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Neurofisiologia

Organização geral do Sistema Nervoso


Organização e divisão do Sistema Nervoso
O SN é constituído de duas partes:
• Sistema nervoso central (SNC)
• Sistema nervoso periférico (SNP)
O SNC está protegido por um arcabouço ósseo: o
encéfalo que é a porção mais superior está encerrado
dentro do crânio e a medula, mais inferior, alongada e
cilíndrica fica dentro da coluna vertebral. Os nervos
cranianos e espinhais emergem dos forames ósseos.
O encéfalo é subdividido em três estruturas
anatômicas:
• Cérebro (telencéfalo e o diencéfalo)
• Cerebelo
• Tronco encefálico.
O tronco encefálico está situado entre a medula e o
diencéfalo e é subdividido, no sentido rosto-caudal, em
mesencéfalo, ponte e bulbo.
O SNP é formado por nervos espinhais e cranianos,
gânglios, terminais sensitivos e motores cujas fibra
nervosas, respectivamente, colhem informações
sensoriais para o SNC e, a partir deste, enviam
mensagens aos órgãos efetuadores.

Sistema Nervoso
Central (SNC)
MEDULA ESPINHAL. É funcionalmente um conduíte de
informações que se originam da pele, das articulações e dos
músculos para o cérebro e vice-versa. Na medula estão situados
circuitos básicos de integração sensorial e motora denominados
arcos reflexos. Lesões na medula causam perda de percepção da
sensibilidade e paralisia muscular das regiões inervadas por
nervos situados abaixo da lesão: os músculos continuam a
funcionar, mas não podem mais ser
controlados pelo cérebro.

TRONCO ENCEFÁLICO. Trata-se de uma haste em que o cérebro e o


cerebelo se apoiam; possui uma complexa rede de neurônios que em
parte servem de estações de retransmissão do cérebro para o
cerebelo e medula e vice-versa.

CÉREBRO. É a porção anterior e principal do encéfalo, formada de


dois hemisférios; de um modo geral, o cérebro direito recebe informações sensoriais e controla os
movimentos do lado esquerdo do corpo e o mesmo acontece em relação ao cérebro direito.
CEREBELO (que significa pequeno cérebro) também possui dois hemisférios. Está relacionado
primariamente com a motricidade, possuindo extensas conexões com o cérebro e a medula. Ao
contrário do cérebro, cada hemisfério está mais relacionado com o mesmo lado do corpo.

Organização da medula
A medula tem a forma de um cilindro com uma coluna central de substância cinzenta em
forma de H, envolta por uma massa de substância branca. A substância branca corresponde a feixes
de axônios mielinizados que trafegam ascendente e descendentemente integrando
funcionalmente a medula e o encéfalo. A substância cinzenta é formada por corpos de neurônios e
fibras axonais sem de mielina e está funcionalmente organizada em áreas sensoriais, associativas e
motoras. Na substância cinzenta estão os circuitos de neurônios que processam os sinais nervosos.

A substância branca da medula também apresenta organização funcional, de modo que as


fibras descendentes e ascendentes trafegam em colunas distintas (tratos, funículos) veiculando
informações relacionadas.

Organização geral do tronco encefálico


O tronco encefálico é formado pelo bulbo, ponte e mesencéfalo. À semelhança da medula,
possui também uma massa cinzenta interiorizada envolvida pela substância branca. O bulbo segue
o padrão básico de organização da medula, mas, na ponte e no mesencéfalo, a massa cinzenta
fragmenta-se em vários núcleos dispersos. No tronco estão os núcleos sensoriais e motores dos
nervos cranianos (10 dos 12 pares), assim como os núcleos associativos circunscritos e difusos, como
a formação reticular. É um importante sítio de controle das funções vitais, como respiração, estado
de consciência, ciclo sono-vigília, controle cardiovascular etc.
Apesar de ser bastante primitivo sob o ponto de vista da evolução, é o mais importante. Se
houver lesões no cérebro ou cerebelo, é possível sobreviver, mas, no tronco, são fatais.

Organização geral do cérebro e cerebelo


O cérebro é formado pelo telencéfalo e o diencéfalo. Os dois hemisférios encefálicos estão
separados pela fissura sagital. O cérebro está recoberto superficialmente pelo córtex cerebral, que
é bastante invaginada (formando os sulcos e giros) e, mais profundamente, em meio à massa
branca, apresenta uma grande massa de núcleos denominados núcleos da base.
A superfície cortical é subdividida em lobos, conforme a relação topográfica com os ossos
do crânio (lobos frontal, parietal, occipital, temporal), e apresenta áreas especificamente
associadas a determinadas funções sensoriais, motoras ou associativas, como na medula e no
tronco. A integridade funcional do córtex é essencial para a realização de funções conscientes e
associativas complexas. No cérebro (e também no cerebelo,) a principal formação de substância
cinzenta fica por fora, ao contrário da medula e do tronco encefálico.

O cerebelo, como o cérebro, apresenta um córtex cerebelar bastante invaginado (formando


lóbulos e folhas) que envolve um centro de substância branca onde estão profundamente situados
os núcleos cerebelares. Mas difere muito da função cerebral, pois sempre trabalha em nível
involuntário e inconsciente e com desempenho exclusivamente motor (COORDENAÇÃO MOTORA).
Disfunção cerebelar pode gerar decomposição do movimento e a falta ou excesso de força
(Dismetria).
Sistema Nervoso Periférico (SNP)
A medula e o encéfalo comunicam- se com resto do corpo, respectivamente, através dos
nervos espinhais e dos nervos cranianos. Todos os elementos nervosos localizados fora do SNC
pertencem ao que, coletivamente, denominamos sistema nervoso periférico (SNP), sendo este
funcionalmente dividido em somático e visceral.
Nervos são cordões esbranquiçados que contêm
fibras nervosas e são reforçados por tecido conjuntivo. Cada
fibra nervosa (axônio) possui um envoltório denominado
endoneuro, e o conjunto de fibras nervosas forma o fascículo
que é envolvido pelo perineuro. Todos os fascículos nervosos
são envolvidos pelo epineuro que é ricamente vascularizado.
À medida que um nervo se distancia de sua origem,
isto é, do SNC, os fascículos abandonam o nervo e penetram
no território de inervação, tornando-se finos. Imediatamente
no local de inervação, tanto as terminações sensitivas quanto
as motoras perdem os envoltórios.

Nervos espinhais
Da medula emergem 31 pares de nervos que inervam
o tronco, os membros e partes da cabeça, sendo 8 pares de nervos cervicais, 12 torácicos, 5
lombares, 5 sacrais e 1 par coccígeo.
Um nervo espinhal é formado pela união das raízes dorsais sensitivas e raízes ventrais
motoras. Cada nervo espinhal é funcionalmente misto, contendo fibras sensoriais e motoras. A
união das raízes ventrais e sensoriais de um mesmo segmento é denominada de tronco do nervo
espinhal.
Junto às raízes dorsais estão os gânglios
sensitivos (gânglio espinhal na imagem) em cuja
formação anatômica estão os corpos dos neurônios
sensitivos periféricos. Para cada nervo espinhal, há um
gânglio da raiz dorsal. Já os corpos celulares dos
neurônios motores somáticos e viscerais estão
localizados dentro da medula.

Trajeto dos nervos espinhais


O tronco do nervo espinhal deixa a medula pelo
forame intervertebral e se divide em um ramo dorsal e
um ventral. Os ramos dorsais inervam a pele e os músculos da região dorsal do tronco, da nuca e
da região occipital.
Os ramos ventrais seguem para a região da musculatura, pele, ossos e vasos dos membros
assim como para a região ântero-lateral do pescoço e tronco. Os ramos ventrais dos nervos torácicos
(nervos intercostais) não perdem a metameria mesmo no indivíduo adulto e são chamados de
unissegmentares. Entretanto, os ramos ventrais dos demais nervos formam uma intrincada rede de
fibras nervosas denominada plexo antes de chegar aos respectivos territórios de inervação. Os
nervos originados desses plexos são então chamados plurissegmentares, possuindo origem em
vários segmentos da medula. Há quatro plexos: cervical, braquial, lombar e sacral. Compare o nervo
mediano que é de origem plurissegmentar e um nervo intercostal que é unissegmentar.

Unidades funcionais dos nervos espinhais


Todos os nervos espinhais possuem os seguintes tipos de fibras nervosas:
1. Fibras aferentes: estão ligadas a receptores sensoriais e conduzem os impulsos nervosos
da periferia para a medula. Entre as fibras aferentes, distinguimos as fibras aferentes
viscerais cujos impulsos nervosos originam-se de receptores situados em órgãos viscerais e
as fibras aferentes somáticas cujos receptores estão situados nos músculos esqueléticos,
na pele, etc.
2. Fibras eferentes: conduzem os impulsos nervosos da medula para os órgãos efetuadores.
Essas fibras são também de dois tipos: as fibras eferentes somáticas que inervam a
musculatura esquelética e as fibras eferentes viscerais (ou autonômicas) que inervam a
musculatura lisa, cardíaca ou glândulas. Repare que os órgãos viscerais são inervados por
uma cadeia de dois neurônios (neurônios pré e pós- ganglionares) e os músculos
esqueléticos por um único neurônio (neurônio motor somático).

Nervos cranianos
Além dos nervos espinhais, há 12 pares de nervos cranianos que inervam, principalmente,
a cabeça. Os nervos cranianos são muito peculiares quanto ao seu padrão de organização morfo-
funcional: há nervos estritamente sensoriais e motores bem como os mistos. Do tronco encefálico
(mesencéfalo, ponte e bulbo) emergem 10 pares de nervos cranianos; os nervos ópticos (I) e
olfatórios (II) ligam-se diretamente ao telencéfalo e ao diencéfalo, respectivamente.
Os nervos cranianos recebem um número e um nome, a figura e a tabela a seguir resumem
esses dados e as principais funções. Note que há nervos mistos assim como nervos exclusivamente
sensoriais ou motores.

Estrutura e tipos de células nervosas


O tecido nervoso é formado basicamente por dois tipos de células: os neurônios e as células
gliais (gliócitos). Um neurônio sensorial e um neurônio efetuador compõem a unidade funcional
do sistema nervoso e os gliócitos constituem unidades de sustentação, revestimento, modulação da
atividade nervosa e de defesa.

Cada neurônio do SN é uma unidade sinalizadora capaz de gerar e conduzir eletricidade e


possui morfologia adaptada para recepção, transmissão e processamento de sinais. Apesar de muito
variados na forma, os neurônios apresentam um corpo celular (soma) e extensões protoplasmáticas
(neuritos) denominados dendritos e axônio. Os dendritos são curtos, mas profusamente
arborizados (e com isso aumentando significativamente a sua superfície), e o axônio é único e longo,
servindo de condutor dos impulsos nervosos para outros neurônios.
O axônio (ou fibra nervosa) é cilíndrico e varia de comprimento e diâmetro. Pode se
ramificar emitindo ramos colaterais de mesmo calibre. Em seu interior, há um complexo sistema de
transporte anterógrado e retrógrado formado por microtúbulos, microfilamentos e
neurofilamentos (possui dois motores moleculares: dineína e cinesína). No órgão de destino, o
axônio ramifica-se formando os telodendros ou botões sinápticos.
Os neurônios comunicam-se com outros neurônios (e com as células efetuadoras) através
de sinapses. Assim, por meio do longo axônio, um neurônio do córtex cerebral pode-se comunicar
com um outro da medula ou do tronco encefálico que ficam bem distantes. A classificação dos
neurônios é baseada na morfologia dos dendritos e dos axônios.

Fonte: Kandel et al., 2010

Os neurônios comunicam-se entre si formando uma rede que chamamos de circuito


nervoso. Nesse circuito identificamos um neurônio sensorial que detecta as informações do meio
ambiente, um ou mais neurônios associativos que processam os sinais nervosos que se situam
dentro do SNC e os neurônios motores que comandam as funções dos órgãos efetuadores.
Conforme a complexidade do circuito, podem ocorrer milhares de neurônios associativos entre os
neurônios sensoriais e motores que elaboram os comandos nervosos.

Fonte: Adaptado de Carlsson et al. 2002.

Células gliais
Tanto no SNC quanto no SNP, os neurônios se relacionam com os gliócitos. Na verdade, o
tecido glial é mais abundante estabelecendo uma relação de um neurônio para cada 10 a 50
gliócitos. No SNC, a neuroglia é formada de vários tipos de células: astrócitos, oligodendrócitos,
células de schawnn, microgliócitos e as células ependimárias que se encontram entre os neurônios.
• Astrócitos: são abundantes e possuem inúmeros
prolongamentos que lembram uma estrela. Os astrócitos
formam pés vasculares que se apoiam sobre os capilares
vasculares e seus prolongamentos estão em íntimo contato
com os dendritos, os corpos neuronais e os axônios e, de
maneira especial, envolvem as sinapses. Assim funcionam
como elementos de sustentação como os tecidos
conjuntivos e isolam os neurônios. Controlam o meio
extracelular com relação a concentração de K+, mantendo-
os em baixa concentração em relação ao citoplasma
dos neurônios. Servem de armazenamento de
glicogênio (polímeros de glicose) para o
metabolismo energético dos neurônios que são
incapazes de utilizar outras fontes, além da glicose.
Quando os neurônios são lesionados, os astrócitos
se multiplicam, internalizam os restos degenerados
e ocupam o sítio, cicatrizando-o.

• Oligodendrócitos: menores que os astrócitos,


possuem poucos prolongamentos. São os
responsáveis pela formação da bainha de mielina
dos axônios centrais (SNC), contribuindo com a formação da substância branca. Os
neurônios associados a esse tipo de célula são denominados neurônios mielinizados,
enquanto os outros neurônios, amielinizados. Macroscopicamente, podem identificar duas
áreas contendo basicamente fibras mielínicas e neuroglia denominada substância branca e
uma outra, onde estão concentrados corpos neuronais, neurônios amielínicos e neuroglia,
substância cinzenta.

• Células de Schwann: No SNP, os gliócitos conhecidos como células de Schwann, circundam


os axônios motores e sensitivos e os envolvem com duas bainhas uma de mielina e mais o
neurilema (membrana basal). As duas bainhas se interrompem a intervalos regulares
formando os nodos de Ranvier e cada porção entre esses nodos é denominada internódulo.
A bainha é rica em fosfolipídios e proteínas. A principal
função da bainha de mielina é aumentar a velocidade
de condução dos impulsos nervosos. Nos terminais
axônicos, a bainha desaparece, mas o neurilema é
mantido até a arborização axonal. Quando as fibras
são traumatizadas, as células de Schwann participam
com a sua regeneração, proporcionando um
arcabouço para orientar o crescimento axonal.
Secretam fatores tróficos que são transportados
anterogradamente e estimulam os corpos neuronais
no processo de regeneração. No SNC, os oligodendrócitos NÃO fornecem neurilema e
talvez essa característica esteja associada à dificuldade de regeneração celular. Neste caso,
os oligodendrocitos estão associados a vários neurônios. A sua presença é facilmente
reconhecida na medula e no encéfalo pela formação denominada substância branca.
• Microgliócitos: são alongadas e pequenas e estão presentes tanto na substância branca
quanto cinzenta e funcionam como elementos
fagocitários, porém são de origem mesodérmica, mais
especificamente dos monócitos. Aumentam em casos de
injúria e inflamação, pelo recrutamento de monócitos
originários da corrente sanguínea.

• Células ependimárias: são remanescentes do


epitélio embrionário e revestem as paredes dos
ventrículos cerebrais, do aqueduto e do canal
central da medula vertebral. Nos ventrículos
cerebrais, um tipo diferenciado de células
ependimárias recobre tufos de tecidos
conjuntivos, ricos em capilares sanguíneos que
se projetam da pia-máter e formam os plexos
corioideos, responsáveis pela formação do líquido cérebro-espinhal ou líquor.

Glossário de termos anatômicos


• Substância branca: regiões da medula e do encéfalo ocupadas por fibras com axônios
mielinizados
• Substância cinzenta: regiões da medula e do encéfalo ocupadas por assembleia de
corpos neuronais, fibras nervosas sem mielina e neuroglia
• Núcleos (p.e. núcleos da base, núcleo do trato solitário, núcleo vestibular etc.):
agrupamento de corpos neuronais funcionalmente relacionados
• Córtex: constitui a substância cinzenta disposta numa fina camada que recobre o
cérebro e o cerebelo
• Gânglios (p.e. gânglios sensitivos, gânglios autonômicos): agrupamento de corpos
neuronais fora do SNC
• Formação reticular: formação anatômica de neurônios de maneira bem difusa. Seus
axônios são longos e projetam-se rostralmente para o cérebro e caudalmente para a
medula
• Substância: grupo de neurônios relacionados, menos distintos do que os núcleos (p.e.
substância negra, substância gelatinosa)
• Locus: terminologia para um bem- definido e restrito grupo de neurônios (locus
coeruleus)
Enquanto os feixes de axônios do SNP são denominados de nervo, na substância branca do SNC, a
coleção de fibras mielinizadas recebe outras denominações:

• Tratos e fascículos (tratos mais densos); lemniscos (feixe que se parece uma fita e conduz
impulsos nervosos para o tálamo); decussação (formação anatômica cujas fibras cruzam
obliquamente a linha média e que tem a mesma direção). São também denominados feixes,
que são coleções de fibras que caminham juntos e não necessariamente têm a mesma
origem e destino. Já uma comissura é uma coleção de axônios que conecta
perpendicularmente a linha média e tem direções diametralmente opostas; cápsula, uma
coleção de axônios que conecta o cérebro e o tronco encefálico.
Organização básica e características funcionais
O sistema nervoso é o principal centro de comando do corpo, atendendo a três funções
essenciais: sensitiva, associativa e motora.

A função sensitiva relaciona-se com a percepção de alterações do meio ambiente, como


mudanças de temperatura e ondas sonoras e eletromagnéticas (luz)

Já a função integradora ou associativa é um processador de informações, uma especiae de


computador. Os componentes da função sensitiva recebem e encaminham mensagens aos da
dfunçãos associativa, que codificam ou transformam essas informações. As ondas sonoras, por
exemplo, são captadas pela orelha e percebidas no encéfalo como som, assim como as ondas
eletromagnéticas, captadas pela retia são traduzidas como visão.

A função motora por sua vez, tem como objetivo o envio de mensagens ou comandos,
automáticos ou conscientes, em resposta a algum estímulo ou função. Tais funções possibilitam que
os seres humanos andem e falem por vontade própria, que seus órgãos trabalhem sem qualquer
comando consciente.

Durante a evolução das espécies, o sistema nervoso humano foi o que mais avançou, de
modo que espécie humana é a única que consegue agir conscientemente. Os animais reagem ao
meio ambiente. O processo evolutivo do sistemas nervoso humano foi tão significativo que até hoje
não são conhecidas todas as suas capacidades e o seu funcionamento total.

O sistema nervoso, juntamente com o sistema endócrino, capacita o organismo a perceber


as variações dos meios internos e externos, a difundir as modificações que essas variações
produzem e a executar as respostas adequadas para que seja mantido o equilíbrio interno do corpo.
Esses dois sistemas atuam na coordenação e na regulação das funções corporais.

A unidade estrutural básica dos sistema nervoso, presente aos bilhões por todo o corpo
humano, é uma célula chamada neurônio, formada por três parte. Corpo celular, dentridos e
axônios.

Corpo celular ou Pericárdio


É a parte da célula na qual se encontram o núcleos e as principais organelas, ou seja, é o
centro de comando celular da função associativa.

Dentridos
São prolongamentos que sai do corpo celular com estruturas capazes de captar os estímulos
do meio ambiente os dentridos são como uma “antena de televisão”, que recebe os sinais e os
transmites até a área de codificação. Desse modo, os dentridos desempenham a função sensitiva,
detectando os sinais fora das células e levando-os até o corpo celular para serem traduzidos. Os
dentridos são chamados de receptores ou terminações nervosas livres.

Axônios
Também são prolongamentos que partem do corpo célula, mas seu propósito não é receber
sinais, mas sim, enviar ordens. Com isso, os axônios efetuam a função motora, levando as
mensagens elaboradas pelo corpo celular até o destino final apropriado.

Em resumo: o corpo celular desempenha função associativa; os dentridos função sensitiva;


os axônios, função motora.

Os neurônios podem ser classificados em multipolar, bipolar e unipolar ou pseudo-unipolar.

Tipos de neurônios:
• Multipolares: apresentam vários dentridos ao
redor do corpo celular e geralmente, um
prolongamento axônio extenso.
• Bipolares: apresentam dois prolongamentos
predominantemente maiores que partem do
corpo celular em sentidos contrários: um
dentridos e um axônio.
• Pseudo-unipolares: apresentam um
prolongamento citoplasmático muito grande, cujo
o corpo celular não interfere na sua passagem.

O prolongamento citoplasmático pode ser chamado de fibra neural. A fibra pode ser sensitiva
se apresentar os dentridos em sua extremidade, assim como as fibras que apresentam axônios são
chamadas de fibras motoras.

Já os axônios apresentam um detalhe importante: ao fim de uma fibra motora há uma parte
dilatada, chamada de botão axonal ou botão terminal. Esta estrutura é muito importante no
processo de comunicação neuronal.

Classificação anatômica do Sistema Nervoso


O sistema nervoso pode ser dividido de acordo com sua distribuição no corpo. Por se tratar
de célula mais importante do corpo, a maior parte dos neurônios precisa ficar muito bem protegida,
o que justifica sua localização em uma estrutura rígida e forte: os ossos. Assim, o crânio e a coluna
vertebral abrigam a maior parte dos neurônios, de modo que a caixa craniana comporta bilhões de
neurônios.

O encéfalo engloba todos os neurônios e estruturas contidas dentro do crânio, enquanto o


termo medula espinhal refere-se a tudo aquilo que estiver dentro da coluna vertebral. Encéfalo e
medula espinhal formam o sistema nervoso central (SNC).

No encéfalo encontram-se a maior parte dos corpos dos neurônios e, por isso, essa região
é a mais importante área de comando corporal. É nele que ocorrem a tradução dos sentidos
humanos, o pensamento, o raciocínio, o armazenamento das memórias e o processamento das
emoções. Já, a medula epinhal, tem como principais funções a transmissão de sinais e geração dos
reflexos, os sinais sensitivos saem de qualquer parte do corpo, passam pela medula epinhal e
chegam ao encéfalo. Já com relação aos comandos, as mensagens motoras partem do encéfalo,
passam pela medula espinhal e chegam a seu destino e várias partes do corpo.

O tipo de neurônios que predomina no SNC é o multipolar. Os bipolares estão relacionados,


principalmente, com os órgãos dos sentidos especiais como visão e audição.

Os neurônios que não estiverem no SNC, estarão, obrigatoriamente ao lado ou na região


extrema ou periférica do corpo. Desse modo, os neurônios e as estruturas que não fazem parte do
SNC, constituem o chamado sistema nervoso periférico (SNP), ou seja, neste estão os neurônios
pseudo-unipolares, uma vez que os multipolares e bipolares são encontrados no SNC.

Os dentridos dos neurônios pseudo-unipolares são as estruturas responsáveis por captar as


sensações de dor, tato e temperatura por toda a extensão do corpo humano e são chamados de
terminações nervosas livres.

As fibras sensitivas apresentam terminações nervosas livres, e as fibras motoras, o botão


axonal. Quando várias fibras se juntam e permanecem unidas, elas constituem a estrutura
conhecida como nervo. Quando composto por fibras sensitivas, ele é um nervo sensitivo. Quando
composto por axônios, um nervo motor. Quando presentes os dois tipos de fibras, tem-se um nervo
misto.

Por fim, os corpos dos neurônios pseudo-unipolares, localizados fora do SNC, formam
agrupamento ovalado denominado gânglio. Já os corpos dos neurônios multipolares e bipolares no
SNC são chamados de núcleos. As fibras do SNC são conhecidas como tratos.

Assim, no SNP são encontradas terminações nervosas livres, nervos e gânglios.

Classificação funcional do sistema nervoso


De acordo com as suas funções, o sistema nervoso pode ser dividido em somático e víscera.
Os neurônios, tanto do sistema somático quanto do visceral, são classificados em sensitivos ou
aferentes e em motores ou eferentes.

O sistema nervoso somático é de comando voluntário, ou seja, atua por meio d coordenação
consciente. Os neurônios sensitivos ou aferentes relacionam-se com os sentidos somáticos (tanto,
temperatura, dor e posição) e os sentidos especiais (visão, audição, paladar, olfato e equilíbrio). Os
neurônios motores ou eferentes formam a junção neuromuscular (união de um neurônio somático
e uma fibra muscular esquelética).

O sistema nervoso visceral é de comando involuntário, de maneira que o ser humano não
tem controle das funções realizadas por esse sistema. Os neurônios sensitivos ou aferentes desse
sistema são chamados de visceroceptores ou viscerorreceptores. Eles levam informações dos
órgãos par ao encéfalo. Os neurônios motores ou eferente do sistema visceral constituem o sistema
nervoso autônomo, que se divide em simpático e parassimpáticos. Esses neurônios levam
mensagens do encéfalo e da medula espinal para todos os órgãos e glândulas.
Propriedades dos neurônios
• Condutibilidade: capacidade do neurônio de transmitir os impulsos nervosos por toda sua
extensão, em grande velocidade e em curto espaço de tempo.
• Excitabilidade ou irritabilidade: capacidade de responder a estímulos internos ou externos.
A resposta emitida pelos neurônios, como consequência dos estímulos é chamado de
impulso nervos, o mesmo que potencial de ação.

Sinais elétricos dos neurônios


Os neurônios apresentam a propriedade da excitabilidade, ou seja, essas células são capazes
de gerar sinais elétricos.

Existem dois tipos de sinais elétricos: os potenciais graduados e os potenciais de ação. Para
entender melhor, imagine uma bateria de carro. A bateria tem dois polos, um negativo e outro
positivo, e a corrente elétrica percorre todo o circuito. Já nas células, não existe corrente elétrica,
mas sim iônica, ou seja, os íons movimentam-se pela membrana plasmática e criam sinais elétricos
(potenciais graduados e de ação).

Os sinais elétricos dos neurônios ocorrem por uma característica das membranas
plasmáticas dessas células: potencial de repouso.

Toda via, para entender os sinais elétricos, é preciso saber como são gerados os potencias
de repouso da membrana plasmática dessas células.

Potencial de repouso

Na membrana plasmática dos neurônios existem proteínas que formam verdadeiros canais
que possibilitam a passagem de água e íons de dentro para fora e de fora para dentro das células.
Esses canais são chamados de canais de vazamentos. Eles são específicos, pois deixam passar um
tipo de elemento químico, como ocorre com o canal de vazamento do Na+ (sódio) e o canal de
vazamento de K+ (potássio).

Vale lembrar que o Na+ é o principal eletrólito (maior concentração) do LEC e o K+ é o


principal eletrólito do líquido intracelular (LIC). Desse modo, devido a lei das massas, em que todo
elemento presente no lado de maior concentração, separado por uma membrana permeável passa
para o lado de menor concentração, há o transporte desses íons. Assim, o Na+ sai o LEC, passando
pelos canais de vazamento de Na+, e entra no LIC. O K+, por sua vez, sai do LIC, passando pelos canais
de vazamento do K+, e chegam ao LEC.

Esse transporte cria um movimento de íons pela membrana, gerado por forças
eletroquímicas (íons com cargas elétricas positivas) e também por causa da concentração.

O fato é que as pesquisas científicas da biologia celular e molecular constataram que


existem cerca de 50 a 100 canais de vazamento de K+ para cada vazamento de Na+. Esses achados
revelam que para cada íon de Na+ que entra (influxo) na célula, saem (efluxo) cerca de 50 a 100 íons
K+. Com isso, ocorre uma grande saída de K+, carregando para fora da célula muita carga positiva
(cátion K+). Ao mesmo tempo, há pouca entrada de carga positiva, influxo de Na+. Para cada entrada
de Na+, já, no mínimo 50 e, no máximo 100 saídas de K+. Portanto, a saída do K+ é muito mais
significativa do que a entrada do Na+. Desse modo, é possível perceber a existência de um fluxo
(corrente) de íons se movimento para dentro de para fora da célula, criando uma corrente iônica
(com carga elétrica) na superfície da membrana plasmática.

Conclui-se, então, que os neurônios perdem muita carga elétrica positiva par ao LEC, de
modo que dentro dessas células predominam algumas moléculas carregadas com sinais elétricos,
como os íons fosfato (aniônico-negativo) e as proteínas (aniônico-negativas). Em função da grande
perda de carga elétrica positiva por meio do potássio, dentro da célula predominam as cargas
negativas(fosfatos e proteínas).

Com um aparelho chamado microvoltímetro é possível medir a voltagem (em volts, V)


contida nas células. Por ser extremamente baixa essa voltagem, o volt é dividido por mil e usa-se
como medida o milivolts (mV). Os neurônios apresentam, em média, -70mV (-50mV no corpo
celular; -90mV no axônio). Esse valor médio representa o potencial de repouso da membrana dessas
células. Nesse caso, com -70mV, a célula encontra-se no estado polarizado.

Durante a vida, o movimento de íons nas membranas humanas é constante. Mas o que
acontece com todo o Na+ que entra na célula e com o K+ que sai da célula? Para resolver esse
problema, na membrana plasmática das células humanas há uma proteína transportadora, a bomba
de sódio-potássio dependente de ATP (bomba Na+-K+ ATPase).

A bomba Na+-K+ ATPase regula as trocas iônicas, ou seja, carrega de volta o íon para o seu
local de origem. O K+, que sai da célula é trazido de volta para dentro,
assim como o Na+ que entra é levado para fora. é um esforço grande e
que gera muito consumo de energia (ATP) da célula. A proporção de
trocas iônicas é de 2 K+ trazidos para dentro da célula para cada 3 Na+
jogados para fora. A bomba Na+-K+ ATPase é considerada eletrogênica,
mas não é a principal responsável pelo potencial de repouso da célula,
ficando com uma participação em torno de 5 a 8% dos -70mV.

O evento mais importante para geração do potencial de


repouso é a saída (efluxo) do K+ pelos canais de vazamento.

Potencial de ação
Além dos canais de vazamentos, os neurônios dispõem de canais de comportas ou gates
(portão). Há três tipos de canais de comportas:

• Canais quimicamente regulados (quimio-dependentes)


• Canais mecanicamente (fisicamente) regulados (mecano-dependentes)
• Canais regulados por voltagem (voltagem-dependentes)

Exemplo de canal com comportas

A diferença básica desses canais com relação ao de vazamento é que eles abrem e fecham
de acordo com o estímulo recebido. Os neurônios podem receber dois tipos de estímulos: os físicos
(mecânicos) e os químicos.

Os estímulos físicos são gerados, por exemplo, por ondas de luz (eletromagnéticas), ou por
ondas sonoras. Já os estímulos químicos são provocados por agentes ou substancias do próprio
corpo, como hormônios, citocinas, neurotransmissores ou elementos externos, como drogas ilícitas,
medicamentos e alguns alimentos.

Quando os neurônios recebem um estímulo, físico ou químico, as comportas ou portões dos


canais mecanicamente e quimicamente regulados são abertos e ocorre a passagem de íons Na+ do
LEC em direção ao LIC. A entrada (influxo) de muitos íons Na+ carreados positivamente faz com que
aquela miliviltagem de -70mV comece a perder força, caindo para -50, -30, -10 e, devido ao influxo
continuo de mais Na+, ocorre predomínio desse íon (cátion) e, consequentemente, de carga positiva
no interior (LIC) da célula.

Nesse momento, a carga no interior da célula passa a ser positiva. Em suma, quando os
portões dos canais se abrem, muito Na+ entra na célula e inverte a carga elétrica, que era negativa,
passando para positiva. A partir dessa inversão de carga elétrica, ocorre um processo muito
importante: ativação ou acionamento dos canais regulados por voltagem. Quando há a inversão,
eles são automaticamente abertos (comportas ou portões) e permitem mais entrada de Na+ no
interior da célula. Existem canais regulados por voltagem em toda a extensão da membrana
plasmática e esses canais obedecem uma lei: a lei tudo ou nada. Segundo essa lei: quando um canal
regulado por voltagem se abre, automaticamente todos os demais também são abertos em toda a
extensão da célula, o que deixa a célula inundada de Na+, levando a carga para o valor aproximado
de +30mV. Esse fenômeno é realizado muito rapidamente, em 0,5ms, e espalha-se pela célula do
ponto do estímulo até o seu lado oposto.

A inversão da carga elétrica ao longo de toda a célula, de negativa para positiva, -70mV para
+30mV, é chamada de potencial de ação. A célula passa, então, de polarizada para despolarizada.
Nos neurônios, o potencial de ação é denominado impulso nervoso. Quando ele é gerado, no início
do axônio (zona de ativação), o potencial cria um fluxo de corrente em direção aos terminais
axônicos, promovendo a abertura de todos os canais de Na+ voltagem dependentes ao longo da
membrana do axônio.
Quando os estímulos (físicos ou químicos) param ou são retirados da célula, os portões dos
canais regulados fecham rapidamente. Os íons Na+ não entram mais em grande quantidade e a
célula começa perder a voltagem positiva: +30, +20, +10. Em determinado momento, a saída do K+
supera a entrada de Na+, e a célula retorna a seu potencial de repouso (-70mV). A volta ao estado
de repouso é chamada de repolarização.

Mas, o que acontece com todo o Na+ que invadiu a célula? Esse trabalho de remoção é feito
pela já mencionada bomba de Na+-K+.
Potencial graduado
Quando um neurônio recebe um estímulo e este sai de -70mV, -50mV, -30mV e para por aqui,
ou seja, sem correr a inversão de carga, nota-se que voltagem saiu de -70mV e foi para -30mV,
facilitando o potencial de ação, já que -30mV está mais próximo do limiar. Este é um exemplo de
potencial graduado.

Todas as vezes que um neurônio receber um estímulo que não seja suficiente para gerar um
potencial de ação ou impulso nervoso, tem-se o potencial graduado, que facilita a despolarização
da célula em um eventual estímulo repetitivo.

Consequência da geração do impulso nervoso


Todas as vezes que um neurônio se despolariza, ocorre vários eventos na região do botão
axonal, descritos a seguir.

• O neurônio em repouso encontra-se no estado polarizado (-70mV).


• Quando ocorre um estímulo, físico ou químico, o neurônio se despolariza, criando o
potencial de ação ou impulso nervoso, que se espalha rapidamente por toda a extensão da
célula.
• Na região do botão axonal (botão terminal do axônio), o impulso nervoso atrai os íons Ca++,
presentes no LEC, até a membrana plasmática dos neurônios.
• O Ca++ na membrana plasmática formam os sítios de liberação. Nessa membrana existem
canais de Ca++ voltagem-dependentes, que se abrem no momento da inversão das cargas
elétricas, fazendo com que esses Ca++ possam entrar no citoplasma neural e criar os sítios
de liberação.
• Os sítios de liberação atraem em direção à membrana plasmática as vesículas contenho
neurotransmissores espalhadas no botão axonal.
• Rapidamente uma vesícula que estava no botão axonal agora ligam-se na membrana
plasmática na região do sítio de liberação.
• Quando essas vesículas com neurotransmissores se ligam na membrana, elas se fundem, ou
seja, passam a fazer parte da membrana plasmática.
• Com isso, os neurotransmissores ainda ficam envolvidos e presos nas membranas do
neurônio. Lembrem-se a membrana das vesículas é semelhante à membrana plasmática dos
neurônios, por isso ocorre essa fusão (união) muito rápida.
• Em seguida, ocorre a exocitose. A parte de fora da membrana estoura, e, com isso, o
neurotransmissor é liberado no LEC. A parte de dentro da membrana mantem-se intacta.

A partir dessa sequência de ações, é possível concluir que os neurônios, quando se


despolarizam, gerando impulso nervoso, liberam grande quantidade de neurotransmissores no LEC.
Condução do impulso nervoso
O impulso nervoso pode ser conduzido no axônio de modo muito rápido ou lento, a
depender da presença ou não de algumas células da glia, como as células de Schwann no SNP e os
oligodendrócitos no SNC.

Tanto a célula de Schwann quanto os oligodendrócitos literalmente enrolam-se nos axônios


dos neurônios, da mesma maneira que uma fita adesiva isolante é enrolada em um fio elétrico sem
capa plástica. Essas células desempenham um papel semelhante. A fita adesiva, além de proteger,
faz o papel de isolamento elétrico. Como essas duas células da glia apresentam uma gordura
chamada mielina no citoplasma, elas também isolam os axônios, fazendo com que o impulso
nervoso passe com muita velocidade.

Estando enroladas nos axônios dos neurônios, essas duas células da glia deixam esses
prolongamentos mais grossos. O impulso nervoso viaja pela superfície da membrana plasmática do
neurônio e também das células de Schwann e dos oligodendrócitos. Existem diversas dessas células
da glia nos axônios, haja vista que são muito pequenas em relação aos neurônios elas ficam
dispostas lado a lado, deixando pouco espaço entre si. Esse espaço entre duas células de Schwann
ou oligodendrócito é chamado de nó de Ranvier.

Quando percorre a superfície do axônio, o impulso nervoso despolariza primeiramente a


célula de Schwann ou oligodendrócito, que está por cima, para depois despolarizar o axônio. Nos
espaços entre as duas células gliais, o nó de Ranvier, a despolarização ocorre diretamente no axônio.
Assim, tem-se a impressão de que o impulso nervoso viaja pela fibra neuronal ora em um local de
fibra grossas (com célula da glia), ora em local de fibra fina (nó de Ranvier), parecendo estar saltando
ou pulando de uma parte a outra.

Os neurônios que apresentam as células de Schawnn ou oligodendrócitos são chamados,


então, de neurônios mielinizados. Suas fibras são consideradas rápidas (muita velocidade),
classificadas como tipo A ou B, e a condução do impulso nervoso é saltatório. Os neurônios que não
apresentam as células de Schawnn ou oligodendrócitos são denominados neurônios amielinizados.
Suas fibras são consideradas lentas (pouca velocidade), classificadas como tipo C, e a condução do
impulso nervoso é contínua ou graduada.

Sinapses do sistema nervoso


As sinapses são os locais de comunicação entre os neurônios. Esta região é muito
importante, já que é por meio dela que as informações (mensagens) são transmitidas.

Há dois tipos de sinapses: as químicas e as elétricas. Estudaremos a principal forma de


transmissão de informações do sistema nervoso: as sinapses químicas.

Como os neurônios se comunicam se não estão interligados? Por meio dos


neurotransmissores, substâncias químicas transmissoras das informações.

Todos os neurônios ficam muito próximos uns dos outros, porém não estão conectados
diretamente. Quando ocorre um impulso nervoso em um neurônio, este se despolariza, mas o
impulso não salta de um neurônio ao outro.

A inversão de carga sofrida pela célula fica restrita ao citoplasma. Desse modo, conclui-se
que o sinal elétrico não pode passar de uma célula para a outra. No entanto, quando o neurônio se
despolariza, gerando um impulso nervoso, os íons Ca++, são atraídos até a membrana plasmática,
formando o sítio de liberação que, por sua vez, atrai as vesículas com neurotransmissores. Depois
de atrai-las, as vesículas fundem-se na membrana e, por fim, ocorre a exocitose do
neurotransmissor no LEC.

Anatomia das sinapses


Na região das sinapses, há os seguintes constituintes:

• O neurônio que sofre o estímulo e se despolariza,


liberando o neurotransmissor, chamado de
neurônio pré-sináptico.
• O espaço preenchido pelo LEC, onde o
neurotransmissor é lançado é chamado de fenda
sináptica.
• O neurônio que fica à frente do neurônio pré-
sináptico (ou seja, aquele que receberá a
informação pelo neurotransmissor) é chamado
de neurônio pós-sináptico.

Com essas novas denominações, é possível estabelecer o seguinte: o neurônio pré-sináptico


recebe um estímulo, físico ou químico e se despolariza. Na região do botão axonal do neurônio pré-
sináptico ocorre exocitose e liberação do neurotransmissor na fenda sináptica. Este
neurotransmissor atua sobre o neurônio seguinte, o pós-sináptico.
A ação dos neurotransmissores no neurônio pós-sináptico pode ser de excitação ou de
inibição. Se houver excitação, o neurônio fica mais ativo, aumentando o seu metabolismo celular ou
mesmo se despolarizando, conforme o caso. Já na inibição, há diminuição do metabolismo celular,
deixando o neurônio menos ativo, sem provocar a despolarização, podendo gerar a
hiperpolarização.

De fato, essa comunicação é muito eficiente do ponto de vista estrutural, pois a informação ou
a via de transmissão é sempre de mão única, ou seja, do neurônio pré-sináptico para o neurônio
pós-sináptico.

Vias de ação dos neurotransmissores


Dependendo da especificidade do caso, os neurotransmissores atuam por uma das duas vias
(trajetórias) na membrana plasmática do neurônio pós-sináptico: canais iônicos (ionotrópicos) ou
pela via de 2º mensageiro (metabotrópico).

Cada tipo de neurotransmissor tem sua própria trajetória definida. Quando são liberados
para a fenda sináptica e se deparam com a membrana plasmática do neurônio pós-sináptico, a ação
é realizada rapidamente.

Na membrana plasmática do neurônio pós-sináptico estão as proteínas de canais ou canais


iônicos quimicamente regulados. Os neurotransmissores podem reagir nos canais de Na+ ou nos
canais de Cl- (cloro/cloreto).

Os canais de Na+, quando abertos pelos neurotransmissores, deixa entrar muitos íons Na+,
causando a despolarização e geração de impulso nervoso. Nesses casos, o neurônio pós-sináptico
fica excitado.

Já os canais de Cl-, quando abetos, deixam entrar este ânion (íon com carga elétrica
negativa), aumentando a carga elétrica negativa dentro do neurônio. Em repouso, o potencial é de
aproximadamente -70mV, estado conhecido como polarizado. Em função desse aumento de Cl- no
seu interior, o neurônio fica mais polarizado, ou melhor, hiperpolarizado, causando a inibição do
neurônio.

Desse modo, o corpo humano dispõe de dois tipos de canais iônicos na membrana do
neuronio pós-sinapse: os canais de Na+ excitam e os canais de Cl- inibem.
Além de agirem nos canais iônicos, os neurotransmissores podem agir em proteínas
transmembranares chamadas de proteína G. Os neurônios encaixam-se nos receptores da proteína
G do lado de fora da célula, e, dessa maneira, desencadeiam várias reações químicas intracelulares,
denominadas segundo mensageiro, que podem exercer efeitos excitatórios ou inibitórios na célula.
As células de segundo mensageiro causam efeito no comando da célula (DNA), provocando
alterações fundamentais na expressão gênica e no metabolismo da célula.

Assim, a via de segundo mensageiro pode exercer efeitos excitatório ou inibitórios,


dependendo do tipo de neurotransmissor.

Quando se formam os circuitos neurais, os neurotransmissores podem excitar ou inibir os


sinais elétricos dos neurônios pós-sinápticos. Os efeitos de excitação são chamados de Potenciais
Excitatórios Pós-Sinápticos (PEPS) e os de inibição, Potenciais Inibitórios Pós-Sinápticos (PIPS).

Classificação das sinapses


Os contatos sinápticos são realizados pelas partes dos neurônios, com os axônios, os
dendritos e os corpos celular. Desse módulo, existe as sinapses axo-dendríticas (localizada entre um
axônio e um dendrito), axo-somática (entre um axônio e um corpo celular) e axo-axônica (entre um
axônio e outro).
Substâncias agonistas e antagonistas
As sinapses do sistema nervoso podem sofrer influências de vários tipos de
substâncias químicas externas, que se referem tanto a uma simples xícara de café quanto a
drogas ilícitas quanto a maconha.
A indústria farmacêutica desenvolveu muitos fármacos que agem nas inapses do
sistema nervoso, graças ao conhecimento do funcionamento das protepinas receptoras
existentes na membrana plasmáticas dos neurônios.
Já se mencionou aqui que os neurotransmissores ajudam em duas vias nos
neurônios pós-sinápticos os canais iônicos e as vias de 2º mensageiro. Os receptores que
afetam os canais de iôns (Na+ e Cl-) são chamados de inotrópicos. Já os receptores que agem
na via de 2º mensageiro são chamados de matabotrópicos.
Uma molécula externa ao corpo humano pode se encaixar no mesmo receptor em
que o neurotransmissor se encaixa e promover a ativação da célula. Se isso ocorrer, ou a
substância se liga ao receptor e desencadear uma resposta celular, ela é denominada
substância agonista. Se a substância se ligar ao receptor, porém sem deixar ocorrer a
ativação celular, é denominada de substância antagonista.
Em resumo, moléculas que se ligam no mesmo receptor que os neurotransmissores
e dão origem a uma resposta celular são chamados de agonistas. Moléculas que se ligam a
um receptor e evitam ou bloqueiam a resposta da célula são denominadas antagonistas.
Inativação ou remoção do neurotransmissor
Os neurotransmissores podem ser inativados ou removidos das sinapses por meio
de difusão simples, enzimas presentes na fenda, transporte ativo e podem ser removidos
por células da glia.
Após cumprirem as suas funções (inibir ou ativar), alguns neurotransmissores
simplementes desprendem-se dos receptores e saem das sinapses por difusão simples.
Outros neurotransmissores são transportados de volta ao neurônio pré-sináptico por meio
de transporte ativo. As micróglias (tipo de célula da glia) removem alguns tipos de
neurotransmissores pode fagocitose.
Além disso, existem nas sinapses algumas enzimas que degradam (quebram) as
moléculas dos neurotransmissores, deixando-os inativos. A acetil colina (Ach) é removida
da fenda sináptica pela enzima acetilcolinesterase. As catecolaminas (norepinefrina,
epinefrina e dopamina) são removidas pela ação das enzimas catecol-O-metiltransferase e
monoamina-oxidase (MAO). A norepinefrina também pode ser transportada ativamente de
volta para o neurônios pré-sináptico.
Neurotransmissores / substâncias neurócrinas / neuropeptídios
Assim como as outras células do corpo humano, os neurônios também são verdadeiras
fábricas de proteínas. O DNA do neurônio, localizado no corpo celular, envia seu comando, por
meio do m-RNA para os ribossomos que estão no retículo endoplasmático granular ou rugoso
(REG). No REG acontece a produção de proteínas que, depois de pronta será levada até o
Complexo de Golgi. Nessa organela, a proteína é segregada, ou seja, fica mais elaborada, com
novos componentes e, por fim, é embalada e colocada nas vesículas de transporte.

Dentro das vesículas, as proteínas são levadas do corpo celular em direção ao axônio, pelos
microtúbulos das células. Esse movimento é conhecido como anterógrado (o contrário é
chamado de retrógrado). No fim do axônio, o botão axonal ou botão terminal, as vesículas ficam
armazenadas em grande quantidade.

As substâncias produzidas pelos neurônios são chamadas de neurotransmissores e/ou


neuropeptídios (neurosubstâncias).

Essas substâncias são produzidas no corpo celular, colocadas em vesículas, transportadas


via microtúbulos e armazenadas no botão axonal. Todas as vezes em que um neurônios for
estimulado, como ocrre nas sinapses, essas vesículas também fundem-se à membrana
plasmática e, logo após, sofrem exocitose, ou seja, a vesícula ou a parede da membrana estoura
do lado de fora da célula, liberando o neurotransmissor no líquido extracelular (LEC).

Assim, os neurotransmissore liberados no LEC agem nas células vizinhas ou partem para a
corrente sanguínea. Essas substâncias dividem em:

• Neurotransmissores: substâncias químicas de ação parácrina (atuam nas células ao


lado, nos neurônios vizinhos).
• Neuromoduladores: substancias parácrinas que atuam em outras células que não
sejam os neurônios
• Neuro-hormônios: substancias químicas dos neurônios que são lançados no sangue.

Os neurotransmissores, neuromoduladores e neuro-hormônios provocam dois tipos de


efeito nas células sob as quais atuam: efeitos excitatórios ou efeitos inibitórios. A células excitada
aumenta o metabolismo celular, respondendo de modo ativo. Já o efeito inibitório desacelera o
metabolismo, deixando a célula pouco ativa.

Com relação aos componentes químicos dos neurotransmissores, é possível encontrar


vários tipos, apresentados a seguir.
Os neurotransmissores podem ser de dois tipos
Se o NT causar despolarização na membrana
pós-sináptica, o NT e a sinapse são chamados de
excitatórios. Mas, se causarem hiperpolarização são
chamados de inibitórios. Há vários tipos de NT
excitatórios e inibitórios. O potencial pós-sináptico
despolarizante é denominado potencial pós-sináptico
excitatório (PEPS) e o hiperpolarizante, potencial pós-
sináptico inibitório (PIPS). Os PEPS e PIPS são, portanto,
alterações localizadas no potencial de membrana
causadas por aberturas de canais iônicos dependentes
de NT. Os PEPS e os PIPS são respostas elétricas de baixa
voltagem e as respectivas amplitudes dependem da
quantidade de NT. Os potenciais pós-sinápticos são
eventos elétricos causados pela abertura de canais
iônicos NT dependentes cuja amplitude é baixa, mas
variável. Já os PA são eventos elétricos do tipo tudo-ou-
nada (amplitude e duração constantes) causados pela
abertura de canais iônicos (Na e K) voltagem
dependentes.
Geralmente, um neurônio produz apenas um
tipo de NT, excitatório ou inibitório. Não raro,
entretanto, ele pode sintetizar e secretar dois tipos de mediadores químicos: um NT e outro
neuromodulador. Esse último tem a função de regular o nível de excitabilidade da membrana pós-
sináptica.
Os NT são sintetizados no próprio terminal, mas os neuromoduladores peptídicos são
fabricados no corpo celular e armazenados em grânulos secretores que são transportados até o
terminal.
A ação dos neuromoduladores não é tipicamente a de causar potenciais de ação, mas de
controlar ou regular o grau de excitabilidade da membrana pós-sináptica, facilitando ou dificultando
a deflagração dos PA nas zonas de gatilho.

Classificação dos neurotransmissores


Os NT são dos seguintes tipos químicos: aminoácidos, aminas, purinas, peptídeos e gases.
Princípios da neurofarmacologia
Nosso organismo está exposto a várias substâncias tóxicas: venenos de origem animal ou
vegetal, metais pesados (mercúrio, chumbo e cromo) e um monte de drogas sintéticas (fármacos).
Várias substâncias são neurotóxicas e afetam especificamente a neurotransmissão. O conhecimento
básico de alguns princípios de neurofarmacologia nos serão muito úteis. As substâncias exógenas
que se ligam especificamente a um determinado receptor mimetizando fielmente os efeitos do NT
natural são conhecidos como agonistas. Quando o contrário acontece, isto é, quando o efeito
natural é bloqueado, chamamos essas drogas de antagonistas.
Já vimos que um mesmo NT pode ter muitos subtipos de receptores pós-sinápticos. Por
exemplo, a ACh (acetilcolina) possui dois subtipos: os receptores nicotínicos e os muscarínicos. Os
receptores nicotínicos são ionotrópicos, são estimulados somente pela nicotina e estão presentes
somente nas placas motoras das fibras musculares esqueléticas; já os receptores muscarínicos são
metabotrópicos, são estimulados exclusivamente pela muscarina e estão restritos às fibras
musculares lisas e cardíacas. Além da ação das drogas agonistas, esses receptores possuem também
antagonistas específicos: o curare bloqueia apenas os receptores nicotínicos e a atropina, os
receptores muscarínicos. Essas propriedades não deixam dúvidas de que os receptores
colinérgicos são farmacológica e molecularmente diferentes. Isso pode tornar a compreensão
da neurotransmissão um pouco mais complicada, mas, por outro lado, quer dizer que se torna
possível fabricar medicamentos bastante específicos que agem no coração ou nas fibras
musculares esqueléticas.
Fonte: Bear et al., 2008

Acetilcolina (ACh)
A Ach é um NT clássico e o primeiro a
ser descoberto. Atua como mediador de várias
sinapses nervosas centrais e periféricas.
Os neurônios colinérgicos possuem a
enzima-chave, a acetilcolina transferase, que
transfere um grupo acetil do acetil-CoA à
colina. O neurônio também sintetiza a enzima
acetilcolinesterase (AchE), que é secretada
para a fenda sináptica e degrada o NT em
colina e ácido acético. A colina é recaptada e
reutilizada para síntese de novos NT.
Venenos como o gás dos nervos e os
inseticidas organofosforados inibem a ação da AchE. Esse efeito leva a uma exacerbação da
atividade parassimpática e da atividade colinérgica sobre a musculatura esquelética.
É o único neurotransmissor utilizado na junção neuromuscular (musculo esquelético). É o
neurotransmissor liberado por todas as células pré-ganglionares e a maioria dos neurônios pós-
ganglionares no sistema nervoso parassimpático e por todos os neurônios pré-ganglionares do
sistema nervoso simpático. É, também, o neurotransmissor liberado pelos neurônios pré-sinápticos
da medula da suprarrenal.
A acetilcolina age em diversos sítios: Nas junções neuromusculares esqueléticas induzindo a
contração do músculo; Nas sinapses entre o Nervo Vago e as fibras musculares cardíacas gerando
uma resposta inibitória (bradicardia); Nas sinapses dos gânglios do Sistema Motor Visceral
controlando o Parassimpático, além de agir em diversos sítios do SNC controlando a atenção, o
aprendizado e a memória.

Catecolaminas ou aminas biogênicas


O aminoácido tirosina é o precursor de três NT que possuem o grupo catecol:
noradrenalina, adrenalina e dopamina conhecidas como catecol. Sofrem recaptação na membrana
pré-sináptica e são enzimaticamente degradadas pela MAO (monoaminooxidades) e/ou pela COMT
(catecol-O-metiltransferase) no terminal pré-sináptico. Muitas drogas interferem com a sua
recaptação prolongando a presença do NT na fenda como a anfetamina e a cocaína.
Catecolamina – Dopaminas
Envolvida na regulação dos movimentos corporais, sensações de satisfação e prazer,
memória, recompensa e reforço.
Mais da metade do conteúdo de catecolaminas do SNC é constituída de dopamina. Em nível
de sistema nervoso autônomo, os neurônios dopaminérgicos são encontrados no mesentério
intestinal, onde presumivelmente regulam o tonus vascular intestinal no período pós-prandial.
Neurônios que sintetizam dopamina são encontrados no mesencéfalo, diencéfalo e
telencéfalo. Os principais grupos são os núcleos mesencefálicos A9 e A10. O A9 encontra-se na parte
compacta da substância negra e dá origem ao sistema mesoestriatal (nigroestriatal). A doença de
Parkinson é caracterizada pela perda progressiva de neurônios dopaminérgicos na substância negra.
O A10 situa-se na área do tegmento ventral e dá origem ao sistema mesolímbico. Suas fibras
ascendem no feixe prosencefálico medial e distribuem-se no bulbo olfatório, hipocampo, núcleo
septal lateral, núcleo accumbens, núcleo do leito da estria terminal e complexo amigdalóide. A
hiperatividade do núcleo A10 pode representar um importante fator associado à fisiopatologia da
esquizofrenia.
A dopamina é liberada nas sinapses neuronais em diversas circunstâncias.
A dopamina, relacionada à expectativa de algo, é mais liberada quando o animal sai à procura
de alimento, do sexo ou de qualquer outra coisa pretendida; também é liberada quando estamos
envolvidos numa tarefa chata e desagradável que queremos ou precisamos terminar.
A DA promove respostas não só para a iniciação de ações positivas, mas também das
negativas; do mesmo modo a NA (noradrenalina) pode aumentar a sensibilidade tanto para os
estímulos negativos como para os positivos.
De outro modo, diante de uma atividade atraente, o organismo aumenta seus níveis de DA e
NA nas sinapses neuronais; do mesmo modo, diante de atividades ruins, o organismo também
aumentará os níveis desses dois neurotransmissores para possibilitar as ações do organismo
antevendo o término da conduta desagradável, isto é, ficar feliz por terminar a tarefa ruim.
O Sistema de Recompensa produz sensações de prazer e, por isso, atribui um valor emocional
positivo a um determinado estímulo, e, ao mesmo tempo, nossa memória é ativada no instante que
estamos nos sentindo bem.
Embora diferentes neurotransmissores se liguem em série durante o mecanismo de
recompensa do cérebro humano, talvez a mais importante interação seja a da dopamina do núcleo
acumbens, um grupo de neurônios que tem uma relação especial com as recompensas e
motivações; nele se encontra uma das mais elevadas reservas de dopamina de todo o cérebro.
O núcleo acumbente localiza-se logo abaixo da parte frontal do estriado, uma parte dos
gânglios da base. Os gânglios basais são estruturas importantes do setor subcortical do cérebro
envolvidas nos movimentos, nas cognições e nas emoções, bem como outras funções.
Uma recente pesquisa mostrou que no interior do núcleo acumbente existe mais de uma
divisão de função: a capa e seu miolo, onde cada um desses setores tem funções diferentes.
A capa exterior do núcleo acumbente parece estar envolvida sobretudo nas emoções,
motivação e dependência; uma área com conexões diretas com estruturas do sistema límbico
(sistema emocional).
Essa parte (capa) do núcleo acumbente é descrita como fazendo parte da “amígdala
ampliada”, formando uma área
importante para a aprendizagem
(memória), em parte porque
marca a informação vivenciada
com um sinal de intensidade que
diz ao resto do cérebro para
prestar atenção e procurá-la ou,
o contrário, fugir do encontro.
Assim, ora é ativado o
medo (através da amígdala), ora
é ativada a aproximação (através
da liberação da dopamina e
noradrenalina).

Dopamina, memória, hipocampo e acetilcolina


O hipocampo é uma estrutura do lobo temporal que é necessária para a consolidação da
memória episódica (memória de episódios como o primeiro dia de aula, etc.). O funcionamento
normal do hipocampo (desse setor da memória) depende criticamente dos neurotransmissores
acetilcolina e dopamina. Os estudos mostram que a diminuição desses neurotransmissores (uso de
medicamentos antipsicóticos, Doença de Parkinson, Alzheimer) produz problemas de memória.
Tudo indica que a dopamina - liberada durante o aumento do afeto positivo -, por sua vez, leva a
um aumento da liberação da acetilcolina no hipocampo.
Lembramos dos fatos devido às emoções que eles nos provocaram. Entretanto, em
circunstâncias normais, a maioria das pessoas utiliza, muito mais, os afetos positivos e não os
negativos para organizar e armazenar a memória.

Noradrenalina e adrenalina
A NA é o principal NT dos neurônios pós-ganglionares simpáticos, e portanto responsável
pelos efeitos da activação do SNS. Está também presente nas células da medula suprarenal e em
neurônios dos SNC. Adrenalina é a principal hormona libertada pela medula suprarenal em
situações de estresse, em conjunto com a ativação do SNS.
Está também presente em neurônios do SNC, mas está ausente nos neurônios pós-
ganglionares simpáticos.
A Noradrenalina influencia o Sono e a Vigília, Atenção e o comportamento alimentar. Além
disso, realiza a integração das várias regiões do encéfalo em respostas aos impactos dos eventos
estressores externos que atingem o indivíduo.
Também pode estar envolvido, de algum modo, memória, aprendizagem, ansiedade, dor,
humor e no metabolismo cerebral. Contudo, experimentos com macacos sugerem que os eventos
específicos que a maioria dessas células ativa é a presença do novo, do estímulo sensorial
inesperado.
No SNC, neurônios que sintetizam noradrenalina estão restritos às regiões bulbar e pontina.
O grupo mais importante é o grupo A6 situado no locus coeruleus, núcleo situado no assoalho do
IV ventrículo, na transição entre o bulbo e a ponte.
As células do locus coeruleus são ativadas por estímulos estressantes e ameaçadores. Sua
estimulação produz uma reação comportamental e cardiovascular característica de medo. Com base
nisto, o locus coeruleus funcionaria como acionador de um "sistema de alarme". Em outras palavras,
acredita-se que esta estrutura promoveria uma monitorização contínua do ambiente quanto aos
eventos importantes e prepararia o organismo para enfrentar situações de emergência.
Já a adrenalina é liberada pela adrenal na corrente sanguínea. Ela é liberada quando há
estimulação do SNSimpático em várias situações de Luta ou de Fuga, provocando diversos efeitos
fisiológicos.
São bem conhecidos os efeitos periféricos da ativação simpática decorrente de sua liberação
durante o estresse. Entretanto, muito pouco é conhecido em relação às ações da adrenalina no SNC.
A origem destes neurônios situa-se no rombencéfalo caudal, no núcleo do trato solitário e
adjacências, onde se acredita estejam envolvidos na regulação cardiovascular. A inervação
adrenérgica do hipotálamo dorsomedial tem sido implicada na regulação da ingestão de alimentos.
As drogas que interferem nas sensações de fome e saciedade (anorexígenos) interferem com a
neurotransmissão adrenérgica no hipotálamo.

Serotonina
Não é uma catecolamina, pois é uma amina sem o grupo catecol. É sintetizada a partir do
aminoácido essencial triptofano.
Os neurônios serotonérgicos centrais parecem estar envolvidos na regulação da temperatura,
na percepção sensorial, na indução do sono e na regulação dos níveis de humor.
Como as catecolaminas, são recaptadas pela membrana pré-sináptica e degradadas pela
MAO.
Drogas que atuam bloqueando a sua recaptação como fluoxetina (Prozac) são utilizados nos
tratamentos antidepressivos. Além disso, a serotonina é precursora da melatonina na glândula
pineal.

Está presente em maior quantidade nas plaquetas (8%) e células enterocromafins e plexo
mioentérico do trato GI (90%). Em menor quantidade está também presente no SNC e retina (2%).
Dada a distribuição difusa dos seus receptores, a serotonina influencia múltiplos processos
fisiológicos, quer na periferia, quer a nível do SNC, como a agregação plaquetária, motilidade e
secreção GI, ventilação, temperatura, percepção sensorial, sono, atividade sexual, apetite, humor e
agressividade.
Correlação fisiopatológica: Várias doenças têm sido associadas a alterações do sistema
serotoninérgico. Assim, a depressão tem sido associada a um défice de serotonina no SNC. Dai que
muitos dos anti-depressivos atuais atuem aumentando a concentração de serotonina através da
inibição da sua recaptação e/ou degradação.
Neurônios contendo serotonina ocorrem no mesencéfalo, ponte e medula oblonga, mas em
todas estas partes do encéfalo eles estão essencialmente confinados às zonas mediana e
paramediana.
Os neurônios serotoninérgicos estão distribuídos principalmente dentro de entidades
citoarquitetônicas específicas, conhecidas como "núcleos da rafe".
Os núcleos da rafe estão situados em um contínuo dentro do tronco encefálico, sendo que os
principais são: os núcleos obscuro, pálido, magno, pontino, mediano (também conhecido como
central superior) e dorsal.
As vias serotoninérgicas ascendentes originam-se do núcleo mediano da rafe e do núcleo
dorsal da rafe. Do núcleo mediano da rafe, as fibras projetam-se para o tálamo e áreas inervadas
pelo feixe prosencefálico medial, com destaque para o hipocampo.
Estas vias estão envolvidas na tolerância ao estresse persistente, na inibição comportamental
induzida por estímulos aversivos e na impulsividade. Do núcleo dorsal da rafe, as fibras projetam-se
para os colículos, substância cinzenta periaquedutal, amígdala e neocórtex.
Acredita-se que estas vias sejam estimuladas por eventos aversivos e atuem na regulação do
comportamento defensivo. Em razão disso, estas vias podem estar envolvidas na manifestação de
certas doenças mentais como a ansiedade, pânico e depressão. De fato, pacientes com depressão
endógena apresentam baixos níveis do principal metabólito da serotonina, o ácido 5-hidroxi-
indolacético (5-HIAA).
Como as vias serotoninérgicas ascendentes inervam as arteríolas cerebrais, acredita-se que a
serotonina esteja envolvida na etiologia de distúrbios cérebrovasculares, como a isquemia e a
enxaqueca. Estas vias também têm sido implicadas na regulação do sono.
As vias serotoninérgicas descendentes originam-se no núcleo magno da rafe, no bulbo, e
projetam-se ao corno dorsal da medula, onde a serotonina exerce um papel regulador sobre a
transmissão de impulsos dolorosos que penetram e ascendem na medula dorsal.
Estas vias constituem, portanto, um importante sistema descendente de controle da dor.
Há mais de uma dezena de receptores isolados de serotoninas divididos em 7 famílias
principais.
As alterações nesses neurotransmissores ocorrem numa variedade de transtornos
psicológicos que vão desde transtorno de personalidade, a ansiedade, depressão, transtorno da
alimentação, esquizofrenia, psicoses induzidas por drogas e, também, sensibilidade à dor e
transtornos do sono.
Parece haver, além disso, uma relação entre os níveis de 5HT (serotonina) e o poder. Foi
constatado que no sangue do macaco macho dominante há duas vezes mais serotonina que nos
macacos dominados. Parece que um aumento da noradrenalina fornece uma postura oposta à de
dominância: a de submissão. No macaco líder, a 5HT elevada parece ser mantida pela conduta
submissa recebida de seus seguidores. Tudo indica que o mesmo acontece entre os homens.

Histamina
A histamina, amina biogênica, é sintetizada a partir da histidina, em reação catalisada pela
histidina descarboxilase. Essa molécula é encontrada em neurônios do hipotálamo, bem como em
tecidos não neuronais, como os mastócitos do trato gastrointestinal.
A histamina regula várias funções a nível periférico e central, como por exemplo, secreção
gástrica, permeabilidade e motilidade vascular, despertar, comportamento sexual, secreção
hipofisária, TA e ingestão de líquidos.
Fármacos que bloqueiam os receptores H1 têm sido utilizados para o tratamento de alergias
e vómito. Fármacos que bloqueiam os receptores H2 têm sido utilizados para o tratamento da úlcera
péptica.

Aminoácidos (glutamato, aspartato, gaba, glicina)


Glutamato e aspartato
Mais da metade dos neurônios do SNC utiliza o Glutamato (Glu) e Aspartato (Asp), principais
NT excitatórios do SNC, sendo que o Glu responde por 75% da atividade despolarizante. O Glu possui
quatro tipos de receptores, sendo três deles ionotrópicos e um metabotópico:
• AMPA: canal iônico para cátions (Na) produzindo despolarização rápida.
• Kainato: parecido com o AMPA.
• NMDA: canais para dois cátions (Na+ e Ca++) produzindo despolarização lenta e persistente.
• mGluR: Receptor metabotrópicos com alta variedade de subtipos e atuante através da
Proteína G
Principal neurotransmissor excitatório do SN. É um aminoácido não essencial sintetizado nos
neurônios a partir de precursores locais. Principal precursor: Glutamina (liberada pelas células
gliais).
Participa na via da geração de memória de longo prazo e na cronificação da dor (potenciação
de longa duração – LTP).

GABA e Glicina
O ácido γ-aminobutírico (GABA) é um aminoácido que não entra na síntese de proteínas e só
está presente nos neurônios gabaégicos. É o principal NT inibitório do SNC. Os receptores são de
dois subtipos:
• GABAA: Ionotópicos que abrem canais de Cl- e hiperpolarizam a membrana.
• GABAB: Metabotópicos que estão acoplados à proteína G e aumentam a condutância para
os íons K+, hiperpolarizando a membrana.
As drogas conhecidas como tranquilizantes
benzodiazepínicos (ansiolíticos) estimulam esses
receptores, aumentando o nível de inibição do SNC e
são utilizadas nos tratamentos da ansiedade e da
convulsão. Já os barbitúricos têm o mesmo efeito,
agindo em outro sítio de ligação; são tão potentes que
eram utilizados como anestésicos gerais, porém a sua
curta faixa de segurança terapêutica colocou-o em
desuso.
A doença de Huntington está associada à
deficiência de GABA. A doença é caracterizada por
movimentos coreiformes hipercinéticos, relacionados à
deficiência de BAGA, em projeções do estriado para o globo pálido. Os movimentos descontrolados
característicos são, em parte, atribuídos à ausência de inibição dependente de GABA nas vias
neurais.
A deficiência de vitamina B6 compromete a conversão de glutamato em GABA. No caso de
crianças pequenas que sofrem de deficiência de vitamina B6, há a possibilidade de convulsões
ocorrerem. O consumo excessivo de álcool, bem como a utilização de anticoncepcionais, podem
diminuir o nível de vitamina B6. Entretanto, o consumo de uma alimentação equilibrada repõe a
falta da vitamina. A suplementação só deve ser feita sob orientação de um médico. Os alimentos
que são melhores fontes de vitamina B6 são os peixes como salmão, arenque, atum e truta, além
de semente de girassol, amendoins, avelãs, nozes, gérmen de trigo, cereais integrais, levedo de
cerveja, milho, couve-flor, leguminosas, melão, banana e uvas passas
A Glicina é um NT inibitório que aumenta a condutância para o Cl- na membrana pós-sináptica
dos neurônios espinhais. A sua presença é essencial para que os receptores NMDA funcionem.
A bactéria Clostridium entra no organismo por lesões de pele, tais como cortes, arranhaduras,
mordidas de animais e causa o tétano. A bactéria possui toxinas que agem competitivamente sobre
os receptores de glicina, removendo a sua ação inibidora sobre os neurônios motores do tronco
encefálico e da medula espinhal. São os sintomas: rigidez muscular em todo o corpo, principalmente
no pescoço, dificuldade para abrir a boca (trismo) e engolir, riso sardônico produzido por espasmos
dos músculos da face. A contratura muscular pode atingir os músculos respiratórios.
A estricnina é um veneno alcaloide de sementes de Strichnos nux vomica que antagonizam
os efeitos da Gli, causando convulsão e morte.
Óxido Nítrico (NO)
São moléculas gasosas pequenas e que são sintetizadas enzimas específicas presentes em
alguns neurônios. A síntese desses gases, geralmente nas sinapses excitatórias, especialmente
mediadas pelo glutamato, através de receptores do tipo NMDA. Como são voláteis não são
armazenados em vesículas e se difundem facialmente. Essas moléculas agem pós e pré-
sinapticamente; nesse último caso, age facilitando a neurotransmissão por retroalimentação
positiva.

Neuropeptídios
Também conhecidos como neuropeptídeos, são sintetizados e liberados em baixa
quantidade. Foram identificados ao menos 25 que atuam modulando atividades nervosas. A ação
neuromoduladora consiste em influenciar uma neurotransmissâo clássica, alterando pré-
sinapticamente a quantidade de NT liberada em resposta a um potencial de ação ou pós-
sinapticamente, alterando a sua resposta a um NT. Geralmente os neuropeptídeos são coliberados
juntamente com os NT clássicos, mas em vesículas separadas (vesículas secretoras).
Substância P: um polipeptídio que se encontra em quantidade apreciável no intestino e
participa como importante mediador de reflexos gastrointestinais. É também sintetizado por
neurônios aferentes primários influenciando a sensibilidade dolorosa.
Peptídeos Opióides: os seus receptores são estimulados por substâncias opioides como a
morfina. A encefalina é encontrada nos terminais nervosos do trato gastrintestinal, modulam a
sensibilidade dolorosa, agindo sobre os canais de Ca++ voltagem-dependentes. Há pelo menos 5
subtipos de receptores opiáceos: δ, κ, μ, ζ e RNO que diferem entre si quanto às propriedades
farmacológicas e distribuição

Purinas
Em adição a aminas e aminoácidos, outras moléculas menores podem servir como
mensageiros. Entre eles está o ATP, molécula- chave do metabolismo: ele está concentrado em
muitas sinapses do SNC e do SNP e é liberado na fenda dependente de cálcio. Parece abrir canais
catiônicos na membrana pós-sináptica.

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