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Aprendendo com a experiência de Isaias . 6: 1 – 8.

Autenticidade – O texto traz em si todas as características das idéias


isaianas.
Estrutura – A perícope está construída com fineza artística. A visão de Deus
e a purificação do profeta, as quais servem de introdução ao diálogo durante o qual
Isaías recebe a missão profética. Podemos dividir o texto em quatro partes:
1. Na primeira parte descreve a visão do Senhor na sua glória – vv. 1-4;
2. Segue-se a purificação do profeta e a aceitação do encargo – vv. 5-8;
3. Na terceira parte, realça-se a natureza da pregação profética – vv. 9ss;
4. Na última relata-se o seu resultado final – vv. 11s.

1. A Visão de Deus
O texto inicia com uma nota cronológica, isto é, com referência à data da
morte do rei Uzias/Ozias - “No ano em que morreu o rei Uzias, eu viu o Senhor...”.
É significativa essa oração restritiva – “No ano em que morreu o rei Uzias”. O
profeta poderia ter visto o Senhor antes, durante e depois do reinado, mas a Bíblia
é enfática: “no ano que...”.
1.1 Quem foi Uzias? Uzias é chamado de Azarias em II Reis 15:1. Aos 16 anos
iniciou o seu reinado. Morreu aos 68 anos de idade, após governar o povo de Judá
(sul de Israel), por 52 anos. Foi o décimo rei da história de Judá Seu governo foi
estável e através de II Crônicas 26: 1-23, temos um relato mais extenso desses
anos da vida do rei e a sua administração.
 Fez o era reto, buscava a Deus, entendia das visões de Deus; Deus o fez
prosperar. Foi guerreiro, construí cidades, era famoso de renome, construtor de
torres, cavou poços. Foi também amigo da agricultura (rico). Tinha 2. 600
homens destros. Estava à sua disposição um exército de 307. 500 (trezentos e
sete mil e quinhentos soldados) sob o comando de Hananias. Ficou conhecido
também como um empreendedor.
 Mas: Exaltou-se o seu coração. Deixou-se corromper. Transgrediu contra o
Senhor. Pretendia ser sacerdote. Foi repreendido por 81 sacerdotes (Azarias).
Sua transgressão trouxe-lhe muita desonra. Indignou-se contra os sacerdotes.
Deus o feriu de lepra na testa. Foi lançado para fora do templo.
 Consequências:
 Viveu desolado numa casa nas proximidades do templo
 Ficou conhecido como o rei leproso.
 Foi substituído por seu filho, Jotão
1.2 Bem, o que é feito do nosso amigo Isaias?
Leia II Crônicas 26: 22 “Quanto ao mais dos atos de Uzias tanto os primeiros
como os derradeiros, o profeta Isaias, filho de Amós o escreveu”.
Essa é a razão porque o capítulo 6 do livro de Isaias inicia com esta palavra:
“No ano em que morreu o rei Uzias eu vi o Senhor”. Era o ano 740 A.C. (antes de
Cristo).
Isaias era o profeta de Deus, mas à medida que o tempo foi passando, foi-se
“envolvendo”. Na condição de narrador dos acontecimentos palacianos, vivendo
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provavelmente das benécias do poder, andava meio nivelado, assemelhado. Foi
um grande profeta, Deus o abençoou, mas o poder tem o vírus da corrupção e
fica difícil entender a História dos povos, dos governantes, dos nossos
representantes “a serviço do povo”.
Alguns líderes evangélicos têm se envolvidos nos últimos anos com a
política. A maioria deles arrasou as igrejas e suas famílias. Temos um caso que
chegou ao extremo na Capital do estado. O pastor deputado não conseguiu se
reeleger, mas já estava completamente embriagado com o poder.
A impressão que se tem do profeta Isaias é a de que ele andava encantado
com o “reino de Uzias”, à medida que perdia o encanto com o “Reino de Deus”.
É a história que se repete na vida e na História da Igreja. O pecador chega
arrebentado pelo pecado. Deus na sua infinita graça o restaura, abençoa-o; a vida
melhora, tudo muda porque essa é a função do Evangelho da graça – mudar de
dentro para fora, dar um gostinho do céu ainda na terra. É bênção sobre bênção...
Mas os Uzias e os Isaias moderninhos que de modernos não têm nada, se
embevece com esse mundo de orgias, de encantos e prazeres e eles continuam
até religiosos; utilizam seus incensários, e vão à Casa do Senhor. Estão no lugar
certo, mas fazendo a coisa errada – a motivação não é correta, assim como Uzias
que além de rei queria também exercer o sacerdócio. Deus veio ao encontro do rei
através dos sacerdotes – mediadores do homem naquele contexto. Uzias despreza
a ocasião e se revolta contra os mensageiros. Deus o fere de lepra e seus dias se
definham isolado numa casa à margem do palácio.
Com a sua morte o profeta Isaias tem uma nova perspectiva espiritual. Foi
preciso que o rei morresse para que ele visse ao Senhor. A mensagem é clara: o
que está precisando ser tirado da ou na sua vida para que você “veja” o Senhor. O
que é que está precisando morrer em sua vida para poder ter um experiência com
o Senhor.
Será que a experiência que Isaías teve não foi um fenômeno interior? Isto é,
percebido com os sentidos internos e não necessariamente no Templo? É difícil
uma resposta simplista. Mas a menção do hykl e mzbx (hêkal e mizbeah) no
verso 1, sugere que se trata de um fato sensível e externo.
Isaías viu o Senhor (hara) Kal perfeito, 1ª pessoa singular (do verbo
transitivo direto – ra’ah – que significa ver, olhar, observar, avistar algo que agrada.
Há um, porém, pela descrição inteira percebe-se que o profeta não viu diretamente
o Senhor, mas percebeu a manifestação da sua glória, a sua presença viva e a sua
palavra. O Senhor aparece como rei (aok-le bsy ) “assentado sobre o trono”
(Na prática a Arca era trono e o escabelo de Javé). Os adjetivos – alto e elevado
se referem ao trono, que se encontra sobre degraus. As orlas (Mylws - sûllim),
caudas ou séqüito são as partes inferiores das vestes que pendem sob o cíngulo
e cobrem as pernas e os pés, arrastando-se pelo chão (Jr. 13:22ss; Lm 1:9; Ex.
28:33ss). Como Deus é apresentado qual rei, trata-se certamente de longo manto
régio.
O Templo repleto das orlas do manto é o santuário de Jerusalém, chamado
de (tyb), bayth (v. 4). O curioso é que essa palavra nunca se usa para o santuário
celeste: pois ela designa precisamente a sala que fica diante do debir, isto é, O
Santo dos santos (I Rs. 6:1-38). A visão, porém, não se circunscreve ao templo
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salomônico. As partes superiores do manto régio estavam sobre o templo; também
o trono alto se achava acima do santuário. Assim Deus estava sentado sobre o
templo aberto e chegava quase até o templo celeste. Uma vez que Ezequiel (43:7)
diz que o templo de Jerusalém é chamado de escabelo dos pés do Senhor: “E me
disse: Filho do homem, este é o lugar do meu trono e o lugar das plantas dos meus
pés, onde habitarei no meio dos filhos de Israel para sempre; e os da casa de Israel
não contaminarão mais o meu nome santo, nem eles nem os seus reis, com as
suas prostituições e com os cadáveres dos seus reis, nos seus altos”. Na visão o
templo terrestre está unido ao templo celeste e assim se explica a cena que o
profeta descreverá no verso 2.
1.3 “Eu vi ao Senhor”.
A visão que o profeta tem do Senhor é completamente diferente das visões
que havia tido até àquela ocasião. Afinal, a Bíblia afirma nos capítulos anteriores
que ele anda cheio de visões de Judá, de Jerusalém e do futuro também. Agora,
a dimensão da visão é outra: ele vê o Deus de Judá, o Deus de Jerusalém, o
Senhor do futuro que é o seu Deus.
Nossos dias São confusos e turbulentos. O que se tem de visões nesse
mundo evangélico é de assustar qualquer estudioso da Bíblia. É visão para todos
os gostos. Tem gente que recebeu visão para dividir igreja e formar o seu próprio
reino; outro para fugir com a mulher do próximo; ouvi um caso em que o cidadão
estava tendo uma visão da morte da esposa, mas ao mesmo tempo recebia o
consolo para não se entristecer porque Deus já havia providenciado outra bem
mais “enxuta”. A primeira parte desta visão não se cumpriu, porém ele fez valer a
segunda parte.
Urge que tenhamos uma visão do Senhor para fazer cessar as nossas
mazelas e parar de uma vez de brincar com coisas sérias. De profanar o sagrado.
Isaias ao ver o Senhor de forma real, tem uma perspectiva do seu interior, do
seu caráter na perspectiva de Deus. O Senhor de toda a terra está assentado
num alto e sublime trono, a sua glória (santidade) enche todo o templo, mas
as vidas do profeta e de seu povo estão cheias dessa santidade? Tudo mostra que
não. Ainda que Deus encha o templo (espaço sagrado e geográfico de adoração)
o seu interesse não está no templo, mas nos adoradores que estão no templo que
são os verdadeiros templos do Espírito Santo na teologia paulina. “Ou não sabeis,
que o nosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós,
proveniente de Deus, e que sois vós mesmos?” I Coríntios 6:19.
Foi pensando assim que Jesus afirmou: “Importa que os que o adoram o
adorem em espírito e em verdade”. Adoração em espírito passa pelo corpo como
Templo do Espírito Santo e não há como encher o Templo da glória de Deus sem
que se veja o Deus do Templo.
Essa visão levou o profeta Isaias a outra experiência.
1.4. A Corte Celeste
Como os reis orientais, assim deus tem a sua corte. O nome Myprv
(seräphim em hebraico) provém do verbo seräph, queimar. Esse queimar ocorre
em Nm 21:6 (as serpentes que destruíam uma parte do povo de Israel) e 8 (o
seräph construído por Moisés curava os israelitas). Em nosso texto, os Serafins
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são seres celestes que se relacionam com o Senhor; não apresentam nada de
serpentino, mas a forma ereta, aspecto humano, rosto e pés (eufemismo que indica
o sexo masculino, embora Jesus tenham dito que os anjos não tenham sexo e nem
sexualidade) e são seres inteligentes. O seu título (literalmente – queimantes)
indica que são luminosos e eliminam toda escória, como o fogo ardente.
O respeito pela presença do senhor é demonstrado pelo fato de os serafins
encobrirem a vista e os pés com as asas. Sendo criaturas, eles não podem
contemplar diretamente a Deus. Com as outras duas asas eles Voam, isto é,
agitam as asas embora permaneçam no seu lugar. Isso significa provavelmente
que eles estão sempre prontos para cumprir as ordens divinas.
1.5 A Santidade de Deus
Nada se diz do número desses entes celestes. O plural faz pensar que eram
mais de dois. Um para o outro (v. 3): parece se tratar de coros alternados. O canto
deixa entrever uma ação cultual. Os serafins exaltam a santidade do Senhor.
Observe a construção: “Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos”. O
predicado vem antes do sujeito. Temos ainda uma tríplice repetição da palavra
santo, que equivale a um superlativo absoluto. A tríplice repetição é rara no AT (cf.
Jr. 7:4; 22:29; Ez. 21:32), ao passo que é freqüente a dupla.
Santo (swdq - qädash, separar) indica aquilo que incute terror e temor pela
sua incompreensibilidade, aquilo que é admirável, de sumo valor. Deus é, por isso,
Santo em sentido ontológico e moral. Ele é transcendente, completamente distinto
da criação, sumamente perfeito e puro. Senhor dos Exércitos (Javé seba’oth) é um
título divino antigo e solene, que exprime o poder excelso e universal do Senhor.
O título está em relação com a Arca da Aliança da presença de Deus entre o
seu povo (I Sm 6:2; Sl, 24:7s). Essa expressão era empregada para enfatizar a
soberania de Deus no céu e na terra, na natureza, em Israel e os povos pagãos.
Exércitos: Compreende tanto o exercito de Israel quanto os corpos celestiais.
Deus supremo, Senhor do céu eu da terra.
A segunda frase cantada pelos Serafins soa assim: “A terra toda está cheia
de sua glória”. A glória (wdwbk) – Kabodh é a manifestação externa da majestade
e da santidade divinas. Os serafins prenunciam um magnífico futuro: a glória de
deus será como o sol que não iluminará apenas Jerusalém e por breve tempo, mas
toda a terra e para sempre (Nm 14:21; Sl. 72:19; Is. 60:10s). Existe uma relação
muito estreita entre a santidade e a glória. A glória é a revelação da santidade.
Na presença da glória de Deus as portas (Mypoh – soleira das portas) do
templo vibram (v. 4). A fumaça é o sinal da presença de Deus equiparável à nuvem
de glória que encheu o Tabernáculo durante a permanência no deserto (Ex. 19:20;
1 Rs. 8:10; Ez. 10:4).

A descoberta desse atributo (qualidade) de Deus acontece mediante uma


experiência pessoal com o Deus Santo. Ela não é o resultado de um curso de
Seminário Superior, nem de uma reunião forjada a toque de caixa com sons
melodiosos e a emoção descontrolada, muita menos se trata de um processo
canônico onde se declara alguém santo. Ao contrário, a descoberta da Santidade
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de Deus, é uma oportunidade que ele mesmo nos proporciona para revermos o
nosso conceito da palavra tendo em vista que ela traz o conceito de “separação”.
Separação não das pessoas, mas do pecado, da abominação, de tudo aquilo que
mancha o nosso relacionamento com Deus.
A Bíblia dá atenção especial à Santidade de Deus, santidade que se estende
aos seus filhos, e à sua igreja. Jesus exortou seus discípulos a um estilo de vida
em santidade. O Apóstolo Pedro afirmou a mesma coisa: “Está escrito: Sede
santos, porque eu sou santo” (I Pedro 1:16). A Bíblia está tratando da conduta
cristã. O verso 15 não deixa dúvida: “...em toda a vossa maneira de viver”.
O cântico espiritual de Zacarias registrado em Lucas 1: 67–80, passa pela
santidade de Deus: “... de conceder-nos que, libertos das mãos de nossos inimigos,
o servíssemos sem temor, em SANTIDADE e justiça perante ele, todos os dias da
nossa vida” vs. 74,75.
Nosso profeta servia ao Senhor, mas ao descobrir a santidade de Deus,
percebe que a sua vida não se harmoniza com o Deus a quem serve e isso o leva
a repensar seus valores e também a dar mais um passo:
2. Segue-se a purificação do profeta e a aceitação do encargo – vv. 5-8;
a) “Ai de mim que vou perecendo” – A purificação (5-7)
A reação do profeta é instintiva (v. 5) diante da extraordinária visão é de
terror; (yl-ywa – ’ôy-lî) “ai de mim”. É interjeição que exprime dor, angústia e
medo. O verbo hebraico (ytymdn - nidmêti) pode ter dois sentidos: estou perdido
ou também calei-me. Ambos convém á situação. O primeiro sentido liga-se à idéia
de que nenhuma criatura pode ver a face de Deus (Ex. 3:6; 19:21s; 33:18-23; Jz.
13:22; 1 Rs. 19:13); o segundo relaciona-se com a impureza dos lábios, indignos
de proferirem orações. Os lábios impuros indicam, por sinédoque, o estado de
culpa em que a pessoa se encontra. A consciência de ser culpado aumenta pelo
fato de Isaías sentir-se solidário como povo, o qual também se encontra em estado
de impureza. A tomada de consciência de ser pecador, ele o povo, e o fato de ter
visto o Senhor, embora estando impuro, são a causa do terror do profeta – “ai de
mim, que vou perecendo! Porque eu sou um homem de lábios impuros e habito no
meio de um povo de impuros lábios; e os meus olhos viram o rei, o Senhor dos
Exércitos!”.
O discurso do profeta muda. Ao contrário dos “Ai dos que ajuntam casas”, “Ai
dos que se levantam pela manhã”, “Ai dos que puxam pela iniqüidade”, “Ai dos que
ao mal”, “Ai dos que são sábios”, “Ai dos poderosos” e “Ai dos que se justificam”,
capítulo 5: 8, 11, 18, 20 –23. Não adianta ficar dizendo: ai da sogra, ai da igreja, ai
do pastor. Precisamos aprender com a experiência de Isaias e dizer; ai
de:___________________________, que preciso mudar de vida.
O profeta Isaias estava com um problema de linguagem muito grave – lábios
impuros – (sujos). Sua linguagem não correspondia à função que exercia. Como
profeta de Deus, seu vocabulário era incompatível com o vocabulário de Deus. Da
premissa bíblica de que a boca fala do que o coração está cheio, palavra de Deus
em Lucas 6:45, o coração do profeta esta recheado de um vocabulário pouco
condizente com a linguagem do reino de Deus.

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O problema é muito mais grave do que parece. A linguagem é um indicativo
do caráter. Caráter é aquilo que se é por dentro. Não importa se é sábado ou
domingo, se estamos no templo ou em casa. Não se adquire num curso de
doutorado. É formado em nós pelo Espírito com o nosso consenso. É aquilo que
se é no claro ou no escuro. É por isso que se afirma que é uma marca. A marca
em apreço era impura.
Somos advertidos em I Coríntios 15:33 sobre a impureza da língua: “Não vos
enganeis: as más conversações corrompem os bons costumes”. Os crentes da
igreja de Éfeso foram exortados a que evitassem palavras torpes, mas só a que for
boa para promover a edificação, a fim de que os que ouvissem, dessem graças a
Deus Efésios 4:29.
A verdade é muito simples: lábios impuros são raios-X do nosso interior,
expõe o nosso caráter, o que somos por dentro. A máscara esconde um pouco,
mas não oculta tudo e nem por muito tempo. Mais cedo ou mais tarde seremos
condenados pelas nossas próprias palavras. Aliás, é isso que a Bíblia declara que
seremos justificados ou condenados pelas nossas palavras. Mas o profeta está
diante de um Deus que perdoa e que purifica. Enquanto ele imagina a morte, Deus
providencia o perdão que ele está disposto a aceitar. Isso o leva a ouvir uma
poderosa declaração:
b) “A tua iniqüidade foi tirada”.
Segue-se no verso 6 uma ação inesperada e icástica, devida a iniciativa
divina: o profeta é purificado por um Serafim, sendo, dessa maneira, preparado
para a sua missão. Achamos-nos diante de um quadro cultual. Diante do trono de
deus está o Altar dos perfumes. O Serafim toma desse altar uma brasa viva
(acesa), que participa, de algum modo, da santidade divina. O fogo é
simultaneamente elemento destruidor (Ex 24:17; Nm 11;1s) e purificador (Is. 1:25).
O toque nos lábios é ato simbólico de caráter quase sacramental. O contato com a
brasa viva, veículo de pureza – purifica e santifica Isaías, em todo o seu ser. As
palavras do Serafim (v. 7) explicam essa graça. O verbo hebraico rpk (Kippër –
expiar, remir, lavar, livrar) é usado tecnicamente para significar a ação e o efeito
do sacrifício expiatório. Isaías é purificado e renovado em seu íntimo. Em Jr 1:9, o
Senhor toca a boca do profeta Jeremias e nela coloca as suas palavras. Ezequiel
(3:23) come o livro contendo as palavras do Senhor. Em Isaías a ação é simbólica,
destina-se principalmente à purificação.
“Mas um dos Serafins voou para mim trazendo na mão uma brasa viva, que
tira do altar com uma tenaz; e com ela tocou a minha boca e disse: Eis que isto
tocou os teus lábios; e a tua iniqüidade foi tirada, e purificado o teu pecado”.
A Bíblia reserva 273 versículos sobre a iniqüidade, culpa, transgressão ou
pecado, ou seja: Deus olha para o profeta Isaias e diz-lhe, a tua iniqüidade foi
tirada. O seu pecado tem nome e se ele não for tirado, você não chega a lugar
nenhum.

“Nestes tempos modernos nós não temos pecado: temos problemas.


Transformamos o Evangelho em algo psicológico e, no meio do processo,
eliminamos a palavra pecado do nosso vocabulário”. (Robert Louis Coec
Livro Vitória Sobre a Tentação p. 198).

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A pessoa comete um pecado o pastor pode dizer não há problema; o
psicólogo pode sugerir um tratamento psicológico; o marido abandonou a esposa
e vive tranqüilamente com outra, isso é chamado de problemas de
relacionamentos. A Bíblia denomina de adultério. Namorados vivem a prática
sexual antes do casamento e diz que estão se conhecendo, a Bíblia trata com um
nome específico: fornicação. Outra pessoa quebra princípios e muda de igreja,
mas no seu interior o pecado continua. Temos ainda outros casos em que se
sugere uma viagem ou então uma ida às compras para que a pessoa se sinta
melhor. Não é em vão que Freud não concordava com a palavra pecado.
Nós vamos para o mesmo caminho. Veja o que diz o livro Vitória sobre a
Tentação na página 200:
"A disciplina na igreja em nossos dias é relaxada, fraca ou inexistente.... Se
uma pessoa se chama a si de cristã continua em seu pecado sem punição
e com todos os privilégios de outros membros, não terá nenhum incentivo
para confrontar, confessar e afastar-se de seu pecado, além de contar com
a aceitação de outros crentes”.

Paulo tinha um pensamento completamente diferente registrado em (I


Coríntios 5: 11): “Mas, agora, vos escrevo que não vos associeis com alguém que,
dizendo ser irmão, for impuro, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberão,
ou roubador; com esse tal nem ainda comais”
Nada pode ser comparado à iniqüidade na vida cristã ou na comunidade
eclesial. É pecado contra Deus e tudo fica comprometido ainda que Deus nos ama,
ele abomina o nosso pecado.
O profeta Isaias não pôde continuar assim, nem nós. Não haverá vitória para
quem comete pecado e vive na prática do pecado. Quando a iniqüidade do profeta
foi perdoada e a sua vida purificada, ele estava reabilitado a ouvir a voz de Deus.
Esse o nosso próximo tópico.
c) Reabilitado a ouvir a voz de Deus (v. 8)
No verso 8 relata-se admirável com simplicidade o colóquio de Deus com
Isaías, que, purificado, pode ouvir a voz celeste e responder prontamente. Deus
não dirige a palavra diretamente ao profeta, mas com grande condescendência
pergunta, como que aconselhando-se, quem enviaria como seu mensageiro. Por
nós pode indicar um plural majestático, mas pode referir-se também aos Serafins,
que integram a corte celeste (Gn. 1:26; 3:22; 1 Rs. 22:19s; Jô 1:6). Estes são
consultados sobre os decretos referentes ao governo do mundo. Isaías
compreende o sentido das palavras do Senhor e da visão. O mensageiro que Deus
quer enviar tem a missão de louvar o Senhor e de proclamar-lhe a santidade, para
que a glória divina encha toda a terra. Isaías apresenta-se espontaneamente ao
Senhor e com firmeza e generosidade se declara disposto a aceitar o encargo de
profeta da santidade divina. Tal atitude contrasta com a resistência tímida de
Jeremias (1:6) e obstinada de Moisés (Ex. 4:10); harmoniza-se com a
disponibilidade pronta de Abraão (Gn. 12:1-4).
“Depois disso, ouvi a voz do Senhor, que dizia: a quem enviarei e que há de
ir por nós?”

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Acho interessante essa partícula “depois” uma preposição indicando que
somente após os acontecimentos anteriores em especial o perdão e a purificação
do pecado, Isaias pôde ouvir a voz do Senhor. O que ele ouvia antes para profetizar
à Judá?
Impressiona-me a declaração bíblica sobre “ouvir a voz do Senhor”. Não se
ouve a voz audível, mas através da intuição, por meio da comunhão com Deus.
Em outras palavras: o espírito humano tem que estar conectado ao Espírito Santo.
Deus faz uso da linguagem humana para transmitir a mensagem divina. Isaias
entendeu que Deus falava com ele.
Não podemos duvidar. Deus fala de diversas maneiras. Em Hebreus 1 versos
1 e 2 lemos: “Havendo Deus, antigamente falado muitas vezes e de muitas
maneiras, aos pais pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias, pelo Filho,
a quem constituiu herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo”.
Jesus afirmou em (João 10: 3), que “as ovelhas ouvem a sua voz...”. No verso
4 ele reafirma o mesmo princípio: “as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua
voz”. No verso 8 ele vai além: as ovelhas não perdem tempo em ouvir a voz do
ladrão.
Faz-se necessário que aprendamos ou reaprendamos a ouvir a voz de Deus
através da nossa mente. Essa é outra razão porque o livro de Apocalipse afirma:
“Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas”.
Quando nossa mente está fechada para as coisas do Espírito, por causa do
pecado, o que os nossos ouvidos ouvem não pode ser decodificado. Lembre-se: o
profeta já estava purificado e perdoado, razão pela qual ao ouvir a voz do Senhor,
não suportou o seu chamado e se disponibilizou dizendo: “Eis-me aqui”. É o nosso
próximo passo.
3. “Eis-me aqui” - A Natureza da Pregação Profética – vv. 9ss;

“Eis-me aqui”. É a submissão incondicional. Estou à sua disposição. Não


questiono mais nada. Seja feito a tua vontade.
Essa também foi a experiência de Saulo. Sua vida de fariseu religioso e
zeloso pelas práticas judaicas, deu-lhe direito à procuração sacerdotal para
prender os cristãos; porém, Deus pôs fim à sua iniqüidade no caminho de Damasco
e na síntese da sua experiência, com a boca no pó, prostrado diante do “Deus de
toda a terra”, transformado em Paulo – o maior de todos os apóstolos, ainda que
ele se considerasse o menor, “atônito disse: Senhor, que queres que faça? E disse-
lhe o Senhor: Levanta-te e entra na cidade, e lá te será dito o que te convém fazer”.
O profeta Isaias, homem de lábios impuros, mas purificado; Saulo
transformado em Paulo e tantos outros no curso da história só foram enviados por
Deus quando ouviram a sua voz e se disponibilizaram entendendo que é o Senhor
da ceara que envia e sustenta. Então puderam dizer: “envia-me a mim”.
4. A obstinação do povo
Os vv9s são difíceis pela forma nitidamente semítica. Deus envia Isaías em
missão: Vai. Nesta ordem divina está a defesa do profeta. O Senhor acrescenta
também aquilo que ele deve pregar. Este povoe expressão de desprezo,
especialmente se for confrontada com meu povo (Is. 3:12; 10:2). Israel é
considerado como qualquer povo.
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As palavras que Isaías deve anunciar ao povo apresentam, em hebraico, a
forma de um imperativo positivo, enfatizado por um infinitivo absoluto e seguido de
um imperativo negativo. A tradição literal é: continuai a escutar, mas não
compreendais; continuai a ver, mas não reconheçais. Tomadas ao pé da letra,
essas expressões pareceriam dizer que o próprio Deus e o profeta dão ao povo a
ordem de não compreender e não perceber a mensagem celeste. Mas os orientais
remontam diretamente à causa primeira tudo o que acontece, passando por cima
das causas segundas; e não distinguem entre o que Deus manda e o que ele
permite. Em todo caso, a forma é paradoxal e convida à reflexão. Essas palavras
do Senhor são alguma coisa de inesperado e de terrível após a magnífica visão.
No v. 10 as palavras do Senhor dirigem-se diretamente a Isaías. Também
aqui temos três imperativos (hifil), seguidos de uma frase final negativa. Isaías
recebe a ordem de endurecer o coração do povo, isto é, de torná-lo insensível à
compreensão da mensagem divina. O coração é para os hebreus a sede da
inteligência e dos sentimentos. Além disso, o profeta é convidado a tornar pesados
os ouvidos do povo e a velar-lhes os olhos. Também estas expressões indicam a
falta de percepção espiritual. Convém notar como os três membros – coração,
ouvidos, olhos são mencionados em forma de quiasmo, dado que, logo após,
investe-se a ordem: olhos, ouvidos, coração.
O processo da salvação, entendido como cura, começa a compreensão da
palavra divina e se concretiza na conversão. Isaías recebe a ordem de pregar e de
tornar obstinado o povo para que se salve. Várias foram as explicações dadas a
essa ordem. Ela exprime apenas a permissão. Deus é apenas ocasião do mal,
enquanto o permite. O significado é: prega, ainda quando isso for ocasião de
obstinação. Os imperativos são empregados de modo idiomático para descrever
uma certeza futura. Não se trataria de finalidade direta da pregação isaiana, mas
do resultado devido à obstinação culposa do povo. Fala-se do efeito negativo, mas
não se exclui o positivo: este é silenciado e assim a ordem se torna paradoxal, e
exprime a obstinação humana. Com isso Isaías denuncia enfaticamente o perigo
da obstinação do povo e da ira divina. A ordem de pregar ao povo para que não se
converta é uma ironia; na realidade, ela é uma ameaça, um apelo supremo ao
povo, que já se havia obstinado.
É provável que, quando estes versículos foram escritos, a mensagem de fé
do profeta já tivesse encontrado resistência junto à corte e ao povo. As palavras do
Senhor querem significar que a obcecação estava prevista e não devia
desencorajar o profeta. Isaías é colocado ante a dura realidade relativa à eficácia
da pregação.
5. Resultado final – 11s
Ao profeta Isaias parece quase inacreditável o que o Senhor lhe prescreve.
A pergunta que dirige ao Senhor (v. 11a) contém uma sombra de protesto, mas
exprime também esperança. A resposta do Senhor (11b) é dura. Ele anuncia uma
catástrofe provocada pela guerra, acompanhada pela deportação dos habitantes,
e a desolação dos habitantes, e a desolação do país foi o que se verificou com
Samaria em721 e com Judá em 701. Com o v. 11 terminam as palavras do Senhor.
No verso 12 fala-se dele na terceira pessoa.

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O verso 13 parece referir-se a Judá após a devastação de Israel. Pois
segundo 2 Sm 19:44, Judá era um décimo em relação ao reino de Israel. Também
Judá será julgado, mas a sua devastação não será total. Quando Judá for
dizimado, uma parte escapará da ruína. O povo é comparado a uma árvore alta e
frondosa, como o terebinto e o carvalho, que são derrubados. Dele resta só um
cepo, isto é, um resíduo. Mas esta pequenina parte, purificada, será o principio vital
e santo do novo povo de Deus. A idéia da semente santa recorda o canto dos
Serafins. É a idéia do sagrado RESTO, fundamental na doutrina de Isaías. As
promessas salvíficas não são invalidadas pela catástrofe do julgamento, mas serão
realizadas no futuro. A miss/ao do profeta termina com um vislumbre de esperança.
Conclusão
Senhor estou pronto. Eu O vi num alto e sublime trono; conheci a tua
santidade; conscientizei-me da minha iniqüidade; aceitei o perdão e a purificação
da minha culpa. Também, Senhor, ouvi a tua voz; não há como confundi-la. Aceito
a tua convocação. Estou pronto: “envia-me a mim”. Ufa!
Que diferença hoje! O sujeito é brigão na igreja, uma pedra no sapato do
pastor, não se acerta com nada, um tremendo de um preguiçoso, não trabalha, não
testemunha, não exerce influência positiva em nada. Deita incrédulo, acorda
seminarista, outras vezes com o título de pastor. O pior dessa história é quando o
pastor e a igreja desejam livrar-se desse sujeito. O problema é simplesmente
postergado.
É por essa razão que a ordem excluiu um bando de pastores que não servem
pra nada, aliás, serve sim para mentir, estragar famílias e acabar com igrejas que
outros deram a vida.
São pessoas mal resolvidas, que foram enviadas por si mesmas, nunca
tiveram uma experiência com Deus e transformam igreja inteiras em balaios de
gatos. Confusão.
A experiência que viveu o profeta Isaias pode nos ajudar a ajustar nossa
caminha com Deus. Se isso lhe faz sentido, não será em vão essa reflexão. Deus
abençoe você.

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