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8 de junho de 2016
TORÇÃO
1. GENERALIDADES
O fenômeno da torção em vigas vem sendo estudado há algum tempo, com
base nos conceitos fundamentais da Resistência dos Materiais e da Teoria da
Elasticidade. Vários pesquisadores já se dedicaram à compreensão dos tipos de
torção, à análise da distribuição das tensões cisalhantes em cada um deles, e,
finalmente, à proposição de verificações que permitam estimar resistências para as
peças e impedir sua ruína.
Apesar dos primeiros estudos sobre torção serem atribuídos a Coulomb, as
contribuições de Saint-Venant (aplicação da torção livre em seção qualquer) e
Prandlt (utilização da analogia de membrana) é que impulsionaram a solução para o
problema da torção. No caso específico de análise de peças de concreto, foi a partir
de Bredt (teoria dos tubos de paredes finas) que o fluxo das tensões foi
compreendido. Na parte experimental, podem-se destacar os estudos de Mörsch,
Thürlimann e Lampert, fundamentais para o conhecimento do comportamento
mecânico de vigas submetidas à torção.
Em geral, os estudos sobre torção desconsideram a restrição ao
empenamento, como nas hipóteses de Saint-Venant, mas, na prática, as próprias
regiões de apoio (pilares ou outras vigas) tornam praticamente impossível o livre
empenamento. Como consequência, surgem tensões normais (de coação) no eixo
da peça e há uma redução da tensão cisalhante. Esse efeito pode ser
desconsiderado no dimensionamento das seções mais usuais de concreto armado
(perfis maciços ou fechados, nos quais a rigidez à torção é alta), uma vez que as
tensões de coação tendem a cair bastante com a fissuração da peça, e o restante
passa a ser resistido apenas pelas armaduras mínimas. Assim, os princípios básicos
de dimensionamento propostos para a torção clássica de Saint-Venant continuam
adequados, com certa aproximação, para várias situações práticas. No caso de
seções delgadas, entretanto, a influência do empenamento pode ser considerável, e
para o dimensionamento devem ser utilizadas as hipóteses da flexo-torção de
Vlassov. Um método simplificado é apresentado na ABNT NBR 6118:2014, mas não
será objeto de análise deste trabalho.
O dimensionamento à torção baseia-se nas mesmas condições dos demais
esforços: enquanto o concreto resiste às tensões de compressão, as tensões de
tração devem ser absorvidas pela armadura. A distribuição dos esforços pode ser
feita de diversas formas, a depender da teoria e do modelo adotado.
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Torção
2. TEORIA DE BREDT
A partir dos estudos de Bredt, percebeu-se que quando o concreto fissura
(Estádio II), seu comportamento à torção é equivalente ao de peças ocas (tubos) de
paredes finas ainda não fissuradas - Estádio I (figura 1c). Essa afirmativa é
respaldada na própria distribuição das tensões tangenciais provocadas por
momentos torçores (figura 1b), as quais, na maioria das seções, são nulas no centro
e máximas nas extremidades.
t
c Ae
T c
14.2
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= (1)
2∙ ∙
é a tensão tangencial na parede, provocada pelo momento torçor;
é o momento torçor atuante;
é a área limitada pela linha média da parede da seção vazada, real ou
equivalente, incluindo a parte vazada;
é a espessura equivalente da parede de seção vazada, real ou equivalente, no
ponto considerado.
I II
T T x
I
II
14.3
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Estribo
B Barras
A Longitudinais
Y
Bielas T
comprimidas
D Z X
NÓ A C = inclinação
c da biela
Rd R wd otg
A Cd
PLANO ABCD
Cd Cd sen
Rd
R wd
C sen Cd sen
d
y
y Cd sen
c
otg
c
otg
c
otg
14.4
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Nas bielas, a tensão resistente é menor que o valor de fcd. Dentre as várias
razões, pode-se citar a existência de tensões transversais (que não são
consideradas no modelo e interferem no estado de tensões da região), e a abertura
de fissuras da peça. Assim:
cd 0,5 v f cd
(8)
fcd é a resistência de cálculo do concreto à compressão;
v é o coeficiente de efetividade do concreto, dado por:
f
v 1 ck (MPa) (9)
250
As 4 Aso
As 2 Td
f ywd cotg θ
ue ue
As Td
cotg θ (11)
ue 2 Ae f ywd
3.3 Estribos
Para o equilíbrio das forças do nó A, na direção Z,
R wd Cd sen θ (12)
14.5
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Mas
cotg
R wd A 90 f ywd
s
sendo
s o espaçamento longitudinal dos estribos e
cotg
, o número de estribos concentrados na área de influência do nó A.
s
Substituindo na equação (12), considerando da equação (2):
cotg Td
A 90 f ywd sen
s 2 sen
Substituindo a equação (6) e rearrumando, resulta:
A90 Td
tg (13)
s 2 A e f ywd
A A
Td 2 Ae f ywd 90 s (14)
s ue
14.6
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Tsd
Tult
1
1
14.7
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ℎ ≤ (17)
ℎ ≥ 2 (18)
Caso A/u resulte menor que 2c1, pode-se adotar he = A/u ≤ bw – 2c1 e a
superfície média da seção celular equivalente Ae definida pelos eixos das armaduras
do canto (respeitando o cobrimento exigido nos estribos).
14.8
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Tsd
TRd,2
1
1 Vsd
VRd,2
14.9
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com fywk ≤ 500 MPa e a tensão média de tração dada por f ctm 0,3 3 f ck 2 .
14.10
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6. DISPOSIÇÕES CONSTRUTIVAS
Apenas as barras longitudinais e os estribos que estiverem posicionados no
interior da parede da seção vazada equivalente deverão ser considerados efetivos
para resistir aos esforços gerados pela torção.
São válidas as mesmas disposições construtivas de diâmetros,
espaçamentos e ancoragem para armaduras longitudinais de flexão e estribos de
cisalhamento, propostos na ABNT NBR 6118:2014. Especificamente para a torção,
valem as recomendações apresentadas a seguir.
6.2 Estribos
Os estribos devem estar posicionados a 90o com o eixo longitudinal da peça,
devendo ser fechados e adequadamente ancorados por ganchos em ângulo de 45o.
Além disso, devem envolver as armaduras longitudinais.
7. EXEMPLO
Seja a viga V1 da marquise esquematizada na figura 6, a qual está submetida
à torção de equilíbrio, além de flexão e cisalhamento.
O cálculo da laje L1, engastada na V1, não será aqui apresentado. Ela aplica
nessa viga um momento torçor de 21,45 kN.m/m, uniformemente distribuído.
A reação de apoio da L1, somada ao peso próprio da V1 e à carga de parede
sobre a V1 perfazem um carregamento uniformemente distribuído de 19,23 kN/m.
14.11
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320
A
430
35 285
V1
V1 - 35 x 50
50
P1 P2 8
30 x 35 30 x 35 16
320
L1
h = var.
300
430
A
14.12
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Junto ao P2, resulta um mesmo valor, porém de sinal contrário, coerente com
a convenção de sinais adotada (Convenção de Grinter). Portanto, junto ao P2:
= −8,89 ∙
V1 - 35 x 50 V1 - 35 x 50
35,58
39,68
38,46 31,12
42,90
d/2
d/2 2m
42,90
31,12 38,46
2m 39,68
35,58
29,57
14.13
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+ ≤1
, ,
25
= 1− = 1− = 0,9
250 250
2,5
= 0,27 ∙ 0,9 ∙ ∙ 35 ∙ 46,37
1,4
= 704,24
14.14
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3,5
he
50 cm
43 cm
h e = 7 cm Ae
3,5
35 cm 28 cm
, = 0,50 ∙ ∙ ∙ ∙ℎ ∙ (2 )
25
= 1− = 1− = 0,9
250 250
2,5
, = 0,50 ∙ 0,9 ∙ ∙ 1204 ∙ 7 ∙ (2 ∙ 45)
1,4
, = 6772,5 .
+ ≤1
, ,
49,81 5555
+ = 0,89 < 1 ∴ !
704,24 6772,5
14.15
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= 0,2 ∙ ∙ ∙
0,3 ∙ √25
= 0,2 ∙ ∙ 35 ∙ 90 = 0,036
500
14.16
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= 3,60
≤ , = ∙2∙ ∙ ∙
50
5555 ≤ , = ∙ 2 ∙ 1204 ∙ ∙ 45
1,15
5555 ≤ ∙ 104695,65
≥ 5,3
≤ , = ∙2∙ ∙ ∙
50
5555 ≤ , = ∙ 2 ∙ 1204 ∙ ∙ 45
1,15
5555 ≤ ∙ 104695,65
≥ 5,3
14.17
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7.6 Detalhamento
a) Armadura longitudinal
A área total da armadura longitudinal é obtida pela soma das parcelas
correspondentes à flexão e à torção, que deve ser feita para cada uma das faces da
viga.
Na face superior, a flexão exige As- = 0,62 cm2. A parcela da torção é dada
por As 5,30 (0,35 0,07) 1,48 cm 2 . A área de aço total nessa face vale, então:
As,tot = 0,62 + 1,48 = 2,10 cm2
Observa-se, entretanto, que esta área é menor que a mínima prescrita na
ABNT NBR 6118:2014. Portanto, para a face superior, a área de aço vale:
As,tot = As min = 2,63 cm2 (4 10)
b) Estribos
A área final dos estribos é dada pela soma das parcelas correspondentes ao
A A
cisalhamento e à torção, sw 90 , mas neste exemplo, como já foi visto, não é
s s
necessária armadura para o cisalhamento. Há apenas a parcela da torção, que já
supera a área de aço mínima exigida. Assim, em cada face deve-se ter:
2
A90 cm
5,30 8 c/ 9
s TOTAL m
14.18
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4 N3 10
N4 8 C/9
3 N2 10 3 N2 10
5 N1 10
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A utilização do modelo de treliça espacial generalizada é uma importante
característica da ABNT NBR 6118:2014, permitindo que se trabalhe com a mesma
inclinação da biela (de 30o a 45o) tanto na torção quanto no cisalhamento. Além
disso, com essas diretrizes, o projetista tem a possibilidade de realizar um
dimensionamento mais eficiente para cada seção estudada, já que, com a escolha
dos valores de e he, pode-se distribuir mais conveniente as parcelas de esforços
nas bielas e nas armaduras.
REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118:2014 - Projeto de
estruturas de concreto. Rio de Janeiro.
COMITÉ EURO-INTERNACIONAL DU BÉTON. CEB-FIP Model Code 1990. Bulletin
d’ Information, n. 204, 1991.
COMITE EUROPEEN DE NORMALISATION. Eurocode 2 - Design of concrete
structures. Part 1: General rules and rules for buildings. Brussels, CEN, 1992.
FÉDÉRATION INTERNATIONALE DU BÉTON. Structural concrete: textbook on
behavior, design and performance. FIB Bulletin, v. 2, 1999.
LEONHARDT, F.; MÖNNIG, E. Construções de concreto: princípios básicos de
estruturas de concreto armado. v. 1. Rio de Janeiro, Interciência, 1977.
SUSSEKIND, J.C. Curso de concreto. v. 2. Rio de Janeiro, Globo, 1984.
14.19