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Cláudio Wageck Canal
Clarissa Silveira Luiz Vaz
1 Introdução..........................................................................................3
2 Formas de imunização....................................................................3
3 Objetivos da vacinação...................................................................5
4 Tipos de vacinas............................................................................7
5 Adjuvantes..................................................................................23
6 Controle de qualidade.................................................................26
8 Falhas vacinais............................................................................28
10 Bibliografia consultada.............................................................31
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Vacinas víricas
deste programa de vacinação acaba sendo favorável, pendem de fatores do hospedeiro, como a presença
pois cada matriz gera aproximadamente 150 pintos de anticorpos adquiridos passivamente, idade e
imunizados passivamente. Este tipo de imunidade imunocompetência do hospedeiro; e de vários
é fundamental para a proteção dos pintos contra fatores da vacina. Como regra, considera-se que
o vírus da doença infecciosa da bolsa (IBDV), reo- a resposta imunológica mais efetiva e duradoura
vírus das aves e vírus da encefalomielite aviária. é aquela induzida pela infecção natural. Portanto,
A vacinação de fêmeas, antes ou depois da quanto mais as vacinas mimetizarem a infecção
cobertura, para induzir a produção de anticorpos natural, melhor será a resposta imunológica. Por
que sejam posteriormente transferidos aos recém- isso, acredita-se que as vacinas com vírus replica-
-nascidos pelo colostro, também é um método tivos (ou vivos) sejam as mais efetivas, pois são
muito utilizado para prevenir doenças víricas de as que mais se assemelham à infecção natural.
neonatos, como a rotavirose e coronavirose suína e Além da vacinação clássica, outras formas de
bovina. Em tese, fêmeas com imunidade humoral imunização ativa têm sido ocasionalmente utili-
contra qualquer agente viral irão transferir essa zadas em alguns sistemas. Por exemplo, leitoas
imunidade aos fetos ou neonatos, conferindo pro- suscetíveis ao parvovírus suíno (PPV) podem ser
teção nas primeiras semanas de vida. expostas a fezes ou a ambientes contaminados
A resposta imunológica conferida pela imu- com o vírus, de modo a adquirirem a infecção
nização passiva é tipicamente de curta duração, (que é benigna nesses animais) e se tornarem
pois é baseada nos anticorpos que são transferidos imunes. Posteriormente, se forem expostas ao
e não na resposta do hospedeiro. Essa imunidade agente durante a gestação, estarão imunizadas e
não possui memória e perdura somente no perí- os seus fetos estarão protegidos contra a infecção.
odo em que os anticorpos transferidos não são Da mesma forma, alguns pecuaristas mantêm o
degradados pelo organismo do hospedeiro. Apesar hábito de expor os cordeiros às crostas de ectima
dessas características, a imunidade passiva é fun- contagioso obtidas de ovinos adultos, buscando
damental não só para a defesa de neonatos, mas a proteção contra uma subsequente exposição
também em situações nas quais é necessária uma ao vírus. Essas formas empíricas de imunização
resposta imediata. Para combater a infecção pelo apresentam alguns riscos, pois podem estar ex-
vírus da cinomose (CDV), por exemplo, pode-se pondo os animais a outros agentes patogênicos,
administrar soro hiperimune específico aos cães além da incerteza com relação à inocuidade do
doentes, na tentativa de auxiliar o seu organismo vírus administrado.
a combater a infecção. Também os indivíduos De acordo com o tipo de antígeno envolvido
expostos ao vírus da raiva (RabV) devem receber na exposição inicial, a imunidade resultante pode
a aplicação do antissoro específico, já que uma ser predominantemente do tipo humoral, celular
imunização ativa provavelmente não teria tempo ou ambas. Na imunização passiva, a imunidade
hábil para proteger antes do final do período de obtida é tipicamente humoral e de curta duração.
incubação da doença. Na imunização ativa, a resposta imunológica é ge-
ralmente de maior magnitude e duração. A maior
2.2 Imunização ativa duração da imunidade ativa deve-se principalmente
à produção de linfócitos específicos de vida longa,
A imunidade ativa pode resultar tanto da chamados genericamente de células de memória.
exposição ao patógeno por infecção natural quan-
to da administração da vacina específica. Como 3 Objetivos da vacinação
resultado, o sistema imunológico do hospedeiro
é estimulado pelo antígeno ao qual foi exposto. A As vacinas são utilizadas com o objetivo de
magnitude e duração da resposta imunológica de- induzir a formação de resposta imunológica es-
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Capítulo 12
pecífica capaz de controlar ou diminuir os sinais apresentar características específicas, tais como:
clínicos da doença frente à exposição posterior facilidade de administração, custo de aquisição
ao vírus. Assim, as vacinas devem ser efetivas acessível, estabilidade do produto durante o
– para induzirem proteção – e seguras − para armazenamento e, após a inoculação no orga-
não produzirem doença no hospedeiro. Nesse nismo, adequação para programas de vacinação
sentido, as vacinas inativadas são consideradas em massa e capacidade de estimular imunidade
mais seguras se comparadas com as vacinas vivas forte e duradoura. Devem ainda causar o menor
atenuadas, uma vez que não ocorre replicação número possível de efeitos colaterais, e não afetar
do agente ou risco de reversão à virulência. Por o desempenho produtivo dos animais.
outro lado, os vírus presentes nas vacinas vivas Em termos práticos, os objetivos da vacina-
possuem a capacidade de replicação no orga- ção incluem: a) prevenir a infecção (imunidade
nismo hospedeiro, estimulando a imunidade esterilizante), o que é virtualmente impossível
humoral e celular. Por isso, as vacinas vivas (ou com as vacinas atuais. Mesmo em animais ade-
replicativas) são consideradas mais eficientes na quadamente vacinados, a exposição subsequente é
indução de proteção. seguida de replicação do agente próximo ao local
A efetividade vacinal está relacionada com de penetração; b) prevenir a doença clínica e suas
a capacidade de estimulação de células apresen- consequências (esse objetivo pode ser alcançado
tadoras de antígenos, seguida da liberação das por várias vacinas animais); c) atenuar a doença
citocinas apropriadas. As vacinas devem estimular clínica e suas consequências (para algumas viroses,
linfócitos T e B, gerando um número adequado as vacinas somente conseguem atenuar ou reduzir
de células de memória específicas para o antígeno a intensidade e severidade dos sinais, reduzindo as
inoculado. Devem ainda estimular a produção consequências da doença); d) proteger o feto. Para
de linfócitos T auxiliares (Th) e T citotóxicos (Tc) várias viroses (diarreia viral bovina e parvovirose
específicos para diferentes epitopos do antígeno suína, por exemplo), as maiores consequências da
vacinal. O antígeno contido na vacina deverá infecção resultam das perdas fetais. Nesses casos,
persistir, preferivelmente, em locais específicos a vacinação objetiva imunizar as mães para que
do tecido linfoide, permitindo que continue es- a sua resposta imunológica proteja e impeça a
timulando as células do sistema imunológico. infecção fetal; e) proteger os neonatos. Para viroses
A indução de resposta imunológica mediada que afetam os animais nas primeiras semanas de
por linfócitos T (imunidade celular), que pode ser vida (rotavirose, coronavirose), a imunização das
obtida de acordo com o tipo de vacina utilizada, fêmeas visa conferir proteção passiva aos recém-
é uma das mais efetivas defesas do organismo -nascidos; f) reduzir a excreção viral. Animais
contra os vírus. Igualmente importante é a ca- vacinados, se posteriormente expostos ao agente,
pacidade de estimular a produção de anticorpos devem excretar o vírus em menores quantidades
neutralizantes, capazes de neutralizar os vírions e por menos tempo, reduzindo, assim, a sua dis-
circulantes e, dessa forma, evitar a infecção de seminação e transmissão; e g) erradicar o agente
novas células. da população. A vacinação contra determinados
De modo ideal, espera-se que uma vacina vírus, mais do que prevenir e/ou atenuar a doença
seja capaz de conferir proteção prolongada do clínica, objetiva criar, na população, uma imuni-
indivíduo frente a uma nova exposição ao agente, dade protetora que torne inviável a circulação e
caracterizando a imunidade de longa duração. perpetuação do agente. Esse tipo de cobertura
Espera-se, portanto, a estimulação de memória denomina-se imunidade de população ou de reba-
imunológica, que irá permitir uma resposta imu- nho e é importante em animais de produção, já
nológica mais intensa frente a uma nova exposição que a saúde do rebanho é economicamente mais
ao vírus. Vacinas contra vírus de animais devem significativa do que a saúde individual.
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Vacinas víricas
Em situações em que o uso de imunógenos décadas, ainda conservam o seu espaço devido
pode dificultar o diagnóstico sorológico da doença à sua eficácia e segurança. Vacinas autógenas de
e, com isso, dificultar programas de controle ou uso individual, produzidas com material coleta-
erradicação, a decisão sobre o uso de vacinação do do animal a ser vacinado, são ainda uma das
deve ser criteriosamente avaliada. melhores formas de controle da papilomatose
bovina e canina, demonstrando maior eficiência
4 Tipos de vacinas se comparadas com outros tipos de vacinas. Os
diferentes tipos de vacinas contra vírus, já licen-
Diferentes tipos de vacina contra vírus estão ciadas ou ainda em fase de desenvolvimento,
licenciados para uso veterinário, sendo a maioria estão apresentados na tabela 12.1.
composta por vírus inativados ou por vírus vivos
atenuados. A utilização de novas tecnologias, prin- 4.1 Vacinas replicativas
cipalmente envolvendo a manipulação genética
(tecnologia de DNA recombinante), tem originado São vacinas que contêm o vírus viável (vivo,
inúmeros estudos e expectativas no surgimento replicativo) e, por isso, proporcionam a replicação
de novas opções de vacinas. Algumas vacinas do agente no organismo hospedeiro, resultando na
recombinantes já estão no mercado, enquanto amplificação viral e no aumento da quantidade de
várias outras estão em fase de desenvolvimento antígeno que é apresentada ao sistema imunológico.
ou de testes. Para algumas dessas vacinas, no en- Essas vacinas comportam-se de modo semelhante
tanto, muitos estudos ainda são necessários para a ao vírus em infecções naturais. Os vírus vivos
comprovação de sua segurança e eficácia, motivo podem ser utilizados como vacinas em diferentes
pelo qual ainda possuem pouca participação no apresentações (Figura 12.1).
mercado veterinário. Por outro lado, algumas
vacinas produzidas por métodos clássicos, há
Tipo Características/propriedades
Vírus patogênicos
Vírus heterólogos
Vírus naturalmente atenuados;
1. Replicativas Vírus atenuados por passagens em cultivo celular;
(vírus vivo)
Vírus atenuados por passagens em ovos embrionados;
Vírus atenuados
Vírus atenuados por passagens em espécie heteróloga;
Vírus temperatura-sensíveis;
Vírus modificados pela deleção de genes;
Vacinas com marcadores antigênicos.
Vetores virais
Vírus inativado
Subunidades de vírus;
2. Não replicativas
(sem vírus vivo) Produtos de vírus Proteínas recombinantes;
Peptídeos sintéticos.
4.1.1 Vacinas com vírus patogênico 4.1.2 Vacinas com vírus de espécie
heteróloga
Em casos específicos, o próprio vírus com
potencial patogênico, sem atenuação ou trata- Alguns vírus, que são antigenicamente rela-
mento prévio, pode ser utilizado como vacina. cionados com outros vírus, podem ser utilizados
Ovinos infectados pelo vírus do ectima contagioso para induzir imunidade em determinadas espécies
apresentam lesões na região oral e focinho, de- nas quais não causam doença. O poxvírus bovino é
senvolvendo uma resposta imunológica protetora antigenicamente semelhante ao vírus da varíola hu-
após a primeira exposição ao vírus. Para induzir mana e, como comprovado pelos estudos clássicos
o desenvolvimento de imunidade, os cordei- de Jenner, pode induzir imunidade em humanos.
ros podem ser expostos a crostas de lesões que Os poxvírus de outras espécies de aves também têm
contêm o vírus patogênico, um procedimento sido utilizados para induzir proteção de galinhas
semelhante à prática realizada na época da va- contra a bouba (varíola aviária). Um herpesvírus
riolação humana; ou podem ser vacinados com de perus é utilizado para imunizar galinhas contra
uma vacina comercial que também contém o vírus a doença de Marek, causada por um herpesvírus
em sua forma patogênica. Nesse caso, a vacina é antigenicamente relacionado. Da mesma forma, o
inoculada por meio de escarificação na pele da rotavírus bovino pode ser empregado para imu-
face interior da coxa, onde o vírus não causa os nizar suínos contra a rotavirose suína. O vírus da
sinais e lesões indesejáveis. Para a parvovirose parainfluenza 3 de bovinos já foi utilizado para
suína, a exposição prévia de leitoas primíparas imunizar crianças contra o vírus da parainfluenza
às fezes ou as instalações de suínos adultos (que 3 de humanos. Da mesma forma, um rotavírus de
provavelmente já entraram em contato com o vírus) bovino tem sido utilizado na formulação de vacinas
pode conferir imunidade e prevenir a ocorrência contra a rotavirose humana, importante causa de
de perdas reprodutivas, caso sejam infectadas diarreia em crianças de países subdesenvolvidos
posteriormente, durante a gestação. e em desenvolvimento. Em todos esses casos, o
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Vacinas víricas
vírus vacinal é apatogênico para a espécie vaci- sinais clínicos importantes. Nesta última, são gera-
nada e induz proteção cruzada contra um vírus das resposta celular (linfócitos Th e Tc) e humoral
antigenicamente semelhante ao da espécie. (linfócitos B, anticorpos), além de imunidade de
mucosas, o que é conveniente no caso de se buscar
4.1.3 Vacinas com vírus atenuado proteção contra uma infecção natural que ocorra
em superfícies mucosas. A imunidade conferida
Vírus que apresentam maior patogenicidade pelas vacinas atenuadas geralmente é prolongada
e virulência precisam ser submetidos a procedi- e, por isso, reduz ou elimina a necessidade de
mentos específicos para reduzir o seu potencial revacinações com a mesma vacina.
patogênico e viabilizar a sua utilização como va- Vacinas atenuadas, entretanto, não são consi-
cinas replicativas. Do contrário, podem produzir deradas totalmente seguras para todos os vírus, em
doença e, até mesmo, mortalidade nos animais razão da possibilidade, embora rara, de reversão
vacinados. Devido a sua atenuação ser relativa a à virulência. Cabe ressaltar que as alterações que
animais hígidos, a sua administração não é reco- são induzidas nos processos de atenuação viral são
mendada para indivíduos imunodeprimidos, nos produzidas ao acaso e, na maioria das vezes, são
quais pode causar a doença. Os procedimentos de desconhecidas. Isso significa que é difícil prever as
atenuação devem preservar as suas características circunstâncias nas quais poderia ocorrer a reversão
antigênicas e a capacidade replicativa. A redução à virulência. Por exemplo, algumas cepas atenuadas
do potencial patogênico do agente denomina-se de vírus da laringotraqueíte infecciosa das galinhas
genericamente atenuação, e o agente com a pato- (ILTV) são capazes de reverter-se à forma virulenta
genicidade reduzida é dito atenuado. As vacinas após algumas passagens em aves não vacinadas.
que contêm o vírus replicativo com patogenici- Dessa forma, a utilização dessa vacina é reservada
dade reduzida são denominadas genericamente somente para as regiões onde o vírus é endêmico
de vacinas vivas, vacinas atenuadas ou vacinas ou em surtos da doença. Vacinas atenuadas contra
com vírus vivo modificado. Vacinas atenuadas o herpesvírus bovino tipo 1 (BoHV-1) e vírus da
estão disponíveis contra a doença de Marek das diarreia viral bovina (BVDV) retêm a capacidade
galinhas, bronquite infecciosa das galinhas, par- de infectar o feto e causar perdas reprodutivas
vovirose e cinomose canina, rinotraqueíte felina, (abortos, por exemplo), por isso não devem ser
encefalomielite aviária, rinotraqueíte infecciosa e administradas a fêmeas prenhes.
diarreia viral bovina, entre muitas outras. Vacinas com vírus atenuado são formuladas
Em geral, os vírus vacinais atenuados repli- a partir de vírus naturalmente pouco patogênicos
cam nos tecidos próximos ao local da inoculação, ou de cepas virais originalmente patogênicas, mas
produzem pouca ou nenhuma disseminação sistê- cuja atenuação foi obtida por indução artificial.
mica e, por isso, geralmente não produzem doença A maioria das vacinas replicativas com vírus
nos animais vacinados. Ou seja, a vacinação com atenuado que estão licenciadas foi obtida pela
vírus atenuado se constitui na realidade em uma atenuação proposital da cepa viral por diferentes
infecção controlada ou restrita. A resposta vacinal métodos. Os tipos de vacinas replicativas com
será melhor quando a vacina escolhida for capaz vírus atenuado são os seguintes: vírus natural-
de mimetizar a infecção natural e estimular uma mente atenuado, vírus atenuado por passagens
resposta imunológica específica, de magnitude, em cultivo celular, vírus atenuado por passagens
espectro e duração adequados. Nesse sentido, a em ovos embrionados, vírus atenuado por passa-
replicação limitada das vacinas atenuadas no hos- gens em espécie heteróloga, vírus atenuado por
pedeiro é de amplitude suficiente para estimular indução de sensibilidade à temperatura, vírus
os mecanismos da resposta imunológica inata e atenuado por deleção de genes e vírus atenuado
adaptativa, sem resultar no desenvolvimento de com marcadores antigênicos.
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Capítulo 12
embrionados. A exemplo das vacinas atenuadas com eficiência sob temperaturas mais baixas. Os
por passagens em cultivos celulares, a restrição vírus que apresentam essas características são
maior desse tipo de vacina é o desconhecimento denominados vírus temperatura-sensíveis (TS).
da base genética da atenuação, havendo o risco Para a obtenção dos variantes TS, o vírus vacinal
de reversão à virulência. é cultivado em células sob temperaturas mais bai-
Além de vírus aviários, diversos outros ví- xas que a temperatura do organismo hospedeiro
rus podem ser atenuados desse modo. Vacinas (geralmente 30-33°C). Isso resulta na seleção de
atenuadas por passagens do vírus em embriões variantes virais capazes de replicar eficiente-
de galinha já foram produzidas contra o CDV, mente nessa temperatura, porém incapazes de
vírus da língua azul (BTV) e da raiva (RabV), replicar à temperatura corporal e, por isso, não
entre outros. A redução da virulência, após um causam infecção sistêmica quando administrados
determinado número de passagens, pode ser ao hospedeiro.
confirmada por ensaios laboratoriais e pela ino- As vacinas TS são geralmente indicadas para
culação do vírus na espécie de interesse. Essa é administração intranasal, como, por exemplo,
uma etapa indispensável para a certificação da uma vacina TS contra o vírus da influenza, para
vacina como atenuada e estável. uso humano nos Estados Unidos; e uma vacina
TS contra o BoHV-1, que é utilizada em vários
4.1.3.4 Vírus atenuado por passagens em países, inclusive no Brasil. Nesses casos, após a
espécie heteróloga administração, o vírus vacinal replica próximo
à mucosa nasal, onde a temperatura é inferior à
Os vírus destinados ao uso em vacinas replica- temperatura corporal. Uma das principais van-
tivas também podem ser atenuados por múltiplas tagens das vacinas TS contra o BoHV-1 é a segu-
passagens em uma espécie heteróloga, geralmente rança, pois o vírus vacinal infecta as células do
animais de laboratório (coelhos, camundongos, local da inoculação, mas não é capaz de replicar
cobaias). Esse método, embora seja pouco prático à temperatura corporal. Com isso, o BoHV-1 TS é
e cada vez mais restrito devido às questões de ética teoricamente incapaz de se disseminar de forma
em experimentação animal, é o mais adequado sistêmica e infectar o feto, cuja infecção pode
para a atenuação de determinados vírus, como o causar aborto. Vacinas TS contra doença genital
RabV e alguns arbovírus. causada pelo BoHV-1 (balanopostite e vulvova-
A espécie animal utilizada para a atenuação ginite) também foram disponíveis na Europa, e
viral pode também ser próxima à espécie para a são administradas localmente. Vacinas TS contra
qual a vacina é destinada. Vacinas contra o CDV a influenza humana (gripe), de administração
podem ser atenuadas por passagens sucessivas intranasal, estão disponíveis nos Estados Unidos.
do vírus em furões. Já a cepa chinesa do vírus da
peste suína clássica (CSFV), mundialmente utiliza- 4.1.3.6 Vírus atenuado por deleção de
da como vacina viva, foi atenuada por passagens genes
sucessivas em coelhos.
Quando os genes envolvidos na virulência
4.1.3.5 Vírus atenuado por indução de de um vírus são conhecidos, é possível introduzir
sensibilidade à temperatura alterações direcionadas no genoma viral através de
manipulação genética. Vacinas deletadas são obtidas
A atenuação de vírus replicativos também pela remoção ou inativação de genes relacionados
pode ser obtida pela seleção de variantes que com a virulência, utilizando técnicas de DNA re-
apresentam capacidade limitada de replicar sob combinante. Os mutantes virais vacinais que são
temperatura corporal (37°C), mas que replicam produzidos preservam a capacidade de replicação
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Capítulo 12
e, por isso, retêm a sua capacidade imunogênica. 4.1.3.7 Vírus atenuado com marcadores
No entanto, são incapazes de causar doença porque antigênicos
apresentam pouca ou nenhuma virulência.
O vírus vacinal deletado precisa se manter Para algumas viroses animais, existem va-
viável após a manipulação genética, e a estabilidade cinas disponíveis e eficazes que, no entanto, não
desta mutação deve ser evidenciada após várias podem ser utilizadas devido à interferência nos
passagens em cultivo celular. Como em qualquer programas de vigilância sanitária baseados em
outra metodologia empregada para se obter a testes sorológicos, como é o caso do vírus da
atenuação viral, sempre existe a preocupação de febre aftosa (FMDV). Para alguns desses casos,
evitar a reversão para a forma virulenta. Assim, existem as vacinas com marcadores antigênicos,
procura-se fazer a exclusão de um gene inteiro que induzem uma resposta sorológica nos animais
ou de mais de um gene de virulência no mesmo vacinados que pode ser distinguida da resposta à
vírus, sempre preservando a capacidade de repli- infecção natural. Essas vacinas com marcadores
cação viral. Essa estratégia reduz a possibilidade antigênicos são também conhecidas como vaci-
de o vírus recuperar a virulência e torna a vacina nas diferenciais ou DIVA (differentiating infected
deletada mais segura do que as demais vacinas de from vaccinated animals) e são muito úteis em
vírus atenuados. programas de controle e erradicação de infecções
A atenuação que pode ser obtida nos herpes- víricas que produzem infecções persistentes ou
vírus é um bom exemplo da produção de vacinas latentes. Nesses programas, a vacinação é utilizada
atenuadas por deleção. Esses vírus possuem um paralelamente a outros procedimentos, como a
gene que codifica a enzima timidina quinase (TK), identificação e eliminação dos animais portadores.
associada com a capacidade do vírus de replicar Nesses casos, é crítico que se diferenciem os
em neurônios e ser neurovirulento. A eliminação animais vacinados daqueles que são portadores do
do gene da TK do BoHV produz um vírus mutante vírus. O caráter diferencial em um vírus vacinal
atenuado, com capacidade reduzida ou nula de geralmente é obtido pela deleção do gene que
produzir infecções neurológicas. Outras vacinas codifica alguma proteína do envelope do vírion.
desse tipo encontram-se em desenvolvimento para A diferenciação é realizada pelo uso de um teste
o BoHV-1 e BoHV-5. Vacinas contra alguns poxvírus sorológico – geralmente um teste de ELISA – que
animais também foram obtidas pela deleção do detecta anticorpos contra a proteína ausente no
gene da TK, enzima que também está envolvida na vírus vacinal, mas que está presente no vírus de
capacidade de replicação e virulência desses vírus. campo. Ou seja, a detecção de anticorpos especí-
A tecnologia de genética reversa, embora não ficos contra esta proteína indica que os animais
tenha sido desenvolvida como ferramenta para foram infectados com o vírus de campo. Animais
atenuação viral por deleção de genes, permitiu somente vacinados não reagem positivamente
conhecer as funções de vários genes e proteínas no teste. As vacinas com marcadores antigêni-
virais não-estruturais detalhadamente, abrindo cos são comercializadas acompanhadas do teste
várias perspectivas de avanço na vacinologia, diagnóstico específico, que permite diferenciar a
incluindo para a atenuação viral. Por meio de resposta vacinal da resposta induzida pelo vírus
genética reversa, verificou-se que a presença de de campo. Esta estratégia possibilita a implantação
determinados aminoácidos no sítio de clivagem de programas de vacinação em áreas de risco,
do gene da hemaglutinina favorece a replicação sem prejudicar a perda da condição de rebanho
de variantes altamente virulentos do vírus da livre ou prejuízo ao trânsito de animais.
influenza aviária no hospedeiro. Dessa forma, a O herpesvírus suíno (PRV) presente em
remoção desses aminoácidos pode ser usada para uma vacina com marcador antigênico contra a
a atenuação desses vírus. doença de Aujeszky dos suínos foi atenuado por
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Vacinas víricas
meio da deleção do gene que codifica a gE, uma anticorpos específicos contra esta glicoproteína,
das glicoproteínas do envelope viral que não é enquanto que os animais que forem infectados
essencial à viabilidade e replicação do vírus. Essa com o vírus de campo desenvolverão anticorpos
vacina gE negativa é capaz de induzir a produção contra a gE. Através do teste de ELISA, fornecido
de anticorpos no hospedeiro. Portanto, animais com a vacina, pode-se, subsequentemente, dife-
vacinados com a cepa gE negativa não formarão renciar os suínos vacinados daqueles infectados
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Capítulo 12
pelo vírus de campo. O princípio das vacinas Para ser usado como vacina replicativa, um
com marcadores antigênicos e a sua utilização vírus vetor deve apresentar algumas caracterís-
para diferenciar animais vacinados daqueles ticas, como ser pouco ou nada patogênico, ser
infectados com o vírus de campo está ilustrado minimamente ou não excretado no ambiente e
na figura 12.3. replicar preferencialmente em sítios equivalentes
Os programas de erradicação do PRV nos aos infectados pelo vírus de interesse. Dessa for-
Estados Unidos, na Alemanha e em outros países ma, a resposta imunológica será estimulada nos
europeus tiveram como base o uso de vacinas locais naturais de infecção. Em geral, os vetores
diferenciais. No Brasil, o programa de erradica- virais vacinais utilizados são aqueles que já têm
ção dessa doença no estado de Santa Catarina o genoma sequenciado e caracterizado, além de
utilizou uma vacina gE negativa, associada com serem capazes de comportar a inserção e expressar
um teste imunoenzimático. Vacinas com mar- o gene heterólogo que irá codificar o antígeno de
cadores antigênicos estão sendo utilizadas em interesse. Sendo assim, os poxvírus, os herpesvírus
vários países europeus em programas de controle e os adenovírus são os vírus mais frequentemente
e erradicação do BoHV-1. A possibilidade de se empregados como vetores vacinais. Contudo,
manipular geneticamente os vírus e modificá-los diversos outros vírus vêm sendo estudados como
antigenicamente abre a possibilidade da confecção vetores para vacinas humanas e animais, como os
e utilização deste tipo de vacina contra outros alfavírus (vírus da encefalite equina venezuelana
vírus animais. [VEEV], vírus Sindbis), flavivírus (vírus da febre
Embora as vacinas diferenciais clássicas te- amarela) e o poliovírus (cepa atenuada Sabin,
nham sido concebidas para utilização do vírus a mesma que é utilizada como vacina contra a
deletado como vacina replicativa, o vírus com poliomielite).
marcador antigênico pode também ser utilizado Dentre os Avipoxvirus, o vírus da bouba avi-
em vacinas não-replicativas. Portanto, o caráter ária é um bom vetor de expressão para vacinas
diferencial entre animais vacinados e animais destinadas a outras espécies animais porque apre-
infectados pelo vírus de campo pode ser obtido senta baixo índice de replicação e incapacidade
tanto por vacinas com marcadores antigênicos de disseminação quando inoculado em células
vivos quanto vacinas com marcadores antigênicos de mamíferos, ao mesmo tempo que expressa
sem vírus vivo. antígenos heterólogos de maneira muito eficiente.
Um exemplo é a vacina recombinante contra a
4.1.4 Vetores vacinais cinomose canina, disponível comercialmente. Os
genes das glicoproteínas hemaglutinina (H ou HA)
Vírus natural ou artificialmente atenuados e de fusão (F) do CDV foram inseridos no genoma
podem ser utilizados para carrear um ou mais genes do vírus da bouba de canário, gerando um vírus
que codificam antígenos virais imunoprotetores de recombinante que expressa proteínas do CDV.
outros vírus. Dessa maneira, esses vírus funcionam Esse vírus recombinante é multiplicado em escala
como vetores vivos para a imunização de animais. industrial até atingir altos títulos, quando então
O gene de interesse é inserido no genoma do vírus pode ser usado na imunização de cães. O resulta-
vetor por técnicas de manipulação genética, e o do é a indução de resposta imunológica contra os
resultado é um micro-organismo recombinante antígenos do poxvírus – irrelevante neste caso, pois
que expressa as suas próprias proteínas e também este não é um vírus de cães – mas principalmente
a(s) proteína(s) heteróloga(s). Como consequência, contra as proteínas H e F, conferindo proteção aos
a vacinação com este vírus induz resposta imu- cães contra o CDV (Figura 12.4). Outro exemplo é
nológica contra as proteínas do vetor e também o poxvírus aviário, usado como base para vacinas
contra a proteína do vírus heterólogo. vetoradas contra o vírus do Nilo Ocidental (WNV)
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Vacinas víricas
para uso em equinos, que também pode ser en- que expressa a glicoproteína G do RabV. Essa vaci-
contrado como vetor vacinal para enfermidades na – de administração oral – é fornecida por meio
víricas de aves. Uma vacina contendo o vírus da de iscas alimentares distribuídas nas pradarias e
bouba aviária como vetor de antígenos do vírus florestas. Os carnívoros que receberam a vacina
da doença de Newcastle das aves (NDV) é usada não apresentaram sinais clínicos de raiva ou lesões
comercialmente para imunização de galinhas, nas de pox. Essa vacina vetorada também vem sendo
quais induz proteção contra o NDV. usada para controle da raiva silvestre na América
A raiva em carnívoros silvestres da Bélgica e do Norte e em outros países europeus.
França tem sido controlada com o emprego de um Os adenovírus são também bons vetores
vetor vacinal poxvírus, o Orthopoxvirus vaccínia, vacinais, pois são vírus de manipulação relativa-
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Capítulo 12
mente fácil e de genoma bem caracterizado, que animais, havendo estudos que o utilizam como
permite a inserção de longas sequências de genes vetor de genes do FMDV.
virais sem necessitar a remoção de sequências Uma variação das vacinas vetoriais são os vírus
originais do vírus. Além disso, os adenovírus quiméricos, gerados pela combinação de partes
apresentam tropismo por diferentes tipos celu- do genoma de vírus apatogênicos com os genes
lares e facilidade de replicar em altos títulos em imunoprotetores do vírus patogênico. Uma vacina
cultivos celulares. Esta estratégia foi utilizada inativada para leitões foi preparada a partir de um
para a produção de uma vacina contra a febre clone infeccioso de DNA quimérico contendo a
aftosa, na qual um adenovírus humano expressa porção imunogênica ORF2 (fase aberta de leitura 2)
proteínas do capsídeo do FMDV. Os adenovírus do gene do capsídeo viral do PCV2 inserido no ge-
são também encontrados como vetores de vacinas noma do PCV1 (vírus não patogênico para suínos).
humanas, como, por exemplo, uma vacina contra As pesquisas prévias ao licenciamento da vacina
o papiloma genital humano – causador do carci- revelaram que o vírus quimérico PCV1-2 induz
noma de colo de útero – produzida pela inserção imunidade protetora contra a infecção por PCV2
de genes do papilomavírus humano no genoma em suínos, mas retém a natureza não-patogênica
de um adenovírus; ou uma vacina contra a gripe do PCV1. Esta vacina é inativada e utilizada em
humana em que um adenovírus é vetor para a leitões com 3 a 4 semanas de idade.
hemaglutinina do vírus da influenza. As vacinas que utilizam vetores virais apre-
Os herpesvírus também têm sido explorados sentam a vantagem de não sofrerem interferência
como vetores potenciais para carrear antígenos de da imunidade passiva materna, pois os animais
outros vírus devido à facilidade de atenuá-los por geralmente não possuem imunidade contra antí-
deleção gênica e pela capacidade de seu genoma genos do vírus vetor. Da mesma forma, se o vírus
receber a inserção de um ou mais genes. Dentre vetor for um vírus não-patogênico para a espécie
os usos experimentais de herpesvírus como ve- animal vacinada, não existe o risco de tornar-se
tores vacinais, incluem-se: BoHV-1 expressando virulento. Eles também são boas alternativas de
antígenos do RabV, do BVDV e do vírus sincicial vacinas contra vírus que replicam de maneira
respiratório bovino (BRSV). O resultado é uma insatisfatória em cultivos celulares. Conforme o
vacina polivalente para bovinos que estimula o local de replicação do vetor utilizado, haverá o
sistema imune no local de entrada desses vírus. estímulo de imunidade de mucosas (penetração
Por outro lado, existe a preocupação com a possi- em mucosas) ou imunidade mediada por linfócitos
bilidade de os vetores herpesvírus estabelecerem T (penetração intracelular). Certamente, novas
latência no animal vacinado. Estudos realizados vacinas de vetores virais serão incorporadas ao
com o herpesvírus canino (CHV) como vetor mercado nos próximos anos pelas vantagens e
para vacinação de raposas demonstraram que, aplicações potenciais que apresentam.
embora o vírus tenha sido detectado nos sítios de Algumas bactérias também podem ser utili-
latência, não foi observada a sua reativação viral. zadas como vetores para a expressão de antígenos
O genoma do PRV apresenta boas características virais. Nesse caso, o gene que codifica uma pro-
para a inserção de genes heterólogos e, por isso, teína viral imunoprotetora é inserido no genoma
vem sendo utilizado experimentalmente como bacteriano por meio de manipulação genética. A
vetor para genes de outros vírus suínos, como o bactéria recombinante é, então, amplificada em
CSFV e o circovírus suíno (PCV). O resultado é cultura e administrada pela via oral ao hospedeiro.
um herpesvírus atenuado que atua como vacina No intestino, a bactéria recombinante se multiplica
multivalente e apresenta ótimas perspectivas e produz o antígeno viral, que é apresentado ao sis-
para vacinação em suínos. O PRV também pode tema imunológico. Enterobactérias, como Escherichia
ser utilizado como vetor para outras espécies coli e Salmonella, são consideradas boas candidatas
17
Vacinas víricas
a vetores de antígenos de vírus entéricos devido mento pós-tradução dessa proteína, bem como
à perspectiva de apresentação do antígeno viral deve haver disponibilidade de um método também
diretamente no tecido linfoide que está associado efetivo de purificação do produto recombinante,
ao intestino. Vetores bacterianos para antígenos que serão determinantes na viabilidade funcional
virais apresentam boas perspectivas para uso em e comercial dessa estratégia.
humanos, pois, além de induzirem resposta imu-
nológica local (IgA), poderiam ser administrados 4.2 Vacinas não-replicativas
pela via oral, uma via interessante para a vacinação
de animais de companhia. As vacinas não-replicativas não contêm o
Outra possibilidade de vetor vacinal que vem agente viável e, por isso, são mais seguras do
sendo estudada são vegetais (leguminosas ou que as vacinas com vírus replicativo porque não
frutas) transgênicos que expressariam antígenos oferecem a possibilidade de reverter a virulência
imunoprotetores, cuja ingestão na forma in natura e de causar doença. No entanto, por não promo-
poderia estimular resposta imunológica frente ao verem amplificação do antígeno – como ocorre
antígeno recombinante, e, dessa forma, atuariam com as vacinas vivas – e por não induzirem
como vacinas “comestíveis”. Devido à falta de resposta mediada por linfócitos Tc, apresentam
homogeneidade no nível de expressão de antíge- efetividade geralmente inferior às vacinas com
nos em vegetais ou frutos provenientes da mesma vírus replicativo. Contudo, essas vacinas pos-
planta transgênica e pela dificuldade prática na suem inúmeras aplicações e têm contribuído
separação dos alimentos com fins vacinais daqueles para o controle e erradicação de várias doenças
destinados à alimentação humana ou animal, plan- víricas importantes, como a febre aftosa e raiva
tas ou tecidos vegetais transgênicos foram então animal. Várias vacinas não-replicativas estão
propostos como “biorreatores” para a produção de disponíveis no mercado e outras tantas estão em
antígenos em grande escala. Experimentalmente, fase de desenvolvimento ou testes. As vacinas
foram produzidos antígenos vacinais em diversos não-replicativas podem ser compostas por vírions
vegetais, como folhas de alfafa, tabaco ou feijão, inativados, por frações ou proteínas extraídas
contra o RabV, NDV, FMDV, rotavírus bovino, dos vírions, por proteínas virais recombinantes,
parvovírus canino, dentre outros vírus; assim como por peptídeos sintéticos correspondentes aos
anticorpos monoclonais contra o RabV para imu- determinantes antigênicos imunoprotetores das
nização passiva de indivíduos expostos ao vírus. proteínas e, finalmente, por DNA ou RNA que
Entretanto, para que produzam esses antígenos ou codifica a proteína de interesse (Figura 12.5).
outras proteínas, as plantas “biorreatoras” precisam Dentre estas, a maioria contém partículas víricas
ser dotadas de um sistema efetivo de expressão da íntegras, porém desprovidas de infectividade
proteína recombinante e de controle do processa- (vacinas inativadas ou “mortas”).
18
Capítulo 12
como o vírus do mosaico do tabaco, podem ser- os epitopos virais que são bem conhecidos e ca-
vir como vetores de antígenos vacinais, sendo o racterizados por apresentarem maior capacidade
antígeno produzido pelas plantas transgênicas. imunoprotetora podem ser sintetizados em labo-
Vacinas que utilizam esta estratégia de plantas ratório. As vacinas víricas de peptídeos sintéticos
transgênicas já foram desenvolvidas contendo são aquelas que contêm apenas essas sequências
genes do FMDV e do BoHV-1. de aminoácidos produzidas sinteticamente, cor-
Vacinas que utilizam proteínas purificadas respondentes aos epitopos virais mais relevantes.
estimulam linfócitos Th CD4+, além de resposta Os peptídeos sintéticos produzidos são qui-
humoral mediada por linfócitos B e anticorpos; micamente análogos aos determinantes antigênicos
contudo não geram uma resposta relevante de originais e, em geral, contêm de 3 a 10 aminoácidos.
linfócitos Tc. A ausência de resposta citotóxica deve- Por meio desta metodologia, foi possível estimular
-se ao fato de essas proteínas serem processadas e a produção de anticorpos neutralizantes contra
apresentadas quase que exclusivamente associadas RabV, FMDV e parvovírus canino.
ao complexo principal de histocompatibilidade de Os linfócitos B reconhecem antígenos na sua
classe II (MHC-II). Como resultado, não ocorre a conformação natural. Assim, muitos dos epitopos
estimulação adequada e resposta mediada por capazes de estimular resposta humoral necessitam
linfócitos Tc, que dependem de estimulação via manter esta conformação. No entanto, grande parte
MHC-I. Vacinas contendo proteínas recombinantes dos peptídeos que são sintetizados apresenta-se
apresentam perspectivas promissoras para uso em como cadeia curta de forma linear, não dispondo
várias doenças víricas animais e humanas. de conformação terciária ou quaternária. Como
consequência, o nível de indução dos linfócitos
4.2.4 Vacinas de peptídeos sintéticos B e a atividade dos anticorpos que é induzida
pelas vacinas de peptídeos sintéticos são baixos e
Por maior que seja a molécula do antígeno, insatisfatórios quando comparados com aqueles
somente alguns epitopos são importantes para o induzidos pelas vacinas compostas por partículas
reconhecimento pelos linfócitos B e indução da virais completas ou por proteínas purificadas.
resposta imunológica. Partindo desse princípio, Uma das estratégias usadas para contornar esta
Tabela 12.2. Propriedades e restrições das vacinas víricas replicativas e não replicativas
cas desse método de aplicação da vacina tornam suínos, que possuem rotavírus e coronavírus em
remota a sua utilização na área veterinária. sua formulação, além de antígenos bacterianos.
As vacinas de RNA são uma variação das Dentre as vacinas multivalentes contra vírus não-
vacinas de DNA. Nesses casos, o RNA mensageiro -relacionados, incluem-se as vacinas contra viroses
(mRNA) que codifica proteínas virais de interesse é de cães, que contêm antígenos de até seis vírus
produzido in vitro e incorporado em lipossomos ou diferentes em sua formulação, além de antígenos
em micropartículas. A inoculação dessas partículas bacterianos. Estas têm o objetivo de imunizar
ou lipossomos no animal resulta em transporte do os animais contra os agentes mais prevalentes
mRNA para o interior das células, onde ocorre a da espécie, mesmo que alguns não apresentem
tradução e produção da proteína. Esta proteína relação epidemiológica entre si. São disponíveis
é, então, apresentada ao sistema imunológico, comercialmente também vacinas di e trivalentes,
resultando em estimulação de resposta humoral contra vírus de maior importância em determinadas
e celular. situações epidemiológicas.
Vacinas de DNA e RNA vêm sendo pesquisa- A maior vantagem das vacinas multivalentes
das contra o vírus da imunodeficiência felina (FIV), é a praticidade, pois permitem a imunização dos
vírus da leucemia felina (FeLV), FMDV, BVDV, animais contra vários agentes na mesma aplicação.
BRSV, RabV, entre tantos outros, mas, apesar das Essas vacinas, no entanto, apresentam algumas
vantagens e aplicações originalmente vislumbradas, restrições potenciais do ponto de vista imunoló-
essas vacinas ainda não encontraram a aplicação ini- gico: a) exigem a resposta simultânea do sistema
cialmente prevista na área animal. Atualmente, três imunológico contra um número muito grande de
vacinas de DNA encontram-se disponíveis para uso antígenos; b) mesclam antígenos imunodominantes
veterinário nos EUA – direcionadas para proteger com antígenos menos imunogênicos; c) algumas
equinos contra o vírus do Nilo Ocidental (WNV). incluem agentes imunodepressores em algumas
delas; d) unificam a ocasião da aplicação, que pode
4.4 Vacinas monovalentes e polivalentes não ser ótima para alguns dos antígenos presentes;
e) algumas mesclam preparações de vírus vivo
Várias vacinas de uso humano e animal con- com vírus inativado. Mesmo assim, várias vacinas
têm antígenos de mais de um vírus – e também de uso animal contêm antígenos de mais de um
de bactérias – em sua formulação. O objetivo de se vírus em sua formulação e muitas delas têm sido
formular vacinas di, tri, tetra ou polivalentes é o de usadas com sucesso para o fim a que se destinam.
facilitar o manejo da vacinação, ou seja, imunizar
os animais contra vários patógenos em apenas uma 5 Adjuvantes
administração. Dentre as vacinas multivalentes,
podem-se mencionar dois tipos, de acordo com o Os adjuvantes são substâncias que têm a função
objetivo e abrangência: a) vacinas multivalentes de potencializar a resposta imunológica induzida
direcionadas contra síndromes clínicas definidas; por vacinas não-replicativas, constituídas por vírus
b) vacinas multivalentes direcionadas contra ví- inativados, subunidades, proteínas recombinantes
rus não-relacionados, mas que são prevalentes ou peptídeos sintéticos. As proteínas na forma
na população. Dentre as primeiras, incluem-se solúvel e os antígenos purificados e de baixo peso
as vacinas direcionadas ao complexo respiratório molecular que compõem essas vacinas podem ser
bovino, contendo os vírus BoHV-1, BVDV, vírus pouco imunogênicos, mas apresentam um aumento
da parainfluenza 3, BRSV e bactérias que mais acentuado na sua imunogenicidade quando são com-
frequentemente estão associadas à etiologia desta binadas com adjuvantes. Por isso, com exceção das
doença. Nessa categoria também se incluem as vacinas atenuadas (compostas de vírus replicativo)
vacinas contra diarreias neonatais de bovinos e e das vacinas de DNA e RNA, as outras formas de
24
Capítulo 12
fosfolipídeos e à saponina Quil A, um glicosídeo pu- adjuvante também não seja utilizado em vacinas
rificado de plantas. Os ISCOMs apresentam estrutura humanas.
esférica, com cerca de 40 nm de diâmetro, e já existem Somente compostos contendo alumínio, hi-
algumas vacinas para uso veterinário que utilizam este dróxido de alumínio ou fosfato de alumínio estão
complexo como adjuvante. Outra possibilidade que atualmente aprovados para uso humano. Já na área
surgiu através da tecnologia de DNA recombinante veterinária, as substâncias mais utilizadas como
foi a fusão de proteínas ou peptídeos imunoprotetores adjuvantes são o óleo mineral e os sais minerais
de vírus com diferentes citocinas. Esses complexos baseados em alumínio, embora outros compostos
agiriam como adjuvantes e direcionariam a resposta estejam sendo testados experimentalmente. A prin-
imune desejada contra o vírus alvo. cipal dificuldade em identificar novos adjuvantes é
Algumas citocinas têm efeito positivo da modu- que, embora muitos resultados experimentais em
lação da resposta imunológica e, por isso, aumentam animais demonstrem boa capacidade imunoesti-
a eficácia vacinal, atuando como adjuvantes. Estas muladora, esses compostos frequentemente são
citocinas (interleucinas ou interferon alfa e gama) são tóxicos para os animais.
administradas ao indivíduo separadamente da vacina.
Outra possibilidade, no caso de vacinas vetoradas,
é a inclusão do gene que a codifica no vetor viral. A
interleucina 18 (IL-18) induz a produção de interferon
gama (IFN-γ) e a proliferação de linfócitos T e, por
isso, vem sendo explorada experimentalmente para
melhorar a resposta de vacinas recombinantes que
utilizam vetores vacinais. Um exemplo prático é um
poxvírus aviário como vetor do gene da interleucina 18
(IL-18) e de antígenos de alguns vírus animais, como
o FMDV e o vírus da influenza aviária H5N1, que
desencadeia melhores níveis de resposta imunológica
celular, se comparado à vacina sem inclusão de IL-
18. A modulação da resposta imunológica também
tem sido possível usando o IFN-α como adjuvante
de vacinas víricas.
As células apresentadoras de antígenos, parti-
cularmente as células dendríticas e os macrófagos,
são os principais alvos da ação dos adjuvantes,
resultando em efeitos diversos que produzem um
aumento na resposta imune (Figura 12.8).
Alguns efeitos adversos decorrentes do uso
de adjuvantes devem ser considerados. Os sais
inorgânicos geralmente desencadeiam reação
granulomatosa no local da aplicação. O adjuvante
completo de Freund não é utilizado em animais
de produção, devido à possibilidade de induzir
reação cruzada com o teste de tuberculinização e
à intensa reação local. As reações adversas locais,
bem como a possibilidade de desenvolver efei-
tos carcinogênicos, fazem com que este tipo de
26
Capítulo 12
clínicos de doença. A eficácia da vacina é medida animais ou humanos por vias alternativas, como
por sua capacidade de reduzir a excreção viral mucosa nasal e por contato com a pele, sem en-
(magnitude e duração) e, sobretudo, por prevenir volver o uso de agulhas.
a ocorrência de doença nos animais vacinados. Se A via pela qual a vacina é administrada in-
a vacina objetiva prevenir a infecção fetal e a ocor- fluencia o tipo de resposta imunológica que é
rência de abortos, por exemplo, fêmeas prenhes induzida, sendo um fator de grande importân-
previamente vacinadas devem ser desafiadas e o cia na prevenção da infecção, pois o estímulo da
efeito da infecção nos fetos deve ser monitorado. imunidade deve ocorrer preferencialmente nos
Embora seja o método mais objetivo de avaliação locais de penetração do vírus no organismo. Como
de eficácia vacinal, este método apresenta algumas exemplo, as vacinas de vírus atenuados que são
dificuldades, tais como: custo elevado, dificuldade administradas pelas vias nasal e oral devem replicar
crescente do uso de animais para experimentação, no trato respiratório e intestinal, respectivamente.
incerteza quanto à cepa e dose viral a ser utilizada Nas infecções de mucosas, como a respira-
no desafio, entre outras. tória, intestinal, genital, urinária e ocular, a IgA
secretada nessas mucosas é a imunoglobulina mais
7 Conservação e administração de importante para a prevenção da infecção. Portan-
vacinas to, há situações em que a imunidade local é mais
importante do que a imunidade sistêmica, o que
As vacinas podem ser administradas por influencia diretamente na via de administração
diferentes vias, que são definidas pelas caracte- da vacina. Vacinas atenuadas, administradas pela
rísticas do antígeno ou do vírus vacinal, do tipo via oral contra o NDV das aves, têm a vantagem
de imunidade que se deseja estimular, da doença de favorecer a replicação viral no trato intestinal,
contra a qual se destinam e também da espécie promovendo o estímulo e síntese de IgA local por
animal na qual são aplicadas. As principais vias de um período prolongado. O vírus da poliomielite
administração de vacinas víricas são: intramuscular, humana replica no epitélio intestinal, que é o mesmo
subcutânea, intradérmica, cutânea, ocular, oral e sítio de replicação da vacina atenuada de uso oral,
nasal. A maioria das vacinas animais é administrada conhecida como Sabin. A imunidade resultante é,
por via parenteral (intramuscular ou subcutânea); portanto, vantajosa em relação à administração
algumas são administradas por via oral (na água de injetável da vacina. Vacinas inativadas contra a
bebida ou ração) ou através de aerossóis; e poucas influenza, que são administradas na forma paren-
são administradas através de escarificações na pele. teral, podem não estimular a resposta de IgA na
Vacinas de aplicação intraprepucial e intravaginal mucosa respiratória, sítio no qual a imunidade é
também já foram desenvolvidas para a doença mais importante frente a uma subsequente expo-
genital causada pelo BoHV-1. A vacina contra o sição ao vírus.
ectima contagioso de ovinos é aplicada em gotas Um importante avanço foi obtido na indús-
sobre a pele escarificada da face interna da coxa. tria avícola com a demonstração de que embriões
A administração de vacinas por meio da água de de galinha podem ser vacinados ainda dentro
beber ou por aerossol é usada para vacinação em do ovo e, assim, desenvolver precocemente uma
massa de animais de produção, como suínos e resposta imunológica. A vacinação in ovo estimula
aves. Usando a nanotecnologia, que trabalha com a imunidade dos pintos antes dos primeiros dias
materiais em escala de tamanho diminuto (1 a 100 de vida, momento em que, provavelmente, terão
nm), é possível desenvolver vacinas na forma de o primeiro contato com o vírus de campo. Nesse
nanocompostos formados por partículas diminutas caso, os ovos são vacinados entre os 17 e 18 dias
e estáveis, as quais são complexadas ao vírus ou de incubação, exatamente no momento em que é
epitopos virais imunogênicos e administradas a feita a transferência para os nascedouros. A vaci-
28
Capítulo 12
sido a vacina autógena utilizada para o controle do animal vacinado, principalmente situações de
do papilomatose bovina, já que amostras de outros estresse, presença de doenças imunodepressoras,
animais podem ser antigenicamente diferentes e subnutrição ou intensa infestação por parasitas.
não conferirem proteção aos bovinos infectados Por todos os aspectos que influenciam a
com tipos diferentes do BPV. O mesmo ocorre com imunidade que decorre da vacinação, sabe-se que
o BVDV, cujas vacinas disponíveis no comércio a resposta imunológica não será de magnitude
brasileiro contêm isolados norte-americanos, que igual em todos os indivíduos vacinados. Ou seja,
são antigenicamente diferentes dos isolados locais. cada animal responderá de maneira individu-
Infelizmente, para muitas espécies de vírus, ainda al. Assim, a maioria dos animais montará uma
existe pouca informação sobre as características resposta moderada ou média; alguns animais
genômicas e antigênicas das cepas que circu- responderão de forma excelente e outros, de
lam na população animal local. Alguns métodos forma insatisfatória. Os animais que respondem
utilizados para a produção de vacinas podem de maneira insuficiente são epidemiologicamente
resultar em antígenos que são menos eficientes na importantes em doenças altamente contagiosas,
ativação do sistema imunológico se comparados como a febre aftosa, e representam uma possibi-
com o vírus original. De fato, a destruição parcial lidade de disseminação da doença. Já em viroses
ou completa dos epitopos imunoprotetores, que pouco insidiosas e de evolução lenta, como a raiva,
pode ocorrer durante o processamento e inati- uma população vacinada que responde de forma
vação do vírus vacinal, é capaz de reduzir a sua parcial à vacina pode ser suficientemente capaz
capacidade imunogênica. Ainda que o antígeno de impedir a disseminação da doença.
inativado permaneça estável, se estiver presente A eficácia das vacinas pode ser prejudicada
em quantidade insuficiente, poderá resultar no pelo armazenamento inadequado, principalmente
comprometimento da eficácia vacinal. Em grande no caso de vacinas contendo vírus replicativos man-
parte, esses efeitos podem ser minimizados com tidas em temperaturas superiores à recomendada.
base nos testes de qualidade a que as vacinas Mesmo que armazenadas de modo correto, o título
comerciais devem ser submetidas. Esses testes viral das vacinas vivas tende a reduzir devido à
devem incluir necessariamente as provas de po- inativação de vírus ao longo do prazo de validade
tência vacinal, nas quais é avaliada a capacidade do produto. Por exemplo, as vacinas associadas a
imunogênica da vacina produzida. células que são utilizadas contra a doença de Marek
Muitas vezes, as causas de falhas vacinais sofrem acentuada redução do título viral durante o
estão relacionadas ao animal e decorrem da va- período de armazenamento a -20ºC. Dessa forma,
cinação em período impróprio. Uma das causas devem ser estocadas em nitrogênio líquido e, uma
mais frequentes da falta de resposta vacinal é a vez descongeladas, devem ser aplicadas em um
vacinação dos animais no período de incubação curto período de tempo.
da doença, quando a vacina não será efetiva. O Por outro lado, a vacinação por métodos alter-
momento de vacinar também deveria ser con- nativos ao parenteral, como a via nasal, oral ou por
siderado na decisão de vacinar animais jovens. aerossóis, pode dificultar não só a administração
Se realizada no momento em que os animais da dose vacinal correta, como também a imuni-
ainda estão protegidos pela imunidade passiva, zação uniforme de todos os animais de um lote.
a vacinação será parcialmente efetiva devido à Para espécies criadas em grandes concentrações,
interferência dos anticorpos maternos. De fato, a como na avicultura industrial, a viabilidade de
presença de imunidade passiva provavelmente vacinas orais compostas de vírus sensíveis ao cloro
se constitui em uma das causas mais comuns pode ser comprometida com a excessiva cloração
de falhas vacinais. A resposta à vacina pode ser da água, que é utilizada como veículo vacinal. Fi-
prejudicada ainda por condições desfavoráveis nalmente, deve ser considerada a interferência de
30
Capítulo 12
desinfetantes empregados excessivamente para a lado, a vacinação contra um agente pode causar
antissepsia que precede a administração parenteral imunodepressão, que pode ser determinante na res-
de vacinas vivas. posta à vacinação contra outros micro-organismos.
Cabe ressaltar que a ocorrência de doença Vacinas atenuadas contra a parvovirose canina
branda em animais vacinados não significa ne- causam imunodepressão em filhotes, os quais
cessariamente uma falha vacinal. As vacinas são podem adoecer após a aplicação de vacina viva
produzidas para proteger os animais da doença contra a cinomose. Também o estresse causado
clínica. No entanto, algumas delas não conseguem pelo manejo dos animais durante a vacinação é
cumprir integralmente este objetivo e, mesmo uma causa comprovada de reativação das infecções
animais vacinados, podem desenvolver um qua- latentes pelos herpesvírus.
dro clínico discreto. Se esta vacina foi efetiva na A vacinação de fêmeas em gestação deve ser
redução significativa da gravidade da doença, precedida de cuidados com relação à decisão de
quando comparada com animais não-vacinados, vacinar contra determinados vírus, assim como na
pode-se afirmar que a mesma cumpriu parcial- escolha do tipo de vacina a ser utilizada. Vacinas com
mente o seu objetivo. vírus atenuados administradas a fêmeas gestantes
que não foram anteriormente imunizadas podem
9 Reações adversas da vacinação prejudicar o desenvolvimento fetal e mesmo causar
abortos, como no caso do vírus da panleucopenia
Embora os benefícios obtidos pelo uso da felina (FPLV), BoHV-1 e BVDV. Sendo assim, vacinas
vacinação sejam inquestionáveis, como a erradi- contendo vírus inativados são as mais indicadas
cação de várias doenças virais, nenhuma vacina é para a vacinação das fêmeas nesse período.
totalmente isenta de riscos. Apesar de relativamente Por outro lado, é possível que vacinas inati-
raros, efeitos indesejáveis e prejudiciais à saúde do vadas potencializem a doença decorrente de um
hospedeiro têm sido relatados pelo uso de vacinas. contato posterior com o vírus de campo por parte
Por isso, a possibilidade de efeitos colaterais não do filhote vacinado. Esse fato já foi observado em
deve ser negligenciada e os benefícios advindos crianças previamente vacinadas contra o vírus
da vacinação devem superar os riscos possíveis respiratório sincicial (RSV) e em potros vacinados
resultantes de seu uso. contra o vírus da encefalite equina do leste (EEEV).
Efeitos residuais de virulência em vacinas Reações de hipersensibilidade podem surgir
vivas devem ser considerados. Um sorotipo avi- após a administração de várias doses de vacina,
rulento do poliovírus, utilizado na vacina oral principalmente tratando-se de vacinas inativadas
infantil, pode sofrer mutações e tornar-se viru- ou de antissoro. Essas reações podem variar de
lento, causando poliomielite pela administração hipersensibilidade do tipo III, com intensa reação
da vacina em uma taxa de um caso a cada milhão. inflamatória local, até distúrbio vascular generali-
Casos de encefalite pós-vacinal, atribuída ao vírus zado. Pacientes expostos ao RabV passavam pelo
presente na vacina, já foram relatados em bovinos tratamento pós-exposição com o soro antirrábico
vacinados contra o BoHV-1 e em cães vacinados produzido em coelhos, que exigia múltiplas apli-
contra o CDV. Um efeito adverso menos deletério cações abdominais, as quais, muitas vezes, desen-
é a opacidade da córnea em cães decorrente da cadeavam reações de hipersensibilidade. Reações
vacinação contra a hepatite viral canina com o de hipersensibilidade retardada, com formação
adenovírus canino tipo 1 (CAdV-1). Este problema de granulomas, podem ser ocasionadas pelo uso
tem sido evitado pela utilização do CAdV-2 na de determinados tipos de adjuvantes, como os
formulação vacinal, ao invés do CAdV-1. que agem pela formação de depósitos. Por isso,
Vacinas vivas devem ser utilizadas com muito esses tipos de adjuvantes não são utilizados na
critério em animais imunodeprimidos. Por outro formulação de vacinas para uso humano. Qualquer
31
Vacinas víricas
componente da vacina pode ser responsável pelo FIELDS, B. N.; KNIPE, D. M.; HOWLEY, P. M. (Ed.). Fields vi-
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Capítulo 12