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Vasos sanguíneos
As doenças arteriais são responsáveis por mais morbidade e mortalidade do que qualquer
outra categoria de doença humana. Menos frequentemente, os distúrbios venosos causam
problemas clinicamente significativos.
Patologia
As células endoteliais (CE) e as células musculares lisas (CM L), principais componentes
celulares dos vasos sanguíneos, exercem um papel importante na biologia e na patologia
vascular. O funcionamento integrado destas células é fundamental para os mecanismos de
desenvolvimento e resposta da vasculatura a estímulos hemodinâmicos e bioquímicos. O
conhecimento do funcionamento dos vasos sanguíneos, de suas adaptações a necessidades
atípicas e respostas a lesões auxilia na compreensão das condições patológicas e de s eus
mecanismos e complicações específicas. Além disso, a descoberta d esses mecanismos pode
gerar novas opções terapêutica para o tratamento e prevenção de doenças que
representam importantes causas de mortalidade e morbidade.
Células endoteliais
Muito se aprendeu ao longo da última década sobre como se formam novos vasos
sanguíneos e como eles se alteram ao longo do tempo. Estudos com peixes -zebra,
facilitados p elao. N a íntima, deixam de ser contráteis e adquirem a capacidade de se p
roliferar. Ao mesmo tempo, há redução dos filamentos contráteis e aumento das organelas
envolvidas na síntese proteica, como retículo endoplasmático granular e aparelho de Gol
gi. A s CM L da íntima podem retornar ao seu estado não -proliferativo após a reconstituição
da camada endotelial subjacente subsequente a lesão aguda, ou quando a estimu lação
crônica cessar.
Anomalias congênitas
Arteriosclerose
Aterosclerose
As pressões a rteriais locais e sis têmica devem ser rigidamente controladas. Pressões
muito reduzidas provocam perfusão inadequada dos órgãos, resultando em disfunção e
por fim em morte dos tecidos sub-perfundidos. Por outro lado, pressões elevadas
impulsionando o fluxo sanguíneo em demanda metabólica excessiva não trazem nenhum
benefício, e ainda podem provocar disfunção e danos aos vasos sanguíneos e órgãos. A
pressão arterial elevada é chama da hipertensão. Conforme discutido anteriormente, a hipe
rtensão representa um fator de risco para a aterosclerose. Nesta seção, discutiremos
primeiro os mecanismos de controle da pressão arterial normal, em s eguida os possíveis
mecanismos de hipertensão, e por fim a s alterações patológicas nos vasos sanguíneos
de pequeno calibre associadas á doença.
Aneurismas e dissecções
Para objetivos descritivos, os aneurismas podem ser cl assificados conforme sua forma e
tamanho macroscópicos. Aneurismas saculares s ão essencialmente esféricos (acometendo
apenas uma porção da parede vascular), e variam entre 5 e 20cm de diâmetro, sendo
frequentemente preenchidos parcial ou c ompletamente por um trombo. Por outro lado,
os aneurismas podem ser fusiformes (envolvendo um longo segmento). Aneurismas
fusiformes variam em diâmetro (até 20cm) e em comprimento; muitos acometem grandes
segmentos da aorta abdominal ou mesmo das ilíacas. Contudo, essas formas não são
específicas para nenhuma doença ou manifestação clínica. Doenças inflamatórias – vasculites
Inflamações nas paredes vasculares, denominadas vasculites, são encontradas em diversas
condições clínicas. Podem acometer vasos de qualquer tipo e em praticamente qualquer
ó rgão. As manifestações clínicas frequentemente incluem sinais e sintomas sistêmicos,
como feb re, mialgia, artralgia e astenia, ou manifestações locais de isquemia tecidual á
ju sante. Entre as vasculites denominadas necrosantes sistêmicas, vários tipos acometem a
aorta e os vasos de médi o calibre, mas a maioria atinge os vasos de pequeno calibre,
como arteríolas, vênulas e capilares (desi gnadas vasculites de vasos de pequeno calibre).
Algumas entidades envolvem vasos de diversos tipos e/ou tamanhos. Alem disso, alguns
pacientes possuem transtornos que não se encaix am perfeitamente eu uma única categoria
b em definida, tendo ca racterísticas de diversas ent idades; assim, essas são consideradas
síndromes de “sobreposição”. Os dois mecanismos mais comuns de vasculite são a invasão
direta das paredes vasculares por patógenos infecciosos e mecanismos de mediação imune.
Não obstante, é importante reconhecer que infecções podem provocar indiretamente uma
vasculite sistêmica não -infecciosa, de mediação imune, como, e.g., p ela produção de
imunocompl exos, ou desencadeando reatividade cruzada. Em cada p aciente é fundamental
dis tinguir me canismos infecciosos d e mecanismos imunes, uma vez que a terapia anti-
inflamatória/imuno-supressora é apropriada p ara vasculites imunologicamente mediadas,
mas seria poten cialmente prejudicial na va sculite infecciosa. Lesões físicas e quím icas,
como radiação, trauma mecânico e toxinas, também podem provocar lesão vascular.
Patogênese da vas culite não-inf ecciosa. Os principais mecanismos imun es que iniciam a
vasculite não-infecciosa são: (1) deposição de imunocomplexos, (2) anticorpos anti -
citoplasma de neutrófilos e (3) anticorpos anti-células endoteliais. Imunocomplexos. As e
vidências para envolvimento de imunocomplex os em vasculites podem ser resumidas da
seguinte forma: As lesões vasculares se assemelham àquelas encontradas em condições
experimentais mediadas por imunocomplexos, como o fenômeno de Arthur localizado e a
doença do soro (capítulo 6). Reagentes imunes e complemento podem ser detectados no
Acadêmica Ana Carolina Lopes de Souza
Prof Dr Marcos Valério Zschornack
plasma ou nos vasos de pacientes com vasculite (e.g., complexos DNA-antiDN A estão pr
esentes em lesões vasculares da vasculite a ssociada ao lúpus e ritematoso sistêmico, e IgG,
IgM e complemento são observados na vasculite crioglobulinêmica). A hipersensibilidade a
drogas provoca apro ximadamente 10% das lesões cutâneas vasculíticas, principalmente
através da deposiçã o vascular de imunoco mplexos. Algumas drogas, como a penicilina,
conjugam-se com proteínas plasmáticas; outras, como a estreptoquinase, são consideradas
proteínas estranhas. As manifestações variam, estendendo-se desde hiper-sensibilidade de
vaso s de pequeno calibre e vasculite leuco -citoclástica até poliarterite nodosa,
granulomatose de Wegener e síndrome d e Churg-Strauss, podendo ter apresentações desde
b randas e auto-limitadas até graves e mesmo fatais. O reconhecimento da doença como
uma reação á droga é particularmente importante, pois a descontinuação do agente ofensivo
frequentemente resulta em uma melhora rápida. Na vasculite associada a infecções virais,
os imunocomplexos podem ser encontrados no plasma e nas lesões v asculares de alguns
pa cientes, particularmente em ca sos de poliarterite nodosa (e.g. HBsAg-antiHBsAg na
vasculite induzida por hepatite).
Não está claro se os imunocomplexos são depositado s nas paredes vasculares a partir d
a circulação, se são formados no próprio local, ou ambos (capítulo 6). Contudo, muitas
vasculites de vasos de pequeno calibre apresentam uma escassez de depósitos de
imunocomplexos vasculares, portanto devem ser investigados outros mecanismos para essas
vasculites pauci-imunes. Anticorpos an ti-citoplasma de neutrófilos. O plasma de mui tos
pacientes com vasculite reage com antígenos citoplasmáticos nos neutrófilos, indicando a
p resença de anticorpos anti -citoplasmáticos de neutrófilos (ANCA). Os ANCA são um
grupo heterogêneo de auto-anticorpos direcionados contr a certas enzimas encontradas
principalmente no interior dos grânulos azurófilos ou primário em neutrófilos, no lisossoma
de monócitos e nas células endoteliais. A descrição desses anticorpos se baseia nos padrões
de coloração p or imuno -fluorescência de neutrófilos fix ados p or etanol. Dois padrões pri
ncipais são reconhecidos: um deles revela uma localização citoplasmática da coloração (c-
ANCA), e o antígeno-alvo mais comum é a proteinase-3 (PR-3), um constituinte dos
grânulos de neutrófi los. O segundo pad rão apresenta colo ração perinuclear (p -ANCA),
sendo geralmente mais específico para mieloperoxidase (MPO). Ambas as especificidades
de ANC A podem ocorrer em um paciente com vasculite de vasos de pequeno calibre,
mas c-ANCA é encontrada tipicamente na granulomatose de Wegener, enquanto p -ANCA
é encontrada na maior parte dos casos de p oliangeíte microscópica e síndrome de C hurg-
Strauss. As doenças caracterizadas por ANC A circulantes são chamada s vasculites associadas
aos ANCA.
Os ANCA servem como marcadores diagnósticos quantitativos úteis para essas condições, e
seus níveis podem refletir o grau da atividade inflamatória. Os ANCA se elevam em
recorrências, sendo, portanto, úteis em sua administração. Além disso, a forte associação
entre títulos de ANCA e a atividade da doença, particularmente c -ANC A na granulomatose
de Wegener, sugere que eles podem ser importantes na patogênese dessa doença. Dados
experimentais são compatíveis com um mecanismo fisiopatoló gico para respostas auto-i
munes contra ANC A e/ou antígenos de ANCA nessas doenças, mas os mecanismos exatos
são desconhecidos. No entanto, ainda não há provas definitivas de que os ANCA exerçam
um papel etiológico no dese nvolvi mento da vasculite sistêmica. Uma hipótese plausível
para o papel dos ANCA como um fator etiológico na vasculite pode ser r esumida d a
seguinte forma. (1 ) Uma doença subjacente (e.g., uma i nfecção) induz citocinas pró-
inflamatórias como TNF e fator estimul ador de colônias de macró fagos e granulócitos, e
Acadêmica Ana Carolina Lopes de Souza
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produtos microbianos como endotoxinas, que juntos provocam a ex pressão de PR3 e
MPO por neutrófilos e outras células inflamatórias em suas superfícies. (2) Essas estimul
am a formação de ANCA. (3) Os A NCA r eagem com neutrófilos marcados por citocinas
circulantes, causando sua desgranulação. (4) P MN ativados por ANCA provocam toxicidade
celular e outras lesões teciduais diretas. É interessante notar que ANCA dir ecionados
contra outros constituintes dos n eutrófilos, além do PR3 e MP O, também são encontrados
em alguns pacientes com amplo espectro de doenças inflamatórias além de vasculite, como
doença inflamatória intestinal, doença hepática auto -imune, colangite esclerosante primária
e artrite reumatoide, e em alguns pacientes com malignidades e infecções. Anticorpos
anti-células endoteliais. Anticorpos contra c élulas endoteliais, talvez induzidos por defeitos
na regulação imune, podem predispor a determinadas vasculites, como aquelas associadas
com LES e doença de Kawasaki.
Classificação.
As vasculites sistêmicas são classificadas de acordo com o tamanho dos vasos sanguíneos
atingidos, com o local an atômicos e as características histol ógicas d a lesão e com a as
manifestações clínicas da do ença. Há uma sobreposição clínica considerável entre esses
transtornos.
Fenômeno de Raynaud
O fenômeno de Raynaud é caracterizado por uma palidez paroxísmica dos dedos das
mãos ou dos pés, sendo frequente o acometimento das extremidades do nariz ou das
arelhas (partes acrais) em decorrência da vasoconstrição induz ida pelo frio das artérias
digitais, a rteríolas pré -capilares e shunts arteriovenosos cutâneos. Caracteristicamente, os
dedos mudam de cor seguindo uma sequência branco-azul -vermelho. Alterações estruturais
nas paredes arteriais estão ausentes, exceto numa fase tardia da evolução, quando o
espessamento da ínt ima po de surgir. O fenômeno de Raynaud reflete um exagero das
respostas v asomotoras normais centrais ou locais ao frio ou a emoções. A prevalência na
populaç ão geral é de aproximadamente 3% a 5%; a idade média dos indivíduos atingidos
é de 14 anos. Um quarto dos pacientes possui história familiar de fenômeno de Raynaud
em parentes de primeiro grau. O cu rso do fenômeno de Raynaud é geralmente benigno,
mas casos de longa dat a podem apresentar atrofia da p ele, d e tecidos sub -cutâneos e
músculos. Ulceração e gangrena isquêmica são raras.
Veias e linfáticos
Tumores malignos são mais solidamente celulares, com anaplasia citológica, incluindo
figuras mitóticas e geralmente sem formar vasos bem organizados. A derivação endotelial de
proliferações neoplásicas que não formam lúmen vascular distinto pode ser geralmente
confirmada por demonstração imuno-histoquímica de marcadores específicos de endotélio,
como CD31, CD34 ou FvW. Como essas lesões constituem anormalidades d e proliferação
vascular desregulada, a possibilidade de controlar esse crescimento com agentes inibidores
de formação de vasos sanguíneos (fatores anti-angiogênicos) é particularmente
entusiasmante.