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Aluna: Gabriela Farias de Melo

Curso: Pós-graduação em Docência no Ensino Superior


Disciplina: Práticas Presenciais no Ensino Superior
Professor: Lupércio Aparecido Rizzo
Aula: Educação e Afetividade: prosa sobre corpo, cotidiano e educação
Aula ministrada por: Wesley Adriano Martins Dourado

Atividade para conclusão da disciplina

Relatos e reflexões da aula de Filosofia, Educação e Afetividade

Alguns esclarecimentos: 1 - Peço licença para utilizar, nesta construção,


a primeira pessoa do singular, por se tratar de um texto cuja formalidade se limita
a menção de notas e não deve seguir, por regra, alguma norma rígida comum a
construção de trabalho acadêmico para conclusão de curso. 2 - Creio que a
proposta deste trabalho será melhor atendida se postas algumas colocações de
cunho pessoal, como por exemplo o porque da escolha desta e não das demais
aulas. 3 - Deixo aqui declarada a injustiça por mim cometida: devido a limitação
de tempo, espaço e proposta da atividade escolhi uma das aulas para tratar
neste texto, mas deixo claro que todas elas foram igualmente enriquecedoras e
úteis a medida que nos proporcionou a possibilidade de vislumbrar a atuação
docente por diversos ângulos - alguns dos quais não tínhamos se quer
conhecimento raso no início do curso. 4 - Identificar a atuação docente por novas
perspectivas amplia horizontes, nos dá lentes para enxergar e reparar em
diversos aspectos da profissão.
Tendo claras essas questões, a escolha por uma aula, neste caso, foi feita
pelo coração, pela emoção, aquela que fez sorrir, chorar e refletir. A escolha feita
pela emoção não quer dizer que a aula foi baseada em sentimentos sem
fundamentação. Ou mesmo que não houvesse a certeza de uso da razão quando
tratamos da intencionalidade e da contribuição para sairmos da aula
profissionais ainda mais apaixonados pela profissão de educar.
A aula tinha o objetivo de abordar a afetividade na prática educativa, tendo
como oposto a educação tecnicista, e que a afetividade não significa
necessariamente falta de rigor. Para tanto a aula foi dividida em dois blocos
principais. Na primeira parte da aula o professor se dedicou a explanar alguns
poemas de diversos livros da autora Adélia Prado, que trata com maestria e
simplicidade dos detalhes da vida cotidiana e a importância da afetividade e
desta na educação. A segunda parte da aula foi dedicada a abordagem da
educação segundo Paulo Freire, detidamente no livro Psicologia da Autonomia.
Inicialmente fui instigada a entrar em sintonia com a aula, diante de uma
reflexão aparentemente óbvia. Da qual pouco ou nada de tempo já dediquei no
decorrer da vida: a palavra e o corpo: o segundo é fonte absoluta da primeira e
sem o qual ela não existiria. Isso significa que só podemos dizer, atribuir sentido
e significado as coisas, por que, antes, somos. E, se somos, somos um corpo
que pouco ou nenhum sentido faz sem que haja interação com outro, daí derivam
a comunicação, a afetividade e a educação.
Neste sentido, uma citação trazida à aula pelo professor esclarece
perfeitamente essa reflexão: “(...) minha experiência não provém de meus
antecedentes, de meu ambiente físico e social, ela caminha em direção a eles e
os sustenta, pois sou eu quem faz ser para mim (...)” (MERLEAU-PONTY, 1999,
p. 03). Em seu sentido próprio não significa que quem nasce em uma periferia e
não alcança o sucesso financeiro e profissional tenha culpa dos resultados
obtidos, mas sim as pessoas, por mais que nas mesmas condições sociais,
podem atribuir um significado e uma importância diferentes as experiências e
isso é único, particular e intransferível, cada pessoa é, portanto, fonte absoluta
de si mesma.
As obras de Adélia Prado e os trechos lidos em aula tratam dessa reflexão
a respeito do corpo, sentimentos e acontecimentos simples do cotidiano que
mostram os diferentes significados que podem ser dados a estes
acontecimentos dependendo do modo como os encarramos.
Escolhi, na tentativa de descrever a essência da aula, dois poemas de
Adélia Prado que não necessariamente foram lidos em aula, nem sei dizer se
fazem parte de um dos livros a nós apresentados nesta ocasião. Mas remetem
perfeitamente a significância atribuída às palavras da autora com a narrativa do
professor.
1:
A Serenata
Uma noite de lua pálida e gerânios
ele virá com a boca e mão incríveis
tocar flauta no jardim.
Estou no começo do meu desespero
e só vejo dois caminhos:
ou viro doida ou santa.
Eu que rejeito e exprobo
o que não for natural como sangue e veias
descubro que estou chorando todo dia,
os cabelos entristecidos,
a pele assaltada de indecisão.
Quando ele vier, porque é certo que vem,
de que modo vou chegar ao balcão sem juventude?
A lua, os gerânios e ele serão os mesmos
- só a mulher entre as coisas envelhece.
De que modo vou abrir a janela, se não for doida?
Como a fecharei, se não for santa?

2:
Minha mãe achava estudo
a coisa mais fina do mundo.
Não é.
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,
ela falou comigo:
'coitado, até essa hora no serviço pesado'.
Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo com água quente.
Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo.

Na segunda parte da aula, tratando da educação segundo Paulo Freire, o


professor se deteve a relatar a importância fundamental de um dos capítulos do
livro Pedagogia da Autonomia, o último saber: Querer Bem ao Educando. Com
destaque para o fato que, apesar da afetividade ser uma condição fundamental
para a construção da relação entre educador e educando que culmina na
construção do conhecimento, ela de nenhum modo quer dizer falta de rigor. É
necessário coragem para conduzir a prática docente baseada no amor à
profissão e aos educandos, pois, nas palavras do professor: “sem sermos
educados para ser gente não aprendemos a ser gente” e não há outra forma de
se ensinar a ser gente se não pela amorosidade.
A afetividade, o querer bem exigem do professor compromisso, que neste
sentido uso como a consciência do que e como se deve ser feito, e
comprometimento, que está para além da consciência, à medida em que, tomado
da própria consciência, o docente assume a responsabilidade de ser o que seu
compromisso exige.
Não poderia concluir este texto, tão cheio de pessoalidade e
encantamento sem confessar que quando foi dada a proposta da atividade me
senti tentada a redigir um texto a respeito da primeira aula, enquanto a memória
ainda guardava o maior número de detalhes, para encerrar o trabalho da
disciplina ali mesmo, a partir disso apenas acompanhar as aulas. Mas depois
desta que relato, percebi que incorria em um erro grave em não me deixar tocar
por todas as aulas para depois decidir aquela que melhor caberia nesta
descrição. Neste sentido, creio que essa escolha foi a mais acertada.
Em relação à aula escolhida, não ao acaso, foi cumprida com sucesso e
fez valer o esforço pessoal de estar presente, mesmo depois de um dia difícil.
Os objetivos de aula foram alcançados e, conforme relatado, contribuiu a medida
que atribuiu um sentido ainda mais encantador da profissão docente que nos
exige doação, afetividade, rigor e responsabilidade.
Referências

MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da Percepção. São Paulo: Martins


Fontes, 1999, p. 03.

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