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1 HART, Chris. Doing a Literature Review: Releasing the Social Science Research Imagination (SAGE Study Skills
Series). London-UK: SAGE Publications; Open University, 1999, p. 1-25. Tradução livre: Silvio Tamaso D'Onofrio.
engenharia ambiental teoria social e política comunicação
rádio e TV jornalismo estudos de gênero
geografia humana antropologia social literatura
políticas públicas estudos culturais história econômica e social
pesquisa social engenharia civil
O principal objetivo deste livro, portanto, é prover aos pesquisadores um conjunto de regras
básicas e técnicas aplicáveis no desenvolvimento da grande série de disciplinas que constituem as
ciências sociais. As propostas destacadas no livro formam uma base para a compreensão e a
fertilização de ideias entre disciplinas. As variadas técnicas apresentadas são ferramentas para uma
sistemática e rigorosa análise da bibliografia de seu interesse. Serão apresentadas também sugestões
para a escrita das ideias de forma a imprimir maior clareza, coerência e inteligibilidade ao trabalho.
[…]
O esquema a seguir apresenta uma visão geral das principais fontes de conhecimento e as
ferramentas pelas quais a maioria delas é organizada para fins de pesquisa:
PESQUISA
- é conduzida por associações, comércio, instituições, associações de classe, de
caridade, individuais, governamentais, sindicatos etc.
INFORMAÇÃO
- é gerada por avaliações críticas, trabalho interpretativo, pesquisa;
- é comunicada por antologias, anotações de conferências, jornais, leituras, encontros,
cartas, relatórios, seminários, livros, teses;
- é organizada em resumos, bibliografias, catálogos, dicionários, diretórios,
enciclopédias, índices;
- é acessada através de impressos e mídia eletrônica.
A aprendizagem da pesquisa
Não é fácil demonstrar os tipos de habilidades e capacidades esperados de um pesquisador
competente no relatório da pesquisa. As habilidades requeridas são consideráveis e, de forma
crescente, sujeitas à análise detalhada. Como as oportunidades para o desenvolvimento de pesquisa
têm se expandido, o mesmo tem ocorrido com a demanda por uma melhor educação e capacitação
dos pesquisadores. Em sua resposta a essas demandas, o Conselho de Pesquisa Econômica e Social
(ESRC), no Reino Unido, produziu uma série de orientações que inclui um número de propostas
básicas para o treinamento em pesquisa que visam promover a qualidade da pesquisa. A lista a
seguir indica os dois tipos básicos de habilidades requeridas dos pesquisadores:
Habilidades principais/capacidades:
- ainda que distintas entre si, as disciplinas das ciências sociais dispõem de um núcleo
de habilidades e atitudes do qual pesquisadores devem possuir e serem capazes de
aplicar em diferentes situações, com diferentes tópicos e problemas.
Escrevendo e apresentando:
Por exemplo: planejamento da escrita; habilidades para preparação e submissão de artigos para
publicação, conferências e jornais; uso de referências, práticas de citação e conhecimento de
direitos de cópia (copyright); construção e defesa de argumentos; expressão lógica, clara e
coerente; e compreensão da distinção entre conclusões e recomendações.
Filosofia das ciências sociais Compreensão das principais posições filosóficas para
a construção de uma teoria, avaliação e teste, para
objetivos explanatórios de teorias e o uso de modelos.
Compreensão de como as várias posições afetam o
desenho da pesquisa, opções de pesquisa, coleta de
dados e técnicas de análise. Compreensão do contexto
teórico da pesquisa; questões teóricas e debates para
aqueles engajados no trabalho empírico; e avaliação
da pesquisa.
Estudo
A maioria das pessoas é capaz de executar alguma tarefa de pesquisa mas essa capacidade
deve ser adquirida – por exemplo, você não pode simplesmente elaborar um questionário como se
estivesse fazendo uma lista de compras. Um conhecimento, ainda que especulativo, do processo de
pesquisa é necessário e você terá que compreender onde a busca de dados se localiza em meio ao
processo que você está envolvido. Isso significa compreender como estabelecer objetivos e
intenções de sua pesquisa, definir seus principais conceitos e propostas metodológicas,
operacionalizar (colocar em prática) esses conceitos e propostas escolhendo uma técnica apropriada
para coletar dados, saber como confrontar os dados e assim por diante. Pesquisa competente,
portanto, exige conhecimento técnico. Há, entretanto, uma diferença entre produzir uma pesquisa
competente e uma pesquisa que demonstra cultura.
Estudo é frequentemente pensado como algo que apenas os estudiosos fazem. Estamos todos
familiarizados com aquela imagem popular que mostra o estudioso como sendo alguém de cabelo
desarrumado, roupa amassada e um grosso e velho livro com capa de couro nas mãos. Muitas são
também as representações de locais de estudo, colégios e faculdades que aparecem nos programas
da TV e novelas, sempre exibindo bibliotecas emadeiradas, cheirando a poeira e couro. Muitas
universidades ainda possuem esse tipo de biblioteca, outras estão se transformando em centros de
pesquisa baseada em tecnologia, ao invés de manterem salas cheias de livros em suas prateleiras.
Estudo é uma atividade: é algo que qualquer pessoa pode fazer. Você não tem que pertencer a uma
classe social determinada, gênero ou origem étnica, nem mesmo precisa possuir um histórico
escolar impecável. Dizemos que atividade educativa compreende tudo isso e mais. Atividade de
estudo é sobre como: fazer pesquisa competente; ler, interpretar e analisar argumentos; sintetizar
ideias e fazer conexões entre disciplinas; escrever e apresentar ideias clara e sistematicamente; e
usar a sua imaginação. Subjacente a tudo isso há um número de regras fundamentais, as quais
iremos investigar mais detidamente logo a seguir. E o que elas representam é uma atitude mental de
abertura a novas ideias e a tipos e estilos diferentes de se fazer pesquisa, e é livre de preconceitos
sobre o que conta como pesquisa útil e sobre que tipo de pessoa deveria ser pesquisadora.
Um elemento chave que produz bons estudos é integração. Integração é fazer conexão entre
ideias, teorias e experiências. É sobre aplicar um método ou metodologia de uma área em outra:
sobre colocar algum episódio em um quadro teórico mais amplo, de forma a promover novas
formas de observar aquele fenômeno. Isso poderia significar desenhar elementos de teorias diversas
para formar uma nova síntese ou para prover novos conhecimentos. Poderia também significar o
reexame de um corpo teórico preexistente sob a luz de um novo desenvolvimento. A atividade de
estudo, portanto, é sobre pensar sistematicamente, algo que pode forjar novas tipologias na estrutura
do conhecimento ou em perspectivas consagradas. Da mesma forma, o estudo favorece,
potencializa a interpretação e a compreensão. A intenção é fazer os outros pensarem e
possivelmente reavaliarem o que eles têm até agora tomado como conhecimento inquestionável.
Portanto o questionamento sistemático e a atitude investigativa são características da atividade de
estudo.
Em nível de mestrado, isso poderia significar a busca pela aplicação de metodologias de
uma forma inédita. No nível de um doutorado, isso poderia significar a tentativa de refiguração ou
reespecificação da maneira pela qual alguma questão ou problema tradicionalmente foi definido. O
antropólogo Clifford Geertz (1980: 165-6) sugere que a refiguração é mais do que meramente uma
adulteração dos detalhes de como compreendemos o mundo ao nosso redor. Ele diz que refiguração
não é o redesenho do mapa cultural ou a alteração de limites em disputa, mas que se trata de alterar
os princípios básicos pelos quais mapeamos o mundo social. Da história da ciência, por exemplo,
Nicolau Copérnico (1473-1543) reexaminou teorias sobre o cosmos e o lugar da Terra dentro dele.
As teorias tradicionais asseguravam que a Terra era imóvel e ficava no centro do universo: o sol, as
outras estrelas e planetas eram considerados orbitando ao redor da Terra. Copérnico perguntou-se se
haveria outra maneira de interpretar essa crença. E se, perguntou ele, o sol fosse imóvel e a Terra,
planetas e estrelas o orbitassem? Em 1541 ele registrou suas ideias e assim iniciou-se uma
reconfiguração de como o cosmos é mapeado. Podemos ver um exemplo clássico de refiguração no
trabalho de Harold Garfinkel. Garfinkel reespecificou o fenômeno das ciências sociais,
especialmente a Sociologia (ver Button, 1991). Ele empreendeu um minucioso exame da teoria
social tradicional e descobriu que a ciência social ignorou o que pessoas reais fazem em situações
reais; o resultado foi que ele originou a técnica da etnometodologia. Tão radical foi sua
reespecificação que as ciências sociais tradicionais marginalizaram o trabalho de Garfinkel e outros
que empreenderam estudos etnometodológicos da vida social.
Seção Objetivo
Pela Tabela 3 verifica-se que a revisão da bibliografia relativa à pesquisa é uma parte
essencial do trabalho – é mais do que é mais do que uma etapa a ser empreendida ou um obstáculo a
ser ultrapassado. A Figura 1 (na próxima página) ilustra algumas das questões que você estará apto
a responder por ter empreendido uma revisão bibliográfica de seu tópico de pesquisa.
A revisão bibliográfica é essencial para o sucesso da pesquisa acadêmica. O maior benefício
dessa revisão é que ela assegura o “encaminhamento” da pesquisa, ou seja, você inicialmente elenca
o que já foi pesquisado a respeito do seu tópico de pesquisa para depois, final e propriamente,
desenvolver o tópico com suas descobertas e estudos. Pesquisadores iniciantes frequentemente
equiparam a dimensão de suas pesquisas com seu valor. Entusiasmo prematuro, combinado com
esse equívoco comum, frequentemente resultam em amplas, generalistas e ambiciosas propostas. É
o progressivo estreitamento do tópico, obtido através da revisão bibliográfica, que faz da maioria
das pesquisas uma consideração prática.
Estreitar, focar, definir melhor um tópico de pesquisa pode ser difícil e pode mesmo levar
semanas ou meses, mas isso normalmente significa que a pesquisa será positivamente concluída.
Isso também contribui com a sua capacidade intelectual e suas habilidades práticas, porque
engendra uma atitude de pesquisa e irá encorajá-lo a pensar de forma rigorosa sobre o seu tópico e
que tipo de pesquisa você pode fazer dentro do período de tempo que você tem disponível para isso.
Tempo e esforço cuidadosamente aplicados nesse início de pesquisa podem efetivamente
representar a economia de uma grande quantidade de esforço e tempo no futuro.
CONCLUSÃO
Não existe revisão bibliográfica perfeita. Todas as revisões, independente de tópico, são
escritas a partir de uma perspectiva particular, ou seja, do ponto de vista do revisor. Essa perspectiva
normalmente é originada a partir de uma escola de pensamento ou do ponto de vista ideológico-
vocacional onde o revisor está localizado. Como consequência, a particularidade do revisor implica
o leitor particular. Revisores normalmente escrevem para um tipo especial de leitor: o leitor que ele
poderia querer influenciar. São fatos como esses que fazem de toda revisão algo parcial, de uma
forma ou de outra. Mas isso não é razão nem desculpa para uma revisão pobre, porque elas podem
efetivamente ser interessantes, desafiadoras ou provocativas. Parcialidade em termos de
julgamentos, opiniões, morais ou ideologias podem frequentemente ser detectados como invasores
de uma revisão ou mesmo serem tomados como ponto de vista inicial. Lendo uma revisão feita por
outra pessoa ou empreendendo uma revisão, você deverá ter consciência de seus próprios juízos de
valor e procurará evitar a ausência de respeito acadêmico pelas ideias dos outros.
Produzir uma boa revisão não é algo necessariamente difícil, e é certamente muito mais
recompensador do que simplesmente passar rapidamente sobre alguns conceitos, com pouco esforço
intelectual. Um grande grau de satisfação pode ser obtido se você trabalhar numa revisão
bibliográfica por um período. Uma grande medida dessa satisfação é obtida pela consciência de que
você desenvolve habilidades e técnicas intelectuais que você não possuía antes do início da
pesquisa.