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Módulo IV
Humanização e
Direitos Humanos no
Sistema Prisional
Palmas - Tocantins/2007
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Autores/ Elaboração e Organização dos Conteúdos/ Revisão Literária
Ficha Catalográfica
CDU:374(81)
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Apresentação
Prezado(a) cursista,
Gilson Pôrto Jr
Coordenador da Formação do Projeto Ressocialização Educativa
no Sistema Prisional do Estado do Tocantins
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Sumário
Unidade 1
Violência e prisão 07
Unidade 2
Unidade 3
As educações na prisão 19
Unidade 4
Conscientização na prisão 25
Unidade 5
A escola encarcerada 32
Unidade 6
Unidade 7
Unidade 8
Unidade 9
Unidade 10
A organização da prisão 56
Unidade 11
A Lei de Execuções Penais 66
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Unidade 1
Violência e prisão
Objetivo
Apresentar diferentes concepções de violência e as conseqüências sociais
de cada uma delas.
Introdução
A prisão é a fase terminal de um ciclo que teve início, em muitos casos, nos
períodos da infância e adolescência, configurando-se assim um processo de construção de
uma identidade delinqüente, caracterizada pela divisão social, estabelecida pelo senso
comum, entre as pessoas de bem e os criminosos.
A questão da formação delinqüente de uma pessoa, antes de tudo, deve ser vista
através de dois importantes enfoques. O primeiro refere-se a uma construção histórica,
resultado das estruturas sociais desequilibradas e contraditórias que proporcionam o
nascimento da figura do bandido, do infrator. Além desta responsabilidade coletiva na
formação pessoal do indivíduo, há diversos aspectos da natureza humana que favorecem
a prática de ações destruidoras, impossibilitando as condições “normais” de vida.
Quando se fala sobre estudos realizados na prisão, mesmo com uma considerável
abertura das instalações carcerárias à imprensa, às organizações de Direitos Humanos, à
sociedade civil com projetos voluntários etc, é comum a desconfiança por parte dos
funcionários àqueles que estão ali de passagem.
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O sistema penitenciário precisa de uma grande reforma. Porém, antes de construir
algo novo, com uma fundamentação diferente, se faz necessário reconhecer aquilo que é
dominante, denunciando e desconstruindo os mecanismos de opressão através de um
rompimento com as práticas cotidianas. Isto não significa, a princípio, partir de uma outra
realidade. É preciso, sim, partir de um outro ponto, de uma nova prática, objetivando a
conscientização da população carcerária.
Criminalidade
Pobreza
Eu tenho a impressão que isso deveria estar muito claro em nossa cabeça:
é a pobreza que causa o crime, porque as pessoas não se conformam
com a injustiça. (...) Na medida em que essa população aumenta, e na
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medida em que a situação de miséria aumenta, a criminalidade aumenta
exponencialmente (SAMPAIO, 1985, p.122).
Os motivos pelos quais o homem mata não são tão diferentes para outras
coisas erradas que fazem. Baseiam-se em todas as espécies de emoções
negativas: avareza, ciúme, medo e lembrança persistente do medo;
distorção e frustração do desenvolvimento sexual, sede de vingança, raiva
e irritação mesquinhas, hostilidade, ambição desenfreada, fixações
sádicas, ressentimentos, humilhações não perdoadas, rivalidades quase
que em qualquer esfera.
A delinqüência do pobre o coloca fora da lei, fazendo com que ele sofra algum tipo
de punição. Com o rico, isso não acontece. O rico molda a justiça da lei conforme seus
interesses, por meio de dinheiro e prestígio social, garantindo sua impunidade e a
conseqüente conquista de continuar sendo um homem de bem.
Para confirmar a relação entre pobreza e prisão que estamos refletindo aqui, o
relato de Lima (2001, p.119) por si só, já diz tudo:
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limites a ela. Quando o bandido é rico, tudo muda de figura. Sua ação
nunca é diretamente individual, nem facilmente reconhecível, e a vítima
não é uma pessoa que possa gritar por socorro na hora do crime. O
bandido rico não precisa usar de violência direta, e sua brutalidade não
aparece. Usa de corrupção e má-fé, manipula números, dinheiro, cheques,
ações, cargos e influências. A Polícia raramente é lançada contra ele e,
pela natureza de seus procedimentos, quando isso acontece é sempre
mais difícil reunir as provas para incriminá-lo.
Exclusão social
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Se a perspectiva for de garantir um convívio social, firmado no respeito a todo
cidadão, estabelecendo bases igualitárias e promovendo uma real liberdade fundamentada
num conjunto de leis comuns, a sociedade brasileira deve combater a propagação de todo
e qualquer tipo de violência. O problema da criminalidade, assim como todo problema
social de um povo, precisa de soluções profundas, construídas através de um projeto
político que exponha, questione e oriente o caminho à transformação necessária.
A violência caminha também por estas questões. Assim como acontece nos
presídios, onde os funcionários, técnicos e diretores não criam oportunidades para que os
presos opinem no desenvolvimento dos programas de reabilitação, na rua, a grande
maioria da população marginalizada dificilmente encontra condições de construir projetos
que apontem possibilidades de uma nova ordem.
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Exclusão escolar
Atividade
Para finalizar essa primeira unidade, pedimos a você que sistematize a “trajetória” da
violência em nosso país. Afinal, em sua opinião, qual o principal motivo que leva um
número considerável de pessoas a entrar no mundo do crime? Redija um pequeno texto
(aproximadamente 10 linhas) a esse respeito e, em seguida, exponha suas idéias ao
restante da turma.
Referências
JOANIDES, Hiroito de Moraes. Boca do lixo. São Paulo: Edições Populares, 1977.
LIMA, William da Silva. Quatrocentos contra um: uma história do comando vermelho. 2.ed. São
Paulo: Labortexto Editorial, 2001.
LUCINDA, Maria da Consolação, NASCIMENTO, Maria das Graças & CANDAU, Vera Maria. Escola
e violência. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.
MACIEL, Rosa Maria. SOS! Passageiros da agonia. A trajetória do “meu guri”: o papel da exclusão
escolar na gênese da violência. Dissertação de Mestrado em Educação. PUC/SP, 2000.
PELLEGRINO, Hélio. Psicanálise da criminalidade brasileira. In: PINHEIRO, Paulo Sérgio & BRAUN,
Eric. Democracia x violência. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986.
PERALVA, Angelina. Violência e democracia: o paradoxo brasileiro. São Paulo: Paz e Terra, 2000.
RODRIGUES, Humberto. Vidas do Carandiru: histórias reais. São Paulo: Geração Editorial, 2002.
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Unidade 2
Prisão: última saída?
Objetivo
Contextualizar a presença da instituição prisional na sociedade brasileira.
Introdução
Vale aqui o registro de um dos inúmeros casos narrados por Souza (1977, p.103)
no seu livro de histórias dos homens que viveram na Casa de Detenção de São Paulo,
Carandiru. História esta que confirma a aprendizagem existente por trás das grades.
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formação delinqüente, pois esta está relacionada à sua vida de modo completo.
Entretanto,
O sujeito preso, assim, nada mais é que um indivíduo preso. Sua vida, passada,
presente e até futura, fica restrita ao número do seu artigo criminal. Lima (2001, p.44)
escreve sobre esta questão:
Além da falta da escola, como vimos na unidade anterior, outra influência externa
que colabora na formação de uma identidade delinqüente é o distanciamento sentimental
da família.
Já distante da escola, o jovem precisa participar de uma outra instituição que lhe
ajude a construir um modelo político, social e econômico em busca de uma vida social
dinâmica e afetiva, contemplada por relações significativas que favoreçam o respeito a si e
ao próximo.
Família
Dona Eida, minha mãe, dizia que até os seis anos eu era um santo. Meu pai,
seu Luiz, dizia que eu era um débil mental. Disso lembro bem. (...) Meu pai,
desde que me lembro, já bebia. Passava dias fora de casa, sem dar
notícias. Quando ele chegava bêbado em casa (e era quase todo dia), eu
me escondia na casinha da cachorra, Dinda. A cadela era meu maior amigo.
O homem chegava ensandecido, procurando motivo para brigar e bater. Me
apavorava, vivia sobressaltado, com medo dele. Ele dizia que eu tinha
medo, mas não tinha vergonha. Medo eu sabia de quem, mas vergonha de
quê, de ser menino? Por qualquer motivo, mandava que eu fosse buscar o
cinturão de couro no armário e dizia, sadicamente, que iríamos ter uma
conversa. Era uma tortura, era mesmo! Pegava pelo braço e batia, batia,
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batia...até ficar sem fôlego. Eu sentia que era com raiva, prazer até. (...)
Minha mãe ficava na cozinha chorando, sem fazer nada. Para ela aquilo
fazia parte da educação de uma criança, era normal. Para mim, aquilo era o
fim do mundo. Odiava-o com todas as forças do meu pequeno coração. Vivi
a infância toda fermentando ódio virulento àquele meu algoz e envenenando
minha pobre existência. Quis crescer, ser grande e forte para arrebentá-lo a
socos e pontapés (MENDES, 2001, p.13).
Nessa caminhada, Ferreira (1996, p. 56) aponta que os vínculos familiares não só
interferem como podem efetivamente colaborar na edificação de uma identidade
delinqüente na pessoa. Segundo a autora, o histórico familiar aponta
(...) para a grande maioria dos detidos, a total ou parcial ausência da figura
masculina. Quer por abandono do lar, quer por ter sido uma relação
casual, que ainda por problemas ligados à embriaguez, drogas, jogo, ou
também por ausências que se devem à necessidade de trabalhar. (...)
Com relação à figura feminina, embora os sentimentos e referências a ela
sejam cercadas de especial respeito e profundo amor e idealização, ela se
apresenta submissa e servil, como é a imagem do feminino esposa-mãe,
no universo simbólico próprio da nossa sociedade.
Pai, mãe, por diferentes motivos, até por questões de sobrevivência, não se
fizeram presentes na vida de muitos daqueles que estão atrás das grades. Sendo assim, o
diálogo, peça fundamental nas relações humanas, não acontecia entre pais e filhos.
Se estes vínculos não são estabelecidos com o pai, com a mãe ou com algum
familiar próximo, aumentam as chances de haver lacunas na formação dos referenciais
necessários para o desenvolvimento de uma personalidade que faça um determinado
sujeito caminhar em direção oposta ao mundo do crime. Com isso, os valores
marginalizados ganham espaço nesta construção da identidade humana. Convites para
assaltos, propostas de tráfico de entorpecentes, partes da formação à vida criminosa,
acontecem com freqüência no meio social em que vive. E estas ações são realizadas por
aqueles que assumiram um lugar de importância no dia-a-dia deste sujeito, muitas vezes,
por aqueles que substituíram os vínculos familiares.
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Tanto a família quanto a escola são lugares onde deveria acontecer integração
entre as diferentes pessoas que deles participam. Integração no sentido de completar,
preencher, fazer parte, socializar em um ambiente onde há culturas diferentes,
pensamentos diferentes, valores diferentes. Entretanto, quando verificamos como ocorreu
a integração destas esferas na vida do sujeito que está na prisão, percebemos que não
houve limite, nem consigo, nem com o outro:
No livro Letras da Liberdade (MOLLINA et al., 2000), escrito por diversos autores –
todos detentos, relatando um pouco sobre a história de vida de cada um, é possível
constatar que a formação delinqüente destas pessoas começou a ser fundada na primeira
década de vida onde a família e a escola pouco, ou quase nada, vivenciaram experiências
afetivas e respeitosas em suas vidas. Pior. Em muitos casos, o que houve foram ações de
negação ao ser humano, aos seus costumes e suas experiências.
É possível perceber que a prisão está agindo de forma similar ao modo em que a
escola e a família atuaram na vida de muitos dos presos. Ela está reforçando o processo
de formação delinqüente das pessoas. A opinião popular entende que a prisão seja a
última possibilidade de se construir uma educação que caminhe em sentido oposto aos
valores apresentados na delinqüência. Porém, ao mesmo tempo, a população desacredita
na eficácia dessa instituição. Algo precisa ser feito, ações precisam ser tomadas para
mudar a imagem de cemitério de vivos que vem acompanhando a prisão.
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Quando o Estado prevê em suas leis a pena capital está supondo que o
condenado não pode mais aprender, se transformar e se desenvolver. A idéia presente é
que aquela vida humana não irá fazer falta e o importante é preservar a vida das outras
pessoas. Com uma atitude assim, o Estado deixa de validar o direito à vida, princípio
universal para qualquer ação libertadora.
O papel dos que trabalham na prisão, assim como daqueles comprometidos com a
vida humana em geral, é de atuar junto aos presos, ajudando-os na humanização da
instituição, com intervenções na realidade opressora, e caminhando permanentemente na
busca de dignidade à vida humana.
Pedagogia da adaptação
Se, por um lado, a pessoa adapta-se à prisão para manter-se viva, por outro, sua
personalidade vai sofrendo uma destruição. Preservar sua vida, concretamente falando, é
essencial para poder chegar ao fim da sua pena privativa de liberdade. Porém, esta morte
interna só enfatiza a vida alienada em que se vive.
O sistema penitenciário acredita que o bom preso é aquele que está ajustado às
normas, às rotinas da prisão. Sendo assim, é este bom preso que também é considerado
como preso reabilitado.
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Seguindo este raciocínio, já que os presos devem estar reabilitados para viver em
sociedade, só podemos concluir, então, que a prisão é o modelo social ideal presente nos
dias atuais. Ela até consegue levar vantagem sobre a grande sociedade, visto que
proporciona o mínimo necessário para cada pessoa: moradia, alimentação e vestuário.
Grande ironia.
Silva (2001), refletindo especificamente sobre a reabilitação, entende que ela seja
a capacidade da pessoa em superar as condições que a levou à prática do crime. Na
realidade, para que haja esta superação é preciso que o sujeito preso tome conhecimento
da realidade de forma crítica e global. Esta formação de uma consciência crítica também
está relacionada à capacidade do sujeito preso em desligar-se mentalmente das grades
que o cerca, não se alienando e, muito menos, afastando-se do convívio social que ocorre
na prisão.
Atividade
• Até que ponto a rotina prisional (convivência nas celas, socialização no banho de
sol, nos torneios de futebol, nas atividades religiosas, nas organizações das festas,
nas salas de aula da escola, nos barracões de trabalho etc.) pode colaborar na
construção de vínculos entre a massa carcerária?
Referências
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Unidade 3
As educações na prisão
Objetivo
Reconhecer as diferentes práticas educativas construídas no cotidiano
prisional.
Introdução
A idéia que ora se apresenta é refletir sobre a prática educativa existente dentro da
prisão. O ensino escolar não será a única prática educativa analisada. Quando falamos em
educação na prisão estamos também englobando as relações informais existentes entre
os presos, os códigos carcerários, a cotidianidade das atividades ali desenvolvidas, o
papel da família, dos funcionários, da comunidade etc. É preciso que isso esteja bem claro.
Nos últimos anos houve um boom de publicações que focalizam a prisão em seus
diferentes aspectos. Isso pode parecer um fato comum já que também tem havido um
aumento significativo do interesse da população pelo (sub)mundo prisional, conseqüência
também dos elevados índices de criminalidade que assolam o nosso país. Dentre essas
novas obras, algumas nos têm chamado a atenção por possuírem características
parecidas.
São histórias contadas por pessoas que estiveram, ou ainda estão, presas. São
relatos de vida sobre como é viver na prisão, contados por quem vivenciou, ou continua
vivenciando, a estrutura presidiária nacional. Afinal, só quem passou pela prisão pode
contar com detalhes o que se passa ali dentro. É um tipo diferenciado de literatura, escrita
por pessoas que, na maioria dos casos, não se imaginavam escritoras, que não cresceram
no mundo letrado e que não tiveram muito contato com os livros. Entretanto, agora, são
autoras de livros significativos para quem tem interesse em conhecer um pouco da
biografia de pessoas cujas vidas foram marcadas por diferentes tipos de exclusão,
focalizando, em determinados momentos, a vida por trás das grades.
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Acolher a palavra do preso, escutá-lo, valorizá-lo, não significa rejeição à ciência,
aos estudos realizados historicamente pelos homens. A pura e simples valorização do
saber popular, separando-o do rigor científico, nega a possibilidade do diálogo entre os
diferentes, fazendo com que o discurso das bases populares seja tão autoritário como as
palavras da elite. Freire (1991, p.134), refletindo sobre o basismo, afirma que
(...) estar com as bases populares, trabalhar com elas não significa erigi-
las em proprietários da verdade e da virtude. Estar com elas significa
respeitá-las, aprender com elas para a elas ensinar também.
Nessas vozes da prisão é possível perceber que a atenção dada à prática escolar
desenvolvida dentro do cárcere era mínima. Por que será que os presos pouco falam da
escola existente no espaço prisional? Tendo o direito à escola, garantido por lei, de que
maneira os presos enxergam o processo escolar desenvolvido por trás das grades? E esta
escola, como colabora na construção de uma consciência crítica entre os presos?
Educação permanente
Para muitas pessoas, prisão não combina com educação. Discordamos daqueles
que assim pensam, pois a constituição de uma prisão não fica restrita aos muros, grades e
portas de aço. O elemento essencial, ao nosso ver, são os homens que ali estão. Sendo
assim, vale a indagação: quais serão as características dessa educação prisional?
Para Ottoboni (2001, p.100), os termos reeducando e educando não podem fazer
parte do cotidiano das prisões nacionais.
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não teve uma educação conveniente, adequada para conviver na
sociedade, (...) não esqueceu as normas dos bons costumes,
simplesmente não as conheceu. O meio ambiente familiar e as imagens
deformadas não o levaram a descobrir as regras da sociabilidade, da
educação relacionada com o respeito, os bons princípios, a moral, a
religião, a profissão etc.
(...) se as pessoas que trabalham com o preso pensam que ele poderia
ser “reeducado”, eu rejeitaria este conceito. Acho que o processo de
educação é contínuo e não tem que se falar em “recuperação”, nem em
“reeducação”. É o processo de educação que se modifica na sua própria
natureza, na sua forma, mas que continua sendo processo educativo
sempre.
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Funcionários
Brandão (1995, p.99), refletindo sobre as idéias de Paulo Freire, enfatiza que é
preciso desmistificar a idéia de que a educação é maior do que o homem. O autor,
lembrando a expressão “educação do opressor”, afirma que
(...) ele [Paulo Freire] sempre quis desarmar a idéia de que as pessoas
são um produto da educação, sem que ela mesma seja uma invenção
das pessoas, em suas culturas, vivendo as suas vidas. Ele sempre quis
livrar a educação de ser um fetiche. De ser pensada como uma realidade
supra-humana e, por isso, sagrada, imutável e assim por diante.(...)
Apenas os que se interessam por fazer da educação a arma de seu
poder autoritário tornam-na “sagrada” e o educador, “sacerdote”. Para
que ninguém levante um gesto de crítica contra ela e, através dela, ao
poder de onde procede.
Esta postura profissional demonstra aquela pedagogia que deteriora o sujeito no cárcere.
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posição no cárcere, isto sim, é perigoso para eles, os guardas. Os carcereiros têm muito
medo dos presos inteligentes. A repressão torna-se toda no sentido de combater isso
(TORRES, 1979, p.174).
Este aspecto da conscientização dos presos aparece realmente como algo que, se
não é combatido explicitamente, ao menos, não é incentivado. Isso demonstra que o
sistema penitenciário tem muita pouca preocupação em mantê-los informados e despertá-
los para a vida além das aparências.
Não podemos nos esquecer que a prisão possui uma outra finalidade que
ultrapassa os limites da punição. Estamos nos falando do princípio da reabilitação, ou seja,
ela se propõe a ser uma instituição educativa. Sendo assim, a prisão também pode primar
pelo desenvolvimento de uma educação crítica, integradora, libertadora em seu espaço.
Essa é a perspectiva que acreditamos e defendemos.
O acolhimento da palavra dos presos, tendo como princípio uma prática dialógica
simétrica, entre iguais, não significa que concordamos com as ações criminosas que cada
sujeito cometeu, pois estas, no fundo, não colaboram para que haja uma verdadeira
transformação social necessária em nosso mundo. Contudo, se realmente desejamos a
construção de uma nova ordem, é primordial trazer a palavra daqueles que estão à
margem da sociedade.
Atividade
Que tal utilizarmos uma técnica de estudo diferente para finalizarmos essa unidade?
Construa um mapa conceitual a respeito do que foi apresentado a respeito das práticas
educativas existentes na prisão. Caso seja necessário, pesquisa a respeito dessa
possibilidade de estudo e tire suas dúvidas com o professor.
Referências
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação. 33 ed. São Paulo: Brasiliense, 1995.
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FREIRE, Paulo. Educação na cidade. São Paulo: Cortez, 1991.
MASCELLANI, Maria Nilde. Uma pedagogia para os cárceres? In: QUEIROZ, José J.
(coord.). As prisões, os jovens e o povo. São Paulo: Paulinas, 1985.
TORRES, André. Exílio na Ilha Grande. São Paulo: Círculo do Livro, 1979.
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Unidade 4
Conscientização na prisão
Objetivo
Indicar os pressupostos necessários para o desenvolvimento de propostas
educativas no contexto prisional.
Introdução
Silva (2001a) aponta que o Brasil também formulou seu aparato jurídico sob a
ótica penal positiva. Contudo, o autor destaca que o crime não pode ficar modelado numa
ordem natural, mas sim como uma ação humana e social. Concluindo sobre a teoria penal
vigente no Brasil, Silva (2001, p. 121) enxerga três finalidades à pena:
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aprofundamento das discussões sobre a violência e sua origem. Para ele, a agressividade
faz parte da natureza humana.
O ser humano, segundo Freud, possui dois tipos de instintos que, em ações
conjuntas, conduzem a vida. O primeiro é o instinto de morte, ou seja, aquele que objetiva
conduzir a vida ao estado inanimado através de ações destruidoras, desagregadoras. O
outro é o instinto de Eros, ou seja, o instinto da vida, aquele capaz de preservar e
estabelecer união entre as pessoas.
Como já dito, essas pulsões de vida e morte caminham juntas, de modo que são
dependentes entre si. Entretanto, há situações em que a manifestação de uma delas
prevalece sobre a outra. É nesse momento que, se o instinto de destruição for maior, os
atos violentos aparecem.
Acontece que, em muitos casos, sentimentos como estes descritos por Freud não
ficam somente no inconsciente da pessoa humana. Eles tornam-se realidade. Ações
destruidoras, contra os homens e/ou contra o patrimônio, que quebram os acordos morais
e/ou legais existentes no meio social, são exemplos reais das manifestações do instinto de
morte.
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Partindo de uma realidade
Os próprios presos compreendem que estão ali por uma questão de justiça. Não
negam que cometeram seus crimes, apesar de freqüentemente ouvirmos histórias de que
qualquer prisão abriga inocentes. Entretanto, eles afirmam que para tirar a cadeia numa
boa é fundamental que as ações disciplinares não excedam os limites previstos de uma
pena de privação de liberdade. Humilhação moral, tortura, descaso com sua vida e com a
vida dos seus familiares e ociosidade são alguns apontamentos feitos pelos presos que
geram uma grande indignação e revolta daqueles que estão atrás das grades.
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algumas pessoas encarceradas, foi possível identificar algumas lacunas nesta formação
do “eu”.
Percebemos que a própria sociedade, representada por sua elite, após expulsar
determinadas camadas populares, sentindo-se ameaçada, tenta edificar a imagem de uma
cultura delinqüente, rejeitando-a e, como saída, constrói uma ideologia com seus valores,
que são aceitos pela maioria como a verdade absoluta.
Pedagogia da conscientização
O próprio dia-a-dia da prisão, até mesmo porque todos que ali estão não podem
sair, pode facilitar a promoção de recursos para alcançar um reconhecimento cultural entre
toda população carcerária. A união destes presos principiaria um movimento transformador
onde o ser humano seria reconhecido e valorizado como cidadão. Com isso, teria direito a
uma vida digna como qualquer outra pessoa que esteja livre das estruturas prisionais.
A libertação, como disse Freire (1983, p.36), é um “parto doloroso” que retrata a
superação da contradição entre opressores e oprimidos. Este parto
(...) traz ao mundo o homem novo não mais opressor, não mais oprimido,
mas homem libertando-se. Se se faz indispensável aos oprimidos, para a
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luta por sua libertação, que a realidade concreta de opressão já não seja
para eles uma espécie de “mundo fechado”, do qual não pudessem sair,
mas uma situação que apenas os limita e que eles podem transformar, é
fundamental, então, que, ao reconhecerem o limite que a realidade
opressora lhe impõe, tenham, neste reconhecimento, o motor de sua
ação libertadora.
As palavras acima podem ser relacionadas à realidade prisional. Afinal, temos uma
realidade concreta de opressão num mundo fechado, no mínimo, fisicamente. Entretanto,
estes limites impostos pela prisão podem ser o princípio de uma libertação.
A transformação não pode ficar distante dos homens presos. Eles não podem ser
tratados como objetos que não possuem direito de opinar sobre suas próprias vidas e
sobre a realidade em que estão inseridos. Não é possível o desenvolvimento de uma
pedagogia libertadora se a idéia presente sobre as pessoas participantes for de que elas
(...) compromisso verdadeiro com eles [no nosso caso, com os presos],
implicando na transformação da realidade em que se acham oprimidos,
reclamando uma teoria da ação transformadora que não pode deixar de
reconhecer-lhes um papel fundamental no processo da transformação
(Ibid., p.146).
É preciso mudar
Com uma postura de ordem totalitária, onde as ações dos funcionários não podem
ser questionadas e também não precisam ser justificadas, a prisão exige do preso uma
adesão aos regulamentos e uma conduta cega aos hábitos prisionais. É com base nestes
parâmetros que surgirá o bom preso, isto é, aquela pessoa que está completamente
ajustada ao mundo da prisão.
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Freire (1983, p.67) denominou este tipo de educação como “educação bancária”,
pois o educando torna-se um simples objeto disciplinado, acomodado, adaptado às
experiências transmitidas por outras pessoas.
E esta parece ser a preocupação que a prisão vem desenvolvendo durante sua
longa existência. Não permite a problematização, o diálogo, uma nova construção, enfim,
não permite mudanças. Ela não é capaz de reconhecer o preso como sujeito em
desenvolvimento, não proporciona o encontro organizado e a pronúncia das pessoas que
ali se encontram.
Por mais que Paulo Freire estivesse se referindo a uma libertação muito maior que
uma libertação física, suas palavras são perfeitas para retratar aquilo que acontece no
ambiente prisional e apontar caminhos para sua transformação.
Por que o corpo dirigente da prisão não se encontra com a população carcerária?
Falta coragem para ouvir o sujeito preso? Não é possível um agrupamento dos
conhecimentos teóricos e críticos com os conhecimentos praticados cotidianamente? Será
tão difícil perceber que se não houver diálogo com os presos para a elaboração de
programas a serem desenvolvidos na prisão, estes estão fadados a servirem só como
elementos dominadores, domesticadores, anulando assim qualquer possibilidade de
libertação, de humanização no sistema penitenciário?
A ação política junto aos oprimidos tem de ser, no fundo, “ação cultural” para
a liberdade, por isto mesmo, ação com eles. A sua dependência emocional,
fruto da situação concreta de dominação em que se acham e que gera
também a sua visão inautêntica do mundo, não pode ser aproveitada a não
ser pelo opressor. Este é que se serve desta dependência para criar mais
dependência. A ação libertadora, pelo contrário, reconhecendo esta
dependência dos oprimidos como ponto vulnerável, deve tentar, através da
reflexão e da ação, transformá-la em independência.(...) Não podemos
esquecer que a libertação dos oprimidos é libertação de homens e não de
“coisas”. (...) O caminho para um trabalho de libertação não está no mero
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ato de “depositar” a crença da liberdade nos oprimidos, pensando conquistar
a sua confiança, mas no dialogar com eles. Precisamos estar convencidos
de que o convencimento dos oprimidos de que devem lutar por sua
libertação é resultado de sua conscientização (Ibid., p.57-58).
Atividade
Foi mostrado aqui que para se alcançar êxito em uma proposta de atividade
educativa na prisão não se pode desconsiderar a estrutura existente ali. Assim sendo,
perguntamos de modo bem direto: para você, enquanto sujeito educador dentro da prisão,
de que maneira isso poderia ser realizado? Como se pode aproveitar as especificidades da
prisão para construção de uma realidade oposta àquela dos dias de hoje?
Referências
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 12.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.
FREUD, Sigmund. Porquê a guerra? Reflexões sobre o destino do mundo. Lisboa: Edições
70, 1997.
MASCELLANI, Maria Nilde. Uma pedagogia para os cárceres? In: QUEIROZ, José J.
(coord.). As prisões, os jovens e o povo. São Paulo: Paulinas, 1985.
SÁ, Geraldo Ribeiro de. A prisão dos excluídos: origens e reflexões sobre a pena privativa
de liberdade. Rio de Janeiro: Diadorim, 1996.
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Unidade 5
A escola encarcerada
Objetivo
Refletir sobre o papel da escola no espaço prisional.
Apontar perspectivas pedagógicas no processo ensino-aprendizagem
desenvolvido na escola encarcerada.
Introdução
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São inúmeros os indicadores que refletem como o sistema penitenciário brasileiro
apresenta-se falido. As próprias condições de vida ali dentro são péssimas: a alimentação
não é saudável; a superpopulação é cena comum; não há assistência médica, social,
jurídica...
Adorno (1993, p.105) amplia esta caracterização da vida nos presídios, com
enfoque especial aos serviços de formação educacional e profissional, dizendo que
Já Viana (In: RAMOS, 2001, p.233) é mais direto em suas palavras, alertando
sobre a demagogia existente quando se fala em atividades na prisão.
Antes de tudo, então, é preciso fazer com que estas atividades funcionem. Este é
o primeiro passo que qualquer instituição penitenciária deve seguir se realmente houver o
pensamento voltado à reabilitação dos seus presos. Junto com esta prática cotidiana, é
necessário pensar em uma proposta educacional que leve em conta as especificidades da
prisão, pois “para ser válida, a educação deve considerar as condições em que o homem
vive: lugar, momento e contexto” (FREIRE, 1980, p.34). Porém, o cuidado para que não
haja discriminação aos participantes é essencial.
Quando Paulo Freire abordou sobre a metodologia mais adequada para ser
desenvolvida num programa de educação na prisão, disse que o primeiro passo é
descartar qualquer tipo de material específico aos presos, pois, caso isso ocorresse,
haveria uma discriminação dupla àquelas pessoas, negando-lhes acesso à informação e à
formação, que é um direito de todos (RUSCHE, 1995).
Uma escola comprometida com uma educação libertadora não pode contribuir com
a lógica penitenciária de transformar as pessoas encarceradas em marionetes de
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funcionários e diretores. A transformação necessária é diferente, não é impositora, pelo
contrário, é construtora. Construída por todos e voltada, principalmente, aos presos. Como
nos diz Salla (1994, p.95), tal pensamento pode ser um sonho, um
(...) delírio, mas a verdade é que sem isso fica difícil desenvolver
efetivamente o programa de educação ou de trabalho, se eles estiverem
ligados ao esquema de funcionamento da prisão, do ponto de vista
disciplinar ou do ponto de vista legal.
Este rompimento com as estruturas da prisão não ocorre da noite para o dia. É
fruto de um trabalho coletivo onde a participação dos diferentes agentes educativos,
inclusive o presidiário, é primordial.
(...) espaço diferente dos outros setores da prisão, onde o preso possa
participar ativamente do processo educativo e ressocializador, sendo
ouvido, valorizado, respeitado, tendo liberdade para pensar e expressar
sua vida como um todo, onde o relacionamento e o trabalho sejam
caracterizados pelo diálogo, pela confiança, solidariedade e disciplina,
sem, ao mesmo tempo, deixar de ser um espaço de produção e
transmissão de novos conhecimentos e valores sociais.
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necessárias ao mundo da prisão. E o professor possui uma importância
política-pedagógica fundamental na construção deste espaço de
inovação institucional.
É claro que o professor, o educador que trabalha na escola encarcerada não pode
ter aquele “otimismo ingênuo” (CORTELLA, 2000, p.131) que o faz considerar o espaço
escolar existente dentro da prisão como um espaço salvador, capaz de resolver todos os
problemas inerentes à esfera prisional. Entretanto, o contexto escolar pode possuir um
valor especial na vida do sujeito que o freqüenta e, dependendo de como é organizado,
pode não só colaborar para o cumprimento da pena deste sujeito, mas trazer benefícios
que ultrapassam os limites dos processos judiciais, fazendo prevalecer o ato de educar, de
pensar criticamente, de valorizar a vida humana, ao invés de simplesmente ensinar
conteúdos pertencentes a uma determinada grade disciplinar.
Currículo
É preciso que haja uma valorização do espaço escolar na vida da prisão. Porém, a
escola encarcerada não pode preocupar-se somente com o horário das aulas, com os
conteúdos a serem cumpridos em cada disciplina, com a quantidade de alunos
matriculados, com o preenchimento de papéis, de relatórios. A proposta pedagógica
escolar dentro da prisão deve ultrapassar as grades da Matemática, da Geografia, da
Língua Portuguesa etc.
Alguns presos acreditam, até mesmo porque não há incentivo a outras atividades,
no trabalho como sendo a única fonte possível para a solução dos males prisionais.
Outros, percebendo que o trabalho não é oferecido a toda população de uma prisão,
participam de movimentos diferentes mantidos ali. Cursos de computação, ensino escolar,
oficinas de desenho e pintura, leituras e escritas literárias são exemplos alternativos de
ocupações que um presídio pode oferecer aos seus encarcerados.
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daqueles que estão comprometidos com a vida humana. Afinal, cada prisão abriga 500
pessoas, em média. Não se pode jogar os condenados em um recinto fechado, opressor,
dar-lhes uma comida de má qualidade e ficar esperando uma mágica para que se tornem
cidadãos honestos e trabalhadores.
Mendes (2001, p.445), através do hábito da leitura que criou dentro da prisão, foi
mudando seus pensamentos e buscando respostas para a sua vida:
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Essa transformação crítica, ou seja, a tomada de consciência vinda deste detento
pode ser um exemplo de que é possível realizar dentro da prisão uma releitura do mundo
experimentado por esta parcela excluída da população.
Um novo espaço
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Revelação que demonstre a consciência de pessoas que vivem à margem social.
Revelação onde a manifestação aponte caminhos possíveis para a realização efetiva das
idéias propostas. Manifestar-se, abordando publicamente, sobre o porquê não participam
do planejamento do “jogo”, restando somente as ações de “jogar” e fielmente obedecer as
instruções do “treinador”.
Rebelião com revelação que formaria a educação transformadora tão almejada por
aqueles que pensam ser possível desenvolver uma dinâmica oposta àquela encontrada
atualmente na prisão. Educação construída e apoiada na pluralidade cultural existente no
ambiente prisional, proporcionando uma convivência participativa entre as pessoas que
cumprem suas penas.
Atividade
Foi falado aqui na construção de um novo espaço escolar, um espaço diferente daqueles
outros que compõem o mundo da prisão. Enquanto professor, como você pode colaborar
para que se alcance esse objetivo à escola encarcerada? Enumere sete ações que, a seu
ver, são fundamentais para que se tenha uma proposta curricular que privilegie as
demandas dessa escola existente entre as grades. A seguir, em forma de seminário,
apresente as ações pensadas por você, argumentando sobre cada uma delas.
Referências
ADORNO, Sérgio. Sistemas penitenciários no Brasil. In: MACHADO, M.L. & MARQUES, J.
B. Azevedo. História de um massacre: Casa de Detenção de São Paulo. São Paulo:
Cortez, 1993.
FREIRE, Paulo. Conscientização: teoria e prática da libertação. 3.ed. São Paulo: Moraes,
1980.
LEITE, José Ribeiro. Educação por trás das grades: uma contribuição ao trabalho
educativo, ao preso e à sociedade. Dissertação de Mestrado em Educação.
UNESP/Marília, 1997.
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LEME, José Gonçalves. A cela de aula: tirando a pena com letras. Dissertação de
Mestrado em Educação. PUC/SP, 2002.
MENDES, Luis Alberto. Memórias de um sobrevivente. São Paulo: Companhia das Letras,
2001.OBALUAÊ, Neninho de. Beco sem saída: eu vivi no Carandiru. Rio de Janeiro: Rosa
dos Tempos, 1999.
NEGRINI, Pedro Paulo. Enjaulado: o amargo relato de um condenado pelo sistema penal.
Rio de Janeiro: Gryphus, 2002.
RUSCHE, Robson. Educação de adultos presos: uma proposta metodológica. São Paulo:
FUNAP, 1995.
SALLA, Fernando. Educação como processo de reabilitação. In: MAIDA, José Domenici
(coord.). Presídios e educação. São Paulo: FUNAP, 1994.
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Unidade 6
O cárcere e a legislação brasileira
Objetivo
Identificar as formas de presos existentes em nosso ordenamento
jurídico;
Conhecer alguns conceitos importantes para o entendimento da pena
e seu cumprimento.
Introdução
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Como já dissemos, os presos perdem alguns direitos, entre eles esta o direito a
liberdade, alem daqueles que o juiz dispuser em sua sentença, mas não perde a sua
condição de ser humano que devera sempre ser respeitada.
Os direitos e deveres dos presos encontram-se descrito em nosso ordenamento
jurídico vigente, como na Constituição Federal como nas demais legislações
infraconstitucionais, mas o que nos interessa nesse momento é a condição do apenado
que cumpre pena em virtude de uma sentença penal condenatória que lhe infligiu uma
pena de prisão alem da perca de outros direitos devidamente individualizados na pena.
Dessa forma, primeiramente vamos conceituar o que é sentença, pena e prisão.
SENTENÇA
De acordo com o Código Civil de 2002, em seu art. 162, sentença é o ato pelo qual
o juiz poe termo ao processo decidindo ou não o mérito da causa.
PENA
É uma sanção aflitiva (constrangimento) imposta pelo Estado mediante uma ação penal
ao autor de uma infração penal como retribuição de seu ato ilícito consistente na
diminuição de um bem jurídico que cujo fim é evitar novos delitos.
Outros conceitos:
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necessário numa sociedade de seres imperfeitos. Mais controversa é a
caracterização das funções que a pena em geral desempenha. A par das
concepções de prevenção geral positiva, que lhe assinalam a função de
restabelecimento do bem jurídico lesado como estrutura reguladora da
interacção comunicativa dos sujeitos, adquirem hoje particular relevo as
concepções neo-retributivas do funcionalismo sistémico, para as quais a pena
é auto-preservação do sistema jurídico-penal ou – o que significa o mesmo –
estabilização da expectativa contrafáctica defraudada com a prática do facto
punível. Estas não negam que a pena possa desempenhar também uma
função de prevenção geral positiva, mas demarcam-se daquelas em três
pontos: por um lado, concebem essa função como “aprendizagem da
fidelidade ao ordenamento jurídico como atitude natural” (Jakobs, 2003, p.56);
por outro lado, subordinam-na ao objectivo mor de confirmação simbólica da
vigência das normas, à luz do qual todo o Direito Penal é funcionalmente
descrito (Jakobs, 1999, pp.106 e ss); por isso, declaram-na incompatível com
o efeito de prevenção especial da pena ou de reinserção social do delinqüente
(Jakobs, 2003, pp.57 e ss).
PRISÃO
Conceito
Segundo o jurista Fernado Capez (2001, p. 219), prisão:
É a privação da liberdade de locomoção determinada por ordem escrita
da autoridade competente ou em caso de flagrante delito.
Conhecendo essas definições, passamos dessa forma a análise dos direitos e
garantias dos presos no ordenamento jurídico brasileiro e, para isso, vamos ter como base
a principal lei que rege o tema, a Lei nº 7.210 de 11 de julho de 1984, que trata das
execuções penais.
Assim, passamos ao estudo de alguns aspectos da Lei de Execuções Penais.
Atividades
Referências
CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 7. ed. rev. atual. São Paulo: Saraiva, 2001.
www.ifl.pt/dfmp_files/direito_penal
Lei de Execuções Penais - Lei nº 7.210 de 11 de julho de 1984
Código Civil Brasileiro – Lei nº 10.406 de 10 de janeiro de 2002.
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Unidade 7
Os presos e seus direitos
Objetivo
• Identificar os principais direitos que tem o preso durante o seu
encarceramento e quais os que são reduzidos e negados.
• Conhecer a exceção a esses direitos previstos no Regime Disciplinar
Diferenciado.
Introdução
Nesta unidade vamos discutir e conhecer os direitos e garantias que tem o preso
durante o seu encarceramento, direitos esses garantidos pela Constituição Federal e
demais leis vigentes, além de tecermos as primeiras considerações a respeito das
exceções previstas pelo Regime Disciplinar Diferenciado.
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menor grau de periculosidade não sejam misturados a presos considerados de alta
periculosidade. Infelizmente, devido a precária situação do sistema carcerário brasileiro,
esses requisitos não vem sendo observados.
Uma vez custodiado o individuo para o cumprimento de sua pena, passa este a
total responsabilidade do Estado, que responde por sua integridade física e moral, pois
como já vimos, não se admite o tratamento vexatório nem tampouco a violência física e
moral.
Além de responder pela integridade física e psíquica do apenado, o Estado é
responsável por fornecer a este as condições mínimas para a manutenção de sua
subsistência. Para isso a Lei de Execuções Penais (LEP), determinou que o Estado deve
fornecer ao apenado a assistência material; à saúde; jurídica; educacional; social e
religiosa.
A assistência material consiste no fornecimento de alimentação e instalações
dignas, vestuário e higiene, sendo que esta assistência material esta expressamente
prevista na LEP, mas infelizmente na maioria dos casos não é observado pelo Estado que
negligencia as suas obrigações e fornece ao apenado condições sub-humanas de
subsistência e com pouca ou nenhuma dignidade.
Da mesma forma temos a previsão da assistência a saúde do apenado, que deve
ser integral, ou seja, deve-se dar ao apenado o atendimento médico, odontológico e
farmacológico não somente em caráter curativo, mas principalmente preventivo, o que
mais uma vez, na maioria dos casos não é cumprido pelo Estado.
A assistência jurídica por sua vez é garantida a todos os presos, mas somente
será uma obrigação do Estado em relação aqueles que não possuírem condições
financeiras de arcar com as custas de um advogado.
No que tange a assistência educacional, o Estado possui a obrigação de fornecer
ao preso pelo menos o ensino fundamental, pois a reintegração do individuo a sociedade,
como função maior da pena, passa obrigatoriamente por um mínimo de educação, que
devera ser complementada por alguma formação técnica ou profissionalizante, que poderá
ser desenvolvida na forma de convenio entre instituições publicas ou privadas, sendo
imprescindível a instalação de uma biblioteca em cada estabelecimento prisional de forma
a propiciar ao preso o gosto pela leitura.
A assistência social do apenado também está prevista na LEP, mais precisamente
em seus art. 22 e 23 que dizem:
Art. 22. A assistência social tem por finalidade amparar o preso e o
internado e prepará-los para o retorno à liberdade.
Art. 23. Incumbe ao serviço de assistência social:
I - conhecer os resultados dos diagnósticos ou exames;
II - relatar, por escrito, ao Diretor do estabelecimento, os problemas e as
dificuldades enfrentadas pelo assistido;
III - acompanhar o resultado das permissões de saídas e das saídas
temporárias;
IV - promover, no estabelecimento, pelos meios disponíveis, a recreação;
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V - promover a orientação do assistido, na fase final do cumprimento da
pena, e do liberando, de modo a facilitar o seu retorno à liberdade;
VI - providenciar a obtenção de documentos, dos benefícios da Previdência
Social e do seguro por acidente no trabalho;
VII - orientar e amparar, quando necessário, a família do preso, do internado
e da vítima.
Possui, ainda, o apenado direito a assistência religiosa independente de seu culto ou
crença em consonância com o disposto no art. 24 da LEP.
A demonstração da preocupação do legislador com a principal função da pena que
consiste na re-socialização do apenado esta amplamente demonstrada quando o mesmo
trata da assistência ao egresso que tem a nítida intenção de dar ao egresso condições
reais de re-inserção social, consistindo essa assistência em dever do Estado.
Essas são as assistências a que se obriga o Estado diante daqueles indivíduos
que estão sob a sua custodia e conseqüentemente sob a sua guarda. A função do Estado
é punitiva em relação aos delitos cometidos pelos indivíduos na vida em sociedade e
decorrentes da própria sociedade evitando dessa forma a vingança particular, mas, de
forma alguma, transfere para o Estado o direito de vingança, mas, sim, o dever de punir e
integrar novamente este individuo ao convívio social ensinando o mesmo a respeitar os
limites sociais e regras do convívio em sociedade.
Mas as assistências não expressam totalmente os direitos e garantias daqueles
que estão sob a tutela estatal, existindo em nosso ordenamento e, ainda em direitos supra
nacionais que devem ser observados no cumprimento de uma pena ou até mesmo na
custódia provisória determinada pelo Judiciário em medida fundamentada. Essas
prerrogativas podem se resumir em:
a) Direito à alimentação e vestimenta fornecidos pelo Estado.
b) Direito a uma ala arejada e higiênica.
c) Direito à visita da família e amigos.
d) Direito de escrever e receber cartas.
e) Direito a ser chamado pelo nome, sem nenhuma discriminação.
f) Direito ao trabalho remunerado em, no mínimo, 3/4 do salário mínimo.
Esses direitos são inerentes a todos os cidadãos, e mantidos ao preso apesar de
sua condição de custodiado.
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provisório, ou condenado, sem prejuízo da sanção penal, ao regime disciplinar
diferenciado, com as seguintes características:
I - duração máxima de trezentos e sessenta dias, sem prejuízo de repetição
da sanção por nova falta grave de mesma espécie, até o limite de um sexto
da pena aplicada;
II - recolhimento em cela individual;
III - visitas semanais de duas pessoas, sem contar as crianças, com duração
de duas horas;
IV - o preso terá direito à saída da cela por 2 horas diárias para banho de sol.
§ 1o O regime disciplinar diferenciado também poderá abrigar presos
provisórios ou condenados, nacionais ou estrangeiros, que apresentem alto
risco para a ordem e a segurança do estabelecimento penal ou da sociedade.
§ 2o Estará igualmente sujeito ao regime disciplinar diferenciado o preso
provisório ou o condenado sob o qual recaiam fundadas suspeitas de
envolvimento ou participação, a qualquer título, em organizações criminosas,
quadrilha ou bando.
Atividade
Faça uma leitura dos artigos trabalhados e enumere os principais direitos que possui o
preso, após leia novamente os direitos que você identificou e veja quais não estão na LEP,
mas que estão garantidos pela Constituição Federal e pelos Direitos Universais do Homem
e do Cidadão.
Referências
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Unidade 8
A pena privativa de liberdade
Objetivo
• Identificar os regimes em que o preso condenado cumpre a sua pena.
• Conhecer a relação do preso com o trabalho durante o cumprimento de sua
pena.
Introdução
Nesta unidade vamos analisar os regimes de cumprimento das penas privativas de
liberdade e a relação do preso condenado e provisório com o trabalho durante o cárcere,
verificando se o trabalho constitui-se em direito ou dever do preso.
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A forma de contatar o juiz será por intermédio de seu advogado constituído ou
nomeado, mas se o mesmo não tiver advogado ainda, poderá se fazer ouvir por meio de
seus parentes e amigos quando das visitas que lhe são garantidas.
As visitas a que tem direito o preso são aquelas regulamentares de cada
estabelecimento prisional, sendo que as visitas intimas não possuem regulamentação e
podem ser condicionadas as condições físicas do presídio, comportamento do apenado e
discricionariedade das autoridades penitenciárias.
Como já dito, entre os direitos do preso esta a progressão de pena, os indultos e a
comutação da pena. Esses benefícios estão diretamente ligados a condições objetivas e
subjetivas, como o cumprimento de parte da pena, bom comportamento carcerário e
características psicológicas a serem avaliadas, sendo que as decisões são divergentes
possuindo na doutrina e jurisprudência ampla discussão sobre as avaliações subjetivas a
serem aplicadas ao apenado. Sendo que em nossa realidade judiciária brasileira e
principalmente no Estado do Tocantins são avaliadas para fins de concessão, apenas as
características objetivas como o cumprimento do mínimo legal da pena para a concessão
do benefício e o comportamento carcerário do apenado.
Peculiaridades são encontradas no cumprimento das penas pelas presidiárias do
sexo feminino, que possuem direitos especiais como a manutenção da companhia do
recém nascido durante o período de lactação que é para fins legais de 120 (cento e vinte
dias), bem como o cumprimento em unidades prisionais especiais e independentes bem
como serviços e atividades adequadas as suas capacidades.
O trabalho do preso
O trabalho não é um direito, mas sim uma obrigação do preso de acordo com o
disposto no art. 31 da LEP, vejamos:
Art. 31. O condenado à pena privativa de liberdade está obrigado
ao trabalho na medida de suas aptidões e capacidade.
Já ao preso provisório, o trabalho não é obrigatório, mas será facultativo desde
que realizado dentro das dependências do estabelecimento prisional em que o mesmo
estiver custodiado.
Esse trabalho será sempre condizente com as condições físicas e técnicas do
apenado, sendo o mesmo devidamente remunerado de acordo com tabela pré-
estabelecida, e possui um caráter ressocializador, educativo e produtivo, sendo uma forma
eficiente de manutenção da condição humana do apenado.
A remuneração não poderá ser inferior a ¾ do salário mínimo vigente no pais, e
terá as finalidades previstas no art. 29 da LEP, vejamos:
Art. 29. O trabalho do preso será remunerado, mediante prévia tabela,
não podendo ser inferior a 3/4 (três quartos) do salário mínimo.
§ 1° O produto da remuneração pelo trabalho deverá atender:
a) à indenização dos danos causados pelo crime, desde que
determinados judicialmente e não reparados por outros meios;
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b) à assistência à família;
c) a pequenas despesas pessoais;
d) ao ressarcimento ao Estado das despesas realizadas com a
manutenção do condenado, em proporção a ser fixada e sem prejuízo da
destinação prevista nas letras anteriores.
§ 2º Ressalvadas outras aplicações legais, será depositada a parte
restante para constituição do pecúlio, em Caderneta de Poupança, que
será entregue ao condenado quando posto em liberdade.
Esse trabalho não será confundido com a prestação de serviços à comunidade que
se constitui em forma de pena alternativa ou acessória aplicada ao apenado e, nesse caso
não será remunerado.
Apesar das diversas e importantes funções do trabalho obrigatório do apenado,
esse constitui-se em exceção e não a regra, pois na grande maioria de nossos
estabelecimentos prisionais no Brasil e no Estado do Tocantins, o que reina na verdade é
o ócio, gastando os apenados seus dias assistindo televisão, ouvindo rádio ou pensando
em formas de evadir-se da enxovia ou, em cometer novos crimes, gerando essa
quantidade de ações criminosas oriundas de dentro dos estabelecimentos prisionais, que
verificamos diariamente.
Assim, cabe ao Estado fornecer ao preso atividades laborais condizentes com a
forma de cumprimento de sua pena e em relação a obrigação do preso em exercer
atividade laboral, que se fosse cumprida com certeza diminuiria a reincidência dos presos
no Brasil.
Mas além de ser um dever do preso e obrigação do Estado, este será também um
direito do apenado, uma vez que lhe é garantida essa condição pela Constituição Federal
em seu art. 6º, que diz: ˝São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o
lazer, a segurança, a previdência social, a proteção, à maternidade e à infância, a
assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.˝
A jornada de trabalho a ser aplicada ao apenado será de 06:00 a 08:00 horas
diárias, sendo respeitado os descansos obrigatórios aos domingos e feriados, não se
aplicando ao trabalho do preso as disposições da Consolidação das Leis do Trabalho, de
acordo com o disposto no art. 28, § 2º da LEP, mas sendo garantidos ao trabalhador preso
as indenizações decorrentes de acidente de trabalho e enfermidades provenientes das
atividades desenvolvidas em conformidade com os direitos garantidos aos trabalhadores
livres.
O apenado que provocar intencionalmente acidente de trabalho ou atrasar
propositalmente o trabalho do qual fora incumbido cometera falta grave, devendo ser
penalizado de acordo com a legislação vigente.
Além da remuneração por seu trabalho o apenado que cumpre sua pena em
regime fechado ou semi-aberto também terá direito ao benefício da remição, que consiste
na redução de sua pena em virtude do trabalho, ou seja, para cada três dias de trabalho
reduz um dia de sua pena.
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Essa remição também é computada para a concessão de benefícios ao apenado
como a progressão de regime de cumprimento da pena e concessão de liberdade
condicional, tudo de acordo com a LEP.
A remição continuará a ser contada no período em que o apenado estiver afastado
de suas atividades em virtude de acidente de trabalho, mas somente será levado em
consideração o período em que o preso estiver afastado das atividades laborais em virtude
de sua enfermidade decorrente do acidente.
O art. 127 da LEP, determina que o preso que cometer falta grave perdera o direito
ao tempo de remição decorrente do serviço já prestado, devendo recomeçar a contagem
do tempo de remição, mas é importante frisar que essa punição é considerada
inconstitucional, uma vez que contraria o direito adquirido e a coisa julgada, além do mais,
na maioria de nossos estabelecimentos prisionais no Brasil sequer é adotada o trabalho
entre os apenados.
Diante da obrigatoriedade do trabalho, no estabelecimento prisional em que houver
o trabalho, o preso não poderá omitir-se de trabalhar, a recusa do apenado em trabalhar,
desde que a recusa não seja por motivo justificado, será considerada falta grave, uma vez
que é direito mas também dever do apenado.
Reflita: O apenado que se recusa ao trabalho é punido com falta grave, e o
Estado, que apesar de sua obrigação, não oportuniza ao preso o trabalho sofre qual
punição?
Entre os direitos dos presos, já vimos que esta o direito a um ambiente limpo e
higiênico, mas isso também constitui-se em obrigação do apenado, que deve manter a sua
cela sempre limpa e organizada, de acordo com o art. 39, IX da LEP.
Atividade
Faça um breve relato sobre a relação do preso com o trabalho durante o cárcere e das
condições que o Estado Brasileiro fornece para que o preso tenha atividades profissionais
durante a prisão.
Referências
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Unidade 9
Os presos e seus deveres
Objetivo
• Conhecer os deveres que possui o preso durante o cumprimento de sua
pena;
• Conhecer as sanções disciplinares aplicadas aos presos quando cometem
alguma falta disciplinar.
Introdução
Nesta unidade, vamos conhecer os deveres que possui o preso para que cumpra a sua
pena na totalidade e de acordo com sentença que lhe foi imposta, e em conseqüência, as
sanções disciplinares a que pode ser submetido o preso em função do descumprimento de
qualquer de suas obrigações e ainda em relação ao cometimento de ato considerado crime
durante o cumprimento da pena.
Art. 38. Cumpre ao condenado, além das obrigações legais inerentes ao seu
estado, submeter-se às normas de execução da pena.
Art. 39. Constituem deveres do condenado:
I - comportamento disciplinado e cumprimento fiel da sentença;
II - obediência ao servidor e respeito a qualquer pessoa com quem deva
relacionar-se;
III - urbanidade e respeito no trato com os demais condenados;
IV - conduta oposta aos movimentos individuais ou coletivos de fuga ou de
subversão à ordem ou à disciplina;
V - execução do trabalho, das tarefas e das ordens recebidas;
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VI - submissão à sanção disciplinar imposta;
VII - indenização à vitima ou aos seus sucessores;
VIII - indenização ao Estado, quando possível, das despesas realizadas com
a sua manutenção, mediante desconto proporcional da remuneração do
trabalho;
IX - higiene pessoal e asseio da cela ou alojamento;
X - conservação dos objetos de uso pessoal.
Parágrafo único. Aplica-se ao preso provisório, no que couber, o disposto
neste artigo.
Dessa forma, vamos analisar cada um dos deveres do apenado começando pelo
primeiro dos deveres previstos pela LEP, o comportamento disciplinado e o fiel
cumprimento de sua sentença, pois a disciplina é obrigação do apenado, assim como sua
resignação diante de sua pena, após o seu transito em julgado, assim, a participação do
apenado em rebeliões ou qualquer forma de desrespeito as normas do estabelecimento
prisional, o que não quer dizer que o apenado não possa protestar contra abusos ou
restrições aos seus direitos, mas esses devem ser feitos pelos meios legais.
A segunda obrigação e terceira obrigações previstas pela LEP, dizem respeito ao
trato com os servidores e demais apenados, que deve pautar-se pelos princípios de
respeito e cordialidade, que deve ser mútua, devendo o servidor por sua vez, também
tratar o apenado com cordialidade e respeito.
A quarta obrigação ao apenado trata do dever do apenado de além de não
participar de qualquer movimento subversivo ou com o intuito de evadir-se do
estabelecimento prisional, deve opor-se a estes e inclusive comunicar a administração e
aos servidores do estabelecimento prisional sobre eventuais tentativas dos outros presos.
Esse tema é bastante controverso pois dentro de nosso estabelecimento prisional
brasileiro é sabido que existe um código de ética entre os presos, e dentro deste a punição
para o preso delator é a morte, e assim, sempre deve ser preservada as fonte das
informações obtidas pela administração entre os presos.
A obrigação de cumprir os trabalhos, tarefas e ordem recebidas deve receber a
ressalva de que as ordens que não possuam previsão legal ou atentem contra os direitos
do preso ou qualquer outro direito não devem ser cumpridas, bem como as ordens com o
intuito de colocar o detento em situação de risco ou vexatória e humilhante, devendo nesse
caso comunicar o juiz da execução sobre a desobediência e o seu motivo.
Constitui-se ainda em dever do apenado a indenização da vítima e de sua família,
e ao Estado pelas despesas decorrentes de sua manutenção. Esses deveres na grande
maioria dos casos não são cumpridos, uma vez que na nossa realidade carcerária, a
grande maioria dos apenados não possuía condições de manter o seu sustento com
dignidade fora dos presídios, o que dirá dentro destes, constituindo-se na maioria dos
casos esse dever em letra morta diante da impossibilidade de sua execução, o que não
quer dizer que perdeu sua validade, devendo sempre ser aplicada quando o apenado
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possui condições financeiras de reparar a vítima ou seus familiares como custear as suas
despesas.
E por fim como já dissemos, deve o presos manter a ordem e a higiene de sua
cela e conservar os seus objetos de uso pessoal, essa limpeza e ordem de sua cela e
objetos fica prejudicada diante da superlotação de nossos estabelecimentos prisionais
onde os presos em sua maioria são mantidos em ambientes superlotados e sem as
mínimas condições de humanidade, fica difícil a cobrança dessas obrigações.
Diante dessas obrigações, quando não observadas as mesmas pelos apenados
estes poderão sofrer sanções disciplinares com o intuito de manter a disciplina do
estabelecimento prisional, de acordo com o disposto no art. 44 da LEP.
Art. 50. Comete falta grave o condenado à pena privativa de liberdade que:
I - incitar ou participar de movimento para subverter a ordem ou a disciplina;
II - fugir;
III - possuir, indevidamente, instrumento capaz de ofender a integridade física
de outrem;
IV - provocar acidente de trabalho;
V - descumprir, no regime aberto, as condições impostas;
VI - inobservar os deveres previstos nos incisos II e V, do artigo 39, desta Lei.
Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se, no que couber, ao preso
provisório.
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Outra questão a respeito das sanções a serem aplicadas diz respeito ao Regime
Disciplinar Diferenciado que foi adicionado pela lei 10.792 de 2003, alterando os seguintes
artigos da LEP:
Art. 52. A prática de fato previsto como crime doloso constitui falta grave e,
quando ocasione subversão da ordem ou disciplina internas, sujeita o preso
provisório, ou condenado, sem prejuízo da sanção penal, ao regime disciplinar
diferenciado, com as seguintes características:
I - duração máxima de trezentos e sessenta dias, sem prejuízo de repetição
da sanção por nova falta grave de mesma espécie, até o limite de um sexto
da pena aplicada;
II - recolhimento em cela individual;
III - visitas semanais de duas pessoas, sem contar as crianças, com duração
de duas horas; IV - o preso terá direito à saída da cela por 2 horas diárias
para banho de sol.
§ 1o O regime disciplinar diferenciado também poderá abrigar presos
provisórios ou condenados, nacionais ou estrangeiros, que apresentem alto
risco para a ordem e a segurança do estabelecimento penal ou da sociedade.
§ 2o Estará igualmente sujeito ao regime disciplinar diferenciado o preso
provisório ou o condenado sob o qual recaiam fundadas suspeitas de
envolvimento ou participação, a qualquer título, em organizações criminosas,
quadrilha ou bando.
54
Atividade
Diante da leitura da presente unidade, faça uma pequena síntese da mesma, pontuando
os principais deveres e as sanções a que o preso pode ser submetido em função delas.
Referências
55
Unidade 10
A organização da prisão
Objetivo
• Conhecer a organização administrativa dos estabelecimentos prisionais;
• Conhecer os tipos de estabelecimento prisional.
Introdução
Nesta unidade, vamos conhecer a organização administrativa dos
estabelecimentos prisionais e os tipos de estabelecimento prisional em que serão
cumpridas as penas privativas de liberdade.
56
Art. 64. Ao Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, no
exercício de suas atividades, em âmbito federal ou estadual, incumbe:
I - propor diretrizes da política criminal quanto à prevenção do delito,
administração da Justiça Criminal e execução das penas e das medidas de
segurança;
II - contribuir na elaboração de planos nacionais de desenvolvimento,
sugerindo as metas e prioridades da política criminal e penitenciária;
III - promover a avaliação periódica do sistema criminal para a sua adequação
às necessidades do País;
IV - estimular e promover a pesquisa criminológica;
V - elaborar programa nacional penitenciário de formação e aperfeiçoamento
do servidor;
VI - estabelecer regras sobre a arquitetura e construção de estabelecimentos
penais e casas de albergados;
VII - estabelecer os critérios para a elaboração da estatística criminal;
VIII - inspecionar e fiscalizar os estabelecimentos penais, bem assim informar-
se, mediante relatórios do Conselho Penitenciário, requisições, visitas ou
outros meios, acerca do desenvolvimento da execução penal nos Estados,
Territórios e Distrito Federal, propondo às autoridades dela incumbida as
medidas necessárias ao seu aprimoramento;
IX - representar ao Juiz da execução ou à autoridade administrativa para
instauração de sindicância ou procedimento administrativo, em caso de
violação das normas referentes à execução penal;
X - representar à autoridade competente para a interdição, no todo ou em
parte, de estabelecimento penal.
O segundo órgão é o Juízo da Execução, que será sempre o da Comarca em que estiver
cumprindo a pena o preso, não estando ligado ao juiz que proferiu a sentença, mas em
alguns casos pode ser o mesmo magistrado, não havendo qualquer vedação nesse
sentido. As funções do juízo da execução estão previstos no art. 66 da LEP, que assim
define:
Art. 66. Compete ao Juiz da execução:
I - aplicar aos casos julgados lei posterior que de qualquer modo favorecer o
condenado;
II - declarar extinta a punibilidade;
III - decidir sobre:
a) soma ou unificação de penas;
b) progressão ou regressão nos regimes;
c) detração e remição da pena;
d) suspensão condicional da pena;
e) livramento condicional;
f) incidentes da execução.
57
IV - autorizar saídas temporárias;
V - determinar:
a) a forma de cumprimento da pena restritiva de direitos e fiscalizar sua
execução;
b) a conversão da pena restritiva de direitos e de multa em privativa de
liberdade;
c) a conversão da pena privativa de liberdade em restritiva de direitos;
d) a aplicação da medida de segurança, bem como a substituição da pena por
medida de segurança;
e) a revogação da medida de segurança;
f) a desinternação e o restabelecimento da situação anterior;
g) o cumprimento de pena ou medida de segurança em outra comarca;
h) a remoção do condenado na hipótese prevista no § 1º, do artigo 86, desta
Lei.
VI - zelar pelo correto cumprimento da pena e da medida de segurança;
VII - inspecionar, mensalmente, os estabelecimentos penais, tomando
providências para o adequado funcionamento e promovendo, quando for o
caso, a apuração de responsabilidade;
VIII - interditar, no todo ou em parte, estabelecimento penal que estiver
funcionando em condições inadequadas ou com infringência aos dispositivos
desta Lei;
IX - compor e instalar o Conselho da Comunidade.
X – emitir anualmente atestado de pena a cumprir.
O Ministério Público age na execução como Fiscal da Lei, cuidando para que as
penas impostas sejam cumpridas dentro de seus limites e garantindo ainda a segurança e
direitos dos apenados, o art. 68 da LEP, define as funções do Ministério Público na
execução da pena, vejamos:
58
III - interpor recursos de decisões proferidas pela autoridade judiciária,
durante a execução.
Parágrafo único. O órgão do Ministério Público visitará mensalmente os
estabelecimentos penais, registrando a sua presença em livro próprio.
59
destinadas ao cumprimento de penas privativas de liberdade aplicadas pela
justiça de outra unidade federativa, em especial para presos sujeitos a regime
disciplinar.
Parágrafo único. Incumbem também ao Departamento a coordenação e
supervisão dos estabelecimentos penais e de internamento federais.
60
Art. 84. O preso provisório ficará separado do condenado por sentença
transitada em julgado.
§ 1° O preso primário cumprirá pena em seção distinta daquela reservada
para os reincidentes.
§ 2° O preso que, ao tempo do fato, era funcionário da Administração da
Justiça Criminal ficará em dependência separada.
Art. 85. O estabelecimento penal deverá ter lotação compatível com a sua
estrutura e finalidade.
Parágrafo único. O Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária
determinará o limite máximo de capacidade do estabelecimento, atendendo a
sua natureza e peculiaridades.
Art. 86. As penas privativas de liberdade aplicadas pela Justiça de uma
Unidade Federativa podem ser executadas em outra unidade, em
estabelecimento local ou da União.
§ 1o A União Federal poderá construir estabelecimento penal em local distante
da condenação para recolher os condenados, quando a medida se justifique
no interesse da segurança pública ou do próprio condenado.
§ 2° Conforme a natureza do estabelecimento, nele poderão trabalhar os
liberados ou egressos que se dediquem a obras públicas ou ao
aproveitamento de terras ociosas.
§ 3o Caberá ao juiz competente, a requerimento da autoridade administrativa
definir o estabelecimento prisional adequado para abrigar o preso provisório
ou condenado, em atenção ao regime e aos requisitos estabelecidos.
61
a) salubridade do ambiente pela concorrência dos fatores de aeração,
insolação e condicionamento térmico adequado à existência humana;
b) área mínima de 6,00m2 (seis metros quadrados).
Art. 89. Além dos requisitos referidos no artigo anterior, a penitenciária de
mulheres poderá ser dotada de seção para gestante e parturiente e de creche
com a finalidade de assistir ao menor desamparado cuja responsável esteja
presa.
Art. 90. A penitenciária de homens será construída, em local afastado do
centro urbano, à distância que não restrinja a visitação.
Aos presos condenados que cumprem pena em regime semi-aberto, a pena será
cumprida em colônia agrícola, industrial ou similar, sendo necessário dessa forma, um
estabelecimento prisional adequado e condizente com as regras de cumprimento dessa
pena e em acordo com a legislação vigente, assim, a LEP previu a criação desses
estabelecimentos bem como as regras para a sua instalação e funcionamento. Em nosso
Estado do Tocantins só temos um estabelecimento prisional que preenche esses requisitos
que esta localizado na cidade de Gurupi – TO. As regras para esse estabelecimento são
as seguintes:
62
Art. 95. Em cada região haverá, pelo menos, uma Casa do
Albergado, a qual deverá conter, além dos aposentos para
acomodar os presos, local adequado para cursos e
palestras.
Parágrafo único. O estabelecimento terá instalações para
os serviços de fiscalização e orientação dos condenados.
63
Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico ou em
outro local com dependência médica adequada.
Atividades
64
2 – Quais os tipos de estabelecimentos prisionais e quais as diferenças que apresentam
entre si.
Referências
65
Unidade 11
A Lei de Execuções Penais
Objetivo
• Conhecer a Lei de Execuções Penais na íntegra;
• Manusear e utilizar a legislação em seu cotidiano.
Introdução
Nesta unidade, vamos conhecer a Lei de Execuções Penais em sua íntegra, para
que possamos manuseá-la e, habituar-se a interpretação da mesma em seu cotidiano.
Vejamos, então, a Lei de Execuções Penais em sua integra:
TÍTULO I
Art. 1º A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão
criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do
internado.
Art. 2º A jurisdição penal dos Juízes ou Tribunais da Justiça ordinária, em todo o Território
Nacional, será exercida, no processo de execução, na conformidade desta Lei e do Código
de Processo Penal.
Parágrafo único. Esta Lei aplicar-se-á igualmente ao preso provisório e ao condenado pela
Justiça Eleitoral ou Militar, quando recolhido a estabelecimento sujeito à jurisdição
ordinária.
66
Art. 3º Ao condenado e ao internado serão assegurados todos os direitos não atingidos
pela sentença ou pela lei.
Parágrafo único. Não haverá qualquer distinção de natureza racial, social, religiosa ou
política.
Art. 4º O Estado deverá recorrer à cooperação da comunidade nas atividades de execução
da pena e da medida de segurança.
TÍTULO II
Do Condenado e do Internado
CAPÍTULO I
Da Classificação
CAPÍTULO II
Da Assistência
67
SEÇÃO I
Disposições Gerais
SEÇÃO II
Da Assistência Material
SEÇÃO III
Da Assistência à Saúde
SEÇÃO IV
Da Assistência Jurídica
68
Art. 15. A assistência jurídica é destinada aos presos e aos internados sem recursos
financeiros para constituir advogado.
Art. 16. As Unidades da Federação deverão ter serviços de assistência jurídica nos
estabelecimentos penais.
SEÇÃO V
Da Assistência Educacional
SEÇÃO VI
Da Assistência Social
Art. 22. A assistência social tem por finalidade amparar o preso e o internado e prepará-los
para o retorno à liberdade.
Art. 23. Incumbe ao serviço de assistência social:
I - conhecer os resultados dos diagnósticos ou exames;
II - relatar, por escrito, ao Diretor do estabelecimento, os problemas e as dificuldades
enfrentadas pelo assistido;
III - acompanhar o resultado das permissões de saídas e das saídas temporárias;
IV - promover, no estabelecimento, pelos meios disponíveis, a recreação;
V - promover a orientação do assistido, na fase final do cumprimento da pena, e do
liberando, de modo a facilitar o seu retorno à liberdade;
VI - providenciar a obtenção de documentos, dos benefícios da Previdência Social e do
seguro por acidente no trabalho;
VII - orientar e amparar, quando necessário, a família do preso, do internado e da vítima.
SEÇÃO VII
69
Da Assistência Religiosa
Art. 24. A assistência religiosa, com liberdade de culto, será prestada aos presos e aos
internados, permitindo-se-lhes a participação nos serviços organizados no estabelecimento
penal, bem como a posse de livros de instrução religiosa.
§ 1º No estabelecimento haverá local apropriado para os cultos religiosos.
§ 2º Nenhum preso ou internado poderá ser obrigado a participar de atividade religiosa.
SEÇÃO VIII
Da Assistência ao Egresso
CAPÍTULO III
Do Trabalho
SEÇÃO I
Disposições Gerais
Art. 28. O trabalho do condenado, como dever social e condição de dignidade humana,
terá finalidade educativa e produtiva.
§ 1º Aplicam-se à organização e aos métodos de trabalho as precauções relativas à
segurança e à higiene.
§ 2º O trabalho do preso não está sujeito ao regime da Consolidação das Leis do Trabalho.
Art. 29. O trabalho do preso será remunerado, mediante prévia tabela, não podendo ser
inferior a 3/4 (três quartos) do salário mínimo.
§ 1° O produto da remuneração pelo trabalho deverá atender:
a) à indenização dos danos causados pelo crime, desde que determinados judicialmente e
não reparados por outros meios;
70
b) à assistência à família;
c) a pequenas despesas pessoais;
d) ao ressarcimento ao Estado das despesas realizadas com a manutenção do
condenado, em proporção a ser fixada e sem prejuízo da destinação prevista nas letras
anteriores.
§ 2º Ressalvadas outras aplicações legais, será depositada a parte restante para
constituição do pecúlio, em Caderneta de Poupança, que será entregue ao condenado
quando posto em liberdade.
Art. 30. As tarefas executadas como prestação de serviço à comunidade não serão
remuneradas.
SEÇÃO II
Do Trabalho Interno
Art. 31. O condenado à pena privativa de liberdade está obrigado ao trabalho na medida
de suas aptidões e capacidade.
Parágrafo único. Para o preso provisório, o trabalho não é obrigatório e só poderá ser
executado no interior do estabelecimento.
Art. 32. Na atribuição do trabalho deverão ser levadas em conta a habilitação, a condição
pessoal e as necessidades futuras do preso, bem como as oportunidades oferecidas pelo
mercado.
§ 1º Deverá ser limitado, tanto quanto possível, o artesanato sem expressão econômica,
salvo nas regiões de turismo.
§ 2º Os maiores de 60 (sessenta) anos poderão solicitar ocupação adequada à sua idade.
§ 3º Os doentes ou deficientes físicos somente exercerão atividades apropriadas ao seu
estado.
Art. 33. A jornada normal de trabalho não será inferior a 6 (seis) nem superior a 8 (oito)
horas, com descanso nos domingos e feriados.
Parágrafo único. Poderá ser atribuído horário especial de trabalho aos presos designados
para os serviços de conservação e manutenção do estabelecimento penal.
Art. 34. O trabalho poderá ser gerenciado por fundação, ou empresa pública, com
autonomia administrativa, e terá por objetivo a formação profissional do condenado.
§ 1o. Nessa hipótese, incumbirá à entidade gerenciadora promover e supervisionar a
produção, com critérios e métodos empresariais, encarregar-se de sua comercialização,
bem como suportar despesas, inclusive pagamento de remuneração adequada.
§ 2o Os governos federal, estadual e municipal poderão celebrar convênio com a iniciativa
privada, para implantação de oficinas de trabalho referentes a setores de apoio dos
presídios.
Art. 35. Os órgãos da Administração Direta ou Indireta da União, Estados, Territórios,
Distrito Federal e dos Municípios adquirirão, com dispensa de concorrência pública, os
71
bens ou produtos do trabalho prisional, sempre que não for possível ou recomendável
realizar-se a venda a particulares.
Parágrafo único. Todas as importâncias arrecadadas com as vendas reverterão em favor
da fundação ou empresa pública a que alude o artigo anterior ou, na sua falta, do
estabelecimento penal.
SEÇÃO III
Do Trabalho Externo
Art. 36. O trabalho externo será admissível para os presos em regime fechado somente em
serviço ou obras públicas realizadas por órgãos da Administração Direta ou Indireta, ou
entidades privadas, desde que tomadas as cautelas contra a fuga e em favor da disciplina.
§ 1º O limite máximo do número de presos será de 10% (dez por cento) do total de
empregados na obra.
§ 2º Caberá ao órgão da administração, à entidade ou à empresa empreiteira a
remuneração desse trabalho.
§ 3º A prestação de trabalho à entidade privada depende do consentimento expresso do
preso.
Art. 37. A prestação de trabalho externo, a ser autorizada pela direção do estabelecimento,
dependerá de aptidão, disciplina e responsabilidade, além do cumprimento mínimo de 1/6
(um sexto) da pena.
Parágrafo único. Revogar-se-á a autorização de trabalho externo ao preso que vier a
praticar fato definido como crime, for punido por falta grave, ou tiver comportamento
contrário aos requisitos estabelecidos neste artigo.
CAPÍTULO IV
SEÇÃO I
Dos Deveres
Art. 38. Cumpre ao condenado, além das obrigações legais inerentes ao seu estado,
submeter-se às normas de execução da pena.
Art. 39. Constituem deveres do condenado:
I - comportamento disciplinado e cumprimento fiel da sentença;
II - obediência ao servidor e respeito a qualquer pessoa com quem deva relacionar-se;
III - urbanidade e respeito no trato com os demais condenados;
IV - conduta oposta aos movimentos individuais ou coletivos de fuga ou de subversão à
ordem ou à disciplina;
72
V - execução do trabalho, das tarefas e das ordens recebidas;
VI - submissão à sanção disciplinar imposta;
VII - indenização à vitima ou aos seus sucessores;
VIII - indenização ao Estado, quando possível, das despesas realizadas com a sua
manutenção, mediante desconto proporcional da remuneração do trabalho;
IX - higiene pessoal e asseio da cela ou alojamento;
X - conservação dos objetos de uso pessoal.
Parágrafo único. Aplica-se ao preso provisório, no que couber, o disposto neste artigo.
SEÇÃO II
Dos Direitos
73
Parágrafo único. As divergências entre o médico oficial e o particular serão resolvidas pelo
Juiz da execução.
SEÇÃO III
Da Disciplina
SUBSEÇÃO I
Disposições Gerais
SUBSEÇÃO II
Art. 49. As faltas disciplinares classificam-se em leves, médias e graves. A legislação local
especificará as leves e médias, bem assim as respectivas sanções.
Parágrafo único. Pune-se a tentativa com a sanção correspondente à falta consumada.
Art. 50. Comete falta grave o condenado à pena privativa de liberdade que:
I - incitar ou participar de movimento para subverter a ordem ou a disciplina;
II - fugir;
III - possuir, indevidamente, instrumento capaz de ofender a integridade física de outrem;
IV - provocar acidente de trabalho;
V - descumprir, no regime aberto, as condições impostas;
74
VI - inobservar os deveres previstos nos incisos II e V, do artigo 39, desta Lei.
Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se, no que couber, ao preso provisório.
Art. 51. Comete falta grave o condenado à pena restritiva de direitos que:
I - descumprir, injustificadamente, a restrição imposta;
II - retardar, injustificadamente, o cumprimento da obrigação imposta;
III - inobservar os deveres previstos nos incisos II e V, do artigo 39, desta Lei.
Art. 52. A prática de fato previsto como crime doloso constitui falta grave e, quando
ocasione subversão da ordem ou disciplina internas, sujeita o preso provisório, ou
condenado, sem prejuízo da sanção penal, ao regime disciplinar diferenciado, com as
seguintes características:
I - duração máxima de trezentos e sessenta dias, sem prejuízo de repetição da sanção por
nova falta grave de mesma espécie, até o limite de um sexto da pena aplicada;
II - recolhimento em cela individual;
III - visitas semanais de duas pessoas, sem contar as crianças, com duração de duas
horas;
IV - o preso terá direito à saída da cela por 2 horas diárias para banho de sol.
§ 1o O regime disciplinar diferenciado também poderá abrigar presos provisórios ou
condenados, nacionais ou estrangeiros, que apresentem alto risco para a ordem e a
segurança do estabelecimento penal ou da sociedade.
§ 2o Estará igualmente sujeito ao regime disciplinar diferenciado o preso provisório ou o
condenado sob o qual recaiam fundadas suspeitas de envolvimento ou participação, a
qualquer título, em organizações criminosas, quadrilha ou bando.
SUBSEÇÃO III
75
§ 2o A decisão judicial sobre inclusão de preso em regime disciplinar será precedida de
manifestação do Ministério Público e da defesa e prolatada no prazo máximo de quinze
dias.
Art. 55. As recompensas têm em vista o bom comportamento reconhecido em favor do
condenado, de sua colaboração com a disciplina e de sua dedicação ao trabalho.
Art. 56. São recompensas:
I - o elogio;
II - a concessão de regalias.
Parágrafo único. A legislação local e os regulamentos estabelecerão a natureza e a forma
de concessão de regalias.
SUBSEÇÃO IV
SUBSEÇÃO V
Do Procedimento Disciplinar
Art. 59. Praticada a falta disciplinar, deverá ser instaurado o procedimento para sua
apuração, conforme regulamento, assegurado o direito de defesa.
Parágrafo único. A decisão será motivada.
Art. 60. A autoridade administrativa poderá decretar o isolamento preventivo do faltoso
pelo prazo de até dez dias. A inclusão do preso no regime disciplinar diferenciado, no
interesse da disciplina e da averiguação do fato, dependerá de despacho do juiz
competente.
Parágrafo único. O tempo de isolamento ou inclusão preventiva no regime disciplinar
diferenciado será computado no período de cumprimento da sanção disciplinar.
TÍTULO III
76
CAPÍTULO I
Disposições Gerais
CAPÍTULO II
Art. 62. O Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, com sede na Capital da
República, é subordinado ao Ministério da Justiça.
Art. 63. O Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária será integrado por 13
(treze) membros designados através de ato do Ministério da Justiça, dentre professores e
profissionais da área do Direito Penal, Processual Penal, Penitenciário e ciências
correlatas, bem como por representantes da comunidade e dos Ministérios da área social.
Parágrafo único. O mandato dos membros do Conselho terá duração de 2 (dois) anos,
renovado 1/3 (um terço) em cada ano.
Art. 64. Ao Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, no exercício de suas
atividades, em âmbito federal ou estadual, incumbe:
I - propor diretrizes da política criminal quanto à prevenção do delito, administração da
Justiça Criminal e execução das penas e das medidas de segurança;
II - contribuir na elaboração de planos nacionais de desenvolvimento, sugerindo as metas
e prioridades da política criminal e penitenciária;
III - promover a avaliação periódica do sistema criminal para a sua adequação às
necessidades do País;
IV - estimular e promover a pesquisa criminológica;
V - elaborar programa nacional penitenciário de formação e aperfeiçoamento do servidor;
VI - estabelecer regras sobre a arquitetura e construção de estabelecimentos penais e
casas de albergados;
VII - estabelecer os critérios para a elaboração da estatística criminal;
VIII - inspecionar e fiscalizar os estabelecimentos penais, bem assim informar-se, mediante
relatórios do Conselho Penitenciário, requisições, visitas ou outros meios, acerca do
desenvolvimento da execução penal nos Estados, Territórios e Distrito Federal, propondo
às autoridades dela incumbida as medidas necessárias ao seu aprimoramento;
77
IX - representar ao Juiz da execução ou à autoridade administrativa para instauração de
sindicância ou procedimento administrativo, em caso de violação das normas referentes à
execução penal;
X - representar à autoridade competente para a interdição, no todo ou em parte, de
estabelecimento penal.
CAPÍTULO III
Do Juízo da Execução
Art. 65. A execução penal competirá ao Juiz indicado na lei local de organização judiciária
e, na sua ausência, ao da sentença.
Art. 66. Compete ao Juiz da execução:
I - aplicar aos casos julgados lei posterior que de qualquer modo favorecer o condenado;
II - declarar extinta a punibilidade;
III - decidir sobre:
a) soma ou unificação de penas;
b) progressão ou regressão nos regimes;
c) detração e remição da pena;
d) suspensão condicional da pena;
e) livramento condicional;
f) incidentes da execução.
IV - autorizar saídas temporárias;
V - determinar:
a) a forma de cumprimento da pena restritiva de direitos e fiscalizar sua execução;
b) a conversão da pena restritiva de direitos e de multa em privativa de liberdade;
c) a conversão da pena privativa de liberdade em restritiva de direitos;
d) a aplicação da medida de segurança, bem como a substituição da pena por medida de
segurança;
e) a revogação da medida de segurança;
f) a desinternação e o restabelecimento da situação anterior;
g) o cumprimento de pena ou medida de segurança em outra comarca;
h) a remoção do condenado na hipótese prevista no § 1º, do artigo 86, desta Lei.
VI - zelar pelo correto cumprimento da pena e da medida de segurança;
VII - inspecionar, mensalmente, os estabelecimentos penais, tomando providências para o
adequado funcionamento e promovendo, quando for o caso, a apuração de
responsabilidade;
VIII - interditar, no todo ou em parte, estabelecimento penal que estiver funcionando em
condições inadequadas ou com infringência aos dispositivos desta Lei;
IX - compor e instalar o Conselho da Comunidade.
X – emitir anualmente atestado de pena a cumprir.
78
CAPÍTULO IV
Do Ministério Público
CAPÍTULO V
Do Conselho Penitenciário
CAPÍTULO VI
79
Dos Departamentos Penitenciários
SEÇÃO I
SEÇÃO II
Art. 73. A legislação local poderá criar Departamento Penitenciário ou órgão similar, com
as atribuições que estabelecer.
Art. 74. O Departamento Penitenciário local, ou órgão similar, tem por finalidade
supervisionar e coordenar os estabelecimentos penais da Unidade da Federação a que
pertencer.
SEÇÃO III
80
Art. 75. O ocupante do cargo de diretor de estabelecimento deverá satisfazer os seguintes
requisitos:
I - ser portador de diploma de nível superior de Direito, ou Psicologia, ou Ciências Sociais,
ou Pedagogia, ou Serviços Sociais;
II - possuir experiência administrativa na área;
III - ter idoneidade moral e reconhecida aptidão para o desempenho da função.
Parágrafo único. O diretor deverá residir no estabelecimento, ou nas proximidades, e
dedicará tempo integral à sua função.
Art. 76. O Quadro do Pessoal Penitenciário será organizado em diferentes categorias
funcionais, segundo as necessidades do serviço, com especificação de atribuições
relativas às funções de direção, chefia e assessoramento do estabelecimento e às demais
funções.
Art. 77. A escolha do pessoal administrativo, especializado, de instrução técnica e de
vigilância atenderá a vocação, preparação profissional e antecedentes pessoais do
candidato.
§ 1° O ingresso do pessoal penitenciário, bem como a progressão ou a ascensão funcional
dependerão de cursos específicos de formação, procedendo-se à reciclagem periódica dos
servidores em exercício.
§ 2º No estabelecimento para mulheres somente se permitirá o trabalho de pessoal do
sexo feminino, salvo quando se tratar de pessoal técnico especializado.
CAPÍTULO VII
Do Patronato
Art. 78. O Patronato público ou particular destina-se a prestar assistência aos albergados e
aos egressos (artigo 26).
Art. 79. Incumbe também ao Patronato:
I - orientar os condenados à pena restritiva de direitos;
II - fiscalizar o cumprimento das penas de prestação de serviço à comunidade e de
limitação de fim de semana;
III - colaborar na fiscalização do cumprimento das condições da suspensão e do livramento
condicional.
CAPÍTULO VIII
Do Conselho da Comunidade
81
Parágrafo único. Na falta da representação prevista neste artigo, ficará a critério do Juiz da
execução a escolha dos integrantes do Conselho.
Art. 81. Incumbe ao Conselho da Comunidade:
I - visitar, pelo menos mensalmente, os estabelecimentos penais existentes na comarca;
II - entrevistar presos;
III - apresentar relatórios mensais ao Juiz da execução e ao Conselho Penitenciário;
IV - diligenciar a obtenção de recursos materiais e humanos para melhor assistência ao
preso ou internado, em harmonia com a direção do estabelecimento.
TÍTULO IV
CAPÍTULO I
Disposições Gerais
82
Art. 86. As penas privativas de liberdade aplicadas pela Justiça de uma Unidade
Federativa podem ser executadas em outra unidade, em estabelecimento local ou da
União.
§ 1o A União Federal poderá construir estabelecimento penal em local distante da
condenação para recolher os condenados, quando a medida se justifique no interesse da
segurança pública ou do próprio condenado.
§ 2° Conforme a natureza do estabelecimento, nele poderão trabalhar os liberados ou
egressos que se dediquem a obras públicas ou ao aproveitamento de terras ociosas.
§ 3o Caberá ao juiz competente, a requerimento da autoridade administrativa definir o
estabelecimento prisional adequado para abrigar o preso provisório ou condenado, em
atenção ao regime e aos requisitos estabelecidos.
CAPÍTULO II
Da Penitenciária
CAPÍTULO III
83
a) a seleção adequada dos presos;
b) o limite de capacidade máxima que atenda os objetivos de individualização da pena.
CAPÍTULO IV
Da Casa do Albergado
CAPÍTULO V
Do Centro de Observação
CAPÍTULO VI
84
CAPÍTULO VII
Da Cadeia Pública
TÍTULO V
CAPÍTULO I
SEÇÃO I
Disposições Gerais
Art. 105. Transitando em julgado a sentença que aplicar pena privativa de liberdade, se o
réu estiver ou vier a ser preso, o Juiz ordenará a expedição de guia de recolhimento para a
execução.
Art. 106. A guia de recolhimento, extraída pelo escrivão, que a rubricará em todas as
folhas e a assinará com o Juiz, será remetida à autoridade administrativa incumbida da
execução e conterá:
I - o nome do condenado;
II - a sua qualificação civil e o número do registro geral no órgão oficial de identificação;
III - o inteiro teor da denúncia e da sentença condenatória, bem como certidão do trânsito
em julgado;
IV - a informação sobre os antecedentes e o grau de instrução;
V - a data da terminação da pena;
VI - outras peças do processo reputadas indispensáveis ao adequado tratamento
penitenciário.
§ 1º Ao Ministério Público se dará ciência da guia de recolhimento.
§ 2º A guia de recolhimento será retificada sempre que sobrevier modificação quanto ao
início da execução ou ao tempo de duração da pena.
85
§ 3° Se o condenado, ao tempo do fato, era funcionário da Administração da Justiça
Criminal, far-se-á, na guia, menção dessa circunstância, para fins do disposto no § 2°, do
artigo 84, desta Lei.
Art. 107. Ninguém será recolhido, para cumprimento de pena privativa de liberdade, sem a
guia expedida pela autoridade judiciária.
§ 1° A autoridade administrativa incumbida da execução passará recibo da guia de
recolhimento para juntá-la aos autos do processo, e dará ciência dos seus termos ao
condenado.
§ 2º As guias de recolhimento serão registradas em livro especial, segundo a ordem
cronológica do recebimento, e anexadas ao prontuário do condenado, aditando-se, no
curso da execução, o cálculo das remições e de outras retificações posteriores.
Art. 108. O condenado a quem sobrevier doença mental será internado em Hospital de
Custódia e Tratamento Psiquiátrico.
Art. 109. Cumprida ou extinta a pena, o condenado será posto em liberdade, mediante
alvará do Juiz, se por outro motivo não estiver preso.
SEÇÃO II
Dos Regimes
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II - apresentar, pelos seus antecedentes ou pelo resultado dos exames a que foi
submetido, fundados indícios de que irá ajustar-se, com autodisciplina e senso de
responsabilidade, ao novo regime.
Parágrafo único. Poderão ser dispensadas do trabalho as pessoas referidas no artigo 117
desta Lei.
Art. 115. O Juiz poderá estabelecer condições especiais para a concessão de regime
aberto, sem prejuízo das seguintes condições gerais e obrigatórias:
I - permanecer no local que for designado, durante o repouso e nos dias de folga;
II - sair para o trabalho e retornar, nos horários fixados;
III - não se ausentar da cidade onde reside, sem autorização judicial;
IV - comparecer a Juízo, para informar e justificar as suas atividades, quando for
determinado.
Art. 116. O Juiz poderá modificar as condições estabelecidas, de ofício, a requerimento do
Ministério Público, da autoridade administrativa ou do condenado, desde que as
circunstâncias assim o recomendem.
Art. 117. Somente se admitirá o recolhimento do beneficiário de regime aberto em
residência particular quando se tratar de:
I - condenado maior de 70 (setenta) anos;
II - condenado acometido de doença grave;
III - condenada com filho menor ou deficiente físico ou mental;
IV - condenada gestante.
Art. 118. A execução da pena privativa de liberdade ficará sujeita à forma regressiva, com
a transferência para qualquer dos regimes mais rigorosos, quando o condenado:
I - praticar fato definido como crime doloso ou falta grave;
II - sofrer condenação, por crime anterior, cuja pena, somada ao restante da pena em
execução, torne incabível o regime (artigo 111).
§ 1° O condenado será transferido do regime aberto se, além das hipóteses referidas nos
incisos anteriores, frustrar os fins da execução ou não pagar, podendo, a multa
cumulativamente imposta.
§ 2º Nas hipóteses do inciso I e do parágrafo anterior, deverá ser ouvido previamente o
condenado.
Art. 119. A legislação local poderá estabelecer normas complementares para o
cumprimento da pena privativa de liberdade em regime aberto (artigo 36, § 1º, do Código
Penal).
SEÇÃO III
SUBSEÇÃO I
Da Permissão de Saída
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Art. 120. Os condenados que cumprem pena em regime fechado ou semi-aberto e os
presos provisórios poderão obter permissão para sair do estabelecimento, mediante
escolta, quando ocorrer um dos seguintes fatos:
I - falecimento ou doença grave do cônjuge, companheira, ascendente, descendente ou
irmão;
II - necessidade de tratamento médico (parágrafo único do artigo 14).
Parágrafo único. A permissão de saída será concedida pelo diretor do estabelecimento
onde se encontra o preso.
Art. 121. A permanência do preso fora do estabelecimento terá a duração necessária à
finalidade da saída.
SUBSEÇÃO II
Da Saída Temporária
Art. 122. Os condenados que cumprem pena em regime semi-aberto poderão obter
autorização para saída temporária do estabelecimento, sem vigilância direta, nos seguintes
casos:
I - visita à família;
II - freqüência a curso supletivo profissionalizante, bem como de instrução do 2º grau ou
superior, na Comarca do Juízo da Execução;
III - participação em atividades que concorram para o retorno ao convívio social.
Art. 123. A autorização será concedida por ato motivado do Juiz da execução, ouvidos o
Ministério Público e a administração penitenciária e dependerá da satisfação dos seguintes
requisitos:
I - comportamento adequado;
II - cumprimento mínimo de 1/6 (um sexto) da pena, se o condenado for primário, e 1/4 (um
quarto), se reincidente;
III - compatibilidade do benefício com os objetivos da pena.
Art. 124. A autorização será concedida por prazo não superior a 7 (sete) dias, podendo ser
renovada por mais 4 (quatro) vezes durante o ano.
Parágrafo único. Quando se tratar de freqüência a curso profissionalizante, de instrução de
2º grau ou superior, o tempo de saída será o necessário para o cumprimento das
atividades discentes.
Art. 125. O benefício será automaticamente revogado quando o condenado praticar fato
definido como crime doloso, for punido por falta grave, desatender as condições impostas
na autorização ou revelar baixo grau de aproveitamento do curso.
Parágrafo único. A recuperação do direito à saída temporária dependerá da absolvição no
processo penal, do cancelamento da punição disciplinar ou da demonstração do
merecimento do condenado.
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SEÇÃO IV
Da Remição
Art. 126. O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semi-aberto poderá
remir, pelo trabalho, parte do tempo de execução da pena.
§ 1º A contagem do tempo para o fim deste artigo será feita à razão de 1 (um) dia de pena
por 3 (três) de trabalho.
§ 2º O preso impossibilitado de prosseguir no trabalho, por acidente, continuará a
beneficiar-se com a remição.
§ 3º A remição será declarada pelo Juiz da execução, ouvido o Ministério Público.
Art. 127. O condenado que for punido por falta grave perderá o direito ao tempo remido,
começando o novo período a partir da data da infração disciplinar.
Art. 128. O tempo remido será computado para a concessão de livramento condicional e
indulto.
Art. 129. A autoridade administrativa encaminhará mensalmente ao Juízo da execução
cópia do registro de todos os condenados que estejam trabalhando e dos dias de trabalho
de cada um deles.
Parágrafo único. Ao condenado dar-se-á relação de seus dias remidos.
Art. 130. Constitui o crime do artigo 299 do Código Penal declarar ou atestar falsamente
prestação de serviço para fim de instruir pedido de remição.
SEÇÃO V
Do Livramento Condicional
Art. 131. O livramento condicional poderá ser concedido pelo Juiz da execução, presentes
os requisitos do artigo 83, incisos e parágrafo único, do Código Penal, ouvidos o Ministério
Público e Conselho Penitenciário.
Art. 132. Deferido o pedido, o Juiz especificará as condições a que fica subordinado o
livramento.
§ 1º Serão sempre impostas ao liberado condicional as obrigações seguintes:
a) obter ocupação lícita, dentro de prazo razoável se for apto para o trabalho;
b) comunicar periodicamente ao Juiz sua ocupação;
c) não mudar do território da comarca do Juízo da execução, sem prévia autorização
deste.
§ 2° Poderão ainda ser impostas ao liberado condicional, entre outras obrigações, as
seguintes:
a) não mudar de residência sem comunicação ao Juiz e à autoridade incumbida da
observação cautelar e de proteção;
b) recolher-se à habitação em hora fixada;
c) não freqüentar determinados lugares.
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Art. 133. Se for permitido ao liberado residir fora da comarca do Juízo da execução,
remeter-se-á cópia da sentença do livramento ao Juízo do lugar para onde ele se houver
transferido e à autoridade incumbida da observação cautelar e de proteção.
Art. 134. O liberado será advertido da obrigação de apresentar-se imediatamente às
autoridades referidas no artigo anterior.
Art. 135. Reformada a sentença denegatória do livramento, os autos baixarão ao Juízo da
execução, para as providências cabíveis.
Art. 136. Concedido o benefício, será expedida a carta de livramento com a cópia integral
da sentença em 2 (duas) vias, remetendo-se uma à autoridade administrativa incumbida
da execução e outra ao Conselho Penitenciário.
Art. 137. A cerimônia do livramento condicional será realizada solenemente no dia
marcado pelo Presidente do Conselho Penitenciário, no estabelecimento onde está sendo
cumprida a pena, observando-se o seguinte:
I - a sentença será lida ao liberando, na presença dos demais condenados, pelo
Presidente do Conselho Penitenciário ou membro por ele designado, ou, na falta, pelo
Juiz;
II - a autoridade administrativa chamará a atenção do liberando para as condições
impostas na sentença de livramento;
III - o liberando declarará se aceita as condições.
§ 1º De tudo em livro próprio, será lavrado termo subscrito por quem presidir a cerimônia e
pelo liberando, ou alguém a seu rogo, se não souber ou não puder escrever.
§ 2º Cópia desse termo deverá ser remetida ao Juiz da execução.
Art. 138. Ao sair o liberado do estabelecimento penal, ser-lhe-á entregue, além do saldo de
seu pecúlio e do que lhe pertencer, uma caderneta, que exibirá à autoridade judiciária ou
administrativa, sempre que lhe for exigida.
§ 1º A caderneta conterá:
a) a identificação do liberado;
b) o texto impresso do presente Capítulo;
c) as condições impostas.
§ 2º Na falta de caderneta, será entregue ao liberado um salvo-conduto, em que constem
as condições do livramento, podendo substituir-se a ficha de identificação ou o seu retrato
pela descrição dos sinais que possam identificá-lo.
§ 3º Na caderneta e no salvo-conduto deverá haver espaço para consignar-se o
cumprimento das condições referidas no artigo 132 desta Lei.
Art. 139. A observação cautelar e a proteção realizadas por serviço social penitenciário,
Patronato ou Conselho da Comunidade terão a finalidade de:
I - fazer observar o cumprimento das condições especificadas na sentença concessiva do
benefício;
II - proteger o beneficiário, orientando-o na execução de suas obrigações e auxiliando-o na
obtenção de atividade laborativa.
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Parágrafo único. A entidade encarregada da observação cautelar e da proteção do
liberado apresentará relatório ao Conselho Penitenciário, para efeito da representação
prevista nos artigos 143 e 144 desta Lei.
Art. 140. A revogação do livramento condicional dar-se-á nas hipóteses previstas nos
artigos 86 e 87 do Código Penal.
Parágrafo único. Mantido o livramento condicional, na hipótese da revogação facultativa, o
Juiz deverá advertir o liberado ou agravar as condições.
Art. 141. Se a revogação for motivada por infração penal anterior à vigência do livramento,
computar-se-á como tempo de cumprimento da pena o período de prova, sendo permitida,
para a concessão de novo livramento, a soma do tempo das 2 (duas) penas.
Art. 142. No caso de revogação por outro motivo, não se computará na pena o tempo em
que esteve solto o liberado, e tampouco se concederá, em relação à mesma pena, novo
livramento.
Art. 143. A revogação será decretada a requerimento do Ministério Público, mediante
representação do Conselho Penitenciário, ou, de ofício, pelo Juiz, ouvido o liberado.
Art. 144. O Juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público, ou mediante
representação do Conselho Penitenciário, e ouvido o liberado, poderá modificar as
condições especificadas na sentença, devendo o respectivo ato decisório ser lido ao
liberado por uma das autoridades ou funcionários indicados no inciso I, do artigo 137,
desta Lei, observado o disposto nos incisos II e III e §§ 1º e 2º do mesmo artigo.
Art. 145. Praticada pelo liberado outra infração penal, o Juiz poderá ordenar a sua prisão,
ouvidos o Conselho Penitenciário e o Ministério Público, suspendendo o curso do
livramento condicional, cuja revogação, entretanto, ficará dependendo da decisão final.
Art. 146. O Juiz, de ofício, a requerimento do interessado, do Ministério Público ou
mediante representação do Conselho Penitenciário, julgará extinta a pena privativa de
liberdade, se expirar o prazo do livramento sem revogação.
CAPÍTULO II
SEÇÃO I
Disposições Gerais
Art. 147. Transitada em julgado a sentença que aplicou a pena restritiva de direitos, o Juiz
da execução, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, promoverá a execução,
podendo, para tanto, requisitar, quando necessário, a colaboração de entidades públicas
ou solicitá-la a particulares.
Art. 148. Em qualquer fase da execução, poderá o Juiz, motivadamente, alterar, a forma de
cumprimento das penas de prestação de serviços à comunidade e de limitação de fim de
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semana, ajustando-as às condições pessoais do condenado e às características do
estabelecimento, da entidade ou do programa comunitário ou estatal.
SEÇÃO II
SEÇÃO III
SEÇÃO IV
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Art. 154. Caberá ao Juiz da execução comunicar à autoridade competente a pena
aplicada, determinada a intimação do condenado.
§ 1º Na hipótese de pena de interdição do artigo 47, inciso I, do Código Penal, a
autoridade deverá, em 24 (vinte e quatro) horas, contadas do recebimento do ofício, baixar
ato, a partir do qual a execução terá seu início.
§ 2º Nas hipóteses do artigo 47, incisos II e III, do Código Penal, o Juízo da execução
determinará a apreensão dos documentos, que autorizam o exercício do direito interditado.
Art. 155. A autoridade deverá comunicar imediatamente ao Juiz da execução o
descumprimento da pena.
Parágrafo único. A comunicação prevista neste artigo poderá ser feita por qualquer
prejudicado.
CAPÍTULO III
Da Suspensão Condicional
Art. 156. O Juiz poderá suspender, pelo período de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, a execução
da pena privativa de liberdade, não superior a 2 (dois) anos, na forma prevista nos artigos
77 a 82 do Código Penal.
Art. 157. O Juiz ou Tribunal, na sentença que aplicar pena privativa de liberdade, na
situação determinada no artigo anterior, deverá pronunciar-se, motivadamente, sobre a
suspensão condicional, quer a conceda, quer a denegue.
Art. 158. Concedida a suspensão, o Juiz especificará as condições a que fica sujeito o
condenado, pelo prazo fixado, começando este a correr da audiência prevista no artigo
160 desta Lei.
§ 1° As condições serão adequadas ao fato e à situação pessoal do condenado, devendo
ser incluída entre as mesmas a de prestar serviços à comunidade, ou limitação de fim de
semana, salvo hipótese do artigo 78, § 2º, do Código Penal.
§ 2º O Juiz poderá, a qualquer tempo, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou
mediante proposta do Conselho Penitenciário, modificar as condições e regras
estabelecidas na sentença, ouvido o condenado.
§ 3º A fiscalização do cumprimento das condições, reguladas nos Estados, Territórios e
Distrito Federal por normas supletivas, será atribuída a serviço social penitenciário,
Patronato, Conselho da Comunidade ou instituição beneficiada com a prestação de
serviços, inspecionados pelo Conselho Penitenciário, pelo Ministério Público, ou ambos,
devendo o Juiz da execução suprir, por ato, a falta das normas supletivas.
§ 4º O beneficiário, ao comparecer periodicamente à entidade fiscalizadora, para
comprovar a observância das condições a que está sujeito, comunicará, também, a sua
ocupação e os salários ou proventos de que vive.
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§ 5º A entidade fiscalizadora deverá comunicar imediatamente ao órgão de inspeção, para
os fins legais, qualquer fato capaz de acarretar a revogação do benefício, a prorrogação do
prazo ou a modificação das condições.
§ 6º Se for permitido ao beneficiário mudar-se, será feita comunicação ao Juiz e à entidade
fiscalizadora do local da nova residência, aos quais o primeiro deverá apresentar-se
imediatamente.
Art. 159. Quando a suspensão condicional da pena for concedida por Tribunal, a este
caberá estabelecer as condições do benefício.
§ 1º De igual modo proceder-se-á quando o Tribunal modificar as condições estabelecidas
na sentença recorrida.
§ 2º O Tribunal, ao conceder a suspensão condicional da pena, poderá, todavia, conferir
ao Juízo da execução a incumbência de estabelecer as condições do benefício, e, em
qualquer caso, a de realizar a audiência admonitória.
Art. 160. Transitada em julgado a sentença condenatória, o Juiz a lerá ao condenado, em
audiência, advertindo-o das conseqüências de nova infração penal e do descumprimento
das condições impostas.
Art. 161. Se, intimado pessoalmente ou por edital com prazo de 20 (vinte) dias, o réu não
comparecer injustificadamente à audiência admonitória, a suspensão ficará sem efeito e
será executada imediatamente a pena.
Art. 162. A revogação da suspensão condicional da pena e a prorrogação do período de
prova dar-se-ão na forma do artigo 81 e respectivos parágrafos do Código Penal.
Art. 163. A sentença condenatória será registrada, com a nota de suspensão em livro
especial do Juízo a que couber a execução da pena.
§ 1º Revogada a suspensão ou extinta a pena, será o fato averbado à margem do registro.
§ 2º O registro e a averbação serão sigilosos, salvo para efeito de informações
requisitadas por órgão judiciário ou pelo Ministério Público, para instruir processo penal.
CAPÍTULO IV
Da Pena de Multa
Art. 164. Extraída certidão da sentença condenatória com trânsito em julgado, que valerá
como título executivo judicial, o Ministério Público requererá, em autos apartados, a citação
do condenado para, no prazo de 10 (dez) dias, pagar o valor da multa ou nomear bens à
penhora.
§ 1º Decorrido o prazo sem o pagamento da multa, ou o depósito da respectiva
importância, proceder-se-á à penhora de tantos bens quantos bastem para garantir a
execução.
§ 2º A nomeação de bens à penhora e a posterior execução seguirão o que dispuser a lei
processual civil.
Art. 165. Se a penhora recair em bem imóvel, os autos apartados serão remetidos ao Juízo
Cível para prosseguimento.
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Art. 166. Recaindo a penhora em outros bens, dar-se-á prosseguimento nos termos do §
2º do artigo 164, desta Lei.
Art. 167. A execução da pena de multa será suspensa quando sobrevier ao condenado
doença mental (artigo 52 do Código Penal).
Art. 168. O Juiz poderá determinar que a cobrança da multa se efetue mediante desconto
no vencimento ou salário do condenado, nas hipóteses do artigo 50, § 1º, do Código
Penal, observando-se o seguinte:
I - o limite máximo do desconto mensal será o da quarta parte da remuneração e o mínimo
o de um décimo;
II - o desconto será feito mediante ordem do Juiz a quem de direito;
III - o responsável pelo desconto será intimado a recolher mensalmente, até o dia fixado
pelo Juiz, a importância determinada.
Art. 169. Até o término do prazo a que se refere o artigo 164 desta Lei, poderá o
condenado requerer ao Juiz o pagamento da multa em prestações mensais, iguais e
sucessivas.
§ 1° O Juiz, antes de decidir, poderá determinar diligências para verificar a real situação
econômica do condenado e, ouvido o Ministério Público, fixará o número de prestações.
§ 2º Se o condenado for impontual ou se melhorar de situação econômica, o Juiz, de ofício
ou a requerimento do Ministério Público, revogará o benefício executando-se a multa, na
forma prevista neste Capítulo, ou prosseguindo-se na execução já iniciada.
Art. 170. Quando a pena de multa for aplicada cumulativamente com pena privativa da
liberdade, enquanto esta estiver sendo executada, poderá aquela ser cobrada mediante
desconto na remuneração do condenado (artigo 168).
§ 1º Se o condenado cumprir a pena privativa de liberdade ou obtiver livramento
condicional, sem haver resgatado a multa, far-se-á a cobrança nos termos deste Capítulo.
§ 2º Aplicar-se-á o disposto no parágrafo anterior aos casos em que for concedida a
suspensão condicional da pena.
TÍTULO VI
CAPÍTULO I
Disposições Gerais
Art. 171. Transitada em julgado a sentença que aplicar medida de segurança, será
ordenada a expedição de guia para a execução.
Art. 172. Ninguém será internado em Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico, ou
submetido a tratamento ambulatorial, para cumprimento de medida de segurança, sem a
guia expedida pela autoridade judiciária.
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Art. 173. A guia de internamento ou de tratamento ambulatorial, extraída pelo escrivão, que
a rubricará em todas as folhas e a subscreverá com o Juiz, será remetida à autoridade
administrativa incumbida da execução e conterá:
I - a qualificação do agente e o número do registro geral do órgão oficial de identificação;
II - o inteiro teor da denúncia e da sentença que tiver aplicado a medida de segurança,
bem como a certidão do trânsito em julgado;
III - a data em que terminará o prazo mínimo de internação, ou do tratamento ambulatorial;
IV - outras peças do processo reputadas indispensáveis ao adequado tratamento ou
internamento.
§ 1° Ao Ministério Público será dada ciência da guia de recolhimento e de sujeição a
tratamento.
§ 2° A guia será retificada sempre que sobrevier modificações quanto ao prazo de
execução.
Art. 174. Aplicar-se-á, na execução da medida de segurança, naquilo que couber, o
disposto nos artigos 8° e 9° desta Lei.
CAPÍTULO II
Da Cessação da Periculosidade
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Art. 178. Nas hipóteses de desinternação ou de liberação (artigo 97, § 3º, do Código
Penal), aplicar-se-á o disposto nos artigos 132 e 133 desta Lei.
Art. 179. Transitada em julgado a sentença, o Juiz expedirá ordem para a desinternação
ou a liberação.
TÍTULO VII
CAPÍTULO I
Das Conversões
Art. 180. A pena privativa de liberdade, não superior a 2 (dois) anos, poderá ser convertida
em restritiva de direitos, desde que:
I - o condenado a esteja cumprindo em regime aberto;
II - tenha sido cumprido pelo menos 1/4 (um quarto) da pena;
III - os antecedentes e a personalidade do condenado indiquem ser a conversão
recomendável.
Art. 181. A pena restritiva de direitos será convertida em privativa de liberdade nas
hipóteses e na forma do artigo 45 e seus incisos do Código Penal.
§ 1º A pena de prestação de serviços à comunidade será convertida quando o condenado:
a) não for encontrado por estar em lugar incerto e não sabido, ou desatender a intimação
por edital;
b) não comparecer, injustificadamente, à entidade ou programa em que deva prestar
serviço;
c) recusar-se, injustificadamente, a prestar o serviço que lhe foi imposto;
d) praticar falta grave;
e) sofrer condenação por outro crime à pena privativa de liberdade, cuja execução não
tenha sido suspensa.
§ 2º A pena de limitação de fim de semana será convertida quando o condenado não
comparecer ao estabelecimento designado para o cumprimento da pena, recusar-se a
exercer a atividade determinada pelo Juiz ou se ocorrer qualquer das hipóteses das letras
"a", "d" e "e" do parágrafo anterior.
§ 3º A pena de interdição temporária de direitos será convertida quando o condenado
exercer, injustificadamente, o direito interditado ou se ocorrer qualquer das hipóteses das
letras "a" e "e", do § 1º, deste artigo.
Art. 183. Quando, no curso da execução da pena privativa de liberdade, sobrevier doença
mental ou perturbação da saúde mental, o Juiz, de ofício, a requerimento do Ministério
Público ou da autoridade administrativa, poderá determinar a substituição da pena por
medida de segurança.
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Art. 184. O tratamento ambulatorial poderá ser convertido em internação se o agente
revelar incompatibilidade com a medida.
Parágrafo único. Nesta hipótese, o prazo mínimo de internação será de 1 (um) ano.
CAPÍTULO II
Do Excesso ou Desvio
Art. 185. Haverá excesso ou desvio de execução sempre que algum ato for praticado além
dos limites fixados na sentença, em normas legais ou regulamentares.
Art. 186. Podem suscitar o incidente de excesso ou desvio de execução:
I - o Ministério Público;
II - o Conselho Penitenciário;
III - o sentenciado;
IV - qualquer dos demais órgãos da execução penal.
CAPÍTULO III
Da Anistia e do Indulto
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Penitenciário ou da autoridade administrativa, providenciará de acordo com o disposto no
artigo anterior.
TÍTULO VIII
Do Procedimento Judicial
Art. 194. O procedimento correspondente às situações previstas nesta Lei será judicial,
desenvolvendo-se perante o Juízo da execução.
Art. 195. O procedimento judicial iniciar-se-á de ofício, a requerimento do Ministério
Público, do interessado, de quem o represente, de seu cônjuge, parente ou descendente,
mediante proposta do Conselho Penitenciário, ou, ainda, da autoridade administrativa.
Art. 196. A portaria ou petição será autuada ouvindo-se, em 3 (três) dias, o condenado e o
Ministério Público, quando não figurem como requerentes da medida.
§ 1º Sendo desnecessária a produção de prova, o Juiz decidirá de plano, em igual prazo.
§ 2º Entendendo indispensável a realização de prova pericial ou oral, o Juiz a ordenará,
decidindo após a produção daquela ou na audiência designada.
Art. 197. Das decisões proferidas pelo Juiz caberá recurso de agravo, sem efeito
suspensivo.
TÍTULO IX
Art. 198. É defesa ao integrante dos órgãos da execução penal, e ao servidor, a divulgação
de ocorrência que perturbe a segurança e a disciplina dos estabelecimentos, bem como
exponha o preso à inconveniente notoriedade, durante o cumprimento da pena.
Art. 199. O emprego de algemas será disciplinado por decreto federal.
Art. 200. O condenado por crime político não está obrigado ao trabalho.
Art. 201. Na falta de estabelecimento adequado, o cumprimento da prisão civil e da prisão
administrativa se efetivará em seção especial da Cadeia Pública.
Art. 202. Cumprida ou extinta a pena, não constarão da folha corrida, atestados ou
certidões fornecidas por autoridade policial ou por auxiliares da Justiça, qualquer notícia ou
referência à condenação, salvo para instruir processo pela prática de nova infração penal
ou outros casos expressos em lei.
Art. 203. No prazo de 6 (seis) meses, a contar da publicação desta Lei, serão editadas as
normas complementares ou regulamentares, necessárias à eficácia dos dispositivos não
auto-aplicáveis.
§ 1º Dentro do mesmo prazo deverão as Unidades Federativas, em convênio com o
Ministério da Justiça, projetar a adaptação, construção e equipamento de
estabelecimentos e serviços penais previstos nesta Lei.
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§ 2º Também, no mesmo prazo, deverá ser providenciada a aquisição ou desapropriação
de prédios para instalação de casas de albergados.
§ 3º O prazo a que se refere o caput deste artigo poderá ser ampliado, por ato do
Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, mediante justificada solicitação,
instruída com os projetos de reforma ou de construção de estabelecimentos.
§ 4º O descumprimento injustificado dos deveres estabelecidos para as Unidades
Federativas implicará na suspensão de qualquer ajuda financeira a elas destinada pela
União, para atender às despesas de execução das penas e medidas de segurança.
Art. 204. Esta Lei entra em vigor concomitantemente com a lei de reforma da Parte Geral
do Código Penal, revogadas as disposições em contrário, especialmente a Lei nº 3.274, de
2 de outubro de 1957.
JOÃO FIGUEIREDO
Ibrahim Abi-Ackel
Concluindo
Atividade
Referências
100