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TUTELA ANTECIPADA NA AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA 2.

866 DISTRITO
FEDERAL

RELATOR : MIN. MARCO AURÉLIO


AUTOR(A/S)(ES) : ESTADO DO PARANÁ
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO PARANÁ
RÉU(É)(S) : UNIÃO
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO -GERAL DA UNIÃO

DECISÃO

IMPOSTO SOBRE A RENDA –


RETENÇÃO NA FONTE – ARTIGO 157,
INCISO I, DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL – ALCANCE – CONTRATOS –
BENS E SERVIÇOS – FORNECIMENTOS
– ABRANGÊNCIA – RELEVÂNCIA NÃO
DEMONSTRADA – LIMINAR
INDEFERIDA.

1. O assessor Dr. Mário Henrique Ditticio prestou as seguintes


informações:

O Estado do Paraná formalizou ação cível originária, com


pedido de tutela de urgência, contra a União, visando o
reconhecimento do direito ao produto da arrecadação do
imposto de renda retido na fonte incidente sobre os
rendimentos pagos, a qualquer título, tanto por si como por
autarquias e fundações estaduais, incluindo-se os pagamentos
feitos a pessoas jurídicas e pessoas naturais decorrentes de bens
ou serviços, não apenas os atinentes a servidores e empregados
públicos. Aludiu ao artigo 157, inciso I, da Carta da República.

Segundo narra, a Receita Federal do Brasil, por meio da


Solução de Consulta nº 166, de 22 de junho de 2015, e da
Instrução Normativa nº 1.599, de 11 de dezembro de 2015, no
artigo 6º, § 7º, alterou entendimento quanto à partilha dos

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recursos. Eis o teor dos atos:

Solução de Consulta nº 166:

ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA RETIDO NA


FONTE IRRF.
EMENTA: Retenção do Imposto de Renda incidente na
fonte e direito à apropriação do mesmo, na espécie, pelos
Municípios e suas autarquias e fundações que instituírem e
mantiverem, para fins de incorporação definitiva ao seu
patrimônio, por ocasião dos pagamentos que estes efetuarem a
pessoas jurídicas, decorrentes de contratos de fornecimento de
bens e/ou serviços. Inteligência da expressão rendimentos
constante no inciso I do art. 158 da Constituição.
O art. 158, inciso I, da Constituição Federal permite que os
Municípios possam incorporar diretamente ao seu patrimônio o
produto da retenção na fonte do Imposto de Renda incidente
sobre rendimentos do trabalho que pagarem a seus servidores e
empregados.
Por outro lado, deve ser recolhido à Secretaria da Receita
Federal do Brasil o Imposto de Renda Retido na Fonte pelas
Municipalidades, incidente sobre rendimentos pagos por estas
a pessoas jurídicas, decorrentes de contratos de fornecimento
de bens e/ou serviços.
DISPOSITIVOS LEGAIS: Constituição Federal de 1988, art.
158, I; Lei nº 5.172, de 1966 (Código Tributário Nacional), art. 86,
inciso II, §§ 1º e 2º; Decreto-Lei nº 62, de 1966, art. 21; Decreto nº
3.000, de 1999 (Regulamento do Imposto de Renda), arts. 682, I,
e 685, II, a; Instrução Normativa RFB nº 1.455, de 2014, arts. 16 e
17; Parecer Normativo RFB nº 2, de 2012; Parecer PGFN/CAT nº
276, de 2014.

Instrução Normativa nº 1.599/2015:

Art. 6º A DCTF conterá informações relativas aos


seguintes impostos e contribuições administrados pela

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RFB:
[...]
II - Imposto sobre a Renda Retido na Fonte (IRRF);
[...]
§ 7º Os valores relativos ao IRRF incidentes sobre
rendimentos pagos a qualquer título a servidores e
empregados dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, bem como de suas autarquias e fundações,
recolhidos pelos referidos entes e entidades, no código de
receita 0561, não devem ser informados na DCTF.

Conforme argumenta, a mudança da óptica da União


pode vir a restringir o direito do Estado apenas ao imposto de
renda retido sobre valores pagos a servidores e empregados,
excluindo o que arrecadado a partir dos rendimentos
creditados a pessoas jurídicas decorrentes de contratos de
fornecimento de bens e prestação de serviços.

Ressalta a competência do Supremo, considerado o artigo


102, inciso I, alínea “f”, da Lei Fundamental.

Afirma ter a Carta de 1988, em comparação ao texto


anterior, ampliado a participação dos Estados na receita
oriunda do imposto de renda retido na fonte – artigo 157, inciso
I. Assevera que a literalidade do dispositivo contempla como
pertencente a esses entes o produto da arrecadação incidente na
fonte sobre rendimentos pagos a qualquer título por eles,
autarquias e fundações, não comportando a limitação
pretendida pela União.

Aduz haver sido essa a visão da União até dezembro de


2015, quando editou a Instrução Normativa nº 1.599, referente à
dispensa de apresentação, na Declaração de Débitos e Créditos
Tributários Federais Mensal – DCTF, de informações relativas às
retenções na fonte efetuadas por Estados e Municípios.

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Afirma a inconstitucionalidade da Instrução Normativa


por ofensa ao princípio da legalidade e à literalidade da norma
do artigo 157, inciso I, da Carta da República.

Assinala não poder a disciplina contida no artigo 64 da Lei


nº 9.430/1996 justificar interpretação que implique fixar limites
artificiais para a partilha da receita tributária estabelecida no
Texto Maior.

Articula com a presença dos pressupostos ensejadores da


tutela de urgência, mencionando os artigos 300 e seguintes do
Código de Processo Civil, em vigor desde 18 de março de 2016.
Frisa o risco de, prevalecendo o entendimento da União, ter
contra si exigido o imposto de renda retido na fonte referente
aos pagamentos efetuados a pessoas jurídicas. Aduz a piora no
atendimento aos direitos fundamentais da população. Segundo
narra, por entender inconstitucional a obrigação, corre o risco
de ser inscrito no Cadastro Informativo de Créditos não
Quitados do Setor Público Federal – Cadin, o que acarretaria
sérios prejuízos à administração estadual.

Requer o implemento de liminar para que a União se


abstenha de impor qualquer restrição ou punição ao Estado e
respectivas autarquias e fundações em razão da arrecadação do
referido tributo.

Pretende, alfim, a declaração do direito do Estado, das


respectivas autarquias e fundações ao produto do imposto de
renda retido na fonte incidente “sobre rendimentos pagos a
qualquer título”, incluídos os pagamentos feitos a pessoas
naturais e jurídicas decorrentes de bens ou serviços.

O processo está concluso para apreciação da medida


acauteladora.

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2. Ao primeiro exame, o artigo 157, inciso I, da Constituição Federal


define como pertencentes aos Estados o imposto da União sobre a renda e
proventos de qualquer natureza, incidente na fonte, sobre rendimentos
pagos. Vale dizer que a referência, contida no preceito, a proventos de
qualquer natureza, com alusão à incidência do imposto na fonte,
direciona a afastar-se como relevante articulação sobre a abrangência, a
ponto de alcançar a citada retenção quanto a pagamentos diversos, como
são os relativos a contratos de fornecimento de bens e serviços.

3. Indefiro a liminar.

4. Citem a ré.

5. Publiquem.

Brasília, 7 de março de 2017.

Ministro MARCO AURÉLIO


Relator

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