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{18 SHTUAR A LINGUA(GEN| | KANAVILIC RAIAGOPALAN piblicas frente lingua que nos fas felhar: investiga erftea. Sao Paulo: ‘uy 07), Mutodalogcal Recions on Curse! Lingle Theory i ‘Hanan, G, (orgs), Semantics of Ne ‘Revista de Foon ys Didactien, 24 17-28 of Allegiance; or the Linguistics that 1 Joureal ef Language 2003). “The Phi “Handbaok of plied — 2ote). Resposa aos » A. & Eten, C. (orgs) ton the Study of Speech, Newt York Hareouct, Brace & 1905), Ax Apotogi for Petrie, London: A. Constable & Co, .V. (1983), "Speculative Linguistics: an Inaugural Lecture” London: University College. ‘Winoowsox, HG. (1989). “Knowledge of Language and Ability for Use” Applied Linguistics, 10,128-187. DA NOCAO DE COMPETENCIA NO CAMPO DA LINGUISTICA Eidwiges Maria Morato (UNICAMP) 1. Inrropucio final, 0 que tem significado a nogdo de competén no terreno dos estudos da linguagem? O que ela tem ec seguido explicar a respeito da linguagem, suas cireunsté cias de uso e seu modo de existéncia? ‘Tomada como habilidade intrinseca dos dade desenvolvida socialmente, tida como inata ou como adquirida, competéncia tem trazido conseqiiéncias te6ricas e ganhos heuristic importantes para a lingtifstica, inscrevendo-se no rol de categorias co as quais a ciéncia da linguagem tem procurado enfrentar o desafio : Gecifrar seu proprio objeto, isto é, a lingua e seu funcionamento. F comparece, de uma maneira ou de outra, nos esforcos realizados e varios dominios da ciéncia da linguagem (tais como a psicolingifstica sociolingitistica, a neurolingiifstica, a semantica, a andlise da convers Gio ete) para a arbitragem de relagdes entre significagao' lingtifstica rocessos de significagio nao-verbais, entre linguagem e metalinguaget entre linguagem e cognigao, entre linguagem e interacao social. Consi tui-se, desse modo, em uma noggo-fetiche para a ciéncia da linguager integrando as discussdes em torno dos limites ¢ alcances das explic Wes internalistas e externalistas acerca do fendmeno lingiiatico. \dividuos ou como capa Se as primeiras parecem sempre esbarrar nos limite: intelectualismo previsto na concepgdo légico-psicologista da co: ‘AUST 4 INOUAIUEM| | EDYVIGES MARIA MORATO. a Tinguagem tem ot Restaria saber, quanto a esse estado de coisas, se essas duas, inconcilidveis ou, ainda, se haveria uma plau: perspectiva alternativa a essas duas posigdes antagonistas. © objetivo deste texto! é explorar, em linhas gerais, algumas aiiencias epistemolégicas relevantes que a reflexao sobre competéncia tem trazido a lingtifstica, de modo a provocar de forma constante a teorizagio sobre a linguagem, seja em diregdo as arbitragens interdisci- plinares (0 que a faz se relacionar, notadamente, com a sociologia ¢ as ciéncias cognitivas), seja em diregdo as retomadas do modelo inatista fundador de Noam Chomsky, para quem a competéncia é uma faculda- de (mental, inata, intuitiva) dos individuos e seus cérebros. No sentido inaugural dado por ele, cumpre lembrar, a competéncia (competéncia lingiiistica) & a capacidade de todos os seres humanos de dispor de um sistema de regras que lhes permitem produzir um niimero infinito de novos atos ajustados a determinadas atividades relativas & performance, ou seja, a0 uso ou manifestagdo desse conhecimento técito, tributario a todos da espécie. Mais do que mera dicotomia, temos nesse modelo uma relagio do tipo causal entre competéncia (conhecimento da lingua) ¢ vperformance (uso da lingua), baseada no fato de que os individuos pare- ‘ar uma regra mesmo sem saber que o sabem. E 0 que assinala Lyons (1970: 105), ao falar sobre a teoria chomskiana: ‘encontrar algum sentido no processo de aprendizado de lingua crianga nasce com conhecimento dos principios altamen. Cimento inato que a crianga tem dos principios universais que regem a estrutu- fuagem humana que Ihe permite suprir a deficiéncia da versdo empirista acerca da forma de aguisigdo da linguagem, boa pre derivado das dees elicdas dito de nosa edi a sndaeemnnenva do coat : scanner (oat & bent 2002) dedicat bands dus reads eres do sotago acts aes Doctors cepa determines caeoria esas linguist, eomalingunecompece OA NOGAO DE COMPETENCIA NO CAMPO DA UNGUSTICA Mo Ec © problema que permanece sem resposta é: co: fazer is Chomsky (1971), nossa heranga genéti ia @ maturagio de Grgios mentais particulares, sendo a faculé \guagem um deles, 0 que explicaria, entre outras coisas, o fa de duas pessoas de uma mesma comunidade lingiiistica serem capaz de conversar sobre um assunto inteiramente novo para elas, ainda q jéncias muitos distintas e ainda que as frases q) yronunciam e compreendem nio suportem nenhuma analogia dire ‘com 0 que quer que seja que jd tenham ouvido (cf. Chomsky, 1993) A competéncia opera, assim, de uma maneira inconsciente, intui ‘A coisa se passa como se o falante fosse praticamente ineapaz, ir de ser competente para falar e interpretar a lingua. Além de inat 1 precisamente por isso, a competéncia para Chomsky é uma faculd le, uma dotagdo mental: O conhecimento de uma Kingua — a “competéncia lingifstica”, no sentir ‘téenico deste termo — implica que dominemos esses processos gramatics (Chomsky, 1970525 tradugao da autora). No campo da lingijstica, hd muito se vem questionando os limit cexplicativos da teoria chomskiana com relaglo & competncia, isto 6, competéncia lingitistica. A’ maioria das criticas dirigidas ao modelo fu dador, em geral, se pauta pela reivindicagao de uma idéia de competéne que ultrapasse o estritamente lingtiistico (ou o dominio mental, intern reputado a ele), postulando, como regra, uma competéncia do tipo ¢ municativa (pragmética, sociolingitistica) complementar & descrita pi Chomsky. Contudo, como veremos mais adiante, tais eriticas nao ch gam a questionar as bases epistemoldgicas inatistas que ancoram a per pectiva chomskiana. Por essa razdo, as reagdes a Chomsky, se é bem ve dade que permitiram que as teorias lingiisticas pudessem movimentar- © avangar de maneira notével, nem sempre implicaram na realidade m dangas ou rupturas epistemolégicas em relagéo a seu modelo, Para Dell Hymes, que, na década de 1970, dedicou varios escritos questo, a competéncia lingiistica, se € necessdria, néo é condigdo su! ciente para que se possa falar uma lingua. Segundo ele, para que o f lante possa falar uma Iingua, algo-mais abrangente seria necessério, un 42. SITUAR A JINGUAIGEM) | EDWIGES MARIA MORATO: comunicagao entre as pessoas. Para ek competéncias (social, 5 concernentes & competéncia para se falar uma lingua. Os anos 1980 mostraram-se extremamente produtivos para as ver- tentes psicolingiifsticas ¢ sociointeracionistas, que no apenas tiam o cardter social da linguagem e sua relevancia no desenvolvimento cognitive de forma geral, como também procuravam assinalar ou de- monstrar no dominio empirico sua sociogénese. Ainda que os processos comunicacionais, pragméticos, enunciativos ou textuais tenham sido definitivamente incorporados a anélise do ob- Jeto da lingiistica a partir de meados do século XX — o que significa incorporar A discussao sobre competéncia as agdes que os sujeitos con- juntamente fazem com e sobre a linguagem, ou incorporar a essa dis- ‘cussdo a agao que ela, a linguagem, significa e constitui (e nao apenas, implica e determina) — ainda estamos longe de prognosticar um acor- do entre os lingiiistas a respeito do conceito de competéncia. De todo ‘modo, o desafio de entender o que esse conceito implica para 0 estudo da linguagem e processos afeitos a ela, bem como o que ele ¢ capaz de ‘explicar sobre as relagGes entre sujeito € mundo social é suficientemen- te relevante para que nos dediquemos neste texto a perscrutar sua plausibilidade conceitual, sobretudo se nfo dermos a ele 0 peso formal que tem recebido no Ambito da teorizagio chomskiana, que chega mes- ‘mo a confundi-lo com uma capacidade algo misteriosa que terfamos para falar e compreender a linguagem (ef. Chomsky, 1965). 2. A nocio DE COMPETENCIA No CAMPO LINGiistico: © MODELO FUNDADOR E SEUS AVATARES Durante as uiltimas décadas do século XX, as teses fundadas na idéia de linguagem como capacidade cognitiva acabaram por se impor de for- ma decisiva. Entre os aspectos ligados a esse fato, estd a aceitagdo da DA NOGAO DE COMPETENCIA NO CAMPO DA LINGUISTICA propriedades natu Ainda que os estudos psicolingiiisticos de cumho gerativista tenk: idade natural para a Hinguagem nos seres hun ‘ognosticar 3 hora atual qualquer acordo entre 08 1 ios gerais que descrevem essa capacidade. Al iais fet Hymes, questdes de ordem prética se impdem aos gerativist Dentre elas, podemos citar questies relativas & variagdo lingiistica ov juséncia de respostas convincentes & questo da aprendizagem, abanc nada a uma tese evolucionista muito geral “que nao consegue dar conta variedade das performances observadas” (cf. Ogien, 2001). ‘Também poc nos citar a dificuldade de se fazer com que um programa de tradugio au ‘mitica — potencialmente universal — derive de uma gramitica univers Por seu tumno, as modernas neurociéncias, ao pressuporem — s\ inspiragdo luriana e vygotskiana — um modelo sist®mico, plastico dinamico para o desenvolvimento ¢ funcionamento dos process nleurocognitivos, que seriam altamente dependentes de varios proce ‘0s psicossociais, também acabam por colocar em xeque a idéia de qi ‘a competéncia seja uma espécie de médulo bem localizado no eérebt ow uma fungéo mental isolada das outras. Apresentando restrigdes ao racionalismo inatista, ¢ efirmando que sistncia de Chomsky na capacidade universal para a fluén: is ca essencial como visio contrétia & tendéncia pervasiva de culpar ‘timas de um sistema social pelas falhas desse sistema, Porém, em ‘mesma, a teoria proporciona apenas uma solugdo parcial para o probl ma” (1974; 94; tradugio da autora), Hymes é certamente 0 autor que « forma mais consistente reagitt ao conceito gerativista de competéncia li Sitistica, Para ele, competéncia é considerada um termo mais geral pe ‘qual podemos descrever as capacidades de um individuo (Hymes, 1971 Instanciado no terreno da etnografia da comunicagio, Hymes po tula uma “competéncia comunicativa” que seria distinta (jé que relat va as fungGes sociais da linguagem) da nogdo de competéncia ling ca tal como definida por Chomsky. Porém, a nogio de competénci

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