Anotações de Leituras realizadas (Início: 03/08/2018)
(Iniciando com textos para composição de primeiro capítulo de
dissertação): - Sobre Memória: Ver capítulo 03, mestrado de Aline Arruda; - Na discussão sobre memória, Ler Maurice Hawlbanchs e sua discussão a respeito, assim como Ecléa Bosi; - Ainda sobre memória: ver mestrado de Amanda Crispim; -Anotações sobre “entre silêncios e estereótipos”, de Regina Delcastagné; - Citar página 03 de artigo de Dalcastagné que comenta sobre o ponto de vista; incluir a partir do item 1.2 da página 38; - Comentar que os dados da pesquisa de Dalcastagné confirmam os estereótipos vinculados às personagens negras; - Citar na elaboração do capítulo I a página 97 deste artigo, último parágrafo, sobre o problema estético da falta de personagens negros na literatura; -Reler e talvez citar a página 20; - Reler e citar página 21, primeiro parágrafo; página 22, idem.
- Hoje e amanhã (04 e 05/08) realizar leituras de Florestan Fernandes, Lilia
Schwarcz e Sueli Carneiro; O negro no mundo dos brancos; O espetáculo das raças; O negro no mundo dos brancos: - Livro do Florestan, ver apresentação de Schwarcz, página 18; - Sobre o ethos católico que permanece na sociedade brasileira, p.18; - Ver a página 26, onde há a explanação da tese central da obra: “(...) A intenção foi ligar a desintegração do sistema de castas e estamentos à formação e à expansão do sistema de classes, para descobrir como variáveis independentes, constituídas por fatores psicossociais ou socioculturais baseados na elaboração histórica da “raça” ou da “cor”, poderiam ser e foram realmente recalibrados estrutural e dinamicamente(...)”. - A historiografia recente desmente boa parte dos argumentos de Florestan relacionados a uma passividade (“capitulação passiva”, segundo este) da população negra com relação ao racismo; - Florestan propõe que a perpetuação indefinida do racismo brasileiro se dá a partir da articulação de dois polos: o comportamento dos brancos, que reforçam e legitimam o status quo racial e a “capitulação passiva” dos negros e “mulatos”. - “Enquanto persistir esse padrão de equilíbrio, persistirá a desigualdade racial, pois a ascensão ‘negro’ e do ‘mulato’ se dará dentro de um processo de acumulação de vantagens que privilegia o ‘branco’”. - “O negro vive nos limites de sua segunda natureza humana e tem de aceitar e submeter-se às regras do jogo, elaboradas para os brancos, pelos brancos, e com vistas à felicidade dos brancos” (p.31). - Sobre o “Preconceito de não ter preconceito” (p.41): “ (...) o que há de mais evidente nas atitudes dos brasileiros diante do ‘preconceito de cor’ é a tendência a considera-lo algo ultrajante (para quem o sofre) e degradante (para quem o pratica)” Segundo o autor, tal pensamento parece ser consequência do ethos católico, pois o domínio e mandonismo escravocrata estavam em vigência durante o período de completa hegemonia católica, da moral cristã em atuação, o que levava os católicos a exercerem uma prática totalmente oposta aos preceitos cristãos; - O modo como o cristão típico deu alívio a esse drama de consciência se deu de forma curiosa: exercendo atitudes e verbalizações típicas que nada têm a ver com as disposições efetivas de sua atuação social; - “Tudo se passa como se o “branco” assumisse maior consciência parcial de sua responsabilidade na degradação do negro e do mulato como pessoa, mas, ao mesmo tempo, encontrasse sérias dificuldades em vencer a si próprio e não recebesse nenhum incentivo bastante forte para se obrigar a converter em realidade o ideal de fraternidade cristão- católico”(p.41). - Trecho importante acerca dos modos de atuação típicos do racismo brasileiro: “(...) O “preconceito de cor” é condenado sem reservas, como se constituísse um mal em si mesmo, mais degradante para quem o pratique do que para quem seja sua vítima. A liberdade de preservar os antigos ajustamentos discriminatórios e preconceituosos, porém, é tida como intocável, desde que se mantenha o decoro e suas manifestações possam ser encobertas ou dissimuladas, mantendo-se como algo íntimo, que subsiste no recesso do lar (...)” (p.p.41-42). - O que fica, no centro das preocupações do brasileiro, segundo Florestan, é o “preconceito de não ter preconceito” (p.43): -“Através de processos de mudança psicossocial e sociocultural reais e sob certos aspectos profundos e irreversíveis, subsiste uma larga parte da herança cultural, como se o brasileiro se condenasse, na esfera das relações raciais, a repetir o passado no presente. Esse mecanismo adaptativo só se tornou possível porque as transformações da estrutura da sociedade, apesar da extinção da escravidão e da universalização do trabalho livre, não afetaram de modo intenso, contínuo e extenso o padrão tradicionalista de acomodação racial e a ordem racial que ele presumia. O fato de que tal mecanismo tenha vigência indica uma realidade histórica tormentosa. - Segundo Florestan, algo que faz parte dos modos de perpetuação do racismo no Brasil, que está arraigado no imaginário social do país (inclusive, em relação a outras circunstâncias históricas que persistem em nossa sociedade) é a disposição de nossa sociedade em “esquecer o passado”, deixar que as coisas se resolvam por si mesmas”.
- Acerca da democracia racial e a miscigenação
- “(...) A ideia de que existiria uma democracia racial no Brasil vem sendo fomentada há muito tempo. No fundo, ele constitui uma distorção criada no mundo colonial, como contraparte da inclusão de mestiços no núcleo legal das ‘grandes famílias’- ou seja, como reação a mecanismos efetivos de ascensão social do ‘mulato’(...) - O autor afirma que os fundamentos da escravidão contribuíram para que a miscigenação realizasse um tipo de mobilidade social ‘vertical’ por infiltração, graças à qual a composição dos estratos raciais teve de adquirir certa elasticidade; - A miscigenação foi tomada como “índice de integração social e como sintoma, ao mesmo tempo, de fusão e de igualdade raciais. Ora, as investigações antropológicas, sociológicas e históricas, em toda a parte, apontam que a miscigenação só produz tais efeitos quando ela não se combina a nenhuma estratificação racial; No Brasil, a própria escravidão e as limitações que pesavam sobre o status do liberto convertiam a ordem escravista e a dominação senhorial em fatores de estratificação racial’ (P.44); - “(...) Em consequência, a miscigenação, durante séculos, antes contribuiu para aumentar a massa da população escrava e para diferenciar os estratos dependentes intermediários, que para fomentar a igualdade racial. É preciso que se tenha em conta que na antiga sociedade escravista o “escravo” não era uma entidade social mais necessária que o “liberto”. Existiam amplas zonas de diferenciação social, concernentes a ocupações ou a atividades que só o homem semilivre poderia realizar e que não interessariam ao homem livre dependente(...)”; - Esses “homens semilivres”, de que Florestan nos fala, parece incluir também a figura social do “agregado”, descrito por Machado de Assis em seus romances e por Roberto Scwharz em sua produção ensaística; - “(...) O mestiço, com frequência, ofereceu o contingente demográfico que permitia saturar tais posições sociais e que eram essenciais para o equilíbrio do sistema de dominação escravista. Fora e acima desse nível, a miscigenação teria de envolver a transmissão da posição social das parentelas senhoriais, com suas propriedades, possibilidades de mando e probabilidades de poder(...) para romper com esse mecanismo poderoso, seria necessário abolir a estrutura em que repousava a diferenciação, a integração e a continuidade da ordem racial pressuposta pelo regime escravista vigente. - “Por isso, à miscigenação corresponderam mecanismos mais ou menos eficazes de absorção do mestiço. O essencial, no funcionamento desses mecanismos, não era nem a ascensão social de certa porção de negros e de mulatos nem a igualdade racial; mas, ao contrário, a hegemonia da ‘raça dominante’- ou seja, a eficácia das técnicas de dominação racial que mantinham o equilíbrio das relações raciais e asseguravam a continuidade da ordem escravista (...)” - “A miscigenação e a mobilidade social vertical operava dentro dos limites e segundo as conveniência daquela ordem social, na qual elas preenchiam funções sociais relevantes para a diferenciação e a continuidade da estratificação racial engendrada pela escravidão (...) Ainda hoje a miscigenação não faz parte de um processo societário de integração das “raças” em condições de igualdade racial (...)”.