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saudável e feliz.
Gema e Pâmela
O LIVRO DO HORTO | 1
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
REITOR
RUI VICENTE OPPERMANN
VICE-REITORA
JANE FRAGA TUTIKIAN
PRÓ-REITORA DE EXTENSÃO
SANDRA DE FÁTIMA BATISTA DE DEUS
ISBN 978-85-9489-031-3
CDU 338
NLM GF 31
O LIVRO DO HORTO
Gema Conte Piccinini
Pâmela Oliveira da Silva
O LIVRO DO HORTO
SEMENTES, RAÍZES
E RIZOMAS
UFRGS/PROREXT/DEDS
2016
O LIVRO DO HORTO
AGRADECIMENTOS
O LIVRO DO HORTO
sempre foi o elo forte, amoroso e possível entre a comunidade e a
equipe, entre o posto e o Horto, entre a medicalização e a interação
terapêutica com a natureza. Exemplo vivo da “terrapia”. E ao seu
CHICO, presença forte, guardião de hábitos e valores antigos, amoroso,
observador e amigo. E ALEX, Enfermeiro Chefe da Equipe que acolheu
o Horto, presença querida nesta comunidade desde a Pré-História do
Horto.
O LIVRO DO HORTO
apenas sonhar projetos conjuntamente.
Gema ee
Gema
Pâmela
Pâmela
O LIVRO DO HORTO
LISTA DE SIGLAS/ABREVIATURAS
O LIVRO DO HORTO
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO ............................................................................... 10
PREFÁCIO ......................................................................................... 12
INTRODUÇÃO ................................................................................. 15
O LIVRO DO HORTO
CAP. 6 - O HORTO COMO ESPAÇO DE ENSINO, PESQUISA
E EXTENSÃO: COMO FOI ISSO NA PRÁTICA ................................. 86
6.1 Ensino - O Horto como Sala de Aula ......................................... 88
6.2 Pesquisa - Popularização da Ciência ......................................... 93
6.3 Extensão - Horto como Cenário de Prática .............................. 100
O LIVRO DO HORTO
APRESENTAÇÃO
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Muitas pessoas, de muitas maneiras, participaram da criação do Horto,
ajudaram a cuidá-lo, viram seu crescimento e desenvolvimento. Outros
tantos vivenciaram suas frequentes transformações, colocando nele seu
amor, seu suor, seu conhecimento, sua pureza, seu sonho, mas nem
tudo está registrado. Muitas sementes germinaram ali, outras migraram,
criando outros Hortos.
O LIVRO DO HORTO | 11
PREFÁCIO
12 | O LIVRO DO HORTO
constituição de um horto como espaço de ensino-aprendizagem e de
vivências de cura pelas plantas medicinais. E passo a passo, liderando
uma construção coletiva, nos presenteou com o Horto Ecológico da Vila
Cruzeiro.
O LIVRO DO HORTO | 13
Outro destaque é a função mediadora entre o ensino formal da
sala de aula e a aprendizagem dinâmica da vivência com os recursos
naturais disponíveis na rica biodiversidade, resgatada para constituir
o Horto Ecológico da Vila Cruzeiro, e a multidisciplinaridade de
questõesdespertadas pelos desafios de atender os indivíduos carentes
de saúde plena. Portanto, este espaçode aprendizagem a céu aberto
também tem atendido a formação de profissionais de outras áreas do
conhecimento como biólogos, geógrafos, engenheiros agrônomos, e
tantos outros, fato que podemos apreciar pelos trabalhos de conclusão
de cursos que o Horto Ecológico da Vila Cruzeiro do Sul proporcionou.
Ingrid B. I. de Barros
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INTRODUÇÃO
Pensar este livro foi refletir sobre a saúde em Porto Alegre com sua
dinâmica política, seus recursos, suas prioridades, a partir da relação
com o USF - Unidade de Saúde da Família Cruzeiro do Sul e sua equipe.
Pensar este livro foi imaginá-lo fruto da atuaçãodo profissional da
saúde, do ensino e da assistência mergulhados no complexo cotidiano
da população de periferia. Pensar este livro foi dar ouvidos à realidade
teórico-prática existencial, ímpar na vida e na saúde de cada brasileiro.
Pensar esse livro foi considerar as melhores situações de aprendizagem
para nossos estudantes. E é na família, na escola e no território onde
temos os principais pontos de encontro da saúde com a doença.
O LIVRO DO HORTO | 15
física e mental. Afinal, assim foi sonhado a partir de uma realidade de
Farmácias Vivas, num pensar a inclusão das práticas e conhecimentos
tradicionais no SUS.
16 | O LIVRO DO HORTO
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CAPÍTULO 1
A PRÉ-HISTÓRIA DO HORTO
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Ao nos reportarmos ao ano de 1996, guiados pela “Márcia
do Postinho”, como era conhecida a Servidora do Posto de Saúde,
desenhamos, caminhando, o mapa da pobreza da Vila Cruzeiro do Sul.
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TERRITÓRIO DE ATUAÇÃO DESDE 1996
O LIVRO DO HORTO | 19
Em nossas mentes ficou a imagem do caos de alguns setores e o
desejo velado de ali lançar âncoras para fixar um espaço de aprendizado
acadêmico, compartilhando experiências com uma comunidade em
busca de sua qualidade de vida. Esta experiência se somou a uma
trajetória de onze anos no Amazonas e quatro na periferia de Canoas
em trabalhos com população marginalizada.
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FELIPE: Querido Felipinho! Primeiro bolsista de Extensão do
Projeto. O amado, o amigo, o líder dos meninos no planejamento e
execução dos passeios.
O LIVRO DO HORTO | 21
encontros semanais até a compreensão do complexo processo sócio-
cultural desta comunidade, contribuiu significativamente para a
elaboração desta publicação. Sua iniciativa permitiu testar e patentear
uma metodologia de trabalho que facilita a comunicação com o paciente
em consulta de enfermagem. Com a certeza de que este método foi
gestado a partir da convivência com os jovens da comunidade, ousada
e disponível, a aluna apresentou sua experiência em duas edições do
Seminário de Extensão Universitária da Região Sul – SEURS.
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os passeios educativos e alunos da Universidade relatando os impactos
das vivências transformadoras em suas formações profissionais.
Nesta mesma vertente temos a professora Ana Bonilha1 extensionista
e pesquisadora na área, mas que, pela sua inserção e características
físicas poderia ser confundida com as demais jovens. Destas iniciativas
vários encontros foram realizados, ora na casa de uns, ora na casa de
outros, sempre com a finalidade de afinar objetivos, clarear a caminhada,
planejar e organizar atividades.
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1.1 ALGUNS ANOS DEPOIS
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A foto abaixo retrata um momento da história do convívio entre
acadêmicos de enfermagem e adolescentes da periferia em atividade
de extensão, no qual todos adquiriram perspectivas e possibilidades
mais positivas. Falamos de um processo de formação para vida. Os
profissionais que formamos tiveram nesta vivência a oportunidade
de refinar seu olhar para o outro e depoimentos de adolescentes,
encontrados tempos depois, nos levam a acreditar que a experiência
causou impactos muito positivos em suas vidas. Por isto, afirmamos:
A ESPERANÇA PREVALECE!
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1.2 PRECURSORES DO HORTO
Uma das equipes da ESF foi acolhida em 1996 pela Associação dos
Moradores da Vila Cruzeiro do Sul – AMOVICS – imagem acima, que
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cedeu o andar térreo da entidade, para o atendimento da população,
abrangendo o território situado entre as ruas Dona Malvina, Padre
Nóbrega, Orfanotrófio e Cruzeiro do Sul. As famílias cadastradas tinham
como referência o “barracão” – uma velha construção em meio a uma
área verde existente na época. Atualmente este espaço é utilizado pela
comunidade para atividades de lazer e educação e, algumas pessoas,
ainda se referem ao local como “barracão”. Essa equipe e esse pequeno
espaço foram base de referência para estágios e outras atividades
acadêmicas na comunidade com os quais foram compartilhados sonhos
e realidades. Com eles foram realizados exercícios de permanência na
impermanência, a cada troca de equipe, a cada início de estágio.
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1.2.3 UM PROJETO DE EXTENSÃO: CINQUENTA ANOS DE
MEMÓRIA VERDE
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Matzenbacher3 na sala da Direção da Escola. Na ocasião, a planta mais
antiga foi identificada como a espécie TipuanaTipu. Estava localizada
em frente ao Diretório Acadêmico da Faculdade, próximo à Rua São
Manoel, e foi adotada por uma das autoras deste trabalho – Prof.ª Gema
Conte Piccinini. À sua sombra muitas páginas foram escritas.
Academicos junto ao
monumento com a mensagem
“Como a natureza se renova e
floresce verdejante, a Escola de
Enfermagem da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul,
celebra 50 anos forjando no
cotidiano o profissional do
futuro.
3 https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/23512/000397457.pdf?sequence=1
4 CAD - O Centro Agrícola Demonstrativo é uma unidade administrativa da Divisão de Fo-
mento Agropecuário e da Gerência de Projetos Especiais da Secretaria Municipal da Indústria
e Comercio de Porto Alegre, com área de 32 hectares. Nele estão centralizados os diversos
projetos e atividades do meio rural.
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1.2.5 UM QUINTAL DOMICILIAR
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CAPÍTULO 2
O NASCIMENTO DO HORTO
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nestas instâncias, os trabalhos foram iniciados no local incluindo a
coleta de amostras solo para análise.
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Depois deste encontro, o projeto foi submetido a Conselho Distrital
de Saúde junto à Gerência Distrital Glória, Cruzeiro, Cristal.
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A implantação do Horto observou orientações técnicas para
o plantio das mudas no espaço e a distribuição conforme Projeto
Fitotécnico de doutorado.
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2.2. INÍCIO DA CONSTRUÇÃO
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Foram construídos 12 canteiros. Em cada um deles foi cultivada
uma das plantas destacadas. O processo de construção coletiva,
ilustrado abaixo, foi o adotado e envolveu integrantes da equipe de
saúde da comunidade, além dos guardiões mirins e anciãos5, que
ficaram responsáveis pela proteção das pequenas mudas.
5 Os Guardiões Mirins e o Grupo de Terceira Idade Raio de Luz, são apresentados no Capí-
tulo 3 – Participantes da Vida e Dinâmica do Horto.
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Outro fator importante a destacar, e que decorre da orientação
técnica sistematicamente realizada, foi a construção da barreira sanitária
– foto abaixo, que garantiu a proteção adequada e eficiente do solo do
Horto.
2.3. AS 12 PLANTAS
6 Tese de Doutorado Plantas medicinais utilizadas por comunidades assistidas pelo Pro-
grama Saúde da Família, em Porto Alegre: subsídios à introdução da fitoterapia em atenção
primária em saúde - Disponível em: www.lume.ufrgs.br/handle/10183/14305?locale=pt_BR
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FUNCHO (Foeniculum vulgare) – As imagens que compõem o
conjunto da primeira prancha e apresentam as etapas do cultivo do
funcho.
A B
C D
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MACELA (Achirocline satureioides) – As imagens que compõem
o conjunto da segunda prancha e apresentam as etapas do cultivo da
macela.
A B
C D
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GUACO (Mikania laevigata) – As imagens que compõem o conjunto
da terceira prancha e apresentam as etapas do cultivo do guaco.
A B
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TANSAGEM (Plantago spp) – As imagens que compõem o conjunto
da quarta prancha e apresentam as etapas do cultivo da tansagem.
A B
C D
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CAPIM-CIDRÓ (Cymbopogon citratus) – As imagens que compõem
o conjunto da quinta prancha e apresentam as etapas do cultivo do
capim cidró .
A B
C D
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HORTELÃ (Mentha piperita) – As imagens que compõem o conjunto
da sexta prancha apresentam as etapas do cultivo da hortelã.
A B
C D
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MALVA (Malva sp) – As imagens que compõem o conjunto da
sétima prancha e apresentam as etapas do cultivo da malva.
A B
C D
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ARRUDA (Ruta graveolens) – As imagens que compõem o conjunto
da oitava prancha e apresentam as etapas do cultivo da arruda.
A B
C D
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BOLDO (Plectrantus barbatus) – As imagens que compõem o
conjunto da nona prancha e apresentam as etapas do cultivo do boldo.
A B
C D
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ERVA-CIDREIRA (Aloysia triphilla) – As imagens que compõem o
conjunto da décima prancha e apresentam as etapas do cultivo da erva-
luísa.
A B
C D
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LOSNA (Artemisia absinthium) – As imagens que compõem o
conjunto da décima primeira prancha e apresentam as etapas do cultivo
da losna.
A B
C D
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POEJO (Cunila microcephala) – As imagens que compõem o
conjunto da décima segunda prancha e apresentam as etapas do cultivo
do poejo.
A B
C D
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O LIVRO DO HORTO | 51
CAPÍTULO 3
7 Bolitas - bola de gude, gude ... pequena bola de vidro maciço, pedra oumetal, normal-
mente escura, manchada ou intensamente colorida, de tamanho variável, usada em jogos
infantis. Consiste em um círculo desenhado no chão, onde os jogadores devem, com um
impulso do polegar, jogar a bolinha. Vence aquele que ficar com as bolinhas de seus compa-
nheiros.Wikpedia: https://en.wikipedia.org/wiki/Bolita, consulta em 16.09.2015.
52 | O LIVRO DO HORTO
foi a porta de entrada e permanência das crianças no cotidiano do
projeto, pois passados alguns dias, as crianças voltaram. E voltaram
muitas vezes mais. Nesses retornos, aos poucos, outras foram se
aproximando uma após outra, até serem muitas. Meninos e meninas.
Dia após dia, aos poucos, em horários inesperados, eles foram
adentrando, querendo tudo fazer, tudo saber, tudo tocar, começando
pelos menores. Assim se inteiraram do trabalho e compartilharam
suas histórias de vida. Diante deste panorama, a equipe do Programa
Saúde da Família - PSF engajou-se na organização de uma reunião com
as crianças da rua da Unidade Básica de Saúde - UBS para que sua
presença no Horto fosse prazerosa, segura e de aprendizado, além
de favorável ao desenvolvimento do trabalho. No primeiro encontro
foram levados a conhecer a área, a metodologia e objetivo do Horto.
Participaram também de uma oficina de desenho na qual projetaram as
expectativas individuais de colaboração.
Seguiram-se encontros semanais para fortalecimento do grupo e
sistematização das atividades. Identificá-los como membros do grupo
foi um processo de envolvimento e comprometimento familiar, através
do uso de fotografias, confecção de crachás, escolha de lideranças,
sempre aberto a entrada de novos membros. Desse modo a organização
dos pequenos se consolidou, e desde então estes passaram a usufruir
do Horto e a protegê-lo. Os Guardiões Mirins, como foram batizados,
portavam crachás com foto, confeccionados nas oficinas semanais.
Assumiram a divulgação positiva do Horto e a proteção contra
predadores, embora, com certa freqüência, a bola, dos joguinhos na rua
no final da tarde, entrasse no espaço e jogador o mais leve ou o mais
rápido, pulava a tela para buscá-la.
Os Guardiões Mirins foram crescendo, revezando lideranças,
assumindo compromissos e estabelecendo vínculos, nem sempre
duradouros. Estes compromissos consistiam no cuidado com as plantas,
no controle de pragas ou identificação de mudanças no ambiente.
Interagiam também em outras atividades lúdico-científicas. Não poucas
vezes associavam assuntos escolares com questões do Horto. Exemplo
disso foi quando uma guardiã, andando pelo Horto, observou um pé
de funcho, bonito e saudável, crescendo no meio de um passeio entre
canteiros. Animada, ela correu para contar o achado. Ante a situação de
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risco de ser pisada, a muda foi transplantada para lugar mais seguro e
passou a ser por ela cuidada, imagens abaixo, chamando-a pelo nome
de Anita, pois em aula tinha estudado sobre Anita Garibaldi e aprendera
que ela foi uma mulher guerreira e forte.
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Algumas presenças se destacaram neste processo, marcaram
presença, como amostra da diversidade cultural emergente a desafiar a
saúde das próximas gerações:
MANINHO: referência do grupo no Horto. Morava ali, portão com
portão. Presença alegre, inteligente, “mão direita” do pai na borracharia.
Estudante, moleque, amoroso e vivaz nos momentos que lhe sobravam
para brincar. Foi ele quem, liberado pelo pai, fez a primeira colheita de
plantas.
LUCIANO: primeiro líder do grupo, reeleito por competência,
também morava perto da UBS. Era amigo da equipe, presença ativa,
guardião da própria casa e de si mesmo, já que durante o dia, os pais
trabalhavam fora. Por ser leve, rápido e conversador, geralmente era ele
quem pulava a cerca para pegar a bola que ia parar nos canteiros, quando
do futebol de rua. Com ele presente era difícil cumprir o programado:
ele criava.
EDÍLSON: vizinho de Luciano, perspicaz, cientista, irrequieto
e curioso era o primeiro que percebia as novidades. No início das
atividades, percebendo a ausência de malva nos canteiros, trouxe uma
das duas mudas que tinha no quintal de sua casa e passou a ser um
exemplar cuidador. Chamado pelos colegas de Didi, fazia judô nas
horas vagas e estudava pela manhã.
CLÁUDIO: amigo do Luciano. Menino sério, inteligente,
disciplinado, contributivo. Podia confiar a ele a rega com mangueira
que o Horto sobrevivia inteiro.
FELIPE e EMANUEL: irmãos, com traços quase orientais, moravam
com o pai. Frequentavam pouco o Horto, mas quando lá estavam
queriam trabalhar. Moravam um pouco afastados e um deles, além
de estudar, trabalhava. De vez em quando o pai passava pelo Horto a
caminho do trabalho e dava notícias dos meninos.
MARINA: tranquila, serena, a primeira menina a visitar o Horto.
Veio com o pai em um domingo de manhã para participar de um mutirão
de capina. Mais adiante ela foi vice-líder das meninas, quando o grupo
já tinha nome. Com ela aprendemos um pouco mais sobre a vida na vila
e os costumes dos moradores.
CAROLINE e JAQUELINE: Caroline fez parte do grupo dos maiores
e foi líder das meninas e sua irmã, Jaqueline, sempre junto, pertencia ao
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grupo dos pequeninos. Estes só podiam entrar acompanhados dos mais
velhos, para a segurança de todos.
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A observação de práticas e técnicas adequadas sempre foi uma
preocupação presente entre os integrantes dos Guardiões Mirins e, por
isso, foi criado um espaço para organizar ecologicamente o sustento
do Horto com alunos dos Cursos de Enfermagem e da Agronomia, da
UFRGS, em 2007, com a formação de uma composteira8, conforme
podemos ver a seguir.
O LIVRO DO HORTO | 57
A iniciativa sempre teve reconhecimento de diversos setores da
sociedade, contudo um dos momentos que mais impactou os Guardiões
Mirins foi durante a visita de uma comitiva da Secretaria Municipal
da Saúde, conforme registra a imagem abaixo, onde apresentaram
detalhadamente o Projeto e a participação do grupo na construção e
manutenção do Horto.
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No sorriso, na pisada ou nas mãos, aqui estão eles, no Horto ou
em aula, compartilhando entre si e conosco o melhor de cada um.
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Outra fonte de memória do projeto é a coletânea das falas de seus
integrantes, que destacamos a seguir:
- “Nós plantamos cidró. Foi numa quinta e comecei a chamar minhas amigas
pro Horto. Quem mais vem sou eu, a Marina, a Carol e o Yuri que é meu irmão.”
- “Me sinto bem porque estou no meio do verde. No meu quarto tem
muitas plantas verdes.”
- “Dá pra chamar o pessoal nas casas, todo mundo mora aqui pertinho.
Eles vão gostar de plantar!”
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Por último, apresentamos alguns, dos muitos, “bilhetinhos”
carinhosos e recados trocados durante o Projeto.
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3.2. GRUPO DE TERCEIRA IDADE RAIO DE LUZ
62 | O LIVRO DO HORTO
Outra característica que traz destaque ao trabalho comunitário
na Cruzeiro do Sul é a integração entre seus diversos atores, como
podemos constatar na imagem anterior, onde os Guardiões Mirins
distribuem plantas medicinais na feira do Grupo de Terceira Idade Raio
de Luz em frente ao USF, no ano de 2010.
Membros do Grupo de Terceira Idade Raio de Luz são presenças
constantes no Horto e acompanhadas dos agentes de saúde, dos
bolsistas de extensão e de moradores da comunidade cultivam saúde
em pequenos passeios aromáticos. Sem perder de vista que desfrutam,
no presente, as profundas e marcantes vivências do passado,
compartilhando conhecimento e a amizade, como na oficina de cheiros,
foto a seguir,realizada no Horto, onde foram estimulados os sentidos e
as lembranças.
O LIVRO DO HORTO | 63
arte, que se tornou a identidade do Grupo, no mais diversos eventos em
que o Horto participa. Esta colcha as mantém unidas e em movimento.
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IDOSO É QUEM QUER
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CAPITULO 4
9 Edgar Morim: Antropólogo, sociólogo e filósofo francês considerado um dos principais pen-
sadores contemporâneos e um dos principais teóricos da complexidade. (Fonte: Wikipédia).
10 Abreu de Mattos: Doutor em Farmacognosia, professor da Universidade Federal do Cea-
rá, criador do Projeto Farmácias Vivas, dedicado à assistência social farmacêutica por meio
das plantas medicinais.
11 Rudolf Steiner: Filósofo, educador, artista e esoterista.
12 Frijot Capra: Físico teórico e escritor que desenvolve trabalho na promoção da educação
ecológica.
13 Tompkins: Jornalista, americano, autor do livro A vida Secreta das Plantas.
66 | O LIVRO DO HORTO
O Horto também foi utilizado como apoio logístico para a
realização de encontros, projetos especiais, oficinas e apresentações,
mas a atividade cotidiana estava no cultivo da terra,cuidado das
plantas, momentos de contemplação e acolhimento de visitantes. As
contribuições para a vida comunitária podem ser percebidas em muitos
âmbitos. Porém, foi na área da educação o impacto mais significativo,
através da formação das crianças e da qualificação profissional, além da
ampliação da consciência social, dos estudantes que por lá construíram
sua experiência de viver comunidade. Alguns forjaram sua crítica em
relação à população carente vinculada aos serviços do Posto de Saúde.
O LIVRO DO HORTO | 67
criando uma rede de intercâmbio, interação e trocas. Fez do Horto um
espaço de práticas sociais enriquecedoras da essência de cada ser e
de cada grupo, aqui e acolá. Com isso, oportunizamos a expressão
do conhecimento e da aprendizagem que cada um pode ter com o
outro, estimulando a consciência, não só acerca da tradição local, mas
também sobre as riquezas humanas e ecológicas existentes nesses dois
lugares tão diferentes e tão iguais, de Porto Alegre. Tudo no Horto tem
um significado muito especial para alguém, para muitos e para todos.
A partir desta experiência, e ancorado no Delta, nasceu, no ano de 2011,
o Programa Ilhas de Conhecimento, que estendeu a rede de atividades
fortalecendo a parceria entre escolas de ensino fundamental.
14 Composteira: Espaço de reciclagem de produtos orgânicos (ex: cascas, frutas, folhas,
fezes de animais) para produzir alimento para as plantas.
15 Minhocário: Sistema de reciclagem do lixo orgânico caseiro, onde minhocas transfor-
mam restos de alimento em húmus, adubo.
16 Espiral: canteiro construído em formal de espiral com a finalidade de concentrar ener-
gias, harmonizar cultivos, facilitar vivencias e acrescentar novas plantas, sementeiras e placas
de identificação de espaços para atividades socioeducativas e de espiritualidade.
68 | O LIVRO DO HORTO
é uma experiência única. Motivadas, espontâneas e dispostas, elas
transformam um simples encontro em um momento especial e
produtivo. Ao compartilhar uma simples técnica de plantio, fazendo
dinâmicas de integração e de contato direto com a natureza, a criança
é estimulada a se expressar a partir da essência do seu ser e faz suas
descobertas. O Horto, lugar para todos, hoje e sempre.
O LIVRO DO HORTO | 69
4.1. A VIDA DO HORTO PÓS-TÉRMINO DO CULTIVO
FITOTÉCNICO
70 | O LIVRO DO HORTO
A B C
Abacateiro, Babosas de Cabaças-esponjas,
Abóboras, Alecrim, diferentes espécies, Camomila, Cânfora,
Alevante, Alface, Bálsamo alemão, Capim cidró, Carqueja,
Alfazema, Alipia Alba, Bananeira, Cavalinha,Cebolinha,
Alho, Arnica, Batata doce, Cenoura, Chuchus,
Artemísia - 3 espécies: Bardana, Beldroega, Cipó milhome,
da môxa, Berinjela, Bertalha, Citronela, Coentro,
das frituras e Beterraba Confrei, Couve,
dos licores de absinto Cravo de sagu,
Cravos, Cúrcuma
E F G
Erva de Santa Maria, Fisalis, Gerânio, Girassol,
Erva de Santa Luzia, Flor do Mel, Goiabeira, Guaxuma,
Erva mate, Folha da Fortuna, Guiné
Espada de São Jorge, Frágole,
Espinheira Santa, Fumo brabo,
Estévia Flor do beija-flor
H I L
Hibisco Insulina Lança de ogum,
Limoeiro,
Linhaça,
Lírio da paz
M O P
Malva Cheirosa, Ondas do mar Parreira,
Mamoeiro, Mamona, Penicilina,
Manjericão, Pepino,
Manjerona, Picão branco,
Maracujá, Picão preto,
Maria pretinha, Pimentões,
Mastruço, Melissa, Pinheiro,
Mil em rama, Milho, Pitangueira,
Moranguinho Pulmonária
Q R S
Quaresmeira, Rabanete, Sabugueiro,
Quebra pedra Radicci, Salsa,
Roseira, Salvia,
Rúcula Sinamomo
T X Y
Tiririca, Xuxu Yacon
Tomate arbóreo,
Tomate cereja,
Tomilho
O LIVRO DO HORTO | 71
4.2. ESPIRITUALIZANDO O HORTO
17 Bioenergia: por acreditar na força energética individual de cada planta e sua ação no
corpo humano, concepção adotada no texto.
18 Espiritualidade: Esse espaço da espiral se tornou em centro de espiritualidade ecológica
cultivada. Acesso ao leste através do portal com a placa de “Vá ao centro”. Compreende um
túnel de luz coberto de cristais, imagens, estatuas,placas coloridas, plantas e flores. (signifi-
cado assumido no texto).
72 | O LIVRO DO HORTO
O portal de entrada, foto abaixo, aberto no sentido do sol nascente
apresenta uma placa indicativa do caminho a ser percorrido até o centro
da espiral, orientando o visitante no processo de vivência.
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O Horto iniciou com perspectiva de se tornar Farmácia Viva19.
Aos poucos foi se transfigurando em um laboratório de vivências
socioeducativas e tradicionais em saúde. Acessos individuais ou
em grupos, em busca de boa energia, conhecimento, integração,
desaceleração, troca de plantas, partilha, sossego foi dando o tom de
um espaço de Espiritualidade Ecológica20.
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CAPÍTULO 5
OS AMBIENTES DO HORTO
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5.1. ESPAÇO DA CRIAÇÃO: SALA 220 E À SOMBRA DA TIPUANA
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A Tipuana por mim
(autora) adotada no
50º da EEnf projeto
de extensão “50 anos
de memória verde”.
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Passado esse período, o espaço foi alterando sua configuração tanto
no que diz respeito à construção, como com relação à funcionalidade.
Ele foi se ajustando às necessidades de seus usuários que podiam ser
integrantes da equipe de saúde, os bolsistas, ou ainda, os guardiões e
seus familiares.
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A utilização do Horto como espaço de descanso, sempre foi, e
permanece sendo, prática comum para os servidores do PSF, mas além
desta função servia também como uma sala para reflexões. Os bancos
e a mesa de madeira foram improvisados a partir de reciclagens. Nas
imagens,a seguir, pode ser visto que ele vai tomando sentido de saúde
e bem estar, um espaço terapêutico.
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Por tratar-se de construções elaboradas pela comunidade, sem
contar com mão-de-obra especializada para tanto e, também por utilizar
sempre materiais oriundos de reciclagem, submetidos à exposição e
variações climáticas, o ato de construir e reconstruir foi uma constante
na vida do Horto. Estas fases são ilustradas nas fotos abaixo.
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Outra utilização enfatizada neste ambiente é como sala de aula
alternativa. Muitas oficinas, experimentos, observações e estudos foram
desenvolvidos no local envolvendo os Guardiões Mirins e acadêmicos
dos diversos cursos da Universidade, além dos Agentes de Saúde da
ESF.
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A “sala” também foi utilizada para a projeção de filmes. Na
atividade batizada como Cinema no Horto foram apresentados filmes,
como o “Mágico de Óz”, onde após a projeção, crianças vivenciaram o
que assitiram, percorrendo o caminho amarelo de Dóroti andando na
espiral do Horto.
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Além disso, a comunidade, em várias oportunidades, foi convidada
a participar de iniciativas no Horto e, em muitas delas, o ambiente serviu
de espaço de celebrações e integração.
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CAPÍTULO 6
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sensível cotidiano do viver a periferia no âmbito do ensino, pesquisa e
extensão, focado no Horto e sua abrangência.
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6.1. ENSINO - DISCIPLINAS NO HORTO
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Acadêmicas de enfermagem em estágio de prática disciplinar na
Atenção Básica, utilizam o Horto como sala de aula, compartilhando
práticas e saberes com crianças, estimulando a percepção da vida no
ambiente, formas, cores, aromas e sabores. Desenvolvendo a escuta
sobre os conhecimentos e práticas em família através de oficinas,
vivenciam técnicas de cultivo do solo, degustação de produtos do
Horto, produções de artefatos e parcerias com a comunidade e bolsistas
de extensão. E o acolhimento de visitantes, em busca de plantas, gera
produção de conhecimento e reflexão sobre a prática acadêmica em
construção. Na imagem a seguir se verifica a construção de soluções de
espaço à sombra do abacateiro.
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6.1.2 DISCIPLINA INTEGRADORA: ODO99037 - PRÁTICAS
INTEGRADAS EM SAÚDE (2013)
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Nas imagens há o registro da vivência dos alunos da Disciplina
Integradora, onde participam da vivência de “Ir ao centro”, no canteiro
espiral do Horto. O espaço vem sendo um importante ponto de
encontro, um local de escutas, falas, trocas e de muita aprendizagem
com os grupos em estágio de Enfermagem comunitária, Estágio
Curricular, Bolsista de Extensão, POP, Equipe de Saúde e comunidade.
Para os encontros de partilha e escutas a sala de aula torna-se pequena
e incapaz de proporcionar tantos aprendizados.
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Abaixo, cartaz de divulgação da disciplina.
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6.2. PESQUISA – POPULARIZAÇÃO DA CIÊNCIA
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o desenvolvimento de um projeto ecológico na escola de educação
infantil? A justificativa para essa questão reside no fato de a educação
ambiental ser um processo contínuo e importante na formação
individual e coletiva e, se observada desde cedo, os resultados podem
ser potencializados. A geografia, como disciplina que incorpora saberes
tanto da natureza quanto da sociedade, tem um papel integrador nessa
busca. O objetivo geral da pesquisa é observar como acontece a relação
das crianças com o natural em situações de contemplação, interação e
modificação. Assim, os objetivos específicos são: observar mudanças
de comportamento das crianças com o avanço das oficinas; identificar
as principais motivações para participar das atividades e investigar a
afetividade e a curiosidade infantil como propulsoras do conhecimento.
Pretende-se atingir os objetivos através de registros escritos e fotográficos
(individuais e coletivos), após cada oficina, tanto nasala de aula quanto ao
ar livre. Uma vez que a pesquisa está em desenvolvimento não há ainda
resultados consolidados, mas é possível antecipar que atividades como
“contação” de histórias e vivências práticas (como cultivo do horto)
são promissoras na aproximação positiva das crianças com o natural.
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prendizagem ao ar livre em uma área abandonada cedida pela direção
da escola Estadual Motta e Silva, realizaram-se oficinas que buscavam
integrar conhecimentos nos campos da ecologia em saúde. Através
de práticas de horta, cuidado e planejamento do espaço e atividades
lúdicas, focalizando ações que procuram exercitar o envolvimento
interpessoal, a responsabilidade com o ambiente e com os espaços
coletivos, o cuidado de si, o despertar da curiosidade e consciência das
relações ecológicas e humanas. Dessa forma deu-se continuidade das
atividades também, no Horto Ecológico Cruzeiro do Sul.
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com a ancestralidade e cultura locais. Por meio de atividades vivenciais
dentro e fora dos muros da escola, buscamos envolver e despertar a
consciência e o interesse das crianças pelo mundo natural, cultural e
social que as cercam. Acreditamos que estes espaços de trocas de saberes
e as experiências vividas proporcionaram aprendizados valiosos para a
compreensão do mundo e formação de valores ambientais e sociais de
todos os envolvidos no projeto. Cremos que uma verdadeira apreensão
de valores ecológicos requer consciência do valor social e cultural da
própria comunidade, bem como de suas formas de interação com o
ambiente. Por essa perspectiva etnobiológica, intencionamos criar redes
comunitárias, propiciando integração entre diferentes escolas do bairro,
e destas com a sede da APA – Delta do Jacuí (SEMA), Associação dos
Amigos, Artesãos e Pescadores da Ilha da Pintada (AAAPIP) e Colônia de
Pescadores Z5. Nossos resultados são as sementes plantadas nas mentes
e corações das crianças, senhores e senhoras da Ilha que permitiram
envolver-se nas atividades por nós propostas. O trabalho realizado pelo
Projeto Alfabetização Ecológica em Saúde: Pela Cura da Terra germinou
e levou à ilha o grupo de Museologia da UFRGS que trabalha com museu
popular, ou seja, com as memórias da comunidade, exatamente uma
das linhas de trabalho desenvolvidas pelo projeto na Ilha. Aprendemos,
pois, que para transmitir valores ambientais às pessoas é necessário
trabalhar a relação destas e seu ambiente, respeitando suas tradições
e cultura.
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iniciado por Débora e Ricardo no período anterior - dando continuidade
valorização da memória, sempre presente nos objetivos do Projeto. No
primeiro livro que construímos, transcrevemos a história de Seu Alfredo,
o pescador mais antigo do Delta, e sua esposa Sueli. Seguimos, com as
crianças, confeccionando livros das histórias contadas pelos anciãos.
Ilustrado pelas crianças e por nós, o livro da Vó CACO, benzedeira
consagrada da Ilha, materializou uma história de milagres, rezas, cura,
amor, desafios em meio às águas do Delta. Através dos ensinamentos
de F. Capra, compreendemos que a vida se baseiaem entender três
fenômenos: o padrão básico de organização da vida é o da rede ou
teia; a matéria percorre ciclicamente a teia da vida; e todos os ciclos
ecológicos são sustentados pelo fluxo constante de energia proveniente
do sol. Trilhamos nosso caminho tentando transmitir estas ideias com
nossos recursos ecológicos, sociais, afetivos para tecer estas teias com
nossas próprias mãos. Assim, realizamos a Oficina dos Filtros dos Sonhos
da Ilha da Pintada. Depois de um processo de planejamento, coleta de
material orgânico na Ilha, convite para comunidade, realizamos o tear
refletindo a história dos índios que criaram este artefato de proteção,
as memórias da noite de sono de cada um, a história da Ilha e de seus
moradores, e as memórias do Projeto Alfabetização Ecológica. Seguindo
nos ensinamentos de Capra, celebramos o astro Rei - Sol. A Vila Cruzeiro,
onde iniciou a primeira edição deste Projeto com a bolsista Carmen, foi
o berço deste caminho há 4 anos; pensamos que seria um bom fim de
ciclo voltarmos para Vila, valorizarmos nossas origens, entendermos
que se estamos aqui, é porque alguém iniciou o processo e cedeu seu
lugar para nós. A Oficina do Dia do Sol no Horto da Cruzeiro foi o nó
que uniu o fim de um ciclo com o início de outro. Os novos bolsistas
chegam e vivenciam estas redes já tecidas – tecendo novas. A última
contribuição de registro que realizamos foi a construção do grande Livro
do Ilhas de Conhecimento, este engloba todos os trabalhos escritos que
fizemos durante os anos de Alfabetização Ecológica. A Alfabetização
Ecológica em Saúde, Pela Cura da Terra – transpondo 2012 foi mais
uma edição de um Projeto que se faz pelo método da convivência, da
popularização da ciência através do contato com a comunidade e sua
cultura; o aprendizado é horizontal e transdisciplinar.
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6.2.5. ALFABETIZAÇÃO ECOLÓGICA31
BOLSISTA: CÂNDICE BOLZAN – ACADÊMICA DE EDUCAÇÃO
FÍSICA
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tradicionais e confeccionamos brinquedos e jogos a partir de tais
experiências. Nossa intenção é provocar o reconhecimento sensível e
científico da riqueza do ambiente e da cultura local, e, por conseguinte,
o resgate da valorização pessoal, tornando os ilhéus e os parceiros da
Vila Cruzeiro guardiões do seu ambiente, de sua ancestralidade, e de si
mesmos.
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mediante o perfil da bolsista selecionada. No meio do processo de
desenvolvimento houve o abandono e a necessidade de substituição
da bolsista. Após resolver a questão, a nova bolsista foi orientada a se
dedicar à compreensão do processo das sete edições consecutivas e
na análise da caminhada feita, buscando documentos e registros de
trabalhos, resultado de um artigo. Este então faz a reflexão de como a
pesquisa se encontra com a extensão e o ensino, na prática.
33 AMOVICS/SASE - Associação dos moradores da Vila Cruzeiro Do Sul/ Serviço de Apoio
Social ao Estudante
34 SEURS: Seminário de Extensão Universitária da Região Sul, iniciativa realizada anual-
mente, que apresenta trabalhos de Extensão Universitária e reúne Universidades Públicas
dos Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
35 Transculturais: espaço livre de cultura e cultivos, onde pessoas de diferenças etnias
compartilhavam suas plantas e forma de organização no espaço.
PRODUÇÕES DO HORTO
7.1. FILMES
Cultivando Vidas
7.2 ARTIGOS
40 Artigo apresentado no Encontro Geógrafos da América Latina em 2009 (Uruguai). Artigo
na íntegra: http://hum.unne.edu.ar/revistas/geoweb/Geo11/contenidos/noti0.htm
7.4 JORNAIS
51 SEMA: Secretaria Estadual do Meio Ambiente – Governo do Estado do Rio Grande do
Sul
Capa do
livro Ilhas.
O que é ponte hoje, já foi trapiche, já foi balsa. Hoje, pela ponte
da Mauá, passam pedestres, bicicletas e carros. Tem linha de ônibus,
que começa e termina por lá. Nas imediações vemos sinais do Estaleiro
Mabilde. Nessas ilhas ainda existem muitas histórias boiando às margens
desse desenho de progresso. Algumas delas escutamos ajoelhados ao
lado de anciãos em pequenos lares quase silenciados, mas cheios de vida.
É revigorante compartilhar falas e escutas nesses lugares. É um privilégio
fazer parte de uma Universidade que permite, estimula e valoriza a vida
acadêmica na periferia. Certamente laboratório vivo para humanizar-se,
fortalecer-se e ser feliz. Esta prática nos possibilita uma constante de
vivências numa dinâmica orgânica com o lugar. Oxigenando o sentido
de Universidade onde se vive a Extensão Comunitária, o Ensino e a
Pesquisa, sob a luz do arco-íris que conecta as ações na Ilha e na Vila
Cruzeiro.
RETRATOS DE VIVÊNCIAS
DEPOIMENTOS
Horto fez parte da metade da minha vida. Foi a melhor coisa que
aconteceu comigo,era tão pequena mas foi tão rápido . Não tinha nada
para fazer e o horto ocupou meu tempo, era sensacional porque eu
estudava e de tarde não tinha nada para fazer ,contava os minutos
,os segundos para vir para o horto... Era tão pequeno de repente foi
crescendo e virou o que virou!!! A tia Gema deve estar orgulhosa tudo
isso que ela construiu com as próprias mãos. Pelos menos eu estou feliz
que um dia vou falar para os meus filhos que existia o horto que fez
parte da minha vida. Já trouxe várias vezes muitas pessoas para vir mais
nunca levaram a sério, mas eu levei e sempre levarei para o resto da
minha vida... Tinha seis anos e plantei um pé de mamão,hoje é grande
e está dando fruto.
Eu me lembro que papai (Sr. Lorí ) acordava cedo para ir pro Horto.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
E consideramos: