As leishmanioses são enfermidades infecciosas, não não só a ação espoliativa sistêmica parasitária como tam- contagiosas, causadas por diferentes espécies de proto- bém local. As alterações cutâneas que podem estar pre- zoários do gênero Leishmania, e que dependendo da sentes na maioria dos casos são dermatite esfoliativa não apresentação clínica e dos diferentes agentes etiológi- pruriginosa com ou sem alopecia, generalizada ou locali- cos, podem apresentar-se sob várias formas: leishmani- zada principalmente em região periocular, de orelhas, e ose tegumentar (LT), que se divide nas formas cutânea, membros; dermatite ulcerativa com localização predo- mucocutânea, e cutânea difusa; leishmaniose visceral minante em saliências ósseas, junção mucocutânea, fo- (LV), e leishmaniose dérmica pós-calazar. cinho, região interdigital e margem interna da pina; ne- A principal e a mais aceita forma de transmissão do crose isquêmica; dermatite nodular multifocal; dermati- parasito para o homem e outros hospedeiros mamíferos te papular; lesões que apresentam dificuldade de cicatri- é através da picada de fêmeas de artrópodes, dípteros zação; além de quadros cutâneos atípicos como hiper- Fábio dos Santos da família Psychodidae, subfamília Phlebotominae, gêne- queratose nasal e digital, despigmentação e pelos opa- Nogueira ro Phlebotomus (Europa) e Lutzomyia (América), infecta- cos. A onicogrifose está entre as características mais mar- (nogueiracan@uol.com.br) Mestre e Doutor pela dos e conhecidos genericamente por flebotomíneos. cantes e é considerado sinal patognomônico por alguns Faculdade de Medicina Na LV, o cão doméstico, é apontado como a principal autores. Os principais aspectos clínicos da doença devem Veterinária e Zootecnia - fonte de infecção para os flebotomíneos em ambiente ser registrados, e o clínico precisa estar atento para ani- UNESP Botucatu, SP urbano, quer pela alta prevalência da doença nesta es- mais com trânsito ou que habitam em áreas endêmicas. Professor de Clínica pécie ou pela grande quantidade de parasitos presentes Sem dúvida alguma, a prevenção da enfermidade ca- Médica e Cirúrgica da na pele, tornando-os alvo principal para o controle da nina, torna-se a ferramenta mais importante para o con- Fundação Educacional de doença. A leishmaniose em felinos também tem sido re- trole da doença em humanos, devendo ser prioritária Andradina, SP gistrada nos últimos anos no Brasil e em diversas partes na política de Saúde Pública. Estudos atuais baseados Sócio Fundador do BRASILEISH do Mundo. em modelagens matemáticas apontam que o controle O tipo de resposta imunológica apresentada pelo dos vetores e a vacinação de cães seriam mais eficazes animal após a infecção, celular ou humoral, associada a do que as intervenções tendo como alvo cães infecta- outros fatores, como genética, idade, sexo, nutrição, co- dos. O desenvolvimento de vacinas também tem sido infecções, condições imunossupressivas, presença de apontado pela OMS como importante ferramenta para ecto ou endoparasitas, e virulência da Leishmania, po- efetivo controle da doença, pela redução na oferta de dem contribuir para maior susceptibilidade ou resistên- parasitos ao vetor e consequentemente redução da in- cia à LV ou mesmo a intensidade das manifestações clí- fecção humana. nicas. Algumas raças de cães, como Pastor Alemão, Bo- No Brasil, uma vacina registrada no Ministério da Agri- xer, Rottweiler e Cocker Spaniel, parecem ser mais sus- cultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) em 2004, tor- ceptíveis, enquanto outras como Ibizan Hound, Faraón nou-se comercialmente disponível sob o nome de Leish- Hound e Podenco Canário, apresentam resposta do tipo mune® e titulada como a primeira vacina contra a LVC no celular predominante, e, consequentemente, resistên- mundo. Composta por fração purificada chamada fucose cia natural à infecção. A idade dos animais parece ser manose ligante (FML), isolada de promastigotas da L. fator importante na susceptibilidade e desenvolvimento donovani, trata-se de complexo que inibe fortemente a da doença, sendo que animais jovens de até dois anos penetração de promastigotas e amastigotas em macró- de idade ou idosos com mais de oito anos, apresentam fagos murinos “in vitro” de forma espécie específica . Uti- maior predisposição à enfermidade. Alguns estudos de- liza como adjuvante de imunidade a saponina, que por monstraram maior predisposição quanto ao sexo, sendo sua vez tem capacidade de estimular a resposta imune os machos mais acometidos. ao antígeno, promovendo aumento na síntese de várias É descrita na literatura uma citocinas, como IFN-γ, IL2, IL-4 e IL-10. lesão denominada de “cancro A imunização com o antígeno A2 associado à saponi- de inoculação” ou leishmanio- na foi capaz de induzir proteção significativa contra a in- ma (figura anexa), localizada fecção por L. donovani, L. amazonensis e L. infantum em preferencialmente na região da camundongos e em cães. Assim, em 2008, outra vacina pina e nariz, que representa o foi registrada no MAPA e comercializada com o nome de sítio da picada do flebótomo, Leish-tec® pelo laboratório Hertape-Calier, utilizando este sendo evidenciada uma respos- antígeno recombinante. ta inflamatória local com a pre- No cão a LV é uma doença multissistêmica com ma- sença de formas parasitárias, nifestações clínicas variadas o que dificulta seu diagnós- neutrófilos, linfócitos, e macró- Cancro de inoculação tico, especialmente em áreas onde a doença não é endê- fagos. em cães mica. Assim, métodos de prevenção que impeçam o con- As alterações dermatológicas estão presentes na mai- tato do vetor com o reservatório, ou que estimule uma oria dos casos em animais infectados por LV e demons- resposta imunológica capaz de promover uma resistên- tram o comprometimento da epiderme, derme e hipo- cia parasitária, poderiam ser ótimas ferramentas para o derme em associação aos anexos cutâneos, refletindo controle da doença. Colaboração:
Resumo de IMUNOLOGIA- Desenvolvimento de Linfócitos, Seleção de Repertório, Imunidade Mediada Por Linfócitos T e B, Célula Dendrítica, Ativação e Diferenciação de Linfócitos T, Regulação Das Respostas Imunes