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Universidade de Brasília, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo

Notas de Aula da Disciplina “Métodos e Técnicas na Projetação Arquitetônica” – 2004


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Prof. Frederico Flósculo Pinheiro Barreto – Depto. de Projeto, Exp.& Rep. em Arq. & Urb.

Crime Prevention through


Environmental Design (CPTED): Yes,
No, Maybe, Unknowable, and All the
Above.
(Prevenção de Crimes através do Projeto Ambiental: Sim, Não, Talvez, Não
se pode saber, e Todas as Alternativas Acima 1 )

Ralph Taylor

Tradução: Prof. Frederico Flósculo Pinheiro Barreto

O título deste capítulo transmite uma idéia simples. Se fizermos escolhas


corretas ao construirmos, mantermos e modificarmos os ambientes físicos em
que vivemos, trabalhamos, viajamos e nos recreamos, nós seremos capazes de
impedir que alguns crimes aconteçam, que atinjam a nós mesmos ou à nossa
propriedade. Essa idéia parece ter fundamento pela observação corriqueira –
que nos leva a focalizar a atenção nas vizinhanças urbanas, que tomaremos
como exemplo – de que aqueles lugares onde há o registro de maior ocorrência
de crimes são bem diferentes daqueles lugares em que o registro de ocorrência
de crimes é bem menor. Os locais com maiores taxas de ocorrência de crimes
são, provavelmente, de maior adensamento de moradores e transeuntes,
geralmente vizinhanças antigas, cujas ruas são fortemente usadas pelo trânsito
da cidade, e que apresentam usos do solo que misturam comércio (e talvez usos
industriais) em meio ao uso residencial.

Uma cadeia de raciocínios opera aqui: há mais crime em alguns lugares


que em outros; a forma urbana ditada pelo projeto de urbanismo muda de lugar
para lugar; o projeto de urbanismo, portanto, é o grande responsável pelas
diferenças que podemos constatar entre distintos lugares; daí que se
modificarmos os lugares com alta ocorrência de crimes através do projeto físico,
essa ocorrência será afetada, declinará. Em homenagem a dois shows norte-
americanos que fazem muito sucesso na atualidade [o artigo foi escrito em junho
de 2001], Who Wants to be a Millionaire, e The Weakest Link, eu organizei o
conjunto do capítulo como uma série de respostas de múltipla escolha à

1
Capítulo 27 do livro Handbook of Environmental Psychology, editado por Robert Bechtel e Arza
Churchman, publicado por John Wiley and Sons, Inc., Nova Iorque, 2002; pp. 413-426.
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seguinte questão: esta corrente de raciocínios está correta ? Temos aqui


algumas possíveis respostas:

a. Não, é incorreta;
b. Sim, é correta;
c. Talvez – será correta a depender de algumas outras condições;
d. Não se pode saber; trata-se de algo cuja verdade é de improvável
alcance;
e. Todas as respostas acima são verdadeiras.

Eu argumentarei neste capítulo que a alternativa “e” é a melhor de todas.


Compreender como cada uma das nossas primeiras quatro diferentes respostas
podem, de alguma forma, ser válidas, nos mostram diferentes maneiras pelas
quais a relação entre projeto físico e criminalidade tem sido conceituada. O
capítulo se inicia pela breve notícia acerca de uma área das políticas públicas
em que essa idéia de estabelecer uma relação entre o projeto e a criminalidade
teve considerável influência. Essa exposição magnifica a relevância dessa
questão acerca da cadeia de raciocínios apresentada e as dificuldades para sua
contestação. As seções seguintes revisam cada um dos termos apresentados no
título deste trabalho, esclarecendo seu escopo. A definirmos prevenção somos
forçados a examinar detidamente os desafios presentes nessa área de estudos,
na medida em que desejamos estabelecer relações de causalidade. Busco,
nesse sentido, revisar cada uma das possíveis respostas à seguinte questão:
Estaria correta a linha de raciocínio apresentada ? Minha conclusão se dá num
breve comentário sobre a necessidade de conhecermos mais acerca da relação
entre projeto físico e criminalidade, consideradas as profundas transformações
que avassalam as paisagens urbanas, suburbanas e rurais em nossos países.

QUESTIONANDO UM EXEMPLO DE GRANDE INFLUÊNCIA

A presunção de que haveria uma relação entre projeto físico e


criminalidade tem uma poderosa influência sobre várias áreas das políticas
públicas. Mesmo que os pesquisadores acadêmicos não estejam seguros de
que o projeto físico possa prevenir a criminalidade, na área da habitação popular
houve gestores que abraçaram essa possibilidade de bom-grado, quase
vingativamente, resultando nas demolições em massa de conjuntos
habitacionais públicos em meio urbano, verticalizados, ao longo dos anos 1990
[nos E.U.A.].
Na onda das desordens urbanas dos meados e finais da década de 1960,
o governo federal norte-americano criou fundos para projetos de pesquisa que
visassem as conexões entre projeto físico e criminalidade em áreas residenciais,
especialmente naquelas criadas pelas políticas públicas de habitação popular
(Kohn, Franck, & Fox, 1975; Newman & Franck, 1980; Taylor, Gottfredson, &
Brower, 1984). O planejador urbano Oscar Newman (1972), tomando por
empréstimo as idéias de uma outra estudiosa, Jane Jacobs (1961), cunhou o
termo espaço defensável (defensible space) e se deteve em um pequeno
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número de aspectos do projeto físico e do sítio de implantação que estariam


associados a ocorrências criminosas. Seu estudo gerou enorme interesse sobre
a idéia de que mudanças no projeto dos conjuntos habitacionais públicos
poderiam motivar os residentes a cuidar de suas áreas comuns, a fiscalizar o
seu uso, e assim auxiliar na prevenção de crimes. Newman criticou
especialmente os projetos de edificações de grande altura, essas torres
minimalistas (Wolfe, 1981) construídas em massa nas cidades norte-americanas
ao longo das décadas de 1959 e 1960, como parte dos programas de renovação
urbana – cujas origens, por sua vez, datavam dos movimentos de arquitetura
socialista, nos idos dos anos 1930.

Apesar de a pesquisa inicial de Newman – mas não seu trabalho posterior


– apresentar problemas em vários aspectos, e suas suposições acerca de como
as pessoas se comportam se mostrarem incorretas (Taylor, Gottfredson, &
Brower, 1980), suas idéias receberam a atenção de gestores públicos, interesse
que foi mantido ao longo dos anos 1980 e 1990. Em meados dos anos 1990, em
parte devido ao impacto de suas idéias, lugares como os descritos em seu
estudo foram demolidos em dezenas de grandes cidades, com financiamento
federal, sendo substituídos por tipologias habitacionais de menor altura ou em
unidades mais esparsas nos loteamentos de interesse habitacional (Popkin,
Gwiasda, Olson, Rosenbaum, & Buron, 2000). Com efeito, os conjuntos
habitacionais formados por edificações muito altas, como no caso do conjunto
Robert Taylor Homes, em Chicago, são conhecidos como as vizinhanças mais
perigosas das cidades norte-americanas (Venkatesh, 2000). Então, os novos
conjuntos habitacionais com seus novos princípios de projeto são mais seguros
? O título deste trabalho sugere que sim.

A ênfase no projeto, no entanto, falha por desconsiderar dois pontos-


chave. No final dos anos 1950 ou no início da década de 1960, a depender da
cidade de onde estamos falando, as autoridades encarregadas das políticas de
habitação popular mudaram suas regras acerca de quem poderia morar nas
comunidades dos conjuntos habitacionais públicos (Popkin et al., 2000). Talvez
como resultado dessa mudança, a presença nesses locais de famílias composta
por dois pais e seus filhos, diminuiu. Se examinarmos a linha de tempo que
associa essa mudança nas políticas públicas à mudança na composição das
famílias moradoras, temos uma certa coincidência com a emergência desses
mesmos lugares como comunidades problemáticas. Além disso, outras
dramáticas mudanças no contexto dessas comunidades dos conjuntos
habitacionais públicos devem ser consideradas, como a segregação das
populações afro-americanas e de outras etnias de cor, nas áreas centrais
urbanas (ao longo dos anos 1970 e 1980), ao mesmo tempo em que os postos
de trabalho melhor remunerados foram retirados dessas áreas centrais urbanas
(Kasarda, 1992; Massey & N. Denton, 1988; Massey & S. Denton, 1993; Wilson,
1996). Essas mudanças contextuais afetam diretamente as chances de
prevenção de crimes com a participação comunitária e as possibilidades de
fortalecer a relação entre o projeto físico e a redução da criminalidade (Hope,
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1997). Em resumo, quando tentamos explicar as mudanças na ocorrência de


crimes, um outra ordem de fatores além dos aspectos físicos é crucial –
especialmente as questões relacionadas à seleção das populações (Tienda,
1991) e ao seu contexto (Weisburd, 1997).

Esse exemplo busca ilustrar dois pontos. Em primeiro lugar, as idéias


acerca da relação entre projeto físico e criminalidade podem ter considerável
impacto público. Além disso, o que parece ser uma questão muito simples – o
projeto pode prevenir crimes ? – mesmo quando examinamos exemplos óbvios
e amplamente conhecidos das “piores práticas”, não é nada fácil de ser
respondida.

DEFINIÇÕES

Antes de resumir algumas diferentes respostas à questão das conexões


entre o projeto físico e a criminalidade, precisamos ter algumas definições à
mão. Por projeto (design) significamos uma ampla variedade de aspectos do
ambiente físico, abrangendo desde os atributos de uma singela moradia ou as
formas de locais como uma rua urbana, um edifício de apartamentos, até a
conformação de todo um bairro. O projeto não apenas se refere a uma ampla
gama de escalas e níveis mas também aspectos múltiplos (Zeisel, 1981). O
maior interesse ocorre naqueles aspectos relativamente permanentes e que são,
explicitamente, determinados por arquitetos ou planejadores: Que distância foi
determinada desde a casa até a rua ? Que distância foi determinada desde esta
até aquela casa ? Quantas janelas esta casa possui ? Em quantos andares foi
construída ? Quão comprido é o quarteirão ? A rua é reta ou curva ? Quantas
faixas para o trânsito de automóveis podem ser acomodadas nessa rua ? Quais
os usos que se permite e se observa na vizinhança ? Por quantas entradas se
tem acesso a esta vizinhança ? Essa vizinhança é cercada, amuralhada ?
Possui muitas árvores ? Se estamos falando, por exemplo, de uma loja de
conveniências, os aspectos que podem ser relacionados à ocorrência de roubos
podem ser argüidos: O quanto da fachada é envidraçado ? O caixa está
localizado de forma a ser facilmente visto desde o exterior da loja ? Aqueles
aspectos físicos de caráter semi-permanente também devem nos interessar.
Num contexto residencial, tais aspectos incluem: os cercamentos das casas,
outras barreiras entre as casas ou entre as casas e as ruas, ou ainda elementos
físicos que demonstram o engajamento dos moradores, sua vigilância e cuidado
(Taylor, 1988). Finalmente, também devemos considerar os traços
comportamentais, como os aspectos físicos resultantes da atividade (ou mesmo
da inação) humana. Dois conjuntos gerais desses traços incluem: a) as
evidências de uma falta de cuidado, que também podemos denominar
incivilidades (incivilities), que incluem o graffiti, o lixo nas ruas, os terrenos
baldios; áreas que não demonstram cuidados pelos vizinhos – nalguns casos, os
carros abandonados parecem parte inseparável dessa paisagem de abandono
(Taylor, 2000a); e b) os sinais de investimento e envolvimento, geralmente
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rotulados como signos de apego (attachment) ou de funcionalidade territorial


(Taylor, 1988).
Por crime, podemos distinguir uma “Parte 1”, que são crimes valorados
como “sérios”, e uma Parte 2, ou crimes valorados como “menos sérios”. Os
órgãos policiais norte-americanos são obrigados a publicar as ocorrências de
oito tipos de crime do tipo Parte 1: quatro tipos de crimes contra as pessoas
(estupro, roubo com uso de violência – robbery -, homicídio culposo ou doloso,
assalto com agravantes de violência), e quatro tipos de crime contra a
propriedade (roubo de bem pessoal – larceny -, invasão de propriedade para
perpetrar roubo – burglary -, roubo de veículo, incêndio criminoso – arson).
Essas ocorrências são coletadas e publicadas anualmente pelo FBI [Federal
Bureau of Investigation, a Polícia Federal norte-americana]. Além disso há um
grande número de crimes “Parte 2”, ou crimes “menores”, que incluem o
vandalismo, a prostituição, a ingestão de bebidas alcoólicas em público ou
embriaguez, e similares. Esse grupo de crimes menores é também referido
como “inconveniências” – nuisances – ou crimes relacionados à qualidade de
vida.
No ponto atual, devido ao debate sobre a importância que ocorrências
como apedrejar janelas e outras incivilidades teriam, tanto os pesquisadores
quanto os políticos estão inseguros acerca do valor dado aos crimes dessa
modalidade ou “Parte 1”, superior ao valor dado aos crimes “Parte 2” (Taylor,
1999, 2000a). Muitos argumentam que os crimes considerados de menor
importância são mais fáceis de prevenir que os crimes de maior importância, e
que a prevenção dos primeiros tem a feliz conseqüência de ajudar a prevenir os
últimos (Bratton, 1998).
No meu estudo, eu adicionei as “chamadas à polícia” à lista de crimes
listados nas modalidades “Parte 1” e “Parte 2”. A variedade de motivos que leva
as pessoas a chamar a polícia é extremamente ampla, e não há nada
consensual acerca de uma forma de classificação dos tipos de chamadas à
polícia que sejam similares, se compararmos estudos de diferentes cidades.
Tipicamente, essas chamadas incluem reclamações quanto a barulho, porte
público de armas, pedidos de assistência a pessoas feridas ou em risco de vida,
para transporte a hospitais, assim como danos à propriedade, violência
doméstica, brigas ou ataques contra pessoas. As chamadas à polícia são, no
entanto, muito mais numerosas do que os crimes efetivamente registrados.
Sendo mais numerosas, torna-se mais fácil observar as diferenças entre os
lugares se examinarmos essas listas de chamadas, mas do que se
examinarmos os registros de ocorrências de crimes.
Mas é mais freqüente que os pesquisadores tomem como base os
registros de ocorrências de crimes, feito à polícia. Tem sido amplamente
reconhecido que numerosos crimes efetivamente observados ou experienciados
não são comunicados à polícia ou outras autoridades (Skogan, 1976). A partir
disso, pesquisadores realizaram surveys sobre ocorrências de vitimização, no
âmbito dos E.U.A., explorando tanto as ocorrências registradas quanto as não
comunicadas (Garofalo, 1990). Mas, devido ao fato de as vitimizações mais
sérias serem eventos raros, requerendo um número muito grande de entrevistas
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até se obtenham taxas de estimativas razoavelmente estáveis, bem como se


considerando que a metodologia de survey para uma correta explicitação dos
episódios de vitimização é bastante extensa, esses dados de ocorrências de
vitimização são raramente utilizados nos estudos das conexões entre projeto
físico e criminalidade.
Por prevenção eu significo a redução do número de crimes observados
ou experienciados, ou ainda comunicados, nas unidades de tempo e de espaço
utilizadas pelo pesquisador, tal como indicadas pelas chamadas à polícia ou
pelos registros de crimes ocorridos (Lab, 1992). (Para se conhecer um quadro
sumário das idéias acerca da prevenção de crimes, ver Lab, 1977).
Evidentemente, é possível que a comunicação de crimes possa aumentar,
mesmo que a ocorrência efetiva de crimes diminua, caso os residentes de um
dado lugar comecem a aumentar a proporção de crimes que passam a
comunicar, mas não examinaremos esse ponto aqui.
Duas questões-chave para que possamos definir se a prevenção é
factual, verificável é: (1) pelo estabelecimento de causalidade, e (2) pelo registro
de fenômenos de prevenção, mais que dos fenômenos de “deslocamento” das
ações criminosas (crime displacement).
A questão de causalidade é dificultada pelo fato de muitos dos estudos
acerca da prevenção de crimes ser mais “transversal / seccional” que
“longitudinal”, no tempo. Imagine um estudo em que se faça a comparação de
dois grupos de comunidades residenciais: um grupo de comunidades “muradas”
e outro que não é “murado”. Comunidades muradas possuem separações físicas
entre elas e o mundo, entra-se nelas por portões, ou entradas muito definidas,
possuem guardas e pessoas encarregadas de sua vigilância. São associadas a
comunidades ricas – como nos casos Gibson Island ou Ten Hills, nos estados
norte-americanos de Maryland e da Califórnia, respectivamente – e sua
popularidade tem crescido ao longo das duas últimas décadas, registrando-se
muitos tipos novos e diferentes de comunidades muradas (Blakely & Snyder,
1997; Wilson-Doenges, 2000); elas podem ser encontradas em zonas centrais
urbanas, em subúrbios e em áreas rurais. Há estimativas recentes de que os
E.U.A. teriam mais de 20.000 comunidades muradas (Blakely & Snyder, 1997).
Suponha que nós encontremos num estudo transversal / seccional que as
comunidades muradas possuem taxas de ocorrência de roubos (burglary, com
invasão da propriedade) mais reduzidas que as comunidades similares, mas
não-muradas; isso não significa que a presença dos muros é a “causa” da baixa
taxa de crimes, por que, como sabemos, uma correlação não significa
necessariamente uma relação de causa – mesmo quando tomamos todos os
cuidados de análise estatística, removendo todos os fatores estranhos que
possam estar presentes. Mas se nós pudermos transformar um certo número de
comunidades não-muradas em muradas, e encontrarmos que, ao longo do
tempo, suas taxas de ocorrência de roubos com invasão de propriedade caíram,
ao mesmo tempo que em comunidades não muradas, simultaneamente
analisadas, essas mesmas taxas se mantiveram, ou cresceram, podemos então
ter mais confiança - ainda que na dependência de um conjunto de fatores que
potencialmente ameaçam a validade interna de nossa recém-descoberta relação
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(Taylor, 1994) -, que essa mudança no projeto físico é parcialmente causadora


da mudança na ocorrência desses crimes. De fato, as pesquisas que se têm
realizado em comunidades muradas sugerem que, inicialmente, as taxas de
ocorrência de crimes de roubo com invasão da propriedade caem após seu
cercamento, mas que essas reduções são temporárias (Blakely & Snyder, 1997).
Causalidade é algo de difícil estabelecimento, de modo geral, nas
questões que relacionam projeto e criminalidade não apenas porque há o
predomínio de estudos transversais / seccionais sobre os estudos longitudinais.
Além disso, se a mudança no projeto está associada a uma unidade de análise,
como uma “comunidade” ou parte de uma comunidade, tal como uma rua de um
bairro, essa mudança deve ser implementada em uma variedade de lugares, de
tal modo que possamos ter clareza acerca da ocorrência de efeitos ao longo de
um gradiente de contextos.
Nos estudos sobre as relações entre projeto e criminalidade, na medida
em que a unidade de análise se estende desde o indivíduo, ou de sua família,
até a comunidade do quarteirão ou da rua, até as instituições ou as vizinhanças,
as coisas se complicam por 3 razões. Tanto num estudo longitudinal ou num
estudo transversal, o pesquisador necessita de um grande número de unidades
de análise, se pretende que sua investigação apresente poder estatístico
suficiente. Por exemplo, um estudo já realizado acerca de espaço defensável –
baseado na segunda geração dessa teoria – relacionando comunidades de
conjuntos habitacionais públicos, envolveu 60 blocos habitacionais, cada um
deles com numerosas unidades domiciliares distintas (Newman & Franck, 1980).
Já para que possa realizar um estudo quase-experimental dos efeitos do
“muramento” de comunidades, você teria, idealmente, que definir algo como 30
(trinta) comunidades que recebessem o tratamento (recebessem muros no
período da pesquisa), e ainda definir outras 30 (trinta) comunidades de controle
– assemelhadas, sem muros. Se o conjunto de comunidades estudadas está
sob a responsabilidade de vários departamentos de polícia, temos então a
considerar as variações que ocorrem no modo pelo qual os crimes são
registrados, e as próprias práticas envolvidas no procedimento de registro, que
adicionam mais uma fonte de variação à base de dados e aos resultados do
estudo.
Além disso, num estudo longitudinal onde a unidade de análise é maior
que o indivíduo, sua família ou um domicílio simples, temos que não apenas um
grande número de unidades de análise é requerido, mas que os pesquisadores
ou planejadores necessitam implementar intervenções no nível do projeto físico
em um grande número dessas unidades de análise. Essas iniciativas
necessariamente envolvem os moradores do local e os líderes da comunidade.
Mesmo assim, registra-se [a espantosa ocorrência] de um antigo estudo de uma
comunidade de um conjunto habitacional público que desconsiderou
completamente o envolvimento dos residentes, e que não hesitou em acordar os
seus moradores, numa certa manhã, com tratores arrasando os jardins defronte
às suas casas (Kohn et al., 1975); outros estudos longitudinais envolvendo
alterações no projeto físico no nível da comunidade de moradores têm envolvido
ativamente esses residentes (Donnely & Majka, 1996; F.J. Fowler & Mangione,
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1986). Esse é um processo notavelmente caro e consumidor de tempo. Não


surpreende que muitos dos estudos longitudinais nessa área, em que alterações
no projeto físico de determinadas unidades de análise foram implementadas, e
que as variações na ocorrência de crimes foram rastreadas, se deram em
somente uma comunidade. Dado a aparente dependência contextual de
algumas conexões entre projeto e criminalidade, como veremos a seguir, esses
estudos de apenas uma comunidade tornam extremamente difícil compreender
tais dependências.
Mais: com grandes unidades de análise, os problemas de sua seleção
tornam-se ainda mais desafiadores, tornando extremamente difícil separar os
impactos do ambiente físico, dos fatores sociais ou econômicos. Em geral, em
muitas comunidades, os que se assemelham comportam-se similarmente 2 . Isso
significa que há aspectos físicos do projeto do local que se relacionam com
fatores sociais e culturais tais como a composição racial ou étnica de uma
comunidade, sua estabilidade, a estrutura familiar, e assim por diante. Mas
também significa, se estamos falando,por exemplo, sobre vizinhanças urbanas,
que os residentes são atraídos para uma localidade devido, em parte, às
pessoas que já moram aí e a outras características do destino. Se retornarmos
especificamente às comunidades muradas, uma análise sugere as casas
pertencentes a comunidades muradas são vendidas por preços mais altos (Bible
& Hsieh, 2001). Como esse tipo de impacto econômico, que também pode
influenciar a ocorrência de crimes, pode ser separado dos impactos físicos do
muramento da comunidade, em si mesmo ? Ou, para oferecer um outro
exemplo, aqueles que são atraídos a morar em comunidades muradas podem
ser os que estão tomados por mais medo do que aqueles que são atraídos a
comunidades não muradas – economicamente comparáveis às primeiras. Se
constatarmos que os moradores de uma comunidade murada estão a expressar
um medo em proporções comparativamente mais elevadas, podemos deduzir
que esse medo é causado pelo ambiente físico da comunidade murada ? Ou
que esses moradores já expressavam esse medo antes de morar nessas
localidades ?
Em resumo, mesmo numa pesquisa planejada longitudinalmente, a
causalidade nas questões entre projeto físico e criminalidade pode ser difícil de
estabelecer quando a unidade de análise é maior que o espaço individual, ou
seu domicílio, ou propriedade, porque: um número amplo de unidades de análise
é necessário para que se obtenha suficiente poder estatístico, e para melhor
compreender de que forma o contexto condiciona a conexão entre ambiente
físico e a ocorrência de crimes; tantos lugares diferentes importam em enormes
dificuldades para a operacionalização da pesquisa, pois em cada caso a
implementação de alterações no ambiente físico pode envolver uma dinâmica
local lenta, em termos sociais e políticos; e, ainda, os problemas de seleção
tornam muito difícil separar a qualidades de cada localidade das qualidades das
pessoas que são atraídas a morar aí.

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No original: “birds of a feather flock together”.
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As unidades de análise em termos do tempo e do espaço são cruciais,


porque o modo como essas unidades são definidas influencia a distinção entre
os fenômenos de deslocamento das ocorrências de ações criminosas (crime
displacement) e os fenômenos de efetiva prevenção de crimes. A ocorrência de
crimes pode ser deslocada espacialmente, temporalmente ou ainda de vários
outros modos (Barnes, 1995). Os pesquisadores que observam uma família
muito especial de alterações no ambiente físico – denominadas “Iniciativas
Situacionais de Prevenção de Crimes” (situational crime prevention initiatives),
como veremos a seguir – têm registrado com sucesso os efeitos de
deslocamento da criminalidade (crime displacement) provocados por Iniciativas
Situacionais de Prevenção de Crimes assumem a proporção de “menos de um
crime deslocado por cada crime prevenido”. Eles têm proposto que em
determinadas instâncias localidades adjacentes podem experienciar uma certa
difusão de benefícios (Clarke & Weisburd, 1994), usufruindo de uma segurança
reforçada apenas por estarem próximas a uma localidade de prevenção bem-
sucedida. O debate acerca da magnitude do deslocamento da criminalidade,
sobre a qualidade dos estudos que estimam essa magnitude, e mesmo sobre as
definições empregadas de deslocamento da criminalidade, continuam (Barnes,
1995). No entanto, a massa de trabalhos empíricos feitos até agora demonstram
que os efeitos de deslocamento não anulam os efeitos da prevenção, de modo
geral, e que os benefícios da citada difusão podem, em alguns casos, suplantar
os efeitos de deslocamento (Anderson & Pease, 1997; Green, 1995).
Decidir se um determinado fenômeno representa um deslocamento ou
uma forma de prevenção depende tanto da unidade temporal de análise, quanto
da unidade espacial. Imagine que uma mudança no projeto físico de uma rua,
como o seu fechamento, for implementada em um certo número de quarteirões.
(Um tal programa foi trabalhado nos anos 1970 em São Francisco, cf. Appleyard,
1981, apesar de seu propósito, na ocasião, ser o de trazer melhorias para a
qualidade de vida da vizinhança, e não apenas reduzir a criminalidade). Além
disso, imagine que nossa unidade espacial de análise é o quarteirão - que é uma
unidade viável, social e fisicamente (Taylor, 1997) -, e que a distribuição
geográfica de quarteirões nesse estudo é tal que cada quarteirão-experimental e
cada quarteirão-controle localizam-se a apenas alguns quarteirões um do outro.
Suponha agora que potenciais ladrões mudaram um pequenino aspecto de seu
comportamento, depois que as ruas foram fechadas, movendo-se um ou dois
quarteirões desde seus lugares preferidos. Se nós não tivermos examinado o
que ocorria nos quarteirões próximos às unidades físicas da amostra, nós não
encontraremos a evidência desse deslocamento espacial, mas seremos levados
a concluir que a ocorrência de crimes foi prevenida graças ao fechamento das
ruas. Se nossa unidade de análise era um dado quarteirão e seus quarteirões
adjacentes, e se houvéssemos mapeado as localidades onde ocorreram crimes,
nós teríamos clareza de que ocorrera um deslocamento e não prevenção, nesse
caso.
No caso da unidade temporal de estudo, os potenciais ladrões poderiam
responder ao fechamento das ruas pela suspensão de suas atividades por um
certo período de tempo, dado que o processo de fechamento das ruas implica
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num aumento de atividades dos moradores. Se o levantamento de dados do


estudo for encerrado antes de os potenciais ladrões retomarem suas práticas, os
resultados sugerirão que ocorreu a prevenção, e não o deslocamento da
ocorrência de crimes.

EXAMINANDO CADA UMA DAS POSSÍVEIS RESPOSTAS

Esta seção explica por que cada uma das primeiras quatro respostas à
nossa questão inicial pode ser aceitável. Se eu conseguir demonstrar que desde
a resposta (a) até a resposta (d) temos afirmações válidas, então a resposta (e)
é a melhor de todas (pelo que agradecerei ao sr. Philbin, apresentador dos
shows que inspiraram as perguntas).

(a) Por que a Corrente de Raciocínio Apresentada é Incorreta.

A corrente de raciocínio é incorreta se a relação entre projeto e


criminalidade for construída a partir da premissa do determinismo arquitetônico –
ou a crença de muitos planejadores ou arquitetos, de que os aspectos de projeto
irão determinar, ou terão, pelo menos, um impacto substancial sobre os
comportamentos e os sentimentos das pessoas que usarem aqueles espaços
(Broady, 1972). Apesar dos equívocos contidos nessa premissa, ela é adotada
por um grande número de planejadores e arquitetos. Uma das razões pelas
quais a prevenção de crimes através do projeto ambiental foi tão
entusiasticamente acolhida nos anos 1970 se deveu à crença entre planejadores
e gestores, de que haviam encontrado uma ferramenta tão poderosa, que se
prestaria a solucionar numerosos problemas, em uma variedade de situações
(Murray, 1995). Esse entusiasmo se radicava na premissa do determinismo
arquitetônico. De acordo com essa premissa, as características do projeto físico
são uma poderosa influência – se não a mais poderosa de todas – sobre a
ocorrência de crimes em um dado local, e as mudanças corretas nesse projeto
físico são tanto necessárias quanto suficientes para que se tenha um redução na
criminalidade. Uma tal visão se encontra implícita na prévia corrente de
raciocínio, mas não é aplicável em um grande espectro de situações reais.
Um grande volume de trabalhos, tanto em espaços exteriores quanto em
espaços interiores, acentuam o quanto diferentes grupos de pessoas usam um
mesmo espaço, ou espaços fisicamente semelhantes, de diferentes maneiras
(Rapoport, 1977). No caso do comportamento criminoso, especificamente,
fatores sociais, culturais e econômicos quase sempre apresentam impactos
muito mais fortes sobre a probabilidade de ocorrência de crimes, do que os
aspectos físicos do lugar (Taylor, 2000b; Taylor et al., 1984). Assim, se a cadeia
de raciocínio que relaciona o projeto físico à criminalidade assume que o projeto
é a influência mais importante para os fenômenos observados, e que, portanto,
determinadas alterações nesse projeto físico são tão necessárias quanto
suficientes para condicionar a prevenção da criminalidade, então essa cadeia de
raciocínio é incorreta. Pesquisas empíricas têm demonstrado que o projeto físico
não reúne os aspectos que se relacionam mais fortemente com a criminalidade,
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se comparado com fatores sociais, culturais ou econômicos. Além disso, as


pesquisas têm mostrado que as conexões significativas entre o projeto físico e a
criminalidade são condicionadas pelo contexto, sendo altamente maleáveis. No
caso do espaço defensável, por exemplo, observa-se a ocorrência de espaços
claramente “defensáveis”, que não são defendidos (Merry, 1981).
Em resumo, a corrente de raciocínio que nos interessa aqui é incorreta se
por CPTED (Crime Prevention Through Environmental Design) nós significamos
que o projeto físico é o determinante mais poderoso da ocorrência local de
crimes e das taxas ou padrões de vitimização, e que as alterações de projeto
necessariamente resultarão na redução da criminalidade.

(b) Por que a Corrente de Raciocínio Apresentada é Correta.

A maior parte das pesquisas já realizadas acerca da relação entre projeto


físico e criminalidade pode ser remetida a uma das três amplas – e racionais –
perspectivas que tenho estudado, sobre crime e vitimização (Taylor, 1998). A
perspectiva do criminoso racional, que dá suporte às Iniciativas Situacionais de
Prevenção de Crimes, supõe que o modo de os criminosos pensarem acerca
dos custos e benefícios de determinados crimes, em determinados lugares, em
tempos determinados, também determinam os padrões de ação criminosa. A
perspectiva da geografia comportamental pressupõe que as localidades mais
próximas aos lugares onde um criminoso trabalha, recrea-se, habita, visita,
estão submetidos a um risco de vitimização mais elevado, pois são localidades
mais familiares aos potenciais criminosos. Essa perspectiva fundamenta as
iniciativas que vêm surgindo da Criminologia Ambiental. A perspectiva da rotina,
ou perspectiva do estilo de vida, apesar de ter sofrido importantes modificações,
inicialmente pressupunha que a vitimização seria mais provável em uma dada
localidade, se nela existissem mais alvos para o criminoso, se estivessem
presentes mais criminosos em potencial, e se os guardiões da localidade fossem
em menor número ou mais fracos (Felson, 1994). Essas três perspectivas
pressupõem coisas tão óbvias que devem ser verdadeiras. Por exemplo:
Se houver um maior número de ladrões em potencial morando
próximo de uma dada vizinhança, tudo o mais permanecendo
invariável, temos que essa vizinhança apresentará uma taxa de
roubos maior que qualquer outra vizinhança com menos ladrões
morando próximo delas;
Se houver uma vizinhança cuja configuração de rua interna
dificultar a passagem de pessoas desconhecidas, é provável que
os ladrões que não moram nessa rua dificilmente passearão por
ela – o que dificultará ou impedirá que conheçam a rua e seus
alvos em potencial.

As pesquisas na prevenção situacional de crimes enfatiza o modo pelo


qual os aspectos do projeto físico influenciam os custos e benefícios percebidos
pelos criminosos em potencial, quanto a cometer determinados crimes (Clarke,
1992); Clarke & Homel, 1997). Um volume constante de estudos, ao longo das 2
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décadas passadas documentaram como os aspectos físicos de determinados


ambientes e/ou as mudanças implementadas nesses aspectos, tiveram o poder
de evitar crimes (Clarke, 1995; Clarke & Homel, 1997).
A perspectiva do criminoso racional chama a nossa atenção para os
crimes contra a propriedade, ou para os crimes cometidos contra as pessoas,
como os assaltos com roubo. Ao que parece, é quando consideram crimes como
esses que os criminosos calculam os benefícios potenciais no contexto dos
custos de crimes assemelhados, e parecem ser mais sistemáticos quanto a
reconhecer oportunidades para eliminar evidências e evadir-se – e isso abrange
crimes que vão desde o vandalismo contra telefones públicos, o uso de fichas
falsas para usar o metrô, o assalto a um transeunte ou o roubo de um carro.
A perspectiva da prevenção situacional de crimes recomenda que a
redução da criminalidade pode ser alcançada por alterações no ambiente físico
que tornem os alvos dos assaltos mais “difíceis”, menos expugnáveis, e que
reduzam as oportunidades devisadas para o sucesso da ação criminosa num
dado lugar. Alguns têm criticado essa perspectiva porque a fabricação dessa
inexpugnabilidade parece óbvia, custosa, e ainda geradora de conseqüências
sociais indesejáveis (Forrest & Kennett, 1997). Ainda assim, vale lembrar que
essa abordagem da prevenção situacional de crimes vai além do
“endurecimento” dos alvos da ação criminosa. Apesar de envolver um amplo
conjunto de aspectos físicos (Crowe, 1991), essa abordagem também oferece
sugestões para aqueles responsáveis pela administração e supervisão de
espaços públicos. Tanto a administração quanto o projeto físico são importantes,
nessa abordagem. Um estudo realizado sobre o projeto físico e a administração
do sistema de estações de metrô da capital federal norte-americana,
Washington, representa um bom exemplo de aplicação da abordagem da
prevenção situacional de crimes, integrando um grande número de variáveis de
projeto físico, de gerenciamento e de aspectos operacionais (La Vigne, 1986).
Em um outro trabalho, eu ofereço uma descrição detalhada dos tipos de fatores
físicos relevantes para as avaliações feitas por criminosos em potencial, acerca
de suas oportunidades de ação, nos níveis de pequenos espaços públicos, de
quarteirões e de vizinhanças (Taylor & Gottfredson, 1986), se supusermos que
os criminosos estão a avaliar racionalmente suas chances, calculando seus
potenciais custos e benefícios.
Os custos e benefícios relevantes impõem 4 tipos de considerações a
serem feitas pelos potenciais criminosos: o tempo para se atingir o alvo; o tempo
para se evadir da situação; o quanto pode saber previamente à decisão de
proceder ao ato criminoso, acerca do valor que tem o alvo ou a vítima potencial;
quais as chances de se ver surpreendido e/ou de ser reconhecido ao: se
preparar para a ação criminosa, ao cometê-la, ou ao evadir-se da cena do
crime 3 .

3
Nota do autor: “Recentemente Clarke e Homel (1997) realizaram uma expansão da perspectiva
da abordagem da prevenção situacional de crimes, para incluir aspectos que afetariam a
psicodinâmica e a dinâmica social relevante à prevenção, enfocando particularmente nos modos
de inculcar culpa ou vergonha pelo ato criminoso; eles essencialmente coligaram essa relação
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A perspectiva geográfica implica que o projeto físico – e nos referimos


aqui aos níveis “macro” dos padrões de uso do solo e de circulação – terão
influência sobre como os potenciais criminosos adquirirão seus conhecimentos
sobre localidades onde, potencialmente, cometerão suas ações criminosas. Se
nós considerarmos da distância como um atributo do ambiente físico, é óbvio
que, dentre duas localidades que podem ser escolhidas por potenciais
criminosos, tudo o mais permanecendo constante, a localidade mais próxima de
um maior número de criminosos potenciais tem a maior chance de ser palco
para sua ação criminosa. Uma abordagem denominada criminologia ambiental,
ou “teoria dos padrões de criminalidade”, que foi desenvolvida primordialmente
pelos Brantinghams e seus colaboradores, e que é fundamentada em conceitos
básicos da geografia comportamental. Esses conceitos incluem os modos pelos
quais as atividades diárias dos potenciais criminosos estruturam sua atividades
no espaços (como o conjunto total de lugares que freqüentam), sua
compreensão e inteligência espacial (o conjunto de lugares de sua familiaridade)
e como esses dois conjuntos de espaços modelam seus espaços de busca (as
localidades que explorarão, considerarão e avaliarão, como pontos de potencial
ação criminosa bem-sucedida), quando têm um determinado tipo de crime em
mente (Brantingham & Brantingham, 1981). Criminosos têm trabalhos,
empregos, visitam os amigos, descansam em casa, fazem compras no armazém
da esquina, levam suas atividades diárias como qualquer um de nós. Dentro
desses espaços de atividades cotidianas, potenciais criminosos perscrutam os
alvos potenciais para ação, na modalidade de crime que decidem cometer. Por
exemplo, ladrões nas áreas de subúrbios podem buscar por residências de
maior valor, que poderão assaltar, que não sejam muito distantes de suas rotas
cotidianas entre sua casa e seu trabalho (Rengert & Wasilchick, 1985). Ladrões
urbanos, que também sejam usuários de drogas, podem escolher localidades
próximas aos locais onde conseguem drogas, mercados de drogas (Rengert,
1996). A teoria dos padrões de criminalidade integra idéias acerca da
movimentação dos criminosos através do espaço urbano, com uma
consideração da distribuição de alvos através dos espaços (Eck & Weisburd,
1995). Essa teoria faz a relação entre localidades e alvo desejáveis, e contexto
no qual são escolhidos pelos potenciais criminosos. Ela destaca, antes de mais
nada, as chances de consideração pelo potencial criminoso, de uma
determinada localidade.
Portanto, o projeto físico tem aspectos que vão se mostrando relevantes
na medida em que influenciam tanto as distâncias físicas quanto as distâncias
funcionais. A distância física entre um potencial ofensor e uma localidade de
ofensa pode ser medida em termos dos deslocamentos através das ruas e dos
quarteirões de cidade; a distância funcional pode ser medida em termos das
rotas mais curtas que se pode traçar a pé, de carro, de ônibus, entre o local de
trabalho, moradia, ou de compras mais freqüentes, e uma localidade de ofensa.
De forma assemelhada à perspectiva da prevenção situacional de crimes,
a perspectiva da geografia comportamental parece ser mais ou menos aplicável,
entre projeto físico e criminalidade com as dinâmicas relevantes ao controle do comportamento
do criminoso”.
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dependendo do tipo de crime e da localidade em questão. Mais especificamente,


sua aplicabilidade parece mais forte quando consideramos crimes contra a
propriedade tais como a invasão de propriedade para perpetrar roubo – burglary
-, o roubo de veículo motorizado, o furto e, talvez numa menor extensão, o roubo
de bem pessoal – larceny. Esses são crimes em que os praticantes
freqüentemente têm alvos bem definidos, ou têm objetivos claramente traçados,
apesar de serem capazes de alternar de um modo comportamental “não-
criminoso” para um modo “criminoso” assim que percebam que surgiu uma
oportunidade (Rengert & Wasilchick, 1985). Além disso, a aplicabilidade da
perspectiva da geografia comportamental parece mais forte em comunidades em
que não há uma distribuição espacialmente coincidente de criminosos e de seus
alvos. Mais especificamente, é mais fácil compreender padrões de criminalidade
em localidades que são habitadas por poucos criminosos mas que são alvos de
muitas ocorrências criminosas, do que os padrões de criminalidade em
localidades que apresentam grandes números tanto de criminosos quanto de
atos criminosos.
Enquanto a perspectiva da prevenção situacional de crimes parece mais
aplicável à compreensão de fatores de uma escala bem próxima à individual
(uma “micro-escala”), que influenciam a escolha de alvos, a teoria dos padrões
criminosos parece ser mais adequada à compreensão de fatores numa escala
maior (uma “macro-escala”), influenciando a acessibilidade e a familiaridade.
Esses fatores auxiliam os criminosos em potencial a construir imagens
cognitivas bem definidas de seus alvos em potencial.
A permeabilidade da vizinhança é um importante aspecto dessa escala de
análise. Eu ofereço esse aspecto para a nossa discussão por ser um dos
elementos do projeto físico na escala de uma comunidade de vizinhança que
mais oferece ligações com a taxa de ocorrência de crimes, e essas ligações
operam consistentemente na mesma direção, em vários estudos realizados:
quanto maior a permeabilidade, maior a criminalidade. Vários estudos feitos
através de décadas ligam as taxas de crimes contra a propriedade em
vizinhanças com as suas relativas permeabilidade, versus a inacessibilidade que
seja característica da configuração dessas vizinhanças (Beavon, Brantingham, &
Brantingham, 1994; Bevis & Nutter, 1977; Frisbie, 1978; Greenberg, Williams, &
Rohe, 1982; White, 1990). As vizinhanças com ruas mais curtas,ou com mais
vias de mão dupla, ou com menos ruas de acesso ao bairro, ou ainda com ruas
mais sinuosas (com mais retornos e cul-de-sacs) apresentam menores taxas de
crime contra a propriedade de seus moradores. Esses achados parecem dar
suporte à idéia de que, na medida em que a permeabilidade aumenta, aumenta
também a probabilidade de o criminoso em potencial incluir uma determinada
área de vizinhança em seu espaço de atividades criminosas, e/ou de incluir essa
área de vizinhança em seu espaço de “monitoração” – portanto, transformando-
se num espaço de busca de oportunidades -; essa possibilidade, aumentada,
resulta numa melhor definição de alvos em potencial, e em taxas de ocorrência
de roubos maior. Esse reconhecimento de que a permeabilidade cria uma
situação vulnerável para os moradores é, com certeza, uma das forças motrizes
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da sociedade norte-americana rumo ao aumento das comunidades muradas


(gated communities).
Ao alternarmos desde uma perspectiva transversal / seccional para uma
perspectiva longitudinal, nos leva a uma sugestão óbvia, fundada tanto nas
abordagens da prevenção situacional quanto da geografia comportamental:
“mude a configuração da vizinhança de modo a torná-la mais difícil para que
criminosos em potencial entrem e a freqüentem, ou tornar improvável a sua
entrada, ou ainda os mantenha à distância, e a criminalidade desabará”.
Pesquisas longitudinais em Hartford (F. J. Fowler & Mangione, 1986; F. Fowler,
McCalla, & Mangione, 1979), Akron (Donnelly & Majka, 1998), e Dayton
(Donnely & Majka, 1996), assim como avaliações ainda inéditas, outras
publicadas, feitas em Miami (Atlas & LeBlanc, 1994; Ycaza, 1992) sugerem que
mudanças físicas nos padrões de circulação internos e nos limites da vizinhança
foram seguidas por pequenas taxas de ocorrência de crimes. Assim, nossa
corrente de raciocínio parece estar correta, mesmo quando aplicada no nível da
comunidade. Contudo, uma tal confirmação é menos impressionante do que
gostaríamos, pois a conexão pode ser dependente da dinâmica organizacional
que ocorre em volta da implementação de mudanças físicas.
Nos estudos envolvendo reestruturações físicas, ou re-projeto, as
dinâmicas locais, sociais ou organizacionais freqüentemente se associaram às
mudanças planejadas por projetistas (Donnelly & Majka, 1996). Apesar de
parecer que as mudanças na configuração física, por si mesmas, foram
responsáveis – pelo menos em parte – pelo impacto observado (Donnely &
Majka, 1998), os pesquisadores ainda não estimaram com precisão essa
contribuição independente para a redução da criminalidade. Não se sabe a
proporção de benefícios advinda do re-projeto, e quanto deve ser creditado às
mudanças sociais e organizacionais que ocorreram à volta do episódio de
planejamento que levou às mudanças na configuração física da vizinhança.
Parece, no entanto, extremamente plausível, que os fatores de projeto físico
contribuem parcialmente para a redução da criminalidade.
Há ainda diversas implicações práticas dessa linha de pesquisas no nível
das vizinhanças. (1) As condições sociais e organizacionais são importantes
quando mudanças na configuração física, no trânsito, ou no uso do solo estão
sendo considerados (Donnelly & Majka, 1998). O envolvimento da comunidade
de moradores, as organizações de vizinhança, e os negociantes locais, são
essenciais para que se desenvolva um plano livre de efeitos adversos nos
grupos de interesses mais importantes. (2) O envolvimento local pode ser uma
pré-condição importante, não apenas para que se proceda a uma série de
mudanças de forma racional, que maximize seus benefícios, mas também para
que se desenvolva um projeto efetivo na redução da criminalidade. Um estudo
sugere que mudanças na configuração física, sob condições de mobilização da
comunidade, parecem ter sido parcialmente responsáveis pela redução de
determinados crimes (F.J. Fowler & Mangione, 1986). Mas os benefícios da
prevenção de crimes advindos de mudanças na configuração de vizinhanças
parecem tornar-se mais fracos, na medida em que a mobilização da comunidade
declina. (3) Um passo preliminar no processo de planejamento físico de
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vizinhanças existentes visando prevenir a ocorrência de crimes é a


compreensão de como os criminosos escolhem localidades para agir. Para
determinados atos criminosos, como o roubo de carros, os criminosos podem vir
de outras vizinhanças. Para outros crimes, tais como o tráfico de drogas, os
criminosos devem morar na área. Se os criminosos vierem de outras
vizinhanças, poderão os moradores distinguir entre os potenciais ofensores e
aquelas pessoas que visitam sua vizinhança com propósitos legítimos ? se
forem capazes de fazer tal distinção, os impedimentos físicos à entrada de
potenciais criminosos, e à sua circulação nos ambientes da comunidade de
vizinhança pode resultar na queda da taxa de ocorrência de crimes cometidos
por determinado tipo de ofensores. Sob determinadas condições, criar restrições
à entrada nas áreas de vizinhança, e tornar os padrões de circulação internos
mais complicados para os não-moradores, pode resultar em vizinhanças mais
seguras.
Há três advertências importantes a ainda serem dadas, com respeito a
essa abordagem das restrições ao ingresso e à circulação de potenciais
criminosos. Esses limites não podem prejudicar o acesso e as condições dos
agentes públicos em prover serviços, tais como o combate a incêndios, a coleta
de lixo, e o policiamento. Além disso, as distinções que se venham a traçar entre
freqüentadores de confiança, e potenciais ofensores que venham de outras
áreas devem ter uma boa fundamentação empírica, e não serem orientados
somente pelos preconceitos de classe ou de etnia, nos medos e preocupações
estereotipadas dos moradores. Finalmente, essas mudanças, mesmo quando
têm uma boa fundamentação empírica, podem exacerbar os conflitos entre
diferentes vizinhanças (Taylor, 2000a, capítulo 8).
Evidentemente, uma implicação dessa natureza deve ser compreendida à
luz do reconhecimento de que a prevenção de crimes é somente um dos
objetivos do planejamento do uso do solo. Outras agendas tais como a do
desenvolvimento econômico ou da promoção de oportunidades igualitárias para
a habitação podem apresentar conflitos com a agenda de prevenção de crimes
ou com a redução do medo, dos temores sentidos pela população.
A teoria das atividades de rotina considera a confluência de vítimas
(potenciais), localidades (de potencial ocorrência de crimes), potenciais
criminosos e daqueles que podem prevenir a ocorrência de crimes – os
“guardiães naturais” ou os administradores dessas localidades (Felson, 1995;
Mazzerolle, Kadleck, & Roehl, 1998). Isso sugere, num nível das localidades da
vizinhança, a relevância de fatores tais como as oportunidades para exercer
vigilância, e de se definir usos do solo que direcionassem tanto os potenciais
criminosos quanto as suas vítimas em potencial. Assim, num contexto
residencial, a natureza, o volume e a distribuição de usos não-residenciais do
solo, e a natureza dos padrões locais de trânsito parecem influenciar as taxas de
ocorrência de atos criminosos. Os estudos empíricos confirmam essa
expectativa. Há alguns usos não-residenciais do solo, tais como bares e escolas,
cuja presença se associa taxas mais elevadas de criminalidade (Roncek, 1981;
Roncek & Bell, 1981; Roncek & Faggiani, 1985; Roncek & Maier, 1991; Roncek
& Pravatiner, 1989). Localidades como essas parecem ser tanto locais onde se
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gera o comportamento criminoso quanto locais que atraem a criminalidade. Uma


localidade “geradora de crimes” efetivamente produz um volume de
oportunidades para a ação criminosa, como um sub-produto de uma ampla
quantidade de tráfego de pedestres – ou seja, o fluxo de vítimas potenciais fica
amplificado (Gardiner, 1976, pg. 10). Uma localidade ou fator “atrator” de crimes
faz com que muitos potenciais ofensores se sintam movidos para ela (ou para
ele), devido à reputação da localidade. O fato de haver usos do solo urbano que
não são, obviamente, geradores de criminalidade ou atratores de criminosos,
mas que estão associados à variabilidade – para mais ou para menos – das
taxas de criminalidade em sua área, parece ser algo mais complicado,
condicional e fortuito, e será discutido adiante.
Em resumo, no nível da localidade nós nos deparamos com numerosos
estudos, a maioria transversal / seccional, e alguns poucos longitudinais, ligando
projeto físico e criminalidade. No nível da comunidade, nós vimos algumas
consistentes sugestões quando são vistas por um ponto de vista “transversa/ /
seccional”, mas frágeis quando vista por um ponto de vista “longitudinal”, no
sentido de que o fortalecimento das divisas da vizinhança, de seus limites, pode
reduzir a ocorrência de ações criminosas. As duas perspectivas teóricas
predominantes que dão suporte à nossa corrente de raciocínio – a teoria da
prevenção situacional de crimes e a abordagem da geografia comportamental –
fazem seu foco quase exclusivamente nos movimentos, aspectos cognitivos e
avaliações feitas pelos potenciais criminosos.

(c) Por que a Corrente de Raciocínio Apresentada é Correta


Dependendo de Algumas Outras Condições

Uma terceira resposta possível à nossa questão é a tradicionalmente


favorita dos economistas: depende. As perspectivas que estão por trás dos
estudos que nos levam a esse tipo de resposta, se comparadas com as
perspectivas racionais até agora descritas, geralmente:

- dão grande atenção às dinâmicas comportamental e social


dos usuários da localidade, da rua,ou da comunidade em
questão;
- enfatizam o quanto as cognições e os comportamentos dos
criminosos e dos usuários, os aspectos físicos e não-físicos
dos ambientes podem ser condicionadores uns dos outros,
em padrões de grande complexidade.

Os modelos teoricamente relevantes incluem o modo como o território


“funciona”, as violências, o modo como se exerce controle social informal, e
ainda outros aspectos (para uma discussão detalhada dessas perspectivas, ver
Taylor, 2002). Aqui temos alguns exemplos de tais relações contingentes.

Relembre, da discussão prévia, que os usos não-residenciais do


solo, tais como bares e escolas, são associados com taxas mais
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elevadas de criminalidade. Os papéis de tais usos do solo na


criação desses pontos “quentes” de criminalidade já foram bem
determinado (Taylor, 1998). Mas quando nos voltamos para outros
tipos de uso do solo, de um modo geral nos parece que estariam
associados a uma maior, ou, por outro aspecto, menor, taxa de
criminalidade, a depender de outros fatores. Um estudo feito no
Canadá encontrou – tal como predito por Jane Jacobs (1961) e
suas idéias sobre os “olhos da rua” -, que as taxas de criminalidade
eram mais baixas em ruas e quadras de uso miscigenado, caso as
quadras e as ruas fossem curtas, de pequenas dimensões (E. P.
Fowler, 1987, 1992). Contudo, dois estudos realizados nos E.U.A.,
em localidades que apresentavam ruas e quarteirões de variadas
proporções, o que se encontrou foi que os usos do solo não-
residenciais podiam enfraquecer a habilidade de os moradores
“gerenciarem” a rua, e deterem a ação criminosa. No primeiro
desses estudos norte-americanos, as análises dos quarteirões de
duas cidades – Baltimore e Philadelphia – confirmaram a
existência de fortes conexões entre a dominância relativa de usos
não-residenciais do solo e a deterioração comprovada do ambiente
físico local (Taylor, Koons, Kurtz, Greene, & Perkins, 1995). Blocos
que tinham mais lojas, mais negócios de pequeno porte ou usos
institucionais, num contexto predominantemente residencial, eram
mais deteriorados. Não está claro se isso resulta de um nível mãos
elevado de trânsito de pessoas a pé, ou de níveis mais baixos de
esforço de manutenção desses espaços pelos próprios residentes,
na medida em que passam a retirar-se e fechar seus negócios, ou
de ambos os fatores. Em Baltimore, essa conexão persistia mesmo
se fazendo um controle estatístico de fatores como status sócio-
econômico, raça, e estabilidade da permanência na área. Em
Philadelphia, apenas uma grande vizinhança foi incluída – Logan –
embora miscigenada racialmente, com uma população local de
renda média-inferior.
Nesse segundo estudo, conduzido somente na vizinhança
de Logan, os residentes foram inquiridos acerca do controle social
informal e do funcionamento do seu território. Os resultados
mostraram que o uso não-residencial do solo – e não a
deterioração física da vizinhança – influenciou o controle informal
exercido pelos residentes, e sua disponibilidade para chamar a
polícia quando precisassem de ajuda (Kurtz, Koons, & Taylor,
1998); quanto maior a proporção de usos não-residenciais do solo,
maior o número de chamadas para a polícia, provocadas por
distúrbios sociais.
Vários autores, desde a década de 1970, descreveram como a
deterioração física nas vizinhanças urbanas, freqüentemente em
combinação com a ocorrência de comportamento desordeiro,
poderiam amedrontar os residentes, e mesmo fazer com que a
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vizinhança entrasse em um processo de séria deterioração, ou


tivesse suas taxas de criminalidade aumentadas. (Para uma
revisão desses desenvolvimentos teóricos, ver Taylor, 1999).
Vários estudos transversais examinaram essa conexão (por
exemplo, Brown & Perkins, 1992; Perkins, Florin, Rich,
Wandersman, & Chavis, 1992; Perkins, Meeks, & Taylor, 1992).
Apenas recentemente, no entanto, passamos a dispor de dados
longitudinais no nível de comunidades, que permitiram iniciar o
exame da idéia de que “decadência causa violência” (grime causes
crime).
Os dados longitudinais mostram que a conexão decadência-
violência depende de duas coisas (Taylor, 2000a, cap. 5). O modo
como viermos a medir a deterioração física determina se os níveis
iniciais de decadência física - controlados outros aspectos da
vizinhança -, leva a um ulterior aumento da criminalidade. Apesar
de a literatura ter presumido que se perguntarmos aos residentes
“Qual a importância do problema das casas desocupadas em sua
vizinhança”, obteremos os mesmos resultados que a contagem das
casas desocupadas produziria – presunção que parece ser
incorreta. Uma segunda contingência é o tipo de crime em exame.
Apesar de os recentes teóricos das incivilidades presumirem que
as incivilidades físicas causarão aumentos posteriores em todos os
tipos de crimes violentos de rua, os trabalhos longitudinais
mostraram que nem assaltos nem estupros pareciam ser
ocorrências afetadas por incivilidades registradas anteriormente.
Modificações físicas nos ambientes residenciais que sugiram o
envolvimento da comunidade de moradores, seu cuidado ou
vigilância, podem produzir uma vizinhança mais segura (Brown,
1985; Brown & Altman, 1978, 1981). Mas a efetividade desse
conjunto de sinais territoriais dependerá em parte do nível de
ameaça dos seus arredores; em áreas residenciais mais
desordeiras ou perigosas, podemos precisar de sinais territoriais
redundantes e enfáticos, de modo a assegurar uma relativa
segurança (Brower, Dockett, & Taylor, 1983). Um dos modelos
mais empiricamente fundamentados de funcionamento territorial
explica em detalhe como as conexões entre o funcionamento
territorial – representado, por exemplo, pelas mudanças iniciadas
pelos moradores ou usuários regulares – e suas conseqüências
sociais, psicológicas e ecológicas são condicionadas pelo contexto
social, cultural e sócio-econômico local (Taylor, 1988, cap. 5).

Poderíamos oferecer mais exemplos, mas o ponto aqui é que a ligação


entre projeto físico e criminalidade é condicionada pelo contexto. Em outro
trabalho eu já havia enunciado como essas variações contextuais direcionam as
dinâmicas micro-ecológicas locais, o que, por sua vez, operam por moderar a
conexão entre projeto físico e criminalidade (Taylor, 1997). Os fatores relevantes
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do contexto são numerosos, e incluem: a estabilidade dos moradores na


localidade; os níveis sócio-econômicos, as dinâmicas ocorrentes nas localidades
próximas, adjacentes. Mas, na medida em que muito pouca pesquisa tem sido
feita, de modo a explorar sistematicamente explorar as conexões entre o
contexto e as conexões entre o projeto físico e a criminalidade, as contingências
não podem ser plenamente especificadas. “Ainda existem lacunas substanciais
no conhecimento de como a criminalidade vai se instalando em contextos
específicos… em parte, tais lacunas desenvolveram-se a partir de uma carência
de pesquisa básica, voltada ao exame do contexto dos crimes” (Weisburd, 1997,
pág. 13).
Sugerir que as conexões entre projeto físico e criminalidade são, algumas
vezes, contingentes, pode ser algo que complica a vida dos administradores
públicos e outros tomadores de decisões. Os planejadores governamentais
majoritariamente preferem soluções que respondam a “tudo” (“one size fits all”),
sua abordagem preferida quando se trata da prevenção de crimes (Rosembaum,
1987, 1988). Se os relacionamentos são contingentes, não há sentido em dar
início a mudanças no projeto físico até que se tenha certeza de que essas
mudanças efetivamente causarão o impacto positivo pretendido. Em outras
palavras, antes de se tomar a decisão, desde um ponto de vista prático, válido
para se experimentar as idéias CPTED, nós devemos especificar plenamente
como o contexto afeta a relação entre projeto físico e criminalidade. Na
atualidade, vemos-nos sem condições para fazermos essas especificações,
porque nós sabemos tão pouco acerca de quais são os aspectos do contexto
que afetam essa relação, e por que, e como o projeto físico interage com outros
aspectos não-físicos do ambiente, para que possa vir a influenciar os níveis de
criminalidade ou de vitimização.

(d) Essencialmente Impossível de se Conhecer

A compreensão da relação entre projeto físico e criminalidade é


essencialmente impossível se, por “compreensão”, significarmos: uma
habilidade para especificar quais os aspectos do projeto no nível da comunidade
que influenciarão determinados crimes, e em quais situações, e devido a
determinadas dinâmicas de seus processos.
Essa resposta é impossível de ser enunciada, caso a unidade de análise
correspondente seja muito maior que a circunstância individual, ou a
circunstância da família, do grupamento de pessoas, pois o número necessário
de estudos longitudinais no nível das quadras ou da própria comunidade seria
extremamente grande, e a abrangência de cada um desses estudos deveria ser
substancial; os custos associados aos estudos necessários seriam
astronômicos; e as dificuldades políticas que cercam cada intervenção
longitudinal seriam vultosas, e enormemente consumidoras de tempo.
Nós precisaríamos de um grande número de estudos porque seria
necessário implementar cada tipo de mudança em potencial no ambiente físico,
em um número também grande de localidades para que obtivéssemos a
variação necessária dos contextos em que as ações ocorrem, e suficiente poder
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estatístico. Mesmo no caso de um simples exame dos fechamentos de ruas de


bairro, nós precisaríamos de pelo menos 30 (trinta) localidades “tratamento”, e
de 30 localidades “controle”, para cada uma das várias cidades. As variações
através de conjuntos de cidades é essencial na medida em que as culturas
políticas locais acerca do envolvimento dos cidadãos variam dramaticamente, de
cidade para cidade (F. J. Fowler & Mangione, 1986).
Pode ser possível “cruzar” diferentes tipos de mudanças no ambiente
físico em um único estudo, e, dessa forma, reduzir o número total de estudos
necessário. Por exemplo, uma rua pode ser fechada para o trânsito de veículos
e/ou também receber novas atividades ou usos não-residenciais do solo. Mas se
nós começarmos a adicionar diferentes elementos programáticos às mudanças
previstas nos estudos, nós ampliaremos o número de localidades necessárias
no estudo, se temos a intenção de esclarecer os papéis desempenhados pelos
contextos de ocorrência das ações.
Além disso, não se sabe ainda quais os aspectos específicos do contexto
que mais provavelmente influenciarão o relacionamento entre projeto físico e a
criminalidade. Como um passo preliminar a ser completado antes de iniciarmos
tais estudos, nós precisamos delimitar os fatores contextuais mais relevantes,
baseados em teorias pertinentes, e nos achados em campo até o momento.
Alguns podem contra-argumentar que, com a crescente disponibilidade
de mapas contendo informações sobre a ocorrência de crimes (crime maps) e
de GIS (Geographic Information System) usando técnicas de mapeamento de
crimes e sistemas de informação geográfica, observamos um grande impacto
sobre as nossas habilidades em analisar crimes e em identificar padrões de
ação criminosa (Mazerolle, Bellucci, & Gajewski, 1996); ainda assim não se
dispõe, até o momento, de informações ainda mais detalhadas, no nível das
localidades, para os territórios de cidades inteiras, também bases de dados geo-
codificadas (geocoded databases). Mesmo se esse conjunto de informações
estivesse disponível, os estudos que fazem a ligação entre os dados sobre as
ocorrências de crimes em uma base de dados geo-codificada, e os dados do
ambiente físico também como uma base de dados geo-codificada, deixam de
fora variáveis sociais, econômicas e culturais, que provavelmente teriam papéis
de destaque tanto como mediadoras como moderadoras (Baron & Kenny, 1986)
das ligações entre o projeto físico e a criminalidade. Assim, somente obteríamos
respostas parciais a partir desses procedimentos mais diretos.

COMENTÁRIOS FINAIS

A questão central discutida aqui pode ser colocada assim: será possível
prevenir crimes através do projeto físico dos ambientes ? Os pesquisadores e os
formuladores das políticas públicas têm estudado essa questão por mais de um
quarto de século, e em diversas instâncias tomaram decisões e agiram com
base naquilo que pensaram ser a resposta para essa pergunta. Eu argumentei
aqui que o modo de responder a essa questão depende crucialmente no modo
pelo qual você definirá os seus termos-chave, em quão rigoroso será a prova
necessária ao esclarecimento que você deseja, e quão completa deve ser essa
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resposta procurada por você. Se há algo que sabemos bem, é que as relações
entre projeto físico e criminalidade não são simples, mas dependem de outros
aspectos da localidade e de seu contexto.

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Um dos princípios da arquitetura para a prevenção de crimes é de


que ir a ocasião faz o ladrão. Isso que dizer, na compreensão
popular, que ninguém, nenhum de nós, estaria isento de cometer
pequenina infração ( como surrupiar a cadeira na mesa ao lado, no
restaurante com mesas de lugares fixos, ou de estacionar "
rapidinho " em fila dupla) ou mesmo infração mais significativa, se
houvesse oportunidade ( ninguém está vendo, todos fazem o
mesmo, é fruta no pé esperando que alguém colha, etc), se
houvesse premência ( não posso perder essa oportunidade, já estou
no prejuízo mesmo, sou forçado a fazer isso). Podemos descrever
os atos de violência em termos do seu agente (sua motivação, sua
capacidade de superar a auto-reprovação ao ato de violência, seu
conhecimento acerca das circunstâncias das conseqüências do ato)
da sua vítima (vulnerabilidade, o comportamento de risco,
possibilidade de impunidade, de não reconhecimento, de
invisibilidade). determinados tipos de comportamentos criminosos
dependem crucialmente de circunstâncias físicas dos lugares, dos
suas características arquitetônicas e urbanísticas. Lugares que
assegurem uma abordagem surpreendente, que tornem invisível o
criminoso ou a ocorrência do ato criminoso, que permitam uma
evasão eficiente e segura, onde as provas do crime desapareçam,
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onde pessoas da comunidade ou policiais não possam estar


presentes, parecem reunir as condições ideais, de elevada
probabilidade de atos criminosos associados a furtos e roubos, a
agressões contra pessoas. As pessoas têm razão para temer a
circunstâncias que, nos espaços públicos, aumento uma
possibilidade de serem vítimas do comportamento criminoso. a
questão é que o espaço físico das cidades e das edificações não
determina o comportamento criminoso, mas pode aumentar a
possibilidade relativa de sua ocorrência. Por possibilidade relativas
significa se que todos lugares de toda a cidade apresentam alguma
possibilidade de ocorrência no comportamento criminoso - até nas
delegacias de polícia, ou nos palácios de governo. É em relação a
esses lugares de segurança máxima que podemos medir a
probabilidade de ocorrência do comportamento criminoso.
momento da possibilidade de ocorrência no comportamento
criminoso nessas ilhas de segurança afeta a pro mobilidade de
todos os demais lugares; ao longo do tempo as probabilidades
elevada e alta de outros lugares também se modificam, em função
da efetivação da ocorrência do comportamento criminoso. A
reputação de um lugar pode ser usada como fator preditivo do
comportamento criminoso, e pode se transformar numa "profecia
auto-cumprida".

ou mais importante dos estudos pioneiros sobre a relação entre


espaços físicos arquitetônicos e o urbanísticos e o comportamento
criminoso foi realizado por Oscar Newman.
Alguns autores traçam uma linha de precedência desde o trabalho
de Newman até o trabalho de Jane Jacobs. ambos estudaram na
mesma cidade, Nova York. As grandes cidades americanas foram
marcadas por uma crescente violência, na medida em que se
enriqueceram e se tornavam o modelo para o urbanismo mundial.

A arquitetura voltada contra o crime é baseada em um


planejamento urbano de qualidade. a legislação brasileira prevê, no
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parágrafo primeiro do Artigo 182, que "O plano diretor, aprovado


pela Câmara Municipal, obrigatório para cidades com mais de
vinte mil habitantes, é o instrumento básico da política de
desenvolvimento e de expansão urbana." Ou seja: aparentemente
sabemos o que fazer com as cidades quando possuem mais de
20.000 habitantes. mas o que sabemos das cidades quando
possuem mais de 20.000 habitantes ? A origem das cidades é um
ponto totalmente cego na legislação brasileira. Certamente, toda
nova cidade surgiu na área de algum município. Desde suas
origens mais humildes, como aldeamento, como assentamento
informal, ou como acampamento para grandes obras, criado
transitoriamente, as cidades surgem, majoritariamente, sem
planejamento.

No passado, o crescimento dos aldeamentos era fortemente


estimulado pelas autoridades coloniais, imperiais e mesmo as
republicanas.

O princípio constitucional também não ajuda a elucidar o


importante problema da evolução urbana. num eixo podemos
colocar o número de habitantes, em outro, uma composição de
fatores econômicos e sociais, culturais e ecológicos, políticos e de
gestão. As cidades se tornam necessariamente mais complexas
com o crescimento de sua população, mesmo que os "demais
fatores" não se alterem significativamente (embora seja difícil
supor que uma cidade da economia de extração de cana-de-açúcar,
com 20.000 pessoas, venha a se tornar uma cidade da economia de
extração de cana-de-açúcar com 1.000.000 de habitantes). Mas é
fundamental colocar as pessoas como uma espécie de "variável
independente", que ao ser manipulada (ou ao modificar-se no
tempo) gera efeitos diversos nas demais veriáveis (que podemos
entender precariamente como "variáveis dependentes").
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a interação entre o número de pessoas e as "demais variáveis" é


bem complicada: não-linear, sujeita a uma imensa variabilidade,
sobretudo interna, produzida pelas próprias pessoas, que se
transformam, ao fazer negócios, ao educar-se, ao adquirir uma
expectativa de qualidade de vida que somente desejam que
melhore.

Tudo isso acontece no tempo, ao longo de gerações, que interagem


entre si. Teoricamente, cada geração se aprimora a partir dos
esforços das gerações anteriores - e esse deve ser entendido como
um traço básico das políticas públicas: queiramos ou não elas
possuem um efeito "geracional", elas propagam-se entre gerações.
Uma escolha a ser feita é: (a) se essa propagação ocorrerá de forma
intencional, consciente, trabalhosamente construída, ou; (b) se
ocorrerá de forma incremental, construída na medida em que os
problemas surgem, quando somos guiados por conseqüências de
curto ou médio prazo das políticas públicas anteriores.
Evidentemente, há aqui a crítica a essa última escolha, apesar de
ela parecer atrativa por não esquentar muito a cabeça com o
"imponderável futuro", por ser imediatista e buscar respostas
imediatas. Mas essa sensação é enganosa, dado que os processos
fundamentais de mudança social ocorrem a longo prazo, para
desespero dos políticos. O conhecimento dos processos de
mudança social é, assim, um requisito para a gestão das cidades.

patamares de evolução urbana.

a necessidade de diferentes planos diretores.

fatores comuns entre planos diretores.

o plano diretor de segurança, necessário em todas as etapas.

a atitude das equipes governamentais de planejamento.


Universidade de Brasília, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Notas de Aula da Disciplina “Métodos e Técnicas na Projetação Arquitetônica” – 2004
31
Prof. Frederico Flósculo Pinheiro Barreto – Depto. de Projeto, Exp.& Rep. em Arq. & Urb.

a distância entre planejamento e gestão.

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