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1.0 – Introdução
Nesta palestra estaremos fazendo uma rápida retrospectiva dessa evolução, ressaltando
aquilo que é, ainda hoje, a prática corrente na maioria das empresas de projeto, que, por
sua vez, é diretamente associada aos programas de computador disponíveis no mercado.
É curioso que passados mais de 40 anos essa ainda é uma das formas de modelagem de
fundações estaqueadas mais usadas por escritórios de engenharia na atualidade.
Ao longo da década de 1970 Matlock /4/ e Reese & Cox /5/ e Diaz /6/ trabalharam
independentemente propondo o uso de uma viga sobre base elástica tomando por base as
equações propostas por Hetényi /7/ em 1936. Os primeiros propuseram uma solução em
diferenças finitas ao passo que uma matriz de rigidez completa foi proposta for Diaz.
Assim sendo, em 1973 o estado da arte previa o cálculo de fundações em estacas como
vigas sobre base elástica de comprimento finito ligadas à superestrutura.
Em 1977 Bryant & Matlock /8/ publicaram um resumo de seus trabalhos desenvolvidos ao
longo da década de 70, descrevendo a interação solo estrutura de uma jaqueta com sua
fundação não linear. Neste trabalho considerou-se curvas de atrito axial ao longo da estaca
x deslocamento axial desta (vulgarmente conhecidas hoje como curvas T-Z), curvas de
resistência de ponta x deslocamento axial da ponta (curvas Q-Z) e curvas de pressão
lateral no solo x deslocamento lateral da estaca (curvas P-Y).
O único problema dessa solução parecia estar concentrada no fato dela abranger estacas
isoladas cujas interação se fazia apenas através da superestrutura à qual estavam ligadas
e não através do solo.
Quando foi dito acima que esse era o “estado da arte” dos anos 70 deveria ter sido feita
uma restrição dizendo tratar-se apenas do mercado offshore. Isso porque tal declaração
não faz justiça a desenvolvimentos paralelos realizados por um australiano de nome
Poulos, que desenvolveu estudos independentes propondo um método de análise de
estaqueamentos baseado nas equações do semi-espaço infinito desenvolvidas por Mindlin
em 1936 /9/.
Embora o método proposto por Poulos não tenha logrado fazer sucesso no mercado
offshore ainda assim reconhece-se aqui que ele tinha uma grande vantagem em relação
aos estudos baseados na análise estrutural com elementos de viga sobre base elástica,
qual seja, levar em conta a influência das pressões produzidas, via solo, por uma estaca
sobre as demais.
Por este mesmo motivo foi para os artigos de Poulos /10 e 11/ que Focht e Koch /12/
olharam quando desenvolveram um método para a avaliação de efeito de grupo entre
estacas próximas, que fez sucesso no mercado offshore.
Neste artigo Focht e Koch /12/ introduziram no método de Poulos o comportamento não
linear do solo e um “amolecimento” do solo, através do achatamento das curvas, de modo
a obter no cálculo das estacas isoladas os deslocamentos majorados pelo efeito de grupo
transmitido pelo solo.
Encerrando esse resumo para chegar ao estado da arte do mercado offshore referente ao
cálculo de estaqueamentos de plataformas fixas em nossos dias (o mesmo de 30 anos
atrás) devemos citar a contribuição de O’Neill e Ghazzaly /13/ que generalizaram o método
proposto por Focht e Koch /12/ eliminando a necessidade de consultar as tabelas de
Poulos /10 e 11/, substituindo-as pelas próprias equações de Mindlin /9/.
Resumindo são quatro as análises que serão consideradas neste capítulo, quais sejam:
A forma como a análise dinâmica de ondas será realizada está diretamente associada aos
recursos disponíveis no sistema computacional em uso. Assim sendo a análise pode ser
realizada no domínio do tempo, uma análise tipo “time history” (modal ou não) ou no
domínio da freqüência (análise modal), sendo que nesta última a fundação é substituída
por estacas equivalentes ou por uma matriz de rigidez linearizada. Mesmo que seja
realizada no domínio do tempo ainda assim ela pode ser realizada com uma fundação
linearizada ou com uma fundação não linear cuja rigidez é atualizada passo a passo.
Antes que isso possa ser feito, contudo, é necessário explicar a linearização da fundação.
Essa é feita para cargas às quais a análise se destina. Urge ter em mente que quanto
maiores as ondas menos rígida a fundação se torna, por estar sujeita a maior plastificação
do solo. Assim sendo, em princípio seriam necessárias tantas fundações linearizadas
quanto são as ondas a serem consideradas. Na prática, contudo, adota-se uma estratégia
mais conservadora e trabalha-se com uma onda para a linearização a ser considerada nas
análises de operação e tormenta e outra para as ondas de fadiga.
Seja por exemplo a plataforma da figura 3 sujeita a ondas de tormenta de 15m e para a
qual se deseja calcular uma fundação linearizada equivalente.
Figura 3 – Plataforma fixa de ZAAP_A
O programa utilizado permite calcular a matriz condensada ou a estaca equivalente para a
média de vários carregamentos. Neste caso foram escolhidos os carregamentos de
tormenta (onda de 15m) relativos às direções diagonais resultantes de uma análise
preliminar sem efeitos dinâmicos. Além disso optou-se pelo cálculo de uma estaca
equivalente. O resultado final é dado a seguir:
PILE STUB DESIGN
STIFFNESS TERMS
STUB PROPERTIES
A figura 8 abaixo apresenta um plot mostrando o cortante na base da estrutura onde são
fornecidos valores estáticos em azul e dinâmicos em branco. Como se pode observar
nesse caso, eles diferem muito pouco tendo em vista a grande distância entre o período da
onda e o período natural da estrutura.
Uma vez obtido o esforço total estático + dinâmico (forças inerciais) a análise global
estática é repetida para chegar aos esforços finais na estrutura e na fundação.
Figura 8 – Plot mostrando o cortante estático e dinâmico da força de onda
A sequência descrita acima é válida tanto para a análise in-situ considerando as condições
de operação e tormenta, como para a análise de fadiga, onde, em termos de fundação a
única diferença seria a altura de onda para a qual seria gerada a estaca equivalente.
São previstos usualmente dois tipos de análises de terremoto: um para o terremoto comum
(strength level earthquake) e outro para o terremoto raro (rare level earthquake).
Para o primeiro a análise pouco difere da que foi feita para ondas, de modo que será
abordada apenas superficialmente. Trata-se de uma análise em que se espera que a
estrutura permaneça no regime linear elástico, pelo que a análise é feita com uma
fundação linearizada para uma estrutura submetida a peso próprio e cargas inerciais
referentes às acelerações correspondentes fornecidas por um espectro de resposta.
Embora a norma API-PR2A /15/ mencione as considerações relativas ao solo covibrante
(near field e free field) e diga que uma eventual liquefação do solo ou o deslizamento de
camadas devam ser investigadas, em termos práticos a indústria considera que o
terremoto afeta a estrutura e que esta transmite os esforços para a fundação. O principal
motivo para tanto está ligado à insuficiência do software disponível no mercado para lidar
com o problema adequadamente. Mais sobre isso será dito adiante.
O terremoto raro é definido como sendo pelo menos 60% mais forte que o comum, mas
como sua real função é determinar o nível de ductilidade da estrutura segue que este deve
ser realizado considerando o comportamento não linear da estrutura (tanto geométrico
como físico).
Mais uma vez nos defrontamos aqui com as restrições dos softwares disponíveis, pelo que
a prática há muito admite tratar essa análise como uma análise de colapso progressivo no
qual o peso próprio é aplicado primeiramente e depois o terremoto progressivamente até
que a estrutura colapse. O valor do terremoto aplicado deve ser no mínimo igual a 1.6
vezes o “strength level earthquake”.
O modelo da fundação nesta análise não é mais a linearizada da análise anterior. Desta
feita o modelo é o mesmo considerado para a análise “in-situ” ou seja o da viga sobre base
elástica não linear.
A análise de estabilidade sem estacas pode ser muito simples, como normalmente o é –
apenas uma verificação localizada da sapata provisória, mas pode ser também uma
análise de interação solo-estrutura onde o comportamento não linear da fundação e os
efeitos geométricos de 2ª ordem são absolutamente mandatórios. Isso se faz necessário
quanto há real perigo de tombamento da estrutura durante a cravação das estacas.
Este modelo foi utilizado para a realização de análises de colapso progressivo nos quais
foram aplicados o peso próprio e crescentes valores das forças de onda e corrente até o
tombamento da estrutura. Obviamento o efeito de segunda ordem da estrutura à medida
em que estava se inclina teve que ser levado em conta. A configuração da estrutura pouca
antes do tombamento é apresentada na figura 13. Os deslocamentos em cm no topo da
jaqueta são dados na figura 14. Cabe observar que o tombamento se dá com 30cm, mas o
deslocamento com um fator de 1.5 é de apenas 5cm, portanto não há grandes
deformações envolvidas.
47
0
Settlement (cm)
-10 0 10 20
LOAD STEP 188 LOAD FACTOR 1.76 BASE SHEAR 342.81 DEFL. FACTOR100.00
PLASTICITY
100.0
75.0
50.0
25.0
NONE
Z
Y
X
Figura 13 – Configuração da estrutura imediatamente antes do tombamento (deformada
exagerada) – com um fator de segurança de 1.76 em relação à onda de 3m de altura
35.0
30.0
25.0
20.0
Y - DISPLACEMENT (CM)
15.0
10.0
JOINT 699
5.0
0.0
-5.0
0.0 50.0 100.0 150.0 200.0
LOAD STEP
Foi visto acima que o atual estado da arte para o cálculo de fundações em estacas se
baseia ainda, infelizmente, no modelo de uma viga sobre base elástica, que não retrata
devidamente o solo como parte do modelo. O efeito de grupo foi incorporado através de
um artifício, considerando as equações de Mindlin /9/, mas não a real interação.
De certa maneira é intuitivo que o caminho para a pesquisa é bem definido, ou seja, as
estacas podem continuar a ser modeladas como elementos de pórtico espacial e o solo
deve ser discretizado através de elementos sólidos que envolvem as estacas. O modelo
em elementos finitos deve ser igualmente finito com a sua continuidade representada por
elementos de contorno.
Neste sentido já há até alguns programas disponíveis no mercado como o PLAXIS /17/,
por exemplo, mas infelizmente não conseguiram assumir totalmente o seu lugar como
“estado da arte” porque falham por não representar, de modo sistemático, a não
linearidade do comportamento do solo, distinguindo adequadamente os diversos tipos do
mesmo. Assim sendo a restrição não está no modelo de elementos finitos e sim na
capacidade do próprio elemento utilizado de representar, de maneira geral, o
comportamento do solo.
A figura 16 abaixo mostra uma estação de metrô com estacas representadas por
elementos lineares, e o túnel do metrô representado por elementos de casca, à medida em
que o solo é representado por elementos sólidos.
Apenas a título de sugestão para aqueles que desejarem pesquisar nesta área, talvez uma
forma interessante de tratar o problema fosse continuar a manter o solo de comportamento
não linear como molas discretas no entorno do elemento de estaca à medida em que a
continuidade do solo fosse modelada como elementos linear elásticos sólidos.
Gráfico de Esforço Axial x Profundidade
Considerando o Adensamento do Solo no Tempo
T = 22/30
T = 23/30
T = 24/30
T = 25/30
T = 26/30
T = 27/30
T = 28/30
-15 T = 29/30
T = 30/30
-20
-25
kN
Figura 15 - Variação, até o tempo infinito, da solicitação axial de uma estaca isolada ao
longo de sua penetração
Figura 16 – Exemplo de utilização do programa PLAXIS
BIBLIOGRAFIA
/1/ Schiel, F (1960): Statik der Pfahlwerke, 1. Auflage Springer-Verlag, Berlin, Alemanha
/2/ Davisson M. T.; Robinson K. E. (1965): Bending and Bucling of Partially Embedded
Piles, Proceedings of the 6th International Conference in Soil Mechanics and Foundation
Engineering, Vol. 2.
/4/ Matlock, H.(1970): Correlation for Design of Laterally Loaded Piles in Soft Clay, 2nd OTC
1204, pag. I-577 – I-594, Houston, USA;
/5/ Reese, L. C.; Cox, W. R.(1974): Analysis of Laterally Loaded Piles in Sand, 6th OTC
2080, pag. 473-483, Houson, USA;
/7/ Hetényi, M.(1946): Beams on Elastic Foundation, The University of Michigan Press, Ann
Arbor, USA;
/8/ Bryant, L. M.; Matlock, H.(1977): Three-Dimensional Analysis of Framed Structures with
Nonlinear Pile Foundations, 9th OTC, 2955, pag. 599-606, Houston, USA;
/9/ Mindlin, R. D.(1936): Force at a Point in the Interior of a Semi-Infinite Solid, Journal of
Applied Physics, vol. 7, nr. 5, pag. 195-202, USA;
/10/ Poulos, H. G.(1971): Behavior of Laterally Loaded Piles: I-Single Piles, Journal of the
Soil Mechanics and Foundation Division, Proceedings of the American Society of Civil
Engineers, SM5, pag. 711-731, USA;
/11/ Poulos, H. G.(1971): Behavior of Laterally Loaded Piles: II-Pile Groups, Journal of the
Soil Mechanics and Foundation Division, Proceedings of the American Society of Civil
Engineers, SM5, pag. 733-751, USA;
/12/ Focht, J. A. Jr., Koch, K. J.(1973): Rational Analysis of the Lateral Performance of
Offshore Pile Groups, 5th Offshore Technology Conference, Houston, Texas, USA;
/14/ Galgoul, N. S.; Cronin, D.(1981): Nonlinear Analysis of Pile Foundations Considering
Group Effect, III International Symposium on Offshore Engineering, Rio de Janeiro, Brasil;
/15/ API-RP2A – Recommended Practice for Planning, Designing and Constructing Fixed
Offshore Platforms, American Petroleum Institute, 21st Edition, USA;
/16/ Alves dos Santos, A. H.; Galgoul, N. S.(2010): Estudos Computacionais para Análise
de Fundações Profundas Considerando o Atrito Negativo, Engenharia Estudo e Pesquisa,
Vol. 10, Nr. 2, jul/dez, pag. 62-69, Niterói, Brasil;