacientes com
AVC com apresentações pouco usuais, etiolo-
gias raras de AVC ou na suspeita de doença con-
72
Acidente vascular cerebral isquêmico
C - Doppler transcraniano
O Doppler transcraniano (DTC) é útil para Figura 2 - (A) Angiografia cerebral digital mos-
trando oclusão (seta) da artéria basilar, (B) evo-
a detecção de estenoses de grandes artérias luindo após trombólise intra-arterial com aber-
cerebrais e monitorização da reperfusão cere- tura da artéria e fluxo nas artérias cerebrais pos-
bral durante a fase aguda do AVC (trombólise). teriores e cerebelares superiores
No entanto, 20% dos pacientes não têm janela
acústica adequada, particularmente idosos e
pacientes asiáticos. O DTC é o único método 5. Tratamento
para a detecção de microêmbolos intracra-
nianos circulantes, comuns em pacientes com A - Tratamento geral do AVC agudo
doença aterosclerótica de grande artéria, além Todos os pacientes com AVC agudo necessi-
de detectar shunt entre circulação direito- tam de cuidados especializados multidiscipli-
-esquerda (forame oval patente). Existe fraca nares numa unidade de AVC. Existe redução
evidência de que o DTC durante a trombólise significativa da letalidade, dependência em
intravenosa melhora a reperfusão arterial. pacientes tratados numa unidade de AVC, em
Outros exames podem ser solicitados para comparação com os tratados em unidades
investigação da etiologia do AVC, como os gerais.
ecocardiogramas transtorácico e transesofá-
gico, ultrassonografia com Doppler de artérias B - Vias aéreas
carótidas e vertebrais, holter ECG (eletrocar- Em pacientes com nível de consciência rebai-
diograma) e angiografia cerebral digital. Além xado (escala de coma de Glasgow <8), deve-se
dos exames anteriormente descritos, podem considerar intubação orotraqueal. O uso de
ser necessários exames específicos para inves- oxigenoterapia deve ser recomendado apenas
tigação de trombofilias, doenças infecciosas e quando a saturação de oxigênio estiver abaixo
inflamatórias. de 95%.
73
EMERGÊNCIAS CLÍNICAS
74
Acidente vascular cerebral isquêmico
75
EMERGÊNCIAS CLÍNICAS
76
16
Acidente vascular cerebral
hemorrágico
Gustavo Wruck Kuster
77
EMERGÊNCIAS CLÍNICAS
78
Acidente vascular cerebral hemorrágico
Tabela 2 - Escalas de Fisher e Hunt-Hess (escalas Tabela 3 - Recomendações para controle da pres-
para avaliação dos pacientes com HSA) são arterial na hemorragia intracerebral
Escores Classificações Pressão arterial Condutas recomendadas
79
EMERGÊNCIAS CLÍNICAS
D - Tratamento cirúrgico
As indicações de tratamento cirúrgico para
drenagem do hematoma intracerebral ainda
são divergentes entre vários centros de refe-
rência. Em sua maioria, esses pacientes devem
ser tratados clinicamente e encaminhados a
cirurgia caso apresentem deterioração do qua-
dro neurológico. Pacientes jovens com pontu-
ação na escala de coma de Glasgow entre 9 e
12, com hematomas lobares volumosos e em
até 1cm da superfície do córtex cerebral, são
aparentemente mais beneficiados por uma
intervenção cirúrgica precoce. Ademais, em
pacientes com hemorragia cerebelar com seu
maior diâmetro superior a 3cm, que apresen-
tem deterioração neurológica, sinais de hernia-
ção, compressão do tronco encefálico ou hidro-
cefalia, a craniectomia descompressiva de fossa
posterior e a drenagem do hematoma devem
ser realizadas o mais brevemente possível.
80
17
Crises convulsivas
José Lauletta Neto
81
EMERGÊNCIAS CLÍNICAS
82
Crises convulsivas
83
18
Meningites
Giselle Amado Boumann
84
Meningites
85
EMERGÊNCIAS CLÍNICAS
tes por outras bactérias. A dose preconizada é a transmissão oral–fecal destes vírus deve ser
de 10mg de dexametasona de 6/6h, por 4 dias. sempre considerada.
Não há recomendação de repetir rotinei- O início dos sintomas comumente se dá de
ramente a coleta de líquor, mas, em caso de 3 a 6 dias após a exposição. O mecanismo de
ausência de melhora clínica após 48 horas de penetração no SNC ainda não está elucidado,
antibiótico, febre persistente por mais de 8 dias mas as maiores evidências mostram que, após
ou meningite confirmada por bactéria multirre- a infecção intestinal, há replicação viral tam-
sistente, o procedimento é indicado. bém na nasofaringe. Outras etiologias possíveis
Em casos de meningite confirmada por são os arbovírus, herpes-vírus (herpes-simples,
meningococo e por hemófilo existe indicação citomegalovírus, Epstein-Barr, varicela-zóster),
de quimioprofilaxia. O objetivo da profilaxia é raiva, HIV e influenza.
erradicar a bactéria do provável portador assin- O quadro clínico inicial é semelhante ao
tomático, de forma a interromper a cadeia de da meningite bacteriana. A história prévia de
transmissão. Deve ser feita, preferencialmente, infecção gastrintestinal pode ajudar na suspeita
nas primeiras 24 horas, mas é aceitável a indi- clínica de meningite viral, mas apenas a análise
cação até 30 dias após o diagnóstico. do LCE é capaz de definir a etiologia.
As indicações da profilaxia são as seguintes: Baixa celularidade (abaixo de 500 leucócitos,
- Indivíduos que compartilham o mesmo do- com predomínio de linfomononucleares), gli-
micílio ou alojamento do paciente; cose normal, proteína normal ou discretamente
- Indivíduos que tiveram contato prolongado aumentada falam a favor de doença viral. Látex,
com o paciente (>4 horas); bacterioscopias e culturas serão negativos.
- Colegas da mesma sala (em caso de creche O tratamento do paciente deve ser conser-
e pré-escola); vador, com repouso, uso de analgésicos e anti-
- Profissionais de saúde que tiveram contato térmicos, e, eventualmente, reposição hidroe-
com secreções do paciente ou que realiza- letrolítica em pacientes que possam apresen-
ram intubação orotraqueal ou manobras tar vômitos de difícil controle (principalmente
de ressuscitação sem uso de máscara cirúr- crianças).
gica antes de 24 horas de antibiótico. Em alguns casos, é indicado iniciar tera-
pia antimicrobiana empírica enquanto não há
O fármaco de escolha é a rifampicina. No resultado final de culturas. Pacientes muito gra-
caso de infecção por hemófilos, a dose é ves, menores que 3 meses ou nos quais a aná-
600mg, em 1 tomada diária, por 4 dias. Contac- lise do LCE é duvidosa são candidatos a receber
tantes de pacientes com doença pelo meningo- antimicrobianos inicialmente. Se as culturas
coco deverão usar 600mg de rifampicina, 2x/d, estiverem negativas e o paciente apresentar
por apenas 2 dias. Outras opções são o uso de melhora clínica considerável nas últimas 24 a
ciprofloxacino 500mg VO ou ceftriaxona 250mg 48 horas, o antimicrobiano deve ser suspenso.
IM, ambos em dose única. Aciclovir está indicado se houver sinais de
encefalite.
3. Meningite viral Resumidamente, os pacientes que devem
As meningites virais são mais comuns em ser mantidos em observação hospitalar são os
crianças, e são definidas por doença febril com menores de 1 ano, os imunocomprometidos,
sinais de irritação meníngea, sem disfunção indivíduos com sinais de encefalite ou aqueles
neurológica e sem evidência de infecção bacte- que precisarão de hidratação venosa ou antimi-
riana à análise do LCE. crobianos, mesmo que por apenas 48 horas.
Geralmente, estão relacionadas a alguns A meningite viral é uma doença benigna e
enterovírus (até 95% dos casos). Desta forma, com bom prognóstico, que geralmente não
86
Meningites
deixa sequelas. Adultos podem apresentar mente inocente, ou pode apresentar-se com
um período de convalescência que pode durar edema difuso ou localizado. No paciente com
semanas. encefalite herpética, pode-se observar lesões
As ações de prevenção das meningites virais no lobo temporal, sugestivas de necrose.
devem ser focadas na higienização das mãos. A análise da celularidade do LCE pode ser
Não existem vacinas ou profilaxias contra os normal ou com discreta pleocitose (<250 leu-
enterovírus. cócitos, com predomínio de linfócitos e monó-
citos), proteína pouco aumentada ou normal e
4. Encefalites glicose discretamente baixa ou normal. Hemá-
cias no LCE sem histórico de trauma podem
Encefalites correspondem à inflamação do sugerir encefalite herpética. Enviar o LCE des-
parênquima cerebral. Pacientes menores de ses pacientes para realização de reação em
1 ano, maiores de 65 e imunossuprimidos são cadeia de polimerase (PCR) para herpes-sim-
os que apresentam maior risco de desenvolver ples é importante, mas seu resultado negativo
encefalite. não exclui o diagnóstico.
Dentre as etiologias, as causas virais são as O eletroencefalograma de pacientes com
mais comuns. Os vírus mais frequentemente encefalite herpética mostra ondas assimétricas
relacionados à encefalite são os vírus da família e confirma o comprometimento do lobo tem-
herpes (herpes-simples, varicela-zóster e cito- poral.
megalovírus), arbovírus e enterovírus. Algumas O tratamento de encefalites é geralmente
doenças bacterianas também podem evoluir de suporte. Devem-se controlar as crises con-
com encefalite, entre elas sífilis e leptospirose. vulsivas e a febre, monitorizar sinais de hiper-
Histoplasmose, criptococose e blastomicose tensão craniana e garantir proteção de vias
são as doenças fúngicas mais associadas à aéreas. Dentre as terapias específicas, é mais
encefalite. importante lembrar o tratamento da encefalite
O quadro clínico mais clássico assemelha- herpética, que deve ser feito preferencialmente
-se ao da meningite bacteriana e apresenta-se com aciclovir (10mg/kg IV de 8/8h). O tempo
com febre, confusão mental, cefaleia e rebai- de antiviral recomendado é de 14 a 21 dias.
xamento do nível de consciência, podendo Devem-se associar corticoides ao esquema
manifestar-se ainda com sinais focais de aco- (dexametasona 12 ou 16mg/d).
metimento cerebral. Em pacientes com menin- O prognóstico dependerá da etiologia da
goencefalite, sinais meníngeos podem estar encefalite. Pacientes com encefalite herpética
presentes ao exame físico. têm alta mortalidade (30% quando tratados
No diagnóstico diferencial, além de menin- com aciclovir) e, quando sobrevivem, geral-
gites agudas (bacterianas, virais e assépticas) mente apresentam algum tipo de sequela
e abscessos cerebrais, deve-se pensar na hipó- (motora, comportamental ou memória). Ape-
tese de encefalites secundárias a distúrbios nas 5% dos pacientes recuperam-se completa-
metabólicos, hipóxia, isquemia, intoxicações ou mente.
infecções sistêmicas.
Quando há suspeita de encefalite, indica-se
realizar tomografia computadorizada ou resso-
nância magnética de crânio antes da punção
lombar. Procuram-se causas secundárias de
rebaixamento do nível de consciência e sinais
focais, como lesões com efeito de massa, infec-
ção focal e isquemia. No paciente com encefa-
lite, no entanto, o exame de imagem é geral-
87
19
Diarreias agudas
Giselle Amado Boumann
88
Diarreias agudas
- Presença de sangue, pus ou muco nas fezes; são recomendados quando o paciente tem
- Febre; mais de 5 evacuações por dia.
- Pacientes imunossuprimidos ou idosos. Os agentes probióticos visam ajudar a reco-
lonização da flora intestinal. Seu uso é contro-
Os exames solicitados devem ser hemo- verso e não indicado de rotina por ausência de
grama, função renal, eletrólitos, coprocultura, comprovação científica de seus benefícios.
exame parasitológico de fezes (suspeita de diar- Agentes antimicrobianos geralmente não
reia parasitária), pesquisa de leucócitos e san- são necessários. Alguns pacientes, no entanto,
gue nas fezes, pesquisa de toxina de C. difficile têm indicação precoce de seu uso. Os pacientes
(em pacientes com histórico recente de inter- com febre, fezes sanguinolentas com muco ou
nação hospitalar e uso de antibióticos), e pes- pus, os com diarreia persistente ou os com risco
quisa de rotavírus. de vida devem receber antibióticos. Imunossu-
A realização da retossigmoidoscopia ou primidos, idosos ou diabéticos geralmente tam-
colonoscopia deve ser reservada para pacien- bém terão indicação desse tratamento.
tes com sangramento volumoso ou persistente, O tratamento empírico pode ser feito com
sem definição etiológica. sulfametoxazol-trimetoprima ou quinolonas,
ciprofloxacino (500mg VO de 12/12h) ou nor-
4. Tratamento floxacino (400mg VO de 12/12h) por 3 a 5 dias.
Em pacientes com alergia ou contraindicação
O tratamento da diarreia aguda visa corrigir de quinolonas, pode ser feito cefuroxima (250
as principais alterações induzidas pela doença, a 500mg VO de 12/12h).
como reposição de volume, correção de distúr-
Tabela 1 - Tratamento antimicrobiano específico
bios hidroeletrolítico e acidobásico e eventual conforme as principais etiologias
desnutrição.
Etiologias Antimicrobianos
As soluções de reidratação oral caseiras
Escherichia Sulfametoxazol-trimetoprima ou
ou industrializadas são indicadas em casos de coli quinolonas por 3 dias
diarreia intensa, e apresentam altas taxas de
Sulfametoxazol-trimetoprima ou
sucesso na reposição hídrica e de eletrólitos. Salmonella
quinolonas por 7 dias (em pacien-
Para o preparo, deve-se acrescentar 1 litro de não typhi
tes com sinais de gravidade)
água filtrada, 4 colheres (sopa) de açúcar e 1 Clostridium Metronidazol ou vancomicina via
colher (chá) de sal. O volume oferecido deve difficile oral por 10 dias
ser semelhante às perdas. Vibrio chole- Tetraciclina ou doxiciclina em dose
A hidratação parenteral é indicada para rae única
pacientes hipotensos ou taquicárdicos, com Sulfametoxazol-trimetoprima ou
Shigella
vômitos intensos, com desidratação grave ou quinolonas por 3 dias
incapazes de fazer a reposição por via oral. Giardia Metronidazol por 7 dias
Recomendam-se expansões rápidas com soro Campylobac-
Eritromicina por 5 dias
fisiológico até a melhora do quadro. ter jejuni
Os agentes antidiarreicos não devem ser Entamoeba
Metronidazol por 10 dias
prescritos de rotina. Seu uso visa apenas ao alí- histolytica
vio dos sintomas e à diminuição da frequência
das evacuações. São contraindicados a pacien-
tes com diarreias com sangue, muco ou pus,
pelo risco de megacólon tóxico. Alguns medica-
mentos podem ser usados com essa finalidade.
Exemplos: loperamida e codeína. Geralmente,
89
20
Ascite
Giselle Amado Boumann
90
Ascite
5. Diagnóstico diferencial
Tabela 2 - Análise do líquido ascítico e sua etiologia
Líquido ascítico
Etiologias Contagem de Outros exames
GASA leucócitos Aspectos
Ascite por cirrose ≥1,1g/dL <250/mm3 Amarelo-citrino Proteínas <2,5g/dL
Ascite por insufi-
≥1,1g/dL <250/mm3 Amarelo-citrino Proteínas >2,5g/dL
ciência cardíaca
Ascite nefrótica <1,1g/dL <250/mm3 Amarelo-citrino Proteínas <2,5g/dL
Ascite por peri- - Cultura positiva para ape-
tonite bacteriana ≥1,1g/dL ≥250/mm3 PMN* Turvo nas 1 micro-organismo;
espontânea - Proteínas <1g/dL.
- ADA >40UI;
<200/mm3 (pre- - Proteínas >3g/dL;
Ascite por perito- <1,1g/dL ou
domínio de linfó- Turvo - BAAR negativo;
nite tuberculosa ≥1,1g/dL - Cultura sensibilidade de 20
citos)
a 80%.
Ascite por perito- Cultura geralmente de Gram
>100/mm3 (>50%
nite associada a <1,1g/dL Turvo positivos (associado ao cate-
de PMN*)
diálise peritoneal ter)
- Cultura com crescimento
de 2 ou mais micro-organis-
Peritonite bacte- <1,1g/dL ou mos;
≥250/mm3 PMN Turvo - Proteínas >1g/dL;
riana secundária ≥1,1g/dL - Glicose <50mg/dL;
- DHL superior níveis séricos
normais.
91
EMERGÊNCIAS CLÍNICAS
Líquido ascítico
Etiologias Contagem de Outros exames
GASA leucócitos Aspectos
Ascite pancre- - Amilase >1.000UI/L;
<1,1g/dL Variável Turvo
ática - Proteínas >3g/dL.
- Triglicérides >200mg/dL;
Ascite quilosa <1,1g/dL Variável Leitoso
- Proteínas 2,5g a 7g/dL.
Possivelmente san-
Ascite maligna ≥1,1g/dL <250/mm3 PMN Citologia oncótica positiva
guinolenta
PMN: polimorfonucleares.
6. Tratamento
O tratamento da ascite depende da etiologia e dos sintomas do paciente.
A ascite por hipertensão portal, com GASA ≥1,1g/dL, requer o seguinte tratamento e orienta-
ções:
- Dieta hipossódica: medida que consegue controlar até 20% das ascites; recomenda-se uso de
2g/d de sal na dieta;
- Restrição hídrica: é recomendada em pacientes com hiponatremia dilucional (Na <120mEq/L);
o volume recomendado deve ser de 800mL/d;
- Uso de diuréticos: devem ser usados nos pacientes com ascites grau II e III; inicia-se com espi-
ronolactona (100 a 200mg/d – máximo 400mg/d) e pode ser associada a furosemida (40mg/d
– máximo 160mg/d);
- Paracentese de alívio: é importante lembrar que na retirada de mais de 5 litros de líquido
ascítico, há indicação de infusão de albumina (8 a 10g de albumina por litro removido);
- TIPS (Transjugular Intrahepatic Portosystemic Shunt): é indicado em pacientes com ascite
recorrente que requerem paracenteses frequentes (mais de 3 procedimentos por mês) ou em
pacientes com contraindicação de paracentese.
92
21
Peritonite bacteriana espontânea
Giselle Amado Boumann
93
EMERGÊNCIAS CLÍNICAS
4. Tratamento
Pacientes com suspeita clínica de PBE devem
ter o líquido ascítico removido o máximo possí-
vel. A antibioticoterapia empírica deve ser ini-
ciada logo após a suspeição.
O tratamento de escolha é feito com cefa-
losporinas de 3ª geração, principalmente a
cefotaxima (2g IV de 8/8h), fármaco que atinge
as maiores concentrações no líquido ascítico,
ou ceftriaxona (2g IV 1x/d). O tempo de trata-
mento é, geralmente, de 5 dias. Outra opção
é o uso de amoxicilina-clavulanato, por até
2 semanas. As quinolonas (ciprofloxacino ou
ofloxacino) podem ser usadas, mas conferem
maior chance de desenvolver resistência e falha
terapêutica. A proibição para seu uso empírico
é ao paciente que já fazia uso de profilaxia com
norfloxacino ou ciprofloxacino.
A paracentese de controle deve ser feita em
48 horas e tem como objetivo observar o declí-
nio no número de PMNs em 25% ou mais. Se
essa resposta não ocorrer, deve-se considerar
falha terapêutica ou PBS.
Uma conduta que melhorou a sobrevida des-
ses pacientes foi a administração de albumina.
A dose a ser feita é de 1,5g/kg no momento do
diagnóstico, seguida de 1g/kg no 3º dia de tra-
tamento.
Na suspeita de PBS, o esquema antimicro-
biano deve ser eficaz também contra anaeró-
bios e enterococos.
5. Profilaxia
Após o 1º episódio de PBE, o paciente
tem indicação de profilaxia com norfloxacino
(400mg/d) ou ciprofloxacino (750mg 1x/sem).
Paciente com cirrose e hemorragia digestiva
alta, com ou sem ascite, deve fazer uso de nor-
floxacino (400mg, de 12/12h) por 7 dias.
94
22
Crise tireotóxica
Eduardo Melges Cruz de Lucas / Fabrício Martins Valois
95
EMERGÊNCIAS CLÍNICAS
96
Crise tireotóxica
97
EMERGÊNCIAS CLÍNICAS
b) Glicocorticoides
Inibem a conversão de T4 em T3 e podem ser
úteis em pacientes com doença de Graves que
apresentem insuficiência adrenal associada.
Administrar hidrocortisona intravenosa em
ataque de 300mg e manutenção de 100mg de
6/6h. Outra opção é o uso de dexametasona, 2
a 4mg de 6/6h.
c) Iodo
Nos casos de pacientes alérgicos às tionami-
das ou que apresentem agranulocitose, a inibi-
ção da função tireoidiana com sobrecarga de
iodo (efeito Wolff-Chaikoff) é uma opção viável.
Administrado na forma de contraste iodado ou
solução de lugol.
Se o iodo for utilizado como tratamento
adjuvante nos pacientes que receberam antiti-
reoidianos, fazê-lo ao menos 1 hora depois do
bloqueio da síntese hormonal, garantindo que
não seja substrato para fabricação de mais T4
e T3.
d) Lítio
Na situação de alergia tanto ao iodo quanto
aos antitireoidianos, o carbonato de lítio pode
ser utilizado para bloquear a liberação de hor-
mônio tireoidiano. Trata-se de último recurso,
uma vez que as toxicidades renal e neurológica
limitam seu uso.
e) Cirurgia
A tireoidectomia é uma possibilidade tera-
pêutica para os pacientes sem possibilidade
de uso das tionamidas. Quando indicada, deve
ser precedida por um período de 5 a 7 dias de
tratamento da tireotoxicose, com betabloque-
ador, corticoide, além de, nos casos de doença
de Graves, iodo.
98
23
Cetoacidose diabética e estado
hiperosmolar hiperglicêmico
Fabrício Martins Valois
99
EMERGÊNCIAS CLÍNICAS
100
Cetoacidose diabética e estado
hiperosmolar hiperglicêmico
101
EMERGÊNCIAS CLÍNICAS
cobertura terapêutica com insulina; após 2 pela manhã (2/3 de NPH e 1/3 de regular) e 1/3
horas da oferta da 1ª dose da insulina regular, a pela noite (1/2 de NPH e 1/2 de regular).
bomba, enfim, poderá ser desligada.
G - Complicações
c) Reposição de potássio
As principais complicações e seu tratamento
Como dito, os pacientes com CAD apre- são hipoglicemia, edema cerebral e hipocale-
sentam nível sérico de potássio elevado com mia. Todas serão evitadas, como já descrito,
potássio corpóreo total baixo. Nos pacientes caso a abordagem dos pacientes com CAD seja
com diurese mantida, a perda de potássio é protocolar, respeitando a sequência de eventos
contínua, e deve ser controlada. Assim, a repo- no tratamento na sala de emergência.
sição de potássio deve ser feita com o seguinte
critério:
- K >5mEq/L: não repor;
3. Estado hiperosmolar hiper-
- K = 3,3 a 5mEq/L: 20 a 30mEq para cada glicêmico
litro de soro;
- K <3,3mEq/L: a reposição de insulina deve A - Conceito e fisiopatogenia
ser evitada, pois pode reduzir ainda mais Diferente da CAD, mais comum em indiví-
o potássio com risco elevado de arritmias; duos com diabetes tipo 1, o EHH é caracterís-
devem ser repostos de 20 a 30mEq em 1L tico dos pacientes com DM tipo 2. O EHH não
de cristaloide, com nova dosagem em 1 cursa com acidose, podendo apresentar níveis
hora. de glicemia acima de 800mg/dL.
d) Bicarbonato A fisiopatogenia é muito semelhante à da
CAD; o que as distingue é a produção mantida
O bicarbonato representa terapia de exce-
de insulina nos pacientes com DM tipo 2. Eles
ção na CAD. Só estará indicado se houver aci-
aumentam a glicogenólise e gliconeogênese,
demia grave:
sem estímulo à lipólise excessiva, como visto na
- pH = 6,9 a 7: ofertar 50mEq de bicarbonato
CAD. Assim, a acidemia não será observada e o
(50mL de bicarbonato a 8,4% em 100mL de
descontrole da glicemia terá piora progressiva
salina isotônica, com infusão em 2 horas);
com o passar do tempo.
- pH <6,9: ofertar 100mEq de bicarbonato.
Com a elevação progressiva da glicemia,
Após a oferta do bicarbonato, nova gasome- esses pacientes evoluem para um estado hipe-
tria deve ser avaliada. rosmolar e de desidratação intensa, pela diu-
rese osmótica. É nesse estado que os pacien-
e) Outras recomendações tes habitualmente se apresentam no setor de
O fósforo sérico tem sua reposição contro- emergência.
versa na CAD, sendo recomendado apenas nas Da mesma forma que na CAD, os fatores pre-
seguintes situações: níveis <1mEq/L ou se hou- cipitantes principais são infecção, falta de ade-
ver insuficiência cardíaca congestiva ou insufi- são ao tratamento e doenças cardiovasculares.
ciência respiratória associada.
Após a resolução da CAD e a transição para B - Apresentação clínica
insulina subcutânea, a hidratação deve ser Diferente da CAD, os pacientes com EHH têm
mantida até a resolução dos distúrbios ele- evolução insidiosa, com poliúria, polidipsia e
trolíticos, e a dieta do paciente, liberada. Os astenia. É muito frequente o relato de acesso
pacientes que já se sabiam diabéticos devem difícil à água, por limitação funcional, agra-
ter a mesma dose novamente introduzida; nos vando ainda mais o estado de desidratação e
demais, recomenda-se 0,6U/kg/d, ofertada 2/3 de hiperosmolaridade.
102
Cetoacidose diabética e estado
hiperosmolar hiperglicêmico
C - Diagnóstico
A Sociedade Brasileira de Diabetes sugere
critérios para a adequada caracterização do
EHH:
- Hiperglicemia (>600mg/dL);
- Hiperosmolaridade (>320mEq/L);
- Ausência de acidose (pH >7,3 e bicarbo-
nato >18mEq/L);
- Ausência de cetose.
D - Tratamento
O tratamento segue, em linhas gerais, os
mesmos aspectos discutidos para a CAD no que
diz respeito a hidratação, reposição de potássio
e insulinoterapia. Os critérios de resolução são:
- Osmolaridade <315mOsm/kg;
- Glicemia <300mg/dL;
- Paciente em bom estado geral, vígil e hidra-
tado.
103
24
Insuficiência renal aguda
Fabrício Martins Valois
104
Insuficiência renal aguda
105
EMERGÊNCIAS CLÍNICAS
106
Insuficiência renal aguda
Exames complementa-
Condições Dados clínicos res (além dos achados Comentários
de IRA renal)
Cilindros leucocitários,
Fármacos potencialmente leucocitúria, proteinúria, Vasculite leucocitoclástica
Nefrite intersticial aguda
lesivos hematúria; eosinofilia, à biópsia de pele
rash cutâneo, artralgias
Manipulação de aorta ou
uso de cumarínico; livedo Eosinofilia; consumo de Fissuras biconvexas em
Ateroembolismo reticularis; nódulos cutâ- complemento, aumento biópsia (rim, pele ou mús-
neos; estigmas de vascu- de CPK culo)
lopatia
Leucocitúria, bacteriúria; Melhora com antimicro-
Estigmas de síndrome in-
Pielonefrite cultura de urina positiva; bianos – ajuste com cul-
fecciosa
leucocitose turas
107
EMERGÊNCIAS CLÍNICAS
108
Insuficiência renal aguda
109
EMERGÊNCIAS CLÍNICAS
Outras medidas podem ser efetivas no con- tremia, hiper e hipocalcemia, hipo e hiperglice-
trole do edema pulmonar, tal como feito no mia.
edema cardiogênico, como suporte ventilatório
não invasivo (CPAP ou BiPAP). c) Tratamento da doença de base
Tão logo seja identificada a etiologia, o tra-
b) Hipercalemia e outros distúrbios eletrolíticos tamento deve ser iniciado, pois guarda relação
A hipercalemia é uma das complicações mais com a possibilidade de recuperação da função
graves relacionadas à IRA, principalmente por renal.
sua repercussão na função cardiovascular, com O tratamento pode envolver o alívio de obs-
arritmias graves. Pacientes com IRA e elevação trução (na IRA pós-renal) ou o uso de imunos-
do potássio sérico devem ter o eletrocardio- supressores e/ou plasmaférese em doenças
grama avaliado quanto a anormalidades suges- sistêmicas, corticoides (alguns casos de nefrite
tivas de hipercalemia. intersticial) etc.
Na presença de anormalidade eletrocar-
diográfica, está indicado o gluconato de cálcio C - Indicações de hemodiálise
para estabilizar o miocárdio. Outras medidas
A indicação precisa de hemodiálise na IRA
que podem ser adjuvantes são o uso de solu-
depende da presença de emergência dialítica.
ção polarizante, beta-agonistas, bicarbonato
e sulfato de magnésio, que induzem influxo Nesse contexto, a diálise tem benefício docu-
de potássio para o ambiente intracelular. No mentado na IRA. As situações que caracterizam
entanto, a hipercalemia somente será contro- emergências dialíticas são:
lada com espoliação do íon, feita por meio de - Hipercalemia (K >6,5mEq/L) sustentada e
diurético de alça ou de diálise. refratária ao tratamento medicamentoso
habitual;
Tabela 4 - Anormalidades eletrocardiográficas
evolutivas na hipercalemia - Acidemia metabólica acentuada (pH <7,1)
- Apiculamento da onda T; sustentada, refratária ao tratamento con-
- Achatamento da onda P;
servador;
- Prolongamento do PR; - Achados clínicos indicativos de encefalopa-
tia ou de neuromiopatia urêmicos;
- Alargamento do QRS;
- Ritmo idioventricular;
- Pericardite urêmica;
- Fibrilação ventricular.
- Hipervolemia sem resposta ao tratamento
conservador.
Na IRA, há formação de excesso de ácidos
que necessitam ser tamponados por bicarbo- Nos casos em que não é caracterizada a pre-
nato; o consumo excessivo deste promove aci- sença de emergência dialítica, a diálise pode
dose metabólica com ânion-gap aumentado. ser indicada como medida para reduzir a mor-
Na IRA, a acidemia não costuma ser grave, e bidade associada à doença; a rigor, a decisão
medidas adicionais específicas para o controle é individualizada e dependerá do comporta-
da acidose metabólica são desnecessárias caso mento evolutivo das escórias nitrogenadas e do
o bicarbonato sérico seja superior a 15mEq/L e débito urinário.
o pH superior a 7,2. Caso contrário, o déficit de Existem várias modalidades disponíveis para
bicarbonato deve ser reposto: terapia de substituição renal. Não existe na lite-
ratura nenhum dado indicando clara superiori-
Déficit de bicarbonato (mEq/L) =
0,5 x peso (kg) x (24 - bicarbonato medido) dade de um método sobre os demais. A seleção
deve ser individualizada, considerando a dispo-
Outras anormalidades eletrolíticas possíveis nibilidade e a possibilidade de melhor adapta-
na IRA são hipermagnesemia, hiper e hipona- ção do paciente ao método específico:
110
Insuficiência renal aguda
111
25
Distúrbios hidroeletrolíticos
Eduardo Melges Cruz de Lucas / Fabrício Martins Valois
A - Pseudo-hiponatremia
1. Conceitos e fisiopatogenia Trata-se de conteúdo de sódio e osmolali-
dade plasmática normais, mas com leitura da
Os distúrbios do sódio dividem-se em hipona-
amostra em laboratório acusando valores bai-
tremia e hipernatremia. Consideram-se agudos
xos de sódio. Ocorre quando há diminuição
se instalados em menos de 48 horas e crônicos
relativa da fração de água e sódio no plasma à
se estabelecidos há mais de 48 horas. A veloci-
custa da elevação da concentração de outras
dade com que se desenvolvem e com que ocorre
substâncias, como nas hipertrigliceridemias
a adaptação cerebral às mudanças de tonicidade
graves e nas paraproteinemias (mieloma,
plasmática delas decorrentes define a gravidade
macroglobulinemia). A dosagem de lipídios e
das manifestações clínicas e norteia o tratamento.
de proteínas totais exclui essa causa.
O sódio é o principal cátion extracelular. As
alterações da homeostasia do sódio estão dire- B - Hiponatremia hipertônica
tamente relacionadas com as da água corpó-
rea. Assim, podemos raciocinar os distúrbios Compreende hiponatremia em vigência de
de acordo com a expansão ou a contração do osmolalidade plasmática elevada, o que ocorre
volume extracelular e a capacidade renal de nas hiperglicemias graves. A glicose, osmotica-
regulá-las, por meio da concentração ou dilui- mente ativa, desloca água dos espaços intra-
ção urinária e da consequente retenção ou celular e intersticial para o plasma, diluindo a
excreção de água livre de solutos. concentração de sódio, a qual, estima-se, cai
O mecanismo crucial para essa regulação é a 1,6mmol/L para cada 100mg/dL de elevação da
secreção de vasopressina (hormônio antidiuré- glicemia acima de uma base de 100mg/dL.
tico – HAD) pela hipófise posterior em resposta ao
aumento de osmolalidade sérica (principal estí-
C - Hiponatremia hipotônica
mulo) e à contração do volume extracelular (estí- Trata-se de hiponatremia com osmolalidade
mulo secundário). A vasopressina leva a aumento plasmática baixa. É o tipo mais frequente na
da sede e maior concentração urinária pelos rins, prática clínica, mais bem compreendido em
ocasionando a retenção de água livre de soluto. termos de causas e tratamento se subdividido
de acordo com a volemia:
2. Hiponatremia a) Hipovolêmica
Entende-se por hiponatremia concentração Perda de água e sódio, com a perda deste
de sódio no soro menor do que 135mEq/L, sendo maior que a daquela. O paciente se
112
Distúrbios hidroeletrolíticos
113
EMERGÊNCIAS CLÍNICAS
114
Distúrbios hidroeletrolíticos
115
EMERGÊNCIAS CLÍNICAS
cionalmente maior. O paciente apresenta-se menos do que 10% entre si. Colhe-se nova
edemaciado, hipertenso e/ou congesto. Trata- osmolalidade urinária e logo após administram-
-se do tipo menos frequente de hipernatremia -se 5 unidades subcutâneas de vasopressina,
na prática clínica. repetindo-se nova osmolalidade urinária após
São causas as associadas à infusão exces- 60 minutos da sua administração. A interpreta-
siva de salina hipertônica ou de bicarbonato de ção dos resultados se encontra a seguir:
sódio. Tabela 5 - Resultados esperados do teste da restri-
ção hídrica de acordo com o diagnóstico
c) Euvolêmica
Caracteriza-se por conteúdo corpóreo de Vasopres- Aumento da
osmolalida-
sódio total normal com diminuição da água Condições Osmolalida-
de urinária
sina
sérica de urinária
clínicas (mOsmol/L) após o após admi-
extracelular. Isso é possível porque perda de nistração de
teste vasopressina
água sem perda de sódio não acarreta contra-
ção volêmica importante. A principal causa é o Pouco ou
Normali- Aumen-
diabetes insipidus. >300 nenhum
dade tada
aumento
d) Diabetes Insipidus (DI) Significa-
Indetectá-
Compreende distúrbio da concentração uri- DI central <300 tivamente
vel
aumentada
nária caracterizado por poliúria e polidipsia,
causado por secreção diminuída de vasopres- DI nefro- Aumen- Pouco ou
<300 a 500
gênico tada nenhum
sina (DI central) ou por resposta renal à vaso-
pressina prejudicada (DI nefrogênico). Polidipsia Pouco ou
>500 --
primária nenhum
Tabela 4 - Causas Observação: osmolalidade urinária >300mOsmol/L
Infecções do sistema nervoso praticamente exclui DI.
central (meningites, encefalites),
tumores do sistema nervoso cen- B - Manifestações clínicas e exames com-
tral, aneurismas, trauma crania- plementares
DI central
no, pós-operatório de neurocirur-
gia, síndrome de Guillain-Barré. Tal como na hiponatremia, as manifestações
As demais causas (50%) são idio- são predominantemente neurológicas e ines-
páticas ou genéticas. pecíficas. Compreendem um amplo espectro:
Doença renal crônica, distúrbios alterações do nível de consciência (letargia,
hidroeletrolíticos (hipocalemia, delirium, coma), irritabilidade, fraqueza muscu-
hipercalcemia) farmacológico (in- lar, convulsões, hiper-reflexia e espasticidade.
toxicação por lítio, anfotericina B, Sinais de desidratação (boca seca, taquicardia,
foscarnete), anemia falciforme, hipotensão, perda do turgor da pele, olhos
DI nefrogênico
gestação (produção de vasopres-
encovados) costumam estar presentes.
sinase pela placenta). Raramente
apresenta etiologia genética (defei- Os sintomas neurológicos mais graves, com
tos nos genes das aquaporinas ou risco de óbito, geralmente surgem quando o
dos receptores de vasopressina). sódio está acima de 160mEq/L. Pacientes com
sódio acima de 180mEq/L têm taxas de mor-
O diagnóstico definitivo é feito com o teste talidade acima de 75%, embora isso também
da restrição hídrica. Tal teste consiste em res- possa ser reflexo das comorbidades que leva-
trição hídrica até que o paciente perca 3% do ram a hipernatremia.
peso (deve-se tomar cuidado com desidratação A medida da osmolalidade urinária é muito
excessiva) ou até que 3 medidas consecutivas importante, pois seu resultado pode direcionar
(a cada hora) da osmolalidade urinária variem a investigação diagnóstica para DI:
116
Distúrbios hidroeletrolíticos
- Osmolalidade urinária <300mOsmol/L as- (não contém sódio). A salina hipotônica é pre-
sociada a poliúria ou diurese normal su- ferível ao soro glicosado, pois ele pode causar
gere distúrbio de concentração urinária, perda de água livre por diurese osmótica, com
exigindo investigação para DI; o risco de não corrigir ou até de agravar a hiper-
- Osmolalidade urinária >300mOsmol/L e natremia.
associada a oligoanúria constitui resposta Nos casos de desidratação grave (com ou
fisiológica esperada à desidratação e se sem instabilidade hemodinâmica), deve-se
deve pensar em outra causa (perdas de primeiramente corrigir a desidratação com
água livre por mecanismo não renal) para solução salina fisiológica para somente depois
hipernatremia. infundir soluções hipotônicas.
Como a osmolaridade intracelular está
Deve-se atentar para glicemia e cálcio séricos, aumentada pela produção de osmóis endóge-
pois a desidratação pode ser causada por hiper- nos pelas células visando ao equilíbrio com a
glicemia (diurese osmótica) ou por hipercalcemia. osmolalidade plasmática aumentada, há risco
Por causar diminuição do parênquima cere- de edema cerebral e de herniação e óbito caso
bral pela desidratação celular, a hipernatremia a natremia seja corrigida muito rapidamente.
grave pode cursar com alterações da arquitetura Os mesmos cuidados na velocidade de corre-
vascular cerebral, podendo levar a hemorragia ção do sódio sérico para hiponatremia crônica
intracraniana. Na presença de déficits focais ou sintomática se aplicam aqui: não variar mais do
rebaixamento do nível de consciência, deve-se que 1mEq/L/h e não ultrapassar a variação de 8
proceder à tomografia de crânio sem contraste. a 12mEq/L em 24 horas. A fórmula é a mesma,
mas nesse caso tende a subestimar levemente
C - Tratamento
a taxa de correção da natremia.
Como a hipernatremia corresponde, neces- Variação de sódio sérico por litro da solução
sariamente, a um estado de hiperosmolaridade
(quantidade de sódio na solução - sódio sérico do
plasmática, deve ser sempre corrigida. paciente)/(água corpórea total + 1)
Também se deve atentar para causas-base e
Observações:
sua correção. A hipernatremia pode e deve ser - Nesse caso, o valor será negativo. Isso indica em
prevenida em contextos clínicos em que é pre- quanto a solução diminui o sódio sérico;
visto maior risco da sua ocorrência, como nos - A quantidade de sódio é o valor em mEq/L de só-
casos sem acesso espontâneo a água, idosos, dio presente na mesma;
infusão de soluções hipertônicas e uso de diu- - A solução de NaCl a 0,45% contém 76,5mEq de
réticos de alça. Para tanto, deve-se monitorizar sódio por litro e o soro glicosado não contém sódio;
o estado de hidratação e ofertar água livre de - A água corpórea total corresponde a 60% do peso
em homens adultos, 50% do peso em mulheres e
acordo.
idosos e 45% do peso em mulheres idosas.
O DI central é tratado com administração
de DDAVP (desmopressina, análogo da vaso-
pressina), por vias subcutânea ou nasal. O DI
nefrogênico é pouco responsivo a essa medida, II - Distúrbios do potássio
por isso são associados diuréticos tiazídicos ou
anti-inflamatórios não esteroides, que aumen-
tam a osmolaridade urinária por mecanismos 1. Conceitos e fisiopatogenia
não dependentes de vasopressina e assim dimi- O potássio é o cátion intracelular mais abun-
nuem a perda de água livre. dante, enquanto o sódio é o mais frequente no
Nas outras causas de hipernatremia, a corre- ambiente extracelular, efeito da atividade da
ção do sódio é feita com a infusão de soluções Na-K-ATPase. O gradiente do potássio do meio
hiposmolares: salina a 0,45% ou soro glicosado intracelular para o extracelular é da ordem de
117
EMERGÊNCIAS CLÍNICAS
118
Distúrbios hidroeletrolíticos
119
EMERGÊNCIAS CLÍNICAS
vez, internaliza o potássio no meio intracelular, tos internados. É caracterizada por cálcio sérico
levando a piora da hipocalemia. >10,5mg/dL, com a repercussão clínica tendo
A reposição intravenosa deve obedecer aos relação com o grau de elevação do cálcio sérico,
seguintes parâmetros: de forma que é caracterizada como:
- Com acesso periférico, não ultrapassar a - Leve: cálcio entre 10,5 e 11,9mg/dL;
concentração de 40mEq/L na solução de - Moderada: cálcio entre 12 e 13,9mg/dL;
reposição, e a velocidade fica entre 5 e - Grave: cálcio >14mg/dL.
20mEq/h (o ideal são 10mEq/h);
- Com acesso central, a concentração má- As causas mais comuns de hipercalcemia são
xima passa a ser 60mEq/L, e a velocidade hiperparatireoidismo (principal) e neoplasias,
de infusão limite é de até 40mEq/h (com principalmente os tumores de mama, pulmão,
necessidade de monitorização eletrocar- próstata e o mieloma múltiplo.
diográfica contínua); O paratormônio (PTH) regula a excreção
- Excepcionalmente, nos casos dos sintomas renal de cálcio, a absorção intestinal e a dinâ-
graves, a reposição pode ser feita em do- mica do cálcio no osso. No hiperparatireoi-
ses de 5 a 10mEq ao longo de 20 minutos, dismo primário, ocorre aumento da reabsorção
com necessidade de monitorização eletro- renal de cálcio, além de reduzir o fósforo sérico.
cardiográfica contínua e monitorização fre- Nas neoplasias, a hipercalcemia pode ter vários
quente dos níveis séricos de potássio. mecanismos: a maioria resulta de secreção de
peptídio homólogo ao PTH produzido pelas
Concentrações mais altas que as listadas células neoplásicas (PTHrh); por produção ectó-
podem causar dor intensa e flebite no local de pica de calcitriol e PTH; ou por efeito de envol-
acesso. Além disso, são as variações rápidas vimento ósseo metastático (lesões osteolíticas).
do potássio sérico que provocam as arritmias Independente do mecanismo, a hipercalce-
cardíacas potencialmente fatais. Se o potássio mia promove desidratação (por vômitos, redu-
sérico sobe muito rápido, mesmo que o potás- ção da ingesta hídrica ou diurese osmótica),
sio corpóreo total ainda esteja baixo, há risco induzindo a aumento da reabsorção de sódio
de arritmias durante a reposição. no túbulo proximal. Como o excesso de cál-
Deve-se lembrar de pesquisar e de corrigir cio é excretado atrelado ao sódio, o aumento
hipomagnesemia. Se eventual uso de diuréticos da reabsorção desse cátion promove piora da
não pode ser interrompido, associam-se diuré- hipercalcemia.
ticos poupadores de potássio. No osso, o cálcio é liberado conforme a ati-
Hipocalemia leve e sem sintomas (potás- vidade dos osteoclastos, o que depende dos
sio >3mEq/L) pode ser tratada com reposição níveis de PTH, e estará aumentado nas lesões
oral (cada comprimido com cerca de 6mEq de
metastáticas líticas; no intestino, o calcitriol,
potássio), geralmente na dose de 20mEq de 3 a
forma ativa da vitamina D, estimula a absorção
4 vezes por dia.
de cálcio, além de ter uma pequena atividade
estimuladora sobre os osteoclastos. Nas doen-
III - Distúrbios do cálcio ças granulomatosas, como a sarcoidose, os
níveis de calcitriol elevados podem promover
hipercalcemia.
1. Conceitos B - Hipocalcemia
A hipocalcemia caracteriza-se por nível de
A - Hipercalcemia cálcio <8,5mg/dL e é causada, na maioria das
A hipercalcemia não é um distúrbio hidroe- vezes, por hipoparatireoidismo, cujas etiologias
letrolítico incomum, visto em até 3% de adul- mais comuns são estado pós-cirúrgico do pes-
120
Distúrbios hidroeletrolíticos
Neurológicas
- Confusão mental;
- Depressão;
3. Tratamento
- Torpor;
- Coma. A - Hipercalcemia
- Diurese osmótica; As principais medidas no tratamento são
Renais
- Nefrolitíase e nefrocalcinose.
hidratação venosa, diurético de alça, bisfosfo-
- Vômitos; natos, calcitonina e corticoides.
- Anorexia;
Gastrintestinais
- Constipação;
A hidratação venosa representa o ponto
- Íleo paralítico. principal do tratamento. Com a restauração da
- Fraqueza; volemia, há redução da reabsorção de sódio e
Osteomusculares - Dor óssea; aumento da excreção urinária de cálcio. Sem-
- Osteopenia. pre que a reserva cardiovascular permitir, esses
- Bradiarritmias; indivíduos deverão receber oferta vigorosa de
Cardiovasculares - Redução do intervalo QT; volume, geralmente de 200 a 400mL/h nas pri-
- Elevações inespecíficas do ST. meiras horas de atendimento, atingindo volu-
mes de 3 a 4L por dia de solução salina.
B - Hipocalcemia Os diuréticos de alça aumentam a excreção de
Os sinais e sintomas relacionados somente sur- cálcio na urina e devem ser utilizados somente
girão com reduções mais pronunciadas do cálcio após o restabelecimento da volemia do paciente;
sérico, habitualmente <7,5mg/dL. As manifesta- seu uso antes da oferta de volume será pouco
ções mais comuns estão descritas na Tabela 9. efetivo no controle da calcemia e certamente pro-
Os sintomas neuromusculares, em geral, moverá repercussão hemodinâmica negativa.
são os mais exuberantes na hipocalcemia. Ao Os bisfosfonatos representam terapia extre-
exame clínico, 2 sinais, ainda que com pouca mamente útil no controle dos níveis séricos de
acurácia, podem ser observados. São eles: cálcio e inibem a atividade osteoclástica. No
121
EMERGÊNCIAS CLÍNICAS
entanto, seu impacto clínico habitualmente é ticipa de diversos processos metabólicos como
visto após dias. Os fármacos mais utilizados são cofator enzimático. Além disso, participa da
o pamidronato (de 60 a 90mg) e o ácido zole- estabilização elétrica das membranas excitá-
drônico (de 4 a 8mg). veis, sendo que alterações na sua quantidade
A calcitonina inibe a atividade osteoclástica corpórea afetam os tecidos muscular, cardíaco
e a reabsorção urinária de cálcio, e tem início e nervoso.
de ação precoce. No entanto, seu impacto no Como apenas 1% do magnésio total está no
controle da hipercalcemia é discreto e, quando plasma, seu nível sérico não é um bom indi-
utilizada, é mantida até o início do efeito dos cador da quantidade total no organismo. Sua
bisfosfonatos, respeitando tempo inferior a 3 absorção dá-se no intestino delgado e o seu
dias, pela possibilidade de causar taquifilaxia. principal mecanismo excretor é renal. A absor-
Os corticoides apresentam benefícios clí- ção intestinal é inibida pelo fosfato da dieta,
nicos em situações específicas: doenças gra- pela aldosterona e pela calcitonina; além disso,
nulomatosas (como a sarcoidose) e linfomas. é estimulada pela vitamina D e pelo hormônio
Nesses pacientes, prednisona na dose de 20 a do crescimento.
40mg/d pode ser efetiva em reduzir a produção A excreção urinária depende de diver-
de calcitriol e auxiliar no controle da hipercalce- sos fatores. Fluxo urinário aumentado leva a
mia; esse efeito, no entanto, raramente é visto aumento da magnesúria, tal como hipercalce-
nas primeiras 48 horas. mia e expansão do volume extracelular. O para-
tormônio, a calcitonina, o glucagon e a vaso-
B - Hipocalcemia
pressina estimulam a reabsorção e a retenção.
O tratamento é feito com reposição de cálcio Conceitualmente:
por via intravenosa. Habitualmente, a reposi-
- Hipermagnesemia: magnésio sérico >2,2mg/
ção é feita com gluconato de cálcio a 10%, de
dL;
10 a 20mL diluídos em 200mL de solução salina
fisiológica, ofertados em 10 a 20 minutos. - Hipomagnesemia: magnésio sérico <1,7mg/
Após a oferta inicial, o cálcio deve ser man- dL.
tido em infusão contínua de 50 a 100mg/h de
cálcio elementar (100mL de gluconato de cálcio 2. Causas
a 10% com 900mL de solução glicosada a 5%,
em infusão de 0,5 a 1,5mL/kg/h), além de insti- A - Hipermagnesemia
tuir oferta oral de cálcio (por exemplo, com car- De modo geral, ocorre com muito menos
bonato de cálcio de 1 a 1,5g/d). A oferta paren- frequência do que a hipomagnesemia. Pode
teral será interrompida quando os sintomas ocorrer em pacientes com insuficiência renal
forem controlados e os níveis séricos estiverem (aguda ou crônica) que recebam magnésio em
adequados, sendo mantido o cálcio por via oral. doses farmacológicas e no uso de laxantes ou
Assim como na hipocalemia, se existir hipo- enemas que contenham sais de magnésio.
magnesemia esta deverá ser tratada como tera-
A hipermagnesemia leve pode estar pre-
pia adjuvante no controle da hipocalcemia.
sente na insuficiência adrenal, na acromegalia,
no hiperparatireoidismo e na hipercalcemia
hipocalciúrica familiar.
IV - Distúrbios do magnésio
B - Hipomagnesemia
As principais causas associam-se a desnutrição
1. Conceitos e fisiopatogenia (particularmente em alcoólatras), perdas uriná-
O magnésio, depois do potássio, é o 2º cátion rias aumentadas e doenças do trato gastrintesti-
mais abundante no meio intracelular, onde par- nal. É frequente na população de internados.
122
Distúrbios hidroeletrolíticos
123
EMERGÊNCIAS CLÍNICAS
124
Distúrbios hidroeletrolíticos
4. Tratamento
A - Hiperfosfatemia
O tratamento da hiperfosfatemia aguda
sintomática, em pacientes com função renal
preservada, envolve medidas para aumentar a
excreção renal desse ânion. Para tanto, podem-
-se utilizar expansão volêmica com solução
fisiológica, acetazolamida e solução polarizante
(insulina mais soro glicosado), pois a insulina
125
26
Artrites
Edgard Torres dos Reis Neto /
Marcelo de Medeiros Pinheiro / Diogo Souza Domiciano
126
Artrites
127
EMERGÊNCIAS CLÍNICAS
128
Artrites
óssea adjacente. São mais comuns em pacien- associado a colchicina para obtenção de
tes imunossuprimidos, oncológicos e HIV posi- efeito sinérgico;
tivo. O diagnóstico é feito por pesquisa e cultura - Colchicina: via oral, dose 0,5mg, a cada 4
de fungos no líquido sinovial e, quando neces- a 8 horas ou até produzir efeitos colaterais
sário, biópsia sinovial. O tratamento depende gastrintestinais;
do fungo isolado (Tabela 5). - Glicocorticosteroides: oral, injetável ou in-
tramuscular ou intra-articular para casos
Tabela 5 - Tratamento de infecções fúngicas arti-
culares de contraindicação aos AINHs.
Agentes etiológicos Terapêuticas b) Crises recorrentes e intermitentes
Histoplasma capsula- Doses baixas de colchicina de 0,5mg, 1 a
tum var capsulatum
Itraconazol ou anfotericina B 2x/d, como tratamento profilático.
Histoplasma capsula-
tum var duboisii c) Hiperuricemia assintomática
Cryptococcus neofor- Fluconazol ou anfotericina
Deve ser tratada apenas se o nível sérico de
mans B ou 5-fluorocitosina
ácido úrico estiver acima de 12mg/dL ou uri-
Itraconazol ou cetoconazol
Paracoccidioides bra- cosúria de 24 horas acima de 1.100mg (preva-
ou anfotericina B ou sulfo-
siliensis lência de 50% de nefrolitíase por ácido úrico).
namidas
Sporothrix schenckii Itraconazol ou anfotericina B d) Terapia em longo prazo
Blastomyces dermati- Itraconazol ou anfotericina Se houver mais de 3 crises em 2 anos, cál-
tidis B ou fluconazol
culos renais (urato ou cálcio), gota tofácea ou
quadros crônicos erosivos.
3. Artrites metabólicas agudas - Podem-se usar inibidores da xantina oxi-
dase: alopurinol 100 a 300mg/d, para hipe-
- Artrite por cristais – gota e doença por rexcretores;
depósito de pirofosfato de cálcio - Agentes uricosúricos: benzbromarona
100mg/d, para normo ou hipoexcretores.
Durante a crise, a medida da uricemia tem
valor limitado, uma vez que pode estar nor- É importante ressaltar que essas medicações
mal ou baixo, devido à precipitação dentro das podem desencadear crise aguda de gota no iní-
articulações. O diagnóstico de certeza da gota cio do tratamento. Desta forma, as doses devem
é dado quando se encontram cristais intrace- ser gradualmente aumentadas e associadas aos
lulares, em forma de agulha ou espiculados, AINHs, em baixas doses, ou colchicina, como
birrefringência negativa, no líquido sinovial ou profilaxia para os 6 primeiros meses.
material tofáceo, à luz polarizada. Os cristais de
e) Considerações importantes
pirofosfato de cálcio apresentam forma rom-
boide e com birrefringência positiva. - Modificação do estilo de vida: evitar o ex-
A medida da uricosúria de 24 horas é indi- cesso de ingestão de alimentos com ele-
cada para se caracterizar 2 grupos principais de vada carga proteica, bem como de bebidas
pacientes: hipo ou normoexcretores (<800mg alcoólicas. Redução do peso, do consumo
em 24 horas) ou hiperprodutores. Essa caracte- abusivo de álcool, da hipertensão, do dia-
rização é fundamental para a tomada de decisão betes e da síndrome metabólica, bem
do agente terapêutico no período intercrise: uri- como da doença renal crônica e uso de diu-
cosúrico ou inibidor de síntese, respectivamente. réticos, especialmente tiazídicos;
- Contraindicações a medicações habituais:
a) Tratamento da crise aguda doença renal crônica, diabetes, hiperten-
- AINH intravenoso ou oral; dependendo da são, doença arterial coronariana e sensibi-
gravidade da sintomatologia do paciente, lidade ao alopurinol.
129
EMERGÊNCIAS CLÍNICAS
130
Artrites
131