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A Ética Argumentativa Hoppeana

Vinícius Scheffel

A origem dos conflitos


Todo e qualquer conflito tem origem no fato de que vivemos em um mundo de
escassez.
• O nosso corpo é um recurso escasso. É um recurso porque, segundo o axioma da ação
humana, ele é o meio do qual o indivíduo recorre para atingir um fim, que é realizar a
ação. E é escasso porque, segundo o axioma da ação humana, eu não poderia atingir
dois fins ao mesmo tempo utilizando o mesmo meio, isto é, cada ação propositada tem
exatamente um fim: tornar o estado de mundo atual em um estado de mundo mais
satisfatório para o indivíduo; e um meio: o corpo. Eu não poderia, por exemplo, levantar
e abaixar o meu braço esquerdo ao mesmo tempo, existe um limite físico: mesmo que a
intenção da minha ação seja alcançar esse fim, eu seria frustrado por não conseguir
realizá-lo.
• Todas as outras coisas materiais também são escassas, isto é, finitas, limitadas de
alguma forma. Se algo material não fosse escasso, então o universo teria que ser
infinito e esse recurso teria que ocupar todo o espaço-tempo desse universo infinito.
Então, para a Ética Libertária, não importa o que é suficiente ou insuficiente, o que
importa é o que é escasso e o que não é escasso. O ar no planeta pode ser suficiente,
pode ser abundante, mas ainda assim, ele é escasso. Ideias não são escassas, por
exemplo: se eu te contar uma ideia, eu não perderei ela, ela permanece comigo.
• Disso, podemos concluir que todo e qualquer conflito se dá quando:
• Um indivíduo resolve utilizar o corpo do outro para o seu próprio fim. Por
exemplo: o indivíduo A agride o indivíduo B. Isso significa que o indivíduo A está
utilizando o recurso escasso do indivíduo B, seu corpo, para atingir os seus
próprios fins. Isso gera um conflito porque o indivíduo B já está utilizando esse
recurso escasso, seu próprio corpo.
• Dois indivíduos resolvem utilizar o mesmo recurso escasso ao mesmo tempo.
Por exemplo: o indivíduo A colhe uma maçã para comer, e o indivíduo B pega a
maçã do indivíduo A, também para comer. Como a maça é escassa, surgiu um
conflito nesse processo: ambos querem utilizar a mesma maça para seus fins.
• Se todos os conflitos emanam do fato de dois indivíduos utilizarem um mesmo recurso
escasso ao mesmo tempo, então a Ética que devemos seguir para dizer o que é o certo
e o que é o errado deve implicar uma norma de propriedade, um direito de controle
exclusivo sobre os recursos escassos, isto é, quem possui direito de controle exclusivo
sobre o recurso X.

Características da Ética
A Ética, se for seguida por todos os indivíduos, não pode gerar um conflito. Isto é, não
podem existir contradições internas quando a ética é aplicada indefinidamente. Se a Ética gerar
um conflito interno, ela não será considerada Ética, por definição.
A Ética é normativa, isto é, ela diz o que deve ser feito, e, no caso da Ética
Argumentativa, mais especificamente, o que não deve ser feito. Isso implica no fato de que a
Ética pode ser violada, indivíduos podem escolher não seguir a Ética. Se ela fosse descritiva,
seria como a Lei da Gravidade: impossível de ser quebrada. Ninguém consegue sair por aí
voando se escolher fazer isso, mas uma pessoa que escolhe agredir a outra pode conseguir
atingir o seu fim.

A argumentação
• A argumentação é necessariamente uma ação humana, e, portanto, pressupõe a
utilização do nosso corpo, recurso escasso, como meio.
• A argumentação possui um telos: a busca pela verdade, pelo conhecimento. Como tal,
os indivíduos que argumentam buscam o concílio, isto é, cada um pode discordar do
que o outro propõem, mas pelo menos irão concordar que discordam.
• Sem o reconhecimento do direito de uso exclusivo sobre o próprio corpo, ninguém
poderia propor coisa alguma, e ninguém poderia ser convencido de nada.
• Um indivíduo que quer buscar a verdade, argumentando com outro indivíduo, tem que
reconhecer o controle exclusivo sobre o corpo do outro indivíduo, assim como
reconhece o seu próprio, caso contrário, a argumentação não pode ser realizada.
• Desses fatos, podemos concluir que a argumentação possui uma condição formal a
priori que é o reconhecimento, dos indivíduos argumentadores, do direito de controle
exclusivo sobre os próprios corpos.
• Disso, temos que a argumentação possui uma fundação normativa, e essa fundação
normativa é o reconhecimento do direito de autopropriedade.
• Portanto, está implícito no processo argumentativo o reconhecimento do direito de
autopropriedade, uma condição formal a priori da argumentação, e que, portanto, é
transcendental: sem esse reconhecimento, a argumentação não se dá.

A Ética Argumentativa
Sabemos que precisamos justificar uma Ética que diga o que é propriedade de quem
para que os indivíduos que sigam a ética nunca entrem em conflito. Agora, vou apresentar o
esquema descritivo (factual) que demonstra porque a Ética Argumentativa é a única que pode
ser justificada.
• Perguntas do que é justo e injusto só ocorrem quando eu sou, e os outros são, capazes
de realizar trocas proposicionais, isto é, argumentação. (juízo de fato verdadeiro e a
priori )
• Para justificar alguma proposição, é necessária a argumentação. Disso, podemos
concluir que toda e qualquer tentativa de justificar uma Ética é, necessariamente,
através da argumentação. (juízo de fato verdadeiro e a priori )
• Na argumentação está implícito, como condição formal a priori, o reconhecimento do
direito de autopropriedade. (juízo de fato verdadeiro e a priori )
• Se uma pessoa argumentasse contra o direito de autopropriedade, ela cairia em
contradição performativa, visto que no ato de argumentar ela já reconheceu esse direito.
(juízo de fato verdadeiro e a priori )
• Logo, a única Ética que pode ser justificada é a Ética Libertária, da propriedade privada,
aqui nomeada Ética Argumentativa. As outras Éticas poderiam ser propostas, mas
cairiam em contradição performativa. (juízo de fato verdadeiro e a priori )
• Temos, então, que a Ética Argumentativa é a pressuposição praxeológica da
argumentação. (juízo de fato verdadeiro e a priori )
• Qualquer tentativa de propor outra ética que não a libertária poderia ser feita. No
entanto, o conteúdo das proposições iria contradizer a ética que o indivíduo demonstrou
preferência pela própria ação de iniciar uma argumentação. (juízo de fato verdadeiro e a
priori )

Podemos concluir, então, que a demonstração do porque a Ética Libertária é a única


que pode ser justificada é composta apenas por termos descritivos verdadeiros e a priori, e
que, portanto, pode ser derivada a partir da lógica. Além disso, percebemos que a Ética
Libertária é a norma de autopropriedade e todos os seus corolários. Toda e qualquer outra
norma deve ser derivada e respeitar essa norma primeira, visto que, caso contrário, o indivíduo
que tentasse justificar a norma proposta cairia em contradição performativa. Percebemos
também que não derivamos nenhuma norma de algum fato, nenhum dever ser de um ser, logo,
a Ética Argumentativa não cai na Guilhotina de Hume.

A Justificativa para a Apropriação Originária


O direito de Apropriação Originária é o direito de cada indivíduo de apropriar recursos
escassos que não foram apropriados ainda, isto é, estão em estado de natureza. O processo
da apropriação é misturar o seu trabalho, estender a sua personalidade aos recursos escassos
em natura, isto é, sem que ninguém tenha feito isso antes, e delimitar esse recurso apropriado
de forma que outros indivíduos tenham como perceber que esse recurso já foi apropriado.
Seguindo isso, o produto desse processo será de sua propriedade privada. A apropriação
requer um indivíduo e um recurso escasso, necessariamente, e ela estabelece um link objetivo
indivíduo-recurso.
Esse direito pode ser derivado do direito à autopropriedade por absurdo. Se o direito
fosse do segundo usuário, terceiro, quarto, qualquer outro que não o primeiro, então ele
entraria em conflito com o direito à autopropriedade. Um indivíduo poderia apropriar o corpo de
outro indivíduo, já que o indivíduo desse corpo é o primeiro a utilizar esse recurso escasso, e
isso logicamente violaria o direito de autopropriedade.

Conclusão
Concluo que a Ética Libertária é a Ética da Propriedade Privada, ou Ética
Argumentativa, e que ela é irrefutavelmente demonstrável logicamente. O seu sistema
normativo é a norma de autopropriedade e todas as normas que podem ser derivadas dessa,
por exemplo, a Apropriação Originária. Se todos os indivíduos seguirem essa ética, sabemos
que nunca acontecerá um conflito, e que toda e qualquer iniciativa é livre, privada e voluntária.
Uma consequência disso seria uma sociedade anarcocapitalista. Essa sociedade seria o ápice
do que temos de melhor: a nossa racionalidade, e a sua manifestação aplicada à sociedade de
forma soberana.

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