You are on page 1of 34

PORTUGAL DO AUTORITARISMO À DEMOCRACIA

IMOBILISMO POLÍTICO E CRESCIMENTO ECONÓMICO DO PÓS-GUERRA

A posição de neutralidade que Portugal assumiu na Segunda Guerra Mundial


permitiu a sobrevivência do regime salazarista. Apesar de alguns sobressaltos e
do desencadear de uma dura guerra nas colónias, a vida política do país manteve
uma feição autoritária, a que nem mesmo a doença e substituição do velho ditador
foi capaz de pôr fim.

Este nosso país não soube também acompanhar o ritmo económico das nações
mais desenvolvidas. Mesmo com algumas realizações louváveis, o atraso
português persistiu e, em certos setores, como a agricultura, agravou-se.

O Estado Novo estava, no inicio dos anos 70, à beira do fim.

A ESTAGNAÇÃO DO MUNDO RURAL

Em 1945, Portugal era um dos países menos desenvolvidos da Europa, como


já referido. Mais de metade da população trabalhava no setor primário, o que
revelava o atraso da economia portuguesa, nomeadamente da agricultura.

Apesar das campanhas de produção dos anos 30 e 40, o país agrário continuava
um mundo sobrepovoado e pobre, com índices de produtividade que, em geral,
não atingiam sequer a metade da média europeia. Os estudos apontavam como
essencial o redimensionamento da produtividade, que apresentava uma
profunda assimetria Norte-Sul:

- no sul do País (onde predominavam os latifúndios), prevalecia a escassa


mecanização e o absentismo dos proprietários que mantinham a
produtividade muito baixa.

- no norte do país, constituído maioritariamente por zonas de pequena


propriedade, continuava a praticar-se uma agricultura tradicional, pouco
produtiva.

1
Portugal importava, por isso, grandes quantidades de produtos agrícolas.

A partir do inicio da década de 50, alguns capitalistas e alguns responsáveis


governamentais passaram a defender que o crescimento industrial deveria ser
o verdadeiro motor de todo o sistema económico nacional. Assim,
elaboraram-se planos de reforma, que tornaram como referência a exploração
agrícola média, fortemente mecanizada, capaz de assegurar um rendimento
confortável aos seus proprietários e, assim, contribuir também para a elevação do
consumo de produtos industriais.

Tal como já tinha acontecido no passado, ergueu-se no contra estas novas


medidas, a cerrada oposição dos latifundiários do Sul, que utilizaram a sua
grande influência política as inviabilizarem. Desta forma, as alterações na
estrutura fundiária acabaram por nunca se fazer e a política agrária esgotou-se
em subsídios e incentivos que pouco efeito tiveram e beneficiaram os grandes
proprietários do Sul e os grandes vinhateiros.

Na década de 60, quando o país enveredou decididamente pela via


industrializadora, a agricultura viu-se relegada para o segundo plano. Esta década
saldou-se por um decréscimo brutal da taxa de crescimento do Produto Agrícola
Nacional. E por um êxodo rural maciço, que esvaziou as aldeias do interior.

A EMIGRAÇÃO

Fenómeno persistente da história portuguesa, a emigração reduziu-se


drasticamente nas décadas de 30 e 40, devido, primeiro, à Grande Depressão e,
em seguida, à Segunda Guerra Mundial.

O crescimento económico proporcionado pela industrialização dos anos 50 e 60,


embora significativo, era insuficiente para que Portugal recuperasse do atraso que
o separava dos países mais desenvolvidos.

Esta situação de atraso afetava sobretudo as populações rurais, cujas


condições de vida eram particularmente difíceis: a produtividade agrícola era
baixíssima.

2
A pobreza do campesinato deu origem a um excecional movimento migratório,
quer para os principais centros urbanos portugueses, quer para o
estrangeiro, visto que nesta época, para além da atração pelos altos salários
do mundo industrializado, há que ter em conta os efeitos da guerra colonial (a
perspetiva do recrutamento compulsivo para a guerra de África foi um dos motivos
que também pesou na fuga para o estrangeiro).

Foi nos anos 60 que as periferias de Lisboa e do Porto cresceram rápida e


desordenadamente, e aqueles que emigravam para estas cidades, nem sempre
mudavam para melhor, muitos deles passavam a viver em bairros de lata ou
bairros clandestinos.

No entanto, o maior destino da população rural portuguesa seria, porém, a


emigração para os países desenvolvidos. Embora a emigração fosse uma
constante de longa data na sociedade portuguesa, sofreu, a partir da década de
60, um dramático aumento.

O destino principal deste novo surto migratório foi sobretudo a França,


seguido em menor escala pela América do Norte e do Sul. O Brasil que até à
década de 50 era o principal destino, perde gradualmente o seu poder de atração.

Metade da população desta emigração fez-se clandestinamente. A legislação


portuguesa subordinava o direito de emigrar, colocando-lhe restrições, como
a exigência de um certificado de habilitações mínimas a todos os que tivessem
mais de 14 anos. Com o deflagrar da guerra colonial, juntou-se a estes requisitos a
exigência do serviço militar cumprido, obrigação a que muitos se pretendiam
eximir. Sair a «salto», como então se dizia, tornou-se a opção de muitos
portugueses.

Não obstante esta política restritiva, o Estado procurou salvaguardar os


interesses dos nossos emigrantes, celebrando, no inicio dos anos 60, acordos
com os principais países de acolhimento. Estes acordos permitiram ao país,
receber um montante muito considerável de divisas: as remessas dos
emigrantes.

3
Em consequência deste surto emigratório, a população estagnou. Certas regiões,
em especial no interior quase se despovoaram. O resultado deste abandono dos
campos foi a diminuição da produção agrícola e o aumento da importação de
bens alimentares.

Apesar de tudo, a emigração trouxe também benefícios ao país. As remessas


em divisas estrangeiras contribuíram, juntamente com as receitas do turismo, para
atenuar o desequilíbrio das contas com o exterior.

O SURTO INDUSTRIAL

A política de autarcia empreendida pelo Estado Novo não atingiu os seus


objetivos. Portugal continuou dependente do fornecimento estrangeiro em
matérias-primas, energia, bens de equipamento e outros produtos
industriais, adubos e alimentos. Quando os países que tradicionalmente nos
forneciam se envolveram na guerra, os abastecimentos tornaram-se
precários e grassou a penúria e a carestia. Assim, em 1945, a Lei do Fomento e
Reorganização Industrial estabelece as linhas mestres da política industrializadora
dos anos seguintes.

- Dependência ao - A agricultura que


estrangeiro continuava a não atingir os
valores necessários

Elaboração dos Planos de


Fomento

Entretanto, Portugal assina em 1948, o pacto fundador da OECE, integrando-se


nas estruturas de cooperação previstas no Plano Marshall, e embora pouco
tenhamos beneficiado da ajuda americana, a participação na OECE reforçou a

4
necessidade de um planeamento económico, conduzindo então à elaboração
dos Planos de Fomento, que caracterizaram a política de desenvolvimento do
Estado Novo.

O I Plano de Fomento (1953-58) não rejeitou a agricultura, embora tenha


reconhecido a importância da industrialização para a melhoria do nível de vida. O
plano baseou-se ainda num conjunto de investimentos públicos que se
distribuía por vários setores, com prioridade para a criação de infraestruturas.

No II Plano de Fomento (1959-64) alarga-se o montante investido e elege-se a


indústria transformadora de base como setor a privilegiar (siderurgia,
refinação de petróleos, adubos, químicos…). Pela primeira vez, a política
industrializadora é assumida sem ambiguidades, subordinando-se a agricultura
que sofreria os efeitos positivos da industrialização.

Em suma, estes dois primeiros planos mantêm intocado o objetivo da substituição


das importações e a lei do condicionamento industrial.

Os anos 60 trouxeram, porem, alterações significativas à política económica


portuguesa. No decurso do II Plano, Portugal integrou-se na economia europeia
e mundial: tornou-se um dos países fundadores da EFTA (ou AECL –
Associação Europeia de Comercio Livre), e mais tarde dois decretos-lei que
aprovam o acordo do BIRD e do FMI, e por último um protocolo com o GATT.

A adesão a estas organizações marca a inversão da política da autarcia do


Estado Novo. O Plano Intercalar de Fomento (1965-67) enfatiza já as exigências
da concorrência externa inerente aos acordos assinados, e a necessidade de rever
o condicionamento industrial, que se considerava desadequado às novas
realidades. O grande ciclo salazarista aproximava-se do fim.

Em 1968, a nomeação de Marcelo Caetano para o cargo de Presidente de


Conselho inaugura, com o III Plano de Fomento (1968-73), uma orientação
completamente nova. A implementação deste novo plano veio confirmar a
internacionalização da economia portuguesa, o desenvolvimento da indústria
privada como setor dominante da economia nacional, o crescimento do setor
terciário e consequente incremento urbano.

5
No que concerne à internacionalização da economia, assistiu-se ao fomento da
exportação de produtos nacionais, num quadro de afirmação cada vez mais
consistente da livre concorrência, e à abertura do país aos investimentos
estrangeiros, em especial quando geradores de emprego e portadores de
tecnologias avançadas.

Esta política conduziu à consolidação dos grandes grupos económico-


financeiros e ao acelerar do crescimento nacional, que atingiu, então, o seu
pico. No entanto, o País:

- Continuou a sentir as exigências da guerra colonial;

- O seu enorme atraso face à Europa desenvolvida;

A URBANIZAÇÃO

Este surto industrial traduziu-se inevitavelmente no crescimento no setor


terciário e progressiva urbanização do país. Em 1970, mais de ¾ da população
portuguesa vivia em cidades e cerca de metade desta população urbana vivia em
cidades com mais de 10 000 habitantes. Viveu-se em Portugal, no terceiro quartel
do século XX, o fenómeno urbano que caracterizou a Europa no século anterior.

Com efeito, sobretudo as cidades do litoral, onde se onde se concentravam as


grandes industrias e os serviços, viram a aumentar os seus efetivos populacionais,
concentrados nas áreas periféricas. É o tempo da formação, em torno das
grandes cidades, dos “dormitórios” de populações que, diariamente,
passaram a dirigir-se para os locais de trabalho, tornando obsoleto o sistema
de transportes públicos.

Quer dizer que, à semelhança do que ocorreu na Europa industrializada, também


em Portugal se fizeram sentir os efeitos da falta de estruturas habitacionais, de
transportes, de saúde, de educação, de abastecimento, tal como os mesmos
problemas de degradação da qualidade de vida, de marginalidade e de
clandestinidade a que os poderes públicos tiveram de dar resposta.

6
O FOMENTO ECONÓMICO NAS COLÓNIAS

No período que se seguiu ao fim da guerra, o fomento económico das colónias


passou também a constituir uma preocupação do Governo Central, no
âmbito da alteração da política colonial.

Com efeito, nos inícios dos anos 50, o conceito de província ultramarina não se
coadunava com as formas tipicamente coloniais de exploração dos territórios
africanos. O entendimento das colónias como extensões naturais do território
metropolitano tinha, forçosamente, de levar o Governo de Salazar a autorizar a
instalação das primeiras industrias como alternativa económica à exploração
do trabalho negro nas grandes fazendas agrícolas.

Havia necessidade de demonstrar à comunidade internacional que o


Governo Central se empenhava no fomento económico das suas “províncias
ultramarinas” como forma de legitimar este novo conceito de colónias.
Acrescia que a industrialização dos territórios ultramarinos era cada vez mais
entendida como um fator determinante do desenvolvimento da economia
metropolitana.

Por conseguinte, os sucessivos planos de fomento previam também para os


territórios africanos, em especial para a Angola e Moçambique, medidas
impulsionadoras do seu desenvolvimento paralelas às implementadas na
metrópole.

Logo, com o primeiro plano, em 1953, Angola e Moçambique foram


contempladas com avultados investimentos para a criação de
infraestruturas, sobretudo ligadas aos transportes, à produção de energia e de
cimento para a construção urbana que também urgia desenvolver. A
modernização do setor agrícola, tendo em vista a grande produção de produtos
tropicais e a extração de matérias-primas do rico subsolo angolano, tendo em vista
o mercado internacional que foram também preocupações do I Plano de Fomento.

Associado a este fomento económico esteve o lançamento de projetos de


colonização intensiva com população branca, sobretudo após o inicio da guerra. A
consolidação da presença portuguesa em áreas onde era pouco notada a
influência branca era também uma forma de evidenciar a particularidade das

7
relações de Portugal com as suas colónias e, por outro lado, constituía uma
forma de atrair as populações locais para o lado português e suster o avanço
dos guerrilheiros.

O fomento económico das colónias intensificou-se, com efeito, em consequência


da eclosão da guerra na sequência do lançamento da ideia de Salazar em
construir um Espaço Económico Português (EEP). É no âmbito deste objetivo
que se assiste à beneficiação de vias de comunicação, à construção de
escolas, hospitais e, sobretudo, ao lançamento de obras grandiosas.

A RADICALIZAÇÃO DAS OPOSIÇOES E O SBRESSALTO POLÍTICO DE


1958

Em maio, grandes manifestações celebraram, nas ruas da capital, a derrota da


Alemanha. As democracias, aliadas à União Soviética, tinham vencido a guerra e
mostrado assim, a sua superioridade face aos regimes repressivos de direita.
Salazar, tirou deste facto, a ideia de que o seu regime deveria democratizar-se
ou corria o risco de cair.

É neste contexto que, o Governo toma a iniciativa de antecipar a revisão


constitucional (Constituição de 1933 que consagra a ideologia do Estado Novo),
dissolver a Assembleia Nacional e convocar eleições antecipadas, que
Salazar anuncia «tão livres como na livre Inglaterra».

Um clima de otimismo instala-se entre aqueles que viam com maus olhos o
Estado Novo, e é numa entusiástica reunião no Centro Republicano Almirante
Reis que nasce a MUD (Movimento de Unidade Democrática), que congregou a
força da oposição. O impacto deste movimento dá inicio à chamada oposição
democrática.

Como forma de garantir a legitimidade do ato eleitoral, o MUD formula algumas


exigências, tais como: o adiamento das eleições por seus meses, a reformulação
dos cadernos eleitorais, a imprescindível liberdade de expressão, de reunião e de
informação.

8
Como nenhuma das reivindicações do Movimento foram satisfeitas, concluiu-se
que o ato eleitoral não passaria de uma farsa. As listas de adesão ao MUD, que
o Governo requereu a fim de «examinar a autenticidade das assinaturas»,
forneceram à polícia política as informações necessárias para uma repressão
eficaz, tendo muitos aderentes ao MUD interrogados, presos e despedidos do
seu trabalho.

Entretanto, o clima de guerra fria foi tomando conta da Europa e as preocupações


das democracias ocidentais orientaram-se para a contenção do comunismo.
Desta forma, em 1949, Portugal tornou-se membro da NATO, o que equivalia
estar de acordo com os parceiros desta organização, pois o nosso país
servia de barreira na expansão do comunismo e isto permitiu a Salazar
afirmar mais o seu regime.

Neste mesmo ano, a oposição volta a ter uma nova oportunidade de


mobilização, desta vez em torno da candidatura de Norton de Matos às
eleições presidenciais, sendo a primeira vez que um candidato da oposição
concorria à Presidência. A sua concorrência entusiasmou o país, da mesma forma
que o desiludiu com a sua desistência, enfraquecendo assim a oposição
democrática.

O Governo pensou ter controlado a situação até que, em 1958, a candidatura de


Humberto Delgado a novas eleições presidenciais desencadeou um
autêntico terramoto político. Conhecido como o «General Sem Medo»,
anunciou o seu propósito de não desistir das eleições e anunciou a sua intenção
de demitir Salazar: “Obviamente demitia-o!”. Contra a sua campanha, o
Governo tentou de todas as formas limitar os seus movimentos, acusando-o de
provocar «agitação social».

Concluídas as eleições presidenciais, o resultado revelou mais uma vitória


esmagadora do candidato do regime, Américo Tomás, mas desta vez, a
credibilidade do Governo ficou indelevelmente abalada. Salazar teve
consciência de que outro terramoto político podia acontecer e que começava a
ser difícil para o regime continuar a enganar a opinião pública e subtrair-se às
opressões da comunidade internacional. Por isso, Salazar introduziu mais uma
alteração à Constituição, segundo a qual era anulada eleição por sufrágio
direto do Presidente da República que passava a ser eleito por um colégio

9
eleitoral restrito. Mais uma vez, Salazar recorria ao subterfúgio das leis para
recusar a inevitabilidade da mudança.

A necessidade de divulgar internacionalmente a natureza antidemocrática do


regime levou a oposição a intensificar a sua ação de contestação, recorrendo a
atos de maior impacto, pela relevância das personagens intervenientes e pela
espetacularidade das ações:

- A famosa carta do bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes, em que,


na defesa da doutrina social da Igreja, teve a coragem de tecer, com toda a
frontalidade, criticas contundentes relativas à situação político-social e
religiosa do país. A consequência foi o seu exílio.

- O exílio e assassinato de Humberto Delgado. O «General Sem Medo»


acabou destituído das suas funções militares e, para poder continuar a
desenvolver a sua ação em prol da democracia, retirou-se para o Brasil. Em
1963, fixa-se na Argélia, onde passa a dirigir a Frente Patriótica de
Libertação Nacional. A sua ação era de tal modo influente que acabou por
ordem de Salazar a ser assassinado.

- O assalto a Santa Maria. Em pleno mar das Caraíbas, o navio português


Santa Maria é assaltado e ocupado pelo comandante Henrique Galvão,
como forma de protesto contra a falta de liberdade cívica e política em
Portugal. Apesar da tentativa por parte do Governo em evitar a
compreensão deste ato, as instâncias internacionais souberam-no e
entenderam-no como um verdadeiro ato de protesto legítimo.

Para além destes atos oposicionistas, a eclosão da guerra colonial traz ao regime
a sua maior e derradeira prova.

A QUESTÃO COLONIAL

A Partir de 1945, a questão colonial passa a constituir mais um serio problema


para Portugal. A nova ordem internacional instituída pela Carta das Nações e
a primeira vaga de descolonizações tiveram importantes repercussões na
política colonial do Estado Novo.

10
Com efeito, a partir do momento em que a ONU reconhece o direito à
autodeterminação dos povos e em que as grandes potências coloniais
começam a negociar a independência das suas possessões ultramarinas,
torna-se difícil para o Governo português manter a política colonial instituída com a
publicação do Ato Colonial, em 1930.

A simples mística imperial começava a revelar-se ultrapassada para explicar as


posições coloniais do Estado Novo. Salazar teve de procurar soluções para afirmar
a vocação colonial de Portugal e para recusar qualquer cedência às crescentes
pressões internacionais.

SOLUÇÕES PRECONIZADAS

A adaptação aos novos tempos processou-se, numa primeira fase, em duas


vertentes complementares: uma ideológica e outra jurídica.

Em termos ideológicos, a mística do império, que, na década de 30, fora um dos


pilares do Estado Novo, é substituída pela ideia da «singularidade da colonização
portuguesa», inspirada na teoria do sociólogo Gilberto Freire, designada como
teoria luso-tropicalismo, que serviu para retirar o caráter opressivo que assumia
nas colónias. Esta teoria garantia ainda o não interesse económico dos
Portugueses sob as colónias, e que a presença destes em África era uma
manifestação de extensão, a outros continentes, da histórica missão civilizadora de
Portugal, explicada, por exemplo, pela falta de contestação à presença
portuguesa.

Tornava-se necessário, por conseguinte, clarificar juridicamente as relações


da metrópole com os seus espaços ultramarinos.

Neste sentido, na revisão constitucional de 1951, em pleno processo


internacional de descolonização, Salazar revoga o Ato Colonial e insere o
estatuto de colónias por ele abrangido na Constituição. Todo o território
português ficava abrangido pela mesma lei fundamental.

11
Para melhor concretizar esta integração, desaparece o conceito de colónia que
é substituído pelo de província, desaparecendo o conceito de Império
Português, que é substituído pelo conceito de Ultramar Português.

Embora externamente a manutenção do colonialismo português cedo fosse posta


em causa, a nível interno, a presença portuguesa em África não sofreu
praticamente contestação até ao inicio da guerra colonial. Exceção feita ao
Partido Comunista Português, que reconheceu o direito à independência dos
povos colonizados. No entanto, as forças da oposição mantiveram-se
concordantes com o Governo, como por exemplo, Norton de Matos e Humberto
Delgado, que foram empenhados defensores da integridade do território
português.

Esta quase unanimidade de opiniões veio a quebrar-se com o inicio da luta armada
em Angola, em 1961. Confrontam-se, então, duas teses divergentes: a
integracionista e a federalista.
Federalista

Considerava não ser possível,


Integracionista
face à pressão internacional e aos
Defendia a política até aí seguida, custos de uma guerra em África,
pugnando por um Ultramar persistir na mesma via. Advogava,
plenamente integrado no Estado por isso, a progressiva autonomia
português. das colónias e a constituição de
uma federação de Estados que
salvaguardasse os interesses dos
portugueses.

A aposta no federalismo, que será partilhada por muitos elementos da oposição,


deu lugar, em abril de 1961, na sequência dos primeiros distúrbios em Angola, ao
chamado «golpe de Botelho Moniz». Caso insólito em que altas patentes das
Forças Armadas, com o apoio do ex-presidente da República (Craveiro Lopes)
resolveram atuar pela via legal, exigindo a Américo Tomás a destituição de
Salazar. Porém, destituídos acabaram por ser eles, e anulada a oposição
governamental, Salazar agiu com determinação que lhe era peculiar,

12
enviando para Angola, os primeiros contingentes militares. Começava,
assim, a mais longa das guerras coloniais que se travaram a sul do Sara.

A LUTA ARMADA

A recusa do Governo português em encarar a possibilidade de autonomia das


colónias africanas fez extremar as posições dos movimentos de libertação que,
nos anos 50 e 60, se foram formando na África portuguesa:

- Em Angola:

• em 1955, surge a UPA (União das Populações de Angola) liderada


por Holden Roberto, que mais tarde se transforma na FNLA (Frente
de Libertação de Angola);
• o MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), dirigido por
Agostinho Neto, forma-se em 1956;
• a UNITA (União para a Independência Total de Angola) surge pela
mão de Jonas Savimbi, em 1966.

- Em Moçambique:

• a luta é encabeçada por FRELIMO (Frente de Libertação de


Moçambique), criada por Eduardo Mondlane, em 1962.

- Na Guiné:

• distingue-se o PAIGC (Partido para Independência da Guiné e Cabo


Verde), fundado por Amílcar Cabral, em 1956.

Os confrontos iniciaram-se no Norte de Angola, em 1961, com ataques da


UPA, que mesmo minimizando a caso, o Governo não conseguiu impedir que a
guerra se alastrasse pelo território, obrigando à mobilização de milhares de
portugueses. Em 1963, o conflito alastrou-se pela Guiné e, ano seguinte, a
Moçambique.

13
Durante treze anos, Portugal viu-se envolvido em três duas frentes de batalha
que, à custa de elevadíssimos custos materiais (40% do orçamento do Estado)
e humanos (8000 mortos e cerca de 100 000 mutilados), chegou a surpreender a
comunidade internacional. Todavia, a intensificação das pressões
internacionais e o isolamento a que o país era votado acabariam por tornar
inevitável a cedência perante o processo descolonizador, ainda que essa
cedência tivesse custado o próprio regime.

O ISOLAMENTO INTERNACIONAL

Quando, em 1955, Portugal passa a ser membro da UNO, o Governo não


democrático de Oliveira Salazar continuava a defender uma politica de
reforço da autoridade portuguesa sobre os espaços ultramarinos e de
indiscutível recusa de qualquer negociação que pudesse pôr em causa essa
autoridade. Estava fora de causa qualquer cedência às crescentes pressões
internacionais.

Esta oposição do Governo português levou a Assembleia-Geral da ONU, sob


fortes pressões dos países do Terceiro Mundo, a colocar sobre a mesa a questão
colonial portuguesa. A questão ganha ainda mais pertinência perante a habilidade
de Salazar em transformar colónias em províncias para não ter que se submeter
às disposições da Carta das Nações Unidas no que aos territórios não autónomos
dizia respeito.

A Assembleia-Geral da ONU não só não aceitou esta tese, como condenou


sistematicamente a atitude colonialista portuguesa, pressionando Portugal a
arrancar com um efetivo programa de descolonização. Seria esta a primeira de
uma série de derrotas que, progressivamente, foram isolando os Portugueses e
que se intensificaram, na década de 60, com a aprovação de Resolução 1514 e o
inicio da guerra colonial.

Em 1961, ano em que se inicia a guerra em Angola, Portugal esteve


particularmente em foco nas Nações Unidas, acabando esta organização por
condenar o nosso país devido ao não cumprimento dos princípios da Carta e
das resoluções aprovadas. Tal postura conduziu, ao desprestígio do nosso

14
país, que foi excluído de vários organismos das Nações Unidas e alvo de
sanções económicas por parte de diversas nações africanas.

Para além das dificuldades que lhe foram colocadas na ONU, os Estados Unidos
da América não apoiaram a manutenção das colónias, visto que os
Soviéticos apoiavam a luta de independência das colónias e que o
prolongamento da guerra afastava os estados africanos de Portugal. Deste
modo, não só financiaram alguns grupos nacionalistas, como a UPA como
propuseram planos de descolonização, procurando vencer as resistências de
Salazar que afirmava: «Portugal não está à venda» e «a Pátria não se discute»,
encarando o facto de ficarmos «orgulhosamente sós».

Mesmo tendo tentado quebrar esse isolamento através de uma intensa campanha
diplomática junto dos aliados europeus e através do uso de propaganda
internacional, Salazar não conseguiu impedir, internamente as dúvidas sobre
a legitimidade do conflito e o descontentamento crescente na sociedade
portuguesa. Aquando da substituição de Salazar, em 1968, tornara-se já claro
que o futuro da guerra determinaria o futuro do regime.

A PRIMAVERA MARCELISTA:
REFORMISMO POLÍTICO NÃO SUSTENTADO

Em, 1968, perante a intensificação da oposição interna e das denuncias


internacionais do colonialismo português, o afastamento de Salazar por doença,
parecia finalmente abrir as portas do regime à liberalização democrática.

A presidência do Conselho de Ministros foi entregue a Marcello Caetano que


subordinou a sua ação política a um princípio original de renovação na
continuidade. Pretendia o novo governante conciliar os interesses políticos
dos setores conservadores com as crescentes exigências de democratização
do regime. Continuidade para uns, renovação para outros.

15
Numa primeira fase da sua ação governativa, Marcello Caetano empreendeu
alguma dinâmica reformista ao regime:

- Permissão do regresso de alguns exilados, como o Bispo do Porto e

Mário Soares;

- Abrandamento na repressão policial e na censura;

- Abertura da União Nacional, rebatizada, na década 70, Ação Nacional

Popular - ANP;

- A PIDE muda de nome para Direção-Geral de Segurança - DGS;

- Direito ao voto da mulher alfabetizada;

- Legalização de movimentos políticos opositores ao regime;

- Permissão de consulta dos cadernos eleitorais e fiscalização das

mesas de voto;

- Reforma democrática do ensino.

Foi neste clima de mudança, que ficou conhecido como «Primavera Marcelista»,
que se prepararam as eleições legislativas de 1969, onde a oposição pura e
simplesmente não elegeu qualquer deputado.

As eleições acabaram por constituir mais uma fraude. A Assembleia Nacional


continuava dominada pelos eleitos na lista do regime, incluindo apenas uma ala
liberal de jovens deputados cuja voz era abafada pelas forças conservadoras,
acabando por abandonarem a Assembleia.

Acabadas as esperanças de uma real democratização do regime, Marcello


Caetano viu-se sem o apoio dos liberais, e alvo da hostilidade dos núcleos mais
conservadores, que imputavam à política liberalizadora a onda de instabilidade
que, entretanto, tinha assolado o País. Desta forma, Marcello Caetano começa a
dar sinais de esquecer a evolução e privilegia a continuidade:

- Movimento de contestação estudantil, repreendido pelo regime;

- Intensificação novamente da censura e repressão policial (nova vaga

de prisões);

16
- Alguns opositores, como Mário Soares, são novamente remetidos a

exílio;

- Américo Tomás (77 anos e conotado com a ala ultraconservadora) é


reconduzido novamente ao cargo de presidente da República, por um
colégio eleitoral restrito.

Alvo de todas as críticas, incapaz de evoluir para um sistema mais democrático, o


regime continua, ainda, a debater-se com o grave problema da guerra colonial.

O IMPACTO DA GUERRA COLONIAL

A política de renovação tentada por Marcello Caetano também teve reflexos na


questão colonial:

- A presença colonial nos territórios africanos deixa de ser afirmada como


uma “missão histórica” ou questão de “independência nacional” para ser
reconhecida por questões de defesa dos interesses das populações
brancas que há muito aí residiam;

- No seguimento deste novo caráter da colonização portuguesa, já se


admite o principio da “autonomia progressiva” e concede-se o titulo
honorifico de Estado, às províncias de Angola e Moçambique - “Estados
honoríficos” - que são dotadas de governos, assembleia e tribunais
próprios, ainda que dependentes de Lisboa.

Apesar deste novo estatuto vir a ser consagrado na Constituição, em 1971, pouco
ou nada mudava para os movimentos independentistas e para a conjuntura
internacional que lhes era favorável. Assim, a guerra prossegue à medida que se
acentua o isolamento internacional de Portugal evidenciado:

- Pela receção dos principais dirigentes dos movimentos de libertação pelo


Papa Paulo VI, em 1970, traduzida numa humilhação sem paralelo da
administração colonial portuguesa;

- Pelas manifestações de protesto que envolveram a visita de Marcello


Caetano a Londres, em 1973, em consequência do conhecimento

17
internacional dos massacres cometidos pelo exercito português em
Moçambique;

- Pela declaração unilateral da independência da Guiné-Bissau, ainda em


1973, e seu reconhecimento pela Assembleia Geral da ONU.

Entretanto, também internamente, apesar da atuação da censura, são conhecidas


as denuncias da injustiça da Guerra Colonial e os apelos à solução do conflito:

- Os deputados liberais começam, em sinal de protesto, a abandonar a


Assembleia Nacional, proliferando os grupos oposicionistas de extrema-
esquerda, crescendo a contestação dos católicos progressistas;

- O general António de Spínola, herói da guerra da Guiné, publica a obra


Portugal e o Futuro, onde segundo relata, Marcello Caetano proclamou
abertamente a inexistência de uma solução militar para a guerra de África,
que por outras palavras, a guerra estava perdida, e que ele mesmo se deu
conta que o golpe militar era inevitável.

DA REVOLUÇÃO À ESTABILIZAÇÃO DA DEMOCRACIA

O MOVIMENTO DAS FORÇAS ARMADAS E A ECLOSÃO DA REVOLUÇÃO

Em 1974, enquanto o regime agonizava, o problema da guerra colonial continuava


por resolver. Na Guine, onde a PAIGC ocupava parte significativa do território e já
tinha declarado a independência unilateral, a guerra estava perdida. A situação
em Angola e Moçambique, continuava num impasse. Entretanto, intensificava-se a
condenação internacional da política colonial do regime à medida que cresciam
os apoios políticos e militares aos movimentos independentistas.

Perante a recusa de uma solução política pelo Governo marcelista, os militares


entenderam que se tornava urgente pôr fim à ditadura e abrir o caminho para a
democratização do país.

18
Tanto mais que a esta conjuntura política se viria a juntar:

- Guerra colonial;

- “Portugal e o Futuro” – livro de Spínola que influencia os jovens oficiais


(contestava a política colonial, defendia a liberalização do regime, a adesão
de Portugal à CEE e o fim da guerra colonial, com a constituição de uma
federação de Estados);

- Questão da promoção na maneira de jovens oficiais portugueses;

- Formação do movimento dos capitães (1973);

- Manutenção da guerra colonial (Marcello Caetano faz ratificar pela


Assembleia Nacional, a politica colonial); convoca os generais das forças
armadas para uma sessão solene em que seria reiterada a sua lealdade do
governo. Costa Gomes e Spínola não compareceram – exoneração dos
seus cargos;

- Formação do MFA (Movimento de Forças Armadas).

Fim do Estado Novo – 25 de Abril de 1974

DO “MOVIMENTO DOS CAPITÃES” AO “MOVIMENTO DAS FORÇAS


ARMADAS”

Em consequência, a partir de 1973, começa a organizar-se um movimento


clandestino de militares, onde predominavam oficiais de baixa patente, a maioria
capitães, que arranca com a preparação de um golpe de Estado tendo em vista o
derrube do regime ditatorial e a criação de condições favoráveis à resolução
política da questão colonial.

19
Foram, originalmente, questões corporativas que motivaram o autodenominado
Movimento dos Capitães. Tratava-se, efetivamente, de um movimento constituído
por oficiais do quadro permanente e protesto contra a integração na carreira militar
de oficiais milicianos mediante uma formação intensiva na Academia Militar, onde
eles tinham cursado durante anos.

As reuniões e os debates dos primeiros meses bastaram para consciencializar


estes oficiais da sua força e da viabilidade de pressionarem o Governo a aceitar
uma solução política para o problema africano.

Considerando este último objetivo exigia a intervenção de altos patentes, o


Movimento dos Capitães depositou a sua confiança nos generais Costa
Gomes e Spínola, respetivamente chefe e vice-versa do Estado-Maior
General das Forças Armadas.

Face à obstinação do regime em persistir na manutenção da guerra, o alto-


comando do Estado-Maior das Forças Armadas (Costa Gomes, chefe, e
António Spínola, vice-chefe) recusou-se a participar numa manifestação de
apoio ao Governo e à sua política. Foram prontamente exonerados dos cargos,
ficando disponíveis para congregar a confiança do movimento de contestação que
crescia no meio militar.

Liderado então pelos generais Spínola e Costa Gomes e assumindo claros


objetivos de pôr fim à política do Estado Novo, o original movimento corporativo
dos capitães cresce, entretanto com a adesão das principais unidades militares,
tornando-se mais forte e mais bem organizado. O Movimento dos Capitães evoluiu
para um movimento das Forças Armadas. Nascia o Movimento das Forças
Armadas – MFA.

O “25 DE ABRIL”

São as Forças Armadas, assim organizadas, que vêm para a rua na madrugada de
25 de Abril de 1974 e conseguem levar a cabo uma ação revolucionária que pôs
fim ao regime de ditadura que vigorava desde 1926.

20
A ação militar, sob coordenação do major Otelo Saraiva de Carvalho, teve inicio
cerca das 23 horas do dia 24 com a transmissão, pela rádio, da canção “E Depois
do Adeus”, de Paulo de Carvalho. Era a primeira indicação aos envolvidos no
processo de que as operações estavam a decorrer com normalidade.

Às 0:20 do dia 25 de Abril, era transmitida a canção “Grândola, Vila Morena”, de


José Afonso. Estava dado o sinal de que as unidades militares podiam avançar
para a ocupação dos pontos considerados estratégicos para o sucesso do ato
revolucionário, como as estações de rádio e da RTP, os aeroportos civis e
militares, as principais instituições de direção político-militar, entre outros.

Com o fim da resistência do Regimento de Cavalaria 7, a única força que saiu em


defesa do regime em confronto com o destacamento da Escola Pratica de
Cavalaria de Santarém comandado pelo capitão Salgueiro Maia, no Terreiro do
Paço, e com a rendição pacífica de Marcello Caetano, que dignamente entregou o
poder ao general Spínola, terminava, ao fim da tarde, o cerco ao quartel da GNR,
no Carmo, e terminava, com êxito, a operação “Fim do Regime”.

Entretanto, já o golpe militar era aclamado nas ruas pela população portuguesa,
cansada da guerra e da ditadura, transformando os acontecimentos de Lisboa
numa explosão social por todo o país, uma autêntica revolução nacional que, pelo
seu caráter pacífico, ficou conhecida como a “Revolução dos Cravos”.

DESMANTELAMENTO DAS ESTRUTURAS DE SUPORTE DO ESTADO


NOVO

A adesão pacífica da população ao ato revolucionário os agora chamados


“Capitães de abril” constituiu um poderoso estimulo para que, imediatamente e
sem qualquer reservas, se desse inicio ao processo de desmantelamento do
regime deposto. Para garantira normalidade, governativa possível, foi prontamente
nomeada uma Junta de Salvação Nacional, com António Spínola, na qualidade de
representante do MFA, na presidência, a quem foram entregues os principais
poderes do Estado, até à formação de um Governo Provisório civil.

21
A esta instituição coube levar a cabo o processo de desmantelamento do regime,
previsto no programa do FMA:

- Exílio do Presidente da República e Primeiro Ministro para o Brasil;

- Desmantelamento da PIDE, DGS, Legião Portuguesa, Censura, etc.;

- Amnistias aos presos políticos, bem como aos exilados políticos;

- Formação de partidos políticos e sindicatos livres (direito à greve);

- Promessa de eleições constituintes no prazo mínimo de um ano, bem


como passar o poder
para as mãos dos civis;

- Projeção do FMA (3 “D”).

- Em 15 de maio, para normalizar a situação política, António de Spínola é


nomeado Presidente da República e o advogado Adelino da Palma
Carlos é convidado para presidir à formação do I Governo Provisório.

TENSÕES POLÍTICO-IDEOLÓGICAS NA SOCIEDADE E NO INTERIOR DO


MOVIMENTO REVOLUCIONÁRIO

Os tempos não foram fáceis para as novas instituições democráticas.


Passados os primeiros momentos de entusiasmo popular na aclamação da
liberdade conseguida, seguiram-se dois anos politicamente muito
conturbados. Com efeito, vieram ao de cima profundas divergências
ideológicas que conduziram a graves confrontações sociais e políticas e
chegaram a provocar situações de iminente conflito militar.

22
O «PERÍODO SPÍNOLA»

Poucos dias passados sobre o golpe militar, os anseios de justiça social,


longamente reprimidos, tinham já explodido numa onda de reivindicações laborais,
greves, manifestações constantes. Embora influenciada pelos partidos de
esquerda, esta efervescência social, era em grande parte, espontânea e, por isso,
dificilmente controlável.

Carente de autoridade e incapaz de assumir uma efetiva liderança do País, o I


Governo Provisório demitiu-se menos de dois meses após a tomada de
posse.

De facto, o poder político fracionara-se já em dois pólos opostos: de um lado,


o grupo afeto ao general Spínola; do outro, a comissão coordenadora do MFA
e os seus apoiantes.

Spínola idealizou um projeto federalista para a África portuguesa, no entanto,


progressivamente foi perdendo terreno face às forças esquerdistas do MFA,
adeptas da «independência pura e simples» os territórios ultramarinos e da
revolução social.

É com a nomeação do brigadeiro Vasco Gonçalves para chefiar o II Governo


Provisório (primeiro-ministro) e com a presença reforçada dos militares no
elenco governativo que se consagra a perda de influência do presidente, e é com
o direito dos povos africanos à independência que Spínola reconhece a
contragosto, que se acaba por demitir a 30 de setembro, na sequência do
fracasso de uma manifestação em seu apoio, eficazmente boicotada pelas
forças de esquerda.

A Junta de Salvação Nacional, que o impacto da demissão de Spínola reduzira


três membros (o general Costa Gomes, os almirantes Pinheiro de Azevedo e Rosa
Coutinho), indigita Costa Gomes para a Presidência da República.

23
A RADICALIZAÇÃO DO PROCESSO REVOLUCIONÁRIO

A partir deste momento a Revolução tende a radicalizar-se. Otelo Saraiva de


Carvalho, o estratega do 25 de Abril, aparece cada vez mais afeto à extrema-
esquerda. À frente do Comando Operacional do Continente – COPCON, assina
uma série de ordens de prisão de elementos moderados. O primeiro-ministro
Vasco Gonçalves, que chefiará quatro governos provisórios (do II ao V), evidencia
uma forte ligação ao Partido Comunista, que adquire crescente protagonismo no
aparelho do Estado.

Numa derradeira tentativa de contrariar esta inflexão, no dia 11 de março do ano


seguinte, os militares afetos a Spínola e sob tutela política, correspondendo às
crescentes preocupações das forças políticas mais conservadoras sobre o rumo
do processo revolucionário, tentam levar a cabo um golpe com o objetivo de
travar o ímpeto revolucionário das forças de esquerda. Este golpe foi
facilmente dominado pelo FMA, (que obrigou Spínola a exilar-se em Espanha) daí
a criação da Junta de Salvação Nacional, como forma de evitar novos golpes.

Em consequência, numa Assembleia das Forças Armadas, forma-se o Conselho


de Revolução, que passa a funcionar como órgão executivo do MFA, tornando-
se o verdadeiro centro do poder, visto que a Junta de Salvação Nacional e do
Conselho do Estado extinguem-se, entretanto. Evidenciando uma ligação clara
ao ideário e ao programa do Partido Comunista, o Conselho da Revolução propõe-
se orientar o Processo Revolucionário em Curso – PREC que, assumidamente,
conduziria o País rumo ao socialismo.

Entretanto, a agitação social cresceu a olhos vistos, orientando-se por uma


filosofia igualitária e pela miragem do poder popular. Por todo o país se procede a
saneamentos sumários de quadros técnicos e outros funcionários considerados de
«de direita»; nas empresas privadas, as comissões de trabalhadores e destituindo
os corpos agentes; nas cidades e vilas constituem-se «comissões de moradores»
e «comités de ocupantes», que levam a cabo a ocupação de vagas, do Estado ou
de particulares, quer para fins habitacionais, quer para a instalação de
equipamentos sociais de iniciativa popular; no sul, a Reforma Agrária toma uma
feição extremista com a ocupação das grandes herdades pelos trabalhadores
rurais, que as transformaram em «unidades coletivas de produção».

24
Este ambiente anárquico gerou um clima de opressão e medo nas classes
média e alta que impediu milhares de Portugueses a abandonarem o País.
Tudo parecia, nesta altura, encaminhar Portugal para a adoção de um modelo
coletivista, sob a égide das Forças Armadas

AS ELEIÇÕES DE 1975 E A INVERSÃO DO PROCESSO


REVOLUCIONÁRIO

A inversão do processo deveu-se, em grande parte, ao forte impulso dado pelo


Presidente Socialista à efetiva realização, no prazo marcado, das eleições
constituintes prometidas pelo programa do MFA.

Estas eleições, as primeiras em que funcionou o sufrágio verdadeiramente


universal (puderam votar os cidadãos com mais de 18 anos, independentemente
do sexo e do grau de escolaridade) realizaram-se no dia 25 de Abril de 1975,
marcando a vida cívica e política portuguesa.

Acorreram às urnas 91,7% dos eleitores, tendo sido o maior universo eleitoral de
sempre na História do País, e tanto a campanha como o ato eleitoral decorreram
dentro das normas de respeito e de pluralidade democrática.

Nestas eleições, sai vencedor o Partido Socialista que, por essa razão, passa a
reclamar maior intervenção na atividade governativa. Todavia, a preponderância
política continuou a ser detida pelo Partido Comunista com o apoio do setor
mais radical do MFA e do Conselho da Revolução, que se constituem como os
verdadeiros detentores do poder, provocando o abandono do Governo pelos
socialistas.

Viviam-se os tempos do Verão Quente de 1975, em que esteve iminente o


confronto entre os partidos conservadores e os partidos de esquerda. Este verão
de 1975 ficou marcado pelas gigantescas manifestações de rua, assaltos e sedes
partidárias e pela proliferação de organizações armadas revolucionárias de direita
e de esquerda.

25
É em pleno «Verão Quente» que um grupo de nove oficiais de próprio Conselho de
Revolução, encabeçados pelo major Melo Antunes, critica abertamente os setores
mais radicais do MFA. Esta atuação hábil destas forças moderadas levou à:

- Destituição do primeiro-ministro Vasco Gonçalves;


- Formação de novo Governo (o VI, chefiado por Pinheiro de Azevedo);
- Nomeação do capitão Vasco Lourenço (um dos «nove») para o comando
da região militar de Lisboa, em substituição de Otelo (24 de novembro).

Estas alterações são o rastilho para um último golpe militar, desferido em 25 de


novembro pelos para-quedistas de Tancos, em defesa de Otelo e do processo
revolucionário. Este golpe que por pouco não colocou o País numa guerra
civil, acabou por se malograr e, com ele, as tentativas da esquerda
revolucionária para tomar o poder. Ficava aberto o caminho para a
implantação de uma democracia liberal.

General António Ramalho Eanes (presidente da República de 1976 a 1986,


exerceu dois mandatos consecutivos, após o que foi substituído por Mário
Soares, o primeiro civil a ocupar o cargo), teve um papel relevante na
neutralização do golpe de 25 de novembro.

POLÍTICA ECONÓMICA ANTIMONOPOLISTA E INTERVENÇÃO DO ESTADO NO


DOMÍNIO ECONÓMICO-FINANCEIRO

A onda de agitação social que se desencadeou após o 25 de Abril foi


acompanhada de um conjunto de medidas que alargou a intervenção do
Estado na esfera económica e financeira. Tomadas em parte sob a pressão das
forças político-sociais de esquerda, estas medidas tiveram como objetivo a
destruição dos grandes grupos económicos, considerados monopolistas, a
apropriação, pelo Estado, dos setores-chave da economia e o reforço dos direitos
dos trabalhadores.

A intervenção do Estado em matéria económico-financeira encontrava-se já


prevista no Programa do I Governo Provisório, que referia a nacionalização dos
bancos emissores. Estas intenções foram concretizadas em setembro e pouco
depois (novembro), o Estado considera-se no direito de intervir nos bancos cujo

26
funcionamento não contribuísse «normalmente para o desenvolvimento económico
do país» (D.-L. 660/74).

À luz deste decreto, sobretudo durante o IV e V Governos, os corpos gerentes de


numerosas empresas (muitos sob a acusação de sabotagem económica) foram
substituídos por comissões administrativas nomeadas pelo Governo.

A intervenção do estado também se fez sentir na(s):

- Reforma agrária com a expropriação institucional das grandes herdades


e a organização da sua exploração em Unidades Coletivas de Produção
(UCP) sob controlo do Partido Comunista, no seguimento das primeiras
ocupações de terras nos latifúndios do Ribatejo e do Alentejo.
- Grandes campanhas de dinamização cultural promovidas pelo MFA
com o objetivo de explicar às populações do interior rural o significado da
revolução, o valor da democracia e a importância do voto popular nos
diversos sufrágios em curso, bem como os direitos dos trabalhadores.
- grandes conquistas dos trabalhadores que viram a sua situação social
e económica muito beneficiada: A conquista do direito da greve e da
liberdade sindical juntou-se a instituição do salário mínimo nacional, o
controlo dos preços dos bens de primeira necessidade, a redução do
horário de trabalho, a melhoria das pensões e das reformas, a
generalização de subsídios sociais e a publicação de medidas legislativas
tendentes a promover as garantias de trabalho pela criação de dificuldades
aos despedimentos, sem olhar às reais capacidades económicas e
financeiras das empresas.

A OPÇÃO CONSTITUCIONAL DE 1976

A 2 de junho de 1975 abriu, em sessão solene, a Assembleia Constituinte. Era a


primeira que se reunia desde a elaboração da Constituição de 1911 e, tal como
acontecera, os seus trabalhos decorreram num ambiente pós-revolucionário.

Apesar de eleitos democraticamente, os deputados não possuíam total


liberdade de decisão. Como condição para que se realizassem as eleições, o
MFA impusera, aos partidos concorrentes, a assinatura de um compromisso que

27
preservava as conquistas revolucionárias (13 de abril). Este documento, conhecido
como Primeiro Pacto MFA-Partidos, foi substituído por um segundo pacto, mais
moderado, mas igualmente condicionador da capacidade legislativa da
Constituinte.

Fruto destes compromissos, das convicções dos deputados eleitos e também do


ambiente de pressão política que então se viveu, a Constituição reitera a via de
«transição para o socialismo» já encetada e considera «irreversíveis» as
nacionalizações e as expropriações de terras efetuadas. Mantém, igualmente,
como órgão de soberania, o Conselho da Revolução considerado o garante do
processo revolucionário.

Para além disso, a Constituição define Portugal como «um Estado de direito
democrático», reconhece o «pluralismo» partidário e confere a todos os
cidadãos «a mesma dignidade social». Esta opção liberalizante vê-se reforçada
pela adoção dos princípios da Declaração Universal dos Direitos do Homem, pela
eleição direta, mediante sufrágio universal, da Assembleia legislativa e do
presidente da República, pela independência dos tribunais, entre outras
disposições.

O respeito pela vontade popular exprimiu-se ainda na concessão de autonomia


política às regiões insulares dos Açores e da Madeira e na instituição de um
modelo de poder local descentralizado e eleito por via direta.

A nova constituição entrou em vigor no dia 25 de Abril de 1976, exatamente


dois anos após a «Revolução dos Cravos». O seu texto resultou do compromisso
das diferentes conceções ideológicas defendidas pelos partidos da Assembleia e
congregou ainda medidas de exceção revolucionária. No entanto, e apesar de
todas as críticas e alterações de quer foi alvo, a Constituição de 1976 foi, sem
dúvida, o documento fundador da democracia portuguesa.

O RECONHECIMENTO DOS MOVIMENTOS NACIONALISTAS E O


PROCESSO DE DESCOLONIZAÇÃO

O outro processo imediatamente iniciado foi a descolonização (o terceiro dos “D”


que nortearam a revolução: Democracia, Desenvolvimento e Descolonização).

28
Logo na noite do 25 de Abril, por pressão do general Spínola, a afirmação do
«claro reconhecimento do direito à autodeterminação» dos territórios africanos,
que constava do programa previamente elaborado pelo MFA, foi eliminada. Em
seu lugar declarava-se, apenas, a intenção de implementar «uma política
ultramarina que conduza à paz». O país dividiu-se no caminho a tomar.

Como o próprio Spínola reconheceria mais tarde, o tempo em que teria sido
possível adotar o modelo federalista que advogara em Portugal e o Futuro tinha,
há muito, passado.

Ainda no rescaldo do golpe militar, as pressões internacionais começam a fazer-se


sentir. A 10 de maio, a ONU e a OUA (Organização da União Africana) apelam à
Junta de Salvação Nacional para que, inequivocamente, consagre o princípio da
independência das colónias. Durante os meses que se seguiram, a OUA interferiu
no processo negocial exigindo a independência de todos os territórios. Os
movimentos de libertação unem-se no mesmo sentido.

A nível interno, a «independência pura e simples» das colónias colhia o apoio da


maioria dos partidos que se legalizaram depois do 25 de Abril e também nesse
sentido se orientavam os apelos das manifestações.

É nesta conjuntura que o Conselho de Estado aprova a Lei 7/74, reconhecendo


o direito das colónias à independência, decisão que o presidente da República
comunica aos Portugueses, a 27 de julho, numa declaração considerada
«histórica».

Intensificam-se, então, as negociações com o PAIGE (para a Guiné e Cabo


Verde), a FRELIMO (para Moçambique) e o MPLA, a FNLA e a UNITA (para
Angola), únicos movimentos aos quais Portugal reconhece legitimidade para
representarem o povo dos respetivos territórios.

As negociações decorreram sem dificuldades de maior, exceto com Angola, dada


a existência de três movimentos de libertação, mas, em janeiro de 1975,
assinava-se, no Alvor, o acordo que marcava a independência desta nossa
antiga colónia para 11 de novembro do mesmo ano.

29
Com a exceção da Guiné, cuja independência foi efetivada logo em 10 de
setembro de 1974, os acordos institucionalizavam um período de transição, em
que se efetuaria a transferência de poderes. Neste período, estruturas conjuntas
de Portugal e dos movimentos de libertação assegurariam o respeito pela
legalidade e pela ordem.

No entanto, Portugal encontrava-se numa posição muito frágil, quer para impor
condições, quer para fazer respeitar os acordos: o slogan da extrema-esquerda
«Nem mais um soldado para as colónias», a desmotivação generalizada do
exército, a deterioração das relações entre os militares africanos e os comandos
europeus e a instabilidade política que se vivia na metrópole retiraram ao nosso
país a capacidade necessária para fazer face aos conflitos que, naturalmente,
surgiram. Desta forma, não foi possível assegurar, como previsto, os interesses
dos Portugueses residentes no Ultramar.

Em Moçambique, os confrontos, que rapidamente tomaram um cariz racial,


iniciaram-se quase de imediato, desencadeando a fuga precipitada da população
branca.

Mas o caso mais grave foi, naturalmente, o de Angola. Os três movimentos


mostraram-se incapazes de ultrapassar os seus antagonismos; o Governo de
transição nunca funcionou e acabou por ser abandonado pela FNLA, e pela
UNITA, o que obrigou o nosso país a decretar a suspensão do Acordo de Alvor;
também não chegou proceder-se, como previsto, à constituição de forças armadas
mistas. Em vez disso, MPLA, FNLA e UNITA reforçaram as suas fileiras próprias,
munindo-se de armamento estrangeiro e mobilizando todos os seus efetivos.

Em março de 1975, a guerra civil em Angola era já um facto e nos meses de


setembro e outubro, uma autêntica ponte aérea evacua de Angola os cidadãos
portugueses que pretendem regressar. Em 10 de novembro (vésperas da data
acordada para a independência), depois de demoradas consultas aos órgãos de
soberania e de diligências na ONU, o presidente da República decide, na
impossibilidade de cumprir os Acordos do Alvor, transferir o poder para o povo
angolano, não reconhecendo qualquer estrutura governativa afeta aos
movimentos de libertação.

30
Fruto de uma descolonização tardia e apressada e vítimas dos interesses de
potências estrangeiras, os territórios africanos não tiveram um destino feliz.

- A Guiné, tornada república popular (tal como Angola e Moçambique), foi o


palco de violência política e golpes de Estado militares.

- Moçambique, que arvorou em paz a bandeira da independência, foi depois


sacudido por uma sangrenta guerra civil.

Em Angola, o Governo do MPLA acabou por ser reconhecido


internacionalmente, mas nem por isso a paz voltou ao território. A despeito
de todos os esforços, as forças da UNITA e do MPLA confrontaram-se até
2002, quando o líder daquele movimento, Jonas Savimbi, foi assassinado.
O povo de Angola viveu, pois, desde 1961, um clima de guerra permanente

A REVISÃO CONSTITUCIONAL DE 1982 E O FUNCIONAMENTO DAS


INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS

Com a constituição de 1976 ficaram garantidos os direitos de todos os cidadãos:

- Foi instituído em Portugal um regime democrático pluripartidário


descentralizado
- Foram definidas eleições livres por sufrágio universal
- A estrutura económica acentuava-se na transição para o
socialismo
- Foi definido um período de 4 anos de transição entre o poder
militar e o poder político

Após este período o pacto MFA/Partidos é substituído por um acordo entre o PS,
PSD e CDS que acusavam a constituição de ser demasiado socialista, propondo
uma revisão constitucional que termina em setembro de 1982 com as seguintes
alterações.

Ao nível da economia suavizaram os princípios socializantes das nacionalizações


e da reforma agrária, mas, foi ao nível dos órgãos de soberania que as alterações
foram mais evidentes:
31
- Aboliram o Conselho de Revolução que passou a ser substituído pelo
Conselho de Estado assistindo este o Presidente da República em
todas as decisões de importância nacional;

- Na justiça os juízes passam a ser nomeados pelos conselhos


superiores de magistratura e não pelo Ministro da justiça como pela
constituição de 1976;

- Limitaram os poderes do Presidente da República em favor da


Assembleia da República e devido a isto o regime passa a estar
entregue á sociedade civil e aos partidos assumindo-se assim como
uma democracia parlamentar com os seguintes órgãos:

32
- Eleito por sufrágio direto
Presidente da - Tem um mandato de 5 anos
Republica - Tem poder de veto suspensivo das leis
- Elege o Primeiro-Ministro
- Pode demitir o governo
- Pode dissolver a Assembleia da República
- (…)

- Constituída pelos deputados eleitos


Assembleia da - É um órgão legislativo
República - Representa a constituição e a manutenção dos
governos
- Aprovam o orçamento do estado
- Interpelam o governo
- Instaura inquéritos parlamentares
- (…)

Governo - É um órgão executivo


- Conduz a política geral do país
- É representado pelo Primeiro-Ministro
- Tem competência legislativa através de
decretos-lei e propostas de lei
- São os protagonistas resultantes do voto
eleitoral
- (…)

Tribunais - São nomeados pelo conselho superior da


magistratura
- Vêm o seu poder verdadeiramente autónomo
- Nasce o Tribunal Constitucional
- Registam os partidos políticos
- (…)

Governo das Regiões - É exercido pela Assembleia Legislativa regional


Autónomas - É formado com base nos resultados eleitorais
- Tem um Ministro da República também
designado pelo Presidente
- Promulgam diplomas legais entre outras funções
- (…)

Poder Local - Foi estruturado em municípios e freguesias


- Dispõem de um órgão legislativo (Assembleia
Municipal e Assembleia de Freguesia)
- Dispõem de um órgão executivo (Câmara
Municipal e Junta de Freguesia)
- São eleitos pelas respetivas populações
- Desempenham um papel relevante no
desenvolvimento local
- (…)

33
Com esta revisão constitucional Portugal dá mais um passo evolutivo na instalação
de uma democracia pluralista baseada na vontade do seu povo.

Com isto espera ver reforçada a sua posição no âmbito das nações unidas, dando
por terminar todo um período marcado por um regime fascista. A democracia em
Portugal baseia-se em devolver ao povo a dignidade perdida e na criação de
melhores condições de vida. Assim, fruto deste estado de espírito serão iniciados
os processos de descolonização dos territórios sob administração portuguesa.

O SIGNIFICADO INTERNACIONAL DA REVOLUÇÃO PORTUGUESA

O derrube da mais velha ditadura da Europa mereceu, na comunidade


internacional, rasgados elogios, quer pela forma contida e não-violenta como foi
conduzido o golpe de Estado, quer pelo programa liberalizador que lhe esteve
subjacente.

A revolução de abril contribuiu, pois, para quebrar o isolamento e a hostilidade


de que Portugal tinha sido alvo, recuperando o País a sua dignidade e a
aceitação nas instâncias internacionais.

Para além desse reencontro de Portugal com o Mundo, o fim do Governo


marcelista teve uma influência apreciável na evolução política espanhola. Os
ventos democráticos que, na primavera de 1974, sopraram de Portugal,
alimentaram os desejos de mudança e permitiram algumas reformas no seio do
próprio regime, contribuindo para endurecer o último ano do franquismo. No
entanto, os espanhóis retiraram dela proveitosos ensinamentos, que os ajudaram a
evitar o défice de autoridade e a desorientação que se verificou no nosso país.

A influência da revolução portuguesa estendeu-se também a África, onde a


independência das nossas colónias contribuiu para o enfraquecimento dos últimos
bastiões brancos da região, como a Rodésia e a África do Sul.

A descolonização portuguesa e a viragem política na Rodésia puseram em maior


evidência a desumanidade do regime sul-africano, que, no entanto, em 1994, com
as primeiras eleições, fizeram um homem negro como primeiro presidente de
África do Sul.

34

You might also like