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Universidade de São Paulo

Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”

Barreiras comerciais à exportação de carne de frango brasileira

Paula Godoy Tavares Junqueira

Piracicaba
Ano 2015
Paula Godoy Tavares Junqueira
Graduanda em Ciências Econômicas

Barreiras comerciais à exportação de carne de frango brasileira

Orientador:
Profa. Dra. SÍLVIA HELENA GALVÃO
MIRANDA

Piracicaba
Ano 2015

1
Sumário

1-Objetivo ........................................................................................................... 3
2-Introdução ....................................................................................................... 3
3- Revisão de literatura ...................................................................................... 4
3.1- Mercado brasileiro de exportação de carne de frango ................................ 4
3.2- Identificação dos problemas comerciais do Brasil na exportação de carne
de frango ............................................................................................................ 8
3.2.1- Barreiras tarifárias .................................................................................... 8
3.2.2- Barreiras não tarifárias ........................................................................... 10
3.3- Barreiras comerciais sobre o comércio de carne de frango ...................... 11
4- Considerações finais .................................................................................... 18
Referências bibliográficas ................................................................................ 20

2
1-Objetivo
Este trabalho tem por objetivo expor as principais barreiras comerciais-
tarifárias e não tarifárias- impostas à carne de frango brasileira nos principais
mercados de destino. Dentre elas, destacam-se as barreiras sanitárias, que
vêm se mostrando um dos maiores empecilhos à exportação nacional desta
mercadoria.

2-Introdução
O Brasil mantém-se desde 2004 como o maior exportador de carne de
frango do mundo, segundo dados da Associação Brasileira de Produtores e
Exportadores de Frango (ABEF), fato que demonstra a importância comercial e
financeira deste produto para economia do país. No entanto, as sucessivas
restrições comerciais impostas por outras nações ameaçam essa liderança de
mercado. Somente o embargo imposto pela Rússia, em 2011, provocou em
prejuízo de 126 milhões de dólares na balança comercial brasileira desse ano,
de acordo com dados da União Brasileira de Avicultura (UBABEF). Levando-se
em conta que os russos ocupavam, no mesmo período, a décima quinta
posição no ranking dos principais importadores de carne de frango
(SECEX/MDIC), pode-se perceber a relevância do assunto para o âmbito
nacional.

O setor também apresenta grande importância social. De acordo com


a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), o número de empregos
oficiais gerados no abate e processamento de carne de frangos era de
aproximadamente 150 mil postos de trabalho em 2012. Se considerar toda a
cadeia produtiva, isto é, todas as etapas para produção de carne de frango,
desde o cultivo de milho para a alimentação do animal até seu abate, estima-se
que cerca de um milhão de empregos gerados em todo território brasileiro
sejam dependentes desse processo.

Entre os estados produtores, o Paraná tem papel de destaque nas


exportações nacionais (28,74%), seguido por Santa Catarina (26,12%), Rio
Grande do Sul (18,54%) e São Paulo (7,07%) (ABPA, 2012). Apesar da
produção em larga escala predominante na região sul, voltada principalmente

3
para o comércio internacional, em algumas localidades do país, sobretudo
nordeste e sudeste, observa-se uma produção de caráter familiar, concentrada
em propriedades com até 100 hectares (Embrapa, 2015).

Entre 2010 e 2014, as exportações de carne de frango do Brasil


saltaram de 2, 720 bilhões para próximo de 3 bilhões de dólares. Os principais
destinos desses produtos nesse período foram Arábia Saudita, Venezuela,
Emirados Árabes e Reino Unido (MDIC, 2014). O crescimento das exportações
para esses mercados pode ser explicado pelo rígido controle sanitário do
produto, qualidade e preços acessíveis do produto brasileiro e pelo aumento da
demanda mundial pela carne de frango, que é hoje o maior substituto da carne
bovina (UBPA, 2014).

Diante de exposto, este artigo procura mostrar as barreiras comerciais


de maior relevância enfrentadas pelo Brasil à carne de frango nos últimos cinco
anos e discutir seus impactos ao contexto nacional.

3- Revisão de literatura

3.1- Mercado brasileiro de exportação de carne de frango


A exportação de carne de frango brasileira vem crescendo a taxas
significativas desde 1998, atingindo, em 2004, a quantidade de 2,47 milhões de
toneladas de carne de frango enviadas ao exterior. Nesse ano, o Brasil
assumiu a posição de maior exportador mundial, ocupando o lugar dos Estados
Unidos. Atualmente, o volume de exportações continua a crescer; de acordo
com estimativas da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), espera-
se que em 2015 haja um aumento entre 3 e 4% no total de carne de frango
exportada pelo país, que, em 2014, foi de 4,1 milhões de toneladas. A Figura 1
mostra a evolução do volume exportado de carne de frango brasileira. Segundo
o Ministério da Agricultura, até 2020, a expectativa é que a produção
nacional de carne de frango abastecerá 48,1% das exportações mundiais. Um
dos critérios usados nessa suposição é a provável desvalorização do real
frente ao dólar, intensificando a compra deste produto pelos demais países
(ABPA, 2014).

4
Figura 1- Exportações brasileiras de carne de frango (em mil toneladas- de
1990 a 2014).

Fonte: Elaborado pelo autor com dados do Aliceweb.

Através do gráfico, nota-se um crescimento contínuo das exportações de


carne de frango a partir dos anos 2000. Em 2006, houve uma redução no total
de exportações do produto, que pode ser explicada pela confirmação de um
caso da doença Newcastle na cidade de Vale Real (RS). Neste período, alguns
países, como a Argentina e o Canadá, deixaram de importar frango do Brasil,
retomando somente após a comprovação do desaparecimento da doença.
Outros (África do Sul, União Europeia e Japão) apenas reduziram o volume
importado (Agronotícias, 2006).

Apesar do alto volume exportado, cerca de 70% de toda a produção


nacional de frango permanece no mercado interno. O brasileiro é o segundo
maior consumidor de carne de frango do mundo, atrás apenas dos americanos,
com um consumo per capita de aproximadamente 42 quilos por ano. O produto
também é a proteína animal mais ingerida no território nacional desde 2008
(UBPA, 2014).

Dos 30% exportados, 37% são destinados ao Oriente Médio, sendo a


Arábia Saudita o maior importador. Esses países de maioria islâmica exigem

5
de seus fornecedores critérios diferenciados durante o processo de criação,
confinamento e abate do animal, o chamado halal. Segundo The Islamic Food
and Nutririon Council of América e The Muslim Food Board (UBPA, 2014), o
halal é uma palavra que significa legal, sendo que todos os alimentos são
considerados halal exceto:

- carne de porco e seus derivados;


- animais abatidos de forma imprópria ou mortos antes do abate;
- animais abatidos em nome de outros que não sejam Alá;
- sangue e produtos feitos com sangue;
- álcool e produtos que causem embriaguez ou intoxicação; e
- produtos contaminados com algum dos produtos acima.
Animais como os bovinos, caprinos, ovinos, frangos podem ser
considerados Halal, desde que sejam abatidos segundo os Rituais
Islâmicos (Zabihah).

A técnica de abate halal deve seguir os seguintes passos:

1- O animal deve ser abatido por um muçulmano que tenha atingido a


puberdade. Ele deve pronunciar o nome de Alá ou recitar uma oração
que contenha o nome de Alá durante o abate, com a face do animal
voltada para Meca.
2- O animal não deve estar com sede no momento do abate.
3- A faca deve estar bem afiada e ela não deve ser afiada na frente
do animal. O corte deve ser no pescoço em um movimento de meia-
lua.
4- Deve-se cortar os três principais vasos (jugular, traqueia e
esôfago) do pescoço.
5- A morte deve ser rápida para evitar sofrimentos para o animal.
6- O sangue deve ser totalmente retirado da carcaça.

O Brasil conquistou grande parte desse mercado, tornando-se o maior


exportador de frango halal do mundo (UBPA, 2014). Isso lhe proporciona uma
vantagem econômica considerável, uma vez que esses países que não
consomem carne suína. A Tabela 1 mostra os principais importadores de carne
de frango do Brasil, em 2014, no acumulado até fevereiro de 2015.

Tabela 1- Principais importadores de carne de frango do Brasil (de janeiro de


2014 a fevereiro de 2015).

Valores (em milhões Quantidade importada (em


Países de dólares) milhões de kg)
Arábia Saudita 934,6 562,9

6
Venezuela 438,6 206,6
Emirados Árabes Unidos 292,1 172,7
Reino Unido 161,0 44,1
Países Baixos (Holanda) 159,0 44,2
Coveite 140,0 89,6
Egito 134,8 85,7
Iêmen 126,1 83,0
Fonte: Elaborado pelo autor com dados do Aliceweb.

Com relação às regiões exportadoras, o Paraná e Santa Catarina


lideravam, com 28,7% e 26,1% de participação, respectivamente em 2012.
Depois vem o Rio Grande do Sul (18,5%), São Paulo (7%), Goiás (5,24%),
Minas Gerais (4,63%), Mato Grosso (4,47%) e Mato Grosso do Sul (3,19%). O
recente crescimento no centro-oeste deve-se, principalmente, ao fato dessa
região ser grande produtora de grãos, sobretudo a soja, alimento
preponderante na alimentação de frangos (UBPA, 2014).

Outro ponto a ser ressaltado é a proporção de cada segmento de carne


de frango no total exportado do setor. A porcentagem de cada categoria de
produto de frango exportado pelo Brasil é apresentada na tabela 2.

Tabela 2- Principais categorias de produtos de carne de frango brasileira


destinados à exportação (dados de janeiro de 2014 a março de 2015).

Receita em Total de kg
NCMs Segmentos de carne de frango destinados à exportação dólar (milhões) (milhões)
2071400 Frango em pedaços congelado 5.375,3 2.755,0
2071200 Frango inteiro congelado 2.871,4 1.725,2
16023220 Preparações de frango cozido (conteúdo de carne > 57 %) 363,8 94,1
16023230 Preparações de frango (25% < conteúdo de carne < 57 %) 142,3 77,3
16023210 Preparações de frango não cozido (conteúdo de carne > 57 %) 71,9 23,6
2071300 Frango em pedaços frescos/refrigerados 0,719 0,51
2071100 Frango inteiro frescos/refrigeradas 0,340 0,03

Fonte: Elaborado pelo autor com dados do Aliceweb.

Observa-se que o frango em pedaços, principalmente o produto


congelado, domina o mercado de exportação brasileiro, representando mais da

7
metade de toda a receita obtida do comércio internacional desse setor. Em
seguida, no total exportado, vem o frango inteiro e as preparações de frango
cozido e não cozido.

No Brasil, todas essas exportações de carne de frango ficam


concentradas à atuação de duas empresas: BRF e JBS. Em 2013, de acordo
com dados da União Brasileira de Avicultura (Ubabef), elas foram
responsáveis, juntas, por 70% do volume exportado pelo país. A BRF
(companhia que agrega marcas como Sadia, Perdigão, Qualy, entre outras) é a
maior processadora de carnes de frango no Brasil e lidera esse mercado
exportador com aproximadamente 45% do total de vendas externas do país. A
JBS (incluiu Swift, Friboi, Seara, entre outras) ocupa o segundo lugar, com
cerca de 25%, seguido pela Aurora, que apresenta uma participação bem mais
modesta (3,5%).

3.2- Identificação dos problemas comerciais do Brasil na exportação de


carne de frango

Barreiras comerciais são os regulamentos do governo que estabelecem


restrições ao livre comércio de mercadorias no âmbito internacional. As
barreiras impostas às exportações de carne frango do Brasil, especificamente,
vêm causando sérios prejuízos ao setor. De acordo com estimativas da
Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), somente no ano de 2014,
mais de 3,6 milhões de toneladas das exportações do Brasil desse produto
foram embarcadas no comércio internacional.

As restrições ao comércio podem ocorrer via políticas tarifárias ou via


outros tipos de regulação como a sanitária, técnica, ambiental. Abaixo,
conceituam-se algumas das principais políticas de restrição ao comércio
internacional.

3.2.1- Barreiras tarifárias


O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior define
barreira tarifária como sendo barreiras criadas pela incidência de tarifas para

8
importação de produtos, como as taxas diversas, a valoração aduaneira e os
impostos de importação em geral. Atualmente, procura-se restringir a
imposição desse tipo de barreira no comércio internacional, dada a busca
constante pela liberalização dos mercados. No entanto, esse processo vem
ocorrendo de forma lenta e gradual. Dessa forma, as barreiras não tarifárias
conquistam uma importância relativa maior no cenário internacional (Inmetro,
2014).

De acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio


Exterior (MDIC, 2007), quando aplicada de forma excessiva na economia, as
barreiras tarifárias causam efeitos significativos nos mais diversos setores. São
eles o efeito sobre a produção e o efeito sobre o consumo, principalmente.
Quanto ao primeiro as tarifas tendem a aumentar a produção do bem protegido
à custa da diminuição de um segundo bem não imune, que costuma ser o
produto importado concorrente. Outra consequência possível, ainda do lado da
oferta, é a redução do bem estar econômico, ocasionado por uma alocação
ineficiente de recursos, que serão aplicados na produção doméstica. Em
relação ao efeito sobre consumo, as tarifas tendem a reduzir o consumo do
bem protegido por conta dos efeitos renda - variação na demanda devido à
redução do poder aquisitivo da população - e substituição – o bem mais caro é
menos procurado em relação a seus substitutos mais baratos.

As quotas tarifárias representam uma barreira tarifária usada pelos


países para proteção do mercado. Elas estabelecem limites à entrada de
produtos e são impostas por meio de duas tarifas simultâneas. Inicialmente,
cobra-se uma tarifa reduzida sobre as importações realizadas até o limite do
volume da quota (tarifa intraquota). Ultrapassado este volume, sobre as
quantidades adicionais importadas incide uma tarifa maior (tarifa extraquota),
na tentativa de restringir consideravelmente a compra externa de determinada
mercadoria. Além da quota e das tarifas, frequentemente, um empecilho ao
comércio diante do uso da quota-tarifária é a sua forma de distribuição
(CUNHA FILHO, 2003).

No curto-prazo e por um período predeterminado, as barreiras


aduaneiras forçam as indústrias locais a se modernizarem para poderem

9
competir com a concorrência externa. No entanto, a aplicação de barreiras
permanentes ocasiona uma acomodação do setor industrial. Os países que se
utilizam de elevadas tarifas sobre produtos alimentícios, como para a carne de
frango, acabam por elevar o custo de vida com alimentos e prejudicar os
produtores mais eficientes. (Inmetro, 2012).

3.2.2- Barreiras não tarifárias


As barreiras não tarifárias são as que mais prejudicam o livre comércio
de carne de frango brasileiro; dentre elas, destacam-se as medidas sanitárias.
Segundo o Instituto de Estudos de Comércio e Negociações Internacionais
(ICONE, 2010), barreira sanitária pode ser definida como: “barreira não tarifária
que visa proteger a vida e a saúde humana e animal, de riscos oriundos de
contaminantes, aditivos, toxinas, agrotóxicos, doenças, pestes e organismos
causadores de doenças”.

O Acordo sobre Medidas Sanitárias e Fitossanitárias (SPS) é o principal


documento regulamentador de medidas sanitárias e fitossanitárias no âmbito
multilateral, referência para os países membros da OMC. Ele legitima
“exceções ao livre comércio, as quais podem ser utilizadas pelos Membros da
OMC quando houver necessidade de proteger a vida e a saúde humana,
animal e vegetal” (OMC, 2015), além de garantir o bem-estar da população,
sem, contudo, impedir a livre circulação de produtos (Inmetro, 2012).

Além disso, a prática de dumping e barreiras técnicas também são


obstáculos que restringem a comercialização entre as nações (MDIC, 2015).

O dumping, de acordo com o General Agreement on Tarifs and Trade


(GATT), consiste na “oferta de um produto no comércio de outro país a preço
inferior a seu valor normal, no caso do preço de exportação do produto ser
inferior àquele praticado, no curso normal das atividades comerciais, para o
mesmo produto quando destinado ao consumo do país exportador” (Código
Antidumping do GATT).

As barreiras técnicas são barreiras não tarifárias resultantes de


procedimentos de avaliação não transparente ou que não se baseiam em
normas aceitas no âmbito internacional. O Acordo sobre Barreiras Técnicas ao
10
Comércio (Acordo TBT) é o documento da OMC que visa conter essa utilização
inadequada de regulamentos e padrões técnicos (MDIC, 2014).

O Acordo TBT determina que “regulamentos técnicos, normas e


procedimentos de avaliação da conformidade não devem criar obstáculos
desnecessários ao comércio internacional”. O Artigo 2.2 estabelece que os
regulamentos técnicos não devem ser mais restritivos ao comércio do que o
necessário para atender a um objetivo legítimo. Ele também determina que os
regulamentos técnicos e as normas devam ser eliminados assim que as
circunstâncias que levaram a sua adoção deixarem de existir (MDIC, 2014).

3.3- Barreiras comerciais sobre o comércio de carne de frango

A avicultura nacional evoluiu da criação doméstica, predominante até os


anos de 1970, para a produção industrial em larga escala, representando hoje
um setor de grande importância no comércio exterior. Essa mudança ocorreu
graças a aumentos consideráveis de investimentos no setor, que passou a ser
visto como uma oportunidade concreta para empreendedores (LIMA, 2003).

Em 1984, o Brasil voltou sua produção para um mercado mais


valorizado, dirigindo parte da produção interna de carne de frango ao mercado
externo. A Rússia e a Europa foram os principais impulsionadores do setor
nesse período (LIMA, 2003). Desde 2004, o Brasil se mantém como o maior
exportador mundial de carne de frango, com baixos custos de produção (SILVA
e SILVA, 2005).

Apesar de seu constante aprimoramento e expansão, a produção de


carne de frango sofre com problemas relacionados ao comércio, devido às
barreiras comerciais. Assume-se que, por vezes, essas barreiras (impostas
frequentemente por países desenvolvidos) resultam de protecionismo, cuja
finalidade é amparar a indústria interna (SILVA e SILVA, 2005).

Uma pesquisa feita por SILVA e SILVA (2005) com as principais


empresas exportadoras do setor revelou que as maiores dificuldades quando
se trata de comercializar externamente sua mercadoria estão na forte

11
concorrência, alto custo aduaneiro, saturação dos portos e barreiras tarifárias e
não tarifárias. Dados mostram que ao menos 60% dessas medidas afetam o
preço ou o volume de venda da carne de frango exportada. Isso acaba coibindo
novas empresas interessadas no seguimento, uma vez que precisariam se
adaptar a todas as exigências determinadas pelos países importadores (SILVA
e SILVA, 2005).

Tem-se uma alegação atual envolvendo o Brasil, determinada pela


Organização Mundial do Comércio. Trata-se de uma medida sanitária movida
pela Rússia, em 2011, que se encontra em vigor. As acusações são de que os
frigoríficos nacionais usam uma solução de cloro para a descontaminação de
carcaças de aves, além de alegarem presença de bactérias na carne, uso
exagerado de antibióticos e inspeção ineficiente dos serviços de defesa
agropecuários no país. O embargo restringe as exportações de 25 dos 62
frigoríficos de carne de frango habilitadas para vender àquele país. O Brasil, por
outro lado, nega as denúncias (OMC, 2015).

Além dessa, tem-se outras barreiras já impostas à carne de frango do


Brasil que causaram prejuízos às vendas. Em maio de 2002, a União Europeia
proibiu a importação de carne de frango que contivesse nitrofurano, um
antibiótico encontrado em medicamentos contra coccidiose, doença infecciosa
que ataca aves e é, por vezes, utilizado nas rações dos animais. Segundo
alegações do bloco, o medicamento é cancerígeno. Com essa determinação,
as importações brasileiras passaram a ser a testadas para a verificação da
presença do remédio, causando um atraso médio de 17 dias na liberação da
mercadoria (SILVA e SILVA, 2005).

O estabelecimento dessa nova exigência foi configurado como barreira


não tarifária pela OMC, já que serviu para restringir a livre circulação do
produto. Isso porque as autoridades brasileiras não foram notificadas, situação
que contradiz o Acordo de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias, o qual
estabelece que quaisquer mudanças normativas devem ser corretamente
avisadas. Ademais, após a determinação, verificou-se que os níveis do
antibiótico estavam dentro dos padrões internacionais (SILVA e SILVA, 2005).

12
Ainda em 2002, a União Europeia alterou a descrição aduaneira para
corte de peito de frango salgado prevista até então. Antes, a carne de frango
brasileira era classificada como carne temperada, devido ao teor de sal
existente. Com a mudança, a UE passou a considerar o produto com até 1,9%
de sal como sendo ‘in natura’, o que prejudicou as exportações para esse bloco
– as vendas brasileiras caíram 80% (SILVA e SILVA, 2005).

O agravante foi um acordo firmado entre o Brasil e a União Europeia


durante a década de 1990, que estabelecia uma cota anual de importação de
15 mil toneladas para cortes in natura provenientes do Brasil. Caso o limite
fosse excedido, a tarifa seria de 70% sobre o valor CIF (Cost, Insurance
and Freight) do produto. Assim, a maioria das exportações de carne de frango
para esses países – cerca de 80% - eram de cortes salgados e somente 20%
eram ‘in natura’. Esse acordo associado à alteração na descrição aduaneira
levou a um aumento das tarifas de importação para grande parte dessas
mercadorias (SILVA e SILVA, 2005).

Por não existir nenhuma justificativa científica que ratifique a alteração, a


nova medida adotada foi classificada como barreira não tarifária, cujo único
objetivo foi a proteção do mercado interno. A veracidade disso se confirma no
fato da determinação ser válida apenas para carnes importadas, já que não
houve mudanças para o comércio interno (SILVA e SILVA, 2005).

O longo histórico de barreiras adotado pela União Europeia à carne de


frango brasileira inclui também quotas tarifárias à exportação do produto. As
tarifas intraquotas permitem uma importação a tarifas mais baixas até uma
quantidade pré-estabelecida do produto (quota). Cobra-se uma tarifa maior
(tarifa extraquota) às importações que ultrapassam o limite estabelecido. Essas
tarifas variam de acordo com a classificação específica do produto, como
demonstrado na Tabela 3.

13
Tabela 3- Tarifas intra e extraquota aplicadas à carne de frango brasileira pela
União Europeia.

Fonte: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

Nota-se que ambas as tarifas (intra e extraquota) aplicadas a frangos


inteiros são bastante significativas, considerando que a quantidade
estabelecida para exportação brasileira desse tipo específico de categoria não
é tão elevada. Cabe ressaltar também a alta tarifa intraquota aplicada à
desossados (Cota 2 de cortes de frango).

A Figura 2 mostra a quantidade especificada, em toneladas, à carne de


frango brasileira pelos países da União Europeia (Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento, 2013).

14
Figura 2- Quantidade especificada (quota) à carne de frango brasileira pela
União Europeia.

Quantidades (toneladas)
Frango inteira

Cota 1

Cota 2

Cota 3

Cota de frango específica


para o Brasil
Cota específica para o
Brasil (frango salgado)

Fonte: Elaborado pelo autor com dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e


Abastecimento.

Ao se comparar a média ponderada das tarifas MFN - direitos


aduaneiros aplicados a todos os Membros da OMC - aplicada à carne de
frango do Brasil e ao resto do mundo, como exposto na Figura 3, nota-se que
ambas são bastante próximas e constantes (OMC, 2015). No entanto, a tarifa
aplicada ao Brasil ainda se mostra um pouco mais representativa nos anos
anteriores a 2006, quando ambas se igualam.

A tarifa aplicada imposta pela União Europeia ao frango brasileiro é


extremamente similar à tarifa MFN, diferindo somente nos anos de 2011 a
2013. Nesse período, a tarifa aplicada (AHS) ao frango nacional foi de 2,90,
enquanto a tarifa MFN foi de 6,4. A tarifa consolidada (bound rate), nível
tarifário máximo MFN para uma determinada linha de mercadoria, não divergiu
em nada da MFN durante o período analisado.

15
Figura 3- Média ponderada das tarifas MFN aplicadas à carne de frango do
Brasil e do resto do mundo.

Média ponderada das tarifas


7.00

6.00
Média
ponderada
5.00 tarifas
(mundo)-
MFN
4.00
Média
3.00 ponderada
tarifas
(Brasil)-
2.00 MFN

1.00

0.00
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Fonte: Elaborado pelo autor com dados WITS.

Outra barreira não tarifária imposta à carne de frango brasileira ocorreu


em setembro de 2004 e foi imposta pela Rússia, um grande importador do
produto. A alegação russa para o embargo foi sua prevenção contra casos de
febre aftosa, já que um foco da doença havia sido detectado no Amazonas. No
entanto, as aves não são infectadas pelo vírus, que incide apenas em bovinos,
bubalinos, ovinos, caprinos e suínos (as aves serviriam como meio de
transporte e disseminação da doença). A justificativa para essa proibição foi de
que a febre aftosa era apenas uma das outras muitas doenças que poderiam
afetar a carne importada, uma vez que a Rússia entendia que o Brasil não
buscava intervenções eficientes para a eliminação do vírus (SILVA e SILVA,
2005).

Em novembro do mesmo ano, o embargo foi parcialmente revogado -


liberou-se o comércio com o estado de Santa Catarina, região que havia sido
reconhecida pela OIE (Organização Mundial de Saúde Animal) como zona
16
“livre de febre aftosa sem vacinação”. Em dezembro, a Rússia decretou o fim
absoluto da medida para todas as regiões, logo após a confirmação de que o
Brasil estava livre de focos da febre aftosa (SILVA e SILVA, 2005).

A Argentina também já se envolveu em uma disputa comercial com o


Brasil, acusando-o de praticar dumping. O incidente ocorreu em julho de 2001,
quando foram fixados preços mínimos para a carne de frango, pelo governo
argentino. O Brasil, que não concordou com as acusações, abriu um painel na
OMC, pedindo a retirada das medidas. Cerca de um ano após o requerimento,
o relatório final do painel deu ganho de causa ao Brasil, resultando na
obrigação de retirada das restrições impostas pela Argentina (ROCHA e
WILKINSON).

Por fim, em 2006, a confirmação de um caso da doença Newcastle na


cidade de Vale Real (RS) causou problemas às exportações de frango
brasileiro em 38 de seus mercados (Agronotícias, 2006).

O Newcastle é uma doença viral que acomete aves em geral, sobretudo


galinhas. É extremamente contagiosa e pode ser transmitida a outras aves
através de contato direto ou por meio de fezes infectadas. Os principais
sintomas provocados pelo vírus nas aves são: doença respiratória severa,
diarreia, distúrbios neurológicos e até morte súbita. A produção de ovos
também reduz significativamente. Em humanos, a manifestação mais comum
da doença é nos olhos, causando conjuntivite e inchaço nos olhos. A
preocupação se torna ainda maior por não haver tratamento para o Newcastle
(EMBRAPA, 2006).

O receio da doença fez com que a Argentina e o Canadá proibissem a


compra de qualquer tipo de frango e derivados provenientes do estado do Rio
Grande do Sul. Os 25 países membros da União Europeia comunicaram um
embargo apenas para a carne gaúcha in natura produzida em um raio de 10
quilômetros a partir do foco, além de proibir a comercialização de aves vivas de
todo o país. Já a África do Sul e o Japão estabeleceram uma região com raio
de 50 quilômetros do foco, que permaneceria restrita das transações
econômicas até a comprovação do completo desaparecimento da doença.
(Agronotícias, 2006).

17
Tabela 3- Resumo das principais barreiras comerciais aplicadas a exportação
de carne de frango do Brasil.

Principais barreiras comerciais impostas à carne de frango brasileira


Medida sanitária (utilização de medicamento cancerígeno)
União Europeia 2002 Alteração da descrição aduaneira para corte de peito de frango salgado
Cotas tarifárias
Rússia 2004 Caso de febre aftosa
Argentina 2011 Práticas de dumping
Argentina, África
do Sul, Canadá,
União Europeia, 2006 Newcastle
Japão
Rússia 2011 Medida sanitária (utilização de solução de cloro - em vigor)

Fonte: Elaborado pelo autor.

4- Considerações finais
Este trabalho teve como objetivo apresentar algumas das barreiras
comerciais impostas à carne de frango brasileira pelos principais importadores
do produto. Para isso, fez-se um levantamento de dados sobre o tema e, a
partir deste, realizou-se uma análise para verificar os efeitos dessas restrições
comerciais ao Brasil.

Conclui-se que as barreiras comerciais sobre o comércio de carne de


frango afetam significativamente a quantidade brasileira exportada da
mercadoria, prejudicando grande parte do setor avícola do país destinado à
exportação.

Um dos desafios atuais do setor é a exportação de resfriados em


detrimento da venda de frangos inteiros, já que esse tipo de produto tem maior
valor agregado e atende ao consumidor moderno, que busca maior praticidade
na preparação de refeições.

Outro obstáculo é a garantia do bem-estar e da rastreabilidade animal,


fatores cada vez mais reivindicados pelos países importadores, sobretudo
pelos compradores europeus. A rastreabilidade tem grande importância na

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conquista de novos mercados - a Europa restringiu a compra de carne não
rastreável desde 2002 – e permite ao cliente a identificação de todos os
insumos utilizados no desenvolvimento do animal, além dos possíveis perigos à
saúde a que foram expostos durante o seu crescimento.

Apesar de tais dificuldades, a cadeia produtiva da avicultura de corte é


extremamente produtiva e coordenada, o que lhe garante boa inserção e
competitividade no cenário internacional. Por tudo isso, o Brasil mantém-se
desde 2004 como o maior exportador de carne de frango no contexto mundial,
com tendências a conservar essa posição no futuro.

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