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ABIM 005 JV Ano XII - Nº 95 - Mar/18

A Cadeia de União
Editorial
Mais uma vez, aproveitamos o espaço
deste Editorial, para nos dirigirmos aos nossos
diletos leitores, os quais, ao longo desses 11 anos
de profícua trajetória de nossa Revista, têm nos
prestigiado, carinhosamente, acolhendo-nos e
nos brindando com sugestões, críticas, elogios e
considerações, o que tem, em muito, nos ajudado em
nossa infinita busca da excelência, deste altruístico
trabalho em prol da cultura maçônica.

Para esta edição, escolhemos como temário,


um tema de enorme importância da ritualística
maçônica: “Cadeia de União”. Enveredamo-nos em
pesquisas e conseguimos trazer algumas matérias
de irmãos conceituados, buscadores da verdade, que
irão nos elucidar em diversos aspectos sobre este tão Maçônico, e o Irmão Antônio Carlos Gonçalves
misterioso tema. Fernandes, da Loja Maçônica Cavaleiros do Alto Tietê
nº 439, jurisdicionada à Grande Loja Maçônica de
A fim de dar uma abordagem mais eclética São Paulo, autor de livros como “A Simbologia das
sobre o tema, socorremo-nos, também, a autores Velas” e “A Magia Cerimonial na Maçonaria”, com a
estrangeiros, como é o caso da matéria “A Corda de matéria “A Força Oculta da Cadeia de União”.
Nós e a Cadeia de União”, uma compilação do texto
de autoria do Irmão americano William Steve Burkle De nossa lavra, apresentamos a matéria
KT, 32°, KCRBE, membro da Alpha Lodge n° 116, da “Cadeias de União”, dando uma visão geral da
Grand Lodge of New Jersey, originalmente intitulado Cadeia de União, realizada por culturas diversas e
como “A Corda de Nós na Tradição Esotérica com objetivos distintos, a fim de servir de matéria
Maçônica”, traduzido pelo Irmão José Filardo e preliminar às supracitadas matérias, que tratam o
publicado, em 2012, no site www.bibliot3ca.com. tema por ângulos diversos.

Assim como a matéria “O Simbolismo da Os textos publicados nesta edição não visam,
Cadeia de União”, de autoria do Irmão português em hipótese alguma, esgotar o tema, devido sua
Luís Conceição, Mestre Maçom, pertencente a Loja profundidade. Nosso objetivo é espalhar a semente
Maçônica Convergência nº 501, do Oriente de Lisboa, da pesquisa, fazendo com que você seja mais um
jurisdicionada ao Grande Oriente Lusitano, publicado a explorar o assunto e dividir a sua verdade com
no site www.maconaria.net, em 2003. os demais Irmãos. Com isso, todos estaremos
aprendendo e engrandecendo, culturalmente, nossa
Autores brasileiros, como o irmão Cláudio excelsa Ordem.
Américo, da Loja Maçônica Vera Lux, do Oriente de
Maringá-PR, da Grande Loja Maçônica do Paraná, Boa leitura para todos. Encontrar-nos-emos
também, contribuem, com a matéria “A Cadeia de na próxima edição!
União”, publicada em 2010, na Revista Universo

A Revista Arte Real é um periódico maçônico virtual, fundado em 24 de fevereiro de 2007, de periodicidade
mensal, distribuído, gratuitamente, pela Internet, atualmente, para 27.874 e-mails de leitores cadastrados,
no Brasil e no exterior, com registro na ABIM - Associação Brasileira de Imprensa Maçônica, sob o nº 005
JV, tendo como Editor Responsável o Irmão Francisco Feitosa da Fonseca, 33º - Jornalista MTb 19038/MG.
www.revistaartereal.com.br - redacao@revistaartereal.com.br - Facebook RevistaArteReal -  (35) 99198-7175 Whats App.
Cadeias
de União Francisco Feitosa

O
temário desta edição, criteriosamente processo ritualístico, realizado em um Templo, que,
escolhido, visa, além de elucidar o leitor para necessariamente, tenha passado por uma cerimônia
o aspecto histórico da criação da Cadeia de de sagração, dedicado ao GADU, onde em seus
União, muito especialmente, também, para os seus Trabalhos figura um Livro das Sagradas Escrituras,
reais objetivos: o aspecto esotérico. Lembremos que com evocações, etc.?
quando do processo por que passou a nossa Ordem,
Voltando às influências oriundas de outras
da fase Operativa para a Especulativa, por volta do
Escolas, culturas e civilizações, assim como outras
início do século XVII, quando ilustres personagens,
tantas inseridas na ritualística desenvolvida em
que nada tinham a ver como o ofício de pedreiro,
nossas Trabalhos, chega a nossa Ordem, em
como John Boswell, Elias Ashmole, Nicholas
determinado momento, a realização da Cadeia de
Stone e Robert Morey, além de outros tantos,
União. Não conseguimos, em nossas pesquisas, de
igualmente famosos, oriundos das mais diversas
fato, desvendar sua real origem, mas curiosamente a
Escolas Iniciáticas da época, como o Hermetismo,
identificamos em outras culturas, como na dos povos
Cabala, Rosacrucionismo e outras, proibidas de
gnósticos andinos, no Peru.
realizarem suas reuniões, por força da Igreja Católica
Inquisitória, passaram a encontrar abrigo nas fileiras Para a cultura andina, quando da formação
das Lojas Maçônicas. Com isso, nossa Ordem foi da Cadeia de União, os braços cruzados formam a
se reformatando com a absorção das influências “cruz de São André, onde cada um liga suas mãos
dessas Escolas em nossa ritualística. A própria com os que lhe são mostrados em ambos os lados,
Iniciação, como conhecemos atualmente, na época, de tal forma que, em cada caso, a mão direita seja
era chamada de “Aceitação”, e não possuía essa
riqueza de detalhes, ornamentada de passagens em
mistérios de Ordens do antigo Egito, Grécia, Roma,
Índia, Pérsia, entre outras.

Embora os Maçons de hoje, lamentavelmente,


cada vez mais, têm conscientemente ou não,
transformado nossa Ordem em um clube de serviços,
distanciando-a do seu princípio fim, que é o de
ser uma Escola de Iniciação, cabe-nos o esforço
de mantermos o compromisso de fazer Luz sobre
esse assunto. Se o propósito iniciático maçônico
não merecesse a importância que deve ter, por que
ao ingressar na Maçonaria ter que passar por um

Revista Arte Real nº 95 - Mar/18 - Pg 03


unida a mão esquerda da pessoa ao lado, a primeira
cobertura e o segundo suporte, em clara alusão ao
sinal de reconhecimento dos pitagóricos, que deve
ser rastreado continuamente, como se fosse um
vínculo deslizante que nos unisse em amor fraterno,
atualizando o casamento do céu (que cobre) e a
Terra (que apoia)”.

Ainda, segundo os gnósticos andinos, “o fato


de entrecruzar os braços, alude à ideia de Justiça
como resultado do equilíbrio entre o Rigor (coluna
esquerda) e a Beleza (coluna direita), mas colocando A Cadeia de União, também, é um aperto de
o primeiro sobre o segundo”. mão coletivo tradicional da ASEAN – Associação das
Nações do Sudeste Asiático, onde cada líder coloca
a mão direita sobre a mão esquerda para agitar a
mão da outra pessoa. Em visita oficial, em novembro
de 2017, o Presidente americano Donald Trump, em
Manilla, nas Felipinas, no final do evento aparece
formando uma Cadeia de União com os demais
participantes da reunião. Quando da presença do
ex-presidente americano Barak Obama, na Ásia,
em 2016, ao final da reunião, na foto tradicional
com demais presidentes e autoridades, também,
formaram a Cadeia de União.

Fora do aspecto ritualístico, também,


identificamos a realização da Cadeia de União,
a exemplo de a comemoração da inauguração
da “Casa de Cultura Sem Paredes”, por Jean-
Jacques Thomas, prefeito de Hirson, presidente da
Comunidade de Comunas dos Três Rios, presidente
da Orquestra de Picardia, na França.

Outra passagem interessante aconteceu


em Cahors, uma cidade francesa, capital do
departamento de Lot, situada nas margens do rio
Lot, no sudoeste francês, cidade natal do Papa
João XXII, encontramos, em 1939, através do site
maçônico francês, uma foto de um grande grupo de
seminaristas franceses, formando uma Cadeia de
União.

Vale citar, quando da escolha da cidade


de Paris, para sediar os Jogos Olímpicos de 2024,

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Emmanuel Macron, presidente francês e demais Portanto, ao contrário do que muitos
autoridades francesas presentes comporam a Cadeia imaginam, a Cadeia de União não teve sua origem
de União, com o improviso de formar com as mãos a na Maçonaria, e sim foi absorvida de outras culturas
imagem da Torre Eiffel, o símbolo da cidade Luz. em nossos Trabalhos. Seu uso não é reservado,
apenas, aos Maçons. O seu propósito poderá ter um
cunho tanto exotérico, como esotérico, ou até místico,
dependendo de como for concebido.

Através das matérias que selecionamos e


que complementam esta edição, estaremos tratando
o tema com mais profundidade e esperamos
poder elucidar outros aspectos deste importante
momento da ritualística maçônica, que, em nosso
caso, especificamente, deverá ser realizado com
conhecimento de sua história e extrema consciência
de seus reais objetivos, a fim de que possamos
contribuir, de fato, para a realização da Grande Obra,
em prol da evolução humana. Saúde, Sabedoria,
Segurança! Que assim seja!

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A Cadeia
de União Cláudio Américo

A
Cadeia de União é amplamente utilizada como portanto, quando estão unidos pela Cadeia de União, não
recurso espiritual, não necessariamente por iniciados estão absorvidos nem diluídos, mas ligados através da
que, nesse caso, nem sempre estão atentos para a soma das forças físicas e mentais, existindo individualmente,
dimensão e responsabilidade do seu uso. Em Maçonaria, porém vinculados ao todo.
a sua prática tem alto significado, pois condensa os mais
O corpo humano, por meio de seu sistema nervoso,
sublimes pressupostos da nossa Ordem.
registra estímulos que vêm do mundo externo, e seus órgãos
Os termos cadeia e prisão são sinônimos e, e músculos dão a esses estímulos as respostas apropriadas.
portanto, “Cadeia de União” quer dizer “prisioneiros de Por isso tem o homem grande capacidade receptiva, e essa
um amor fraterno universal”, lembrando que os maçons existe desde que ao seu lado exista em corpo doador; pois
encontram- -se presos aos seus Irmãos na solidariedade não existe receptividade sem que haja doação. A união
do bem comum e do crescimento espiritual. Quando dessas duas “forças” completa o ciclo da natureza durante
da formação da Cadeia de União, o contato mental é a Cadeia de União, onde as trocas são realizadas pelos
instantâneo, o que quer dizer: nenhum “elo” permanecerá nervos periféricos, também, chamados de nervos sensitivos,
isolado e fora do todo, tendo essa formação mental e a que ao receberem os estímulos (mensagens), seja
Palavra Semestral o dom mágico de unir elos esparsos. A superficial, pelo toque, ou pelos órgãos dos sentidos, esses
palavra união encontra seu sentido no Salmo 133, onde se lê: “Oh! formam impulsos que são enviados para os demais órgãos do
Quão bom e quão suave é que os Irmãos vivam em união”. corpo.
Numa perspectiva física, é notório que uma série É dessa forma que os Irmãos, quando unidos pelo
de átomos ligados entre si formam uma cadeia. Dentro de corpo e espírito, em “Cadeia”, acham-se submetidos a uma
nossa Ordem, a Maçonaria representa cada um desses constante troca de vibrações, provocadas pela sintonia
átomos, e os maçons a cadeia de elementos, formando mental, que as células nervosas têm condições de captar.
um só símbolo “O Homem Universal”. Os elos da Cadeia
Como podemos ver, recepções e doações de
de União são os mesmos de uma cadeia mental comum,
energia não passam de simples permuta, havendo, após
isto é, os elos interligados entre si, embora individualmente
determinado lapso de tempo, perfeito equilíbrio, em que
soltos, procedendo como os elementos do próprio átomo, que
ninguém mais terá a dar ou receber. Haverá nesse instante
conservam sua individualidade e personalidade, mas, quando
uma só identidade, que denominamos de a “Vida em União”,
em cadeia, estão unidos sem estarem soldados entre si.
que pode ser compreendida com exatidão na palavra do
O Objetivo primário da Maçonaria é unir os Divino Mestre: “Eu e o Pai somos um”. As permutas não
Irmãos de tal forma que possam parecer um só corpo, são meramente psicológicas, mas de conteúdo físico, pois a
uma só vontade, um só espírito, formando um Templo “energia” que se desprende de um pode passar para o outro
coeso, compacto, enfim, uma unidade formada por partes e vice-versa, como uma verdadeira corrente.
heterogêneas que, ao constituir um todo, resulta uma
Vale considerar que, apesar da Cadeia de União ser
só instituição. Desse modo, não diminui nem absorve
admitida, apenas, para a transmissão da Palavra Semestral,
personalidades isoladas, como o Universo, que também
seus efeitos devem se prolongar ao cotidiano da Loja, por
subsiste como um todo, tem perfeitamente individualizado
meio da sintonia entre os Irmãos no transcorrer de seus
cada átomo, cada parte de que é composto. Os maçons,
trabalhos.

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A Corda de Nós

e a Cadeia
de União William Steve Burkle

A
corda de nós é um antigo símbolo maçônico, Em representações da versão da corda de nós
comumente, associado com à Borda de Franjas, da Borda de Franjas, o “Nó do Amor Maçônico” ou “Nó
que, em tempos modernos, é representado infinito” é o tipo de nó empregado. Também, chamado
por uma série de triângulos equiláteros contíguos, do nó em “Oito”, exemplos desse nó eram encontrados
estendendo em torno do perímetro do piso da Loja. A em locais de enterro do Médio Império Egípcio
história da transformação da Borda de Franjas de uma incorporadas em pulseiras e tornozeleiras.
corda de nós ondulada, usada como uma moldura para
O Nó de Amor Maçônico, o Nó de Amor, Nó
o Painel da Loja, para a sua configuração moderna,
de Hércules, Nó Infinito ou Nó em Oito, é descrito
como um ornamento para o Piso da Loja, parece estar
como um nó contínuo, tendo a forma de um oito que
envolta nas brumas do tempo e permanece muito
se originou de um encanto de cura no antigo Egito.
mais como uma conjectura. No entanto, o simbolismo
É bem conhecido por sua utilização em Roma e na
esotérico da corda de nós sobreviveu, mais ou menos,
Grécia antiga como um amuleto de proteção ou como
intacto e é muito mais interessante.
um símbolo do casamento. Outras fontes identificam
Falando sobre a Borda de Franjas, os o Nó do Amor como uma adaptação de um dos oito
franceses a chamam “la houppe dentelee”, que é, símbolos budistas, tendo origem no Tibete. Vários nós
literalmente, a “franja dentada” e eles a descrevem
como uma corda formando nós de verdadeiro-amor,
que contorna o painel da loja. Já, os alemães a
chamam “die Schnur von starken Faden” ou a “corda
de fios fortes”, e a definem como uma borda ao redor
do painel da loja de Aprendiz, consistindo em uma
corda amarrada com nós do amor, com duas borlas
presas às extremidades.

A ideia predominante na América e derivada


de um equívoco do painel no Monitor de Cross,
que a Borda de Franjas era uma parte decorada do
Pavimento de Mosaico, não parece ser apoiada por
essas definições. Elas todas indicam que a “Borda de
Franjas” era uma corda.

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Albert Pike

celtas emaranhados, também, têm uma semelhança


impressionante com o Nó do Amor.

Os fios cruzados em um nó de amor são


visualizados no folclore celta como retratos do
significado espiritual da vida. O simbolismo do nó
sobreviveu bem além de suas origens antigas e era um
símbolo muito comum em amuletos de amor medievais
e renascentistas.

Na Maçonaria há um paralelo muito forte entre


o Nó do Amor e a “Cadeia de União”, de acordo com
Irmão Carlo Martinez Jr., que diz: “Essa ‘Cadeia’,
é na verdade uma corda, que contorna as paredes
internas do Templo Maçônico, em sua parte superior.
Sua localização elevada lhe dá uma conotação
celestial, confirmada pelos doze nós que aparecem em
intervalos ao longo da corda e que simbolizam os doze
signos do zodíaco”.

O Irmão Martinez afirma, ainda: “Esse


emblema é, na verdade, uma moldura celestial que
limita, separa e protege o mundo da luz, do mundo das astrológicas da corda de nós no Rito de Emulação, que
trevas; o sagrado do profano”. desenvolveu depois da União de 1813, das Grandes
A forma assumida durante a Cadeia de União, Lojas Inglesas, entre os Antigos e os Modernos: “A
os braços cruzados e mãos dadas dos participantes, Borda de Franjas ou Borlada nos remete aos planetas,
formam uma série de nós do amor interligados. que, em suas diferentes revoluções formam uma bela
O Irmão Shawn Eyer no seu trabalho sobre o borda ou bordado em torno deste grande luminar, o
Pavimento Mosaico, também, observa as associações Sol, como o Outro realiza em torno de uma loja de
maçons”.

O Irmão Albert Pike, também, fez alusão à


Corda de Nós e seu paralelo com a Cadeia de União,
quando ele escreveu: “o intelecto de um homem é
tudo o que tem recebido direto de Deus, um feudo
inalienável. Se o fluxo é, apenas, brilhante e forte,
ele varrerá como uma maré de Primavera até o
coração popular. Não, apenas, em palavras, mas em
ato intelectual reside o fascínio. É a homenagem ao
invisível. Esse poder, atado com amor é a corrente
dourada deixada cai no poço da verdade, ou a Cadeia
invisível que une as fileiras da humanidade”.

Nenhuma descrição de uma função esotérica


fornecida pelo Nó do Amor Maçônico (exceto a
associação astrológica mencionada) é encontrada na
literatura maçônica, no entanto, a explicação exotérica
é que os nós representam o vínculo de amor entre os
irmãos. É a visão do autor, que o valor esotérico de
Nós, como símbolos de unidade, força e amor infinito
são evidentes.

Compilações do texto do autor intitulado “A Corda de Nós na


Tradição Esotérica Maçônica”, tradução do Irmão José Filardo.

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A Força Oculta da

Cadeia de União Antônio Carlos Fernandes

I
nicialmente, para melhor compreensão do lado (por isso, a necessidade da formação da Cadeia
místico que está inserido numa “Cadeia de União”, de União). Eram essas as ideias e argumentos que
convém lembrar aos irmãos da necessidade de se maçons ocultistas tinham, a respeito da formação e
despir, um pouco do seu lado racional (razão) e deixar condução da Cadeia de União, já no final do século
fluir livremente, o seu lado emocional (coração). XIX.

A Cadeia de União, sob o ponto de vista Segundo, ainda, Marius Lépage, “É aqui que
ocultista/esotérico, pode ser encontrada na “Teoria do se manifesta em toda a sua força, o papel unificador
Ponto” ou, também, conhecido como “Sinal de Apoio”, do Venerável Mestre, daquele que dirige a Oficina, da
conforme nos ensinou o escritor Marius Lépage, que qual é a emanação e a síntese”
em seu artigo na Revista “O Simbolismo”, de Fevereiro
Entre ele e os irmãos se estabelece uma dupla
de 1936, dizia: “,O segredo da ‘cadeia mágica’
corrente, e suas forças são decuplicadas para, depois,
resume-se em criar um ponto fixo que sirva de apoio,
serem usadas da melhor forma, segundo os interesses
nele desenvolver uma bateria psicodinâmica, a desse
espirituais da Ordem, em geral, e dos membros da
ponto eleito por centro, irradiar através do mundo a
Loja, em particular!
“Luz Astral”, excitada por uma vontade claramente
definida”. Para entendermos um pouco melhor da “força”
que dela emana, basta lembrar-nos de que “tudo é
Ao mesmo tempo criadora-receptora, a Cadeia
energia” e a matéria nada mais é do que transmutação
de União representa junto ao maçom, o duplo papel de
energética. Albert Einstein já dizia que “as várias
escudo protetor e de aparelho receptor de influências
formas existentes de matéria no plano físico, são
benéficas, ou seja: aquilo que os irmãos estão
manifestações diferenciadas de energia no Universo”.
transmitindo, estão inconscientemente (cada irmão),
recebendo as mesmas vibrações que estão sendo Da mais rudimentar pedra do Reino Mineral,
emanadas pela Cadeia de União. até a forma mais elaborada do Reino Humano,
que é o Homem, nada mais é que simples e meras
Toda a associação e/ ou coletividade tem a
manifestações diferenciadas de energias. O homem,
sua correspondência nos mundos invisíveis. O espírito
como sabemos, possui dentro de si, em determinados
de um agrupamento de pessoas é um ser vivo, mais
pontos específicos do corpo humano, canais (chacras)
poderoso que cada uma das pessoas que a compõe

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em que circula a energia para a sobrevivência e Ocultas para utilizar dessa “energia” em seus
manutenção primordial da existência do corpo físico! trabalhos durante a Cadeia de União.

Infelizmente, por desconhecimento de alguns


Basta lembrarmos que no passado já se
irmãos, em muitas Lojas, ocorre que ao fazê-la, na
estudava no final do século XVIII a “Energia Vital”,
maioria das vezes, a energia oriunda dessa Cadeia de
também, conhecida como mesmerismo ou, ainda,
União (por ser muito volátil), é facilmente dissipada,
há vários milênios atrás, a técnica de acupuntura, de
motivada pelos mais diversos fatores, que no meu
origem chinesa, cujo objetivo maior era a de curar as
entendimento, pode-se destacar como causas
doenças através de aplicações e/ou manipulações
principais, a desarmonia respiratória de cada “elo”
de agulhas introduzidas em pontos específicos do
(irmão) da corrente, ou ainda, a “forma-pensamentos”
corpo humano, situados em canais nos quais circula
com intensidades diferenciadas, dificultando que o
a energia e sangue, “Yin e Yang”, verificando, dessa
objetivo da mensagem a ser enviada e/ou vibrada oscile
forma, as mais diferentes manifestações energéticas.
de irmão para irmão, não atingindo dessa forma, a mesma
força vibracional ao chegar no seu destino final.
Outra forma energética, são as diferentes
técnicas de telecinesia (movimento de objetos à Ora, se aproveitarmos essa maravilhosa força
distância, sem intervenção direta ou contato físico energética que o GADU nos oferece, poderemos,
de alguém e, supostamente, devido ao poder com certeza, aproveitar melhor a potencialidade
paranormal), cientificamente comprovada, que através dessa energia, sem que a mesma se dissipe em seu
de “forma-pensamentos” (Plano Mental) corretamente caminho.
concatenadas pelos neurônios, que fazem vibrar
Para isso, poderemos recorrer a algumas
ondas eletromagnéticas, permitindo ao praticante
técnicas ocultistas, como sua formação, preparação
interferir no (Plano Físico), através de manipulações
energética, mentalização e respiração, para
e/ou deslocações de objetos físicos, bem como a
melhorar o desempenho da Cadeia de União e,
telepatia, que através da transmissão de ideias e
consequentemente, atingir os nossos objetivos,
pensamentos, consegue deslocar e interferir, até
melhorando o sequenciamento “harmônico e
mesmo em locais distantes, vibrações energéticas de
respiratório”, elaborando dessa forma, com a mesma
ideias e pensamentos. E é nesse famoso corolário
intensidade vibracional as forma-pensamentos de
que a Maçonaria, mais uma vez, recorre as Ciências
todos os “elos” (irmãos) da referida Cadeia de União.

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O Simbolismo
da Cadeia
de União
Luís Conceição

H
á, em Magia, palavras de pronunciação Mas antes de mais nada convém rememorar
perigosa; há, também, ritos maçônicos aos o fato de que o rito da “Cadeia de União” é a
quais será melhor não nos associarmos dinamização, a tomada de ação do princípio sugerido
quando não temos plena consciência do seu poder pela corda que serpenteia nos 3 lados da Loja, ligando
oculto. O tema da “Cadeia de União” é um desses a coluna J à coluna B, sem, contudo, as unir. Torna-
que, apesar da sua aparente simplicidade, encarna se, assim, indispensável compreender, à partida, a
uma das figuras mais complexas do Ritual, no sentido mensagem muda dessa corda de nós abertos, em
em que implica “entrelaçamentos secretos”, que suas relações com o conceito arcaico de “laço”, de
ultrapassam largamente a simples ideia de União no serpente protetora, do nó cerrado que se torna lasso
sentido simbólico. Do mesmo modo que, no plano e, enfim, de suas borlas terminais. Teremos, assim,
físico, ao pretender estudar a qualidade de uma sondado, em profundidade, o valor e a força de um
corrente metálica, o engenheiro terá que se preocupar “rito constrangedor, que envolve o indivíduo e a
com o número dos seus anéis, o seu encadeamento, coletividade”. Dessa forma, se a simbólica da corda
o metal que os compõe, a sua seção e curvatura. se assemelha ao da serpente que, fechada sobre
Para se entrar no sentido profundo da nossa “Cadeia si própria, com a cauda na boca, transmite a Luz e
de União”, é necessária uma apropriação dos seus encarna o Sol; de corpo esticado e cabeça pendente,
componentes, para os integrar numa síntese simbólica toma o papel do cetro mágico egípcio, arquétipo da
irrefutável. iniciação libertadora - patente na simbólica da serpente
do Éden. Os nós indicam um sentido evolutivo: a
Os principais elementos de que nos
divindade ligante é vencida pelo Conhecimento; a
ocuparemos serão: o círculo que forma a Cadeia,
coação dogmática não consegue já fechar a sua rede.
obrigatoriamente fechado; a polaridade, posta em
evidência pelo cruzamento dos braços. O terceiro, Mas o iniciado, promovido ao posto de herói,
seria a mão, de que não me ocuparei aqui, e que se for bom entendedor da Arte, aceitará e submeter-
detém um papel ativo na formação da Cadeia. se-á, voluntariamente, às regras tradicionais da Ordem

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a que, de livre vontade, pediu adesão. Ele possui
a liberdade do Maçom livre, numa Loja livre, mas
conhece o relativismo da Liberdade. Sentirá honra em
fazer respeitar os princípios adotados pela maioria, e,
também, em os fazer cumprir, junto dos seus pares.

O laço do Amor é a imagem da Solidariedade.


Essa imagem é espantosamente explicitada pelo nó
Isíaco, análogo à “lemniscata de Bernoulli” do primeiro
arcano do Tarot, signo expressivo do movimento
contínuo, dos “circulus vitae”, da interação constante
das radiações, do movimento perpétuo, tanto da
matéria como das galáxias. A Matemática adotou-o
como signo do infinito.

Na boa tradição do Rito Escocês, simbolizando,


em parte, a separação do neófito, relativamente, à sua
Mãe, em cujo útero se encontrou, previamente, em frutos que cresciam espontaneamente. Nesse casal
reflexão, e de onde saiu com uma corda ao pescoço não havia desejo. Foi, portanto, a serpente que o
- vestígios do seu cordão umbilical, agora, quebrado despertou, e com ele o Amor. A serpente foi o primeiro
- o neófito é colocado no centro da Cadeia de União, Iniciador e não o vil tentador astuto e desonesto que a
que forma um círculo à sua volta - verdadeira Cadeia exegese religiosa nos apresenta, maldito pelo Criador.
de defesa - porque de cada vez que, na magia e nas Deveria assim ser glorificada pela Humanidade. A
artes, encontra-se uma corda em torno de qualquer tentação de Eva não se deve à sua maior fragilidade,
coisa, há uma intenção de defesa da coisa circunscrita mas sobretudo à sua grande sensibilidade e
e de a separar de todas as influências exteriores (e não receptividade; à sua imaginação intuitiva. Adão, cujo
deriva a palavra Templo do verbo grego “separar”?). nome significa “terra ou barro vermelho”, era um sujeito
É a razão pela qual o rito da “Cadeia de União” mais racional, mais “pesado”, mais tímido, talvez. É
consiste na formação de um anel completo, enquanto porque a nossa “mãe” - Eva - escutou a serpente,
a sua homóloga - a corda denteada, que contorna, que a Humanidade entrou na via do Conhecimento,
parcialmente, o Templo - não constitui um círculo encetou o seu processo de emancipação, de evolução.
fechado, quedando-se, de um lado, na coluna B, e do Nos templos gregos via-se frequentemente a figuração
outro, na coluna J. De fato, as colunas não precisam do Ouroboros. Simbolizava a vida em geral, no que
de estar ligadas por uma corda para fechar o círculo. ela tem de indestrutível e de eterno, pelo seu eterno
recomeço. Nas procissões dos Mistérios de Eleusis,
O círculo é o Universo, o Infinito, como a as cesteiras ligavam romãs (símbolo da solidariedade
Loja se estende a todas as direções, do Nascente ao e da fraternidade), espigas de trigo (mito gregário da
Poente, do Norte ao Sul, do Zênite ao Nadir. Em seu regeneração) e uma serpente, imagem da vida regenerada
trabalho sobre “o Deus ligante e a simbólica dos nós”, (sobre o mito da serpente, aconselha-se a leitura do conto
Mircea Eliade diz-nos que “o cosmos é em si mesmo esotérico “A Serpente Verde”, do nosso Ir∴ Goethe).
concebido como um tecido, como uma enorme rede”.
No Templo, como referido, a corda denteada
É, também, significante a utilização de nós, contorna, apenas, em três lados o painel de Loja. Esta
cordéis e anéis nos rituais nupciais. Dentre os símbolos deve, de fato, manter-se em contato com o mundo
mais expressivos que se nos oferecem à meditação, exterior: não se abrem 3 janelas da câmara de Comp∴
figura o “Ouroboros”, a serpente que, ao morder a - Mas, no quarto lado, o do Ocidente, nenhum ser,
cauda, forma um círculo. nenhum espírito se pode introduzir, porque a energia
contida entre as duas colunas de polaridade contrária
Ora a serpente leva-nos, imediatamente,
forma uma barreira intransponível para os não
a pensar na da Gênese, Shaton, que tentou Eva,
iniciados. Esses encontrariam aí, de qualquer modo,
sugerindo-lhe que comesse o fruto proibido. O primeiro
sob os seus passos, o Pavimento Mosaico, em que
casal vivia no Jardim do Éden, alimentando-se de
inadvertidamente tropeçariam.

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Na “Cadeia de União”, é um magnetismo
dinâmico que se vai desenvolver, pelo fato de se
constituir de seres vivos. Nas sessões brancas
(adoção, reconhecimento conjugal, etc.), a cadeia
forma-se segundo uma roda infantil, de mãos dadas,
em que toda a ideia metafísica e esotérica é excluída:
trata-se, apenas, de um testemunho de amizade e
de união. Mas na cadeia ritual, em que os braços
cruzados ligam a mão direita com a mão esquerda,
desenvolve-se uma força magnética.
portanto, ascendente, penetrando pelo dedo pequeno
Em 1932, Jacqueline Chantereine e o Dr. do pé esquerdo, para se escapar pelo topo do crânio,
Camille Savoire, detectaram no interior e em torno contornando a precedente para formar uma figura
do organismo humano, movimentos turbilhônicos e semelhante ao “Caduceu” (o Caduceu é uma vara
ondulatórios. Esses últimos são produzidos, para de louro de oliveira, com duas serpentes enroladas
além de causas patológicas, por energias radiantes em sentido inverso, que era atributo de Mercúrio, e
provenientes de tudo o que nos envolve: ação símbolo da polaridade e da paz). Essas duas serpentes
cósmica, por um lado, essencialmente proveniente da entrelaçadas, transformam-se nos “laços de Amor”
energia solar, à qual se junta a da Lua e dos restantes da corda denteada. Daqui a analogia com a Cadeia
astros. A resultante dessas ações energéticas traduz- de União, em que o braço direito, positivo, passa por
se sob a forma de um turbilhão, que penetra pelo cima do esquerdo, negativo, para contatar com a
lóbulo anterior da hipófise, para terminar no dedo mão esquerda do vizinho, formando uma cadeia de
grande do pé direito. “pilhas em tensão”, em que se reúne o eletrodo positivo
de cada um dos elementos ao eletrodo negativo do
Uma outra fonte, não menos importante, é a
seguinte, por forma a que a força eletromotriz resultante
força energética, dita “telúrica”, que se manifesta sob
seja “n” vezes superior a de um só elemento. Isso não
a forma de uma corrente inversa da precedente, e,
é uma imagem, é uma realidade, que desenvolverá
ao máximo a agregação das forças psíquicas da Loja,
dirigidas para um mesmo objetivo.

Individualmente, somos fracos, isolados


e falíveis. Quando o Venerável Mestre, antes do
encerramento dos trabalhos, evoca a união de todos
os Maçons; quando as nossas mãos (nuas, sem
luvas, para que a corrente circule) se juntam numa
verdadeira Cadeia de União, parece que um sopro
mágico se introduz no Templo. Logo que a Cadeia se
forma, o movimento ascendente e descendente dos
braços, três vezes repetido, lembra, simbolicamente,
o ondular da serpente cósmica, de que a Cadeia é
uma imagem energética. A quebra da Cadeia deverá
ser lenta e suave, para que a força de cada um
se estabilize no seu circuito fechado. A Cadeia de
União é, assim, a simbólica solar posta em ação, na
sua expressão mítica. Precedida por uma pequena
invocação, proferida pelo Venerável Mestre, no sentido
das preocupações e aspirações gerais e particulares
da Loja, da Obediência e da Humanidade; a Cadeia de
União é o corolário obrigatório das sessões de trabalho
em Loja.

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