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MARCELO MIRANDA DE CARVALHO

Governador do Estado do Tocantins

MARIA AUXILIADORA SEABRA REZENDE


Secretária Estadual da Educação e Cultura

ANTÔNIO BONIFÁCIO DE ALMEIDA


Subsecretário

ISOLDA BARBOSA DE ARAÚJO PACINI MARTINS


Diretora de Gabinete

JUCYLENE MARIA DOS SANTOS CASTRO BORBA DIAS


Superintendente da Educação

AGUIFANEIDE LIRA DANTAS GONDIM


Diretora de Educação na Diversidade

ZULMIRA GONZAGA CARDOSO


Coordenadora da Educação de Jovens e Adultos

FRANCISCO GILSON REBOUÇAS PÔRTO JUNIOR


Coordenador da Formação do Projeto Ressocialização Educativa
no Sistema Prisional do Estado do Tocantins

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Módulo IV
Humanização e
Direitos Humanos no
Sistema Prisional

Antônio Ianowich Filho


Rodrigo Barbosa e Silva
Gilson Pôrto Jr.

Palmas - Tocantins/2007

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Autores/ Elaboração e Organização dos Conteúdos/ Revisão Literária

Antônio Ianowich Filho


Graduado em Direito. Especialista em Direito Penal. Professor da Fundação Universidade
do Tocantins (UNITINS). Atua na área do Direito Penal no Estado do Tocantins.

Rodrigo Barbosa e Silva


Graduado em Pedagogia (UNESP/Marília) e Mestre em Educação: Currículo (PUC/SP). É
professor na Fundação Universidade do Tocantins (UNITINS) e pesquisador nos Grupos
de Pesquisa Lattes/CNPq Educação, Cultura e Transversalidade (UNITINS) e Ambientes
Virtuais de Aprendizagem – AVA envolvendo a ação pedagógica para formação de
professores (UNITINS).

Francisco Gilson Rebouças Pôrto Junior.


Graduado em Pedagogia: Orientação Educacional, Especialista em Ensino de Filosofia e
Mestre em Educação: Estado, Políticas Públicas e Gestão da Educação (FE-UnB).
Coordena o Grupo de Pesquisa Lattes/CNPq Educação, Cultura e Transversalidade
(UNITINS) e é pesquisador na linha de pesquisa “Educação de Presos Adultos”, do Grupo
de Pesquisa Lattes/CNPq Educação e Cultura (PPGE-UnB). Atualmente coordena duas
pesquisas nesse grupo sobre a temática: Educação de Presos – perfil e análise da ação
educativa e Mapeamento das condições laborais para egressos do sistema prisional na
cidade de Palmas (TO). E-mail: francisco.gr@unitins.br .

Ficha Catalográfica

Humanização e Direitos Humanos no Sistema Prisional./ Módulo IV - Elaboração:


Antonio Ianowich Filho, Rodrigo Barbosa e Silva e Gilson Pôrto Jr. – Palmas, TO:
Secretaria de Educação do Estado do Tocantins / Gerência de Educação de Jovens
e Adultos, 2006.

100 p.: s/il.

1. Humanização 2. Direitos Humanos 3. Formação Continuada 4. Sistema Prisional


I. Antonio Ianowich Filho II. Rodrigo Barbosa e Silva III. Gilson Pôrto Jr

CDU:374(81)

Os conceitos e opiniões emitidos são de exclusiva responsabilidade dos autores.

SECRETARIA DE EDUCAÇÃO E CULTURA DO TOCANTINS


Praça dos Girassóis S/N, Esplanada das Secretarias
Palmas, Tocantins

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Apresentação

Prezado(a) cursista,

Chagamos ao nosso último módulo. Discutimos e pensamos muito. Mais ainda


temos muito o que avançar no Estado do Tocantins. Lembra-se de nossa jornada?
No primeiro módulo discutiu-se em torno das Metodologias em educação de
adultos e, de lá para cá, muito já deve ter sido agregado por você – professor, professora e
agente prisional – em sua prática educativa com adultos sob custódia.
No segundo módulo intitulado Ensino Diferenciado: didática e práticas
pedagógicas em educação de adultos é fruto da sistematização e do trabalho pedagógico
que se tenta estampar para as escolas do Sistema Prisional no Estado do Tocantins.
No terceiro módulo, intitulado Ética Profissional e Valores na Educação Prisional,
discutiu-se a tentativa de instauração da ação ética do sujeito dentro do espaço prisional e
da escola.
Agora, no quarto e último módulo, intitulado Humanização e Direitos Humanos no
Sistema Prisional, tencionamos discutir com você cursista – professor e agente prisional –
os elementos envolvidos na ação docente junto às escolas do sistema prisional, numa
compreensão maior do ser humano e dos direitos humanos.
Lembramos a você cursista algo importante, que foi incentivado em nosso
segundo módulo:
Mas é necessário mais... muito mais! Queremos que você possa
contribuir para uma ressocialização real desses educandos. Isso não
será algo fácil, nem imaginamos que isso ocorrerá da noite para o dia.
Essa é uma construção diuturna de todos os envolvidos. Trata-se de
uma conquista! É nesse ‘tom’ de conquista que incentivamos você a
encarar esse material didático como um complemento a sua prática
pedagógica. Longe de ser uma ‘receita’, encaramos cada módulo
como partes ou ingredientes de uma prática pedagógica que vai se
consolidando a cada hora, a cada dia e mês... Não por ‘especialistas’
renomados, mas por especialistas que tem vivenciado o fazer com
adultos sob custódia, todos os dias.

Esperamos que você – professor, professora e agente prisional – participe de uma


emancipação a priori: a sua como indivíduo pensante, atuante e quiçá, transformador!

Palmas, Dezembro de 2006.

Gilson Pôrto Jr
Coordenador da Formação do Projeto Ressocialização Educativa
no Sistema Prisional do Estado do Tocantins

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Sumário
Unidade 1

Violência e prisão 07

Unidade 2

Prisão: última saída? 13

Unidade 3

As educações na prisão 19

Unidade 4

Conscientização na prisão 25

Unidade 5

A escola encarcerada 32

Unidade 6

O cárcere e a legislação brasileira 40

Unidade 7

Os presos e seus direitos 43

Unidade 8

A pena privativa de liberdade 47

Unidade 9

Os presos e seus deveres 51

Unidade 10

A organização da prisão 56

Unidade 11
A Lei de Execuções Penais 66

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Unidade 1
Violência e prisão

Objetivo
ƒ Apresentar diferentes concepções de violência e as conseqüências sociais
de cada uma delas.

Introdução

A prisão é a fase terminal de um ciclo que teve início, em muitos casos, nos
períodos da infância e adolescência, configurando-se assim um processo de construção de
uma identidade delinqüente, caracterizada pela divisão social, estabelecida pelo senso
comum, entre as pessoas de bem e os criminosos.

A questão da formação delinqüente de uma pessoa, antes de tudo, deve ser vista
através de dois importantes enfoques. O primeiro refere-se a uma construção histórica,
resultado das estruturas sociais desequilibradas e contraditórias que proporcionam o
nascimento da figura do bandido, do infrator. Além desta responsabilidade coletiva na
formação pessoal do indivíduo, há diversos aspectos da natureza humana que favorecem
a prática de ações destruidoras, impossibilitando as condições “normais” de vida.

Violência e criminalidade, em muitas ocasiões, são consideradas sinônimas. A


criminalidade, sem dúvida, está intrinsecamente relacionada à violência. Entretanto,
podemos perceber a violência num plano à frente dos limites da esfera criminal.

A violência se apresenta em nossa sociedade de diferentes modos e com


naturezas também diversas. Lucinda, Nascimento & Candau (2001, p.21) focalizam a
violência em três faces: “a violência reconhecida e efetivamente punida como crime; a que
se instalou em parte da estrutura do Estado e a que tece as mais amplas relações sociais
e domésticas”.

Quando se fala sobre estudos realizados na prisão, mesmo com uma considerável
abertura das instalações carcerárias à imprensa, às organizações de Direitos Humanos, à
sociedade civil com projetos voluntários etc, é comum a desconfiança por parte dos
funcionários àqueles que estão ali de passagem.

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O sistema penitenciário precisa de uma grande reforma. Porém, antes de construir
algo novo, com uma fundamentação diferente, se faz necessário reconhecer aquilo que é
dominante, denunciando e desconstruindo os mecanismos de opressão através de um
rompimento com as práticas cotidianas. Isto não significa, a princípio, partir de uma outra
realidade. É preciso, sim, partir de um outro ponto, de uma nova prática, objetivando a
conscientização da população carcerária.

Esta conscientização, construída através de uma mediação pedagógica, gerará um


compromisso ético em busca da transformação da realidade opressora existente na prisão.
Deve ser feito aquilo que é possível ser feito. As ações possíveis, na verdade, são
obrigatórias. Portanto, há uma infinidade de coisas que necessitam ganhar vida no
contexto prisional. Algumas das ações necessárias já estão previstas, inclusive, em
normas e leis que abordam esta temática. É com base nas possibilidades e
potencialidades do ser humano que as ações se tornarão válidas para a construção de
uma nova ordem na prisão.

Criminalidade

A violência que nos interessa aqui é aquela reconhecida em nossa sociedade


como crime. Neste aspecto, é preciso estar pronto para admitir que não há discurso nem
saber universal sobre esta temática.

No Brasil, as questões que abordam a violência criminal, na maioria das vezes,


são resolvidas, baseando-se no Código Penal, com a pena de privação da liberdade. Em
suma: contra a criminalidade, a solução é cadeia.

A população reivindica do governo que os ladrões, traficantes, estupradores,


assassinos, sejam presos. Porém, após a separação destas pessoas, a sociedade não
assume uma postura de discussão dos fatores que geram estes atos criminosos, além de
não haver uma preocupação referente aos locais onde estas pessoas permanecem presas
e de como se desenvolvem as ações realizadas com as mesmas no período em que ficam
sob a responsabilidade do Estado e, ainda, de que modo elas retornam ao convívio social,
após o cumprimento de suas respectivas penas.

Pobreza

É de bom senso observarmos a relação entre a prática criminal e as condições


sociais em que o criminoso vive. A pobreza é considerada um dos fortes fatores geradores
de atos criminosos:

Eu tenho a impressão que isso deveria estar muito claro em nossa cabeça:
é a pobreza que causa o crime, porque as pessoas não se conformam
com a injustiça. (...) Na medida em que essa população aumenta, e na

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medida em que a situação de miséria aumenta, a criminalidade aumenta
exponencialmente (SAMPAIO, 1985, p.122).

Apesar de reconhecermos que a pobreza é uma das causadoras do crime, há


outros motivos que não podem ser esquecidos. Os relatos obtidos nas entrevistas com os
presos mostraram diversas razões para o cometimento de um crime. As palavras do
criminólogo Fredic Wertham (In: JOANIDES, 1977, p.16), de certa maneira, resumem os
aspectos relatados pelos presos:

Os motivos pelos quais o homem mata não são tão diferentes para outras
coisas erradas que fazem. Baseiam-se em todas as espécies de emoções
negativas: avareza, ciúme, medo e lembrança persistente do medo;
distorção e frustração do desenvolvimento sexual, sede de vingança, raiva
e irritação mesquinhas, hostilidade, ambição desenfreada, fixações
sádicas, ressentimentos, humilhações não perdoadas, rivalidades quase
que em qualquer esfera.

Percebemos, então, que as razões do crime ultrapassam as barreiras da miséria,


das desigualdades sociais. Cotidianamente nos deparamos com notícias que mostram
pessoas ricas e/ou estudadas envolvidas em acontecimentos criminosos. Se não são fatos
caracterizados por atos onde foi utilizada a violência física, são ações que beiraram o
plano moral. A única diferença, entrando no aspecto punitivo-prisional, é que essas
pessoas raramente são condenadas à pena privativa de liberdade. É muito difícil
encontrarmos pessoas de classes mais privilegiadas na prisão.

A lagoa é grande, mas só dá peixes pequenos. Não temos leis (digo,


anzóis) para peixes grandes (RODRIGUES, 2002, p.262).

A corrupção nos meios jurídicos era profunda. Estávamos convictos de


que só estávamos presos porque não tínhamos capital (MENDES, 2001,
p.412).

A delinqüência do pobre o coloca fora da lei, fazendo com que ele sofra algum tipo
de punição. Com o rico, isso não acontece. O rico molda a justiça da lei conforme seus
interesses, por meio de dinheiro e prestígio social, garantindo sua impunidade e a
conseqüente conquista de continuar sendo um homem de bem.

Para confirmar a relação entre pobreza e prisão que estamos refletindo aqui, o
relato de Lima (2001, p.119) por si só, já diz tudo:

Existem bandidos em todas as camadas sociais, mas, na cadeia, estão


apenas os pobres. Quando o bandido é pobre ou ignorante, age de forma
precária, bruta, rápida, imediata, visível. Torna-se por isso um alvo fácil
para a Polícia, que logo se encarrega de interromper sua ação ou impor

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limites a ela. Quando o bandido é rico, tudo muda de figura. Sua ação
nunca é diretamente individual, nem facilmente reconhecível, e a vítima
não é uma pessoa que possa gritar por socorro na hora do crime. O
bandido rico não precisa usar de violência direta, e sua brutalidade não
aparece. Usa de corrupção e má-fé, manipula números, dinheiro, cheques,
ações, cargos e influências. A Polícia raramente é lançada contra ele e,
pela natureza de seus procedimentos, quando isso acontece é sempre
mais difícil reunir as provas para incriminá-lo.

O consentimento de que a pobreza produz violência é forte entre a população


carcerária. É muito comum ouvir relatos dos presos indicando a desigualdade social como
a grande vilã nas histórias pertencentes ao mundo do crime. Aliado a este aspecto,
também notamos a introspecção de valores típicos de uma sociedade capitalista
simbolizada na cultura da riqueza e do consumo.

Na prisão há inúmeras pessoas indignadas porque não têm condições de inserir


suas vidas nos padrões sustentados pela ideologia dominante. Esta necessidade de
reconhecimento social fez com que seguissem o caminho do crime, incorporando
características predominantemente marcadas pela elevação da existência individual e
concretizadas em bens materiais.

Esta cultura de consumismo presente em nossa sociedade faz com que as


pessoas realizem uma auto-afirmação de suas identidades através do maior número
possível de mercadorias. Sendo assim, um homem bem sucedido, feliz, realizado
pessoalmente, é aquele que é considerado proprietário de casas, carros, roupas de grife,
etc.

O desenvolvimento do individualismo, que é um dos responsáveis na propagação


da violência, torna-se perigoso a uma sociedade que se diz democrática, pois “há valores
mínimos que uma sociedade necessita compartilhar: os da cooperação, do
reconhecimento do outro e do direito à vida” (PERALVA, 2000, p.180). Sem esse mínimo,
a construção social democrática fica difícil, facilitando, inclusive, a opção por condutas
criminosas.

Exclusão social

As ações criminosas, mesmo que realizadas por um grupo de pessoas, são, na


verdade, ações de ordem individual. O infrator, ao cometer o seu crime, “não pretende
nenhuma transformação da sociedade. Ao contrário, busca identificar-se imaginariamente
com o seu inimigo, copiando-lhe os defeitos e deformidades” (PELLEGRINO, 1986, p.108).
O crime colabora para que continue essa desigualdade presente em nossa sociedade.
Assim, não há uma libertação da pessoa que comete um crime. Pelo contrário, ela, cada
vez mais, hospeda dentro de si os valores daqueles que persistem, por interesses
próprios, na manutenção do atual modelo social.

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Se a perspectiva for de garantir um convívio social, firmado no respeito a todo
cidadão, estabelecendo bases igualitárias e promovendo uma real liberdade fundamentada
num conjunto de leis comuns, a sociedade brasileira deve combater a propagação de todo
e qualquer tipo de violência. O problema da criminalidade, assim como todo problema
social de um povo, precisa de soluções profundas, construídas através de um projeto
político que exponha, questione e oriente o caminho à transformação necessária.

Transformação pensada e construída por aqueles que, de algum modo, são


excluídos socialmente. Além disso, a participação dos diferentes segmentos sociais em
programas políticos é fundamental para pôr um fim (ou, pelo menos, apaziguar) à violência
que se faz presente nos dias atuais. Os próprios responsáveis pela segurança pública
regularmente alertam para a necessidade de ações conjuntas, envolvendo autoridades de
outros setores como Educação, Cultura, Saúde e Trabalho.

No Brasil, o excluído sequer consegue expor seus pensamentos, sua maneira de


perceber a violência no mundo atual. Numa realidade onde já não tem acesso a inúmeros
bens materiais, ele também não tem o direito à fala, à manifestação. Será que não possui
consciência da realidade em que vive? Será que não poderia colaborar na transformação
desta sociedade?

A violência caminha também por estas questões. Assim como acontece nos
presídios, onde os funcionários, técnicos e diretores não criam oportunidades para que os
presos opinem no desenvolvimento dos programas de reabilitação, na rua, a grande
maioria da população marginalizada dificilmente encontra condições de construir projetos
que apontem possibilidades de uma nova ordem.

As decisões são tomadas de cima para baixo. São os próprios opressores


pensando em alternativas às vidas dos oprimidos. Desta maneira, torna-se impossível
pensar em uma vida social diferente. Maciel (2000, p.29), empregando o termo
“ressurreição”, no contexto do restabelecimento de uma vida com possibilidades concretas
de um modelo social pacífico, igualitário, prazeroso, afirma que esta grande transformação

(...) só se dará no seio da mobilização popular que parte da


conscientização e da vontade política em prol de projetos de mudança de
uma sociedade autoritária para uma sociedade democrática onde todos de
fato possam se tornar sujeitos de direitos.

Somos todos construtores de uma vida misturada. E, da mesma forma que


construímos, também somos construídos. Portanto, é preciso derrubar o pensamento de
que uma convivência entre os diferentes não é possível. Estas diferenças, além de
denunciarem a negatividade das situações opressivas, favorecem a conscientização dos
oprimidos, apontando caminhos para a libertação de cada um através da participação
efetiva em suas vidas.

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Exclusão escolar

No meio deste processo de discriminação e conseqüente exclusão, uma categoria


merece destaque: a exclusão escolar. Maciel (2000, p.12), seguindo o pensamento de
Freire (1991), assemelhando a evasão com a expulsão existente nas escolas, pois em
ambos os casos ocorrem uma eliminação das múltiplas culturas presentes ali, faz uso de
uma expressão forte: “homicídio doloso”. Para a autora, a escola pode ser considerada
uma assassina devido à violência implícita utilizada em seus procedimentos disciplinares,
amparada legalmente (regimentos, planos, estatutos...), culminando numa violenta
exclusão dos seus participantes.

O exemplo de exclusão escolar pode gerar ações futuras que consolidarão a


formação de um sujeito no mundo do crime. Expulsos, estes ex-alunos, agora organizados
fora do ambiente escolar, passarão a criar uma resistência às situações vivenciadas
diariamente e desafiarão as regras presentes, além de terem acesso mais fácil aos
códigos marginalizados que serão, a partir daquele instante, as normas oficiais de
convivência entre eles. Pronto. O próximo passo desta caminhada são os pequenos atos
infracionais, retribuindo à sociedade a violência que foi cometida contra cada um deles.

Atividade

Para finalizar essa primeira unidade, pedimos a você que sistematize a “trajetória” da
violência em nosso país. Afinal, em sua opinião, qual o principal motivo que leva um
número considerável de pessoas a entrar no mundo do crime? Redija um pequeno texto
(aproximadamente 10 linhas) a esse respeito e, em seguida, exponha suas idéias ao
restante da turma.

Referências

FREIRE, Paulo. Educação na cidade. São Paulo: Cortez, 1991.

JOANIDES, Hiroito de Moraes. Boca do lixo. São Paulo: Edições Populares, 1977.

LIMA, William da Silva. Quatrocentos contra um: uma história do comando vermelho. 2.ed. São
Paulo: Labortexto Editorial, 2001.

LUCINDA, Maria da Consolação, NASCIMENTO, Maria das Graças & CANDAU, Vera Maria. Escola
e violência. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.

MACIEL, Rosa Maria. SOS! Passageiros da agonia. A trajetória do “meu guri”: o papel da exclusão
escolar na gênese da violência. Dissertação de Mestrado em Educação. PUC/SP, 2000.

PELLEGRINO, Hélio. Psicanálise da criminalidade brasileira. In: PINHEIRO, Paulo Sérgio & BRAUN,
Eric. Democracia x violência. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986.

PERALVA, Angelina. Violência e democracia: o paradoxo brasileiro. São Paulo: Paz e Terra, 2000.

RODRIGUES, Humberto. Vidas do Carandiru: histórias reais. São Paulo: Geração Editorial, 2002.

SAMPAIO, Plínio de Arruda. Os aspectos sócio-econômicos do problema da criminalidade. In:


QUEIROZ, José J. (coord.). As prisões, os jovens e o povo. São Paulo: Paulinas, 1985. MENDES,
Luis Alberto. Memórias de um sobrevivente. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.

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Unidade 2
Prisão: última saída?

Objetivo
ƒ Contextualizar a presença da instituição prisional na sociedade brasileira.

Introdução

A prisão é conhecida popularmente como escola do crime. Ela é parte integrante


da formação delinqüente de uma pessoa. É o estágio final, o Ensino Superior. A primeira
aprendizagem realizada na rua é como se fosse a etapa da Educação Infantil. O Ensino
Fundamental cursa-se nos reformatórios juvenis e o Ensino Médio nas cadeias públicas,
nos distritos policiais.

Vale aqui o registro de um dos inúmeros casos narrados por Souza (1977, p.103)
no seu livro de histórias dos homens que viveram na Casa de Detenção de São Paulo,
Carandiru. História esta que confirma a aprendizagem existente por trás das grades.

Muitas vezes se fala que os presídios não passam de escolas de preparo


de delinqüentes. E, realmente, muitos dos que vêm parar aqui nada sabem
de crimes, de estelionato, de entorpecentes ou de pederastia. Mas na
escola que freqüentam tudo aprendem. E dela saem sabendo de tudo. (...)
Benedito era cobrador de uma indústria frigorífica. Um dia, atropelou um
pedestre, e acabou sendo condenado a três meses de detenção. Durante
esses três meses, ouviu as grandes aventuras contadas pelos
companheiros de cela. E de tanto ouvir, uma idéia foi se firmando: quando
saísse, iria assaltar a firma na qual já havia trabalhado (...).

Esta aprendizagem é que não deveria acontecer. A resistência dentro da prisão


deve ser contrária a esses valores. Suponhamos que uma determinada pessoa tenha
cometido uma infração ocasional e tenha sido condenada a alguns anos de reclusão numa
penitenciária qualquer. O simples ato infrator não significa que o sujeito possua uma

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formação delinqüente, pois esta está relacionada à sua vida de modo completo.
Entretanto,

(...) qualificar o ato do indivíduo transgressor na escala de toda uma vida,


tipificando-o cientificamente como delinqüente, é o que possibilita o
surgimento da criminologia, legitimando o poder de punir da ação
penitenciária, no intuito de transformar este indivíduo (PORTUGUES,
2001, p.88).

O sujeito preso, assim, nada mais é que um indivíduo preso. Sua vida, passada,
presente e até futura, fica restrita ao número do seu artigo criminal. Lima (2001, p.44)
escreve sobre esta questão:

Somos, simplesmente, assaltantes. Ou estelionatários. Ou homicidas.


Entre os direitos que perdemos se encontra o de sermos conhecidos pela
totalidade das nossas ações, boas e más, como qualquer ser humano.

Além da falta da escola, como vimos na unidade anterior, outra influência externa
que colabora na formação de uma identidade delinqüente é o distanciamento sentimental
da família.

Já distante da escola, o jovem precisa participar de uma outra instituição que lhe
ajude a construir um modelo político, social e econômico em busca de uma vida social
dinâmica e afetiva, contemplada por relações significativas que favoreçam o respeito a si e
ao próximo.

Família

Em muitas ocasiões, este apoio também não é encontrado entre os elementos


familiares. As palavras a seguir, de um detento, exemplificam a ausência familiar e nos dão
indícios que a entrada no mundo do crime, fica facilitada sem o convívio desta esfera
social:

Dona Eida, minha mãe, dizia que até os seis anos eu era um santo. Meu pai,
seu Luiz, dizia que eu era um débil mental. Disso lembro bem. (...) Meu pai,
desde que me lembro, já bebia. Passava dias fora de casa, sem dar
notícias. Quando ele chegava bêbado em casa (e era quase todo dia), eu
me escondia na casinha da cachorra, Dinda. A cadela era meu maior amigo.
O homem chegava ensandecido, procurando motivo para brigar e bater. Me
apavorava, vivia sobressaltado, com medo dele. Ele dizia que eu tinha
medo, mas não tinha vergonha. Medo eu sabia de quem, mas vergonha de
quê, de ser menino? Por qualquer motivo, mandava que eu fosse buscar o
cinturão de couro no armário e dizia, sadicamente, que iríamos ter uma
conversa. Era uma tortura, era mesmo! Pegava pelo braço e batia, batia,

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batia...até ficar sem fôlego. Eu sentia que era com raiva, prazer até. (...)
Minha mãe ficava na cozinha chorando, sem fazer nada. Para ela aquilo
fazia parte da educação de uma criança, era normal. Para mim, aquilo era o
fim do mundo. Odiava-o com todas as forças do meu pequeno coração. Vivi
a infância toda fermentando ódio virulento àquele meu algoz e envenenando
minha pobre existência. Quis crescer, ser grande e forte para arrebentá-lo a
socos e pontapés (MENDES, 2001, p.13).

Nessa caminhada, Ferreira (1996, p. 56) aponta que os vínculos familiares não só
interferem como podem efetivamente colaborar na edificação de uma identidade
delinqüente na pessoa. Segundo a autora, o histórico familiar aponta

(...) para a grande maioria dos detidos, a total ou parcial ausência da figura
masculina. Quer por abandono do lar, quer por ter sido uma relação
casual, que ainda por problemas ligados à embriaguez, drogas, jogo, ou
também por ausências que se devem à necessidade de trabalhar. (...)
Com relação à figura feminina, embora os sentimentos e referências a ela
sejam cercadas de especial respeito e profundo amor e idealização, ela se
apresenta submissa e servil, como é a imagem do feminino esposa-mãe,
no universo simbólico próprio da nossa sociedade.

Pai, mãe, por diferentes motivos, até por questões de sobrevivência, não se
fizeram presentes na vida de muitos daqueles que estão atrás das grades. Sendo assim, o
diálogo, peça fundamental nas relações humanas, não acontecia entre pais e filhos.

Considerando a família uma das responsáveis na formação da personalidade dos


sujeitos, percebemos, na vida dos que estão atrás das grades, a carência de uma
educação que possibilitasse o desenvolvimento de condições físicas e mentais
necessárias ao alcance de uma identidade, de uma maneira própria de ser. Para a
constituição desta identidade própria, é preciso que tenhamos a oportunidade de
estabelecer vínculos afetivos expressivos para que possamos enriquecer nossa formação
humana.

Se estes vínculos não são estabelecidos com o pai, com a mãe ou com algum
familiar próximo, aumentam as chances de haver lacunas na formação dos referenciais
necessários para o desenvolvimento de uma personalidade que faça um determinado
sujeito caminhar em direção oposta ao mundo do crime. Com isso, os valores
marginalizados ganham espaço nesta construção da identidade humana. Convites para
assaltos, propostas de tráfico de entorpecentes, partes da formação à vida criminosa,
acontecem com freqüência no meio social em que vive. E estas ações são realizadas por
aqueles que assumiram um lugar de importância no dia-a-dia deste sujeito, muitas vezes,
por aqueles que substituíram os vínculos familiares.

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Tanto a família quanto a escola são lugares onde deveria acontecer integração
entre as diferentes pessoas que deles participam. Integração no sentido de completar,
preencher, fazer parte, socializar em um ambiente onde há culturas diferentes,
pensamentos diferentes, valores diferentes. Entretanto, quando verificamos como ocorreu
a integração destas esferas na vida do sujeito que está na prisão, percebemos que não
houve limite, nem consigo, nem com o outro:

A manifestação da filosofia do “tudo vale, tudo pode” colabora na formação da


identidade delinqüente de uma pessoa. É preciso que os sujeitos percebam que suas
vontades só serão legítimas se os mesmos assumirem os seus limites e os limites
circunscritos à sociedade.

No livro Letras da Liberdade (MOLLINA et al., 2000), escrito por diversos autores –
todos detentos, relatando um pouco sobre a história de vida de cada um, é possível
constatar que a formação delinqüente destas pessoas começou a ser fundada na primeira
década de vida onde a família e a escola pouco, ou quase nada, vivenciaram experiências
afetivas e respeitosas em suas vidas. Pior. Em muitos casos, o que houve foram ações de
negação ao ser humano, aos seus costumes e suas experiências.

Um bom ou mau negócio?

É possível perceber que a prisão está agindo de forma similar ao modo em que a
escola e a família atuaram na vida de muitos dos presos. Ela está reforçando o processo
de formação delinqüente das pessoas. A opinião popular entende que a prisão seja a
última possibilidade de se construir uma educação que caminhe em sentido oposto aos
valores apresentados na delinqüência. Porém, ao mesmo tempo, a população desacredita
na eficácia dessa instituição. Algo precisa ser feito, ações precisam ser tomadas para
mudar a imagem de cemitério de vivos que vem acompanhando a prisão.

E para aqueles que pensam que com a pena de morte os problemas de


criminalidade no Brasil serão resolvidos, as palavras deste detento mostram que a
realidade não seria bem assim:

(...) mais importante do que a mórbida estética da morte estão as


preocupações básicas da sociedade em torno da pena capital. Estatísticas
mostram que a execução capital não detém o crime. O crime é uma
característica do ser humano. Não existem remédios mágicos contra isso.
A velha crença popular de que matando um afugentam-se mil é
demagógica. Uma das testemunhas presentes à imolação “legal” de
Brooks [jovem norte-americano condenado ao corredor da morte] declarou
logo depois do sacrifício: “Senti-me como cúmplice da morte dele. Saí dali
como se estivesse em outro mundo, profundamente decepcionado com
minha natureza humana” (RAMOS, 2001, p.82-83).

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Quando o Estado prevê em suas leis a pena capital está supondo que o
condenado não pode mais aprender, se transformar e se desenvolver. A idéia presente é
que aquela vida humana não irá fazer falta e o importante é preservar a vida das outras
pessoas. Com uma atitude assim, o Estado deixa de validar o direito à vida, princípio
universal para qualquer ação libertadora.

Se desejamos transformação social, não podemos, enquanto educadores, antes


disso, enquanto seres humanos, pensar que a pena de morte é a solução para os
problemas da humanidade. É com vida, e pela vida, que vamos fundamentando nossas
consciências e construindo nossas identidades, sempre de maneira coletiva.

O papel dos que trabalham na prisão, assim como daqueles comprometidos com a
vida humana em geral, é de atuar junto aos presos, ajudando-os na humanização da
instituição, com intervenções na realidade opressora, e caminhando permanentemente na
busca de dignidade à vida humana.

Pedagogia da adaptação

A única pedagogia perceptível dentro das prisões é a pedagogia da adaptação.


Sim, segundo Amorim (2001), até por questões de sobrevivência, o ser humano necessita
adaptar-se às estruturas e normas da prisão. Betto (1978, p.37-47) registrou suas
impressões quanto a isto:

O organismo adapta-se progressivamente, quase sem a gente perceber.


Nossas necessidades ficam reduzidas e a resistência física aumenta.(...)
Eu diria que um preso se adapta à vida carcerária. Pois a inadaptação é
o maior tormento que nos conduz ao desespero, à ociosidade, ao
enfraquecimento moral.

Se, por um lado, a pessoa adapta-se à prisão para manter-se viva, por outro, sua
personalidade vai sofrendo uma destruição. Preservar sua vida, concretamente falando, é
essencial para poder chegar ao fim da sua pena privativa de liberdade. Porém, esta morte
interna só enfatiza a vida alienada em que se vive.

O sistema penitenciário acredita que o bom preso é aquele que está ajustado às
normas, às rotinas da prisão. Sendo assim, é este bom preso que também é considerado
como preso reabilitado.

Nesse sentido, esta busca incessante de mostrar-se adequado aos


padrões da prisão, transforma-se em princípio e fim das ações dos
encarcerados. Os objetivos que, pressupõem-se, deveriam ser inerentes
às atividades, seja de educação, cultura, esportes, profissionalização ou
terapêuticas, são declinados em favor dessa busca (PORTUGUES, 2001,
p.91).

17
Seguindo este raciocínio, já que os presos devem estar reabilitados para viver em
sociedade, só podemos concluir, então, que a prisão é o modelo social ideal presente nos
dias atuais. Ela até consegue levar vantagem sobre a grande sociedade, visto que
proporciona o mínimo necessário para cada pessoa: moradia, alimentação e vestuário.
Grande ironia.

Silva (2001), refletindo especificamente sobre a reabilitação, entende que ela seja
a capacidade da pessoa em superar as condições que a levou à prática do crime. Na
realidade, para que haja esta superação é preciso que o sujeito preso tome conhecimento
da realidade de forma crítica e global. Esta formação de uma consciência crítica também
está relacionada à capacidade do sujeito preso em desligar-se mentalmente das grades
que o cerca, não se alienando e, muito menos, afastando-se do convívio social que ocorre
na prisão.

Atividade

A proposta de atividade para essa unidade é a realização de um grande debate entre a


turma. A temática, como não poderia ser diferente, é a presença da instituição prisional em
nossa sociedade. Abaixo, segue alguns questionamentos que podem servir como início
para a problematização realizada por vocês:

• Será que a prisão é capaz de desenvolver um processo educativo completo na


vida daqueles ali presentes?

• Em seu ambiente é possível estabelecer um vínculo entre as pessoas


participantes?

• Até que ponto a rotina prisional (convivência nas celas, socialização no banho de
sol, nos torneios de futebol, nas atividades religiosas, nas organizações das festas,
nas salas de aula da escola, nos barracões de trabalho etc.) pode colaborar na
construção de vínculos entre a massa carcerária?

Referências

AMORIM, Luis Antonio. Um dos caminhos da educação na Penitenciária de Marília. Dissertação de


Mestrado em Educação. UNESP/Marília, 2001.
BETTO, Frei. Das catacumbas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.
FERREIRA, Maria Emília Guerra. A produção de esperança numa situação de opressão: Casa de
Detenção de São Paulo. São Paulo: Educ, 1996.
LIMA, William da Silva. Quatrocentos contra um: uma história do comando vermelho. 2.ed. São
Paulo: Labortexto Editorial, 2001.
MENDES, Luis Alberto. Memórias de um sobrevivente. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
MOLLINA, Júlio César da Silva et al. Letras de liberdade. São Paulo: Madras, 2000.
PORTUGUES, Manoel Rodrigues. Educação de adultos presos: possibilidades e contradições da
inserção da educação escolar nos programas de reabilitação do Sistema Penal no Estado de São
Paulo. Dissertação de Mestrado em Educação. USP, 2001. RAMOS, Hosmany. Pavilhão 9: paixão e
morte no Carandiru. São Paulo: Geração Editorial, 2001.
SILVA, Roberto da. A eficácia sócio-pedagógica da pena de privação da liberdade. Tese de
Doutorado em Educação. USP, 2001.
SOUZA, Percival de. A prisão: histórias dos homens que vivem no maior presídio do mundo. São
Paulo: Alfa-Omega, 1977.

18
Unidade 3
As educações na prisão

Objetivo
ƒ Reconhecer as diferentes práticas educativas construídas no cotidiano
prisional.

Introdução

A idéia que ora se apresenta é refletir sobre a prática educativa existente dentro da
prisão. O ensino escolar não será a única prática educativa analisada. Quando falamos em
educação na prisão estamos também englobando as relações informais existentes entre
os presos, os códigos carcerários, a cotidianidade das atividades ali desenvolvidas, o
papel da família, dos funcionários, da comunidade etc. É preciso que isso esteja bem claro.

Aprendendo com os presos

Nos últimos anos houve um boom de publicações que focalizam a prisão em seus
diferentes aspectos. Isso pode parecer um fato comum já que também tem havido um
aumento significativo do interesse da população pelo (sub)mundo prisional, conseqüência
também dos elevados índices de criminalidade que assolam o nosso país. Dentre essas
novas obras, algumas nos têm chamado a atenção por possuírem características
parecidas.

São histórias contadas por pessoas que estiveram, ou ainda estão, presas. São
relatos de vida sobre como é viver na prisão, contados por quem vivenciou, ou continua
vivenciando, a estrutura presidiária nacional. Afinal, só quem passou pela prisão pode
contar com detalhes o que se passa ali dentro. É um tipo diferenciado de literatura, escrita
por pessoas que, na maioria dos casos, não se imaginavam escritoras, que não cresceram
no mundo letrado e que não tiveram muito contato com os livros. Entretanto, agora, são
autoras de livros significativos para quem tem interesse em conhecer um pouco da
biografia de pessoas cujas vidas foram marcadas por diferentes tipos de exclusão,
focalizando, em determinados momentos, a vida por trás das grades.

19
Acolher a palavra do preso, escutá-lo, valorizá-lo, não significa rejeição à ciência,
aos estudos realizados historicamente pelos homens. A pura e simples valorização do
saber popular, separando-o do rigor científico, nega a possibilidade do diálogo entre os
diferentes, fazendo com que o discurso das bases populares seja tão autoritário como as
palavras da elite. Freire (1991, p.134), refletindo sobre o basismo, afirma que

(...) estar com as bases populares, trabalhar com elas não significa erigi-
las em proprietários da verdade e da virtude. Estar com elas significa
respeitá-las, aprender com elas para a elas ensinar também.

Nessas vozes da prisão é possível perceber que a atenção dada à prática escolar
desenvolvida dentro do cárcere era mínima. Por que será que os presos pouco falam da
escola existente no espaço prisional? Tendo o direito à escola, garantido por lei, de que
maneira os presos enxergam o processo escolar desenvolvido por trás das grades? E esta
escola, como colabora na construção de uma consciência crítica entre os presos?

Educação permanente

Para muitas pessoas, prisão não combina com educação. Discordamos daqueles
que assim pensam, pois a constituição de uma prisão não fica restrita aos muros, grades e
portas de aço. O elemento essencial, ao nosso ver, são os homens que ali estão. Sendo
assim, vale a indagação: quais serão as características dessa educação prisional?

A educação apresenta-se como um processo permanente na vida de cada pessoa


proporcionando um desenvolvimento físico, moral e intelectual da mesma. Ela é um
processo necessário na vida dos homens. Estamos aprendendo e ensinando diariamente
no trabalho, em casa, na igreja, no clube, na rua, na cadeia, enfim, nos mais diversos
segmentos da sociedade.

Se a educação é indispensável e sua dinâmica é contínua, por que, em alguns


lugares e ocasiões, utiliza-se a expressão reeducar?

No caso específico dos estabelecimentos prisionais, podemos perceber que a idéia


presente é de uma vida cidadã. Vida em que as pessoas tenham suas estruturas
adequadas aos moldes da sociedade, onde saibam quais são seus direitos e deveres.
Entretanto, a discussão sobre o processo desenvolvido ali dentro e de qual a denominação
mais adequada ao sujeito encarcerado não se apresenta tão simples assim.

Para Ottoboni (2001, p.100), os termos reeducando e educando não podem fazer
parte do cotidiano das prisões nacionais.

Reeducando significa, em última análise, aquele a quem se reeduca.


Ora, somente se reeduca quem foi educado e que, por qualquer motivo,
se esqueceu das normas da boa convivência. Na verdade, o condenado

20
não teve uma educação conveniente, adequada para conviver na
sociedade, (...) não esqueceu as normas dos bons costumes,
simplesmente não as conheceu. O meio ambiente familiar e as imagens
deformadas não o levaram a descobrir as regras da sociabilidade, da
educação relacionada com o respeito, os bons princípios, a moral, a
religião, a profissão etc.

Neste caso, a denominação recuperando seria a mais correta para nomear o


condenado que cumpre pena privativa de liberdade. Com o uso do termo recuperando
evitam-se os termos preso, interno, condenado ou sentenciado, pois estes últimos
colaboram na depreciação do ser humano. Além disso, o recuperando estaria envolvido
num processo de recuperação voltado aos diferentes aspectos da vida humana.

No nosso entendimento, mesmo que o condenado não tenha descoberto as regras


e normas válidas para o convívio social no contexto da legalidade, ele foi parte atuante de
algum processo educacional construído durante toda sua vida: convivência com pais e
familiares, aprendizagem em creches e escolas, envolvimento com a turma do bairro,
contato com igreja, funcionário de uma empresa, etc. Sendo assim, ele pode, sim, ser
considerado um educando.

O que se discute é o modelo de educação que foi vivenciado. Em muitos casos,


como vimos anteriormente, houve uma construção educacional fora dos padrões
socialmente aceitos e valorizados como “normais”. Contudo, houve uma prática com
característica educativa.

O termo reeducar pressupõe o esquecimento de uma educação anterior visando à


construção de uma nova educação. No caso das prisões, acreditamos que o pensamento
presente na estrutura científica da terapia penal é de que os presos esqueçam a formação
delinqüente que tiveram e construam uma educação fundamentada em valores
concordados pela maioria social.

Mascellani (1985, p.151) também não concorda com o termo reeducar,


argumentando que

(...) se as pessoas que trabalham com o preso pensam que ele poderia
ser “reeducado”, eu rejeitaria este conceito. Acho que o processo de
educação é contínuo e não tem que se falar em “recuperação”, nem em
“reeducação”. É o processo de educação que se modifica na sua própria
natureza, na sua forma, mas que continua sendo processo educativo
sempre.

O mais importante é percebermos que a educação é uma construção dos homens.


Ela ocorre de um determinado modo hoje, mas amanhã poderá se dar de outra maneira. A
educação é diversa, múltipla.

21
Funcionários

Um fato muito comum nas prisões brasileiras é de que os funcionários acreditam


que somente eles entendem o que é educação, que a educação deles é a única educação
possível e verdadeira. Além disso, consideram os presidiários como simples objetos que
devem receber as técnicas de recuperação impostas pelos supostos sujeitos neste
contexto prisional, ou seja, eles mesmos.

Brandão (1995, p.99), refletindo sobre as idéias de Paulo Freire, enfatiza que é
preciso desmistificar a idéia de que a educação é maior do que o homem. O autor,
lembrando a expressão “educação do opressor”, afirma que

(...) ele [Paulo Freire] sempre quis desarmar a idéia de que as pessoas
são um produto da educação, sem que ela mesma seja uma invenção
das pessoas, em suas culturas, vivendo as suas vidas. Ele sempre quis
livrar a educação de ser um fetiche. De ser pensada como uma realidade
supra-humana e, por isso, sagrada, imutável e assim por diante.(...)
Apenas os que se interessam por fazer da educação a arma de seu
poder autoritário tornam-na “sagrada” e o educador, “sacerdote”. Para
que ninguém levante um gesto de crítica contra ela e, através dela, ao
poder de onde procede.

Os funcionários, de modo geral, pensam-se enquanto sacerdotes. Acreditam que


somente eles possuem conhecimentos válidos socialmente, transparecendo a força de um
autoritarismo sempre presente nas relações com os presos. Esse coletivo funcional
acredita realmente que a prisão deve voltar-se somente à punição, fazendo que a
educação ali desenvolvida seja uma educação repressora, controladora, domesticadora.

Esta postura profissional demonstra aquela pedagogia que deteriora o sujeito no cárcere.

A pedagogia que o sistema admite na prisão é uma pedagogia que


assume características opressoras: não permite participação, não
permite crítica, não permite às pessoas a descoberta das suas
características, das suas possibilidades e da viabilidade de sua
realização (MASCELLANI, 1985, p.154).

É comum encontrarmos funcionários que insistem numa posição de descaso com


os sujeitos presos. O sistema como um todo não procura refletir sobre a vida do
condenado antes de sua prisão, enquanto está preso e como viverá após a libertação. O
que predomina é aquela filosofia do deixe como está para ver como é que fica.

Enquanto os presos ficam oprimidos nas celas fumando maconha, fazendo


pederastia e dando facadas, está tudo bem! Isto não oferece perigo para a segurança do
presídio...Mas quando o preso estuda, faz ginástica, treina boxe e tem consciência de sua

22
posição no cárcere, isto sim, é perigoso para eles, os guardas. Os carcereiros têm muito
medo dos presos inteligentes. A repressão torna-se toda no sentido de combater isso
(TORRES, 1979, p.174).

Este aspecto da conscientização dos presos aparece realmente como algo que, se
não é combatido explicitamente, ao menos, não é incentivado. Isso demonstra que o
sistema penitenciário tem muita pouca preocupação em mantê-los informados e despertá-
los para a vida além das aparências.

Acolhimento da voz dos presos

Não podemos nos esquecer que a prisão possui uma outra finalidade que
ultrapassa os limites da punição. Estamos nos falando do princípio da reabilitação, ou seja,
ela se propõe a ser uma instituição educativa. Sendo assim, a prisão também pode primar
pelo desenvolvimento de uma educação crítica, integradora, libertadora em seu espaço.
Essa é a perspectiva que acreditamos e defendemos.

O acolhimento da palavra dos presos, tendo como princípio uma prática dialógica
simétrica, entre iguais, não significa que concordamos com as ações criminosas que cada
sujeito cometeu, pois estas, no fundo, não colaboram para que haja uma verdadeira
transformação social necessária em nosso mundo. Contudo, se realmente desejamos a
construção de uma nova ordem, é primordial trazer a palavra daqueles que estão à
margem da sociedade.

Quando pensamos em uma prática educativa no espaço prisional, acreditamos


que seja imprescindível o freqüente diálogo entre os presos e os demais sujeitos que
compõem tal processo. É preciso analisar a percepção pedagógica que esses presos têm
com relação à prisão. Desse modo, se faz necessário abordar passagens de suas vidas
desde a época da infância até a fase adulta. Com isso, temas como família, escola,
trabalho e a entrada no mundo do crime, além do cotidiano da prisão, precisam estar na
pauta dos encontros com os presos.

Atividade

Que tal utilizarmos uma técnica de estudo diferente para finalizarmos essa unidade?
Construa um mapa conceitual a respeito do que foi apresentado a respeito das práticas
educativas existentes na prisão. Caso seja necessário, pesquisa a respeito dessa
possibilidade de estudo e tire suas dúvidas com o professor.

Referências

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação. 33 ed. São Paulo: Brasiliense, 1995.

23
FREIRE, Paulo. Educação na cidade. São Paulo: Cortez, 1991.

MASCELLANI, Maria Nilde. Uma pedagogia para os cárceres? In: QUEIROZ, José J.
(coord.). As prisões, os jovens e o povo. São Paulo: Paulinas, 1985.

OTTOBONI, Mário. Ninguém é irrecuperável: APAC - a revolução do sistema penitenciário.


2.ed. São Paulo: Cidade Nova, 2001.

TORRES, André. Exílio na Ilha Grande. São Paulo: Círculo do Livro, 1979.

24
Unidade 4
Conscientização na prisão

Objetivo
ƒ Indicar os pressupostos necessários para o desenvolvimento de propostas
educativas no contexto prisional.

Introdução

A própria prisão colabora no reforço de valores negativos, criando e/ou agravando


atitudes de caráter violento. Quando estudamos a história da prisão e as diferentes
correntes de formulação de políticas penais, nos deparamos com diferentes experiências
desenvolvidas ao longo dos anos nos sistemas penitenciários de todo o mundo.

Um desses movimentos que chama a atenção, ocorrido na segunda metade do


século XIX, é conhecido como escola penal positiva. Para os intelectuais desta escola, o
homem criminoso é um doente. O agente criminoso é um enfermo impulsionado por
diferentes determinações biológicas, psicológicas e sociológicas que lhe perturbam o
discernimento e a vontade, não conseguindo agir de modo racional (SÁ, 1996).

Silva (2001a) aponta que o Brasil também formulou seu aparato jurídico sob a
ótica penal positiva. Contudo, o autor destaca que o crime não pode ficar modelado numa
ordem natural, mas sim como uma ação humana e social. Concluindo sobre a teoria penal
vigente no Brasil, Silva (2001, p. 121) enxerga três finalidades à pena:

O conceito de tríplice finalidade é bastante familiar mesmo ao homem


comum do nosso tempo, para quem, ao menos no plano racional, o preso
é colocado em uma penitenciária com vistas a ser punido, intimidado e,
principalmente, reformado.

Caminhando numa perspectiva de compreensão dos atos violentos cometidos


pelos seres humanos, Sigmund Freud, no campo das ações psíquicas, ajuda-nos no

25
aprofundamento das discussões sobre a violência e sua origem. Para ele, a agressividade
faz parte da natureza humana.

O ser humano, segundo Freud, possui dois tipos de instintos que, em ações
conjuntas, conduzem a vida. O primeiro é o instinto de morte, ou seja, aquele que objetiva
conduzir a vida ao estado inanimado através de ações destruidoras, desagregadoras. O
outro é o instinto de Eros, ou seja, o instinto da vida, aquele capaz de preservar e
estabelecer união entre as pessoas.

Como já dito, essas pulsões de vida e morte caminham juntas, de modo que são
dependentes entre si. Entretanto, há situações em que a manifestação de uma delas
prevalece sobre a outra. É nesse momento que, se o instinto de destruição for maior, os
atos violentos aparecem.

Prestemos atenção às palavras de Freud (1997, p.48):

Nas nossas moções pulsionais suprimimos constantemente todos os que


estorvam o nosso caminho, que nos ofenderam e nos prejudicaram. A
exclamação “Que vá para o diabo!”, que com tanta freqüência acode aos
nossos lábios para encobrirmos jocosamente o nosso mau humor e que,
de fato, quer dizer “Que o leve a morte!”, é, no nosso inconsciente, um
sério e violento desejo de morte. Sim, o nosso inconsciente mata até por
ninharias. (...) Assim também nós próprios, julgados pelas nossas moções
inconscientes, somos, como os homens primitivos, um bando de
assassinos.

Acontece que, em muitos casos, sentimentos como estes descritos por Freud não
ficam somente no inconsciente da pessoa humana. Eles tornam-se realidade. Ações
destruidoras, contra os homens e/ou contra o patrimônio, que quebram os acordos morais
e/ou legais existentes no meio social, são exemplos reais das manifestações do instinto de
morte.

De acordo com Freud, não é possível eliminar as tendências agressivas do


homem. Por outro lado, através de ações educativas, pode haver possibilidades de
desvios construídos a partir da afetividade, do amor e de “tudo que estabelece importantes
elementos comuns entre os homens; sentimento de comunidade, identificações. Neles se
baseia, em grande parte, a estrutura da sociedade humana” (FREUD, 1997, p. 72).

Em cima destes sentimentos, muitos deles já existentes no dia-a-dia da


prisão, é que a terapia penal deveria desenvolver suas atividades. Os
diferentes técnicos que desenvolvem um programa individual com cada
detento poderiam aproveitar as peculiaridades presentes no espaço
prisional e envolvê-las no programa de reabilitação previsto por lei.

26
Partindo de uma realidade

As injustiças, os sofrimentos e o descaso do Estado podem ser o ponto de partida


para que o sujeito vá se percebendo enquanto preso e o porquê dele estar ali. Entender
que, na verdade, é ele a verdadeira vítima de um sistema que não fica resumido ao
sistema penitenciário. O sistema é maior; envolve valores que vão além daqueles que
ditam o convívio dentro da prisão.

Esta desejada conscientização, dentro da prisão, se dará numa estrutura de


resistência e de adesão. O homem preso precisa resistir ao processo de mera adaptação à
instituição penitenciária, à sua cultura de negação do sujeito. Resistir aos valores
negativos prisionais, não os incorporando, além de resistir a todo e qualquer tipo de
violência que se manifesta na prisão. Fora isso, é preciso participar de atividades
pensadas, planejadas e executadas pelos técnicos e pelos próprios presos. A necessidade
do elo familiar também precisa ser valorizada. O comprometimento com a valorização da
sua vida e da vida do outro companheiro também é fundamental. Estes, de maneira geral,
são pontos essenciais para tentar efetivar uma proposta, efetivamente, educativa,
diferenciando-a daquela que hoje incorpora a prisão.

Envolvimento dos presos

Ao nosso ver, apesar do paradoxo existente quando se aborda o objetivo da prisão


nas ações de educar e punir, é preciso que haja um trabalho diversificado ali dentro para
que se tenha êxito nas ações executadas por esta instituição. O envolvimento efetivo dos
presidiários só acontecerá se houver um trabalho comprometido com a humanização deste
espaço marcado até hoje por sua violência e repressão. De nada adianta, propiciar um
número elevado de atividades, se as atenções estiverem voltadas somente às questões
disciplinares.

Os próprios presos compreendem que estão ali por uma questão de justiça. Não
negam que cometeram seus crimes, apesar de freqüentemente ouvirmos histórias de que
qualquer prisão abriga inocentes. Entretanto, eles afirmam que para tirar a cadeia numa
boa é fundamental que as ações disciplinares não excedam os limites previstos de uma
pena de privação de liberdade. Humilhação moral, tortura, descaso com sua vida e com a
vida dos seus familiares e ociosidade são alguns apontamentos feitos pelos presos que
geram uma grande indignação e revolta daqueles que estão atrás das grades.

A prisão, como já foi abordado aqui, é como se fosse a última esperança da


sociedade. Apesar desta conotação salvadora, ela fundamenta o seu trabalho em
princípios básicos para o desenvolvimento da vida humana. Família, escola, igreja,
trabalho e esporte são exemplos dos segmentos abordados no desenvolvimento das
atividades que ocorrem em seu espaço. A priori, estes aspectos ajudaram na formação
humana de cada pessoa antes de chegarem à prisão. Porém, conhecendo as histórias de

27
algumas pessoas encarceradas, foi possível identificar algumas lacunas nesta formação
do “eu”.

Anteriormente, apontamos que há uma diferença entre o criminoso e o


delinqüente. Um delinqüente nem sempre é um criminoso. Porém, no contexto da suposta
democracia social e econômica em que vivemos, o delinqüente sofre um grande
preconceito imposto por pessoas preocupadas em manter um controle na vida daqueles
que representam uma ameaça à “normalidade” presente. Com isso, a desconfiança, a
preocupação e a vigilância se dão sobre toda população trabalhadora, não se restringindo
àqueles que cometeram ações criminosas.

Percebemos que a própria sociedade, representada por sua elite, após expulsar
determinadas camadas populares, sentindo-se ameaçada, tenta edificar a imagem de uma
cultura delinqüente, rejeitando-a e, como saída, constrói uma ideologia com seus valores,
que são aceitos pela maioria como a verdade absoluta.

Pedagogia da conscientização

O próprio dia-a-dia da prisão, até mesmo porque todos que ali estão não podem
sair, pode facilitar a promoção de recursos para alcançar um reconhecimento cultural entre
toda população carcerária. A união destes presos principiaria um movimento transformador
onde o ser humano seria reconhecido e valorizado como cidadão. Com isso, teria direito a
uma vida digna como qualquer outra pessoa que esteja livre das estruturas prisionais.

A prisão, por mais que proporcione um desenvolvimento, uma evolução em


algumas capacidades relacionadas ao sujeito preso, desenvolve em seus limites uma
educação domesticadora, opressora.

Educação não é adaptação, é transformação. E é neste sentido que qualquer


proposta pedagógica deve caminhar, ou seja, para

(...) uma pedagogia capaz de levar à apreensão crítica da realidade, de


fazer o sujeito pensar num processo de libertação, não só no plano
individual, da liberdade física e material, mas da libertação da opressão
causada pela estrutura econômica. Uma pedagogia que permita ao
sujeito descobrir sua vocação transformadora da sociedade
(MASCELLANI, 1985, p.152).

A libertação, como disse Freire (1983, p.36), é um “parto doloroso” que retrata a
superação da contradição entre opressores e oprimidos. Este parto

(...) traz ao mundo o homem novo não mais opressor, não mais oprimido,
mas homem libertando-se. Se se faz indispensável aos oprimidos, para a

28
luta por sua libertação, que a realidade concreta de opressão já não seja
para eles uma espécie de “mundo fechado”, do qual não pudessem sair,
mas uma situação que apenas os limita e que eles podem transformar, é
fundamental, então, que, ao reconhecerem o limite que a realidade
opressora lhe impõe, tenham, neste reconhecimento, o motor de sua
ação libertadora.

As palavras acima podem ser relacionadas à realidade prisional. Afinal, temos uma
realidade concreta de opressão num mundo fechado, no mínimo, fisicamente. Entretanto,
estes limites impostos pela prisão podem ser o princípio de uma libertação.

A transformação não pode ficar distante dos homens presos. Eles não podem ser
tratados como objetos que não possuem direito de opinar sobre suas próprias vidas e
sobre a realidade em que estão inseridos. Não é possível o desenvolvimento de uma
pedagogia libertadora se a idéia presente sobre as pessoas participantes for de que elas

(...) são seres desditados, objetos de um “tratamento” humanitarista, para


tentar, através de exemplos retirados de entre os opressores, modelos
para a sua “promoção”. Os oprimidos hão de ser o exemplo para si
mesmos, na luta por sua redenção (FREIRE, 1983, p.43).

A imposição da palavra dos outros (funcionários, técnicos e diretores) é muito forte


nos presídios. O outro lado necessita ser ouvido, tem que participar. Se pensamos numa
realidade transformada é preciso que haja um

(...) compromisso verdadeiro com eles [no nosso caso, com os presos],
implicando na transformação da realidade em que se acham oprimidos,
reclamando uma teoria da ação transformadora que não pode deixar de
reconhecer-lhes um papel fundamental no processo da transformação
(Ibid., p.146).

É preciso mudar

Já vimos que a real função da prisão é adaptar os homens encarcerados às


rotinas, às posturas prisionais consideradas adequadas pelo conjunto de funcionários
objetivando a ordem, a disciplina e, conseqüentemente, eliminando qualquer possibilidade
de autonomia dos indivíduos que ali se encontram.

Com uma postura de ordem totalitária, onde as ações dos funcionários não podem
ser questionadas e também não precisam ser justificadas, a prisão exige do preso uma
adesão aos regulamentos e uma conduta cega aos hábitos prisionais. É com base nestes
parâmetros que surgirá o bom preso, isto é, aquela pessoa que está completamente
ajustada ao mundo da prisão.

29
Freire (1983, p.67) denominou este tipo de educação como “educação bancária”,
pois o educando torna-se um simples objeto disciplinado, acomodado, adaptado às
experiências transmitidas por outras pessoas.

Quanto mais se exercitem os educandos no arquivamento dos depósitos


que lhe são feitos, tanto menos desenvolverão em si a consciência crítica
de que resultaria a sua inserção no mundo, como transformadores dele.
Como sujeitos (Ibid., p.68).

E esta parece ser a preocupação que a prisão vem desenvolvendo durante sua
longa existência. Não permite a problematização, o diálogo, uma nova construção, enfim,
não permite mudanças. Ela não é capaz de reconhecer o preso como sujeito em
desenvolvimento, não proporciona o encontro organizado e a pronúncia das pessoas que
ali se encontram.

O que nos parece indiscutível é que, se pretendemos a libertação dos


homens, não podemos começar por aliená-los ou mantê-los alienados. A
libertação autêntica, que é a humanização em processo, não é uma coisa
que se deposita nos homens. Não é uma palavra a mais, ôca, mitificante.
É praxis, que implica na ação e reflexão dos homens sobre o mundo para
transformá-lo (FREIRE, 1983, p.77).

Por mais que Paulo Freire estivesse se referindo a uma libertação muito maior que
uma libertação física, suas palavras são perfeitas para retratar aquilo que acontece no
ambiente prisional e apontar caminhos para sua transformação.

Por que o corpo dirigente da prisão não se encontra com a população carcerária?
Falta coragem para ouvir o sujeito preso? Não é possível um agrupamento dos
conhecimentos teóricos e críticos com os conhecimentos praticados cotidianamente? Será
tão difícil perceber que se não houver diálogo com os presos para a elaboração de
programas a serem desenvolvidos na prisão, estes estão fadados a servirem só como
elementos dominadores, domesticadores, anulando assim qualquer possibilidade de
libertação, de humanização no sistema penitenciário?

A ação política junto aos oprimidos tem de ser, no fundo, “ação cultural” para
a liberdade, por isto mesmo, ação com eles. A sua dependência emocional,
fruto da situação concreta de dominação em que se acham e que gera
também a sua visão inautêntica do mundo, não pode ser aproveitada a não
ser pelo opressor. Este é que se serve desta dependência para criar mais
dependência. A ação libertadora, pelo contrário, reconhecendo esta
dependência dos oprimidos como ponto vulnerável, deve tentar, através da
reflexão e da ação, transformá-la em independência.(...) Não podemos
esquecer que a libertação dos oprimidos é libertação de homens e não de
“coisas”. (...) O caminho para um trabalho de libertação não está no mero

30
ato de “depositar” a crença da liberdade nos oprimidos, pensando conquistar
a sua confiança, mas no dialogar com eles. Precisamos estar convencidos
de que o convencimento dos oprimidos de que devem lutar por sua
libertação é resultado de sua conscientização (Ibid., p.57-58).

A conscientização dos presos, então, deveria fazer parte do processo libertador


desenvolvido na prisão. Liberdade, em qualquer cadeia, é a palavra mais pronunciada
entre os presos. O maior sonho deles é a liberdade. Cada um luta para que a sua chegue
o mais rápido possível. Todos visualizam a liberdade física, mas não são todos que
percebem que a verdadeira liberdade é aquela que vai além das grades e muralhas.

A educação construída na prisão não pode, em hipótese alguma, ignorar as


diferentes características pessoais existentes em seu ambiente. A prisão deve aproveitar a
diversidade cultural presente em seu espaço e transformar-se num local estruturado e
organizado de convivência entre as pessoas que cumprem suas respectivas penas.

Atividade

Foi mostrado aqui que para se alcançar êxito em uma proposta de atividade
educativa na prisão não se pode desconsiderar a estrutura existente ali. Assim sendo,
perguntamos de modo bem direto: para você, enquanto sujeito educador dentro da prisão,
de que maneira isso poderia ser realizado? Como se pode aproveitar as especificidades da
prisão para construção de uma realidade oposta àquela dos dias de hoje?

Lembre-se: Quando falamos em construção, estamos nos referindo a uma


construção visando uma realidade modificada, construída pelos próprios presos, após a
emersão de um cotidiano alienado e a imersão num mundo crítico, participativo e
libertador, desconstruindo, assim, toda educação autoritária e repressora existente há anos
nesta instituição.

Referências

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 12.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.

FREUD, Sigmund. Porquê a guerra? Reflexões sobre o destino do mundo. Lisboa: Edições
70, 1997.

MASCELLANI, Maria Nilde. Uma pedagogia para os cárceres? In: QUEIROZ, José J.
(coord.). As prisões, os jovens e o povo. São Paulo: Paulinas, 1985.

SÁ, Geraldo Ribeiro de. A prisão dos excluídos: origens e reflexões sobre a pena privativa
de liberdade. Rio de Janeiro: Diadorim, 1996.

SILVA, Roberto da. A eficácia sócio-pedagógica da pena de privação da liberdade. Tese


de Doutorado em Educação. USP, 2001.

31
Unidade 5
A escola encarcerada

Objetivo
ƒ Refletir sobre o papel da escola no espaço prisional.
ƒ Apontar perspectivas pedagógicas no processo ensino-aprendizagem
desenvolvido na escola encarcerada.

Introdução

Como vimos anteriormente, o ensino é obrigatório e deve integrar-se ao sistema


escolar de cada unidade federativa. Se, teoricamente, a lei fosse seguida, em cada
penitenciária nacional haveria um espaço destinado à escola. Neste local os presos, agora
alunos, participariam de aulas de Língua Portuguesa, História, Ciências, Matemática,
Geografia etc.

Acontece que em muitas prisões este espaço sequer existe. E quando há o


funcionamento desta escola, a estrutura e a participação dos internos às aulas é ínfima. a
procura pela escola, por parte dos presos é muito baixa em todo o país. São muitos os
aspectos que colaboram para manutenção deste quadro. Além da falta de recursos –
materiais, humanos e de infra-estrutura, a escola encarcerada também sofre com as ações
que supervalorizam a segurança. Há também alguns funcionários que costumam
atrapalhar o desenvolvimento das atividades escolares. Segundo Amorim (1997, p.12), há
funcionários que até incentivam os presos a participarem dos estudos. Entretanto, existe
uma outra parcela que entende que a educação desqualifica o ambiente punitivo que deve
existir na prisão.

Defendem uma prisão mais “austera” ou mais punitiva, onde transpareça


o castigo de maneira mais evidente. É um forte sentimento de vingança.
Para estes, a prisão deve chocar, humilhar, desfigurar, trancar, fazer
sofrer, marcar os indivíduos que cometeram crimes e provocaram
perdas, traumas, sofrimentos, tristezas, mortes em pessoas inocentes,
honestas, trabalhadoras.

32
São inúmeros os indicadores que refletem como o sistema penitenciário brasileiro
apresenta-se falido. As próprias condições de vida ali dentro são péssimas: a alimentação
não é saudável; a superpopulação é cena comum; não há assistência médica, social,
jurídica...

Adorno (1993, p.105) amplia esta caracterização da vida nos presídios, com
enfoque especial aos serviços de formação educacional e profissional, dizendo que

(...) embora em não poucos estabelecimentos penitenciários haja


convênios com entidades especializadas na oferta de escolarização
básica, dispensando-se nessas circunstâncias os serviços próprios,
quase sempre desorganizados e ineficazes, essa escolarização padece
dos mesmos obstáculos e problemas enfrentados pela escola pública
oferecida à população em geral.

Já Viana (In: RAMOS, 2001, p.233) é mais direto em suas palavras, alertando
sobre a demagogia existente quando se fala em atividades na prisão.

Ao longo dos corredores, que parecem intermináveis, vêem-se pequenas


placas e celas por todos os lados. A enganosa impressão de instrução e
escolaridade está bem disposta e as placas dizem tudo: oficinas,
escolas, teatro, cinema, escola de arte, artesanato... Apesar de nada
disso funcionar.

Antes de tudo, então, é preciso fazer com que estas atividades funcionem. Este é
o primeiro passo que qualquer instituição penitenciária deve seguir se realmente houver o
pensamento voltado à reabilitação dos seus presos. Junto com esta prática cotidiana, é
necessário pensar em uma proposta educacional que leve em conta as especificidades da
prisão, pois “para ser válida, a educação deve considerar as condições em que o homem
vive: lugar, momento e contexto” (FREIRE, 1980, p.34). Porém, o cuidado para que não
haja discriminação aos participantes é essencial.

Quando Paulo Freire abordou sobre a metodologia mais adequada para ser
desenvolvida num programa de educação na prisão, disse que o primeiro passo é
descartar qualquer tipo de material específico aos presos, pois, caso isso ocorresse,
haveria uma discriminação dupla àquelas pessoas, negando-lhes acesso à informação e à
formação, que é um direito de todos (RUSCHE, 1995).

Qualquer atividade que objetive trabalhar na construção de um programa de


educação que proporcione condições efetivas de reintegração social aos homens
encarcerados deve tentar ao máximo desvincular-se da rotina prisional.

Uma escola comprometida com uma educação libertadora não pode contribuir com
a lógica penitenciária de transformar as pessoas encarceradas em marionetes de

33
funcionários e diretores. A transformação necessária é diferente, não é impositora, pelo
contrário, é construtora. Construída por todos e voltada, principalmente, aos presos. Como
nos diz Salla (1994, p.95), tal pensamento pode ser um sonho, um

(...) delírio, mas a verdade é que sem isso fica difícil desenvolver
efetivamente o programa de educação ou de trabalho, se eles estiverem
ligados ao esquema de funcionamento da prisão, do ponto de vista
disciplinar ou do ponto de vista legal.

Este rompimento com as estruturas da prisão não ocorre da noite para o dia. É
fruto de um trabalho coletivo onde a participação dos diferentes agentes educativos,
inclusive o presidiário, é primordial.

A educação dentro da prisão, na figura do ensino escolar, precisa apoiar-se numa


metodologia que contrarie as bases punitivas e controladoras, próprias deste tipo de
instituição. Princípios como o respeito aos encarcerados e um posicionamento dialógico,
entre os presos e os responsáveis pela execução do programa educativo, são
fundamentais para o exercício de uma prática pedagógica que busque a libertação e a
autonomia de cada sujeito participante.

Segundo Leite (1997, p.10), os educadores que trabalham no ambiente escolar da


prisão precisam criar um

(...) espaço diferente dos outros setores da prisão, onde o preso possa
participar ativamente do processo educativo e ressocializador, sendo
ouvido, valorizado, respeitado, tendo liberdade para pensar e expressar
sua vida como um todo, onde o relacionamento e o trabalho sejam
caracterizados pelo diálogo, pela confiança, solidariedade e disciplina,
sem, ao mesmo tempo, deixar de ser um espaço de produção e
transmissão de novos conhecimentos e valores sociais.

A concretização deste processo acontece, preponderantemente, na prática diária


da sala de aula. É lá que se pode dar início a uma mudança maior no contexto prisional.
Vislumbrar uma realidade diferente, modificada, humanizada é tarefa para aquelas
pessoas que não se conformam com as injustiças encontradas no interior dos presídios. E
é

(...) neste confronto entre o mundo disciplinar da prisão e o espaço da


“cela de aula” que surgem brechas, como surgem em todos os locais
onde existe repressão. São essas brechas, essas oportunidades que
devem ser agarradas pelos educadores (LEME, 2002, p.113).

Apesar de estar inserida numa realidade repleta de contradições, a


escola ali presente pode ser um instrumento para as transformações tão

34
necessárias ao mundo da prisão. E o professor possui uma importância
política-pedagógica fundamental na construção deste espaço de
inovação institucional.

É claro que o professor, o educador que trabalha na escola encarcerada não pode
ter aquele “otimismo ingênuo” (CORTELLA, 2000, p.131) que o faz considerar o espaço
escolar existente dentro da prisão como um espaço salvador, capaz de resolver todos os
problemas inerentes à esfera prisional. Entretanto, o contexto escolar pode possuir um
valor especial na vida do sujeito que o freqüenta e, dependendo de como é organizado,
pode não só colaborar para o cumprimento da pena deste sujeito, mas trazer benefícios
que ultrapassam os limites dos processos judiciais, fazendo prevalecer o ato de educar, de
pensar criticamente, de valorizar a vida humana, ao invés de simplesmente ensinar
conteúdos pertencentes a uma determinada grade disciplinar.

Currículo

É preciso que haja uma valorização do espaço escolar na vida da prisão. Porém, a
escola encarcerada não pode preocupar-se somente com o horário das aulas, com os
conteúdos a serem cumpridos em cada disciplina, com a quantidade de alunos
matriculados, com o preenchimento de papéis, de relatórios. A proposta pedagógica
escolar dentro da prisão deve ultrapassar as grades da Matemática, da Geografia, da
Língua Portuguesa etc.

O currículo a ser pensado é maior e o seu planejamento e desenvolvimento


envolve as diferentes áreas atuantes no contexto penitenciário. Assim como não se pode
pensar em reabilitação somente através do trabalho exercido pelos presos nas diferentes
oficinas presentes na prisão, também não podemos imaginar que a escola encarcerada
seja capaz de suprir todas as necessidades da vida de um preso. Outros segmentos que
formam a nossa sociedade precisam ser contemplados no amplo currículo prisional.

Alguns presos acreditam, até mesmo porque não há incentivo a outras atividades,
no trabalho como sendo a única fonte possível para a solução dos males prisionais.
Outros, percebendo que o trabalho não é oferecido a toda população de uma prisão,
participam de movimentos diferentes mantidos ali. Cursos de computação, ensino escolar,
oficinas de desenho e pintura, leituras e escritas literárias são exemplos alternativos de
ocupações que um presídio pode oferecer aos seus encarcerados.

Estava a fim de recuperar o tempo perdido e sabia que, se algum dia


saísse daquela situação, isso me ajudaria na minha reintegração à
sociedade. Afora isso, queria preencher ao máximo o meu tempo, para
não ficar esquentando a cabeça com desdita (OBALUAÊ, 1999, p. 85).

Diante do quadro apresentado, a construção de uma política de humanização nas


prisões brasileiras se faz mais do que necessária. Dar vida à prisão é responsabilidade

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daqueles que estão comprometidos com a vida humana. Afinal, cada prisão abriga 500
pessoas, em média. Não se pode jogar os condenados em um recinto fechado, opressor,
dar-lhes uma comida de má qualidade e ficar esperando uma mágica para que se tornem
cidadãos honestos e trabalhadores.

Aproveitar a realidade de falta de trabalho para implantar e promover o


desenvolvimento de outras opções ocupacionais pode ser uma primeira ação. Entretanto,
oferecer condições físicas e materiais, além de profissionais competentes, é essencial para
que essas atividades possam contribuir à formação humana dos sujeitos que delas
participam.

A necessidade de preencher as horas do dia com alguma ocupação, tentando


quebrar a ociosidade presente, é um indicativo a mais que pode haver uma boa
participação dos presos em tais atividades. A escola, por exemplo, pode aproveitar alguns
aspectos da cultura prisional - como o simples ato de escrever uma carta - para organizar
sua estrutura. Com isso, ela se transformaria em um local atraente e necessário à vida dos
encarcerados.

Propiciar encontros onde o preso perceba-se respeitado e onde seu pensamento e


sua fala sejam valorizados, ajudando-o na compreensão do mundo em que vive e no
reconhecimento das verdadeiras vítimas sociais, são atitudes que ajudam na construção
de um currículo diferente daquele que está em vigência na prisão.

Uma nova construção curricular implica também na desconstrução da identidade


pessoal voltada ao crime, mostrando aos presos que a prisão pode ser um lugar de
convivência em que se busca a autonomia humana de modo coletivo. E há muitos
exemplos espalhados nas prisões Brasil afora, onde vários presos escrevem poesias,
narram as histórias de suas vidas, compõem letras musicais, formam grupos musicais,
produzem diferentes materiais artesanais etc. Isso tudo são indicativos que na prisão há
muito talento que pode colaborar no processo de libertação humana dos sujeitos que se
encontram presos.

Mendes (2001, p.445), através do hábito da leitura que criou dentro da prisão, foi
mudando seus pensamentos e buscando respostas para a sua vida:

(...) As relações criminosas já não me satisfaziam mais. Pouco tinham a me


acrescentar. O submundo do crime começou a me parecer estreito, limitado,
e eu já não cabia mais ali. Minha sensibilidade veio à tona, mais aguçada e
requintada. Comecei a compor poesias, produzir textos, discutir idéias de
profundidade. Logo já estava indagando o que eu era, quem era, por que
era, por que realmente estava preso. Tornei-me um feixe de perguntas cujas
respostas procurava. E era uma puta duma dificuldade, principalmente por
não ter com quem conversar sobre minhas dúvidas.

36
Essa transformação crítica, ou seja, a tomada de consciência vinda deste detento
pode ser um exemplo de que é possível realizar dentro da prisão uma releitura do mundo
experimentado por esta parcela excluída da população.

Um novo espaço

A criação de um espaço que possibilite o encontro dos educadores que atuam na


escola encarcerada é vital para o estabelecimento de um processo reflexivo e dialógico
acerca da educação prisional. Apesar dos argumentos que presenciamos no transcorrer da
pesquisa, afirmando que a própria rotina da prisão inviabiliza qualquer projeto mais
arrojado visando à mudança do espaço existente, acreditamos ser possível a ampliação da
jornada de aula, por exemplo. Com isso, o coletivo de educadores poderia também
assegurar horários concretos de reuniões, desenvolvendo um programa de educação que
se reconhece inacabado, mas consciente da busca de novas possibilidades de ações.

A prisão, há anos, repete seus problemas e apresenta as mesmas necessidades.


É muito comum, quando discutida a temática prisional, presenciarmos afirmações de que o
sistema penitenciário brasileiro não cumpre suas obrigações de reabilitação junto aos
presos. Portanto, a prisão funciona somente como agente punitivo, praticando ações que
rompem os direitos básicos de respeito e sobrevivência da vida humana.

A realidade opressora e violenta da prisão é conhecida por muitos, visto que o


discurso sobre o tema sempre aponta para a ineficácia do seu papel diante às teóricas
possibilidades de reabilitação dos presos. Constatado isso, é preciso ampliar a visão sobre
o sistema penitenciário, ultrapassando as questões de estrutura e objetivos,
compreendendo-o por dentro e entendendo, de fato, como se dá diariamente a vida ali
dentro.

A espera da liberdade física seria menos sufocante se, durante o tempo de


condenação, os presos pudessem participar de atividades que proporcionassem uma
liberdade mental. São empreendimentos simples, mínimos, que a população carcerária
apontou durante nossa pesquisa. Há uma vontade de dinamizar a prisão, pôr vida na
instituição, afinal, “qualquer coisa que os mantenha ocupados é valorizado” (NEGRINI,
2002, p.168). Contudo, as idéias apresentadas estão distantes do atual quadro do sistema
penitenciário nacional, pois o que temos visto são vários presídios sendo construídos e
inaugurados sem uma estrutura mínima, básica, para se efetivar um programa qualitativo
de reabilitação, onde o sujeito preso possa rebelar-se e revelar-se.

Rebelião que ultrapasse os limites daquela que os noticiários de televisão nos


mostram constantemente. A revolta, desta vez, não precisaria de reféns, fogo em
colchões, destruição do patrimônio público. Seria uma rebelião pacífica contra a conduta
autoritária nos programas desenvolvidos na prisão. Rebelião pensada, construída e
efetivada pelo coletivo de presos.

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Revelação que demonstre a consciência de pessoas que vivem à margem social.
Revelação onde a manifestação aponte caminhos possíveis para a realização efetiva das
idéias propostas. Manifestar-se, abordando publicamente, sobre o porquê não participam
do planejamento do “jogo”, restando somente as ações de “jogar” e fielmente obedecer as
instruções do “treinador”.

Rebelião com revelação que formaria a educação transformadora tão almejada por
aqueles que pensam ser possível desenvolver uma dinâmica oposta àquela encontrada
atualmente na prisão. Educação construída e apoiada na pluralidade cultural existente no
ambiente prisional, proporcionando uma convivência participativa entre as pessoas que
cumprem suas penas.

Educação que ultrapasse a funcionalidade da vida de cada um dos sujeitos presos,


dando um fim à alienação vivida há longos anos. Educação que seja retrato de uma
política pública preocupada com a melhoria das condições físicas, materiais e profissionais
da prisão, direcionando as ações para a desconstrução da característica autoritária e
opressora existente há anos nesta instituição, e que ofereça condições para a realização
de projetos que possam ser desenvolvidos no ambiente prisional através da mediação
entre presos e funcionários.

Atividade

Foi falado aqui na construção de um novo espaço escolar, um espaço diferente daqueles
outros que compõem o mundo da prisão. Enquanto professor, como você pode colaborar
para que se alcance esse objetivo à escola encarcerada? Enumere sete ações que, a seu
ver, são fundamentais para que se tenha uma proposta curricular que privilegie as
demandas dessa escola existente entre as grades. A seguir, em forma de seminário,
apresente as ações pensadas por você, argumentando sobre cada uma delas.

Referências

ADORNO, Sérgio. Sistemas penitenciários no Brasil. In: MACHADO, M.L. & MARQUES, J.
B. Azevedo. História de um massacre: Casa de Detenção de São Paulo. São Paulo:
Cortez, 1993.

AMORIM, Luis Antonio. A liberdade regulada e a libertação pela educação. Trabalho de


Conclusão de Curso de Ciências Sociais. UNESP/Marília, 1997.

CORTELLA, Mario Sergio. A escola e o conhecimento: fundamentos epistemológicos e


políticos. 3.ed. São Paulo: Cortez, 2000.

FREIRE, Paulo. Conscientização: teoria e prática da libertação. 3.ed. São Paulo: Moraes,
1980.

LEITE, José Ribeiro. Educação por trás das grades: uma contribuição ao trabalho
educativo, ao preso e à sociedade. Dissertação de Mestrado em Educação.
UNESP/Marília, 1997.

38
LEME, José Gonçalves. A cela de aula: tirando a pena com letras. Dissertação de
Mestrado em Educação. PUC/SP, 2002.

MENDES, Luis Alberto. Memórias de um sobrevivente. São Paulo: Companhia das Letras,
2001.OBALUAÊ, Neninho de. Beco sem saída: eu vivi no Carandiru. Rio de Janeiro: Rosa
dos Tempos, 1999.

NEGRINI, Pedro Paulo. Enjaulado: o amargo relato de um condenado pelo sistema penal.
Rio de Janeiro: Gryphus, 2002.

RAMOS, Hosmany. Pavilhão 9: paixão e morte no Carandiru. São Paulo: Geração


Editorial, 2001.

RUSCHE, Robson. Educação de adultos presos: uma proposta metodológica. São Paulo:
FUNAP, 1995.

SALLA, Fernando. Educação como processo de reabilitação. In: MAIDA, José Domenici
(coord.). Presídios e educação. São Paulo: FUNAP, 1994.

39
Unidade 6
O cárcere e a legislação brasileira

Objetivo
ƒ Identificar as formas de presos existentes em nosso ordenamento
jurídico;
ƒ Conhecer alguns conceitos importantes para o entendimento da pena
e seu cumprimento.

Introdução

Nesta unidade vamos analisar os tipos de preso em nosso ordenamento jurídico e


verificar alguns conceitos importantes para o entendimento jurídico da unidade,
apresentando a vocês conceitos do Direito Penal e Processual Penal, de forma que ao
final seja possível adiantar nos estudos e passar a análise da Lei de Execuções Penais –
LEP.

Os tipos de presos no direito brasileiro

Em nosso ordenamento jurídico brasileiro existem algumas formas de presos, os


presos condenados com sentença penal transitada em julgado e os presos que respondem
ao processo existindo ainda aqueles presos decorrentes de prisão civil por não pagamento
de alimentos ou por infiel depositário.
O primeiro ponto a ser suscitado diz respeito à condição em que se encontra o
individuo quando preso, independente do motivo de sua prisão, pois o mesmo não perde
sua condição de ser humano, perdendo apenas alguns de seus direitos, passando a sua
tutela ao Estado, estando dessa forma em poder deste e a sua disposição.
Diante disso, a responsabilidade pelo preso é do Estado pois o preso possui
direitos que devem ser respeitados e garantidos enquanto perdurar a sua custódia
devendo ser respeitado em suas necessidades e na condição de ser humano.
Mas, quais são os direitos que possui o preso?

40
Como já dissemos, os presos perdem alguns direitos, entre eles esta o direito a
liberdade, alem daqueles que o juiz dispuser em sua sentença, mas não perde a sua
condição de ser humano que devera sempre ser respeitada.
Os direitos e deveres dos presos encontram-se descrito em nosso ordenamento
jurídico vigente, como na Constituição Federal como nas demais legislações
infraconstitucionais, mas o que nos interessa nesse momento é a condição do apenado
que cumpre pena em virtude de uma sentença penal condenatória que lhe infligiu uma
pena de prisão alem da perca de outros direitos devidamente individualizados na pena.
Dessa forma, primeiramente vamos conceituar o que é sentença, pena e prisão.

SENTENÇA

Conceito de sentença em sentido estrito

Segundo Capez (2001, p. 368):

Sentença em sentido estrito (ou sentido próprio) é a


decisão definitiva que o juiz profere solucionando a causa.

Conceito legal de sentença

De acordo com o Código Civil de 2002, em seu art. 162, sentença é o ato pelo qual
o juiz poe termo ao processo decidindo ou não o mérito da causa.

PENA

Conceito: Conceito de Soler

É uma sanção aflitiva (constrangimento) imposta pelo Estado mediante uma ação penal
ao autor de uma infração penal como retribuição de seu ato ilícito consistente na
diminuição de um bem jurídico que cujo fim é evitar novos delitos.

Outros conceitos:

Perda ou privação de um objeto jurídico, princípio legal - Lei.


Castigo na defesa social.

A pena, por sua vez, é um instrumento de controle social que tem o


significado de uma reprovação ou castigo público. Desde a reforma
oitocentista do Direito Penal, guiada pelos ideais iluministas e liberais, que
esse castigo é entendido sobretudo como privação da liberdade. Apesar da
relativização que tem vindo a sofrer, esta ainda hoje é vista como um mal

41
necessário numa sociedade de seres imperfeitos. Mais controversa é a
caracterização das funções que a pena em geral desempenha. A par das
concepções de prevenção geral positiva, que lhe assinalam a função de
restabelecimento do bem jurídico lesado como estrutura reguladora da
interacção comunicativa dos sujeitos, adquirem hoje particular relevo as
concepções neo-retributivas do funcionalismo sistémico, para as quais a pena
é auto-preservação do sistema jurídico-penal ou – o que significa o mesmo –
estabilização da expectativa contrafáctica defraudada com a prática do facto
punível. Estas não negam que a pena possa desempenhar também uma
função de prevenção geral positiva, mas demarcam-se daquelas em três
pontos: por um lado, concebem essa função como “aprendizagem da
fidelidade ao ordenamento jurídico como atitude natural” (Jakobs, 2003, p.56);
por outro lado, subordinam-na ao objectivo mor de confirmação simbólica da
vigência das normas, à luz do qual todo o Direito Penal é funcionalmente
descrito (Jakobs, 1999, pp.106 e ss); por isso, declaram-na incompatível com
o efeito de prevenção especial da pena ou de reinserção social do delinqüente
(Jakobs, 2003, pp.57 e ss).

PRISÃO

Conceito
Segundo o jurista Fernado Capez (2001, p. 219), prisão:
É a privação da liberdade de locomoção determinada por ordem escrita
da autoridade competente ou em caso de flagrante delito.
Conhecendo essas definições, passamos dessa forma a análise dos direitos e
garantias dos presos no ordenamento jurídico brasileiro e, para isso, vamos ter como base
a principal lei que rege o tema, a Lei nº 7.210 de 11 de julho de 1984, que trata das
execuções penais.
Assim, passamos ao estudo de alguns aspectos da Lei de Execuções Penais.

Atividades

1 – Identifique e defina os conceitos legais de Pena, Sentença e Prisão.


2 – Existem diferenças entre os presos previstos em nosso ordenamento jurídico, pontue
as características dos mesmos.

Referências

CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 7. ed. rev. atual. São Paulo: Saraiva, 2001.
www.ifl.pt/dfmp_files/direito_penal
Lei de Execuções Penais - Lei nº 7.210 de 11 de julho de 1984
Código Civil Brasileiro – Lei nº 10.406 de 10 de janeiro de 2002.

42
Unidade 7
Os presos e seus direitos

Objetivo
• Identificar os principais direitos que tem o preso durante o seu
encarceramento e quais os que são reduzidos e negados.
• Conhecer a exceção a esses direitos previstos no Regime Disciplinar
Diferenciado.

Introdução
Nesta unidade vamos discutir e conhecer os direitos e garantias que tem o preso
durante o seu encarceramento, direitos esses garantidos pela Constituição Federal e
demais leis vigentes, além de tecermos as primeiras considerações a respeito das
exceções previstas pelo Regime Disciplinar Diferenciado.

Dos direitos do apenado


A Lei de Execuções Penais, já em seu artigo 3º, define que os limites da
cumprimento da pena estão restritos a sentença e a legislação, mantendo o preso todos os
direitos que não lhe forem expressamente restritos, vejamos:

Art. 3º Ao condenado e ao internado serão assegurados


todos os direitos não atingidos pela sentença ou pela lei.

Dessa forma, o ordenamento jurídico brasileiro visa a vedação de tratamentos


desumanos e vexatórios, uma vez que a pena não possui caráter de vingança contra o
delito cometido pelo apenado, mas tem na re-socialização do apenado a sua primeira e
maior função.
Outro ponto importante a ser destacado, é que a pena deve ser individualizada,
para tanto os presos passarão por uma classificação, com o intuito de avaliar sua
personalidade bem como seus antecedentes penais, para que dessa forma, pessoas com

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menor grau de periculosidade não sejam misturados a presos considerados de alta
periculosidade. Infelizmente, devido a precária situação do sistema carcerário brasileiro,
esses requisitos não vem sendo observados.
Uma vez custodiado o individuo para o cumprimento de sua pena, passa este a
total responsabilidade do Estado, que responde por sua integridade física e moral, pois
como já vimos, não se admite o tratamento vexatório nem tampouco a violência física e
moral.
Além de responder pela integridade física e psíquica do apenado, o Estado é
responsável por fornecer a este as condições mínimas para a manutenção de sua
subsistência. Para isso a Lei de Execuções Penais (LEP), determinou que o Estado deve
fornecer ao apenado a assistência material; à saúde; jurídica; educacional; social e
religiosa.
A assistência material consiste no fornecimento de alimentação e instalações
dignas, vestuário e higiene, sendo que esta assistência material esta expressamente
prevista na LEP, mas infelizmente na maioria dos casos não é observado pelo Estado que
negligencia as suas obrigações e fornece ao apenado condições sub-humanas de
subsistência e com pouca ou nenhuma dignidade.
Da mesma forma temos a previsão da assistência a saúde do apenado, que deve
ser integral, ou seja, deve-se dar ao apenado o atendimento médico, odontológico e
farmacológico não somente em caráter curativo, mas principalmente preventivo, o que
mais uma vez, na maioria dos casos não é cumprido pelo Estado.
A assistência jurídica por sua vez é garantida a todos os presos, mas somente
será uma obrigação do Estado em relação aqueles que não possuírem condições
financeiras de arcar com as custas de um advogado.
No que tange a assistência educacional, o Estado possui a obrigação de fornecer
ao preso pelo menos o ensino fundamental, pois a reintegração do individuo a sociedade,
como função maior da pena, passa obrigatoriamente por um mínimo de educação, que
devera ser complementada por alguma formação técnica ou profissionalizante, que poderá
ser desenvolvida na forma de convenio entre instituições publicas ou privadas, sendo
imprescindível a instalação de uma biblioteca em cada estabelecimento prisional de forma
a propiciar ao preso o gosto pela leitura.
A assistência social do apenado também está prevista na LEP, mais precisamente
em seus art. 22 e 23 que dizem:
Art. 22. A assistência social tem por finalidade amparar o preso e o
internado e prepará-los para o retorno à liberdade.
Art. 23. Incumbe ao serviço de assistência social:
I - conhecer os resultados dos diagnósticos ou exames;
II - relatar, por escrito, ao Diretor do estabelecimento, os problemas e as
dificuldades enfrentadas pelo assistido;
III - acompanhar o resultado das permissões de saídas e das saídas
temporárias;
IV - promover, no estabelecimento, pelos meios disponíveis, a recreação;

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V - promover a orientação do assistido, na fase final do cumprimento da
pena, e do liberando, de modo a facilitar o seu retorno à liberdade;
VI - providenciar a obtenção de documentos, dos benefícios da Previdência
Social e do seguro por acidente no trabalho;
VII - orientar e amparar, quando necessário, a família do preso, do internado
e da vítima.
Possui, ainda, o apenado direito a assistência religiosa independente de seu culto ou
crença em consonância com o disposto no art. 24 da LEP.
A demonstração da preocupação do legislador com a principal função da pena que
consiste na re-socialização do apenado esta amplamente demonstrada quando o mesmo
trata da assistência ao egresso que tem a nítida intenção de dar ao egresso condições
reais de re-inserção social, consistindo essa assistência em dever do Estado.
Essas são as assistências a que se obriga o Estado diante daqueles indivíduos
que estão sob a sua custodia e conseqüentemente sob a sua guarda. A função do Estado
é punitiva em relação aos delitos cometidos pelos indivíduos na vida em sociedade e
decorrentes da própria sociedade evitando dessa forma a vingança particular, mas, de
forma alguma, transfere para o Estado o direito de vingança, mas, sim, o dever de punir e
integrar novamente este individuo ao convívio social ensinando o mesmo a respeitar os
limites sociais e regras do convívio em sociedade.
Mas as assistências não expressam totalmente os direitos e garantias daqueles
que estão sob a tutela estatal, existindo em nosso ordenamento e, ainda em direitos supra
nacionais que devem ser observados no cumprimento de uma pena ou até mesmo na
custódia provisória determinada pelo Judiciário em medida fundamentada. Essas
prerrogativas podem se resumir em:
a) Direito à alimentação e vestimenta fornecidos pelo Estado.
b) Direito a uma ala arejada e higiênica.
c) Direito à visita da família e amigos.
d) Direito de escrever e receber cartas.
e) Direito a ser chamado pelo nome, sem nenhuma discriminação.
f) Direito ao trabalho remunerado em, no mínimo, 3/4 do salário mínimo.
Esses direitos são inerentes a todos os cidadãos, e mantidos ao preso apesar de
sua condição de custodiado.

Regime disciplinar diferenciado (RDD)


Admitem-se algumas exceções quando se trata de indivíduos de alta
periculosidade que podem ser submetidos a regime diferenciado de cumprimento de pena
pelo período máximo de um ano, conhecido como Regime Disciplinar Diferenciado (RDD)
introduzido em nosso ordenamento jurídico pelo lei nº 10.792/03, que alterou entre outros
o art 52 da LEP, que passou a ter a seguinte redação:
Art. 52. A prática de fato previsto como crime doloso constitui falta grave e,
quando ocasione subversão da ordem ou disciplina internas, sujeita o preso

45
provisório, ou condenado, sem prejuízo da sanção penal, ao regime disciplinar
diferenciado, com as seguintes características:
I - duração máxima de trezentos e sessenta dias, sem prejuízo de repetição
da sanção por nova falta grave de mesma espécie, até o limite de um sexto
da pena aplicada;
II - recolhimento em cela individual;
III - visitas semanais de duas pessoas, sem contar as crianças, com duração
de duas horas;
IV - o preso terá direito à saída da cela por 2 horas diárias para banho de sol.
§ 1o O regime disciplinar diferenciado também poderá abrigar presos
provisórios ou condenados, nacionais ou estrangeiros, que apresentem alto
risco para a ordem e a segurança do estabelecimento penal ou da sociedade.
§ 2o Estará igualmente sujeito ao regime disciplinar diferenciado o preso
provisório ou o condenado sob o qual recaiam fundadas suspeitas de
envolvimento ou participação, a qualquer título, em organizações criminosas,
quadrilha ou bando.

Esse regime de cumprimento de pena deverá ser determinado pelo Juiz da


Execução Penal, sendo importante lembrar que ao diretor do estabelecimento prisional
pode determinar a imposição do RDD preventivamente pelo prazo máximo de 10 dias,
devendo então dar conhecimento ao Juiz da Execução para que este decida sobre a
permanência do reeducando no Regime Disciplinar Diferenciado.
Tal regime fere os direitos e garantias previstas pela própria Lei de Execuções
Penais e constitui-se em discussão jurisprudencial e objeto de análise de sua
Constitucionalidade pelo Supremo Tribunal Federal, uma vez que, segundo entendimento
de alguns doutrinadores, fere preceitos constitucionais, sendo, portanto, motivo de
discussões.
Mas este regime constitui-se em caso atípico e aplicado a uma ínfima parcela da
sociedade carcerária brasileira, sendo de nosso interesse nesse estudo a situação da
imensa maioria da população carcerária brasileira, cujo regime de cumprimento de pena se
resume nos regimes Aberto, Semi-Aberto e Fechado, previstos pela legislação brasileira.

Atividade

Faça uma leitura dos artigos trabalhados e enumere os principais direitos que possui o
preso, após leia novamente os direitos que você identificou e veja quais não estão na LEP,
mas que estão garantidos pela Constituição Federal e pelos Direitos Universais do Homem
e do Cidadão.

Referências

Constituição Federal de 1988.


Lei de Execuções Penais – Lei nº 7.210 de 11 de julho de 1984.

46
Unidade 8
A pena privativa de liberdade

Objetivo
• Identificar os regimes em que o preso condenado cumpre a sua pena.
• Conhecer a relação do preso com o trabalho durante o cumprimento de sua
pena.

Introdução
Nesta unidade vamos analisar os regimes de cumprimento das penas privativas de
liberdade e a relação do preso condenado e provisório com o trabalho durante o cárcere,
verificando se o trabalho constitui-se em direito ou dever do preso.

Regimes de cumprimento de penas

O regime de cumprimento de pena define a progressão de alguns direitos que são


concedidos aos presos em virtude do regime inicial de cumprimento de pena definido na
sentença ou decorrente da progressão da pena em função do decurso de tempo e em
virtude do bom comportamento carcerário do apenado.
Mas esses direitos que são inerentes ao preso, de que forma podem ser
requeridos?
Esses direitos devem ser requeridos diretamente ao diretor do presídio pelo
próprio apenado em audiência com o Diretor do estabelecimento carcerário a que tem o
preso direito com o intuito de expor seus problemas e reclamações, seja em relação aos
outros presos ou em relação a tratamento dispensado pelos próprios funcionários do
estabelecimento prisional.
Se for o próprio diretor quem estiver negligenciando ou tolhendo os direitos do
apenado, deve o mesmo contatar com seu advogado para que seja cientificado o Juiz da
Execução para que este lhe garanta os direitos.

47
A forma de contatar o juiz será por intermédio de seu advogado constituído ou
nomeado, mas se o mesmo não tiver advogado ainda, poderá se fazer ouvir por meio de
seus parentes e amigos quando das visitas que lhe são garantidas.
As visitas a que tem direito o preso são aquelas regulamentares de cada
estabelecimento prisional, sendo que as visitas intimas não possuem regulamentação e
podem ser condicionadas as condições físicas do presídio, comportamento do apenado e
discricionariedade das autoridades penitenciárias.
Como já dito, entre os direitos do preso esta a progressão de pena, os indultos e a
comutação da pena. Esses benefícios estão diretamente ligados a condições objetivas e
subjetivas, como o cumprimento de parte da pena, bom comportamento carcerário e
características psicológicas a serem avaliadas, sendo que as decisões são divergentes
possuindo na doutrina e jurisprudência ampla discussão sobre as avaliações subjetivas a
serem aplicadas ao apenado. Sendo que em nossa realidade judiciária brasileira e
principalmente no Estado do Tocantins são avaliadas para fins de concessão, apenas as
características objetivas como o cumprimento do mínimo legal da pena para a concessão
do benefício e o comportamento carcerário do apenado.
Peculiaridades são encontradas no cumprimento das penas pelas presidiárias do
sexo feminino, que possuem direitos especiais como a manutenção da companhia do
recém nascido durante o período de lactação que é para fins legais de 120 (cento e vinte
dias), bem como o cumprimento em unidades prisionais especiais e independentes bem
como serviços e atividades adequadas as suas capacidades.

O trabalho do preso

O trabalho não é um direito, mas sim uma obrigação do preso de acordo com o
disposto no art. 31 da LEP, vejamos:
Art. 31. O condenado à pena privativa de liberdade está obrigado
ao trabalho na medida de suas aptidões e capacidade.
Já ao preso provisório, o trabalho não é obrigatório, mas será facultativo desde
que realizado dentro das dependências do estabelecimento prisional em que o mesmo
estiver custodiado.
Esse trabalho será sempre condizente com as condições físicas e técnicas do
apenado, sendo o mesmo devidamente remunerado de acordo com tabela pré-
estabelecida, e possui um caráter ressocializador, educativo e produtivo, sendo uma forma
eficiente de manutenção da condição humana do apenado.
A remuneração não poderá ser inferior a ¾ do salário mínimo vigente no pais, e
terá as finalidades previstas no art. 29 da LEP, vejamos:
Art. 29. O trabalho do preso será remunerado, mediante prévia tabela,
não podendo ser inferior a 3/4 (três quartos) do salário mínimo.
§ 1° O produto da remuneração pelo trabalho deverá atender:
a) à indenização dos danos causados pelo crime, desde que
determinados judicialmente e não reparados por outros meios;

48
b) à assistência à família;
c) a pequenas despesas pessoais;
d) ao ressarcimento ao Estado das despesas realizadas com a
manutenção do condenado, em proporção a ser fixada e sem prejuízo da
destinação prevista nas letras anteriores.
§ 2º Ressalvadas outras aplicações legais, será depositada a parte
restante para constituição do pecúlio, em Caderneta de Poupança, que
será entregue ao condenado quando posto em liberdade.

Esse trabalho não será confundido com a prestação de serviços à comunidade que
se constitui em forma de pena alternativa ou acessória aplicada ao apenado e, nesse caso
não será remunerado.
Apesar das diversas e importantes funções do trabalho obrigatório do apenado,
esse constitui-se em exceção e não a regra, pois na grande maioria de nossos
estabelecimentos prisionais no Brasil e no Estado do Tocantins, o que reina na verdade é
o ócio, gastando os apenados seus dias assistindo televisão, ouvindo rádio ou pensando
em formas de evadir-se da enxovia ou, em cometer novos crimes, gerando essa
quantidade de ações criminosas oriundas de dentro dos estabelecimentos prisionais, que
verificamos diariamente.
Assim, cabe ao Estado fornecer ao preso atividades laborais condizentes com a
forma de cumprimento de sua pena e em relação a obrigação do preso em exercer
atividade laboral, que se fosse cumprida com certeza diminuiria a reincidência dos presos
no Brasil.
Mas além de ser um dever do preso e obrigação do Estado, este será também um
direito do apenado, uma vez que lhe é garantida essa condição pela Constituição Federal
em seu art. 6º, que diz: ˝São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o
lazer, a segurança, a previdência social, a proteção, à maternidade e à infância, a
assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.˝
A jornada de trabalho a ser aplicada ao apenado será de 06:00 a 08:00 horas
diárias, sendo respeitado os descansos obrigatórios aos domingos e feriados, não se
aplicando ao trabalho do preso as disposições da Consolidação das Leis do Trabalho, de
acordo com o disposto no art. 28, § 2º da LEP, mas sendo garantidos ao trabalhador preso
as indenizações decorrentes de acidente de trabalho e enfermidades provenientes das
atividades desenvolvidas em conformidade com os direitos garantidos aos trabalhadores
livres.
O apenado que provocar intencionalmente acidente de trabalho ou atrasar
propositalmente o trabalho do qual fora incumbido cometera falta grave, devendo ser
penalizado de acordo com a legislação vigente.
Além da remuneração por seu trabalho o apenado que cumpre sua pena em
regime fechado ou semi-aberto também terá direito ao benefício da remição, que consiste
na redução de sua pena em virtude do trabalho, ou seja, para cada três dias de trabalho
reduz um dia de sua pena.

49
Essa remição também é computada para a concessão de benefícios ao apenado
como a progressão de regime de cumprimento da pena e concessão de liberdade
condicional, tudo de acordo com a LEP.
A remição continuará a ser contada no período em que o apenado estiver afastado
de suas atividades em virtude de acidente de trabalho, mas somente será levado em
consideração o período em que o preso estiver afastado das atividades laborais em virtude
de sua enfermidade decorrente do acidente.
O art. 127 da LEP, determina que o preso que cometer falta grave perdera o direito
ao tempo de remição decorrente do serviço já prestado, devendo recomeçar a contagem
do tempo de remição, mas é importante frisar que essa punição é considerada
inconstitucional, uma vez que contraria o direito adquirido e a coisa julgada, além do mais,
na maioria de nossos estabelecimentos prisionais no Brasil sequer é adotada o trabalho
entre os apenados.
Diante da obrigatoriedade do trabalho, no estabelecimento prisional em que houver
o trabalho, o preso não poderá omitir-se de trabalhar, a recusa do apenado em trabalhar,
desde que a recusa não seja por motivo justificado, será considerada falta grave, uma vez
que é direito mas também dever do apenado.
Reflita: O apenado que se recusa ao trabalho é punido com falta grave, e o
Estado, que apesar de sua obrigação, não oportuniza ao preso o trabalho sofre qual
punição?
Entre os direitos dos presos, já vimos que esta o direito a um ambiente limpo e
higiênico, mas isso também constitui-se em obrigação do apenado, que deve manter a sua
cela sempre limpa e organizada, de acordo com o art. 39, IX da LEP.

Atividade

Faça um breve relato sobre a relação do preso com o trabalho durante o cárcere e das
condições que o Estado Brasileiro fornece para que o preso tenha atividades profissionais
durante a prisão.

Referências

Lei de Execuções Penais – Lei nº 7.210 de 11 de julho de 1984.

50
Unidade 9
Os presos e seus deveres

Objetivo
• Conhecer os deveres que possui o preso durante o cumprimento de sua
pena;
• Conhecer as sanções disciplinares aplicadas aos presos quando cometem
alguma falta disciplinar.

Introdução
Nesta unidade, vamos conhecer os deveres que possui o preso para que cumpra a sua
pena na totalidade e de acordo com sentença que lhe foi imposta, e em conseqüência, as
sanções disciplinares a que pode ser submetido o preso em função do descumprimento de
qualquer de suas obrigações e ainda em relação ao cometimento de ato considerado crime
durante o cumprimento da pena.

Dos deveres do preso

Os deveres do apenado quando do cumprimento de sua pena estão inseridos nos


arts. 38 e 39 da LEP que dizem:

Art. 38. Cumpre ao condenado, além das obrigações legais inerentes ao seu
estado, submeter-se às normas de execução da pena.
Art. 39. Constituem deveres do condenado:
I - comportamento disciplinado e cumprimento fiel da sentença;
II - obediência ao servidor e respeito a qualquer pessoa com quem deva
relacionar-se;
III - urbanidade e respeito no trato com os demais condenados;
IV - conduta oposta aos movimentos individuais ou coletivos de fuga ou de
subversão à ordem ou à disciplina;
V - execução do trabalho, das tarefas e das ordens recebidas;

51
VI - submissão à sanção disciplinar imposta;
VII - indenização à vitima ou aos seus sucessores;
VIII - indenização ao Estado, quando possível, das despesas realizadas com
a sua manutenção, mediante desconto proporcional da remuneração do
trabalho;
IX - higiene pessoal e asseio da cela ou alojamento;
X - conservação dos objetos de uso pessoal.
Parágrafo único. Aplica-se ao preso provisório, no que couber, o disposto
neste artigo.

Dessa forma, vamos analisar cada um dos deveres do apenado começando pelo
primeiro dos deveres previstos pela LEP, o comportamento disciplinado e o fiel
cumprimento de sua sentença, pois a disciplina é obrigação do apenado, assim como sua
resignação diante de sua pena, após o seu transito em julgado, assim, a participação do
apenado em rebeliões ou qualquer forma de desrespeito as normas do estabelecimento
prisional, o que não quer dizer que o apenado não possa protestar contra abusos ou
restrições aos seus direitos, mas esses devem ser feitos pelos meios legais.
A segunda obrigação e terceira obrigações previstas pela LEP, dizem respeito ao
trato com os servidores e demais apenados, que deve pautar-se pelos princípios de
respeito e cordialidade, que deve ser mútua, devendo o servidor por sua vez, também
tratar o apenado com cordialidade e respeito.
A quarta obrigação ao apenado trata do dever do apenado de além de não
participar de qualquer movimento subversivo ou com o intuito de evadir-se do
estabelecimento prisional, deve opor-se a estes e inclusive comunicar a administração e
aos servidores do estabelecimento prisional sobre eventuais tentativas dos outros presos.
Esse tema é bastante controverso pois dentro de nosso estabelecimento prisional
brasileiro é sabido que existe um código de ética entre os presos, e dentro deste a punição
para o preso delator é a morte, e assim, sempre deve ser preservada as fonte das
informações obtidas pela administração entre os presos.
A obrigação de cumprir os trabalhos, tarefas e ordem recebidas deve receber a
ressalva de que as ordens que não possuam previsão legal ou atentem contra os direitos
do preso ou qualquer outro direito não devem ser cumpridas, bem como as ordens com o
intuito de colocar o detento em situação de risco ou vexatória e humilhante, devendo nesse
caso comunicar o juiz da execução sobre a desobediência e o seu motivo.
Constitui-se ainda em dever do apenado a indenização da vítima e de sua família,
e ao Estado pelas despesas decorrentes de sua manutenção. Esses deveres na grande
maioria dos casos não são cumpridos, uma vez que na nossa realidade carcerária, a
grande maioria dos apenados não possuía condições de manter o seu sustento com
dignidade fora dos presídios, o que dirá dentro destes, constituindo-se na maioria dos
casos esse dever em letra morta diante da impossibilidade de sua execução, o que não
quer dizer que perdeu sua validade, devendo sempre ser aplicada quando o apenado

52
possui condições financeiras de reparar a vítima ou seus familiares como custear as suas
despesas.
E por fim como já dissemos, deve o presos manter a ordem e a higiene de sua
cela e conservar os seus objetos de uso pessoal, essa limpeza e ordem de sua cela e
objetos fica prejudicada diante da superlotação de nossos estabelecimentos prisionais
onde os presos em sua maioria são mantidos em ambientes superlotados e sem as
mínimas condições de humanidade, fica difícil a cobrança dessas obrigações.
Diante dessas obrigações, quando não observadas as mesmas pelos apenados
estes poderão sofrer sanções disciplinares com o intuito de manter a disciplina do
estabelecimento prisional, de acordo com o disposto no art. 44 da LEP.

Das sanções disciplinares

As sanções bem como as faltas disciplinares somente poderão ser aplicadas


quando previamente previstas pela legislação ou pelos regulamentos que regem o
estabelecimento prisional, sempre respeitados os direitos humanos dos presos, sendo
expressamente vedado a aplicação de cela escura, punição física ou que ponha em risco a
integridade física do preso e devem ser aplicadas a cada preso em virtude de sua atitude,
não aceitando-se a punição coletiva.
Para que possa ser penalizado, é imprescindível que quando de sua prisão seja
informado de todas as regras disciplinares a que estará submetido no estabelecimento
prisional em que estará segregado, ficando a cargo da administração do estabelecimento a
imposição das sanções em caso de descumprimento por parte do detento.
As faltas disciplinares que podem ser cometidas pelos presos podem ser
classificadas em leves, médias e graves com sanções também majoradas em função
classificação que recebe a falta cometida.
As faltas graves estão previstas no art. 50 da LEP que diz:

Art. 50. Comete falta grave o condenado à pena privativa de liberdade que:
I - incitar ou participar de movimento para subverter a ordem ou a disciplina;
II - fugir;
III - possuir, indevidamente, instrumento capaz de ofender a integridade física
de outrem;
IV - provocar acidente de trabalho;
V - descumprir, no regime aberto, as condições impostas;
VI - inobservar os deveres previstos nos incisos II e V, do artigo 39, desta Lei.
Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se, no que couber, ao preso
provisório.

Apenas as faltas graves estão previstas na LEP, as demais são de competência da


administração do estabelecimento prisional que vai defini-las em seus regimentos.

53
Outra questão a respeito das sanções a serem aplicadas diz respeito ao Regime
Disciplinar Diferenciado que foi adicionado pela lei 10.792 de 2003, alterando os seguintes
artigos da LEP:

Art. 52. A prática de fato previsto como crime doloso constitui falta grave e,
quando ocasione subversão da ordem ou disciplina internas, sujeita o preso
provisório, ou condenado, sem prejuízo da sanção penal, ao regime disciplinar
diferenciado, com as seguintes características:
I - duração máxima de trezentos e sessenta dias, sem prejuízo de repetição
da sanção por nova falta grave de mesma espécie, até o limite de um sexto
da pena aplicada;
II - recolhimento em cela individual;
III - visitas semanais de duas pessoas, sem contar as crianças, com duração
de duas horas; IV - o preso terá direito à saída da cela por 2 horas diárias
para banho de sol.
§ 1o O regime disciplinar diferenciado também poderá abrigar presos
provisórios ou condenados, nacionais ou estrangeiros, que apresentem alto
risco para a ordem e a segurança do estabelecimento penal ou da sociedade.
§ 2o Estará igualmente sujeito ao regime disciplinar diferenciado o preso
provisório ou o condenado sob o qual recaiam fundadas suspeitas de
envolvimento ou participação, a qualquer título, em organizações criminosas,
quadrilha ou bando.

As sanções disciplinares vão ser aplicadas de acordo com a gravidade da falta


cometida e podem ser advertência verbal; repreensão; suspensão ou restrição de direitos;
isolamento na própria cela, ou em local adequado, nos estabelecimentos que possuam
alojamento coletivo e a inclusão no regime disciplinar diferenciado, sendo que esta última
somente poderá ocorrer mediante decisão judicial fundamentada, as demais serão
aplicadas pelo administrador do estabelecimento prisional.
Além das sanções, poderá ser concedido ao preso recompensas em função de
seu bom comportamento carcerário entre outros pontos positivos apresentados por este no
cumprimento de sua pena. Estas recompensas constituem-se em elogios e concessão de
regalias definidas pela administração de estabelecimento prisional, como por exemplo,
maior tempo de banho de sol.
Para a aplicação de qualquer sanção disciplinar, deverão ser levadas em conta as
características individuais do preso, as condições em que ocorreu o fato e suas
conseqüências e o tempo de prisão do preso faltoso, aplicando no caso de falta grave, o
isolamento, a restrição de direitos pelo prazo máximo de trinta dias e o RDD, pelo prazo
máximo de 365 dias. Mas para a aplicação de qualquer sanção será imprescindível a
instauração de procedimento administrativo para a sua apuração sendo garantido ao
apenado a ampla defesa, sob pena de incorrer a autoridade administrativa do
estabelecimento prisional em abuso de autoridade.

54
Atividade

Diante da leitura da presente unidade, faça uma pequena síntese da mesma, pontuando
os principais deveres e as sanções a que o preso pode ser submetido em função delas.

Referências

Lei de Execuções Penais – Lei nº 7.210 de 11 de julho de 1984.

55
Unidade 10
A organização da prisão

Objetivo
• Conhecer a organização administrativa dos estabelecimentos prisionais;
• Conhecer os tipos de estabelecimento prisional.

Introdução
Nesta unidade, vamos conhecer a organização administrativa dos
estabelecimentos prisionais e os tipos de estabelecimento prisional em que serão
cumpridas as penas privativas de liberdade.

Dos órgãos da administração penitenciária

Para realizar e fiscalizar o cumprimento da pena, a legislação prevê a existência


de órgãos com funções diversas dentro da organização penitenciária, esses órgãos estão
previstos na LEP em seu art. 61 que diz:

Art. 61. São órgãos da execução penal:


I - o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária;
II - o Juízo da Execução;
III - o Ministério Público;
IV - o Conselho Penitenciário;
V - os Departamentos Penitenciários;
VI - o Patronato;
VII - o Conselho da Comunidade.
O primeiro órgão é o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciaria, que
terá a sua sede em Brasília – DF, e será sujeita ao Ministério da Justiça e terá como
funções o descrito no art. 64 da LEP, vejamos:

56
Art. 64. Ao Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, no
exercício de suas atividades, em âmbito federal ou estadual, incumbe:
I - propor diretrizes da política criminal quanto à prevenção do delito,
administração da Justiça Criminal e execução das penas e das medidas de
segurança;
II - contribuir na elaboração de planos nacionais de desenvolvimento,
sugerindo as metas e prioridades da política criminal e penitenciária;
III - promover a avaliação periódica do sistema criminal para a sua adequação
às necessidades do País;
IV - estimular e promover a pesquisa criminológica;
V - elaborar programa nacional penitenciário de formação e aperfeiçoamento
do servidor;
VI - estabelecer regras sobre a arquitetura e construção de estabelecimentos
penais e casas de albergados;
VII - estabelecer os critérios para a elaboração da estatística criminal;
VIII - inspecionar e fiscalizar os estabelecimentos penais, bem assim informar-
se, mediante relatórios do Conselho Penitenciário, requisições, visitas ou
outros meios, acerca do desenvolvimento da execução penal nos Estados,
Territórios e Distrito Federal, propondo às autoridades dela incumbida as
medidas necessárias ao seu aprimoramento;
IX - representar ao Juiz da execução ou à autoridade administrativa para
instauração de sindicância ou procedimento administrativo, em caso de
violação das normas referentes à execução penal;
X - representar à autoridade competente para a interdição, no todo ou em
parte, de estabelecimento penal.

O segundo órgão é o Juízo da Execução, que será sempre o da Comarca em que estiver
cumprindo a pena o preso, não estando ligado ao juiz que proferiu a sentença, mas em
alguns casos pode ser o mesmo magistrado, não havendo qualquer vedação nesse
sentido. As funções do juízo da execução estão previstos no art. 66 da LEP, que assim
define:
Art. 66. Compete ao Juiz da execução:
I - aplicar aos casos julgados lei posterior que de qualquer modo favorecer o
condenado;
II - declarar extinta a punibilidade;
III - decidir sobre:
a) soma ou unificação de penas;
b) progressão ou regressão nos regimes;
c) detração e remição da pena;
d) suspensão condicional da pena;
e) livramento condicional;
f) incidentes da execução.

57
IV - autorizar saídas temporárias;
V - determinar:
a) a forma de cumprimento da pena restritiva de direitos e fiscalizar sua
execução;
b) a conversão da pena restritiva de direitos e de multa em privativa de
liberdade;
c) a conversão da pena privativa de liberdade em restritiva de direitos;
d) a aplicação da medida de segurança, bem como a substituição da pena por
medida de segurança;
e) a revogação da medida de segurança;
f) a desinternação e o restabelecimento da situação anterior;
g) o cumprimento de pena ou medida de segurança em outra comarca;
h) a remoção do condenado na hipótese prevista no § 1º, do artigo 86, desta
Lei.
VI - zelar pelo correto cumprimento da pena e da medida de segurança;
VII - inspecionar, mensalmente, os estabelecimentos penais, tomando
providências para o adequado funcionamento e promovendo, quando for o
caso, a apuração de responsabilidade;
VIII - interditar, no todo ou em parte, estabelecimento penal que estiver
funcionando em condições inadequadas ou com infringência aos dispositivos
desta Lei;
IX - compor e instalar o Conselho da Comunidade.
X – emitir anualmente atestado de pena a cumprir.

O Ministério Público age na execução como Fiscal da Lei, cuidando para que as
penas impostas sejam cumpridas dentro de seus limites e garantindo ainda a segurança e
direitos dos apenados, o art. 68 da LEP, define as funções do Ministério Público na
execução da pena, vejamos:

Art. 68. Incumbe, ainda, ao Ministério Público:


I - fiscalizar a regularidade formal das guias de recolhimento e de
internamento;
II - requerer:
a) todas as providências necessárias ao desenvolvimento do processo
executivo;
b) a instauração dos incidentes de excesso ou desvio de execução;
c) a aplicação de medida de segurança, bem como a substituição da pena por
medida de segurança;
d) a revogação da medida de segurança;
e) a conversão de penas, a progressão ou regressão nos regimes e a
revogação da suspensão condicional da pena e do livramento condicional;
f) a internação, a desinternação e o restabelecimento da situação anterior.

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III - interpor recursos de decisões proferidas pela autoridade judiciária,
durante a execução.
Parágrafo único. O órgão do Ministério Público visitará mensalmente os
estabelecimentos penais, registrando a sua presença em livro próprio.

O Conselho penitenciário terá como função a fiscalização e atuará ainda, como


órgão consultivo para a efetiva execução da pena, seus membros serão indicados pelo
Governador do Estado e terão mandatos de 4 anos, escolhidos entre professores de direito
das áreas de Direito Penal e Processo Penal. A organização desses conselhos seguirá a
legislação Estadual e Federal sobre o tema e terá como funções aquelas definidas no art.
70 da LEP, que diz:

Art. 70. Incumbe ao Conselho Penitenciário:


I - emitir parecer sobre indulto e comutação de pena, excetuada a hipótese
de pedido de indulto com base no estado de saúde do preso;
II - inspecionar os estabelecimentos e serviços penais;
III - apresentar, no 1º (primeiro) trimestre de cada ano, ao Conselho
Nacional de Política Criminal e Penitenciária, relatório dos trabalhos
efetuados no exercício anterior;
IV - supervisionar os patronatos, bem como a assistência aos egressos.

A LEP, prevê ainda a criação do Departamento Penitenciário Nacional que teria


como principal função a execução das políticas nacionais para o sistema penitenciário,
dando suporte financeiro e administrativo ao Conselho Nacional de Política Criminal e
Penitenciária, sendo permitido ainda a criação de Departamentos Locais, com
incumbências definidas na Lei que as instituir. As funções do Departamento Nacional estão
previstos no art. 72 da LEP:

Art. 72. São atribuições do Departamento Penitenciário Nacional:


I - acompanhar a fiel aplicação das normas de execução penal em todo o
Território Nacional;
II - inspecionar e fiscalizar periodicamente os estabelecimentos e serviços
penais;
III - assistir tecnicamente as Unidades Federativas na implementação dos
princípios e regras estabelecidos nesta Lei;
IV - colaborar com as Unidades Federativas mediante convênios, na
implantação de estabelecimentos e serviços penais;
V - colaborar com as Unidades Federativas para a realização de cursos de
formação de pessoal penitenciário e de ensino profissionalizante do
condenado e do internado.
VI – estabelecer, mediante convênios com as unidades federativas, o
cadastro nacional das vagas existentes em estabelecimentos locais

59
destinadas ao cumprimento de penas privativas de liberdade aplicadas pela
justiça de outra unidade federativa, em especial para presos sujeitos a regime
disciplinar.
Parágrafo único. Incumbem também ao Departamento a coordenação e
supervisão dos estabelecimentos penais e de internamento federais.

Importante ainda observar que para o exercício da função de administrador de


estabelecimento prisional a LEP prevê a observância de determinadas exigências, como a
graduação em curso superior entre outras, mas na realidade sabemos que essas
exigências em sua maioria não são observadas ou cumpridas, o que, apesar da lei e da
efetiva necessidade, é mais uma vez descumprida por nossos gestores públicos.
Os presídios destinados ao cumprimento de pena por pessoas do sexo feminino
deverão ser administradas e ter entre seus funcionários somente pessoas do sexo
feminino.
E por fim, teremos o Patronato e o Conselho da Comunidade, o primeiro destina-
se a prestar auxilio ao egresso e ao albergado, e ao segundo compete a preservação da
qualidade de vida do preso e apresentações de relatórios mensais das condições dos
presídios que deverão ser visitados pelos conselhos também mensalmente.

Dos locais de cumprimento de pena

A legislação prevê diversos tipos de local de cumprimento de pena ou custódia


provisória, esses estabelecimentos terão a finalidade de manter sob custódia durante o
cumprimento de suas penas ou enquanto durar o mandado de prisão, e estarão em
consonância com o disposto na legislação. Vejamos dessa forma, o que prevê a legislação
sobre as diversas formas de estabelecimentos destinados a custódia de presos.
Primeiramente vamos analisar as regras referentes a todas as formas de
estabelecimento prisional em consonância o que determina a LEP:

Art. 82. Os estabelecimentos penais destinam-se ao condenado, ao


submetido à medida de segurança, ao preso provisório e ao egresso.
§ 1° A mulher e o maior de sessenta anos, separadamente, serão recolhidos a
estabelecimento próprio e adequado à sua condição pessoal.
§ 2º - O mesmo conjunto arquitetônico poderá abrigar estabelecimentos de
destinação diversa desde que devidamente isolados.
Art. 83. O estabelecimento penal, conforme a sua natureza, deverá contar em
suas dependências com áreas e serviços destinados a dar assistência,
educação, trabalho, recreação e prática esportiva.
§ 1º Haverá instalação destinada a estágio de estudantes universitários.
§ 2º Os estabelecimentos penais destinados a mulheres serão dotados de
berçário, onde as condenadas possam amamentar seus filhos.

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Art. 84. O preso provisório ficará separado do condenado por sentença
transitada em julgado.
§ 1° O preso primário cumprirá pena em seção distinta daquela reservada
para os reincidentes.
§ 2° O preso que, ao tempo do fato, era funcionário da Administração da
Justiça Criminal ficará em dependência separada.
Art. 85. O estabelecimento penal deverá ter lotação compatível com a sua
estrutura e finalidade.
Parágrafo único. O Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária
determinará o limite máximo de capacidade do estabelecimento, atendendo a
sua natureza e peculiaridades.
Art. 86. As penas privativas de liberdade aplicadas pela Justiça de uma
Unidade Federativa podem ser executadas em outra unidade, em
estabelecimento local ou da União.
§ 1o A União Federal poderá construir estabelecimento penal em local distante
da condenação para recolher os condenados, quando a medida se justifique
no interesse da segurança pública ou do próprio condenado.
§ 2° Conforme a natureza do estabelecimento, nele poderão trabalhar os
liberados ou egressos que se dediquem a obras públicas ou ao
aproveitamento de terras ociosas.
§ 3o Caberá ao juiz competente, a requerimento da autoridade administrativa
definir o estabelecimento prisional adequado para abrigar o preso provisório
ou condenado, em atenção ao regime e aos requisitos estabelecidos.

A penitenciária é um dos estabelecimentos prisionais destinados a cumprimento de


pena por presos condenados a pena de reclusão em regime fechado, sempre lembrando
que esse regime é o inicial do cumprimento da pena, podendo o preso progredir de regime
desde que preencha os requisitos legais. De acordo com o já visto nos artigos anteriores, é
obrigatória a separação entre presos provisórios e presos condenados, dessa forma, em
tese, não devem ser custodiados presos provisórios em penitenciária. Vejamos o que diz a
LEP:

Art. 87. A penitenciária destina-se ao condenado à pena de reclusão, em


regime fechado.
Parágrafo único. A União Federal, os Estados, o Distrito Federal e os
Territórios poderão construir Penitenciárias destinadas, exclusivamente, aos
presos provisórios e condenados que estejam em regime fechado, sujeitos ao
regime disciplinar diferenciado, nos termos do art. 52 desta Lei.
Art. 88. O condenado será alojado em cela individual que conterá dormitório,
aparelho sanitário e lavatório.
Parágrafo único. São requisitos básicos da unidade celular:

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a) salubridade do ambiente pela concorrência dos fatores de aeração,
insolação e condicionamento térmico adequado à existência humana;
b) área mínima de 6,00m2 (seis metros quadrados).
Art. 89. Além dos requisitos referidos no artigo anterior, a penitenciária de
mulheres poderá ser dotada de seção para gestante e parturiente e de creche
com a finalidade de assistir ao menor desamparado cuja responsável esteja
presa.
Art. 90. A penitenciária de homens será construída, em local afastado do
centro urbano, à distância que não restrinja a visitação.

Aos presos condenados que cumprem pena em regime semi-aberto, a pena será
cumprida em colônia agrícola, industrial ou similar, sendo necessário dessa forma, um
estabelecimento prisional adequado e condizente com as regras de cumprimento dessa
pena e em acordo com a legislação vigente, assim, a LEP previu a criação desses
estabelecimentos bem como as regras para a sua instalação e funcionamento. Em nosso
Estado do Tocantins só temos um estabelecimento prisional que preenche esses requisitos
que esta localizado na cidade de Gurupi – TO. As regras para esse estabelecimento são
as seguintes:

Art. 91. A Colônia Agrícola, Industrial ou Similar destina-se


ao cumprimento da pena em regime semi-aberto.
Art. 92. O condenado poderá ser alojado em
compartimento coletivo, observados os requisitos da letra
a, do parágrafo único, do artigo 88, desta Lei.
Parágrafo único. São também requisitos básicos das
dependências coletivas:
a) a seleção adequada dos presos;
b) o limite de capacidade máxima que atenda os objetivos
de individualização da pena.

Já para os presos que cumprem a sua pena em regime aberto, o local de


cumprimento será a casa do albergado, local onde também serão cumpridos as penas de
restrição de finais de semana, a LEP por sua vez também preocupou-se em regulamentar
esse estabelecimento prisional:

Art. 93. A Casa do Albergado destina-se ao cumprimento


de pena privativa de liberdade, em regime aberto, e da
pena de limitação de fim de semana.
Art. 94. O prédio deverá situar-se em centro urbano,
separado dos demais estabelecimentos, e caracterizar-se
pela ausência de obstáculos físicos contra a fuga.

62
Art. 95. Em cada região haverá, pelo menos, uma Casa do
Albergado, a qual deverá conter, além dos aposentos para
acomodar os presos, local adequado para cursos e
palestras.
Parágrafo único. O estabelecimento terá instalações para
os serviços de fiscalização e orientação dos condenados.

Um dos requisitos para o cumprimento da pena é a classificação criminológica e


psicológica do apenado, e para isso deveria ser criado um local específico denominado
Centro de Observação, mas que na verdade não é respeitado e implantado pela grande
maioria do sistema prisional brasileiro, mas apesar disso, a LEP previu e definiu as regras
para a criação e funcionamento desses centros:

Art. 96. No Centro de Observação realizar-se-ão os


exames gerais e o criminológico, cujos resultados serão
encaminhados à Comissão Técnica de Classificação.
Parágrafo único. No Centro poderão ser realizadas
pesquisas criminológicas.
Art. 97. O Centro de Observação será instalado em
unidade autônoma ou em anexo a estabelecimento
penal.
Art. 98. Os exames poderão ser realizados pela
Comissão Técnica de Classificação, na falta do Centro
de Observação.

Existem ainda aqueles estabelecimentos destinados aos indivíduos que


necessitam de tratamento em função de terem sido submetidos a medida de segurança e
não a pena privativa de liberdade, esses estabelecimentos deverão ser adequados para
que estes recebam o tratamento necessário uma vez que a medida de segurança não se
constitui em pena, vejamos as regras previstas pela LEP para estes estabelecimentos:

Art. 99. O Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico


destina-se aos inimputáveis e semi-imputáveis referidos
no artigo 26 e seu parágrafo único do Código Penal.
Parágrafo único. Aplica-se ao hospital, no que couber, o
disposto no parágrafo único, do artigo 88, desta Lei.
Art. 100. O exame psiquiátrico e os demais exames
necessários ao tratamento são obrigatórios para todos os
internados.
Art. 101. O tratamento ambulatorial, previsto no artigo 97,
segunda parte, do Código Penal, será realizado no

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Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico ou em
outro local com dependência médica adequada.

E por fim, temos as cadeias públicas que se destinam ao recolhimento única e


exclusivamente de presos provisórios, que deverão ser mantidos próximos ao local em que
responderão ao processo bem como o mais próximo possível de seus familiares, e como já
vimos, os presos provisórios deverão ser mantidos em separado daqueles que estão
cumprindo pena em virtude de condenação. A LEP assim define:

Art. 102. A cadeia pública destina-se ao recolhimento de


presos provisórios.
Art. 103. Cada comarca terá, pelo menos 1 (uma) cadeia
pública a fim de resguardar o interesse da Administração
da Justiça Criminal e a permanência do preso em local
próximo ao seu meio social e familiar.
Art. 104. O estabelecimento de que trata este Capítulo
será instalado próximo de centro urbano, observando-se
na construção as exigências mínimas referidas no artigo
88 e seu parágrafo único desta Lei.

Infelizmente a realidade carcerária que encontramos é diferente, pois vemos um


desrespeito aos direitos dos presos e, também, um desrespeito a legislação, pois em
virtude da falta de estrutura física temos a miscigenação de presos perigosos e
condenados com indivíduos que respondem a processo, contrariando o disposto na
legislação.

Se não temos sequer o respeito decorrente a segregação entre presos provisórios


e condenados nem se fala da questão da análise criminológica dos presos, pois na prática
não existe essa avaliação e, o que vemos é o cumprimento da pena de forma desordenada
propiciando aqueles que cometeram pequenos delitos com criminosos reiterados na
prática de crimes e condenados por crimes bárbaros e brutais, o que faz com que o
criminoso primário tenha na prisão uma verdadeira escola do crime como se tem muito
discutido nos últimos anos.

Além do já discutido, assiste aos presos outros direitos como as saídas


temporárias, a progressão de regimes de cumprimento de pena, as visitas, conforme já
verificamos.

Atividades

1 – Especifique quais os órgãos que compõem a organização da administração prisional.

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2 – Quais os tipos de estabelecimentos prisionais e quais as diferenças que apresentam
entre si.

Referências

Lei de Execuções Penais – Lei nº 7.210 de 11 de julho de 1984.

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Unidade 11
A Lei de Execuções Penais

Objetivo
• Conhecer a Lei de Execuções Penais na íntegra;
• Manusear e utilizar a legislação em seu cotidiano.

Introdução
Nesta unidade, vamos conhecer a Lei de Execuções Penais em sua íntegra, para
que possamos manuseá-la e, habituar-se a interpretação da mesma em seu cotidiano.
Vejamos, então, a Lei de Execuções Penais em sua integra:

LEI Nº 7.210, DE 11 DE JULHO DE 1984.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o Congresso Nacional decreta


e eu sanciono a seguinte Lei:

TÍTULO I

Do Objeto e da Aplicação da Lei de Execução Penal

Art. 1º A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão
criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do
internado.
Art. 2º A jurisdição penal dos Juízes ou Tribunais da Justiça ordinária, em todo o Território
Nacional, será exercida, no processo de execução, na conformidade desta Lei e do Código
de Processo Penal.
Parágrafo único. Esta Lei aplicar-se-á igualmente ao preso provisório e ao condenado pela
Justiça Eleitoral ou Militar, quando recolhido a estabelecimento sujeito à jurisdição
ordinária.

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Art. 3º Ao condenado e ao internado serão assegurados todos os direitos não atingidos
pela sentença ou pela lei.
Parágrafo único. Não haverá qualquer distinção de natureza racial, social, religiosa ou
política.
Art. 4º O Estado deverá recorrer à cooperação da comunidade nas atividades de execução
da pena e da medida de segurança.

TÍTULO II

Do Condenado e do Internado

CAPÍTULO I

Da Classificação

Art. 5º Os condenados serão classificados, segundo os seus antecedentes e


personalidade, para orientar a individualização da execução penal.
Art. 6o A classificação será feita por Comissão Técnica de Classificação que elaborará o
programa individualizador da pena privativa de liberdade adequada ao condenado ou
preso provisório.
Art. 7º A Comissão Técnica de Classificação, existente em cada estabelecimento, será
presidida pelo diretor e composta, no mínimo, por 2 (dois) chefes de serviço, 1 (um)
psiquiatra, 1 (um) psicólogo e 1 (um) assistente social, quando se tratar de condenado à
pena privativa de liberdade.
Parágrafo único. Nos demais casos a Comissão atuará junto ao Juízo da Execução e será
integrada por fiscais do serviço social.
Art. 8º O condenado ao cumprimento de pena privativa de liberdade, em regime fechado,
será submetido a exame criminológico para a obtenção dos elementos necessários a uma
adequada classificação e com vistas à individualização da execução.
Parágrafo único. Ao exame de que trata este artigo poderá ser submetido o condenado ao
cumprimento da pena privativa de liberdade em regime semi-aberto.
Art. 9º A Comissão, no exame para a obtenção de dados reveladores da personalidade,
observando a ética profissional e tendo sempre presentes peças ou informações do
processo, poderá:
I - entrevistar pessoas;
II - requisitar, de repartições ou estabelecimentos privados, dados e informações a respeito
do condenado;
III - realizar outras diligências e exames necessários.

CAPÍTULO II

Da Assistência

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SEÇÃO I

Disposições Gerais

Art. 10. A assistência ao preso e ao internado é dever do Estado, objetivando prevenir o


crime e orientar o retorno à convivência em sociedade.
Parágrafo único. A assistência estende-se ao egresso.
Art. 11. A assistência será:
I - material;
II - à saúde;
III -jurídica;
IV - educacional;
V - social;
VI - religiosa.

SEÇÃO II

Da Assistência Material

Art. 12. A assistência material ao preso e ao internado consistirá no fornecimento de


alimentação, vestuário e instalações higiênicas.
Art. 13. O estabelecimento disporá de instalações e serviços que atendam aos presos nas
suas necessidades pessoais, além de locais destinados à venda de produtos e objetos
permitidos e não fornecidos pela Administração.

SEÇÃO III

Da Assistência à Saúde

Art. 14. A assistência à saúde do preso e do internado de caráter preventivo e curativo,


compreenderá atendimento médico, farmacêutico e odontológico.
§ 1º (Vetado).
§ 2º Quando o estabelecimento penal não estiver aparelhado para prover a assistência
médica necessária, esta será prestada em outro local, mediante autorização da direção do
estabelecimento.

SEÇÃO IV

Da Assistência Jurídica

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Art. 15. A assistência jurídica é destinada aos presos e aos internados sem recursos
financeiros para constituir advogado.
Art. 16. As Unidades da Federação deverão ter serviços de assistência jurídica nos
estabelecimentos penais.

SEÇÃO V

Da Assistência Educacional

Art. 17. A assistência educacional compreenderá a instrução escolar e a formação


profissional do preso e do internado.
Art. 18. O ensino de 1º grau será obrigatório, integrando-se no sistema escolar da Unidade
Federativa.
Art. 19. O ensino profissional será ministrado em nível de iniciação ou de aperfeiçoamento
técnico.
Parágrafo único. A mulher condenada terá ensino profissional adequado à sua condição.
Art. 20. As atividades educacionais podem ser objeto de convênio com entidades públicas
ou particulares, que instalem escolas ou ofereçam cursos especializados.
Art. 21. Em atendimento às condições locais, dotar-se-á cada estabelecimento de uma
biblioteca, para uso de todas as categorias de reclusos, provida de livros instrutivos,
recreativos e didáticos.

SEÇÃO VI

Da Assistência Social

Art. 22. A assistência social tem por finalidade amparar o preso e o internado e prepará-los
para o retorno à liberdade.
Art. 23. Incumbe ao serviço de assistência social:
I - conhecer os resultados dos diagnósticos ou exames;
II - relatar, por escrito, ao Diretor do estabelecimento, os problemas e as dificuldades
enfrentadas pelo assistido;
III - acompanhar o resultado das permissões de saídas e das saídas temporárias;
IV - promover, no estabelecimento, pelos meios disponíveis, a recreação;
V - promover a orientação do assistido, na fase final do cumprimento da pena, e do
liberando, de modo a facilitar o seu retorno à liberdade;
VI - providenciar a obtenção de documentos, dos benefícios da Previdência Social e do
seguro por acidente no trabalho;
VII - orientar e amparar, quando necessário, a família do preso, do internado e da vítima.

SEÇÃO VII

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Da Assistência Religiosa

Art. 24. A assistência religiosa, com liberdade de culto, será prestada aos presos e aos
internados, permitindo-se-lhes a participação nos serviços organizados no estabelecimento
penal, bem como a posse de livros de instrução religiosa.
§ 1º No estabelecimento haverá local apropriado para os cultos religiosos.
§ 2º Nenhum preso ou internado poderá ser obrigado a participar de atividade religiosa.

SEÇÃO VIII

Da Assistência ao Egresso

Art. 25. A assistência ao egresso consiste:


I - na orientação e apoio para reintegrá-lo à vida em liberdade;
II - na concessão, se necessário, de alojamento e alimentação, em estabelecimento
adequado, pelo prazo de 2 (dois) meses.
Parágrafo único. O prazo estabelecido no inciso II poderá ser prorrogado uma única vez,
comprovado, por declaração do assistente social, o empenho na obtenção de emprego.
Art. 26. Considera-se egresso para os efeitos desta Lei:
I - o liberado definitivo, pelo prazo de 1 (um) ano a contar da saída do estabelecimento;
II - o liberado condicional, durante o período de prova.
Art. 27.O serviço de assistência social colaborará com o egresso para a obtenção de
trabalho.

CAPÍTULO III

Do Trabalho

SEÇÃO I

Disposições Gerais

Art. 28. O trabalho do condenado, como dever social e condição de dignidade humana,
terá finalidade educativa e produtiva.
§ 1º Aplicam-se à organização e aos métodos de trabalho as precauções relativas à
segurança e à higiene.
§ 2º O trabalho do preso não está sujeito ao regime da Consolidação das Leis do Trabalho.
Art. 29. O trabalho do preso será remunerado, mediante prévia tabela, não podendo ser
inferior a 3/4 (três quartos) do salário mínimo.
§ 1° O produto da remuneração pelo trabalho deverá atender:
a) à indenização dos danos causados pelo crime, desde que determinados judicialmente e
não reparados por outros meios;

70
b) à assistência à família;
c) a pequenas despesas pessoais;
d) ao ressarcimento ao Estado das despesas realizadas com a manutenção do
condenado, em proporção a ser fixada e sem prejuízo da destinação prevista nas letras
anteriores.
§ 2º Ressalvadas outras aplicações legais, será depositada a parte restante para
constituição do pecúlio, em Caderneta de Poupança, que será entregue ao condenado
quando posto em liberdade.
Art. 30. As tarefas executadas como prestação de serviço à comunidade não serão
remuneradas.

SEÇÃO II

Do Trabalho Interno

Art. 31. O condenado à pena privativa de liberdade está obrigado ao trabalho na medida
de suas aptidões e capacidade.
Parágrafo único. Para o preso provisório, o trabalho não é obrigatório e só poderá ser
executado no interior do estabelecimento.
Art. 32. Na atribuição do trabalho deverão ser levadas em conta a habilitação, a condição
pessoal e as necessidades futuras do preso, bem como as oportunidades oferecidas pelo
mercado.
§ 1º Deverá ser limitado, tanto quanto possível, o artesanato sem expressão econômica,
salvo nas regiões de turismo.
§ 2º Os maiores de 60 (sessenta) anos poderão solicitar ocupação adequada à sua idade.
§ 3º Os doentes ou deficientes físicos somente exercerão atividades apropriadas ao seu
estado.
Art. 33. A jornada normal de trabalho não será inferior a 6 (seis) nem superior a 8 (oito)
horas, com descanso nos domingos e feriados.
Parágrafo único. Poderá ser atribuído horário especial de trabalho aos presos designados
para os serviços de conservação e manutenção do estabelecimento penal.
Art. 34. O trabalho poderá ser gerenciado por fundação, ou empresa pública, com
autonomia administrativa, e terá por objetivo a formação profissional do condenado.
§ 1o. Nessa hipótese, incumbirá à entidade gerenciadora promover e supervisionar a
produção, com critérios e métodos empresariais, encarregar-se de sua comercialização,
bem como suportar despesas, inclusive pagamento de remuneração adequada.
§ 2o Os governos federal, estadual e municipal poderão celebrar convênio com a iniciativa
privada, para implantação de oficinas de trabalho referentes a setores de apoio dos
presídios.
Art. 35. Os órgãos da Administração Direta ou Indireta da União, Estados, Territórios,
Distrito Federal e dos Municípios adquirirão, com dispensa de concorrência pública, os

71
bens ou produtos do trabalho prisional, sempre que não for possível ou recomendável
realizar-se a venda a particulares.
Parágrafo único. Todas as importâncias arrecadadas com as vendas reverterão em favor
da fundação ou empresa pública a que alude o artigo anterior ou, na sua falta, do
estabelecimento penal.

SEÇÃO III

Do Trabalho Externo

Art. 36. O trabalho externo será admissível para os presos em regime fechado somente em
serviço ou obras públicas realizadas por órgãos da Administração Direta ou Indireta, ou
entidades privadas, desde que tomadas as cautelas contra a fuga e em favor da disciplina.
§ 1º O limite máximo do número de presos será de 10% (dez por cento) do total de
empregados na obra.
§ 2º Caberá ao órgão da administração, à entidade ou à empresa empreiteira a
remuneração desse trabalho.
§ 3º A prestação de trabalho à entidade privada depende do consentimento expresso do
preso.
Art. 37. A prestação de trabalho externo, a ser autorizada pela direção do estabelecimento,
dependerá de aptidão, disciplina e responsabilidade, além do cumprimento mínimo de 1/6
(um sexto) da pena.
Parágrafo único. Revogar-se-á a autorização de trabalho externo ao preso que vier a
praticar fato definido como crime, for punido por falta grave, ou tiver comportamento
contrário aos requisitos estabelecidos neste artigo.

CAPÍTULO IV

Dos Deveres, dos Direitos e da Disciplina

SEÇÃO I

Dos Deveres

Art. 38. Cumpre ao condenado, além das obrigações legais inerentes ao seu estado,
submeter-se às normas de execução da pena.
Art. 39. Constituem deveres do condenado:
I - comportamento disciplinado e cumprimento fiel da sentença;
II - obediência ao servidor e respeito a qualquer pessoa com quem deva relacionar-se;
III - urbanidade e respeito no trato com os demais condenados;
IV - conduta oposta aos movimentos individuais ou coletivos de fuga ou de subversão à
ordem ou à disciplina;

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V - execução do trabalho, das tarefas e das ordens recebidas;
VI - submissão à sanção disciplinar imposta;
VII - indenização à vitima ou aos seus sucessores;
VIII - indenização ao Estado, quando possível, das despesas realizadas com a sua
manutenção, mediante desconto proporcional da remuneração do trabalho;
IX - higiene pessoal e asseio da cela ou alojamento;
X - conservação dos objetos de uso pessoal.
Parágrafo único. Aplica-se ao preso provisório, no que couber, o disposto neste artigo.

SEÇÃO II

Dos Direitos

Art. 40 - Impõe-se a todas as autoridades o respeito à integridade física e moral dos


condenados e dos presos provisórios.
Art. 41 - Constituem direitos do preso:
I - alimentação suficiente e vestuário;
II - atribuição de trabalho e sua remuneração;
III - Previdência Social;
IV - constituição de pecúlio;
V - proporcionalidade na distribuição do tempo para o trabalho, o descanso e a recreação;
VI - exercício das atividades profissionais, intelectuais, artísticas e desportivas anteriores,
desde que compatíveis com a execução da pena;
VII - assistência material, à saúde, jurídica, educacional, social e religiosa;
VIII - proteção contra qualquer forma de sensacionalismo;
IX - entrevista pessoal e reservada com o advogado;
X - visita do cônjuge, da companheira, de parentes e amigos em dias determinados;
XI - chamamento nominal;
XII - igualdade de tratamento salvo quanto às exigências da individualização da pena;
XIII - audiência especial com o diretor do estabelecimento;
XIV - representação e petição a qualquer autoridade, em defesa de direito;
XV - contato com o mundo exterior por meio de correspondência escrita, da leitura e de
outros meios de informação que não comprometam a moral e os bons costumes.
XVI – atestado de pena a cumprir, emitido anualmente, sob pena da responsabilidade da
autoridade judiciária competente.
Parágrafo único. Os direitos previstos nos incisos V, X e XV poderão ser suspensos ou
restringidos mediante ato motivado do diretor do estabelecimento.
Art. 42 - Aplica-se ao preso provisório e ao submetido à medida de segurança, no que
couber, o disposto nesta Seção.
Art. 43 - É garantida a liberdade de contratar médico de confiança pessoal do internado ou
do submetido a tratamento ambulatorial, por seus familiares ou dependentes, a fim de
orientar e acompanhar o tratamento.

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Parágrafo único. As divergências entre o médico oficial e o particular serão resolvidas pelo
Juiz da execução.

SEÇÃO III

Da Disciplina

SUBSEÇÃO I

Disposições Gerais

Art. 44. A disciplina consiste na colaboração com a ordem, na obediência às


determinações das autoridades e seus agentes e no desempenho do trabalho.
Parágrafo único. Estão sujeitos à disciplina o condenado à pena privativa de liberdade ou
restritiva de direitos e o preso provisório.
Art. 45. Não haverá falta nem sanção disciplinar sem expressa e anterior previsão legal ou
regulamentar.
§ 1º As sanções não poderão colocar em perigo a integridade física e moral do condenado.
§ 2º É vedado o emprego de cela escura.
§ 3º São vedadas as sanções coletivas.
Art. 46. O condenado ou denunciado, no início da execução da pena ou da prisão, será
cientificado das normas disciplinares.
Art. 47. O poder disciplinar, na execução da pena privativa de liberdade, será exercido pela
autoridade administrativa conforme as disposições regulamentares.
Art. 48. Na execução das penas restritivas de direitos, o poder disciplinar será exercido
pela autoridade administrativa a que estiver sujeito o condenado.
Parágrafo único. Nas faltas graves, a autoridade representará ao Juiz da execução para os
fins dos artigos 118, inciso I, 125, 127, 181, §§ 1º, letra d, e 2º desta Lei.

SUBSEÇÃO II

Das Faltas Disciplinares

Art. 49. As faltas disciplinares classificam-se em leves, médias e graves. A legislação local
especificará as leves e médias, bem assim as respectivas sanções.
Parágrafo único. Pune-se a tentativa com a sanção correspondente à falta consumada.
Art. 50. Comete falta grave o condenado à pena privativa de liberdade que:
I - incitar ou participar de movimento para subverter a ordem ou a disciplina;
II - fugir;
III - possuir, indevidamente, instrumento capaz de ofender a integridade física de outrem;
IV - provocar acidente de trabalho;
V - descumprir, no regime aberto, as condições impostas;

74
VI - inobservar os deveres previstos nos incisos II e V, do artigo 39, desta Lei.
Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se, no que couber, ao preso provisório.
Art. 51. Comete falta grave o condenado à pena restritiva de direitos que:
I - descumprir, injustificadamente, a restrição imposta;
II - retardar, injustificadamente, o cumprimento da obrigação imposta;
III - inobservar os deveres previstos nos incisos II e V, do artigo 39, desta Lei.
Art. 52. A prática de fato previsto como crime doloso constitui falta grave e, quando
ocasione subversão da ordem ou disciplina internas, sujeita o preso provisório, ou
condenado, sem prejuízo da sanção penal, ao regime disciplinar diferenciado, com as
seguintes características:
I - duração máxima de trezentos e sessenta dias, sem prejuízo de repetição da sanção por
nova falta grave de mesma espécie, até o limite de um sexto da pena aplicada;
II - recolhimento em cela individual;
III - visitas semanais de duas pessoas, sem contar as crianças, com duração de duas
horas;
IV - o preso terá direito à saída da cela por 2 horas diárias para banho de sol.
§ 1o O regime disciplinar diferenciado também poderá abrigar presos provisórios ou
condenados, nacionais ou estrangeiros, que apresentem alto risco para a ordem e a
segurança do estabelecimento penal ou da sociedade.
§ 2o Estará igualmente sujeito ao regime disciplinar diferenciado o preso provisório ou o
condenado sob o qual recaiam fundadas suspeitas de envolvimento ou participação, a
qualquer título, em organizações criminosas, quadrilha ou bando.

SUBSEÇÃO III

Das Sanções e das Recompensas

Art. 53. Constituem sanções disciplinares:


I - advertência verbal;
II - repreensão;
III - suspensão ou restrição de direitos (artigo 41, parágrafo único);
IV - isolamento na própria cela, ou em local adequado, nos estabelecimentos que possuam
alojamento coletivo, observado o disposto no artigo 88 desta Lei.
V - inclusão no regime disciplinar diferenciado.
Art. 54. As sanções dos incisos I a IV do art. 53 serão aplicadas por ato motivado do diretor
do estabelecimento e a do inciso V, por prévio e fundamentado despacho do juiz
competente.
§ 1o A autorização para a inclusão do preso em regime disciplinar dependerá de
requerimento circunstanciado elaborado pelo diretor do estabelecimento ou outra
autoridade administrativa.

75
§ 2o A decisão judicial sobre inclusão de preso em regime disciplinar será precedida de
manifestação do Ministério Público e da defesa e prolatada no prazo máximo de quinze
dias.
Art. 55. As recompensas têm em vista o bom comportamento reconhecido em favor do
condenado, de sua colaboração com a disciplina e de sua dedicação ao trabalho.
Art. 56. São recompensas:
I - o elogio;
II - a concessão de regalias.
Parágrafo único. A legislação local e os regulamentos estabelecerão a natureza e a forma
de concessão de regalias.

SUBSEÇÃO IV

Da Aplicação das Sanções

Art. 57. Na aplicação das sanções disciplinares, levar-se-ão em conta a natureza, os


motivos, as circunstâncias e as conseqüências do fato, bem como a pessoa do faltoso e
seu tempo de prisão.
Parágrafo único. Nas faltas graves, aplicam-se as sanções previstas nos incisos III a V do
art. 53 desta Lei.
Art. 58. O isolamento, a suspensão e a restrição de direitos não poderão exceder a trinta
dias, ressalvada a hipótese do regime disciplinar diferenciado.
Parágrafo único. O isolamento será sempre comunicado ao Juiz da execução.

SUBSEÇÃO V

Do Procedimento Disciplinar

Art. 59. Praticada a falta disciplinar, deverá ser instaurado o procedimento para sua
apuração, conforme regulamento, assegurado o direito de defesa.
Parágrafo único. A decisão será motivada.
Art. 60. A autoridade administrativa poderá decretar o isolamento preventivo do faltoso
pelo prazo de até dez dias. A inclusão do preso no regime disciplinar diferenciado, no
interesse da disciplina e da averiguação do fato, dependerá de despacho do juiz
competente.
Parágrafo único. O tempo de isolamento ou inclusão preventiva no regime disciplinar
diferenciado será computado no período de cumprimento da sanção disciplinar.

TÍTULO III

Dos Órgãos da Execução Penal

76
CAPÍTULO I

Disposições Gerais

Art. 61. São órgãos da execução penal:


I - o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária;
II - o Juízo da Execução;
III - o Ministério Público;
IV - o Conselho Penitenciário;
V - os Departamentos Penitenciários;
VI - o Patronato;
VII - o Conselho da Comunidade.

CAPÍTULO II

Do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária

Art. 62. O Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, com sede na Capital da
República, é subordinado ao Ministério da Justiça.
Art. 63. O Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária será integrado por 13
(treze) membros designados através de ato do Ministério da Justiça, dentre professores e
profissionais da área do Direito Penal, Processual Penal, Penitenciário e ciências
correlatas, bem como por representantes da comunidade e dos Ministérios da área social.
Parágrafo único. O mandato dos membros do Conselho terá duração de 2 (dois) anos,
renovado 1/3 (um terço) em cada ano.
Art. 64. Ao Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, no exercício de suas
atividades, em âmbito federal ou estadual, incumbe:
I - propor diretrizes da política criminal quanto à prevenção do delito, administração da
Justiça Criminal e execução das penas e das medidas de segurança;
II - contribuir na elaboração de planos nacionais de desenvolvimento, sugerindo as metas
e prioridades da política criminal e penitenciária;
III - promover a avaliação periódica do sistema criminal para a sua adequação às
necessidades do País;
IV - estimular e promover a pesquisa criminológica;
V - elaborar programa nacional penitenciário de formação e aperfeiçoamento do servidor;
VI - estabelecer regras sobre a arquitetura e construção de estabelecimentos penais e
casas de albergados;
VII - estabelecer os critérios para a elaboração da estatística criminal;
VIII - inspecionar e fiscalizar os estabelecimentos penais, bem assim informar-se, mediante
relatórios do Conselho Penitenciário, requisições, visitas ou outros meios, acerca do
desenvolvimento da execução penal nos Estados, Territórios e Distrito Federal, propondo
às autoridades dela incumbida as medidas necessárias ao seu aprimoramento;

77
IX - representar ao Juiz da execução ou à autoridade administrativa para instauração de
sindicância ou procedimento administrativo, em caso de violação das normas referentes à
execução penal;
X - representar à autoridade competente para a interdição, no todo ou em parte, de
estabelecimento penal.

CAPÍTULO III

Do Juízo da Execução

Art. 65. A execução penal competirá ao Juiz indicado na lei local de organização judiciária
e, na sua ausência, ao da sentença.
Art. 66. Compete ao Juiz da execução:
I - aplicar aos casos julgados lei posterior que de qualquer modo favorecer o condenado;
II - declarar extinta a punibilidade;
III - decidir sobre:
a) soma ou unificação de penas;
b) progressão ou regressão nos regimes;
c) detração e remição da pena;
d) suspensão condicional da pena;
e) livramento condicional;
f) incidentes da execução.
IV - autorizar saídas temporárias;
V - determinar:
a) a forma de cumprimento da pena restritiva de direitos e fiscalizar sua execução;
b) a conversão da pena restritiva de direitos e de multa em privativa de liberdade;
c) a conversão da pena privativa de liberdade em restritiva de direitos;
d) a aplicação da medida de segurança, bem como a substituição da pena por medida de
segurança;
e) a revogação da medida de segurança;
f) a desinternação e o restabelecimento da situação anterior;
g) o cumprimento de pena ou medida de segurança em outra comarca;
h) a remoção do condenado na hipótese prevista no § 1º, do artigo 86, desta Lei.
VI - zelar pelo correto cumprimento da pena e da medida de segurança;
VII - inspecionar, mensalmente, os estabelecimentos penais, tomando providências para o
adequado funcionamento e promovendo, quando for o caso, a apuração de
responsabilidade;
VIII - interditar, no todo ou em parte, estabelecimento penal que estiver funcionando em
condições inadequadas ou com infringência aos dispositivos desta Lei;
IX - compor e instalar o Conselho da Comunidade.
X – emitir anualmente atestado de pena a cumprir.

78
CAPÍTULO IV

Do Ministério Público

Art. 67. O Ministério Público fiscalizará a execução da pena e da medida de segurança,


oficiando no processo executivo e nos incidentes da execução.
Art. 68. Incumbe, ainda, ao Ministério Público:
I - fiscalizar a regularidade formal das guias de recolhimento e de internamento;
II - requerer:
a) todas as providências necessárias ao desenvolvimento do processo executivo;
b) a instauração dos incidentes de excesso ou desvio de execução;
c) a aplicação de medida de segurança, bem como a substituição da pena por medida de
segurança;
d) a revogação da medida de segurança;
e) a conversão de penas, a progressão ou regressão nos regimes e a revogação da
suspensão condicional da pena e do livramento condicional;
f) a internação, a desinternação e o restabelecimento da situação anterior.
III - interpor recursos de decisões proferidas pela autoridade judiciária, durante a
execução.
Parágrafo único. O órgão do Ministério Público visitará mensalmente os estabelecimentos
penais, registrando a sua presença em livro próprio.

CAPÍTULO V

Do Conselho Penitenciário

Art. 69. O Conselho Penitenciário é órgão consultivo e fiscalizador da execução da pena.


§ 1º O Conselho será integrado por membros nomeados pelo Governador do Estado, do
Distrito Federal e dos Territórios, dentre professores e profissionais da área do Direito
Penal, Processual Penal, Penitenciário e ciências correlatas, bem como por representantes
da comunidade. A legislação federal e estadual regulará o seu funcionamento.
§ 2º O mandato dos membros do Conselho Penitenciário terá a duração de 4 (quatro)
anos.
Art. 70. Incumbe ao Conselho Penitenciário:
I - emitir parecer sobre indulto e comutação de pena, excetuada a hipótese de pedido de
indulto com base no estado de saúde do preso;
II - inspecionar os estabelecimentos e serviços penais;
III - apresentar, no 1º (primeiro) trimestre de cada ano, ao Conselho Nacional de Política
Criminal e Penitenciária, relatório dos trabalhos efetuados no exercício anterior;
IV - supervisionar os patronatos, bem como a assistência aos egressos.

CAPÍTULO VI

79
Dos Departamentos Penitenciários

SEÇÃO I

Do Departamento Penitenciário Nacional

Art. 71. O Departamento Penitenciário Nacional, subordinado ao Ministério da Justiça, é


órgão executivo da Política Penitenciária Nacional e de apoio administrativo e financeiro do
Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária.
Art. 72. São atribuições do Departamento Penitenciário Nacional:
I - acompanhar a fiel aplicação das normas de execução penal em todo o Território
Nacional;
II - inspecionar e fiscalizar periodicamente os estabelecimentos e serviços penais;
III - assistir tecnicamente as Unidades Federativas na implementação dos princípios e
regras estabelecidos nesta Lei;
IV - colaborar com as Unidades Federativas mediante convênios, na implantação de
estabelecimentos e serviços penais;
V - colaborar com as Unidades Federativas para a realização de cursos de formação de
pessoal penitenciário e de ensino profissionalizante do condenado e do internado.
VI – estabelecer, mediante convênios com as unidades federativas, o cadastro nacional
das vagas existentes em estabelecimentos locais destinadas ao cumprimento de penas
privativas de liberdade aplicadas pela justiça de outra unidade federativa, em especial para
presos sujeitos a regime disciplinar.
Parágrafo único. Incumbem também ao Departamento a coordenação e supervisão dos
estabelecimentos penais e de internamento federais.

SEÇÃO II

Do Departamento Penitenciário Local

Art. 73. A legislação local poderá criar Departamento Penitenciário ou órgão similar, com
as atribuições que estabelecer.
Art. 74. O Departamento Penitenciário local, ou órgão similar, tem por finalidade
supervisionar e coordenar os estabelecimentos penais da Unidade da Federação a que
pertencer.

SEÇÃO III

Da Direção e do Pessoal dos Estabelecimentos Penais

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Art. 75. O ocupante do cargo de diretor de estabelecimento deverá satisfazer os seguintes
requisitos:
I - ser portador de diploma de nível superior de Direito, ou Psicologia, ou Ciências Sociais,
ou Pedagogia, ou Serviços Sociais;
II - possuir experiência administrativa na área;
III - ter idoneidade moral e reconhecida aptidão para o desempenho da função.
Parágrafo único. O diretor deverá residir no estabelecimento, ou nas proximidades, e
dedicará tempo integral à sua função.
Art. 76. O Quadro do Pessoal Penitenciário será organizado em diferentes categorias
funcionais, segundo as necessidades do serviço, com especificação de atribuições
relativas às funções de direção, chefia e assessoramento do estabelecimento e às demais
funções.
Art. 77. A escolha do pessoal administrativo, especializado, de instrução técnica e de
vigilância atenderá a vocação, preparação profissional e antecedentes pessoais do
candidato.
§ 1° O ingresso do pessoal penitenciário, bem como a progressão ou a ascensão funcional
dependerão de cursos específicos de formação, procedendo-se à reciclagem periódica dos
servidores em exercício.
§ 2º No estabelecimento para mulheres somente se permitirá o trabalho de pessoal do
sexo feminino, salvo quando se tratar de pessoal técnico especializado.

CAPÍTULO VII

Do Patronato

Art. 78. O Patronato público ou particular destina-se a prestar assistência aos albergados e
aos egressos (artigo 26).
Art. 79. Incumbe também ao Patronato:
I - orientar os condenados à pena restritiva de direitos;
II - fiscalizar o cumprimento das penas de prestação de serviço à comunidade e de
limitação de fim de semana;
III - colaborar na fiscalização do cumprimento das condições da suspensão e do livramento
condicional.

CAPÍTULO VIII

Do Conselho da Comunidade

Art. 80. Haverá em cada comarca, um Conselho da Comunidade, composto no mínimo,


por 1 (um) representante de associação comercial ou industrial, 1 (um) advogado indicado
pela Seção da Ordem dos Advogados do Brasil e 1 (um) assistente social escolhido pela
Delegacia Seccional do Conselho Nacional de Assistentes Sociais.

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Parágrafo único. Na falta da representação prevista neste artigo, ficará a critério do Juiz da
execução a escolha dos integrantes do Conselho.
Art. 81. Incumbe ao Conselho da Comunidade:
I - visitar, pelo menos mensalmente, os estabelecimentos penais existentes na comarca;
II - entrevistar presos;
III - apresentar relatórios mensais ao Juiz da execução e ao Conselho Penitenciário;
IV - diligenciar a obtenção de recursos materiais e humanos para melhor assistência ao
preso ou internado, em harmonia com a direção do estabelecimento.

TÍTULO IV

Dos Estabelecimentos Penais

CAPÍTULO I

Disposições Gerais

Art. 82. Os estabelecimentos penais destinam-se ao condenado, ao submetido à medida


de segurança, ao preso provisório e ao egresso.
§ 1° A mulher e o maior de sessenta anos, separadamente, serão recolhidos a
estabelecimento próprio e adequado à sua condição pessoal.
§ 2º - O mesmo conjunto arquitetônico poderá abrigar estabelecimentos de destinação
diversa desde que devidamente isolados.
Art. 83. O estabelecimento penal, conforme a sua natureza, deverá contar em suas
dependências com áreas e serviços destinados a dar assistência, educação, trabalho,
recreação e prática esportiva.
§ 1º Haverá instalação destinada a estágio de estudantes universitários.
§ 2º Os estabelecimentos penais destinados a mulheres serão dotados de berçário, onde
as condenadas possam amamentar seus filhos.
Art. 84. O preso provisório ficará separado do condenado por sentença transitada em
julgado.
§ 1° O preso primário cumprirá pena em seção distinta daquela reservada para os
reincidentes.
§ 2° O preso que, ao tempo do fato, era funcionário da Administração da Justiça Criminal
ficará em dependência separada.
Art. 85. O estabelecimento penal deverá ter lotação compatível com a sua estrutura e
finalidade.
Parágrafo único. O Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária determinará o
limite máximo de capacidade do estabelecimento, atendendo a sua natureza e
peculiaridades.

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Art. 86. As penas privativas de liberdade aplicadas pela Justiça de uma Unidade
Federativa podem ser executadas em outra unidade, em estabelecimento local ou da
União.
§ 1o A União Federal poderá construir estabelecimento penal em local distante da
condenação para recolher os condenados, quando a medida se justifique no interesse da
segurança pública ou do próprio condenado.
§ 2° Conforme a natureza do estabelecimento, nele poderão trabalhar os liberados ou
egressos que se dediquem a obras públicas ou ao aproveitamento de terras ociosas.
§ 3o Caberá ao juiz competente, a requerimento da autoridade administrativa definir o
estabelecimento prisional adequado para abrigar o preso provisório ou condenado, em
atenção ao regime e aos requisitos estabelecidos.

CAPÍTULO II

Da Penitenciária

Art. 87. A penitenciária destina-se ao condenado à pena de reclusão, em regime fechado.


Parágrafo único. A União Federal, os Estados, o Distrito Federal e os Territórios poderão
construir Penitenciárias destinadas, exclusivamente, aos presos provisórios e condenados
que estejam em regime fechado, sujeitos ao regime disciplinar diferenciado, nos termos do
art. 52 desta Lei.
Art. 88. O condenado será alojado em cela individual que conterá dormitório, aparelho
sanitário e lavatório.
Parágrafo único. São requisitos básicos da unidade celular:
a) salubridade do ambiente pela concorrência dos fatores de aeração, insolação e
condicionamento térmico adequado à existência humana;
b) área mínima de 6,00m2 (seis metros quadrados).
Art. 89. Além dos requisitos referidos no artigo anterior, a penitenciária de mulheres poderá
ser dotada de seção para gestante e parturiente e de creche com a finalidade de assistir
ao menor desamparado cuja responsável esteja presa.
Art. 90. A penitenciária de homens será construída, em local afastado do centro urbano, à
distância que não restrinja a visitação.

CAPÍTULO III

Da Colônia Agrícola, Industrial ou Similar

Art. 91. A Colônia Agrícola, Industrial ou Similar destina-se ao cumprimento da pena em


regime semi-aberto.
Art. 92. O condenado poderá ser alojado em compartimento coletivo, observados os
requisitos da letra a, do parágrafo único, do artigo 88, desta Lei.
Parágrafo único. São também requisitos básicos das dependências coletivas:

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a) a seleção adequada dos presos;
b) o limite de capacidade máxima que atenda os objetivos de individualização da pena.

CAPÍTULO IV

Da Casa do Albergado

Art. 93. A Casa do Albergado destina-se ao cumprimento de pena privativa de liberdade,


em regime aberto, e da pena de limitação de fim de semana.
Art. 94. O prédio deverá situar-se em centro urbano, separado dos demais
estabelecimentos, e caracterizar-se pela ausência de obstáculos físicos contra a fuga.
Art. 95. Em cada região haverá, pelo menos, uma Casa do Albergado, a qual deverá
conter, além dos aposentos para acomodar os presos, local adequado para cursos e
palestras.
Parágrafo único. O estabelecimento terá instalações para os serviços de fiscalização e
orientação dos condenados.

CAPÍTULO V

Do Centro de Observação

Art. 96. No Centro de Observação realizar-se-ão os exames gerais e o criminológico, cujos


resultados serão encaminhados à Comissão Técnica de Classificação.
Parágrafo único. No Centro poderão ser realizadas pesquisas criminológicas.
Art. 97. O Centro de Observação será instalado em unidade autônoma ou em anexo a
estabelecimento penal.
Art. 98. Os exames poderão ser realizados pela Comissão Técnica de Classificação, na
falta do Centro de Observação.

CAPÍTULO VI

Do Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico

Art. 99. O Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico destina-se aos inimputáveis e


semi-imputáveis referidos no artigo 26 e seu parágrafo único do Código Penal.
Parágrafo único. Aplica-se ao hospital, no que couber, o disposto no parágrafo único, do
artigo 88, desta Lei.
Art. 100. O exame psiquiátrico e os demais exames necessários ao tratamento são
obrigatórios para todos os internados.
Art. 101. O tratamento ambulatorial, previsto no artigo 97, segunda parte, do Código Penal,
será realizado no Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico ou em outro local com
dependência médica adequada.

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CAPÍTULO VII

Da Cadeia Pública

Art. 102. A cadeia pública destina-se ao recolhimento de presos provisórios.


Art. 103. Cada comarca terá, pelo menos 1 (uma) cadeia pública a fim de resguardar o
interesse da Administração da Justiça Criminal e a permanência do preso em local próximo
ao seu meio social e familiar.
Art. 104. O estabelecimento de que trata este Capítulo será instalado próximo de centro
urbano, observando-se na construção as exigências mínimas referidas no artigo 88 e seu
parágrafo único desta Lei.

TÍTULO V

Da Execução das Penas em Espécie

CAPÍTULO I

Das Penas Privativas de Liberdade

SEÇÃO I

Disposições Gerais

Art. 105. Transitando em julgado a sentença que aplicar pena privativa de liberdade, se o
réu estiver ou vier a ser preso, o Juiz ordenará a expedição de guia de recolhimento para a
execução.
Art. 106. A guia de recolhimento, extraída pelo escrivão, que a rubricará em todas as
folhas e a assinará com o Juiz, será remetida à autoridade administrativa incumbida da
execução e conterá:
I - o nome do condenado;
II - a sua qualificação civil e o número do registro geral no órgão oficial de identificação;
III - o inteiro teor da denúncia e da sentença condenatória, bem como certidão do trânsito
em julgado;
IV - a informação sobre os antecedentes e o grau de instrução;
V - a data da terminação da pena;
VI - outras peças do processo reputadas indispensáveis ao adequado tratamento
penitenciário.
§ 1º Ao Ministério Público se dará ciência da guia de recolhimento.
§ 2º A guia de recolhimento será retificada sempre que sobrevier modificação quanto ao
início da execução ou ao tempo de duração da pena.

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§ 3° Se o condenado, ao tempo do fato, era funcionário da Administração da Justiça
Criminal, far-se-á, na guia, menção dessa circunstância, para fins do disposto no § 2°, do
artigo 84, desta Lei.
Art. 107. Ninguém será recolhido, para cumprimento de pena privativa de liberdade, sem a
guia expedida pela autoridade judiciária.
§ 1° A autoridade administrativa incumbida da execução passará recibo da guia de
recolhimento para juntá-la aos autos do processo, e dará ciência dos seus termos ao
condenado.
§ 2º As guias de recolhimento serão registradas em livro especial, segundo a ordem
cronológica do recebimento, e anexadas ao prontuário do condenado, aditando-se, no
curso da execução, o cálculo das remições e de outras retificações posteriores.
Art. 108. O condenado a quem sobrevier doença mental será internado em Hospital de
Custódia e Tratamento Psiquiátrico.
Art. 109. Cumprida ou extinta a pena, o condenado será posto em liberdade, mediante
alvará do Juiz, se por outro motivo não estiver preso.

SEÇÃO II

Dos Regimes

Art. 110. O Juiz, na sentença, estabelecerá o regime no qual o condenado iniciará o


cumprimento da pena privativa de liberdade, observado o disposto no artigo 33 e seus
parágrafos do Código Penal.
Art. 111. Quando houver condenação por mais de um crime, no mesmo processo ou em
processos distintos, a determinação do regime de cumprimento será feita pelo resultado da
soma ou unificação das penas, observada, quando for o caso, a detração ou remição.
Parágrafo único. Sobrevindo condenação no curso da execução, somar-se-á a pena ao
restante da que está sendo cumprida, para determinação do regime.
Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva com a
transferência para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o preso
tiver cumprido ao menos um sexto da pena no regime anterior e ostentar bom
comportamento carcerário, comprovado pelo diretor do estabelecimento, respeitadas as
normas que vedam a progressão.
§ 1o A decisão será sempre motivada e precedida de manifestação do Ministério Público e
do defensor.
§ 2o Idêntico procedimento será adotado na concessão de livramento condicional, indulto e
comutação de penas, respeitados os prazos previstos nas normas vigentes.
Art. 113. O ingresso do condenado em regime aberto supõe a aceitação de seu programa
e das condições impostas pelo Juiz.
Art. 114. Somente poderá ingressar no regime aberto o condenado que:
I - estiver trabalhando ou comprovar a possibilidade de fazê-lo imediatamente;

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II - apresentar, pelos seus antecedentes ou pelo resultado dos exames a que foi
submetido, fundados indícios de que irá ajustar-se, com autodisciplina e senso de
responsabilidade, ao novo regime.
Parágrafo único. Poderão ser dispensadas do trabalho as pessoas referidas no artigo 117
desta Lei.
Art. 115. O Juiz poderá estabelecer condições especiais para a concessão de regime
aberto, sem prejuízo das seguintes condições gerais e obrigatórias:
I - permanecer no local que for designado, durante o repouso e nos dias de folga;
II - sair para o trabalho e retornar, nos horários fixados;
III - não se ausentar da cidade onde reside, sem autorização judicial;
IV - comparecer a Juízo, para informar e justificar as suas atividades, quando for
determinado.
Art. 116. O Juiz poderá modificar as condições estabelecidas, de ofício, a requerimento do
Ministério Público, da autoridade administrativa ou do condenado, desde que as
circunstâncias assim o recomendem.
Art. 117. Somente se admitirá o recolhimento do beneficiário de regime aberto em
residência particular quando se tratar de:
I - condenado maior de 70 (setenta) anos;
II - condenado acometido de doença grave;
III - condenada com filho menor ou deficiente físico ou mental;
IV - condenada gestante.
Art. 118. A execução da pena privativa de liberdade ficará sujeita à forma regressiva, com
a transferência para qualquer dos regimes mais rigorosos, quando o condenado:
I - praticar fato definido como crime doloso ou falta grave;
II - sofrer condenação, por crime anterior, cuja pena, somada ao restante da pena em
execução, torne incabível o regime (artigo 111).
§ 1° O condenado será transferido do regime aberto se, além das hipóteses referidas nos
incisos anteriores, frustrar os fins da execução ou não pagar, podendo, a multa
cumulativamente imposta.
§ 2º Nas hipóteses do inciso I e do parágrafo anterior, deverá ser ouvido previamente o
condenado.
Art. 119. A legislação local poderá estabelecer normas complementares para o
cumprimento da pena privativa de liberdade em regime aberto (artigo 36, § 1º, do Código
Penal).

SEÇÃO III

Das Autorizações de Saída

SUBSEÇÃO I

Da Permissão de Saída

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Art. 120. Os condenados que cumprem pena em regime fechado ou semi-aberto e os
presos provisórios poderão obter permissão para sair do estabelecimento, mediante
escolta, quando ocorrer um dos seguintes fatos:
I - falecimento ou doença grave do cônjuge, companheira, ascendente, descendente ou
irmão;
II - necessidade de tratamento médico (parágrafo único do artigo 14).
Parágrafo único. A permissão de saída será concedida pelo diretor do estabelecimento
onde se encontra o preso.
Art. 121. A permanência do preso fora do estabelecimento terá a duração necessária à
finalidade da saída.

SUBSEÇÃO II

Da Saída Temporária

Art. 122. Os condenados que cumprem pena em regime semi-aberto poderão obter
autorização para saída temporária do estabelecimento, sem vigilância direta, nos seguintes
casos:
I - visita à família;
II - freqüência a curso supletivo profissionalizante, bem como de instrução do 2º grau ou
superior, na Comarca do Juízo da Execução;
III - participação em atividades que concorram para o retorno ao convívio social.
Art. 123. A autorização será concedida por ato motivado do Juiz da execução, ouvidos o
Ministério Público e a administração penitenciária e dependerá da satisfação dos seguintes
requisitos:
I - comportamento adequado;
II - cumprimento mínimo de 1/6 (um sexto) da pena, se o condenado for primário, e 1/4 (um
quarto), se reincidente;
III - compatibilidade do benefício com os objetivos da pena.
Art. 124. A autorização será concedida por prazo não superior a 7 (sete) dias, podendo ser
renovada por mais 4 (quatro) vezes durante o ano.
Parágrafo único. Quando se tratar de freqüência a curso profissionalizante, de instrução de
2º grau ou superior, o tempo de saída será o necessário para o cumprimento das
atividades discentes.
Art. 125. O benefício será automaticamente revogado quando o condenado praticar fato
definido como crime doloso, for punido por falta grave, desatender as condições impostas
na autorização ou revelar baixo grau de aproveitamento do curso.
Parágrafo único. A recuperação do direito à saída temporária dependerá da absolvição no
processo penal, do cancelamento da punição disciplinar ou da demonstração do
merecimento do condenado.

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SEÇÃO IV

Da Remição

Art. 126. O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semi-aberto poderá
remir, pelo trabalho, parte do tempo de execução da pena.
§ 1º A contagem do tempo para o fim deste artigo será feita à razão de 1 (um) dia de pena
por 3 (três) de trabalho.
§ 2º O preso impossibilitado de prosseguir no trabalho, por acidente, continuará a
beneficiar-se com a remição.
§ 3º A remição será declarada pelo Juiz da execução, ouvido o Ministério Público.
Art. 127. O condenado que for punido por falta grave perderá o direito ao tempo remido,
começando o novo período a partir da data da infração disciplinar.
Art. 128. O tempo remido será computado para a concessão de livramento condicional e
indulto.
Art. 129. A autoridade administrativa encaminhará mensalmente ao Juízo da execução
cópia do registro de todos os condenados que estejam trabalhando e dos dias de trabalho
de cada um deles.
Parágrafo único. Ao condenado dar-se-á relação de seus dias remidos.
Art. 130. Constitui o crime do artigo 299 do Código Penal declarar ou atestar falsamente
prestação de serviço para fim de instruir pedido de remição.

SEÇÃO V

Do Livramento Condicional

Art. 131. O livramento condicional poderá ser concedido pelo Juiz da execução, presentes
os requisitos do artigo 83, incisos e parágrafo único, do Código Penal, ouvidos o Ministério
Público e Conselho Penitenciário.
Art. 132. Deferido o pedido, o Juiz especificará as condições a que fica subordinado o
livramento.
§ 1º Serão sempre impostas ao liberado condicional as obrigações seguintes:
a) obter ocupação lícita, dentro de prazo razoável se for apto para o trabalho;
b) comunicar periodicamente ao Juiz sua ocupação;
c) não mudar do território da comarca do Juízo da execução, sem prévia autorização
deste.
§ 2° Poderão ainda ser impostas ao liberado condicional, entre outras obrigações, as
seguintes:
a) não mudar de residência sem comunicação ao Juiz e à autoridade incumbida da
observação cautelar e de proteção;
b) recolher-se à habitação em hora fixada;
c) não freqüentar determinados lugares.

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Art. 133. Se for permitido ao liberado residir fora da comarca do Juízo da execução,
remeter-se-á cópia da sentença do livramento ao Juízo do lugar para onde ele se houver
transferido e à autoridade incumbida da observação cautelar e de proteção.
Art. 134. O liberado será advertido da obrigação de apresentar-se imediatamente às
autoridades referidas no artigo anterior.
Art. 135. Reformada a sentença denegatória do livramento, os autos baixarão ao Juízo da
execução, para as providências cabíveis.
Art. 136. Concedido o benefício, será expedida a carta de livramento com a cópia integral
da sentença em 2 (duas) vias, remetendo-se uma à autoridade administrativa incumbida
da execução e outra ao Conselho Penitenciário.
Art. 137. A cerimônia do livramento condicional será realizada solenemente no dia
marcado pelo Presidente do Conselho Penitenciário, no estabelecimento onde está sendo
cumprida a pena, observando-se o seguinte:
I - a sentença será lida ao liberando, na presença dos demais condenados, pelo
Presidente do Conselho Penitenciário ou membro por ele designado, ou, na falta, pelo
Juiz;
II - a autoridade administrativa chamará a atenção do liberando para as condições
impostas na sentença de livramento;
III - o liberando declarará se aceita as condições.
§ 1º De tudo em livro próprio, será lavrado termo subscrito por quem presidir a cerimônia e
pelo liberando, ou alguém a seu rogo, se não souber ou não puder escrever.
§ 2º Cópia desse termo deverá ser remetida ao Juiz da execução.
Art. 138. Ao sair o liberado do estabelecimento penal, ser-lhe-á entregue, além do saldo de
seu pecúlio e do que lhe pertencer, uma caderneta, que exibirá à autoridade judiciária ou
administrativa, sempre que lhe for exigida.
§ 1º A caderneta conterá:
a) a identificação do liberado;
b) o texto impresso do presente Capítulo;
c) as condições impostas.
§ 2º Na falta de caderneta, será entregue ao liberado um salvo-conduto, em que constem
as condições do livramento, podendo substituir-se a ficha de identificação ou o seu retrato
pela descrição dos sinais que possam identificá-lo.
§ 3º Na caderneta e no salvo-conduto deverá haver espaço para consignar-se o
cumprimento das condições referidas no artigo 132 desta Lei.
Art. 139. A observação cautelar e a proteção realizadas por serviço social penitenciário,
Patronato ou Conselho da Comunidade terão a finalidade de:
I - fazer observar o cumprimento das condições especificadas na sentença concessiva do
benefício;
II - proteger o beneficiário, orientando-o na execução de suas obrigações e auxiliando-o na
obtenção de atividade laborativa.

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Parágrafo único. A entidade encarregada da observação cautelar e da proteção do
liberado apresentará relatório ao Conselho Penitenciário, para efeito da representação
prevista nos artigos 143 e 144 desta Lei.
Art. 140. A revogação do livramento condicional dar-se-á nas hipóteses previstas nos
artigos 86 e 87 do Código Penal.
Parágrafo único. Mantido o livramento condicional, na hipótese da revogação facultativa, o
Juiz deverá advertir o liberado ou agravar as condições.
Art. 141. Se a revogação for motivada por infração penal anterior à vigência do livramento,
computar-se-á como tempo de cumprimento da pena o período de prova, sendo permitida,
para a concessão de novo livramento, a soma do tempo das 2 (duas) penas.
Art. 142. No caso de revogação por outro motivo, não se computará na pena o tempo em
que esteve solto o liberado, e tampouco se concederá, em relação à mesma pena, novo
livramento.
Art. 143. A revogação será decretada a requerimento do Ministério Público, mediante
representação do Conselho Penitenciário, ou, de ofício, pelo Juiz, ouvido o liberado.
Art. 144. O Juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público, ou mediante
representação do Conselho Penitenciário, e ouvido o liberado, poderá modificar as
condições especificadas na sentença, devendo o respectivo ato decisório ser lido ao
liberado por uma das autoridades ou funcionários indicados no inciso I, do artigo 137,
desta Lei, observado o disposto nos incisos II e III e §§ 1º e 2º do mesmo artigo.
Art. 145. Praticada pelo liberado outra infração penal, o Juiz poderá ordenar a sua prisão,
ouvidos o Conselho Penitenciário e o Ministério Público, suspendendo o curso do
livramento condicional, cuja revogação, entretanto, ficará dependendo da decisão final.
Art. 146. O Juiz, de ofício, a requerimento do interessado, do Ministério Público ou
mediante representação do Conselho Penitenciário, julgará extinta a pena privativa de
liberdade, se expirar o prazo do livramento sem revogação.

CAPÍTULO II

Das Penas Restritivas de Direitos

SEÇÃO I

Disposições Gerais

Art. 147. Transitada em julgado a sentença que aplicou a pena restritiva de direitos, o Juiz
da execução, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, promoverá a execução,
podendo, para tanto, requisitar, quando necessário, a colaboração de entidades públicas
ou solicitá-la a particulares.
Art. 148. Em qualquer fase da execução, poderá o Juiz, motivadamente, alterar, a forma de
cumprimento das penas de prestação de serviços à comunidade e de limitação de fim de

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semana, ajustando-as às condições pessoais do condenado e às características do
estabelecimento, da entidade ou do programa comunitário ou estatal.

SEÇÃO II

Da Prestação de Serviços à Comunidade

Art. 149. Caberá ao Juiz da execução:


I - designar a entidade ou programa comunitário ou estatal, devidamente credenciado ou
convencionado, junto ao qual o condenado deverá trabalhar gratuitamente, de acordo com
as suas aptidões;
II - determinar a intimação do condenado, cientificando-o da entidade, dias e horário em
que deverá cumprir a pena;
III - alterar a forma de execução, a fim de ajustá-la às modificações ocorridas na jornada
de trabalho.
§ 1º o trabalho terá a duração de 8 (oito) horas semanais e será realizado aos sábados,
domingos e feriados, ou em dias úteis, de modo a não prejudicar a jornada normal de
trabalho, nos horários estabelecidos pelo Juiz.
§ 2º A execução terá início a partir da data do primeiro comparecimento.
Art. 150. A entidade beneficiada com a prestação de serviços encaminhará mensalmente,
ao Juiz da execução, relatório circunstanciado das atividades do condenado, bem como, a
qualquer tempo, comunicação sobre ausência ou falta disciplinar.

SEÇÃO III

Da Limitação de Fim de Semana

Art. 151. Caberá ao Juiz da execução determinar a intimação do condenado, cientificando-


o do local, dias e horário em que deverá cumprir a pena.
Parágrafo único. A execução terá início a partir da data do primeiro comparecimento.
Art. 152. Poderão ser ministrados ao condenado, durante o tempo de permanência, cursos
e palestras, ou atribuídas atividades educativas.
Parágrafo único. Nos casos de violência doméstica contra a mulher, o juiz poderá
determinar o comparecimento obrigatório do agressor a programas de recuperação e
reeducação.
Art. 153. O estabelecimento designado encaminhará, mensalmente, ao Juiz da execução,
relatório, bem assim comunicará, a qualquer tempo, a ausência ou falta disciplinar do
condenado.

SEÇÃO IV

Da Interdição Temporária de Direitos

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Art. 154. Caberá ao Juiz da execução comunicar à autoridade competente a pena
aplicada, determinada a intimação do condenado.
§ 1º Na hipótese de pena de interdição do artigo 47, inciso I, do Código Penal, a
autoridade deverá, em 24 (vinte e quatro) horas, contadas do recebimento do ofício, baixar
ato, a partir do qual a execução terá seu início.
§ 2º Nas hipóteses do artigo 47, incisos II e III, do Código Penal, o Juízo da execução
determinará a apreensão dos documentos, que autorizam o exercício do direito interditado.
Art. 155. A autoridade deverá comunicar imediatamente ao Juiz da execução o
descumprimento da pena.
Parágrafo único. A comunicação prevista neste artigo poderá ser feita por qualquer
prejudicado.

CAPÍTULO III

Da Suspensão Condicional

Art. 156. O Juiz poderá suspender, pelo período de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, a execução
da pena privativa de liberdade, não superior a 2 (dois) anos, na forma prevista nos artigos
77 a 82 do Código Penal.
Art. 157. O Juiz ou Tribunal, na sentença que aplicar pena privativa de liberdade, na
situação determinada no artigo anterior, deverá pronunciar-se, motivadamente, sobre a
suspensão condicional, quer a conceda, quer a denegue.
Art. 158. Concedida a suspensão, o Juiz especificará as condições a que fica sujeito o
condenado, pelo prazo fixado, começando este a correr da audiência prevista no artigo
160 desta Lei.
§ 1° As condições serão adequadas ao fato e à situação pessoal do condenado, devendo
ser incluída entre as mesmas a de prestar serviços à comunidade, ou limitação de fim de
semana, salvo hipótese do artigo 78, § 2º, do Código Penal.
§ 2º O Juiz poderá, a qualquer tempo, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou
mediante proposta do Conselho Penitenciário, modificar as condições e regras
estabelecidas na sentença, ouvido o condenado.
§ 3º A fiscalização do cumprimento das condições, reguladas nos Estados, Territórios e
Distrito Federal por normas supletivas, será atribuída a serviço social penitenciário,
Patronato, Conselho da Comunidade ou instituição beneficiada com a prestação de
serviços, inspecionados pelo Conselho Penitenciário, pelo Ministério Público, ou ambos,
devendo o Juiz da execução suprir, por ato, a falta das normas supletivas.
§ 4º O beneficiário, ao comparecer periodicamente à entidade fiscalizadora, para
comprovar a observância das condições a que está sujeito, comunicará, também, a sua
ocupação e os salários ou proventos de que vive.

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§ 5º A entidade fiscalizadora deverá comunicar imediatamente ao órgão de inspeção, para
os fins legais, qualquer fato capaz de acarretar a revogação do benefício, a prorrogação do
prazo ou a modificação das condições.
§ 6º Se for permitido ao beneficiário mudar-se, será feita comunicação ao Juiz e à entidade
fiscalizadora do local da nova residência, aos quais o primeiro deverá apresentar-se
imediatamente.
Art. 159. Quando a suspensão condicional da pena for concedida por Tribunal, a este
caberá estabelecer as condições do benefício.
§ 1º De igual modo proceder-se-á quando o Tribunal modificar as condições estabelecidas
na sentença recorrida.
§ 2º O Tribunal, ao conceder a suspensão condicional da pena, poderá, todavia, conferir
ao Juízo da execução a incumbência de estabelecer as condições do benefício, e, em
qualquer caso, a de realizar a audiência admonitória.
Art. 160. Transitada em julgado a sentença condenatória, o Juiz a lerá ao condenado, em
audiência, advertindo-o das conseqüências de nova infração penal e do descumprimento
das condições impostas.
Art. 161. Se, intimado pessoalmente ou por edital com prazo de 20 (vinte) dias, o réu não
comparecer injustificadamente à audiência admonitória, a suspensão ficará sem efeito e
será executada imediatamente a pena.
Art. 162. A revogação da suspensão condicional da pena e a prorrogação do período de
prova dar-se-ão na forma do artigo 81 e respectivos parágrafos do Código Penal.
Art. 163. A sentença condenatória será registrada, com a nota de suspensão em livro
especial do Juízo a que couber a execução da pena.
§ 1º Revogada a suspensão ou extinta a pena, será o fato averbado à margem do registro.
§ 2º O registro e a averbação serão sigilosos, salvo para efeito de informações
requisitadas por órgão judiciário ou pelo Ministério Público, para instruir processo penal.

CAPÍTULO IV

Da Pena de Multa

Art. 164. Extraída certidão da sentença condenatória com trânsito em julgado, que valerá
como título executivo judicial, o Ministério Público requererá, em autos apartados, a citação
do condenado para, no prazo de 10 (dez) dias, pagar o valor da multa ou nomear bens à
penhora.
§ 1º Decorrido o prazo sem o pagamento da multa, ou o depósito da respectiva
importância, proceder-se-á à penhora de tantos bens quantos bastem para garantir a
execução.
§ 2º A nomeação de bens à penhora e a posterior execução seguirão o que dispuser a lei
processual civil.
Art. 165. Se a penhora recair em bem imóvel, os autos apartados serão remetidos ao Juízo
Cível para prosseguimento.

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Art. 166. Recaindo a penhora em outros bens, dar-se-á prosseguimento nos termos do §
2º do artigo 164, desta Lei.
Art. 167. A execução da pena de multa será suspensa quando sobrevier ao condenado
doença mental (artigo 52 do Código Penal).
Art. 168. O Juiz poderá determinar que a cobrança da multa se efetue mediante desconto
no vencimento ou salário do condenado, nas hipóteses do artigo 50, § 1º, do Código
Penal, observando-se o seguinte:
I - o limite máximo do desconto mensal será o da quarta parte da remuneração e o mínimo
o de um décimo;
II - o desconto será feito mediante ordem do Juiz a quem de direito;
III - o responsável pelo desconto será intimado a recolher mensalmente, até o dia fixado
pelo Juiz, a importância determinada.
Art. 169. Até o término do prazo a que se refere o artigo 164 desta Lei, poderá o
condenado requerer ao Juiz o pagamento da multa em prestações mensais, iguais e
sucessivas.
§ 1° O Juiz, antes de decidir, poderá determinar diligências para verificar a real situação
econômica do condenado e, ouvido o Ministério Público, fixará o número de prestações.
§ 2º Se o condenado for impontual ou se melhorar de situação econômica, o Juiz, de ofício
ou a requerimento do Ministério Público, revogará o benefício executando-se a multa, na
forma prevista neste Capítulo, ou prosseguindo-se na execução já iniciada.
Art. 170. Quando a pena de multa for aplicada cumulativamente com pena privativa da
liberdade, enquanto esta estiver sendo executada, poderá aquela ser cobrada mediante
desconto na remuneração do condenado (artigo 168).
§ 1º Se o condenado cumprir a pena privativa de liberdade ou obtiver livramento
condicional, sem haver resgatado a multa, far-se-á a cobrança nos termos deste Capítulo.
§ 2º Aplicar-se-á o disposto no parágrafo anterior aos casos em que for concedida a
suspensão condicional da pena.

TÍTULO VI

Da Execução das Medidas de Segurança

CAPÍTULO I

Disposições Gerais

Art. 171. Transitada em julgado a sentença que aplicar medida de segurança, será
ordenada a expedição de guia para a execução.
Art. 172. Ninguém será internado em Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico, ou
submetido a tratamento ambulatorial, para cumprimento de medida de segurança, sem a
guia expedida pela autoridade judiciária.

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Art. 173. A guia de internamento ou de tratamento ambulatorial, extraída pelo escrivão, que
a rubricará em todas as folhas e a subscreverá com o Juiz, será remetida à autoridade
administrativa incumbida da execução e conterá:
I - a qualificação do agente e o número do registro geral do órgão oficial de identificação;
II - o inteiro teor da denúncia e da sentença que tiver aplicado a medida de segurança,
bem como a certidão do trânsito em julgado;
III - a data em que terminará o prazo mínimo de internação, ou do tratamento ambulatorial;
IV - outras peças do processo reputadas indispensáveis ao adequado tratamento ou
internamento.
§ 1° Ao Ministério Público será dada ciência da guia de recolhimento e de sujeição a
tratamento.
§ 2° A guia será retificada sempre que sobrevier modificações quanto ao prazo de
execução.
Art. 174. Aplicar-se-á, na execução da medida de segurança, naquilo que couber, o
disposto nos artigos 8° e 9° desta Lei.

CAPÍTULO II

Da Cessação da Periculosidade

Art. 175. A cessação da periculosidade será averiguada no fim do prazo mínimo de


duração da medida de segurança, pelo exame das condições pessoais do agente,
observando-se o seguinte:
I - a autoridade administrativa, até 1 (um) mês antes de expirar o prazo de duração mínima
da medida, remeterá ao Juiz minucioso relatório que o habilite a resolver sobre a
revogação ou permanência da medida;
II - o relatório será instruído com o laudo psiquiátrico;
III - juntado aos autos o relatório ou realizadas as diligências, serão ouvidos,
sucessivamente, o Ministério Público e o curador ou defensor, no prazo de 3 (três) dias
para cada um;
IV - o Juiz nomeará curador ou defensor para o agente que não o tiver;
V - o Juiz, de ofício ou a requerimento de qualquer das partes, poderá determinar novas
diligências, ainda que expirado o prazo de duração mínima da medida de segurança;
VI - ouvidas as partes ou realizadas as diligências a que se refere o inciso anterior, o Juiz
proferirá a sua decisão, no prazo de 5 (cinco) dias.
Art. 176. Em qualquer tempo, ainda no decorrer do prazo mínimo de duração da medida de
segurança, poderá o Juiz da execução, diante de requerimento fundamentado do
Ministério Público ou do interessado, seu procurador ou defensor, ordenar o exame para
que se verifique a cessação da periculosidade, procedendo-se nos termos do artigo
anterior.
Art. 177. Nos exames sucessivos para verificar-se a cessação da periculosidade, observar-
se-á, no que lhes for aplicável, o disposto no artigo anterior.

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Art. 178. Nas hipóteses de desinternação ou de liberação (artigo 97, § 3º, do Código
Penal), aplicar-se-á o disposto nos artigos 132 e 133 desta Lei.
Art. 179. Transitada em julgado a sentença, o Juiz expedirá ordem para a desinternação
ou a liberação.

TÍTULO VII

Dos Incidentes de Execução

CAPÍTULO I

Das Conversões

Art. 180. A pena privativa de liberdade, não superior a 2 (dois) anos, poderá ser convertida
em restritiva de direitos, desde que:
I - o condenado a esteja cumprindo em regime aberto;
II - tenha sido cumprido pelo menos 1/4 (um quarto) da pena;
III - os antecedentes e a personalidade do condenado indiquem ser a conversão
recomendável.
Art. 181. A pena restritiva de direitos será convertida em privativa de liberdade nas
hipóteses e na forma do artigo 45 e seus incisos do Código Penal.
§ 1º A pena de prestação de serviços à comunidade será convertida quando o condenado:
a) não for encontrado por estar em lugar incerto e não sabido, ou desatender a intimação
por edital;
b) não comparecer, injustificadamente, à entidade ou programa em que deva prestar
serviço;
c) recusar-se, injustificadamente, a prestar o serviço que lhe foi imposto;
d) praticar falta grave;
e) sofrer condenação por outro crime à pena privativa de liberdade, cuja execução não
tenha sido suspensa.
§ 2º A pena de limitação de fim de semana será convertida quando o condenado não
comparecer ao estabelecimento designado para o cumprimento da pena, recusar-se a
exercer a atividade determinada pelo Juiz ou se ocorrer qualquer das hipóteses das letras
"a", "d" e "e" do parágrafo anterior.
§ 3º A pena de interdição temporária de direitos será convertida quando o condenado
exercer, injustificadamente, o direito interditado ou se ocorrer qualquer das hipóteses das
letras "a" e "e", do § 1º, deste artigo.
Art. 183. Quando, no curso da execução da pena privativa de liberdade, sobrevier doença
mental ou perturbação da saúde mental, o Juiz, de ofício, a requerimento do Ministério
Público ou da autoridade administrativa, poderá determinar a substituição da pena por
medida de segurança.

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Art. 184. O tratamento ambulatorial poderá ser convertido em internação se o agente
revelar incompatibilidade com a medida.
Parágrafo único. Nesta hipótese, o prazo mínimo de internação será de 1 (um) ano.

CAPÍTULO II

Do Excesso ou Desvio

Art. 185. Haverá excesso ou desvio de execução sempre que algum ato for praticado além
dos limites fixados na sentença, em normas legais ou regulamentares.
Art. 186. Podem suscitar o incidente de excesso ou desvio de execução:
I - o Ministério Público;
II - o Conselho Penitenciário;
III - o sentenciado;
IV - qualquer dos demais órgãos da execução penal.

CAPÍTULO III

Da Anistia e do Indulto

Art. 187. Concedida a anistia, o Juiz, de ofício, a requerimento do interessado ou do


Ministério Público, por proposta da autoridade administrativa ou do Conselho Penitenciário,
declarará extinta a punibilidade.
Art. 188. O indulto individual poderá ser provocado por petição do condenado, por iniciativa
do Ministério Público, do Conselho Penitenciário, ou da autoridade administrativa.
Art. 189. A petição do indulto, acompanhada dos documentos que a instruírem, será
entregue ao Conselho Penitenciário, para a elaboração de parecer e posterior
encaminhamento ao Ministério da Justiça.
Art. 190. O Conselho Penitenciário, à vista dos autos do processo e do prontuário,
promoverá as diligências que entender necessárias e fará, em relatório, a narração do
ilícito penal e dos fundamentos da sentença condenatória, a exposição dos antecedentes
do condenado e do procedimento deste depois da prisão, emitindo seu parecer sobre o
mérito do pedido e esclarecendo qualquer formalidade ou circunstâncias omitidas na
petição.
Art. 191. Processada no Ministério da Justiça com documentos e o relatório do Conselho
Penitenciário, a petição será submetida a despacho do Presidente da República, a quem
serão presentes os autos do processo ou a certidão de qualquer de suas peças, se ele o
determinar.
Art. 192. Concedido o indulto e anexada aos autos cópia do decreto, o Juiz declarará
extinta a pena ou ajustará a execução aos termos do decreto, no caso de comutação.
Art. 193. Se o sentenciado for beneficiado por indulto coletivo, o Juiz, de ofício, a
requerimento do interessado, do Ministério Público, ou por iniciativa do Conselho

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Penitenciário ou da autoridade administrativa, providenciará de acordo com o disposto no
artigo anterior.

TÍTULO VIII

Do Procedimento Judicial

Art. 194. O procedimento correspondente às situações previstas nesta Lei será judicial,
desenvolvendo-se perante o Juízo da execução.
Art. 195. O procedimento judicial iniciar-se-á de ofício, a requerimento do Ministério
Público, do interessado, de quem o represente, de seu cônjuge, parente ou descendente,
mediante proposta do Conselho Penitenciário, ou, ainda, da autoridade administrativa.
Art. 196. A portaria ou petição será autuada ouvindo-se, em 3 (três) dias, o condenado e o
Ministério Público, quando não figurem como requerentes da medida.
§ 1º Sendo desnecessária a produção de prova, o Juiz decidirá de plano, em igual prazo.
§ 2º Entendendo indispensável a realização de prova pericial ou oral, o Juiz a ordenará,
decidindo após a produção daquela ou na audiência designada.
Art. 197. Das decisões proferidas pelo Juiz caberá recurso de agravo, sem efeito
suspensivo.

TÍTULO IX

Das Disposições Finais e Transitórias

Art. 198. É defesa ao integrante dos órgãos da execução penal, e ao servidor, a divulgação
de ocorrência que perturbe a segurança e a disciplina dos estabelecimentos, bem como
exponha o preso à inconveniente notoriedade, durante o cumprimento da pena.
Art. 199. O emprego de algemas será disciplinado por decreto federal.
Art. 200. O condenado por crime político não está obrigado ao trabalho.
Art. 201. Na falta de estabelecimento adequado, o cumprimento da prisão civil e da prisão
administrativa se efetivará em seção especial da Cadeia Pública.
Art. 202. Cumprida ou extinta a pena, não constarão da folha corrida, atestados ou
certidões fornecidas por autoridade policial ou por auxiliares da Justiça, qualquer notícia ou
referência à condenação, salvo para instruir processo pela prática de nova infração penal
ou outros casos expressos em lei.
Art. 203. No prazo de 6 (seis) meses, a contar da publicação desta Lei, serão editadas as
normas complementares ou regulamentares, necessárias à eficácia dos dispositivos não
auto-aplicáveis.
§ 1º Dentro do mesmo prazo deverão as Unidades Federativas, em convênio com o
Ministério da Justiça, projetar a adaptação, construção e equipamento de
estabelecimentos e serviços penais previstos nesta Lei.

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§ 2º Também, no mesmo prazo, deverá ser providenciada a aquisição ou desapropriação
de prédios para instalação de casas de albergados.
§ 3º O prazo a que se refere o caput deste artigo poderá ser ampliado, por ato do
Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, mediante justificada solicitação,
instruída com os projetos de reforma ou de construção de estabelecimentos.
§ 4º O descumprimento injustificado dos deveres estabelecidos para as Unidades
Federativas implicará na suspensão de qualquer ajuda financeira a elas destinada pela
União, para atender às despesas de execução das penas e medidas de segurança.
Art. 204. Esta Lei entra em vigor concomitantemente com a lei de reforma da Parte Geral
do Código Penal, revogadas as disposições em contrário, especialmente a Lei nº 3.274, de
2 de outubro de 1957.

Brasília, 11 de julho de 1984; 163º da Independência e 96º da República.

JOÃO FIGUEIREDO
Ibrahim Abi-Ackel

Concluindo

Concluímos que a legislação que trata sobre as condições e formas de


cumprimento de pena constitui-se em uma legislação completa bem formulada, apesar de
possuir alguns críticos, e que infelizmente não é cumprida.
Não há necessidade de modificação da legislação nem tampouco a criação de
novos institutos jurídicos, mas sim o cumprimento das leis já existentes e respeito dos
gestores públicos pelas regras e determinações de nossa legislação.

Atividade

1– Identifique os principais pontos que você encontrou dificuldades na interpretação e


aplicação prática da legislação.
2– Elabore um glossário com os termos que você desconhece o significado ou encontrou
dificuldade na interpretação.

Referências

Lei de Execuções Penais – Lei nº 7.210 de 11 de julho de 1984.

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