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III Congreso Internacional de Investigación y Práctica Profesional en Psicología XVIII

Jornadas de Investigación Séptimo Encuentro de Investigadores en Psicología del


MERCOSUR. Facultad de Psicología - Universidad de Buenos Aires, Buenos Aires,
2011.

HABILIDADES SOCIAIS EM CRIANÇAS


COM SÍNDROME DE ASPERGER: UMA
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.

Silva De Lima, Camilla Danielle.

Cita: Silva De Lima, Camilla Danielle (2011). HABILIDADES SOCIAIS EM


CRIANÇAS COM SÍNDROME DE ASPERGER: UMA REVISÃO
BIBLIOGRÁFICA. III Congreso Internacional de Investigación y Práctica
Profesional en Psicología XVIII Jornadas de Investigación Séptimo
Encuentro de Investigadores en Psicología del MERCOSUR. Facultad
de Psicología - Universidad de Buenos Aires, Buenos Aires.

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HABILIDADES SOCIAIS EM CRIANÇAS COM SíNDROME
DE ASPERGER: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Silva De Lima, Camilla Danielle
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Brasil

RESUMEN Introdução:
O presente estudo propõe uma revisão bibliográica A Síndrome de Asperger (SA) pertence ao grupo dos
acerca das habilidades sociais, na perspectiva da tera- Transtornos Invasivos do Desenvolvimento, juntamente
pia cognitivo-comportamental, em crianças com Sín- com o Autismo Infantil, por compartilharem de prejuízos
drome de Asperger. A revisão foi elaborada a partir de severos e persistentes da tríade: comunicação, intera-
pesquisa nos Bancos de Dados LILACS, SciELO, ME- ção social e interesses, sendo estes restritos, repetiti-
DLINE, IBECS e PEPSIC, entre 2005 e 2011. Concluiu- vos e estereotipados.
se que a inabilidade social desses indivíduos contribui Algumas características são peculiares a estes indiví-
diretamente para sua diiculdade de socialização. Não duos no que diz respeito à comunicação e interação so-
sendo encontrado nenhum estudo brasileiro que abor- cial: linguagem verbal luente, pedante e rebuscada,
dasse tais habilidades em crianças com asperger, en- pouco emotiva e sem entonação; interpretação literal,
tretanto muitos outros sugerem intervenções eicazes não identiicando ironias e metáforas; diiculdades para
na abordagem cognitivo-comportamental para desen- entender e expressar emoções; ausência de regulado-
volvimento de habilidades sociais em crianças normais. res sociais, como falar tudo o que pensam sem o uso da
Veriicou-se a necessidade de adaptar tais interven- empatia e das pistas sociais (Borges et al, 2007).
ções para as crianças com asperger, contribuindo para Tais inabilidades sociais comprometem signiicativa-
qualidade de vida das mesmas. mente o relacionamento interpessoal destes indivíduos,
pois como airma Del Prette & Del Prette (2004), os de-
Palabras clave saios e as demandas impostas pelo mundo atual exi-
Asperger Habilidades Sociais Crianças gem de crianças, jovens e adultos o desenvolvimento
de um repertório de habilidades sociais cada vez mais
ABSTRACT elaborado. Se bem elaborado, este repertório de habili-
SOCIAL SKILLS IN CHILDREN WITH ASPERGER dades serve como fator de proteção, pois é um indica-
SYNDROME: A LITERATURE REVIEW dor de ajustamento psicossocial, de desenvolvimento
This study proposes a literature review about social saudável, de qualidade de vida e preditor signiicativo
skills from the perspective of cognitive-behavioral thera- de competência acadêmica (Murta, 2005).
py in children with Asperger Syndrome. The review was As habilidades sociais são aprendidas e desenvolvidas
developed from research in the databases LILACS, Sci- durante toda a vida, exercendo grande importância no
ELO, MEDLINE, IBECS, PsycINFO and PepsiCo, from desenvolvimento humano salutar quando adquiridos na
2005 to 2011. It was concluded that the inability of social infância. Um repertório bem elaborado dessas habilida-
individuals directly contributes to their dificulty in social- des, a partir dessa fase do desenvolvimento, contribui
ization. There are no Brazilian study found that ad- de maneira decisiva para o estabelecimento de rela-
dressed such skills in children with Asperger’s, however ções sociais mais adaptativas (Del Prette & Del Prette,
many others suggest effective interventions in cogni- 2009).
tive-behavioral approach to developing social skills in Diante das diiculdades sociais apresentadas por indiví-
normal children. There is a need to adapt such interven- duos com SA, faz-se mister desenvolver pesquisas e
tions for children with Asperger’s, contributing to quality possibilidades de intervenções psicológicas que aju-
of life for them. dem, especialmente as crianças, a desenvolverem ha-
bilidades sociais mais adaptativas, contribuindo assim
Key words para sua qualidade de vida e inserção social. Interven-
Asperger Social Skills Children ções na área da terapia cognitivo-comportamental, es-
pecialmente programas de treinamento em HS, conigu-
ram-se em importantes ferramentas para reduzir o im-
pacto de déicits graves em habilidades sociais em pes-
soas com transtorno severo do desenvolvimento.

Considerações acerca da Síndrome de Asperger e


das HabilidadesSociais
Em 1944, Hans Asperger, a partir de seus estudos com
crianças na educação especial, apontou para a existên-

PSICOLOGÍA CLÍNICA Y PSICOPATOLOGÍA 253


cia de um distúrbio caracterizado pelo comprometimen- manual.
to severo da interação social, apresentando fala pedan- Pode-se airmar, então, que a principal característica da
te e desajeitamento motor, com incidência no sexo mas- SA é o déicit na comunicação e interação social, ou se-
culino, o qual denominou de Psicopatia Autística (As- ja, um déicit na aquisição e desenvolvimento das habi-
perger, 1944). Essas crianças apresentavam notável lidades sociais. Algumas características são peculiares
pobreza na comunicação não-verbal, o que inclui tom a estes indivíduos: linguagem verbal luente, pedante e
afetivo de voz, empatia pobre e tendência a intelectuali- rebuscada, pouco emotiva e sem entonação; interpreta-
zar as emoções, além de fala formal, prolixa e em mo- ção literal, não identiicando ironias e metáforas; diicul-
nólogo (Wing, 1981). A partir da década de 70 muitos dades para entender e expressar emoções; ausência
autores passaram a defender que esta síndrome deve- de reguladores sociais, como falar tudo o que pensa
ria ser considerada como pertencente ao espectro au- sem o uso da empatia (Borges et al, 2007).
tista, sendo sua etiologia possivelmente de base gené- Habilidades sociais é a designação utilizada para um
tica (Tamanaha et al, 2008). conjunto de diferentes classes de comportamentos so-
A SA foi enquadrada pela décima revisão da Classiica- ciais, presentes no repertório de um indivíduo, que con-
ção Internacional de Doenças como pertencente ao tribuem para a qualidade e a efetividade das interações
grupo dos Transtornos Invasivos do Desenvolvimento interpessoais (Del Prette & Del Prette, 2001). Tais habi-
(F84), juntamente com o Autismo Infantil. Dessa forma, lidades contribuem também para a competência social
os indivíduos deste grupo compartilham de prejuízos do mesmo, entendida como a capacidade de articular
severos e persistentes da tríade: comunicação, intera- pensamentos, sentimentos e ações em função de obje-
ção social e interesses, sendo estes restritos, repetiti- tivos pessoais e demandas culturais, gerando senti-
vos e estereotipados. Tais comprometimentos são evi- mento positivo (Del Prette & Del Prette, 2009). Elas di-
denciados geralmente nos primeiros 5 anos de vida, po- zem respeito a comportamentos necessários a uma re-
dendo variar em graus de diiculdades (CID-10, 1993). lação interpessoal bem-sucedida, conforme parâme-
De acordo com esta classiicação, a Síndrome de As- tros típicos de cada contexto e cultura, podendo incluir
perger (F84.5) é caracterizada pelo mesmo tipo de os comportamentos de iniciar, manter e inalizar conver-
anormalidades que tipiicam o autismo, diferindo deste sas; pedir ajuda; fazer e responder a perguntas; fazer e
por não haver “nenhum atraso ou retardo global no de- recusar pedidos; defender-se; expressar sentimentos,
senvolvimento cognitivo ou de linguagem” (p. 252), sen- agrado e desagrado; pedir mudança no comportamento
do a maioria de inteligência global normal, embora do outro; lidar com críticas e elogios; admitir erro e pe-
apresentem comportamentos desajeitados, ocorrendo dir desculpas e escutar empaticamente, dentre outros
predominantemente em meninos. Klin (2006) acrescen- (Murta, 2005).
ta ainda que diferem pois o desenvolvimento precoce As habilidades sociais são aprendidas e desenvolvidas
da SA está marcada não só pela ausência de retardo durante toda a vida, exercendo grande importância no
signiicativo da linguagem falada ou na percepção da desenvolvimento humano salutar quando adquiridos na
linguagem, mas também pela presença das habilidades infância. Um repertório bem elaborado dessas habilida-
de auto-cuidado, curiosidade sobre o ambiente, tendên- des, a partir dessa fase do desenvolvimento, contribui
cia a falar em monólogo e incoordenação motora. Para de maneira decisiva para o estabelecimento de rela-
o diagnóstico diferencial pelo menos dois critérios fo- ções harmoniosas com colegas e adultos, tendo em vis-
ram considerados imprescindíveis: o período de aquisi- ta que habilidades de comunicação, expressividade e
ção da fala e a idade de identiicação do diagnóstico desenvoltura nas interações sociais podem ser trans-
(Tamanaha et al, 2008). formadas em amizade, respeito, status no grupo ou
Já o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos mesmo em convivência mais agradável. São várias as
Metais - DSM IV Tr (2002), estabelece os seguintes cri- habilidades sociais consideradas relevantes para o de-
térios diagnósticos: (1) comprometimento grave e per- senvolvimento satisfatório das crianças: habilidades de
sistente da interação social, (2) desenvolvimento de pa- autocontrole e expressividade emocional, civilidade,
drões de comportamento restritos e repetitivos de com- empatia, assertividade, fazer amizades, solução de pro-
portamento, interesses e atividades, (3) tais perturba- blemas interpessoais e habilidades acadêmicas (Del
ções devem causar comprometimento signiicativo na Prette & Del Prette, 2009).
vida social e ocupacional do individuo, (4) ausência de Não obstante, diversos estudos indicam correlação po-
atrasos ou desvios clinicamente signiicativos na aquisi- sitiva entre competência social e funcionamento mais
ção da linguagem, (5) ausência de atraso no desenvol- adaptativo no que diz respeito à responsabilidade, inde-
vimento cognitivo até os três primeiros anos de vida e, pendência, cooperação e rendimento escolar. Desen-
por im, (6) quando não são satisfeitos critérios para ou- volver este potencial nas crianças é ampliar sua capaci-
tro Transtorno Global do desenvolvimento ou para Es- dade de lidar melhor com situações adversas e estres-
quizofrenia. Apesar da sintomatologia característica, santes, bem como estimular seu senso de humor, em-
vale ressaltar que o transtorno pode se apresentar de patia, habilidades de comunicação, de resolução de
maneira peculiar em cada indivíduo, dependendo de problemas e autonomia (Del Prette & Del Prette, 2009).
sua idade, com prevalência no sexo masculino, numa A diiculdade na interação social de indivíduos com SA
proporção de cinco para um, como descreve o mesmo envolve deiciências no uso e no reconhecimento de re-

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gras convencionais de conversação, bem como de bilidades sociais em crianças, na perspectiva da terapia
comportamentos não-verbais, como: o contato visual cognitivo-comportamental. Poucos são os artigos que
direto, a expressão facial e de gestos, além da lingua- abordam especiicamente a SA na área da psicologia,
gem corporal (DSM IV, 2002). Tais habilidades sociais destacando-se um maior número de publicações na
são responsáveis pela regulação da interação e da co- área da fonoaudiologia.
municação social e, talvez por isso, a inabilidade na ex- Em contrapartida encontra-se ampla publicação de arti-
pressão deste repertório comportamental resulte na di- gos acerca das habilidades sociais em crianças, abor-
iculdade em lidar com sentimentos negativos de vergo- dando os aspectos das habilidades sociais parentais, va-
nha, raiva, medo e tolerância à frustrações; no pouco lidação de inventários para avaliação e programas para
ou nenhum interesse em fazer amizades; na falta de ini- treinamento dessas habilidades. Nenhum artigo que
ciativa em compartilhar prazer ou interesses com o ou- abordasse as habilidades sociais em crianças com as-
tro, ausência de reciprocidade emocional, preferência perger, na área da psicologia, foi encontrado. Diante dis-
por atividades solitárias, insistência por um mesmo as- so, procedeu-se a seleção dos 10 artigos inais desta re-
sunto ou atividade, pouca capacidade de auto-controle, visão, sendo 5 relacionados a SA e 5 relacionados as ha-
hiperatividade, falta de atenção e desajeitamento motor, bilidades sociais na abordagem da TCC ou da comporta-
como descreve o mesmo manual. mental, com o objetivo de aproximar os temas supracita-
Os mesmos podem expressar interesse em fazer ami- dos, ressaltando a importância do estabelecimento de in-
zades e encontrar pessoas, mas invariavelmente se tervenções que ajudem no desenvolvimento de habilida-
frustram em decorrência de suas abordagens desajei- des sociais desta população desde a infância.
tadas, bem como pela insensibilidade em relação aos
sentimentos e intenções das demais pessoas, principal- Apresentação e discussão dos artigos
mente as implícitas e não-literais, como sinais de tédio, Nos trabalhos publicados nos últimos cinco anos, ob-
pressa para inalizar a conversa e necessidade de pri- serva-se uma grande quantidade de produções acerca
vacidade (Klin, 2006). Além da diiculdade em interpre- das habilidades sociais em detrimento daqueles refe-
tar pistas sociais sutis, possuem deiciência em reco- rentes especiicamente a SA. Nenhum artigo que abor-
nhecimento de faces e entendimento das expressões dasse as diiculdades de habilidades sociais em crian-
emocionais (Borges et al, 2007). Em função dos repeti- ças com asperger, na perspectiva da terapia cognitivo-
dos fracassos em estabelecer relações interpessoais, é comportamental, foi encontrado.
comum que estes indivíduos desenvolvam transtornos Em estudo bibliométrico, realizado por Fumo et al
de ansiedade ou de humor, necessitando inclusive de (1999), acerca da coleção Sobre Comportamento e
tratamento medicamentoso. O interesse em estabele- Cognição, por considerar representativo das aborda-
cer relacionamentos sociais pode aumentar na adoles- gens comportamental e cognitivo-comportamental,
cência, na medida em que o individuo aprende formas aponta que, nas últimas décadas, os estudos se con-
de respostas mais adaptadas às diiculdades, como centravam nos aspectos conceituais das HS do que
aprender a aplicar regras ou rotinas verbais explicitas mesmo em estudos correlacionais, relatos de experiên-
em determinadas situações de estresse (DSM IV, 2002). cias e estudos de caso. Airma ainda haver predomi-
Diante das diiculdades sociais apresentadas pela nância de estudos relacionados a adultos e sugere a
criança com SA, faz-se mister desenvolver pesquisas e necessidade de realização de mais pesquisas, bem co-
possibilidades de intervenções psicológicas que aju- mo de possibilidades de intervenções (Murta, 2005),
dem especialmente as crianças a desenvolverem habi- destinadas a crianças, adolescentes e idosos, bem co-
lidades sociais mais adaptativas, contribuindo assim mo a populações com necessidades educacionais es-
para sua qualidade de vida e inserção social. Interven- peciais.
ções na área da terapia cognitivo-comportamental, es- Durante as pesquisas iniciais para este artigo foi verii-
pecialmente programas de treinamento em HS, conigu- cado, no período de 2005 a 2011, um aumento no nú-
ram-se em importantes ferramentas para reduzir o im- mero de publicações referentes à HS em crianças e
pacto de déicits graves em habilidades sociais em pes- adolescentes, principalmente no que diz respeito a ha-
soas com transtorno severo do desenvolvimento. bilidades sociais parentais e de alunos e professores.
Murta (2005), em importante revisão, identiicou 17 pro-
Método gramas de treinamento de habilidades sociais, os quais
Este é um artigo de revisão bibliográica elaborado a em sua maioria aconteceram em grupo, nos contextos
partir de pesquisa nas bases de dados LILACS, SciE- clínico e escolar, com a utilização da TCC. Desses pro-
LO, MEDLINE, IBECS e pepsic, no intervalo dos anos gramas, cinco foram realizados com base na prevenção
de 2005 a 2011. Os descritores utilizados foram síndro- terciária, ou seja, com o objetivo de minimizar conse-
me de asperger, terapia cognitivo-comportamental, ha- qüências de déicits acentuados em habilidades sociais
bilidades sociais e crianças. já instalados, sem pretensão de cura, como é o caso de
A busca inicial resultou em 35 artigos, levando-se em pessoas portadoras de autismo ou esquizofrenia. Nes-
consideração os descritores e o período escolhidos. ta perspectiva, aponta publicação de Fernandes e Sou-
Após leitura criteriosa, foram selecionados artigos que za (2000) na qual descrevem realização de terapia com-
abordavam diretamente aspectos da SA, bem como ha- portamental com uma criança de 10 anos com SA, que

PSICOLOGÍA CLÍNICA Y PSICOPATOLOGÍA 255


apresentava isolamento social e comportamento excên- pais, apontando a terapia comportamental como eicaz
trico. Dentre outras intervenções comportamentais, foi e ressaltando a importância da continuidade do acom-
utilizado o treino de habilidades sociais verbais e não- panhamento psicológico.
verbais. Observações assistemáticas dos resultados Para desenvolver as habilidades sociais nas crianças, é
evidenciaram diminuição dos movimentos estereotipa- necessário também ampliar o repertorio dos pais e/ou
dos e impulsividade, melhora na comunicação verbal, cuidadores (Brano, 2006; Murta, 2008; Salvo et al,
contato visual e físico e interação social. As autoras 2005). A promoção de habilidades sociais nas relações
concluíram que este estudo de caso sugere efetividade da criança, a um nível preventivo, proporciona o desen-
da terapia comportamental no desenvolvimento de ha- volvimento e melhoria da competência social, resultan-
bilidades sociais e autocontrole. do em maior adaptabilidade ao meio social (Salvo et al,
Borges (2007) apresenta um estudo de caso a partir de 2005). O mesmo realizou pesquisa envolvendo 9 crian-
intervenções na abordagem cognitivo-comportamental ças pré-escolares, de ambos os sexos, com o intuito de
de um adulto. Relata que foi utilizado como recursos da veriicar a eicácia de um programa preventivo de de-
TCC o questionamento socrático, o treino em soluções senvolvimento de habilidades sociais em crianças e
de problemas, o treino das habilidades sociais, enfati- seus pais. Como instrumento de análise utilizou-se o
zando o desenvolvimento da empatia, expressão mais Child Behavior Check-List (CBCL), respondido pelos
adequada de suas emoções e melhor reconhecimento pais em relação aos comportamentos dos ilhos, antes
das emoções alheias, na intenção de que o individuo e após a participação do programa. Pais e ilhos partici-
pudesse também perceber os aspectos pragmáticos de param, separadamente, das sessões do programa. As
sua linguagem, ampliar sua gama de interesses, desen- crianças foram levadas a experienciar e analisar situa-
volver o raciocino abstrato e relativizar pensamento e ções, por meio de atividades lúdicas, envolvendo a te-
comportamentos. Por im, conclui que existe hoje no mática das habilidades sociais. Por sua vez, os pais,
Brasil uma grande diiculdade no diagnostico diferencial por meio de orientação em grupo, foram levados a ana-
para transtornos severos do desenvolvimento, assim lisar situações que vivenciam com seus ilhos, bem co-
como tratamento especializado e acessível à popula- mo, de forma conjunta, encontrar soluções para as
ção de baixa renda. questões levantadas na mesma temática. A pesquisa
Quando as práticas educativas de pais e professores apontou que nas escalas de Atividade e Socialização
são pouco efetivas para a promoção de adequado re- do CBCL todas as crianças tiveram escores mais altos
pertório de habilidades sociais na criança, torna-se im- ao término das sessões. Além disso, a maioria das
portante e até necessário que programas de Treina- crianças foi percebida pelos seus pais como desempe-
mento de HS sejam desenvolvidos para a superação nhando mais comportamentos apropriados e pró-so-
desses déicits. Com este objetivo, Freitas et al (2009) ciais do que antes de participar do programa.
elaborou o jogo das emoções através do qual defende Em outra pesquisa acerca de habilidades sociais rela-
ser possível ajudar crianças em idade escolar a reco- cionadas à comportamentos pró-sociais, autoconceito
nhecer, nomear e expressar as emoções próprias e dos e aceitação pelos pares, resultados similares foram en-
outros; identiicar situações e ações associadas às contrados. A análise inal da pesquisa envolveu 3 crian-
emoções; e expressar compreensão pelo sentimento ças, de ambos os sexos, e seus pais, que também par-
ou experiência do outro (empatia). No entanto, sugere ticiparam separadamente. Foram usados os instrumen-
que a veriicação dos efeitos da aplicação do recurso tos: Escala de Percepção do Autoconceito Infantil (PAI),
sobre as habilidades de identiicar e expressar senti- Ficha para Avaliação Sociométrica e Inventário de
mentos seja realizada por estudos futuros. Comportamentos da Infância e Adolescência (CBCL).
Branco (2006) descreve atendimento terapêutico, na Todos estes instrumentos evidenciam consistentemen-
abordagem comportamental, a uma criança de 10 anos, te o aumento de comportamentos pró-sociais, como
sexo masculino, com déicits em habilidades sociais, o conseqüência também da mudança da percepção dos
que inclui categorias comportamentais como timidez e pares em relação a criança atendida.
fobia social. Explica que a interação verbal foi imple-
mentada na terapia com objetivando instalar repertórios Conclusão
verbais de ajustamento e enfrentamento, sendo aplica- A literatura revisada mostrou fortes evidências de que
da por meio de operantes como: conversação, questio- indivíduos com SA possuem déicit signiicativo na co-
namento, expressão de sentimentos, solicitação de au- municação e interação social, necessitando assim que
xílio e emissão de opinião pessoal. Utilizou também co- intervenções na área da psicologia sejam elaboradas
mo recurso o treinamento de Habilidade Social Educati- para desenvolvimento de suas habilidades sociais.
va Parental, para fortalecer repertórios verbais como Tendo em vista que tais habilidades são adquiridas e
conversação e diálogo, requisitos fundamentais para desenvolvidas desde a infância, torna-se imprescindível
modelar, no repertório da criança, habilidades de reso- que o repertório dessas habilidades seja estimulado
lução de problemas e assertividade. Como resultado desde esta faixa etária (Brano, 2006; Murta, 2008; Sal-
apresentou diminuição na freqüência de emissão de vo et al, 2005). Crianças com deiciência mental, autis-
comportamentos relacionados aos Déicit em Habilida- mo e outros transtornos do desenvolvimento constituem
des Sociais do paciente, bem como das queixas princi- população alvo para prevenção terciária, haja vista ser

256 PSICOLOGÍA CLÍNICA Y PSICOPATOLOGÍA


comum neste grupo, comprometimentos graves em ha- BIBLIOGRAFÍA
bilidades sociais (Murta, 2005). Foi possível evidenciar American Psychiatry Association (1994). DSM-IV, Diagnostic and
também que a terapia cognitivo-comportamental e a statistical manual for mental disorders, 4th edn. Washington, DC:
comportamental mostram-se eicazes quanto ao de- APA.
senvolvimento de habilidades sociais em crianças nor- Borges, M., Shinohara, H. (2007). Síndrome de Asperger em
mais, não havendo ainda estudos especíicos quanto a paciente adulto: um estudo de caso. Revista Brasileira de Terapias
Cognitivas. 3: 41-48 .
crianças com SA.
Através deste trabalho foi possível constatar a escas- Branco, C. M., Ferreira, E. A. P. (2006). Descrição do atendimen-
sez de publicações acerca de indivíduos com SA no to de uma criança com déicit em habilidades sociais. Revista
brasileira de terapia cognitivo comportamental. 8: 25-38.
Brasil, na área da psicologia, sugerindo assim que mais
pesquisas e modelos de intervenções sejam desenvol- Classiicação Estatística Internacional de Doenças e Problemas
Relacionados à Saúde. CID - 10 (1993). Centro Colaborador da
vidos. Considera-se, portanto, que programas de de-
OMS para a Classiicação de Doenças em Português.
senvolvimento de habilidades sociais sejam uma ferra-
menta valiosa em todos os níveis de atuação em saúde, Del Prette, Z. A. P., & Del Prette, A. (2009). Psicologia das habi-
lidades sociais na infância: Teoria e prática. Petrópolis, RJ: Vozes.
sendo útil para minimizar fatores de risco e incrementar
fatores de proteção ao desenvolvimento humano, tratar Del Prette, A. & Del Prette, Z. A. P. (2004). Psicologia das relações
interpessoais: Vivências para o trabalho em grupo. Petrópolis, RJ:
problemas já instalados, passíveis de remissão e redu- Vozes.
zir o impacto de déicits graves em habilidades sociais
Freitas, L. C., Lemmi, R. C. A. (2009). Elaboração de um recurso
em pessoas portadoras de condições severas e persis-
educativo para identiicação e expressão de emoções. Paidéia
tentes, como é o caso dos transtornos invasivos do des- (Ribeirão Preto), Ribeirão. 19: 32- 46.
envolvimento.
Fumo, V. M. S., Manolio, C. L., Bello, S. e Hayashi, M. C. P. I.
(2009). Produção cientíica em habilidades sociais: estudo biblio-
métrico. Revista brasileira de terapia cognitivo comportamental.11:
246-266.
Gonçalves, E. S., Murta, S. G., Sabino, E. (2008). Avaliação dos
efeitos de uma modalidade de treinamento de habilidades sociais
para crianças. Psicologia Relexão e Critica. 21: 430-436.
Klin, A. (2011). Autismo e síndrome de Asperger: uma visão geral.
Revista Brasileira de Psiquiatria. 28: 3-11.
Murta, S. G. (2005). Aplicações do treinamento em habilidades
sociais: análise da produção nacional. Psicologia Relexão e
Critica. 18: 283-291.

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